a influÊncia da qualidade da amostra no
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A INFLUÊNCIA DA QUALIDADE DA AMOSTRA NO COMPORTAMENTO
TENSÃO-DEFORMAÇÃO-RESISTÊNCIA DE ARGILAS MOLES
Joaquim Teodoro Romão de Oliveira
TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS
PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS
NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM CIÊNCIAS
EM ENGENHARIA CIVIL.
Aprovada por:
__________________________________________________
Prof. Fernando Artur Brasil Danziger, D.Sc. (Presidente)
__________________________________________________
Prof. Roberto Quental Coutinho, D.Sc.
__________________________________________________
Prof. Alberto de Sampaio Ferraz Jardim Sayão, Ph. D.
__________________________________________________
Prof. Carlos de Sousa Pinto, D.Sc.
__________________________________________________
Prof. Ian Schumann Marques Martins, D.Sc.
__________________________________________________
Prof. Márcio de Souza Soares Almeida, Ph. D.
__________________________________________________
Prof. Willy Alvarenga Lacerda, Ph. D.
RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL
AGOSTO DE 2002
ii
OLIVEIRA, JOAQUIM TEODORO ROMÃO DE
A Influência da qualidade da amostra no
comportamento tensão-deformação-resistência de
argilas moles [Rio de Janeiro] 2002
XII, 264 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ, D.Sc.,
Engenharia Civil, 2002)
Tese – Universidade Federal do Rio de
Janeiro, COPPE
1.Qualidade de amostras
2.Argilas Moles
3.Ensaios de laboratório
I.COPPE/UFRJ II. Título (Série)
iii
Esta tese é dedicada aos meus pais Adalio e Glória, à
minha esposa Fernanda e aos meus filhos Pedro e
Mariana.
iv
AGRADECIMENTOS
A Deus por Ter me concedido o Dom da vida.
Aos meus pais Adalio e Maria da Glória Romão de Oliveira pelo amor, paciência e
apoio que sempre me dedicaram.
À minha esposa Fernanda e aos meus filhos Pedro e Mariana pelo amor, carinho,
compreensão, incentivo e momentos de ternura.
Ao meu irmão José Henrique pela amizade e atividades esportivas. À minha cunhada
Susana e aos meus sobrinhos Luisa e Vítor pela força e momentos de descontração.
Aos profs. Fernando Danziger e Roberto Coutinho pelo estímulo, amizade e orientação
deste trabalho.
Aos prof. Ian Martins, Márcia Almeida, Willy Lacerda da COPPE/UFRJ, Alberto Sayão
da PUC-Rio e Carlos de Sousa Pinto da USP pela avaliação da tese e pelas sugestões.
Aos pesquisadores do NGI Tom Lunne e Stein Strandvik pelo empréstimo e operação
do amostrador Sherbrooke e pelas discussões técnicas.
Ao prof. Alexandre Gusmão pela amizade, apoio, discussões e parceria na pesquisa
aplicada a recalque de edifícios.
Aos Engenheiros Sérgio Iório e Hélcio Souza, técnicos Carlinhos e França da
COPPE/UFRJ, pelo apoio na campanha de amostragem Sherbrooke no Rio de Janeiro.
Ao técnico Francisco Carlos da UFPE pelo apoio na campanha de amostragem em
Recife e pela realização dos ensaios de laboratório.
Ao engenheiro Antônio Brito e técnicos João Telles e Severino Costa da UFPE pelo
apoio operacional.
Aos alunos de Iniciação Científica João Carlos Muniz Filho, Patrícia Neves Silva e
Izabela BrandãoVeríssimo de Souza pelo apoio operacional.
Aos colegas de doutorado Marcos Massao Futai, João Barbosa de Souza Neto e
Erinaldo Cavalcante pela amizade, apoio e convivência.
Aos colegas da República Francisco Abreu, Roberto Guimarães, Carlos Carrillo e Décio
pelas discussões geotécnicas e pelo acolhimento no Rio. À Lusmar pela delícias
gastronômicas.
Aos colegas do GEGEP/UFPE: Leonardo, Sarita, Ana Tereza, Kalinny, Fabíola, Ana
Patrícia, Marília, Everaldo, Aldo, Rafael, André, Igor, Kalline, Bruno pela amizade e
pela convivência.
Aos profs. da Área de Geotecnia da COPPE/UFRJ e DEC/UFPE pelo incentivo.
v
Ao PICDT/UFPE, UNICAP, CNPq e PRONEX pelo apoio financeiro.
Aos amigos Cadinho, Fefeu, Dario, Cristiano, Rogério, e Cláudio pela amizade,
companheirismo e momentos de alegria.
A todos os membros da minha família e a todos que contribuíram direta ou
indiretamente para elaboração deste trabalho.
vi
“Ainda que eu falasse a língua dos homens, que falasse a língua dos anjos, sem amor eu
nada seria” (1 Cor 13:1)
“O engenheiro pensa o mundo justo, mundo que nenhum véu encobre”
(João Cabral de Melo Neto)
“Trago as luzes dos postes nos olhos,
Rios e pontes no coração,
Pernambuco embaixo dos pés
E minha mente na imensidão.”
(Chico Science)
vii
Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários
para a obtenção do grau de Doutor em Ciências (D.Sc.)
A INFLUÊNCIA DA QUALIDADE DA AMOSTRA NO COMPORTAMENTO
TENSÃO-DEFORMAÇÃO-RESISTÊNCIA DE ARGILAS MOLES
Joaquim Teodoro Romão de Oliveira
Agosto/2002
Orientadores: Fernando Artur Brasil Danziger (COPPE/UFRJ)
Roberto Quental Coutinho (UFPE)
Programa: Engenharia Civil
Esta tese apresenta a primeira campanha de amostragem utilizando o amostrador
Sherbrooke realizada no Brasil, através de cooperação científica com o Instituto
Norueguês de Geotecnia (NGI). Foram utilizadas como locais de estudo duas Áreas de
Pesquisa em argilas moles: uma no Rio de Janeiro e outra em Recife. Ensaios de
laboratório de deformação e resistência foram realizados nestas amostras coletadas e
seus resultados comparados com ensaios executados em amostras tubulares (Shelby e
Pistão) de diferentes diâmetros. Critérios de avaliação da qualidade de amostras de
argila mole existentes na literatura são discutidos e adaptados para realidade brasileira.
São analisados os efeitos do transporte, da moldagem do corpo de prova, da
estruturação e do armazenamento na qualidade das amostras, entre outros. São
propostos métodos de correção da tensão de pré-adensamento e da curva edométrica
para levar em conta o amolgamento. Uma aplicação prática da influência da qualidade
na estimativa de recalques de edifícios é também apresentada.
viii
Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Doctor of Sciences (D.Sc.)
SAMPLE QUALITY INFLUENCE IN THE STRES-STRAIN-STRENGTH
BEHAVIOUR OF THE SOFT CLAYS
Joaquim Teodoro Romão de Oliveira
August/2002
Advisors: Fernando Artur Brasil Danziger (COPPE/UFRJ)
Roberto Quental Coutinho (UFPE)
Department: Civil Engineering
This thesis presents the first Sherbrooke sampling program in the Brazil, carried out
through cooperation with the Norwegian Geotechnical Institute (NGI). It were used two
research soft clays sites: Rio de Janeiro and Recife. Deformation and strength laboratory
tests carried out in the collected samples and your results compared with tests carried
out in tubular samples (opened Shelby and stattionary piston) of the different diameters.
Criteria of soft clay sample quality classification of the literature are discussed and
adapted to Brazilian reality. It were analyzed the effects of the transport, trimming,
structuration and storage in the sample quality. It were proposed approaches to correct
of the preconsolidation pressure and of the oedometer curve to take account the
disturbance. A practical application of the sample quality influence in the building
settlements is presented also.
ix
ÍNDICE
1.Introdução 1
1.1.Relevância do tema 1
1.2.Objetivos da tese 2
1.3.Descrição dos Capítulos 2
2.Revisão Bibliográfica 4
2.1.Análise teórica do processo de amostragem 4
2.2.Tipos de amostras e amostradores 13
2.2.1.Tipos de amostras 13
2.2.2.Tipos de amostradores 19
2.2.3.Fatores influentes na amostragem 28
2.2.3.1 Método de deslocamento versus método do pré-furo 28
2.2.3.2 Diâmetro do amostrador 30
2.2.3.3 Relação diâmetro do corpo de prova/diâmetro da amostra 31
2.2.3.4 Espessura da parede do amostrador 33
2.2.3.5 Ângulo da sapata de corte 34
2.3.Rotina de manuseio de amostras em laboratório 37
2.3.1.Laboratório de Geotecnia da UFPE 37
2.3.2. Laboratório de Geotecnia da COPPE/UFRJ 40
2.4.Influência da qualidade da amostra nos parâmetros geotécnicos 43
2.4.1. Parâmetros de compressibilidade 43
2.4.2. Parâmetros de resistência 50
2.5.Efeito da estrutura da argila 55
3.Descrição dos locais de estudo 62
3.1.Introdução 62
3.2.Rio de Janeiro 62
3.3 Recife 70
x
4.Campanha de amostragem Sherbrooke 83
4.1. Introdução 83
4.2. Rio de Janeiro 86
4.3. Recife 96
5.Apresentação dos resultados de laboratório 104
5.1 Introdução 104
5.2 Rio de Janeiro 104
5.2.1 Ensaios de deformação 105
5.2.2 Ensaios de resistência 120
5.2.2.1 Triaxial UU-C 120
5.2.2.2 Triaxial CIU-C 124
5.2.2.3 Triaxial CAU-C 128
5.3 Recife 133
5.3.1 Ensaios de deformação 133
5.3.1.1 Ensaio edométrico incremental 133
5.3.1.2 Ensaio isotrópico 140
5.3.2 Ensaios de resistência 142
5.3.2.1 Triaxial UU-C 142
5.3.2.2 Triaxial CIU-C 143
5.3.2.3 Triaxial CAU-C 145
6.Discussão dos resultados 150
6.1 Influência do transporte 150
6.2 Comparação de resultados: amostradores tubulares x Sherbrooke 153
6.2.1 Curvas tensão-deformação edométrica 155
6.2.1.1 Argila do Rio de Janeiro 155
6.2.1.2 Argila de Recife 158
6.2.2 Coeficiente de adensamento vertical 162
6.2.2.1 Argila do Rio de Janeiro 162
6.2.2.2 Argila de Recife 164
xi
6.2.3 Módulo edométrico 166
6.2.3.1 Argila do Rio de Janeiro 166
6.2.3.2 Argila de Recife 168
6.2.4 Perfis de parâmetros geotécnicos de compressibilidade 171
6.2.4.1 Argila do Rio de Janeiro 171
6.2.4.2 Argila de Recife 175
6.2.5 Curvas tensão-deformação triaxiais 179
6.2.5.1 Argila do Rio de Janeiro 179
6.2.5.2 Argila de Recife 180
6.2.6 Caminhos de tensão 184
6.2.6.1 Argila do Rio de Janeiro 184
6.2.6.2 Argila de Recife 184
6.2.7 Curvas de escoamento 186
6.3 Avaliação da qualidade das amostras 186
6.3.1 Critério de LUNNE et al. (1997) 186
6.3.2 Critério de HONG e ONITSUKA (1998) 188
6.3.3 Adaptação de propostas de classificação 193
6.4 Influência do diâmetro do corpo de prova 198
6.5 Influência do método de moldagem 201
6.6 Influência da estruturação 203
6.7 Influência do armazenamento 208
6.8 Proposta de correção da tensão de pré-adensamento 211
6.9 Proposta de construção de família de curvas edométricas 214
6.10 Correção de SCHMERTMANN (1955) 223
7.Aplicação prática: estimativa de recalque e qualidade da amostra 233
7.1 Introdução 233
7.2 Edifício analisado 234
7.3 Reavaliação dos recalques estimados 239
7.3.1 Influência do método de cálculo 239
7.3.2. Influência da qualidade da amostra 241
7.3.3 Considerações sobre a igualdade Cr e Cs 243
xii
7.3.4 Efeito da velocidade de deformação 244
7.4 Efeito da correção da tensão de pré-adensamento 247
8.Conclusões e sugestões para futuras pesquisas 249
8.1.Conclusões 249
8.2.Sugestões para futuras pesquisas 250
Referências Bibliográficas 253
1
CAPÍTULO 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. ANÁLISE TEÓRICA DO PROCESSO DE AMOSTRAGEM
HVORSLEV (1949) classifica o amolgamento em 5 tipos básicos:
1) Variação nas condições de tensão;
2) Variação na umidade e no índice de vazios;
3) Amolgamento da estrutura do solo;
4) Variação química e;
5) Mistura e separação dos constituintes do solo.
O amolgamento da estrutura do solo, segundo HVORSLEV (1949), consiste no
enfraquecimento da adesão entre as partículas ou no rearranjo estrutural dos grãos do
solo. Variação no estado de tensão será discutido mais adiante, e variação química, na
umidade e no índice de vazios, bem como mistura dos constituintes do solo pressupõem
alterações básicas nas propriedades índices do material.
HVORSLEV (1949) comenta ainda que a influência destes amolgamentos nos
resultados dos ensaios de laboratório depende não apenas do tipo e grau de
amolgamento, mas também das características do solo e da técnica de ensaio.
Segundo SANDRONI (1977) o ato de amostragem e manuseio da amostra obtida tem
duas consequências indesejáveis:
1. A distorção estrutural;
2. Variação do estado de tensões efetivas.
Comenta o autor que a distorção estrutural é devido à inevitável destruição do arranjo
micro-estrutural dos grãos, quando do puncionamento pelo amostrador e que a região do
solo afetada por esta distorção é da mesma ordem de grandeza da espessura das paredes
do amostrador. A variação da tensão efetiva durante a amostragem é inevitável, porque
é decorrente da solicitação não-drenada de descarregamento impossível de evitar
durante a operação. Este ponto será detalhado adiante neste item.
LEROUEIL e JAMIOLKOWSKI (1991) definem amolgamento como a destruição na
aglutinação entre os pontos de contato dos grãos. O amolgamento na amostragem
2
acontece essencialmente a umidade constante. As duas principais causas do
amolgamento, ainda segundo LEROUEIL e JAMIOLKOWSKI (1991), são:
a) distorção mecânica associada a operação de amostragem e;
b) alívio das tensões totais de campo.
JAMIOLKOWSKI et al. (1985) consideram que vários fatores durante o processo de
amostragem e preparação dos corpos de prova em solos argilosos podem ser causa de
amolgamento, entre eles:
• Variação nas tensões devido à abertura do furo
• Remoção das tensões cisalhantes de campo
• Geometria e tipo do amostrador
• Método de cravação do amostrador
• Relação entre diâmetro do amostrador e do corpo de prova
• Transporte, armazenagem e manuseio no laboratório.
SKEMPTON e SOWA (1963) apresentaram didaticamente a variação do estado de
tensão total e efetivo durante a amostragem. Considerando um elemento de argila no
campo submetido a um estado anisotrópico de tensões totais σ1 e σ3, poro-pressão u0 e
tensões efetivas p e K0p. Se este elemento é removido do terreno, na amostragem, sem
amolgamento mecânico e sem variação de umidade, as tensões totais são reduzidas a
zero e a poro-pressão torna-se negativa nesta amostra (uk). A argila está neste estágio
submetida a um estado de tensão efetiva isotrópica pk numericamente igual à poro-
pressão e de sinal contrário (pk = - uk). Quando esta argila é ensaiada na célula triaxial,
aplica-se uma tensão confinante igual a σ3 e a poro-pressão no corpo de prova será igual
a us, onde us = uk + σ3. A Figura 2.1 ilustra esquematicamente esta variação do estado
de tensões.
LADD e LAMBE (1963) definiram o conceito de amostragem perfeita. O significado
deste termo está relacionado ao processo onde o amolgamento é causado apenas pelo
alívio das tensões cisalhantes de campo. A amostragem real entretanto apresenta
amolgamentos adicionais, além do alívio de tensões, tais como perfuração, cravação do
tubo, extrusão, redistribuição de umidade, moldagem e montagem na célula. Os autores
3
consideram o procedimento de amostragem composto por todas estas etapas. Em todas
estas etapas ocorre redução da tensão efetiva do solo.
Figura 2.1 – Variação do estado de tensão total e efetivo durante amostragem
(SKEMPTON e SOWA, 1963)
A Figura 2.2 ilustra o caminho de tensões que ocorre durante um processo de
amostragem e manuseio, segundo LADD e LAMBE (1963). O ponto A representa o
estado de tensões in situ do solo antes da amostragem. O ponto P corresponde à
amostragem perfeita. O ponto B corresponde ao final da cravação do amostrador e o
ponto C representa a retirada da amostra do terreno. O ponto D corresponde ao final da
extrusão da amostra do tubo. O ponto E representa a variação na tensão efetiva devido à
poro-pressão de cavitação e redistribuição da umidade, enquanto o ponto F indica a
diminuição na tensão efetiva devido à moldagem e montagem na célula triaxial. O ponto
G representa a tensão efetiva de um corpo de prova no início de um ensaio triaxial UU,
após a aplicação da tensão confinante.
A amostragem perfeita de argilas saturadas, segundo BALIGH (1987), denota o
processo idealizado de alívio do estado de tensão anisotrópico de campo para uma
condição final isotrópica, a que a amostra está submetida antes de ser ensaiada. LADD e
4
LAMBE (1963) propuseram ainda um índice para avaliar o amolgamento associado ao
conceito de amostragem perfeita. O índice é a relação σ’r/σ’ps , onde σ’r é a tensão
residual após a amostragem (Ponto G - Fig. 2.2) e σ’ps é a tensão residual
correspondente à amostragem perfeita (Ponto P - Fig. 2.2). Quanto mais próximo estiver
do valor igual a 1 este índice melhor a qualidade da amostra. O valor de σ’ps é dado pela
seguinte expressão:
σ’ps = σ’vo [K0 + Au (1- K0)] (2-1)
onde: Au = (∆u-∆σh)/(∆σv-∆σh) (2-2)
∆σh - Variação na tensão horizontal para atingir o estado isotrópico
∆σv - Variação na tensão vertical para atingir o estado isotrópico
LADD e LAMBE (1963) comentam que a relação σ’ps /σ’r pode ser usada como uma
espécie de OCR e que sendo seu valor maior do que 1, os corpos de prova se
apresentam um comportamento de um solo pré-adensado. LADD e LAMBE (1963)
comentam ainda que a relação σ’r/σ’ps variou entre 0,11 e 0,43 para a argila de
Kawasaki no Japão e entre 0,01 e 0,34 para a argila azul de Boston. Os autores afirmam
que relação σ’r/σ’ps para argilas normalmente adensadas é tipicamente inferior a 0,33 e
que por esta razão a resistência obtida em ensaios UU é inferior à resistência de campo.
SANDRONI (1977), citando COSTA FILHO (1976), relata que a relação σ’r/σ’ps
variou entre 0,74 e 0,94 na argila de Sarapuí em amostras tubulares de 125 mm de
diâmetro.
COUTINHO (1986) determinou nos ensaios triaxiais realizados na argila de Juturnaíba
a tensão residual σ’r . Considerando o K0 utilizado por COUTINHO (1986), o autor da
presente tese deteminou a tensão residual correspondente à amostragem perfeita σ’ps.
Foi determinado então a faixa da relação σ’r/σ’ps, que variou entre 0,5 e 0,9. Vale
ressaltar que as argilas brasileiras são mais plásticas que a argila de Boston, sendo
portanto menos sensíveis ao amolgamento.
HIGHT et al. (1992) mostraram que o critério da medida da tensão residual pode ser
interessante para um dado local. Estes autores compararam resultados medidos com
diferentes amostradores na argila de Bothkennar: pistão de 100 mm, Laval e Sherbrooke
(ver item 2.2.2). Encontraram valores menores para amostradores tubulares, coerente
com a qualidade inferior destes amostradores para este estudo. Por outro lado
TANAKA (2000), citado por LEROUEIL (2002), relata tensões residuais inferiores a
5
1/6 da tensão efetiva de campo, em amostras de alta qualidade, que indica que este
parâmetro não pode ser usado como um indicador geral para avaliar qualidade de
amostras. LEROUEIL (2002) comenta ainda que o melhor critério parece ser a variação
relativa no índice de vazios (∆e/e0), sugerido por LUNNE et al. (1997) (ver item 2.2.1).
Figura 2.2 - Caminho de tensões teórico no processo de amostragem tubular (LADD e
LAMBE, 1963)
SKEMPTON e SOWA (1963) realizaram um estudo experimental no laboratório, para
descobrir se a resistência não-drenada de uma amostra perfeita é a mesma do solo no
terreno. A argila utilizada foi a Weald Clay reconstituída em laboratório, normalmente
adensada na condição K0 , para as tensões de campo. Esta argila tem as seguintes
propriedades índices: índice de plasticidade igual a 24%, índice de atividade igual a
0,63 e sensibilidade igual a 2. Os autores simularam corpos de prova que representariam
a condição anisotrópica de campo e a condição isotrópica após a amostragem perfeita.
Realizaram ensaios triaxiais adensados não-drenados e obtiveram valores de resistência
da amostra perfeita e do terreno com diferenças entre 1 e 2% (em média a resistência da
amostra 1,5% menor do que a resistência do terreno). Os autores concluem que a
resistência não-drenada de uma amostra obtida sem amolgamento mecânico
6
(amostragem perfeita) não deve ser diferente da resistência da argila no terreno. Esta
conclusão segundo ainda SKEMPTON e SOWA (1963) é válida se não houver variação
de umidade durante a amostragem e se as deformações ocorridas durante a amostragem
não forem suficientemente grandes para causar variação significativa na micro-estrutura
do solo.
Utilizando amostras da argila de San Francisco que tem sensibilidade igual a 8,
NOORANY e SEED (1965) encontraram valores de resistência não-drenada da amostra
perfeita em média 6% inferiores àquela do terreno. Os autores comentam que o simples
alívio de tensões induzirá deformações suficientes e variação na poro-pressão que
causam esta diminuição de resistência. Concluem então que a resistência obtida em
ensaios trixiais UU será conservativa.
BALIGH et al. (1987) propuseram uma abordagem chamada de Método da
Amostragem Ideal (ISA), que é baseada no método do caminho de deformações
(BALIGH, 1985), e considerado pelos autores como uma extensão da abordagem de
amostragem perfeita. Este método denota uma idealização da incorporação dos efeitos
da penetração do tubo, coleta da amostra, extrusão do tubo, desprezando outros tipos de
amolgamento, tais como a influência do operador e a variação de umidade do solo.
Durante a penetração de um tubo de amostragem no solo, a amostra está sujeita a uma
compressão inicial acima do amostrador, uma fase de extensão nas proximidades da
sapata de corte e uma segunda compressão dentro do tubo. Os valores das deformações
de compressão e extensão dependem da relação entre o diâmetro e a espessura da parede
do amostrador (B/t). A Figura 2.3 ilustra este comentário. BALIGH et al. (1987)
consideram que as previsões baseadas na abordagem da amostragem perfeita podem
fornecer estimativas razoáveis de mínimo amolgamento em amostras do tipo bloco,
enquanto a metodologia proposta por estes autores é mais representativa de
amolgamento associado com amostradores tubulares, comumente usados na prática.
7
Figura 2.3 - Deformações no centro de amostradores causadas pela penetração no
terreno (BALIGH et al. ,1987)
TAVENAS e LEROUEIL (1987) resumiram a questão do amolgamento na
amostragem, analisando o caminho de tensões, em duas situações:
a) Amostragem perfeita
b) Amostragem tubular
Para uma argila natural que tem o estado de tensão no campo representado pelo ponto A
na Figura 2.4a , na amostragem perfeita na condição não-drenada o caminho de tensões
seguido é a linha AA1 (Figura 2.4a ). A tensão efetiva média permanece constante.
Desde que o caminho de tensões permaneça dentro da curva de estado limite, o
amolgamento não é significante. Entretanto, no caso de uma argila levemente pré-
adensada (ponto B – Figura 2.4a), o caminho de tensões segue a reta BB1 e pode tocar a
curva de estado limite e desestruturar a argila antes de atingir a condição isotrópica.
Segundo TAVENAS e LEROUEIL (1987), isto indica que até na amostragem perfeita
uma argila levemente pré-adensada pode ser amolgada.
Em relação à amostragem tubular, o solo experimenta sucessivamente uma compressão,
uma extensão e uma segunda compressão como previsto por BALIGH et al. (1987). O
caminho de tensões associado segue a poligonal abcde da Figura 2.4b. BALIGH et al.
8
(1987) também demonstrou que a deformação máxima de ruptura (εmáx) obtido neste
processo aumenta com o aumento da relação espessura da parede/diâmetro do
amostrador. Se εmáx é menor do que a deformação de ruptura do material intacto, o
caminho de tensões permanece dentro da curva de estado limite, como mostra a Figura
2.4b. As condições de amostragem são muitas boas. Por outro lado se εmáx é maior do
que a deformação de ruptura do solo intacto, o caminho de tensões atinge a curva de
estado limite no ponto F (Figura 2.4c) e o solo é desestruturado. TAVENAS e
LEROUEIL (1987) comentam ainda que como a deformação de ruptura geralmente
aumenta com o aumento da plasticidade, as argilas plásticas são menos sensíveis ao
amolgamento.
Figura 2.4 – Caminho de tensões durante amostragem (TAVENAS e LEROUEIL,
1987)
HIGHT (2000) apresentou um estado da arte sobre as metodologias para avaliar a
qualidade das amostras, ou seja o nível de amolgamento do solo. As metodologias
citadas são:
• Inspeção visual da estrutura (“fabric”)
• Medição da tensão média efetiva inicial
• Medição das deformações durante a reconsolidação
• Comparação em campo e laboratório de velocidades de ondas sísmicas.
A seguir serão comentados estes métodos.
• Inspeção visual da estrutura
9
HIGHT (2000) comenta que a inspeção visual da estrutura é importante para avaliação
da redistribuição dos teores de umidade entre camadas adjacentes de areia e argila,
embora não seja suficiente para determinar o nível de amolgamento. Apenas as grandes
distorções na zona periférica podem ser identificadas, enquanto as deformações na zona
central não são detectadas.
• Medição da tensão média efetiva inicial (tensão residual)
Como já comentado anteriormente, LADD e LAMBE (1963) propuseram um índice
para avaliar o amolgamento associado ao conceito de amostragem perfeita. O índice é a
relação σ’r/σ’ps , onde σ’r é a tensão residual após a amostragem (Ponto G - Fig. 2.2) e
σ’ps é a tensão residual correspondente à amostragem perfeita (Ponto P - Fig. 2.2).
Baseado em resultados na argila de Bothkennar (ver item 2.3) HIGHT (2000) comenta
que a medida da tensão média efetiva inicial indica diferenças na qualidade entre
diferentes amostradores (Laval e pistão – Figura 2.5). Entretanto esta medida isolada
não é suficiente e não pode indicar o grau de desestruturação que ocorreu.
Figura 2.5 – Comparação das tensões médias efetivas no campo e após a amostragem –
amostradores Laval e pistão 100 mm – argila de Bothkennar (HIGHT, 2000)
10
• Medição das deformações durante a reconsolidação
Segundo HIGHT (2000) as deformações de reconsolidação às tensões de campo,
dependem da redução na tensão efetiva e do grau de desestruturação ocorrido durante a
amostragem. O valor absoluto desta deformação depende do caminho de tensão seguido
na reconsolidação e da compressibilidade do solo. LUNNE et al. (1997) sugerem a
utilização da relação ∆e/e0, onde ∆e é a variação do índice de vazios e e0 é o índice de
vazios inicial. Maiores detalhes sobre a utilização deste método serão apresentados no
item 2.2.1.
• Comparação em campo e laboratório de velocidades de ondas sísmicas
HIGHT (2000) afirma que a velocidade da onda sísmica ou cisalhante diminui em uma
argila após a amostragem devido à desestruturação. A comparação entre medidas desta
velocidade em campo e laboratório pode ser utilizada para avaliação da qualidade da
amostra. Para a comparação ser válida a amostra deve ser reconsolidada às tensões de
campo. No laboratório esta medida pode ser realizada com o emprego da técnica de
“Bender elements” em corpos de prova triaxiais ou edométricos (Ver LUNNE et al.,
1997 e FONSECA e FERREIRA, 2002). No campo a medida da onda cisalhante pode
ser feita com o uso do cone sísmico.
Baseado em ensaios realizados na argila de Lierstranda na Noruega, LUNNE et al.
(1997) afirmam que este método não deve ser um bom indicador do amolgamento da
amostra. Os autores comentam que as diferenças encontradas não estão associadas com
a qualidade da amostra, mas com diferenças na medida e interpretação dos ensaios de
campo e laboratório.
2.2.TIPOS DE AMOSTRAS E AMOSTRADORES 2.2.1.TIPOS DE AMOSTRAS
HVORSLEV (1949) considera a seguinte classificação para os diferentes tipos de
amostras, de uma maneira geral:
11
1)Amostras não-representativas
2)Amostras representativas
3)Amostras indeformadas
Algumas características destes tipos de amostras são resumidas a seguir:
1)Amostras não-representativas
.solos de várias camadas misturados
.alguns componentes do solo removidos
.materiais estranhos dentro da amostra
2)Amostras representativas
.estrutura do solo destruída
.variação na umidade ou índice de vazios
.sem variação nos constituintes do solo
3)Amostras indeformadas
.sem destruição (amolgamento) da estrutura do solo
.sem variação na umidade, índice de vazios e composição química
Ainda segundo HVORSLEV (1949), as amostras não-representativas não são adequadas
para ensaios de laboratório, permitindo apenas uma classificação preliminar das
variações das camadas do terreno e indicando em que profundidades amostras
representativas ou indeformadas devem ser obtidas. Atualmente estas amostras não são
mais consideradas úteis para uso em investigações geotécnicas (CLAYTON et al.,
1982). As amostras representativas seriam adequadas apenas para realização de ensaios
de classificação, enquanto que as amostras indeformadas seriam indicadas para todos os
tipos de ensaios de laboratório, principalmente os ensaios de resistência, de
deformabilidade e permeabilidade.
Uma outra classificação existente é a proposta por ROWE (1972), modificando o
trabalho de IDEL et al (1969), segundo CLAYTON et al. (1982). Esta classificação
12
considera 5 qualidades de amostras. A Tabela 2.1 apresenta um resumo desta
classificação.
ROWE (1972) comenta que o Nível de Qualidade 1 é um outro nome para amostras
indeformadas de boa qualidade, como as obtidas por amostradores tubulares de parede
fina dotados de pistão estacionário. O Nível de Qualidade 2 permite um certo grau de
amolgamento, sem afetar significativamente as propriedades mecânicas do material. As
amostras de Qualidade 3 podem ser usadas principalmente para análise da estrutura do
solo e são divididas em dois tipos. Qualidade 3A exige 100% de recuperação em
amostragem contínua, enquanto Qualidade 3B permite até 10% de perda entre amostras
consecutivas. Amostras de Qualidade 4 são deformadas e fornecem a seqüência de
camadas. Qualidade 5 se refere a amostras obtidas a partir da lavagem em sondagem de
simples reconhecimento, indicando apenas a seqüência aproximada das camadas.
Segundo LUNNE et al. (1997), o Instituto Norueguês de Geotecnia (NGI) utiliza desde
muito tempo a deformação volumétrica (εvo) correspondente às tensões geostáticas no
campo (σ’vo) como indicador de amolgamento e consequentemente da qualidade de
amostras argilosas (ANDRESEN & KOLSTAD, 1979).
LUNNE et al. (1997) sugerem a utilização de ∆e/eo, ao invés de εvo para classificar
amostras de argila, onde ∆e = e0 – eV0. Os autores consideram e0 o índice de vazios
inicial da amostra e eV0 o índice de vazios correspondente à tensão efetiva de campo.
Estes autores justificam que uma variação no volume de vazios (∆e) é mais prejudicial à
estrutura do solo quanto menor for o índice de vazios inicial (eo), sendo então sugerido
usar ∆e/eo. Vale salientar que a utilização de εvo dispensa a realização do ensaio de
densidade dos grãos. Baseado na experiência do NGI os autores propuseram um critério
de avaliação de amolgamento. A Tabela 2.2 apresenta a proposta de classificação. A
Tabela proposta pode ser também construída em termos de εV0, para uma argila
particular, multiplicando-se ∆e/e0 por e0/(1+e0) correspondente, como exemplificado na
Tabela 2.3 para um índice de vazios inicial igual a 2,0.
13
Tabela 2.1. – Classificação de amostras (IDEL et al., 1969; modificada por ROWE ,
1972)
Nível de Qualidade
Propriedades Objetivo Técnica de amostragem típica
1 Propriedades remoldadas Estrutura Teor de umidade Densidade e porosidade Compressibilidade Parâmetros de resistência: totais e efetivos Permeabilidade* Coeficiente de adensamento*
Ensaios de laboratório em solos naturais
Amostrador pistão de parede fina com preservação da umidade
2 Propriedades remoldadas Estrutura Teor de umidade Densidade e porosidade Compressibilidade Parâmetros de resistência: totais e efetivos
Ensaios de laboratório em solos naturais de baixa sensibilidade
Amostrador de parede fina ou espessa com preservação da umidade
3 Propriedades remoldadas Estrutura: A* 100% de recuperação; B* 90% de recuperação
Análise da estrutura e ensaios de laboratório em solos remoldados
Amostrador de parede fina ou espessa; Preservação da umidade em solos altamente permeáveis
4 Propriedades remoldadas Ensaios de laboratório em solos remoldados; Estratigrafia
Amostra em saco
5 Nenhuma Sequência aproximada das camadas
Lavagem
* Itens modificados do original por ROWE (1972)
Tabela 2.2 – Critério de avaliação de amolgamento/qualidade de amostras (LUNNE et
al., 1997)
OCR ∆e/eo
Muito Boa a
Excelente
Boa a Regular Pobre Muito Pobre
1-2 < 0,04 0,04 – 0,07 0,07 – 0,14 > 0,14
2-4 < 0,03 0,03 – 0,05 0,05 – 0,10 > 0,10
14
Tabela 2.3 - Critério de avaliação de qualidade de amostras, em termos de εvo , para
índice de vazios inicial igual a 2,0 (a partir de LUNNE et al., 1997)
OCR εvo
Muito Boa a
Excelente
Boa a Regular Pobre Muito Pobre
1-2 < 0,027 0,027 – 0,046 0,046 – 0,092 > 0,092
2-4 < 0,02 0,02 – 0,033 0,033 – 0,066 > 0,066
COUTINHO et al. (1998b) adaptaram o critério de LUNNE et al. (1997) para os solos
moles de Recife, a saber: a faixa que na Tabela 2.2 é classificada como boa a regular foi
subdividida em duas faixas 1) Boa; 2) Regular, considerando o valor médio da faixa boa
/ regular proposta como limite. O mesmo ocorreu para a faixa chamada de pobre por
LUNNE et al. (1997), que pelas adaptações passou a ser chamada de Transição Regular
/ Pobre e Pobre propriamente dita, utilizando o mesmo critério anterior (média da faixa
inicial). A Tabela 2.4 apresenta estas modificações para o depósito de argila mole do
SESI-Ibura.
Tabela 2.4. Qualidade de amostras para o depósito do SESI-Ibura – Recife-PE (COUTINHO et al., 1998 a partir de LUNNE et al., 1997)
O εV0 Camada C
R Muito Boa a
Excelente Boa Regular Transição
Regular/Pobre Pobre Muito
Pobre
1-2 <0,032 0,032-0,044 0,044-0,056 0,056-0,084 0,084-0,112 >0,112 1
2-4 <0,024 0,024-0,032 0,032-0,040 0,040-0,060 0,060-0,080 >0,080
1-2 <0,027 0,027-0,038 0,038-0,048 0,048-0,072 0,072-0,095 >0,095 2
2-4 <0,02 0,020-0,027 0,027-0,034 0,034-0,051 0,051-0,068 >0,068
CAVALCANTE et al. (1998) traçaram a curva coeficiente de compressão (CR) versus
εV0 para o depósito do SESI-Ibura e obtiveram uma correlação com a seguinte
expressão:
CR = 13 + (1000/εV0 0,8438) (2-3)
15
Considerando que a proposta de LUNNE et al. (1997) é muito rigorosa para as argilas
moles de Recife, COUTINHO et al (2000b) adaptaram as faixas consideradas como de
amostras satisfatórias (excelente, muito boa, boa e regular) e não-satisfatórias. Esta
modificação foi baseada na experiência local. A Figura 2.6 ilustra estes comentários.
Figura 2.6 – Curva CR vs. εV0 para o depósito do SESI-Ibura – Recife-PE (COUTINHO
et al., 2000b, a partir de CAVALCANTE et al., 1998)
HONG e ONITSUKA (1998) definiram um índice chamado Grau de Amolgamento
(SD%), como sendo a relação entre a inclinação do trecho de recompressão da curva
oedométrica da amostra natural (CCLB) e a inclinação deste trecho para o solo
completamente amolgado (CCLR) na curva ln(1+e) – log σ’v . Analiticamente pode-se
escrever:
SD% = CCLB/ CCLR x 100% (2-4)
Os autores comentam que o valor de CCLR pode ser estimado a partir da correlação por
eles apresentada com o limite de liquidez (WL). Esta correlação utiliza um banco de
dados com vários resultados de ensaios com solos de todo o mundo, entre eles as argilas
de Londres e Boston. A correlação é a seguinte:
CCLR = -0,390 + 0,332 log(WL) (2-5)
16
O coeficiente de correlação, r, desta equação é 0,961. A Figura 2.7 ilustra estas
definições.
Curva de compressão de campo
Amolgamento
CCLB
CCLR
1
1
ln (1+e)
log σσ'V
Curva de laboratório
Amostra remoldada
Figura 2.7 – Efeito do amolgamento na curva de compressão (HONG e
ONITSUKA,1998)
2.2.2.TIPOS DE AMOSTRADORES
São os seguintes os principais tipos de amostradores para obtenção de amostras
indeformadas de argila mole:
-Amostradores de tubo aberto (shelby) (MOHR, 1936, segundo HVORSLEV, 1949)
-Amostradores com pistão estacionário (OLSSON, 1925, segundo HVORSLEV, 1949)
-Amostrador Laval (LA ROCHELLE et al., 1981)
-Amostrador tipo bloco (Sherbrooke) (LEFEBVRE & POULIN, 1979)
-Amostrador de tubo aberto (Shelby)
17
HVORSLEV (1949) comenta que um amostrador de tubo aberto, bastante simples, foi
introduzido por MOHR (1936). Consistia de um tubo metálico inoxidável de parede fina
da marca “Shelby” que é acoplado a uma cabeça de amostragem e às hastes de
sondagem. A Figura 2.8 apresenta este amostrador. Aperfeiçoamentos posteriores
consistiram na colocação de uma sapata de corte. A amostra é preservada e transportada
para o laboratório no próprio tubo.
Um amostrador de parede fina, ainda segundo HVORSLEV (1949), pode ser
arbitrariamente definido como sendo o tubo de amostragem com a espessura da parede
menor do que 2,5% do seu diâmetro. A principal vantagem deste tipo de amostrador
seria a simplicidade operacional. Este amostrador possui na cabeça de amostragem
aberturas para saída da água, além de válvula de proteção contra formação de coluna de
água (Figura 2.8).
Figura 2.8 – Amostrador tubo aberto (Shelby) de parede fina (HVORSLEV, 1949)
18
HVORSLEV (1949) definiu algumas relações entre as dimensões de um amostrador
tubular. Segundo este autor estes índices serviriam para expressar os resultados da
operação de amostragem, além de estabelecer requisitos para projeto de amostradores.
Os principais índices definidos por HVORSLEV (1949) são:
a) Relação de folga interna (Ci )
Ci = (Ds – De)/De (2-6)
Onde: Ds – diâmetro interno do tubo
De – diâmetro interno da sapata de corte
b) Relação de folga externa (Co)
Co = (Dw – Dt)/Dt (2-7)
Onde: Dw – diâmetro externo da sapata de corte
Dt - diâmetro externo do tubo
c) Índice de área (Cα)
Cα = (Dw2 – De
2)/De2 (2-8)
A Figura 2.9 ilustra estas definições.
Figura 2.9 – índices definidos por HVORSLEV (1949) para amostradores de tubo
aberto
19
A Norma Brasileira (NBR 9820/1989) recomenda um índice de área inferior a 10% e a
relação de folga interna entre 0,5 e 1,0%.
- Amostradores com pistão estacionário
Um amostrador de pistão, segundo HVORSLEV (1949), é um amostrador em que a
extremidade inferior do tubo de amostragem é fechada com um pistão. A grande
vantagem deste tipo de amostrador é que o pistão impede a entrada de solo amolgado da
base do furo dentro do tubo.
A posição e o movimento do pistão são controlados pela haste interna do pistão.
Existem três tipos de pistão: estacionário, retrátil e livre. Será detalhado apenas o pistão
estacionário por ser o mais utilizado no mundo.
O primeiro amostrador dotado de pistão estacionário foi desenvolvido por OLSSON
(1925), segundo HVORSLEV (1949). Neste tipo de amostrador o pistão é mantido a
uma profundidade constante, ou seja, estacionário durante a amostragem. Este
amostrador é apresentado esquematicamente na Figura 2.10. O pistão é nivelado à altura
da sapata de corte e fixado na haste de sondagem, enquanto o amostrador é descido no
furo e forçado através do solo até a profundidade desejada de amostragem. Nesta
profundidade a fixação da haste de sondagem é liberada, sendo a haste do pistão presa
no revestimento. O pistão é mantido estacionário, enquanto o amostrador é cravado no
solo. O amostrador é então retirado do solo, contendo a amostra. As vantagens deste
método de operação seriam entre outras: o impedimento de entrada de excesso de solo
no amostrador e a não transferência de pressão hidrostática ou atmosférica para a
amostra (HVORSLEV (1949).
HVORSLEV (1949) comenta ainda que o amostrador dotado de pistão estacionário é o
melhor amostrador para obter amostras indeformadas de solos argilosos moles. Em
comparação com amostradores de tubo aberto tem a desvantagem da fabricação ser mais
complicada e que a operação de amostragem no campo requer um tempo maior.
Entretanto estas desvantagens são compensadas pela obtenção de amostras de melhor
qualidade e com menor percentual de perda.
20
Figura 2.10 – Amostrador dotado de pistão estacionário (OLSSON, 1925, citado por
HVORSLEV,1949)
No Brasil o amostrador de pistão de grande diâmetro (125 mm) foi introduzido no
Projeto de Pesquisa IPR/DNER, coordenado pelo Prof. Willy Lacerda. Este Projeto deu
início ao estudo sistemático da argila do Sarapuí-RJ (ver ORTIGÃO, 1975;
COUTINHO, 1976, LACERDA et al., 1977). No mundo pode-se destacar os
amostradores com pistão do NGI (LUNNE et al., 1997), japonês (TANAKA e
TANAKA, 1999) e o apresentado por HIGHT (1998, 2000) que é ilustrado na Figura
2.17 do item 2.2.3.5.
21
- O Amostrador Laval
Este amostrador foi desenvolvido pelo Grupo de Geotecnia da Universidade de Laval no
Canadá e descrito por LA ROCHELLE et al.(1981). A partir de estudos anteriores o
amostrador foi projetado seguindo alguns princípios, a saber:
1. A relação de folga interna (Ci ) foi eliminada;
2. A tolerância na variação do diâmetro interno deve ser pequena;
3. O ângulo da sapata de corte deve ser muito suave;
4. O pistão deve ser eliminado;
5. A sucção deve ser evitada em todos os estágios da amostragem;
6. O diâmetro deve ser suficientemente grande para reduzir o amolgamento em torno
do núcleo intacto.
O amostrador consiste de três partes principais: o tubo de amostragem, a cabeça do
amostrador e o tubo externo. O diâmetro interno do tubo de amostragem deve ter 200
mm. A Figura 2.11 ilustra os detalhes e dimensões do amostrador. A Figura 2.10 ilustra
o procedimento de amostragem no campo. A seqüência é a seguinte:
a) o conjunto tubo de amostragem + cabeça do amostrador + tubo externo é descido no
pré-furo;
b) o tubo externo é fixado e o tubo de amostragem é cravado;
c) o tubo externo é descido para realizar a limpeza externa do furo a partir de rotação;
d) o conjunto é retirado do furo.
Para maiores detalhes ver LA ROCHELLE et al.(1981) e MARQUES(1996).
LA ROCHELLE et al.(1981) concluem que os resultados de ensaios de resistência e de
compressibilidade realizados em amostras obtidas com o amostrador Laval são similares
àqueles obtidos com amostras de bloco, em duas argilas canadenses. Os autores
comentam ainda que o uso deste amostrador não é economicamente viável para
investigações de rotina, embora seja muito útil para fins de pesquisa e que pode tornar-
se economicamente vantajoso no caso de grandes obras que justifiquem o custo de
amostragem.
22
Figura 2.11 – Detalhes e dimensões do amostrador Laval (LA ROCHELLE et al., 1981)
23
Figura 2.12 – Sequência de amostragem – Amostrador Laval (LA ROCHELLE et al.,
1981)
- O Amostrador Sherbrooke Este equipamento foi desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Sherbrooke
no Canadá, sendo apresentado pela primeira vez por LEFEVBRE & POULIN (1979).
São obtidas amostras do tipo bloco, de forma cilíndrica, com 250 mm de diâmetro e
altura variável entre 250 e 350 mm. O objetivo do desenvolvimento deste amostrador
foi o de recuperar amostras profundas, a partir da superfície do terreno e utilizando
procedimento semelhante ao empregado na obtenção de blocos em trincheiras
superficiais. O amostrador é descido até a cota de amostragem dentro de um pré-furo de
40 cm de diâmetro, após a base do mesmo ser limpa com um trado de fundo chato. As
paredes laterais do furo podem ser revestidas ou estabilizadas com lama bentonítica. O
amostrador possui 3 hastes por onde circulam água ou lama para facilitar o corte do
material natural. Na extremidade de cada haste existe uma faca, que tem a função de
esculpir a amostra de solo, através da rotação lenta (5 RPM) do amostrador. Esta
rotação é dada por uma máquina, de forma mecânica ou manual. A Figura 2.13 mostra o
amostrador e a Figura 2.14 ilustra o procedimento descrito.
24
Após a amostra ser esculpida, um peso sob a ação da gravidade gera um impacto que
aciona molas e abre as facas, que cortam a base da amostra e passam a servir como
sustentação para a sua recuperação.
Este equipamento já foi utilizado em várias argilas do mundo, em países como Canadá,
Noruega, Inglaterra e Japão (LEFEVBRE & POULIN, 1979; LACASSE et al, 1985;
HIGHT et al., 1992; LUNNE et al., 1997), e as amostras apresentaram qualidade
superior em relação àquelas obtidas através de amostragem convencional utilizando
tubos de parede fina (shelby e pistão estacionário).
Figura 2.13 – Amostrador Sherbrooke: (a) diafragma (facas) da base aberto; (b) diafragma fechado (LEFEBVRE e POULIN, 1979)
25
Figura 2.14 – O amostrador Sherbrooke (LEFEVBRE & POULIN, 1979)
2.2.3 FATORES INFLUENTES NA AMOSTRAGEM
TANAKA e TANAKA (1999) publicaram um resumo dos fatores mais importantes que
influenciam a amostragem em solos, os quais serão discutidos a seguir.
2.2.3.1 Método de deslocamento versus método do pré-furo
Na Noruega o amostrador padrão NGI 54 mm é cravado diretamente no terreno até a
profundidade desejada, sem a abertura de um pré-furo. Para facilitar a cravação o pistão
tem a forma cônica (ver também LUNNE et al., 1997). Então, o pistão é fixado e o tubo
de amostragem é cravado para obter a amostra. Este processo de amostragem é chamado
método de deslocamento.
No Japão, onde se utiliza um amostrador de 75 mm de diâmetro com pistão de forma
achatada, é utilizado um pré-furo até a profundidade de amostragem, suportado através
26
da circulação de lama bentonítica. Este método é chamado de pré-furo, e geralmente é
adotado também no Brasil, sendo recomendado pela Norma Brasileira de Amostragem –
NBR 9820 (1989). Esta técnica tem a desvantagem de apresentar risco à ruptura
hidráulica dependendo do valor da pressão de circulação e do solo, como também
amolgar o solo pelo levantamento do fundo do furo. O método de deslocamento evita
estes riscos, mas a cravação direta do amostrador no terreno causa amolgamento.
TANAKA e TANAKA (1999) realizaram um estudo comparativo para examinar o
efeito da existência do pré-furo na qualidade da amostra, utilizando diversos
amostradores tubulares com pistão estacionário (NGI 54 mm, ELE 100 mm e Japonês
75 mm), com diferentes métodos na argila de Ariake no Japão. Esta argila apresenta
umidade natural igual a 154%, limite de liquidez e de plasticidade iguais a 117 e 52%,
respectivamente. Os resultados dos ensaios de resistência são apresentados na Figura
2.15. A partir da observação desta Figura os autores comentam que:
• Os valores da resistência à compressão simples (qu) para os amostradores ELE 100 e
NGI 54 mm não variam com o método de amostragem;
• Para o amostrador japonês 75 mm, o método de deslocamento causa uma redução de
cerca de 20% no valor de qu , comparado ao método de pré-furo; isto significa que
para este amostrador o amolgamento causado pela penetração é maior do que a
abertura do pré-furo.
Figura 2.15 – Influência do pré-furo na qualidade da amostra - argila de Ariake- Japão
(TANAKA e TANAKA, 1999)
2.2.3.2 Diâmetro do amostrador
27
Classicamente se considera na Mecânica dos Solos que quanto maior o diâmetro melhor
a qualidade da amostra. Algumas comparações foram feitas na literatura com
amostradores de diferentes diâmetros que aparentemente confirmam esta hipótese. Só
que, em alguns casos, entre os diversos amostradores estudados, além do diâmetro,
outros fatores também são diferentes, tais como: a relação de área, a espessura da
parede, a geometria da sapata de corte (bisel) ou o método de amostragem. Neste caso é
difícil separar a influência do diâmetro dos outros fatores.
SANDRONI (1977) comenta que o diâmetro de amostras indeformadas não deve ser
menor do 50 mm, nem maior do que 150 mm e que amostras com diâmetros menores
que 75 mm não devem ser usadas em ensaios de responsabilidade. Comenta ainda
SANDRONI (1977) que diâmetros menores do que 50 mm são indesejáveis, porque a
zona anular de amolgamento que se forma na periferia da amostra durante a cravação é
proporcionalmente maior em relação ao diâmetro. Diâmetros maiores do que 150 mm
aumentam o risco de instabilidade do funda da amostra durante a extração devido ao
maior peso e dificultam o manuseio.
TANAKA e TANAKA (1999) comentam que não necessariamente amostradores de
maior diâmetro fornecem amostras de melhor qualidade. Citam como exemplo o
desempenho de vários amostradores de diferentes diâmetros no depósito de Kinkai no
Japão (MATSUMOTO et al., 1968 e 1969). A espessura da parede , o ângulo da sapata
de corte e o método de amostragem são os mesmos. A Figura 2.16 apresenta o perfil de
resistência à compressão simples (qu) e os valores da deformação na ruptura (εf) ao
longo da profundidade. Os autores consideram que o diâmetro não altera a qualidade
das amostras.
28
Figura 2.16 – Influência do diâmetro do amostrador na resistência à compressão simples
(qu) e nos valores da deformação na ruptura (εf) – Argila de Kinkai - Japão
(MATSUMOTO et al., 1968 e 1969 ; citados por TANAKA e TANAKA, 1999)
2.1.3.3 Relação diâmetro do corpo de prova/diâmetro da amostra
HVORSLEV (1949) afirma que a distorção cisalhante é menor na parte central de uma
amostra tubular e que a área amolgada está restrita a uma zona muito próxima da
superfície da amostra (Figura 2.17). Por este motivo é de fundamental importância
moldar os corpos de prova a serem ensaiados na parte central da amostra. Como a zona
amolgada aumenta proporcionalmente à espessura da parede do amostrador, a relação
diâmetro do corpo de prova/diâmetro da amostra tem um papel fundamental na
qualidade da amostra.
COUTINHO (1976) realizou ensaios edométricos com drenagem radial externa na
argila de Sarapuí, utilizando corpos de prova de 87 e 50,5 mm de diâmetro. As amostras
foram coletadas usando amostrador tubular com pistão estacionário de 124 mm de
diâmetro. O autor comenta que os valores do coeficiente de adensamento radial (Ch)
obtidos nos corpos de prova de diâmetro igual a 87 mm foram sempre superiores aos
obtidos nos corpos de prova de diâmetro igual a 50,5 mm. A diferença na região de
compressão virgem varia de 25,5 a 9,0 % (com média de 16,67%), diminuindo com o
aumento da tensão efetiva aplicada.
29
Figura 2.17 - Distorções cisalhantes dentro de um amostrador tubular HVORSLEV
(1949)
ORTIGÃO (1980) realizou ensaios triaxiais UU variando a relação diâmetro do
amostrador/diâmetro do corpo de prova. Esta relação variou entre 1 e 3,34, utilizando
amostradores de 50, 63 e 127 mm de diâmetro e corpos de prova de 38, 50 e 100 mm de
diâmetro. O valor da resistência não-drenada da argila de Sarapuí aumenta com o
aumento daquela relação.
HIGHT et al. (1992) realizaram ensaios CK0U e CK0D na argila de Bothkennar com
diâmetros dos corpos de prova iguais a 38 e 100 mm, nos amostradores Laval e
Sherbrooke. Estes autores obtiveram valores de deformação volumétrica para adensar às
tensões de campo (εv0) inferiores para os corpos de prova de 100 mm de diâmetro.
Justificam ainda os autores que o fio de aço utilizado para moldar os corpos de prova
provoca o aparecimento de uma zona amolgada na periferia do corpo de prova. A
espessura desta zona amolgada é independente do diâmetro do corpo de prova e seu
volume relativo será tanto maior quanto menor for o diâmetro do corpo de prova. Neste
caso a influência da região amolgada aumenta proporcionalmente com a diminuição do
diâmetro do corpo de prova.
SHOGAKI e SHIRAKAWA (1998) realizaram ensaios de compressão simples na argila
da planície de Sakura - Japão, utilizando corpos de prova de 15 mm de diâmetro em
30
amostradores de 45 e 75 mm de diâmetro. Os valores da resistência não-drenada dos
corpos de prova moldados a partir do amostrador de 45 mm são em média 44%
superiores aos valores dos corpos de prova moldados a partir do amostrador de 75 mm
de diâmetro.
SOUSA PINTO (2000) afirma que os anéis de adensamento maiores são melhores
porque permitem um amolgamento menos acentuado do solo durante a moldagem.
Concluindo este item pode-se afirmar que a influência da relação diâmetro do corpo de
prova e diâmetro do amostrador precisa ainda ser melhor investigada.
2.2.3.4 Espessura da parede do amostrador
Classicamente se considera que o acréscimo na espessura da parede do amostrador
aumenta o amolgamento na amostra, porque a região afetada pelas deformações
cisalhantes é maior (HVORLEV, 1949).
SANDRONI (1977) afirma que os amostradores em argilas devem ter paredes tão finas
quanto possível, embora exista uma espessura mínima abaixo da qual o amostrador
torna-se muito sujeito ao aparecimento de dentes na ponta.
MATSUMOTO et al (1968, 1969), citados por TANAKA e TANAKA (1999),
estudaram o efeito da espessura da parede na qualidade da amostra. Utilizaram o
amostrador japonês padrão de 75 mm, variando a espessura da parede e mantendo as
demais características constantes. Na Figura 2.18 são apresentados resultados de ensaios
de compressão simples. Os autores comentam que a espessura da parede não altera o
valor da resistência à compressão simples (qu), bem como da deformação na ruptura
(εf). O autor da presente tese considera , entretanto, que a deformação na ruptura (εf) é
sistematicamente maior para o amostrador com 5mm de espessura da parede, o que
indicaria amostras de qualidade inferior.
31
Figura 2.18 – Influência da espessura da parede do amostrador na resistência à
compressão simples (qu) e na deformação na ruptura (εf) – Argila de Kinkai – Japão
(MATSUMOTO et al (1968, 1969), citados por TANAKA e TANAKA (1999))
BALIGH (1985), utilizando o método do caminho de deformações, conclui que o
aumento na relação entre a espessura da parede e o diâmetro do amostrador induz
deformações durante a cravação maiores, aumentando o amolgamento. Estas
deformações variam entre 1 e 4% para a maioria dos amostradores existentes no mundo.
Este valor de deformação pode inclusive ser suficiente para romper a amostra. A NBR
9820 (1989) define as máximas espessuras entre 1,57 e 2,82 mm. É importante ressaltar
que como a região amolgada no interior da amostra aumenta com a espessura da parede,
deve-se levar em consideração a relação entre o diâmetro do corpo de prova e o
diâmetro do amostrador, para fugir da região amolgada.
2.2.3.5 Ângulo da sapata de corte do amostrador
CLAYTON e SIDDIQUE (1999) comentam que evidências experimentais sugerem que
os mais importantes fatores influentes no amolgamento da amostra são o índice de área
(HVORSLEV, 1949 – item 2.2.2) e o ângulo da sapata de corte do amostrador.
CLAYTON e SIDDIQUE (1999) realizaram um estudo analítico baseado no Método do
Caminho de Deformações (BALIGH, 1985; BALIGH et al., 1987), analisando 5
32
diferentes amostradores com ângulos da sapata de corte e geometrias diferentes. Estes
amostradores são apresentados esquematicamente na Figura 2.19. A Tabela 2.5 mostra
as deformações teóricas provocadas pela cravação destes amostradores. CLAYTON e
SIDDIQUE (1999) comentam que o amostrador 5 foi usado em caráter experimental por
HIGHT (1998) na argila de Bothkenar (IP = 25-55%) e que teoricamente este
amostrador que possui o menor ângulo da sapata de corte, obteria amostras de qualidade
superior em relação aos demais, já que as deformações induzidas seriam as menores. A
Norma Brasileira de Amostragem (NBR 9820/1989) recomenda um ângulo da sapata de
corte (bisel) compreendido entre 5 e 10 graus.
Figura 2.19 – Geometrias da sapata de corte analisadas usando o método do caminho de
deformações (CLAYTON e SIDDIQUE, 1999)
33
Tabela 2.5 Deformações provocadas pela cravação de diversos amostradores – estudo
usando o método do caminho de deformações (CLAYTON e SIDDIQUE ,1999)
Amostrador Diâmetro
interno (mm)
Ângulo da
sapata de corte
(graus)
Máxima
deformação de
compressão (%)
Máxima
deformação de
extensão (%)
1 105,4 30 1,51 -1,35
2 104,0 20 0,93 -0,67
3 101,9 45 2,62 -1,96
4 97,5 15 0,85 0
5 97,5 5 0,61 0
TANAKA e TANAKA (1999), citando MATSUMOTO et al (1968, 1969), apresentam
um estudo experimental analisando a influência do ângulo da sapata de corte na argila
de Oimachi no Japão. A Figura 2.20 apresenta os valores de qu e εf ao longo da
profundidade para amostradores com 75 mm de diâmetro e diferentes ângulos da sapata.
Nota-se que os valores de qu não são afetados, enquanto os valores de εf são
influenciados. O amostrador com ângulo da sapata de corte igual a 90 graus apresenta
maiores valores de εf , o que indicaria maior amolgamento.
Figura 2.20 – Influência do ângulo da sapata de corte do amostrador na resistência à
compressão simples e na deformação na ruptura – argila de Oimachi – Japão
(MATSUMOTO et al., 1968, 1969; citados por TANAKA e TANAKA, 1999)
34
2.3. ROTINA DE MANUSEIO DE AMOSTRAS EM LABORATÓRIO
Neste item será feita uma revisão das técnicas de manuseio de amostras de argila mole
nos laboratórios de Geotecnia da COPPE/UFRJ e da UFPE, desde o transporte da
amostra até a realização e cadastramento dos ensaios.
2.3.1.LABORATÓRIO DE GEOTECNIA DA UFPE
a)Transporte da amostra
Ensaios de pesquisa: feito em caixas apropriadas de madeira protegidas com pó-de-serra
por técnicos do Laboratório e/ou alunos bolsistas (IC, aperfeiçoamento, mestrado).
Prestação de serviços: as amostras são transportadas pelo interessado. Uma observação
que pode ser feita é que, apesar da recomendação da Norma Brasileira de Amostragem
em Solos Moles No. 9820, algumas empresas ainda trabalham com amostradores de
diâmetro inferior a 75 mm.
b)Chegada da amostra
A amostra é cadastrada com o número do certificado e ordem de serviço (OS), pelo
local da obra e pelo cliente, no caso de prestação de serviços. As amostras coletadas
para pesquisa são controladas pelos bolsistas do Projeto CNPq através de planilhas. Este
projeto intitula-se “ Engenharia Geotécnica de Encostas e Planícies” e tem como
coordenador o Prof. Roberto Coutinho. O autor desta tese trabalha como pesquisador
neste projeto.
c)Armazenamento
O armazenamento é feito na vertical em câmara úmida “parcialmente controlada”
(controle de umidade não contínuo e irregular) feito através da molhagem das
prateleiras e do chão e/ou com a colocação de recipientes abertos cheios de água. O
tempo de espera no caso de prestação de serviços é de 1 a 3 dias, dependendo da
possibilidade de utilização das máquinas (prensas de adensamento, triaxial, etc.). No
caso de pesquisa é muito variável, em função do desenvolvimento de teses de mestrado
35
e do número de amostras obtidas. Enquanto o número de amostras para ensaios de
prestação de serviços é em média igual a 2 , o de pesquisa sobe para 10-12.
d)Extrusão
O extrator utilizado é vertical, de fabricação nacional, e o sentido em que a amostra é
extrudada não é sempre o mesmo, dependendo da maior ou menor facilidade
considerada pelo técnico, em função do comprimento da amostra dentro do tubo. Se o
tubo estiver cheio se utiliza a extrusão de baixo para cima da amostra.
e)Mapeamento do tubo
Nos ensaios de pesquisa é feito um mapeamento do tubo por um membro da equipe do
projeto integrado CNPq (bolsista e/ou técnico). Este mapeamento consiste na anotação
da quantidade de amostra utilizada e para qual ensaio, ao longo do comprimento do
tubo. Os 5 cm iniciais são desprezados em função do contato com a camada de parafina
de proteção, o que pode alterar a umidade nesta região. A ocorrência de materiais
estranhos como madeira e conchas é registrada nas observações ao lado da descrição do
solo. Este procedimento está em acordo com o descrito e adotado por COUTINHO
(1986).
Nos ensaios de prestação de serviços também despreza-se os 5 cm iniciais, porém não é
feito o mapeamento completo detalhado. De qualquer forma, a seqüência mais comum
é: após os 5 cm desprezados, molda-se o corpo de prova para o ensaio oedométrico
convencional (4-5 cm de comprimento de amostra), separa-se o material para
caracterização e o restante utiliza-se para ensaios de resistência (compressão simples ou
triaxial UU) em função da solicitação do cliente.
f)Moldagem dos corpos de prova
A moldagem dos corpos de prova é feita diferentemente para cada tipo de ensaio. No
caso do adensamento, o anel metálico é colocado diretamente sobre a amostra na sua
parte central e cravado manualmente. É feita após a cravação, a separação do material
externo com fios de aço e/ou espátula. Faz-se então o nivelamento da amostra na altura
do anel e a limpeza do mesmo. O corpo de prova é então pesado e colocado na célula
edométrica. Com o material restante da moldagem é feita a determinação da umidade,
considerando a média de 3 cápsulas. A pesagem e colocação na estufa é feita o mais
36
rápido possível, com um tempo inferior a 10 minutos. Utilizam-se normalmente anéis de
40 ou 60 cm2 de área.
No caso do ensaio triaxial, a moldagem é feita em torno apropriado de fabricação
nacional e que foi modificado pelo Laboratório reduzindo o peso da haste sobre o corpo
de prova. Utiliza-se a parte central da amostra para minimizar o efeito do amolgamento
causado pelo atrito interno das paredes do tubo amostrador. O corpo de prova é então
pesado e medidas as suas dimensões (altura e diâmetro), para então ser montado na
célula triaxial. O material restante da moldagem é utilizado para a determinação da
umidade. Normalmente utilizam-se corpos de prova com 35,6 mm (1,4”) de diâmetro e
80 mm de altura. A montagem na célula triaxial é feita cuidadosamente, tanto na
colocação da membrana, quanto no encaixe do pistão e fechamento da célula para
aplicação da pressão confinante.
A extrusão e moldagem dos corpos de prova são realizados em ambiente com
temperatura controlada em torno dos 240 C. Os operadores responsáveis são sempre os
mesmos, sendo um responsável pela moldagem dos anéis de adensamento e outro pela
moldagem dos corpos de prova dos ensaios triaxiais.
g)Montagem dos ensaios
A montagem dos ensaios de adensamento e triaxiais é feita seguindo as recomendações
descritas na literatura nacional e internacional (BISHOP & HENKEL, 1962; BOWLES,
1978; HEAD, 1986; COUTINHO, 1976 e 1986; FERREIRA, 1982; OLIVEIRA, 1991).
Os operadores responsáveis pela moldagem dos corpos de prova realizam todo o ensaio.
A supervisão é feita por um engenheiro (gerente técnico), que é responsável pela
qualidade e interpretação dos resultados. A limpeza dos equipamentos após o término
dos ensaios fica a cargo dos próprios técnicos operadores. Os alunos de mestrado que
desenvolvem teses têm acesso aos equipamentos sob a orientação/acompanhamento de
um técnico designado pela gerência.
h)Recobrimento com parafina
Após a utilização da amostra para a campanha de ensaios programada, se algum
material sobrar no tubo este é novamente protegido através da aplicação de uma camada
de cerca de 2 cm de parafina líquida. A amostra retorna para a câmara úmida para ser
novamente armazenada. A colocação da nova camada de proteção é feita no mesmo dia,
após a moldagem dos corpos de prova.
37
i)Cadastramento no Banco de Dados
Atualmente existe um Banco de Dados das Argilas Moles/Médias da Cidade do Recife,
que faz parte do Projeto Integrado CNPq já citado anteriormente. Na formação deste
banco de dados existe uma rotina de trabalho, que inclui:
- coleta e seleção de dados
- enquadramento no mapa da planície
- implantação dos dados em computador
- apresentação e análise dos resultados
Os estudos das argilas moles da planície vêm sendo realizados através de uma interação
de pesquisa e trabalhos de extensão. Os trabalhos de pesquisa inserem-se no projeto
CNPq, e compreendem o desenvolvimento de teses de mestrado. Os trabalhos de
extensão são realizados pelo Laboratório através de prestação de serviços à comunidade
geotécnica. Neste caso, os dados referentes ao local, tais como: endereço completo,
sondagem SPT e outros ensaios eventualmente não realizados pelo Laboratório são
obtidos da firma solicitante. Mais detalhes podem ser vistos em COUTINHO &
OLIVEIRA, 1994; COUTINHO et al., 1996 e 1998.
j)Procedimento adotado
O procedimento adotado e descrito nos itens anteriores não está escrito em nenhum
regimento ou normalização do laboratório. As normas de utilização que existem tratam
apenas da administração e utilização dos equipamentos pelos usuários (alunos, técnicos
e professores). Entretanto procura-se seguir as recomendações indicadas em teses de
mestrado e/ou doutorado desenvolvidas por membros da Área de Geotecnia
(COUTINHO, 1976; FERREIRA, 1982; COUTINHO, 1986; OLIVEIRA, 1991).
2.3.2. LABORATÓRIO DE GEOTECNIA DA COPPE/UFRJ
a)Transporte
38
É feito pela empresa que coletou a amostra. No caso de teses de mestrado e doutorado o
aluno em alguns casos acompanha a amostragem. Atualmente a maioria dos
amostradores tem 4” de diâmetro.
b)Chegada da amostra
Não existe um cadastramento formal. As amostras são colocadas na câmara úmida em
um setor específico e no caso de prestação de serviços a amostra recebe o número do
projeto COPPETEC.
c)Armazenamento
É feito na vertical em um setor específico da câmara úmida que tem umidade
controlada em torno de 95%. A temperatura, porém, não é controlada. A manutenção da
umidade é feita manualmente através de jateamento no interior da câmara. Há a
expectativa do controle ser automatizado através da utilização de um umidificador que
já está comprado e em breve deverá entrar em operação.
d)Extrusão
A extrusão é feita em um extrator vertical de fabricação nacional de baixo para cima e
com a parte biselada do tubo para baixo. Segundo IÓRIO (1998), o extrator
originalmente foi fabricado para ser utilizado na horizontal e foi adaptado para trabalhar
na vertical por sugestão da chefia do Laboratório que era ocupada pelo Prof. Ian
Martins.
e)Mapeamento
É feito um mapeamento do tubo análogo ao descrito no item 2.3.1.e. Também despreza-
se os 5 cm iniciais em contato com a parafina. A ordem de moldagem dos corpos de
prova para cada tipo de ensaio depende da quantidade de ensaios prevista para a
campanha.
f)Montagem dos ensaios
A montagem é feita seguindo-se as normas da ABNT (adensamento) e as
recomendações da literatura (ver item 2.3.1.f). Existe um engenheiro que é o
responsável direto pela montagem e realização dos ensaios de adensamento e triaxial.
39
No caso do ensaio triaxial utilizam-se corpos de prova com 2” de diâmetro, enquanto
que no caso do ensaio de adensamento utilizam-se normalmente anéis com 3” de
diâmetro. Para cortar a amostra são utilizados fios de aço (corda de violão) em um arco,
além de réguas metálicas niveladoras. Durante o manuseio dos corpos de prova, o
operador utiliza sacos plásticos para não entrar em contato direto com a amostra e
evitar a possível passagem de umidade do solo para a sua mão. Evita-se também o
contato da mão com o solo no momento de colocar o material nas cápsulas de umidade.
Este procedimento é feito com o auxílio de espátulas, segundo IÓRIO (1998).
Normalmente o mesmo operador (engenheiro) é o responsável pela moldagem dos
corpos de prova. Em casos eventuais de grandes campanhas o mesmo recebe a ajuda de
um técnico para a moldagem.
g)Recobrimento
Após a utilização da amostra para os ensaios é feito um recobrimento com parafina
líquida e novamente a amostra é armazenada na câmara úmida. Esta amostra permanece
na câmara por um determinado tempo em função do espaço existente e/ou da previsão
de serem feitos mais ensaios (repetição ou adição), tanto para futuras pesquisas como
para prestação de serviços.
h)Arquivamento
Os ensaios de prestação de serviços são arquivados da seguinte maneira: um original
fica na COPPETEC, enquanto o laboratório guarda 2 cópias. Os ensaios de pesquisa
ficam arquivados com os alunos e/ou professores interessados no tema.
i)Procedimento
O procedimento adotado não está registrado por escrito e é resultado da experiência
prática do operador responsável (IÓRIO, 1998). Trabalhos de pesquisa como o
desenvolvimento de teses de mestrado e/ou doutorado e artigos técnicos são utilizados
como referência. Tal procedimento pode variar um pouco em função da consistência
40
maior ou menor da amostra de argila mole, como também da presença de outros
materiais como conchas ou pedaços de madeira.
2.4. INFLUÊNCIA DA QUALIDADE DA AMOSTRA NOS PARÂMETROS
GEOTÉCNICOS
2.4.1.Parâmetros de compressibilidade
Os parâmetros de compressibilidade são fortemente influenciados pela qualidade da
amostragem obtida. O amolgamento afeta a curva de compressão de ensaios
oedométricos em argilas pré-adensadas da seguinte forma (LADD, 1973):
a) diminui o índice de vazios (ou aumenta a deformação) para um valor de
tensão de adensamento;
b) torna de difícil definição o ponto de menor raio de curvatura e
consequentemente a determinação da tensão de pré-adensamento (σ’P);
c) diminui o valor estimado de σ’P;
d) aumenta a compressibilidade na região de recompressão e diminui na região
de compressão virgem.
No Brasil o estudo de qualidade de amostras argilosas teve início no Projeto IPR através
dos estudos de COUTINHO (1976). Outros estudos se sucederam como os de
COUTINHO (1980), FERREIRA (1982), MARTINS (1983), MARTINS e LACERDA
(1994).
Dentre estes estudos nacionais e também em artigos internacionais, um item importante,
que foi bastante discutido na literatura (COUTINHO, 1976; MESRI & CHOI, 1985;
FERREIRA & COUTINHO, 1988; MARTINS e LACERDA, 1994), é o fato do trecho
de compressão virgem não se comportar de maneira retilínea e sim de maneira
curvilínea para amostras de boa qualidade.
HIGHT et al. (1992) realizaram uma detalhada campanha de amostragem, utilizando
diversos tipos de amostradores (Pistão 100 mm, Laval e Sherbrooke) na argila de
Bothkennar na Escócia. Esta argila apresenta índice de plasticidade na faixa de 25 a
55%. Foram realizados ensaios edométricos incrementais nas amostras coletadas. Em
relação aos resultados destes ensaios os autores chegaram à seguinte conclusão: os
efeitos do amolgamento causam um aumento na compressibilidade no trecho chamado
41
de pré-escoamento e diminuem a tensão de pré-adensamento aparente. A Figura 2.21
apresenta resultados destes ensaios realizados em diferentes tipos de amostras.
Figura 2.21 – Comparação de ensaios edométricos incrementais realizados em
diferentes tipos de amostras – Argila de Bothkennar (HIGHT et al., 1992)
LUNNE et al.(1997) realizaram um estudo comparativo, ensaiando amostras da argila
de baixa plasticidade (IP = 11-20%) de Lierstranda na Noruega, obtidas a partir de
amostradores pistão (54 e 75 mm de diâmetro) e Sherbrooke. Realizaram ensaios CRS e
chegaram a algumas conclusões:
- geralmente o valor da tensão de pré-adensamento (σ’P) é menor nas amostras
tubulares (pistão) do que nas amostras Sherbrooke;
- o módulo edométrico (M), na faixa entre a tensão de campo (σ’VO) e tensão de
pré-adensamento (σ’P), é menor nas amostras tubulares, em relação às
amostras Sherbrooke. A diferença em alguns casos pode chegar a mais de
200%;
42
- os valores do módulo edométrico (M) são similares entre si, comparando-se
as amostras tubulares de 54 e 75 mm;
- o coeficiente de adensamento vertical (cv), na faixa entre a tensão de campo
(σ’VO) e a tensão de pré-adensamento (σ’P), é menor nas amostras tubulares,
em relação às amostras Sherbrooke.
As Figuras 2.22 a 2.25 ilustram as conclusões de LUNNE et al. (1997) para ensaios
CRS. Os autores comentam que utilizaram diâmetro do corpo de prova igual a 50 ou 67
mm, não especificando quando foi adotado um ou outro caso.
Figuras 2.22 – Curvas tensão efetiva versus deformação vertical para ensaios CRS
realizados em amostras pistão e Sherbrooke – argila de Lierstranda – Noruega – prof.
12,3 m (LUNNE et al.,1997)
43
Figura 2.23 – Módulo edométrico e coeficiente de adensamento vertical versus tensão
vertical efetiva – ensaios CRS – argila de Lierstranda – Noruega – prof. 12,3 m
(LUNNE et al., 1997)
Figuras 2.24 – Curvas tensão efetiva versus deformação vertical para ensaios CRS
realizados em amostras pistão e Sherbrooke – argila de Lierstranda – Noruega – Prof.
16,4 m (LUNNE et al.,1997)
44
Figura 2.25 – Módulo edométrico e coeficiente de adensamento vertical versus tensão
vertical efetiva – ensaios CRS – argila de Lierstranda – Noruega – prof. 16,4 m
(LUNNE et al., 1997)
COUTINHO et al. (1998b) estudaram o efeito da qualidade da amostragem em quatro
depósitos de argilas moles brasileiras, a saber: Recife (SESI-Ibura e Clube
Internacional) e Rio de Janeiro (Sarapuí e Juturnaíba).
As Figuras 2.26 e 2.27 (COUTINHO et al., 1998b) mostram o comportamento de
parâmetros geotécnicos de compressibilidade com a profundidade para os locais do
SESI – Ibura (Recife) e Sarapuí (Rio de Janeiro), respectivamente. Como pode ser
observado, para ambos os locais os valores obtidos do índice de compressão (CC), da
tensão de pré-adensamento (σ’P) e, consequentemente do OCR, para as amostras de
melhor qualidade, foram maiores comparados com as amostras amolgadas / má
qualidade. As relações obtidas foram as seguintes:
1) SESI – Ibura:
CCsatisf. / CCmá qual. = 2,4 para a 1a camada e 1,6 para a 2a camada;
45
OCRsatisf. / OCR má qual. = 3,6 (em média) para ambas as camadas;
CSsatisf. / CSmá qual. = 1,2 para a 1a camada, não variando para a 2a camada;
2) Sarapuí:
CCsatisf. / CCmá qual. = 1,8;
OCRsatisf. / OCR má qual. = 1,8.
No caso do índice de vazios inicial (e0), a influência do amolgamento não é
significativa, em ambos os depósitos.
Ind. Vazios Inicial Ind. Compressão Ind. Expansão
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Camada 1
Camada 2
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Razão Pré-Adens.
RegularTrans. Reg./Pob.
Mto Boa Boa Mto Pobre
Pobre
1,21±0,29
1,01±0,22
0,27±0,09
0,35±0,09
0,98±0,09
1,11±0,17
0,71±0,07
0,27±0,02
0,19±0,01
0,16±0,03
2,31±0,34
Figura 2.26 - Parâmetros de compressibilidade vs. profundidade – SESI Ibura / Recife
(COUTINHO et al., 1998b)
46
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Ind. Expansão
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0 1 2 3 4
Ind. Compressão
CC
4,19 ± 0,19
4,84 - 0,21Z
0,31±0,03
0,19±0,03
Razão Pré -Adens.
2,00±0,22
1,11±0,13
σσ 'V0
∗∗ ∗∗
Figura 2.27 - Parâmetros de compressibilidade vs. profundidade – Sarapuí – Rio de
Janeiro (ORTIGÃO, 1980 e COUTINHO, 1976; COUTINHO et al., 1998b)
COUTINHO et al.(1998b) apresentaram curvas comparativas e vs log σ’v de boa e má
qualidades para 4 depósitos de argila mole do Brasil (Recife : Clube Internacional e
SESI-Ibura; Rio de Janeiro: Sarapuí e Juturnaíba). A Figura 2.28 apresenta estas curvas.
Os autores comentam ainda que a representação matemática da curva de compressão
virgem foi analisada por MARTINS & LACERDA (1994).
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b) Sarapuí e Juturnaíba
Boa Qual. - Ibura
Má Qual. - Ibura Boa Qual. - Intern.Má Qual. - Intern.
Boa Qual. - Sarapuí
Má Qual. - Sarapuí
Boa Qual. - Juturn.
log Pressão (kPa)log Pressão (kPa)
Figura 2.28 - Curvas comparativas e vs. log σ’v para os quatro locais estudados
(FERREIRA & COUTINHO, 1988; COUTINHO, 1986 e COUTINHO et al., 1998b)
47
2.4.2.Parâmetros de resistência
A resistência ao cisalhamento não drenada (SU) diminui com o amolgamento do solo,
enquanto a deformação axial na ruptura (εf) aumenta.
HIGHT et al.(1992) realizaram uma detalhada campanha de amostragem, utilizando
diversos tipos de amostradores (Pistão 100 mm, Laval e Sherbrooke) na argila de
Bothkennar na Escócia. Foram realizados ensaios UU-C, CK0U-C e CK0U-E nas
amostras coletadas. Em relação aos resultados destes ensaios os autores chegaram às
seguintes conclusões:
- Ensaio UU-C: os corpos de prova de 100 mm de diâmetro das amostras Laval
em relação às amostras tubulares apresentaram maior tensão efetiva residual,
maior resistência de pico, maior rigidez e menor deformação axial na ruptura.
Vale salientar que o diâmetro dos corpos de prova é igual ao diâmetro do
amostrador tubular, o que contribui para a qualidade inferior deste tipo de
amostra;
- O amostrador Sherbrooke apresentou amostras de qualidade levemente
superior em relação às amostras Laval, embora não existam diferenças nas
características a pequenas deformações entre os dois amostradores;
- Ambos os amostradores Sherbrooke e Laval apresentaram amostras de melhor
qualidade em relação à amostragem realizada com pistão;
- A variação na forma da superfície de escoamento causada pelo amolgamento
é de tal ordem que os efeitos de amostragem são mais pronunciados nos
ensaios triaxiais de compressão do que nos triaxiais de extensão.
A Figura 2.29 apresenta resultados comparativos entre amostras Laval e pistão para o
ensaio UU-C, na argila de Bothkennar, enquanto a Figura 2.30 resultados dos ensaios
CK0U-C, nas amostras Sherbrooke, Laval e pistão .
A Figura 2.31 mostra o efeito da amostragem na superfície de escoamento,
comparando-se amostras Laval e Sherbrooke.
48
Figura 2.29 - Resultados comparativos entre amostras Laval e pistão para o ensaio UU-
C, na argila de Bothkennar (HIGHT et al., 1992)
Figura 2.30 - Resultados comparativos entre amostras Sherbrooke, Laval e pistão para o
ensaio CK0U -C , na argila de Bothkennar (HIGHT et al., 1992)
49
Figura 2.31 – Efeito da amostragem na superfície de escoamento: (a) superfície para
amostra Sherbrooke: (b) superfície para amostra Laval; (c) comparação entre amostras
Laval e Sherbrooke; (d) comparação adicional entre amostras Laval e Sherbrooke
(HIGHT et al., 1992)
LUNNE et al.(1997) realizaram um estudo comparativo, ensaiando amostras da argila
de Lierstranda na Noruega, obtidas a partir de amostradores pistão (54 e 75 mm de
diâmetro) e Sherbrooke. Realizaram ensaios CAU-C e chegaram a algumas conclusões:
- os valores da relação SU/σ’VO são maiores para as amostras Sherbrooke do que
para amostras coletadas a partir de amostradores dotados de pistão
estacionário;
- os valores da deformação axial na ruptura (εf) são maiores para as amostras
tubulares do que para as amostras Sherbrooke;
- os valores da deformação axial na ruptura (εf) são maiores para as amostras
tubulares de 54 mm do que as de 75 mm de diâmetro;
As Figuras 2.32 e 2.33 ilustram estes comentários.
50
Figura 2.32 – Curvas tensão-deformação para o ensaio CAU-C – Argila de Lierstranda-
Noruega - amostras pistão e Sherbrooke – prof. 12,3 m (LUNNE et al., 1997)
Figura 2.33 – Caminhos de tensão para os ensaios CAU-C realizados em amostras
pistão e Sherbrooke – Argila de Lierstranda – Noruega – prof. 12,3 m (LUNNE et
al.,1997)
51
COUTINHO et al. (1998b), em trabalho já citado, estudaram o efeito da qualidade da
amostragem em quatro depósitos de argilas moles brasileiras, a saber: Recife (SESI-
Ibura e Clube Internacional) e Rio de Janeiro (Sarapuí e Juturnaíba).
A Figura 2.34 mostra resultados da curva tensão-deformação de ensaios triaxiais UU
realizados nas argilas do Recife, em corpos de prova de boa e má qualidade, onde se
pode observar claramente a diferença na obtenção dos valores de SU e εf.
A Figura 2.35, por sua vez, mostra, para os locais de Sarapuí (ORTIGÃO, 1980) e do
Clube Internacional, a influência da qualidade da amostra na obtenção do SU, neste caso
representada através das diferenças entre o diâmetro do amostrador e da relação do
diâmetro amostrador/corpo de prova. Pode ser observado que quanto maior for o
diâmetro do amostrador e quanto maior a relação entre os diâmetros do amostrador e do
corpo de prova, maior será o valor de SU.
Para Sarapuí, os valores de SU obtidos para 8m de profundidade, por exemplo, são de
4,5 kPa (amostrador φ = 50mm e CP de 50mm) e 13 kPa (amostrador φ = 127mm e CP
de 38mm), fornecendo uma relação de SUφ127 / SUφ50 = 2,9 (ORTIGÃO, 1980).
Para o Clube Internacional a relação para a 2a camada é de SUφ101,6 / SUφ41 = 1,8
(amostrador φ=101,6 mm e CP de 35,6 mm e amostrador φ=41 mm e CP de 41 mm).
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Deformação Específica Axial (%)
Ten
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Boa Qual. - IburaMá Qual. - Ibura Boa Qual. - Intern.Má Qual. - Intern.
Oliveira, 1991
Teixeira, 1972
Presente Trabalho
Figura 2.34 - Ensaios triaxiais UU realizados em amostras de má e boa qualidade –
Recife (COUTINHO et al., 1998)
52
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SU ( kPa)
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Sarapuí - RJ (Ortigão, 1980)
Amostrador φφ=63mm e CP=50mm
Amostrador φφ=127mm e CP=38mmAmostrador φφ=63mm e CP=36mm
Amostrador φφ=50mm e CP=50mm
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Clube Internacional - Recife
SU ( kPa)P
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41,1±5,8
34,7±1,2
49,1±4,1
27,2±5,1
31,6±5,9
Amostrador φ φ=41mm e CP=41mmTeixeira, 1972Amostrador φφ=101,6mm e CP=35,6mmOliveira, 1991
Figura 2.35 - Resultados de ensaios triaxiais UU (ORTIGÃO, 1980 e COUTINHO et
al., 1993)
2.5. EFEITO DA ESTRUTURA DA ARGILA
MITCHELL (1993) considera que se deve usar o termo estrutura para se referir aos
efeitos combinados de arranjo dos grãos, composição e forças entre partículas do solo.
Dois solos podem ter o mesmo arranjo dos grãos mas exibir diferentes propriedades, se
as forças entre partículas e grupos de partículas não são as mesmas.
MITCHELL e COUTINHO (1991) consideram que a estruturação das argilas depende
do tempo, do grau de decomposição da matéria orgânica e das propriedades fisico-
químicas da água.
A estrutura, segundo LEROUEIL (1997), pode ser definida como a cimentação entre as
partículas ou agregados do solo. A maioria dos solos naturais são estruturados e seu
comportamento é fortemente influenciado pelo efeito de estrutura.
Segundo LEROUEIL & VAUGHAN (1990), a estrutura está presente em uma grande
variedade de geomateriais, desde argilas moles a solos granulares e residuais. Seus
efeitos são similares àqueles observados em rochas brandas. O comportamento destes
materiais em laboratório e no campo não pode ser entendido sem levar em conta os
efeitos da estrutura. A estrutura é tão importante quanto o índice de vazios e a história
53
de tensões na determinação deste comportamento. O conceito de escoamento
desenvolvido para descrever os efeitos da história de tensões em argilas sedimentares é
igualmente aplicável para os efeitos de estrutura. Estes efeitos são mais facilmente
entendidos através da comparação das curvas índice de vazios – tensão efetiva que são
possíveis para o solo estruturado com aquelas possíveis para o solo desestruturado. A
Figura 2.36 ilustra este comentário esquematicamente, enquanto a Figura 2.37 apresenta
resultados de argilas naturais.
LEROUEIL (1997) comenta que, comparando-se ao solo desestruturado com o mesmo
índice de vazios, o solo estruturado apresenta maiores valores de tensão de pré-
adensamento, resistência não drenada e rigidez. A curva de estado limite é também
maior. Conclui então o autor que solos reconstituídos não devem ser usados para
determinar características mecânicas de materiais naturais intactos.
Vários autores têm mostrado que o amolgamento destrói parcialmente a estrutura de
argilas moles sedimentares, reduzindo - conforme mencionado - a resistência, o índice
de compressão e a tensão de pré-adensamento (por exemplo, LA ROCHELLE &
LEFEBVRE, 1971; COUTINHO, 1976; FERREIRA, 1982; LA ROCHELLE et al.,
1981; LACASSE et al., 1985; TAVENAS & LEROUEIL, 1987; FERREIRA &
COUTINHO, 1988; HIGHT et al., 1992; LEROUEIL, 1997; LUNNE et al., 1997;
COUTINHO et al., 1998; OLIVEIRA et al., 2000).
Figura 2.36 – Comportamento esquemático de solos ideais e estruturados (LEROUEIL,
1992)
54
Figura 2.37 – Curvas de compressão unidimensional comparativas (a) Argila da Cidade
do México -MESRI et al., 1975; b) Argila de Grande Baleine - LOCAT & LEFEBVRE
(1982), citadas por LEROUEIL & VAUGHAN (1990)
BURLAND (1990) mostrou que existem duas curvas paralelas (ICL e SCL) no gráfico
IV vs. log σ’V para depósitos de argila mole normalmente adensados, sendo IV o índice
de vazios normalizado, definido como:
IV = (e – e*100)/(CC
*) (2-9)
CC* = (e*
100 – e*1000) (2-10)
O asterisco denota uma propriedade intrínseca do material, ou seja, sem influência da
estrutura. Os valores e*100 e e*
1000 são os índices de vazios correspondentes às tensões
iguais a 100 e 1000 kPa, respectivamente, na curva de compressão e vs. log σ’V. O
índice de compressão intrínseco é chamado de CC*. A Figura 2.38 apresenta um
exemplo de curva de compressão normalizada.
55
Figura 2.38 – O uso de IV para normalizar a curva de compressão intrínseca
(BURLAND, 1990)
Estas curvas foram chamadas por BURLAND (1990) de Linha de Compressão
Intrínseca (ICL) e Linha de Compressão na Sedimentação (SCL). A linha de
compressão intrínseca corresponde aos solos reconstituídos com uma umidade entre WL
e 1,5 WL, com propriedades básicas ou inerentes ao material, independente do estado
natural. A expressão que representa esta linha é a seguinte:
IV = 2,45 – 1,285x + 0,015x3 (2-11)
Onde: x = log(σ’V) em kPa
A linha de compressão na sedimentação corresponde à relação entre IV e log(σ’V)
durante a sua formação geológica, ou seja, durante a sedimentação da argila em água em
ambiente fluvial, marinho ou lacustre. Utilizando-se o índice de vazios normalizado (IV)
esta curva é única para uma grande quantidade de argilas do mundo, segundo
56
BURLAND(1990). A Figura 2.39 apresenta as curvas ICL e SCL definidas por Burland
(1990).
Figura 2.39 – Linhas de compressão intrínseca (ICL) e de compressão na sedimentação
(SCL) apresentadas por BURLAND (1990)
BURLAND (1990) considera então que a distância entre a tensão de pré-adensamento
de curvas de compressão normalizadas (IV vs. log(σ’V)) de argilas naturais e a linha ICL
reflete o grau de estruturação desta argila. BURLAND (1990), baseado em resultados de
26 argilas, propôs ainda correlações entre as propriedades intrínsecas e*100 e CC
* e o
índice de vazios no limite de liquidez (eL). As expressões são as seguintes:
e*100 = 0,109 + 0,679eL – 0,089eL
2 + 0,016eL3 (2-12)
CC* = 0,256eL – 0,04 (2-13)
Exemplos típicos de argilas estruturadas são as argilas norueguesas estudadas por
LACASSE et al. (1985), cujas curvas de compressão normalizadas foram apresentadas
57
por BURLAND (1990) e reproduzidas na Figura 2.40. Nota-se que as curvas
distanciam-se da linha de compressão intrínseca (ICL), principalmente as argilas de
Emmerstad e Ellingsrud.
Figura 2.40 – Resultados de ensaios edométricos em amostras Sherbrooke para três
argilas sensíveis norueguesas (LACASSE et al. 1985 ; BURLAND, 1990)
FUTAI (1999) lançou mão de um índice que pudesse representar a desestruturação do
solo. Este autor chamou a razão entre a tensão confinante máxima submetida ao corpo
de prova (no estágio de adensamento isotrópico), σ’cmáx,e a tensão de pré-adensamento
(σ’Vm ), de índice de desestruturação, ID:
ID = σ’cmáx/ σ’Vm (2-14)
Comenta, ainda, o autor que um solo normalmente adensado tem diferentes valores de
ID, representando quantas vezes foi adensado em relação à máxima tensão vertical a
que esteve submetido na natureza. Quando ID < 1 o solo é pré-adensado em relação à
história de tensões de campo (FUTAI et al., 2001).
58
FUTAI et al.(2001) utilizaram o índice de vazios de campo e0, conforme sugestão de
BURLAND (1990), na equação (2-9), obtendo o IV0 , para comparar os resultados das
argilas do Rio de Janeiro no estado natural com o intrínseco. A Figura 2.41 apresenta os
valores de IV0 para diversas argilas do Rio de Janeiro. Os autores comentam que quase
todos os pontos estão acima da linha de compressão intrínseca e por vezes acima da
linha de compressão sedimentar, o que reflete a estruturação da argila. FUTAI et al.
(2001) concluem que praticamente todas as argilas naturais do Rio de Janeiro são
estruturadas e que é extremamente importante conservar o estado natural destas argilas
para obtenção de parâmetros geotécnicos, sobretudo durante o processo de amostragem.
Figura 2.41 – Valores de IV0 das argilas do Rio de Janeiro em função da tensão vertical
efetiva de campo (FUTAI et al., 2001)
59
CAPÍTULO 3 DESCRIÇÃO DOS LOCAIS DE ESTUDO
3.1. Introdução
Foram selecionados dois depósitos de argilas moles brasileiras, já bastante estudados:
um no Rio de Janeiro - RJ e outro em Recife – PE.
O depósito do Rio de Janeiro situa-se na Av. Ayrton Senna s/n na Barra da Tijuca, ao
lado do aterro executado para construção do Centro de Tecnologia da Educação do
SENAC. Este é um local de pesquisa da Área de Geotecnia da COPPE/UFRJ.
O depósito de Recife está situado na Rua Benfica , no bairro da Madalena, dentro do
Clube Internacional do Recife. Este é um local de pesquisa da Área de Geotecnia da
UFPE. A seguir serão detalhados os dois depósitos de argila mole.
3.2.Rio de Janeiro
Desde 1995 este é um local de pesquisa da COPPE/UFRJ, sendo alvo de numerosos
trabalhos (ALMEIDA, 1995; ALMEIDA et al., 1995; COELHO, 1997; OLIVEIRA,
1997; ALMEIDA, 1998; NASCIMENTO, 1998; RODRIGUES, 1998; SPOTTI, 2000;
ALMEIDA et al., 2001).
A Figura 3.1 apresenta a locação dos ensaios de campo e amostragem, além da
espessura da camada mole (ALMEIDA et al., 2001).
60
Figura 3.1 – Locação dos ensaios de campo e amostragem, além da espessura da
camada mole (ALMEIDA et al., 2001)
A Figura 3.2 mostra o perfil geotécnico de uma seção transversal do terreno
(ALMEIDA, 1998), onde se pode notar que a espessura da camada de argila mole varia
entre 8 e 12 metros. Pode-se observar também a existência de uma camada de turfa de
cerca de 2 metros de espessura sobrejacente à camada de argila. O nível d’água é
aproximadamente coincidente com o nível do terreno.
61
Figura 3.2 – Perfil geotécnico do depósito do SENAC – Barra – Rio de Janeiro
(ALMEIDA, 1998)
ALMEIDA et al. (2000) descrevem o terreno como uma argila cinza muito mole de
origem flúvio-marinha, com fragmentos de conchas e com uma camada superior de
turfa. Os autores comentam ainda que os resultados de umidade natural e limites de
Atterberg permitem a caracterização de três sub-camadas distintas (OLIVEIRA, 1997;
RODRIGUES, 1998):
- a primeira camada mole (turfa) (0 – 3 m de profundidade) apresenta umidade natural
em torno de 500%;
- a segunda camada mole (argila orgânica) (3 – 7 metros de profundidade) apresenta
umidade em torno de 200%;
- a terceira camada mole (argila orgânica) (7 – 12 metros de profundidade) apresenta
teor de umidade médio de 100%.
ALMEIDA et al.(2000) mencionam que uma camada de areia aluvial aparece abaixo do
solo mole, sendo seguida por uma camada de solo residual (Fig. 3.2).
62
A Figura 3.3 mostra os valores da umidade natural e dos limites de consistência do
depósito (ALMEIDA et al., 2000).
Figura 3.3 – Valores da umidade natural (W) e limites de consistência (WP e WL) –
SENAC/Barra (ALMEIDA, 1998)
A Figura 3.4 apresenta um ensaio de piezocone típico realizado no depósito de solo
mole do SENAC-Barra e apresentado por ALMEIDA et al. (2000). Os autores
comentam que a resistência de ponta corrigida (qT) aumenta com a profundidade, como
era de se esperar.
63
Figura 3.4 – Resistência de ponta versus profundidade – resultado típico –
SENAC/Barra (ALMEIDA et al., 2000)
LACERDA e ALMEIDA (1995) comentam que a relação CR = CC/(1 + e0) média é
igual a 0,52. O perfil de OCR apresenta uma crosta levemente pré-adensada com
valores acima de 2, até a profundidade de cerca de 4 metros. Abaixo desta profundidade
o valor é constante e igual a aproximadamente 1,6. A Figura 3.5 mostra os perfis de
OCR e de CR.
64
Figura 3.5 – Perfis de OCR e CR – Argila mole do SENAC/Barra- Rio de Janeiro
(LACERDA e ALMEIDA, 1995)
A Figura 3.6 apresenta um resultado típico de ensaio de adensamento incremental
(ALMEIDA, 1998), onde se pode notar que o coeficiente de adensamento vertical (Cv)
situa-se no trecho pré-adensado entre 5 e 15 x 10-8 m2/s, enquanto no trecho
normalmente adensado o valor de Cv está em torno de 2 x 10-8 m2/s. O índice de vazios
inicial é alto, em torno de 5, correspondente ao alto teor de umidade desta argila.
65
Figura 3.6 – Resultado típico de ensaio edométrico (ALMEIDA, 1998)
ALMEIDA (1998) comenta que a resistência não-drenada SU foi obtida usando os
equipamentos de palheta mecânico e o elétrico desenvolvido em conjunto pela
COPPE/UFRJ/GROM/UFPE (NASCIMENTO, 1998). Valores de SU foram obtidos
também a partir de ensaios triaxiais UU. Na Figura 3.7 são apresentados resultados
destes ensaios. Nota-se que os valores de SU dos ensaios UU são levemente inferiores
aos resultados do ensaio de palheta de campo (ALMEIDA, 1998).
A sensibilidade medida pelos ensaios de palheta de campo é da ordem de 5, enquanto o
ângulo de atrito interno efetivo (φ’) medido em ensaios CIU está na faixa de 40 a 45o,
que é consistente com a natureza orgânica do material, segundo ALMEIDA (1998).
66
Figura 3.7 – Valores de resistência não-drenada – argila mole do SENAC/Barra – RJ
(ALMEIDA, 1998) – Ensaio de palheta elétrico de campo.
A Tabela 3.1 resume os parâmetros geotécnicos da argila mole do SENAC/Barra
(LACERDA e ALMEIDA, 1995).
67
Tabela 3.1 – Resumo de índices e parâmetros geotécnicos – argila mole do
SENAC/Barra – Rio de Janeiro (LACERDA e ALMEIDA, 1995)
Espessura da camada mole (turfa e argila
orgânica) (m)
12
Umidade natural (%) 100-500
Limite de liquidez (%) 70-450
Índice de plasticidade (%) 120-250
Percentagem de argila (%) 28-80
Peso específico (kN/m3) 12,5
Densidade real (Gs) 2,45
Atividade 1,2 – 3,1
Sensibilidade 5,0
CR = CC/(1 +e0) 0,52
Cα/CC 0,10
Su (kN/m2) - palheta 6 - 30
G50/ Su 47
Su,palheta /σ’vm 0,42
φ’ (o) (Normalmente adensado) 40
3.3.Recife
O local selecionado está situado próximo ao centro da cidade (ver Figura 3.8), dentro do
Clube Internacional do Recife, no bairro da Madalena. Este depósito, de origem flúvio-
marinha, é um local de pesquisa da área de Geotecnia da UFPE há quase trinta anos e já
foi objeto de estudo de numerosos trabalhos de dissertações de mestrado, teses de
doutorado e artigos técnicos (por exemplo, TEIXEIRA, 1972; AMORIM JR., 1975;
COUTINHO, 1980; FERREIRA, 1982; FERREIRA et al., 1986; COUTINHO, 1988;
OLIVEIRA, 1991; COUTINHO et al., 1993; BEZERRA, 1996; COUTINHO e
OLIVEIRA, 1997; CAVALCANTE, 1997; OLIVEIRA, 2000a; COUTINHO et al.,
2000).
68
Clube Internacional
SESI-Ibura
Aeroporto
CidadeUniversitária
NORTE
SUL
Figura 3.8 – Localização do depósito de argila mole do Clube Internacional do Recife
(OLIVEIRA, 2000a)
Este depósito está inserido na planície aluvionar do Recife, que é de origem flúvio-
marinha formada no Holoceno mais recente, tendo idade máxima de 10.000 anos. A
planície é limitada pelo mar e pelas Formações terciárias Barreiras. OLIVEIRA (2000a)
faz um resumo dos estudos realizados neste depósito, comentando que estudos
anteriores foram realizados no Clube Internacional do Recife (TEIXEIRA, 1972;
69
AMORIM JR., 1975; COUTINHO, 1978, 1980; FERREIRA, 1982; OLIVEIRA, 1991,
etc). Dentro de Projetos Integrados CNPq, coordenados pelo Prof. Roberto Quental
Coutinho, pesquisas e dissertações vêm sendo desenvolvidas neste local. Foram
coletadas, numa primeira campanha de investigação, 16 amostras nas camadas
argilosas, em 3 furos de amostragem. Foram utilizados amostradores do tipo shelby
com diâmetro interno de 100 e 113 mm e comprimento de 800 e 450 mm,
respectivamente (COUTINHO, 1978, 1980; FERREIRA, 1982; COUTINHO e
FERREIRA, 1988). Posteriormente, numa segunda campanha, foi realizado um furo de
sondagem SPT e 2 furos de amostragem, nos quais foram utilizados amostradores
shelby com diâmetro interno de 101,6 mm e comprimento, em geral, de 800 mm,
coletando um total de 12 amostras indeformadas na argila (OLIVEIRA 1991;
COUTINHO et al., 1993). Neste local foram realizados também ensaios de dilatômetro
(DMT) (ver COUTINHO e OLIVEIRA, 1997), piezocone (CPTU) (OLIVEIRA, 1991;
BEZERRA, 1996; COUTINHO e OLIVEIRA, 1997), Pressiômetro Ménard (PMT)
(CAVALCANTE, 1997) e ensaios de palheta de campo (EPC) (TEIXEIRA, 1972 e
OLIVEIRA, 2000a). Foram executadas três verticais para cada ensaio de campo citado,
com exceção dos ensaios de piezocone e palheta, onde foram executadas 6 e 4 verticais,
respectivamente (ambos em duas campanhas distintas). Maiores detalhes podem ser
encontrados em COUTINHO et al.(2000).
A Figura 3.9 mostra o croqui de locação dos ensaios realizados no Clube Internacional
(OLIVEIRA, 2000a).
70
QUADRAS DE TÊNIS
PÁTIO/
CL
UB
E I
NT
ER
NA
CIO
NA
L-S
ED
E
ESTACIONAMENTO
RU
A B
EN
FIC
A
RUA BENEDITO MONTEIRO
Figura 3.9. Croqui de locação das campanhas de amostragem e dos ensaios de campo realizados – Clube Internacional do Recife (OLIVEIRA, 2000a).
A Figura 3.10 mostra o perfil geotécnico, com os respectivos valores de SPT, e
resultados de ensaios de caracterização. O perfil é constituído superficialmente por uma
camada de aterro de aproximadamente 2 m de espessura (a depender da época do ano, o
nível d’água pode variar de 0,7 a 2,0 m), seguido por uma camada de areia argilosa fofa
com espessura próxima de 4 m. A partir daí aparece o depósito de argila siltosa orgânica
mole, o qual possui uma espessura de 20 m (6 - 26 m) e pode ser subdividido em duas
camadas de diferentes características geotécnicas (a primeira indo de 6 a 16 m e a
segunda de 16 a 26 m). Após os 26 m são observadas camadas alternadas de areia e
argila de compacidade e consistência variadas. A Tabela 3.2 apresenta um resumo das
principais características das 2 camadas do depósito de argila mole deste local. A Figura
3.11 apresenta resultados típicos e parâmetros índices obtidos através de ensaios de
piezocone realizados neste local.
71
Matéria Orgânica
TMO (%)
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''
'
'
'
)
)
)
)
)
)
0 5 10
Texeira, 1972
Coutinho, 1978-1980; Ferreira, 1982
Peso Específico
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''
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'
'''''
'
)
)
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)
)
)
)
))
)
13 18(kN/m³)γγ
15,6 ± 0,92
16,6 ± 0,61
Coutinho, 1978-1980; Ferreira, 1982Oliveira, 1991
Umidades
W (%)
'
'
''''
'
'
'
'
''
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$
$$$$
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$
$
$
$$
$
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)
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0 50 100
LP
LL
W
)$' N
Perfil Geotécnico0
5
10
15
20
25
0
Pro
fund
idad
e (m
)
Areia/ Argila
Arg
ila S
iltos
aO
rgân
ica
(1)
Aterro
Arg
ila S
iltos
aO
rgân
ica
(2)
Areia Argilosa
7
1/63
2/45do N.A.variação
Figura 3.10 - Perfil geotécnico e resultados de ensaios de caracterização com a
profundidade - Clube Internacional do Recife (COUTINHO e OLIVEIRA, 1997).
72
Tabela 3.2. Caracterização do depósito de argila mole do Clube Internacional do Recife
(OLIVEIRA, 2000a).
Camada IP (%) W (%) GS T.M.O.*
(%)
Distribuição
granulométrica (%)
argila silte areia
1 (6 - 16m) 70,4 ± 13,4 65 - 100 2,5 7,0 ± 1,5
2 (16 - 26m) 33,0 ± 5,7 45 - 65 2,5 3,7 ± 1,7 65 25 10
* T.M.O.: teor de matéria orgânica (obtido pelo método químico do dicromato de
potássio).
Pro
fund
idad
e (m
)
0
5
10
15
20
25
30
0 2 4 6 8
Resistência de ponta
qT (MPa)
Poro pressão
0 0.5 1uface (MPa)
0 0.5 1 1.5
Parâmetro de poro pressão
Bq=∆∆u/qT-σσV0) 0 2 4 6 8 10
Razão de atrito
Fr*(%)=fT/(qT-σσV0)
Figura 3.11 - Resultados típicos de piezocone – Clube Internacional do Recife
(COUTINHO e OLIVEIRA, 1997).
73
Para a determinação das características de compressibilidade foram realizados ensaios
de adensamento convencionais (drenagem vertical e dupla), em equipamento do tipo
Bishop, com anel fixo. O carregamento e o descarregamento foram feitos em estágios
de 24 horas de duração, com acréscimo de carga igual à carga anterior, ou seja, ∆p/p =
1.
Foram moldados corpos de prova com diâmetro de 87,4 mm e altura de 20 mm, os quais
foram carregados de 5 a 1280 kPa sendo descarregados até 40 kPa (OLIVEIRA, 1991).
A Figura 3.12 mostra um exemplo de curvas índice de vazios (e) vs tensão vertical
efetiva, para as duas camadas de argila mole. Foram utilizados também corpos de prova
com 71,3 mm de diâmetro e 20 mm de altura, sendo que, além de ensaios
convencionais, foram realizados também ensaios com ∆p/p < 1 nas proximidades da
pressão de pré-adensamento e ensaios com ciclo de carregamento e descarregamento
(COUTINHO, 1978, 1980; FERREIRA, 1982). Estes resultados estão apresentados na
Figura 3.13. Como pode ser visto, a camada 1 é levemente pré-adensada (OCR de 1,3 -
2,9), com o valor de OCR diminuindo com o aumento da profundidade até os 11 m e
permanecendo constante a partir daí. A camada 2 pode ser considerada normalmente
adensada (OCR de 1,0 – 1,3). O índice de vazios inicial (e0), o índice de compressão
(CC) e o índice de expansão (CS) apresentam valores maiores na primeira camada. O
índice de compressão, por exemplo, da camada 1, é em média cerca de 2 vezes o da
camada 2.
''
''
'
'
' ' ' ' '''!
!
!!
!
!
!!!!
!
!
!
1 10 100 1000 10000
Tensão vertical efetiva, (kPa)
0.4
0.9
1.4
1.9
2.4
Índi
ce d
e va
zios
(e)
CAMADA 1
CAMADA 2
C 1o. trecho
c1
C 2o. trecho
c2
Prof. (m): 9,00 a 9,75Prof. (m): 20,30 a 21,05
σσ'v
Figura 3.12 – Curvas índice de vazios versus tensão vertical efetiva (COUTINHO e
OLIVEIRA, 1997)
74
OCR = σσ 'P/σσ 'V0
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'
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0,5 1 1,5 2 2,5 3
Razão de Pré-Adensamento
)
)
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)
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'''''
''
''''
'''''
''''
' '
0
5
10
15
20
25
0 100 200
Tensão Vertical Efetiva
Pro
fund
idad
e (m
)N.A.1N.A.2
)
)
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)
)
)
)
))
))
'
'
'''''
' '
'' ''
'''''
''''
''
0,5 1,5 2,5
Índice de Vazios Inicial
e0
)
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)
)
)
))
))
'
'
'''''
''
'' ''
'''''
''''
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0 1 2
CC
'
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''''
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)
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)
)
)
)
))
))
0 0,1 0,2 0,3
CS
1,08 ± 0,13
2,06 ± 0,36
1,35 ± 0,19
1,55 ± 0,40
0,75 ± 0,28
0,21 ± 0,05
0,13 ± 0,03
Coutinho, 1978-1980;
Oliveira, 1991
Índice de Compressão
Índice de Expansão
σσ 'V0, σσ 'P (kPa)
σσ'V0
σσ'P
1,41 ± 0,11
Ferreira, 1982
Figura 3.13 - Parâmetros de compressibilidade e história de tensões – Clube
Internacional do Recife (COUTINHO e OLIVEIRA, 1997).
Os parâmetros de resistência ao cisalhamento foram obtidos em laboratório através de
ensaios triaxiais (UU-C e CCIU − ), bem como através de ensaios de palheta de campo.
Os resultados dos ensaios UU-C e CCIU − foram apresentados por OLIVEIRA (1991).
O equipamento utilizado, os procedimentos de ensaio e os resultados são descritos a
seguir.
Os ensaios UU-C em amostras indeformadas foram realizados dentro do Projeto de
Pesquisa do CNPq anteriormente citado. Foram executados utilizando-se prensa de
velocidade de deformação controlada, de fabricação nacional (Ronald Top), com
capacidade de 1000 kgf e 24 velocidades de avanço do pistão. A velocidade utilizada
nestes ensaios foi de 0,4675 mm/min. A medição da força vertical aplicada aos corpos
de prova (CP’s) foi feita através de anéis dinamométricos (100 kgf e 20 kgf, para as
amostras menos resistentes). Extensômetros mecânicos, com sensibilidade de 0,01mm,
foram utilizados para medir a deformação dos CP’s. Foram empregadas tensões
confinantes de 100 a 200 kPa, dependendo da profundidade da amostra. Os cálculos e
procedimentos de ensaio foram feitos de acordo com BISHOP e HENKEL (1962).
75
Os ensaios CCIU − foram executados como se segue (segundo COUTINHO, 1986):
1) A saturação dos corpos de prova foi alcançada através da aplicação de contra-pressão
de 300 kPa por 24 horas (no mínimo), em estágios de 100 kPa, cada um por pelo menos
30 minutos;
2) Ao final do processo procedeu-se à determinação do parâmetro B para verificação da
saturação dos corpos de prova (os valores foram iguais ou muito próximos de 1);
3) Em seguida foi realizado o adensamento isotrópico, com a tensão confinante
escolhida, no qual foi utilizado papel filtro lateral (fitas estreitas) envolvendo toda a
amostra, bem como na pedra porosa da base. A drenagem foi feita pela base e o volume
d’água que saía foi medido com a utilização de bureta (50 ml) de fabricação nacional
(Ronald Top), até a estabilização.
4) Finalmente os corpos de prova foram cisalhados com velocidade de deformação
constante e igual a 0,01554 mm/min.
Os anéis dinamométricos, para medida da força vertical aplicada, e os extensômetros
mecânicos, para a medida das deformações impostas, foram os mesmos utilizados nos
ensaios UU-C. As medidas de poro-pressão foram obtidas na base dos corpos de prova,
utilizando-se transdutores de pressão tipo PT-10 (Instronic), com capacidade de 1000
kPa e indicador digital. A aplicação da tensão confinante foi feita através de sistema
auto compensador de mercúrio, assim como a aplicação da contra-pressão. As tensões
confinantes utilizadas variaram de 50 - 100 kPa (σ’C ≈ σ’oct) a 500 kPa. A utilização de
tensão confinante aproximadamente igual à tensão octaédrica in situ (σ’oct) teve como
finalidade a obtenção da resistência não drenada de campo e uma melhor definição da
envoltória de resistência. Os cálculos e procedimentos de ensaio foram de acordo com
BISHOP e HENKEL (1962). Para a obtenção da envoltória de resistência foram
realizadas correções devidas ao papel filtro, à membrana de borracha e ao atrito no
pistão, nos pontos correspondentes à ruptura, conforme BISHOP e HENKEL (1962) e
sugestões de COUTINHO (1986). A Tabela 3.3 apresenta sucintamente alguns dados
destes ensaios.
76
Tabela 3.3 - Resumo dos ensaios de compressão triaxial realizados.
Ensaio Velocidade do
ensaio (mm/min)
φφ’
(o)
Referência
UU 0,4675 - OLIVEIRA
(1991)
cam.1 = 26 CIU 0,01554
cam.2 = 23
OLIVEIRA
(1991)
A Figura 3.14 apresenta resultados de SU obtidos através dos ensaios de laboratório
(OLIVEIRA, 1991) e também resultados de ensaios de dilatômetro, piezocone
(COUTINHO e OLIVEIRA, 1997) e palheta de campo (OLIVEIRA, 2000a). As
correlações usadas para obtenção de SU a partir dos ensaios de dilatômetro (DMT) e
piezocone (CPTU) estão referenciadas ao ensaio de palheta de campo. Pode-se notar a
boa concordância entre os resultados dos diversos ensaios.
COUTINHO et al. (2000) desenvolveram correlações estatísticas entre parâmetros de
adensamento (CC , CS e e0) em função da umidade inicial (W%), para o Banco de Dados
das argilas moles do Recife, onde a argila do Clube Internacional está inserida. Para
efeito de ilustração algumas destas correlações estão apresentadas graficamente nas
Figuras 3.15 a 3.17. Estas figuras incluem também resultados do depósito de Juturnaíba
/ Rio de Janeiro (COUTINHO, 1986; COUTINHO & LACERDA, 1987). Pode-se
observar uma maior dispersão para o subgrupo de solos orgânicos/turfas, o que se deve
provavelmente à baixa qualidade de algumas amostras. A utilização destas correlações
em anteprojetos e/ou projetos práticos e de pesquisa será discutida no item 6.9 desta
tese.
77
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######
0
5
10
15
20
25
30
10 20 30 40 50 60 70 80
DMT: Marchetti, 1980: A = 0,22
* Palheta de campo
Laboratório (CIU-C)Laboratório (UU-C)
CPTU: Tavenas e Leoureil, 1987: NKT = 11
Clube Internacional
SU (kPa)
Pro
fund
idad
e (m
)
Figura 3.14 - Resistência não drenada obtida através de ensaios de laboratório
(OLIVEIRA, 1991), dilatômetro, piezocone (COUTINHO e OLIVEIRA, 1997) e
palheta de campo campo (OLIVEIRA, 2000a) – Clube Internacional do Recife.
78
Figura 3.15 – Correlação estatística - índice de vazios inicial (e0) em função da umidade
(W%) – (COUTINHO et al., 2000)
Figura 3.16 – Correlação estatística - índice de compressão (CC) em função da umidade
(W%) – (COUTINHO et al., 2000)
79
Figura 3.17 – Correlação estatística - índice de expansão (CS) em função da umidade
(W%) – (COUTINHO et al., 2000)
80
CAPÍTULO 4 CAMPANHA DE AMOSTRAGEM SHERBROOKE
4.1. Introdução
Neste capítulo será apresentada a primeira campanha realizada no Brasil utilizando o
amostrador Sherbrooke (LEFEVBRE e POULIN, 1979).
O amostrador Sherbrooke foi trazido ao Brasil por um pesquisador do Instituto
Norueguês de Geotecnia (NGI) através de uma cooperação científica entre NGI e as
Áreas de Geotecnia da COPPE/UFRJ e da UFPE. As Figuras 4.1 a 4.4 mostram o
amostrador em diferentes posições. A Figura 4.1 apresenta uma visão geral do
amostrador, onde se pode notar as hastes para circulação de água ou lama bentonítica
usada para auxiliar a coleta da amostra. Notam-se também as 3 facas na base, na
posição fechada. Esta posição é usada quando se quer cortar e sustentar a amostra,
trazendo-a à superfície do terreno (ver item 2.1.2).
Na Figura 4.2 observa-se o detalhe do sistema de molas usado para acionar as facas,
fechando-as, quando as mesmas estão abertas no momento de esculpir a amostra.
A Figura 4.3 apresenta o detalhe da base , enquanto a Figura 4.4 mostra uma vista
inferior do amostrador Sherbrooke.
As atividades descritas a seguir, fazem parte do Projeto de Pesquisa PRONEX cujo
título é : “Engenharia Geotécnica e Hidrologia do Sistema Encosta-Planície Costeira”,
no qual a tese de doutorado está inserida.
81
Figura 4.1 – Visão frontal do amostrador Sherbrooke utilizado
82
Figura 4.2 – Detalhe da parte superior do amostrador Sherbrooke, mostrando o sistema
de molas que aciona as facas na base
Figura 4.3 – Detalhe da base do amostrador Sherbrooke
83
Figura 4.4 – Vista inferior do amostrador Sherbrooke
4.2.Campanha de amostragem no Rio de Janeiro
A campanha de amostragem no Rio de Janeiro foi realizada em terreno situado ao lado
da área onde está sendo construída a sede do SENAC no Bairro da Barra da Tijuca. Esta
é uma área de pesquisa da COPPE/UFRJ onde já foram realizados vários estudos (ver
item 3.2). A Figura 4.5 apresenta o croqui de locação dos furos de amostragem.
84
Figura 4.5 – Croqui de locação do furo de amostragem Sherbrooke e demais campanhas
realizadas anteriormente – argila mole do SENAC/Barra - RJ (modificado de
ALMEIDA, 1998)
Esta campanha foi iniciada no dia 16 de março de 1999 com a chegada da máquina
pertencente à empresa Geotécnica. Neste dia a máquina foi então posicionada para a
perfuração começar no dia seguinte. A máquina utilizada é da marca SOILMEC modelo
SM-400 tendo sido fabricada no ano de 1993, pesando aproximadamente 110 KN. A
Figura 4.6 apresenta esta máquina.
85
Figura 4.6 – Máquina utilizada na campanha de amostragem Sherbrooke do Rio de
Janeiro
No dia 17 de março foi iniciada a perfuração com o trado helicoidal ( ver Figura 4.6) até
a profundidade de 4,0 metros. Nesta profundidade foi feita a limpeza com o trado de
fundo chato até 4,15 m por 4 vezes, sem sucesso, ou seja o trado voltava cheio de
material amolgado. Este trado, mostrado na Figura 4.7, serve para nivelar o fundo do
furo, além de limpá-lo. Provavelmente este material amolgado fosse proveniente do
desmoronamento das paredes laterais do furo. Na última descida o trado encostou 15 cm
antes do fundo do furo.
86
Figura 4.7 – Trado de fundo chato usado para limpeza do furo
O amostrador desceu em seguida até a profundidade 4,15 m. Foi utilizada inicialmente
uma pressão igual a 50 kPa de circulação de água. Esta pressão foi usada em função da
argila ser muito mole. A Figura 4.8 apresenta um teste de circulação de água antes do
amostrador descer no furo. Após esculpir a amostra 25 cm abaixo, a mesma foi cortada
embaixo, através do fechamento das facas da base acionadas pelo sistema de molas a
partir da queda livre de um peso (ver Figura 4.9). Durante 3 minutos foi feita rotação
sem descida vertical. A amostra foi então levantada sem rotação com fluxo de água e
com velocidade vertical baixa, para evitar vácuo. A amostra foi perdida, ou seja, foi
recuperada apenas um pedaço amolgado na base (ver Figura 4.10).
87
Figura 4.8 – Teste de circulação de água nas hastes do amostrador Sherbrooke
Figura 4.9 – Peso sendo solto para acionar o sistema de molas que fecham as facas e
cortam a base da amostra, sustentando-a
88
Figura 4.10 – Primeira tentativa frustrada de coleta de amostra Sherbrooke – argila mole
do Rio de Janeiro
Foi então reiniciada a perfuração até a profundidade de 5,0 metros com o trado
helicoidal. Quando se atingiu esta profundidade, foi feita a limpeza do fundo do furo
com o trado chato. Na Segunda tentativa a composição de hastes só desceu livremente
até os 4,4 m de profundidade. Este fato se deve, provavelmente ao desmoronamento das
paredes do furo. Foi então decidido abandonar o furo 1 e deslocar a máquina 3,0 metros
para iniciar um outro furo revestido desde o início.
A máquina foi então deslocada e o revestimento levado até o local do novo furo de
amostragem. No dia 18 de março o revestimento começou a ser cravado na parte da
manhã (ver Figura 4.11 ). A perfuração foi feita até 3,15 m. Na primeira tentativa de
limpeza com o trado plano a bucha tinha a espessura de 1,5 m. Então voltou a ser
utilizado o trado helicoidal até 3,36 m. A bucha continuava com grande espessura, desta
vez igual a 40 cm. Provavelmente estava ocorrendo levantamento de solo devido à
ruptura do fundo do furo.
89
Figura 4.11 – Cravação do tubo de revestimento no pré-furo
Resolveu-se então circular lama bentonítica bastante grossa para estabilizar o furo. As
limpezas que foram feitas com o trado plano desta vez foram satisfatórias, com o trado
não voltando completamente cheio e com parte do material natural. Decidiu-se então
descer o amostrador. Foi possível coletar uma amostra com 21 cm de altura de razoável
qualidade aparentemente (ver Figura 4.12). A amostra foi coletada entre 3,38 e 3,63 m.
Esta amostra foi apoiada em uma base de madeira, especialmente confeccionada para a
campanha de amostragem, seguindo recomendações do NGI (ver Figura 4.13). Foi
então retirado o amostrador Sherbrooke e em seguida a amostra foi envolvida no filme
plástico e em papel alumínio e protegida com várias camadas de parafina misturada com
cera de abelha (Figuras 4.14 e 4.15). Então a amostra foi acondicionada em caixa de
madeira apropriada e levada ao laboratório ao final do dia.
90
Figura 4.12 – Primeira amostra Sherbrooke coletada no Rio de Janeiro – Prof. 3,38 a
3,63 m
Figura 4.13 – Amostra Sherbrooke sendo apoiada em base de madeira, para retirada do
amostrador
91
Figura 4.14 – Primeira amostra Sherbrooke sendo envolvida no filme plástico – Rio de
Janeiro
Figura 4.15 – Amostra Sherbrooke totalmente protegida
A perfuração prosseguiu até 3,92 m. Nova amostra foi coletada entre 3,92 e 4,25 m.
Esta amostra devido à sua maior altura apresentou queda de parte do material amostrado
nas suas laterais (“slamps”), provavelmente amolgando o solo mole.
92
Mais 4 amostras foram coletadas entre 4,5 e 7,0 metros de profundidade nos dias 19 e
20 de março. A Tabela 4.1 apresenta um resumo das amostras coletadas com o
amostrador Sherbrooke, com suas respectivas profundidades.
Tabela 4.1 – Resumo das amostras Sherbrooke coletadas – argila mole do Rio de
Janeiro
Amostra Profundidade (m)
1 3,38 – 3,63
2 3,92 – 4,25
3 4,55 – 4,82
4 5,12 – 5,35
5 5,74 – 6,01
6 6,41 – 6,76
Uma campanha de amostragem utilizando amostrador tubular com diâmetro de 100 mm,
dotado de pistão estacionário, foi também realizada neste mesmo local. O amostrador
possuía diâmetro interno igual a 100 mm, relação de folga interna igual a 1% e razão de
área igual a 9%. A Tabela 4.2 apresenta um resumo das amostras coletadas.
Tabela 4.2 – Resumo das amostras pistão coletadas – argila mole do Rio de Janeiro
Amostra Profundidade (m)
1 – Furo 3 2,37 – 3,04
2 – Furo 3 3,40 – 4,09
3 – Furo 3 4,60 – 5,26
4 – Furo 3 6,20 – 6,84
93
4.3.Campanha de amostragem em Recife
A campanha de amostragem em Recife foi realizada em terreno situado dentro da área
do Clube Internacional. Este é um local de pesquisa da Área de Geotecnia da UFPE e
vários artigos técnicos e teses de mestrado e doutorado descrevem os estudos anteriores
(ver item 3.2). A Figura 4.16 apresenta um croqui de locação do furo de amostragem
Sherbrooke, bem como de outras campanhas de amostragem Shelby e ensaios de
campo.
Figura 4.16 – Croqui de locação do furo de amostragem Sherbrooke e demais
campanhas anteriores (modificada de OLIVEIRA, 2000)
No dia 22 de março uma das máquinas utilizadas na campanha foi mobilizada até o
local. Esta máquina pertence à empresa Pesquise e foi empregada para descer o
amostrador e coletar a amostra com baixa rotação. A máquina, que é utilizada para
94
realização de sondagem rotativa e fabricada pela Maquesonda, foi adaptada com uma
caixa de marcha para atender à exigência de velocidade de rotação igual a 5 RPM.
A outra máquina utilizada para abertura do pré-furo e limpeza do fundo do furo com o
trado plano pertence à empresa Fundacel e foi mobilizada no dia 23 de março, no final
da tarde. Esta máquina é utilizada normalmente para execução de estacas escavadas. A
Figura 4.17 mostra estas 2 máquinas.
Figura 4.17 – Máquinas utilizadas para amostragem Sherbrooke na argila mole de
Recife
No dia 24 de março a máquina da Fundacel foi montada e posicionada no local para
iniciar o pré-furo. Foi necessário ainda fazer uma adaptação nas hastes para encaixe do
trado plano do NGI.
O pré-furo foi iniciado no dia 25 de março, sem revestimento e com circulação de lama
bentonítica. Foi planejado retirar a primeira amostra a 8,0 metros, e por isso o pré-furo
avançou até 7,90 m. O trado plano desceu por 3 vezes até 8,20 m. O amostrador foi
95
então colocado no pré-furo. A amostra não foi recuperada, pois as facas da base do
amostrador não foram disparadas pelo peso e não foi possível cortar a base da amostra e
sustentá-la. O sistema de molas acionado pelo peso não conseguiu ser disparado devido
à presença de lama/areia/borra de argila. O amostrador teve as saídas de água na sua
base obstruídas por areia, que retornava do furo. O reservatório para circulação de lama
utilizado foi cavado no terreno e continha muita areia.
No dia seguinte o pré-furo avançou com a broca até 8,70 m. O trado plano avançou
limpando mais 0,10 m por 3 vezes. Então o amostrador foi descido na profundidade 8,8
m. Foi cravado 35 cm até 9,15 m. A amostra foi recuperada (8,80 – 9,15 m). Utilizou-se
outro tanque (tonel) para circular lama pelo amostrador (mais limpa), sem a presença de
areia. As paredes laterais do pré-furo tornaram-se mais estáveis; talvez a lama tenha de
fato começado a atuar, estabilizando o furo. No topo da amostra, ainda assim, foi
recuperada uma pedra caída da camada de aterro com restos de construção. A amostra,
segundo Stein Strandvik, do NGI, era de boa qualidade, com a superfície lateral
lisa/macia. A amostra foi então protegida e acondicionada na caixa apropriada e
transportada para o laboratório. As Figuras 4.18 a 4.20 apresentam esta amostra.
96
Figura 4.18 – Primeira amostra Sherbrooke coletada em Recife – Prof. 8,80 a 9,15 m
97
Figura 4.19 – Amostrador sendo retirado – argila do Recife – Prof. 8,80 a 9,15 m
98
Figura 4.20 – Primeira amostra Sherbrooke coletada em Recife sendo acondicionada
O pré-furo avançou até 10,90 m com a broca. O trado plano avançou até 11,0 m por 3
vezes. O amostrador desceu nesta profundidade e foi cravado 35 cm. A amostra não foi
recuperada, aparentemente a cravação tenha sido realizada no material escavado, pois a
mesma foi muito rápida. É possível que o amostrador não tenha encostado no terreno
natural.
No dia 27 de março a perfuração avançou até 11,80 m. O trado plano avançou até 11,90
m por uma única vez. Foi realizado um teste para avaliar se era melhor efetuar o acerto
do furo uma única vez do que limpar muitas vezes, podendo eventualmente provocar-se
maior amolgamento. O amostrador desceu em 11,90 m e foi cravado 40 cm. As facas
dispararam depois de várias tentativas com o peso sendo solto em queda livre, de uma
altura maior do que a utilizada normalmente pelo NGI. O peso chegou a ser solto da
boca do furo no nível do terreno, ou seja aproximadamente 12,0 m de queda, enquanto o
NGI usa 1-1,5 m. A amostra foi recuperada (11,90 –12,30 m). Um pedaço da amostra
soltou-se na sua parte inferior, na altura de uma das facas.
No dia 29 de março a broca perfurou até 12,80 m e o trado plano avançou até 12,90 m
por uma vez apenas, mantendo o procedimento testado e aprovado. A amostra foi
99
coletada entre 12,90 e 13,25 m. A amostra apresentou uma forma cônica na parte
superior, conforme pode ser visto na Figura 4.21. Nova amostra foi coletada entre 13,70
e 14,05 m. As mesmas foram protegidas, acondicionadas e transportadas para o
laboratório.
Figura 4.21 – Terceira amostra Sherbrooke coletada em Recife – prof. 12,90 a 13,25 m
No dia seguinte foram feitas 2 tentativas sem sucesso nas profundidades 16,40 e 17,00
m. As facas não foram disparadas nas duas vezes, pois muito material se acumulava no
sistema de molas na parte superior do amostrador. Provavelmente a instabilidade do
furo estaria ocorrendo ou o sistema de bomba não mais conseguia limpar o material
recortado com eficiência devido à grande profundidade. Optou-se então pelo final da
campanha de amostragem. O amostrador e o trado plano foram então transportados de
volta para o laboratório. No dia 07 de abril os equipamento foram despachados de volta
ao Rio para serem enviados para a Noruega.
A Tabela 4.3 apresenta um resumo das amostras Sherbrooke coletadas em Recife, com
sua respectiva profundidade.
100
Tabela 4.3 – Resumo das amostras Sherbrooke coletadas – argila mole de Recife
Amostra Profundidade (m)
1 8,80 – 9,15
2 11,90 – 12,30
3 12,90 – 13,20
4 13,70 – 14,00
4.4.Comentários
Foram coletadas 6 amostras de argila mole no Rio de Janeiro e 4 amostras em Recife,
utilizando o amostrador Sherbrooke. As amostras foram transportadas e armazenadas
nas câmaras úmidas dos laboratórios de Geotecnia da COPPE/UFRJ e da UFPE,
inicialmente. Ensaios preliminares foram realizados na amostra 1 do Rio de Janeiro, no
Laboratório da COPPE/UFRJ. Posteriormente todas as amostras foram transportadas
por via terrestre para o Laboratório de Geotecnia da UFPE, onde a maioria dos ensaios
foi realizada. Estes ensaios serão discutidos no Capítulo 5.
No Capítulo 6 serão feitas comparações com resultados de ensaios realizados em
amostras coletadas com amostradores tubulares convencionais e dados da literatura.
101
CAPÍTULO 5 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DOS ENSAIOS DE
LABORATÓRIO 5.1.Introdução
Neste capítulo serão apresentados a metodologia e os resultados dos ensaios de
laboratório realizados nas amostras Sherbrooke e pistão coletadas (ver capítulo 4). Os
ensaios realizados foram os seguintes:
• Adensamento edométrico incremental convencional
• Adensamento isotrópico
• Triaxial UU
• Triaxial CIU-C
• Triaxial CAU-C
Os ensaios foram divididos em 2 séries: na primeira série os ensaios foram realizados
com o material na umidade natural de campo, enquanto que na segunda os ensaios
foram executados com o solo na condição ressecada. Esta segunda série tem como
objetivo o estudo da influência do armazenamento da amostra no laboratório. As
Tabelas 5.1 a 5.5 apresentam ao longo do texto a denominação (código) do ensaio e um
resumo das informações geotécnicas.
A Figura 5.1 apresenta de forma esquemática a localização dos corpos de prova
moldados para ensaios edométricos (E) e triaxiais (T), nas amostras Sherbrooke.
Sempre que possível se procurou seguir esta configuração, embora em alguns casos não
se conseguisse, pois algumas amostras apresentaram formas irregulares não-cilíndricas,
fissuras, lentes de areia, o que dificultava a escolha do local e a moldagem dos corpos
de prova. Procurou-se afastar das bordas e das extremidades inferiores e superiores para
evitar as partes mais sujeitas ao amolgamento, conforme ilustrado na Figura 5.1.
Algumas medidas são variáveis em função da altura e da qualidade da amostra.
102
Figura 5.1 - Croqui esquemático da posição dos corpos de prova moldados nas amostras
Sherbrooke para ensaios edométricos (E) e triaxiais (T)
5.2.Rio de Janeiro
Inicialmente foram realizados no Laboratório de Geotecnia da COPPE/UFRJ, um ensaio
edométrico incremental (AD1) e um ensaio triaxial UU na amostra 1 Sherbrooke (3,38 –
3,63 m/UU-1) e na amostra 2 (3,40 – 4,09 m) pistão (AD11). Estes ensaios foram
E
E
T
T
T
50,8 mm 87 mm
250 mm
25-30 mm
200-350 mm
30-50 mm
103
repetidos no Laboratório de Geotecnia da UFPE, após o transporte das amostras por via
terrestre para Recife. Esta repetição teve como objetivo a avaliação de possível
amolgamento devido ao transporte. Todos os demais ensaios foram realizados no
Laboratório de Geotecnia da UFPE.
5.2.1.Ensaios de deformação
Foram realizados ensaios edométricos incrementais convencionais e isotrópicos. A
metodologia destes ensaios será descrita a seguir.
Ensaio edométrico incremental
Os ensaios de adensamento incrementais convencionais (drenagem vertical e dupla),
foram realizados em equipamento do tipo Bishop, com anel fixo. O carregamento e o
descarregamento foram feitos em estágios de 24 horas de duração, com acréscimo de
carga igual à carga anterior, ou seja, ∆σ/σ = 1.
Em geral, foram moldados corpos de prova com diâmetro de 87,4 mm e altura de 20
mm, os quais foram carregados de 2,5 a 640 ou 1280 kPa sendo descarregados até 40
kPa. Em alguns casos o descarregamento foi iniciado a uma tensão menor do que 640
kPa.
Foram utilizados também corpos de prova com 50,5; 71,3; e 100,9 e mm de diâmetro e
20 mm de altura, na amostra 6 Sherbrooke (6,41 – 6,76 m). Neste caso o objetivo foi
estudar o efeito do diâmetro do corpo de prova nos resultados do ensaio, em termos de
qualidade.
As Figuras 5.2 e 5.3 ilustram o procedimento de moldagem de um corpo de prova para
realização de um ensaio edométrico incremental convencional. Este ensaio foi realizado
no Laboratório de Geotecnia da COPPE/UFRJ. Foi utilizado um procedimento similar
àquele adotado para manuseio de amostras do tipo bloco prismático em solos residuais.
104
Após a moldagem a amostra foi novamente protegida com filme plástico e papel
laminado, além de ser recoberta com parafina líquida. Este procedimento é diferente do
adotado em outras instituições como o NGI, que dividem a amostra em sub - amostras,
fatiando em relação à altura e ao diâmetro. Como o procedimento de manter a amostra
inteira é mais comum nos laboratórios brasileiros, o mesmo foi adotado neste trabalho.
Pode-se comentar que este procedimento evita o desconfinamento parcial das sub -
amostras e não expõe o núcleo da mesma a um provável processo de secagem.
Figura 5.2 - Procedimento de abertura da amostra Sherbrooke – Amostra 1 – prof. 3,38-
3,63 m – Rio de Janeiro – Ensaio AD1 realizado na COPPE/UFRJ
105
Figura 5.3 - Cravação do anel para realização do ensaio edométrico incremental
convencional (AD1) – amostra 1 – Rio de Janeiro
As Figuras 5.4 e 5.5 apresentam as curvas índice de vazios (e) versus tensão vertical
(σ’v) para as amostras Sherbrooke (Ensaios AD1 a AD6), enquanto a Figura 5.6
apresenta as curvas referentes às amostras do tipo pistão (Ensaios AD11 a AD14). Estes
são resultados dos ensaios da 1ª série.
Observando a Figura 5.5, pode-se notar que amostra Sherbrooke 5 (Ensaio AD6) é a que
apresenta maior amolgamento, considerando a maior variação do índice de vazios para a
tensão vertical máxima igual a 640 kPa, em comparação com a amostra 4 (Ensaio AD5),
que apresenta aproximadamente o mesmo índice de vazios inicial. Esta amostra 5
apresenta ainda uma maior inclinação no trecho de recompressão. Este fato confirma a
inspeção visual da amostra 5, que apresenta uma forma irregular, não - cilíndrica, com
altura pequena, em torno dos 6 cm. A amostra 5 apresenta ainda veios de areia, o que
deve ter dificultado o processo de amostragem. Durante o manuseio da amostra para
cravação do anel de adensamento, foi constatado que a amostra apresentava uma
106
estruturação/rigidez menor do que as demais. A Figura 5.7 mostra as curvas e vs σ’v ,
obtidas nos ensaios realizados na amostra 6 Sherbrooke, com diferentes anéis de
adensamento (Ensaios AD 7 a 10).
As Figuras 5.8 e 5.9 mostram os resultados na forma de gráficos deformação específica
vertical (εv) versus tensão vertical (σ’v), para as amostras Sherbrooke e a Figura 5.10
para as amostras pistão. A Figura 5.11 mostra as curvas εv versus tensão vertical σ’v ,
obtidas nos ensaios realizados na amostra 6 Sherbrooke, com diferentes anéis de
adensamento.
Figura 5.4 – Curvas índice de vazios versus tensão vertical – ensaio edométrico
incremental – argila mole do Rio de Janeiro – amostras Sherbrooke 1 (ensaios COPPE e
UFPE), 2 e 3 – Ensaios AD1 a AD4);
107
Figura 5.5 – Curvas índice de vazios versus tensão vertical – ensaio edométrico
incremental – argila mole do Rio de Janeiro – amostras Sherbrooke 4, 5 e 6 (Ensaios
ADAD6, AD6 e AD9);
As Tabelas 5.1 e 5.2 apresentam um resumo dos resultados obtidos nos ensaios de
edométricos convencionais, nas amostras Sherbrooke e Pistão, respectivamente.
108
Figura 5.6 - Curvas índice de vazios versus tensão vertical – ensaio edométrico
incremental (AD11 a AD14) – argila mole do Rio de Janeiro – amostras pistão
109
Figura 5.7 - Curvas índice de vazios versus tensão vertical – ensaio edométrico
incremental (Ensaios AD7 a AD10) – argila mole do Rio de Janeiro – amostra
Sherbrooke 6 – corpos de prova com diferentes diâmetros
110
Figura 5.8 – Curvas deformação específica vertical versus tensão vertical – argila mole
do Rio de Janeiro – amostras Sherbrooke 1, 2 e 3 (Ensaios AD1 a AD4)
Figura 5.9 – Curvas deformação específica vertical versus tensão vertical – argila mole
do Rio de Janeiro – amostras Sherbrooke 4, 5 e 6 (Ensaios AD5,AD6 e AD9)
111
Figura 5.10- Curvas deformação específica versus tensão vertical – ensaio edométrico
incremental (AD11 a AD14) – argila mole do Rio de Janeiro – amostras pistão
Figura 5.11 - Curvas deformação específica versus tensão vertical – ensaio edométrico
incremental – argila mole do Rio de Janeiro – amostra Sherbrooke 6 – corpos de prova
com diferentes diâmetros (Ensaios AD 7 a AD10)
112
Em relação ao coeficiente de adensamento vertical, as Figuras 5.12 a 5.15 ilustram a
faixa de valores das amostras Sherbrooke e pistão coletadas. Os corpos de prova tem 86
mm de diâmetro. Nota-se que a ordem de grandeza é a mesma para os dois tipos de
amostradores.
Foram determinados também os valores do módulo edométrico (M) das amostras
coletadas. A Figura 5.15 apresenta os valores obtidos em função da tensão vertical
efetiva. Pode-se constatar que a amostra 5 apresenta um maior amolgamento em relação
às demais já que os valores do módulo M são menores. O maior amolgamento desta
amostra Sherbrooke 5 já foi comentado anteriormente e pode ser detectado observando-
se também a curva índice de vazios – tensão vertical. O módulo edométrico portanto,
pode também ser usado como índice para avaliar comparativamente qualidade de
amostra argilosa.
Figura 5.12 – Coeficientes de adensamento vertical versus tensão efetiva – amostra
Pistão (3,40-4,09 m- Ensaio AD12) e Sherbrooke (3,38-3,63 m-AD2)
113
Figura 5.13 – Coeficientes de adensamento vertical versus tensão efetiva – amostra
Pistão (4,60-5,26 m-AD13) e Sherbrooke (4,55-4,82 AD4)
Figura 5.14 – Coeficientes de adensamento vertical versus tensão efetiva – amostra
Pistão (6,10-6,84 m-AD14) e Sherbrooke (6,41-6,76 m – anel com 60 cm2 de área-
Ensaio AD9)
114
Figura 5.15 – Módulo edométrico versus tensão efetiva – amostras Sherbrooke – Rio de
Janeiro (Ensaios AD3 a AD6 e AD9)
-ENSAIOS DA 2ª SÉRIE
Foram também realizados ensaios edométricos convencionais nas amostras Sherbrooke,
após um longo prazo decorrido a partir da amostragem. Esta série de ensaios tem como
objetivo avaliar a influência do armazenamento da amostra no comportamento tensão -
deformação confinada. Neste item serão apresentadas algumas curvas destes ensaios,
que serão mais detalhadas no Capítulo 6.
115
Tabela 5.1 – Resumo dos resultados dos ensaios edométricos incrementais – Amostras Sherbrooke-Rio de Janeiro
Código do
ensaio
Amostra Prof. (m) Corpo de
prova
CC Cr eo σ’Vm (kPa) ∆e/eo Qualidade (Lunne et
al. 1997)
AD1 1 3,38-3,63 COPPE 2,56 0,452 5,208 13 0,070 regular
AD2 1 3,38-3,63 UFPE 3,32 0,498 5,538 18 0,047 boa
AD3 2 3,93-4,25 - 2,43 0,499 4,622 15 0,096 pobre
AD4 3 4,55-4,82 - 1,72 0,178 4,049 12 0,098 pobre
AD5 4 5,12-5,35 - 2,13 0,398 4,439 19 0,051 boa
AD6 5 5,74-6,01 - 2,86 1,033 4,721 20 0,132 pobre
AD7 6 6,41-6,76 50,5 mm 3,12 0,746 6,046 21 0,082 pobre
AD8 6 6,41-6,76 71,3 mm 2,49 0,508 4,706 22 0,075 pobre
AD9 6 6,41-6,76 87,4 mm 2,82 0,573 5,434 20 0,083 pobre
AD10 6 6,41-6,76 101,9 mm 3,05 0,549 5,292 23 0,074 pobre
116
Tabela 5.2 – Resumo dos resultados dos ensaios edométricos incrementais – Amostras Pistão - Rio de Janeiro
Código do
ensaio
Amostra Prof. (m) Corpo de
prova
CC Cr eo σ’Vm (kPa) ∆e/eo Qualidade (Lunne et
al. 1997)
AD11 2 3,40-4,09 COPPE 2,95 0,382 5,722 15 0,039 muito boa
AD12 2 3,40-4,09 UFPE 2,51 0,410 4,806 15 0,047 boa
AD13 3 4,60-5,26 - 2,00 0,660 5,162 10 0,157 muito pobre
AD14 4 6,20-6,84 - 2,78 0,670 4,97 21 0,119 pobre
117
A Figura 5.16 apresenta as curvas deformação vertical versus tensão vertical efetiva,
enquanto a Figura 5.17 apresenta a curva índice de vazios versus tensão efetiva vertical
para a amostra 1 Sherbrooke (3,38 – 3,63 m), para os ensaios realizados na primeira e
segunda séries. Nota-se da Figura 5.16 que armazenamento da amostra provocou um
ressecamento da mesma, tornando a curva ressecada paralela à anterior, tendo sido pré-
adensada por ressecamento.
Figura 5.16 - curvas deformação vertical versus tensão vertical efetiva - – Amostra 1
Sherbrooke (3,38 – 3,63m) – Argila do Rio de Janeiro – Ensaios 1ª e 2ª séries
Figura 5.17 – Curvas índice de vazios versus tensão vertical efetiva – Amostra 1
Sherbrooke (3,38 – 3,63m) – Argila do Rio de Janeiro – Ensaios 1ª e 2ª séries
118
Nota-se da Figura 5.17 que ocorre uma diminuição do índice de vazios inicial da
amostra ressecada em relação à amostra natural. Esta diminuição equivale a um ciclo de
descarregamento - recarregamento.
5.2.2.Ensaios de resistência
5.2.2.1 Ensaio Triaxial UU
Foram realizados ensaios triaxiais não - adensado não – drenado de compressão (UU -
C) nas amostras Sherbrooke e pistão coletadas. Este ensaio apesar de ser mais sensível
ao amolgamento em relação ao triaxial CIU – C ou CAU – C, é ainda muito utilizado
em termos práticos, e por isso foi incluído neste estudo.
A metodologia utilizada foi a seguinte:
Os corpos de prova foram preparados em torno de moldagem. O diâmetro do corpo de
prova foi de 50,8 mm e sua altura da ordem de 2,2 vezes o diâmetro.
Foram usadas tensões confinantes entre 100 e 200 kPa, dependendo da profundidade da
amostra.
O cisalhamento dos corpos de prova foi realizado em prensa de fabricação nacional
(Ronald Top), com velocidade de deformação constante de 0,4675 mm/min, o que
corresponde a basicamente 0,6 %/min.
A força vertical aplicada ao corpo de prova foi medida através de anéis dinamométricos
com capacidade de 1 kN e a deformação imposta foi medida através de extensômetros
mecânicos com sensibilidade de 0,01 mm.
O procedimento de realização e cálculo dos ensaios foram em acordo com BISHOP e
HENKEL (1962), COUTINHO (1986) e OLIVEIRA (1991). As Figuras 5.18 a 5.21
ilustram o manuseio de moldagem de um ensaio triaxial UU.
119
Figura 5.14 - Abertura de uma amostra Sherbrooke para moldagem de corpo de prova
para ensaio triaxial
Figura 5.15 - Separação de parte de uma amostra Sherbrooke para moldagem de corpo
de prova – Ensaio triaxial
120
Figura 5.16 - Preparação do corpo de prova em torno de moldagem – Ensaio triaxial
Figura 5.17 - Acabamento final do corpo de prova – Ensaio triaxial – Amostra
Sherbrooke
Para avaliar a influência do transporte da amostra para Recife, como já comentado no
item 5.2.1, foi realizado, no laboratório da COPPE, um ensaio na amostra 1 Sherbrooke
121
(prof. 3,38 – 3,63 m-Ensaio UU-1) e na amostra 2 pistão (prof. 3,40-4,09 m-Ensaio
UU3).
A comparação destes ensaios com o realizado no laboratório da UFPE em Recife é
apresentado em destaque na Figura 5.22. Nota-se que a forma da curva, a rigidez inicial,
a deformação na ruptura são semelhantes, com variação de 27% no valor da resistência
não – drenada, que pode ser creditada à heterogeneidade da amostra. Não foi constatada
portanto influência significativa do amolgamento devido ao transporte terrestre para
Recife.
Figura 5.22 - Curvas tensão – deformação comparativas – ensaios triaxiais UU
realizados na COPPE e UFPE – Sherbrooke (prof. 3,38 -. 3,63 m/UU-1 e UU-2) e pistão
(prof. 3,40-4,09 m/UU-3) – argila do Rio de Janeiro
Foi realizado também um ensaio da 2ª série na amostra 1 Sherbrooke (3,38-3,63 m),
para efeito de comparação com o ensaio realizado na umidade natural. Esta comparação
é apresentada na Figura 5.23 . Nota-se que o ressecamento da amostra (passando de 230
para 133% de umidade inicial) causa um aumento na rigidez inicial da curva, bem como
um aumento de 35% no valor da resistência não-drenada. Este ressecamento pode ser
considerado como sendo também um amolgamento da amostra, já que suas
características foram modificadas.
122
O ganho de resistência do solo deve ser equivalente, pelo menos em termos qualitativos,
ao acréscimo de resistência de um solo embaixo de um aterro que está sob processo de
adensamento natural ou acelerado por drenos verticais.
No capítulo 6 serão feitas maiores discussões sobre os resultados dos ensaios triaxiais
UU – C.
Figura 5.23 - Comparação de curvas tensão-deformação 1ª e 2ª série – ensaio UU-C –
argila mole do Rio de Janeiro – Amostras Sherbrooke e Pistão, com respectivas
umidades iniciais (w)
5.2.2.2 Ensaio Triaxial CIU - C
Os ensaios triaxiais CIU – C adensados isotropicamente não – drenados de compressão
foram realizados nas amostras Sherbrooke e Pistão. Neste ensaio o valor da deformação
vertical (εvo) para atingir à tensão vertical efetiva de campo (σ’vo), pode ser utilizado
como um índice de qualidade da amostra (LUNNE et al., 1997).
A metodologia utilizada foi a seguinte:
Os corpos de prova foram moldados em torno de moldagem a partir da amostra (ver
Figuras 5.17 a 5.21). A saturação foi alcançada através da aplicação de contra-pressão
123
de 300 kPa, em estágios de 50 kPa, por um período de pelo menos 4 horas, cada estágio.
Ao final do processo procedia-se a leitura do parâmetro B.
Foi utilizada uma pressão confinante aproximadamente igual à tensão octaédrica de
campo, conforme proposto por COUTINHO (1986), para obtenção da resistência não-
drenada.
No cálculo da tensão octaédrica de campo , a estimativa do valor do coeficiente de
empuxo no repouso (k0) foi obtida a partir da fórmula de MAYNE e KULHAWI (1982)
e o ângulo de atrito φ’ igual a 40o obtido por ALMEIDA et al.(1995). As expressões
utilizadas foram as seguintes:
k0 = (1-senφ’).OCRsenφ’ (5.1)
σ’oct = (σ’V + 2k0.σ’V)/3 (5.2)
Onde:
σ’V – tensão vertical efetiva
As pressões confinantes variaram entre 8 e 12 kPa.
Para a fase do adensamento isotrópico, foram utilizados papel filtro lateral e pedra
porosa na base, conforme BISHOP e HENKEL (1962).
O cisalhamento foi realizado em prensa de fabricação nacional (Ronald Top), com
velocidade de deformação constante igual a 0,0154 mm/min, o que corresponde a
basicamente 1%/h.
A força vertical aplicada e deformação dos corpos de prova, foram medidos através de
anéis dinamométricos com capacidade de 1 kN e extensômetros com sensibilidade de
0,01 mm, respectivamente.
As medidas de poro-pressão foram obtidas na base dos corpos de prova, utilizando-se
transdutores de pressão tipo PT-10 da Instronic, com capacidade de 1000 kPa e
indicador digital IM-5 da Instronic.
124
O procedimento de realização e cálculo dos ensaios foram em acordo com BISHOP e
HENKEL (1962).
Curva tensão – deformação obtida em um destes ensaios (CIU-2) é apresentada na
Figura 5.24. Nota-se que a deformação de ruptura está em torno de 12% e que o solo
exibe uma forma de curva tipicamente de argila normalmente adensada, sem um pico
bem definido e sem amolecimento.
Figura 5.24 - Curva tensão-deformação – ensaio triaxial CIU-C – Argila mole do Rio de
Janeiro – amostra Sherbrooke 4 (CIU-2)
Curva de poro – pressão versus deformação axial é mostrada na Figura 5.25. Nota-se
que os pontos tem uma certa dispersão e/ou repetição dos valores, devido
principalmente ao baixo valor de pressão, que dificulta a precisão das leituras.
A curva correspondente ao caminho de tensões obtida é apresentada na Figura 5.26.
125
Figura 5.25 - Curva poro-pressão versus deformação – ensaio triaxial CIU-C – Argila
mole do Rio de Janeiro – amostra Sherbrooke 4 (CIU-2)
Figura 5.26 - Caminho de tensões – ensaio triaxial CIU-C – Argila mole do Rio de
Janeiro – amostra Sherbrooke 4
126
5.2.2.3 Ensaio Triaxial CAU – C
A metodologia adotada neste trabalho com relação ao ensaio triaxial adensado
anisotropicamente não drenado de compressão foi, basicamente, aquela adotada por
ORTIGÃO (1980), com algumas adaptações. Utilizou-se um pendural em uma prensa
de tensão controlada para aplicação da tensão vertical efetiva de campo, enquanto a
tensão horizontal efetiva de campo estimada foi aplicada a partir da tensão confinante
na célula. O valor de k0 foi estimado a partir da expressão 5.1, de MAYNE e
KULHAWI (1982). Diferentemente de ORTIGÃO (1980), o adensamento foi atingido
com aplicção simultânea das tensões vertical e horizontal em um único estágio. O
número de incrementos no adensamento não influencia de maneira significativa o
resultado do ensaio, conforme descrito na literatura por WHITMAN et al. (1960) e
LADD e VARALLYAY (1965), citados por ORTIGÃO (1980), além de LACASSE
(2001). Conforme também utilizado por ORTIGÃO (1980), as deformações laterais não
foram controladas.
A Figura 5.27 apresenta uma comparação entre curvas tensão-deformação obtidas no
ensaio CAU-C para uma amostra Sherbrooke e uma amostra Pistão. São mostrados
também na Figura os valores da deformação volumétrica para as tensões de campo na
fase de adensamento. Pode-se notar que o valor da resistência não-drenada da amostra
Pistão é maior do que da amostra Sherbrooke, bem como a deformação axial na ruptura
é menor na amostra Pistão. Desta forma a qualidade da amostra Pistão com relação a
este ensaio é portanto melhor. O valor da deformação volumétrica da fase de
adensamento (εvo ) corrobora esta afirmação. LUNNE et al. (1997) consideram que
quanto menor o valor de εvo melhor a qualidade da amostra. Estas duas amostras seriam
classificadas pelo critério de LUNNE et al. (1997) como muito boas a excelentes, o que
é contraditório com a classificação destas amostras com base nos resultados dos ensaios
edométricos (ver item 5.2.1.). Baseado no ensaio de adensamento as amostras seriam
classificadas como pobres.
127
Figura 5.27 - Curvas tensão-deformação - amostra Sherbrooke e Pistão, com respectivas
deformações volumétricas para as tensões de campo na fase de adensamento – argila
mole do Rio de Janeiro (Ensaios CAU-1 e CAU-2)
A Figura 5.28 mostra as curvas poro-pressão versus deformação axial para amostra
Sherbrooke e Pistão. Nota-se que a poro-pressão gerada no ensaio da amostra Pistão é
superior àquela apresentada pela amostra Sherbrooke.
128
Figura 5.28 - Curvas poro-pressão versus deformação axial – amostras Sherbrooke e
Pistão – argila mole do Rio de Janeiro (Ensaios CAU-1 e CAU-2)
Na Figura 5.29 são apresentados os caminhos de tensão da amostra Sherbrooke e Pistão
ensaiadas. Nota-se que o caminho de tensão da amostra Pistão cruza a linha φ’,
enquanto o da amostra Sherbrooke situa-se abaixo desta linha. Como a esta
profundidade (em torno dos 6,00 m) a argila apresenta um certo grau de pré-
adensamento com OCR igual a 1,5 (ALMEIDA et al., 2000), é de se esperar que o
caminho de tensão realmente corte a linha φ’ do trecho normalmente adensado. O fato
da amostra Sherbrooke não apresentar este comportamento indica amolgamento.
A Tabela 5.3 apresenta um resumo dos ensaios triaxiais realizados.
129
Figura 5.29 - Caminhos de tensão – amostras Sherbrooke e Pistão ensaiada – ensaio
CAU-C - argila mole do Rio de Janeiro (Ensaios CAU-1 e CAU-2)
130
Tabela 5.3 – Resumo dos ensaios triaxiais – Argila do Rio de Janeiro – Amostras Sherbrooke e pistão
Código
Do ensaio
Amostra/tipo Prof. (m) Tipo do
Ensaio
Umidade
inicial (%)
Tensão
confinante
(kPa)
Tensão
desvio
(kPa)
Deformação
axial na
ruptura(%)
Deform.
volumétrica
adensamento(%)
Qualidade
(LUNNE et
al., 1997)
UU-1 1/Sherbrooke 3,38-3,63 UU-COPPE 228 100 28,3 9,5 - -
UU-2 1/Sherbrooke 3,38-3,63 UU-UFPE 230 100 22 9,3 - -
UU-3 1/pistão 3,40-4,09 UU-COPPE 230 100 22,8 6,7 - -
UU-4 2/Sherbrooke 3,92-4,25 UU-2ª .série 133 100 40 11,5 - -
CIU-1 2/Sherbrooke 3,92-4,25 CIU 185 10 16,3 11,91 2,26 Muito boa
CIU-2 4/Sherbrooke 5,12-5,35 CIU 180 12 27,6 13,34 3,6 Muito boa
CAU-1 6/Sherbrooke 6,41-6,76 CAU 218 σ´H= 12 e
σ´V = 20
22,6 11,36 1,0 Muito boa
CAU-2 4/pistão 6,20-6,84 CAU 213 σ´H= 12 e
σ´V = 20
32,8 7,39 2,5 Muito boa
131
5.3.Recife
5.3.1.Ensaios de deformação
5.3.1.1.Ensaio edométrico incremental
Foram realizados ensaios edométricos convencionais incrementais (1ª e 2ª série) e um
ensaio isotrópico na célula triaxial.
A Figura 5.30 apresenta as curvas índice de vazios versus tensão vertical efetiva para as
amostras Sherbrooke na condição de umidade natural (1ª série - Ensaios AD15 a AD18).
A Figura 5.31 mostra os resultados destes ensaios em termos das curvas deformação
vertical versus tensão efetiva vertical. Pode-se observar que a repetibilidade é alta nas
curvas da Figura 5.30 . Da Figura 5.31 nota-se que a amostra aparentemente de melhor
qualidade é a Sherbrooke 2 (11,90 – 12,30 m-Ensaio AD16), pois tem a menor
inclinação no trecho de recompressão. Os valores destes índices de recompressão (Cr),
bem como dos índices de compressão (CC1 e CC2 ) , considerando 2 trechos, do índice de
vazios inicial (e0)e da tensão de pré-adensamento (σ’Vm) pode ser visto no quadro
resumo da Tabela 5.4. Nesta tabela também é feita uma classificação da amostra
utilizando o critério de LUNNE et al. (1997).
132
Figura 5.30 – curvas índice de vazios versus tensão vertical – Amostras Sherbrooke –
Argila mole de Recife (Ensaios AD15 a AD18)
133
Figura 5.31 – curvas deformação vertical versus tensão vertical – Amostras Sherbrooke
– Argila mole de Recife (Ensaios AD15 a AD18)
A Tabela 5.4 apresenta um quadro resumo dos resultados obtidos nestes ensaios da 1ª
série. A metodologia foi descrita no item 5.1. Observando esta Tabela pode-se constatar
que as amostras são classificadas de acordo com a metodologia de LUNNE et al. (1997)
como sendo de pobre/regular a boa. Este fato pode indicar que esta metodologia deva
ser adaptada para as argilas plásticas brasileiras, já que a análise visual das curvas indica
amostras de boa qualidade. Além disso o amostrador utilizado (Sherbrooke) é
considerado um dos melhores do mundo, já que é evitada a deformação induzida pela
cravação de um tubo. Maiores detalhes serão discutidos no Capítulo 6.
134
Tabela 5.4 – Quadro resumo – ensaios edométricos convencionais incrementais Amostras Sherbrooke – Argila mole de Recife
Código do
ensaio
Amostra Prof. (m) CC1 CC2 Cr eo σ’Vm (kPa) ∆e/eo Qualidade (LUNNE
et al. 1997)
AD15 1 8,80-9,15 2,02 0,96 0,061 2,309 160 0,064 regular
AD16 2 11,90-12,30 1,33 0,83 0,033 1,735 150 0,060 regular
AD17 3 12,90-13,20 1,51 0,91 0,055 2,258 170 0,052 boa
AD18 4 13,70-14,00 1,25 0,83 0,068 2,037 150 0,092 pobre
135
Em relação ao coeficiente de adensamento vertical obtidos nos ensaios, os valores deste
parâmetro são apresentados graficamente na Figura 5.32 (Ensaios AD15 a AD18).
Nota-se que ocorre o comportamento esperado, com valores muito altos no trecho pré -
adensado, caindo bruscamente logo após a tensão de pré-adensamento, e apresentando
valores aproximadamente constantes a altas tensões. Este comportamento, a princípio,
indica amostra de alta qualidade. No Capítulo 6 será feita uma comparação com
resultados de ensaios da literatura realizados em amostras tubulares Shelby de diâmetros
60 e 100 mm para este depósito.
Figura 5.32 - Coeficiente de adensamento vertical versus tensão média – amostras
Sherbrooke – Argila mole de Recife (Ensaios AD15 a AD18)
Valores obtidos nos ensaios para o módulo edométrico (M) estão apresentados na
Figura 5.33. Esta Figura mostra que ocorre um aumento no valor do módulo M até um
pouco antes da tensão de pré-adensamento, quando ocorre a desestruturação do material
com consequente redução do valor do módulo. Após a tensão de pré-adensamento
136
ocorre novamente um aumento no valor deste módulo com o solo se tornando mais
rígido com o aumento das tensões.
Figura 5.33 - Valores do módulo edométrico M versus tensão vertical – amostras
Sherbrooke – Argila mole de Recife (Ensaios AD15 a AD18)
-ENSAIOS DA 2ª SÉRIE
Foram realizados ensaios edométricos convencionais após um longo tempo de
armazenamento das amostras Sherbrooke no laboratório. Estes ensaios tem como
objetivo a avaliação do efeito deste armazenamento no comportamento tensão -
deformação do solo. A tendência observada é de que houve um ressecamento nas
amostras, sendo esta redução de umidade muito variável de amostra para amostra.
As Figuras 5.34 e 5.35 mostram um exemplo de curvas índice de vazios e deformação
vertical versus tensão efetiva, para uma amostra Sherbrooke. Nesta Figura 5.34 nota-se
137
ainda que o solo se comportou de uma maneira inteiramente elástica para o ensaio da 2ª
série, retornando à deformação inicial no final do descarregamento.
Figura 5.34 – Curva índice de vazios versus tensão vertical efetiva – Amostra
Sherbrooke (m) – Argila de Recife – Ensaios 1ª e 2ª séries
138
Figura 5.35 - curvas deformação vertical versus tensão vertical efetiva – Amostra 1
Sherbrooke (m) – Argila de Recife – Ensaios 1ª e 2ª séries com respectivas umidades
iniciais (w)
5.3.1.2 Ensaio Isotrópico
Foi realizado um ensaio de adensamento isotrópico com a finalidade de avaliar a
influência do método de moldagem no comportamento do solo. Enquanto no
adensamento edométrico convencional o corpo de prova é preparado a partir da
cravação de um anel metálico na amostra, o que seria uma espécie de sub - amostragem
tubular, induzindo deformações, no caso do ensaio isotrópico, utiliza-se a célula triaxial
e o corpo de prova é moldado a partir de um torno, sendo o solo cortado com fio de aço.
Foram utilizados estágios de carga iguais ao adotado no ensaio convencional, ou seja,
10, 20, 40, 80, 160 e 320 kPa.
139
A Figura 5.35 mostra as comparações dos resultados obtidos através do ensaio
convencional e do ensaio isotrópico para a amostra 4 (prof. 13,70 – 14,00 m). Nota-se
que a tensão de pré-adensamento é inferior no ensaio isotrópico. A deformação vertical
correspondente (εvo) à tensão vertical efetiva de campo (σ’vo), é também inferior no
ensaio isotrópico.
Este fato pode ser explicitado pela diferença na moldagem do corpo de prova. A
preparação com fio de aço (ensaio isotrópico), amolgaria menos o solo, evitando a
deformação causada pela cravação do anel de adensamento convencional. Esta
evidência experimental foi também observada por outros autores, como LANDVA
(1964) e HIGHT et al. (1992). Existe também a diferença no caminho de tensões dos
dois ensaios.
Figura 5.35 - Comparação ensaios edométricos convencional e isotrópico – amostra
Sherbrooke – argila mole de Recife
140
5.3.2 Ensaios de resistência
5.3.2.1 Ensaio triaxial UU-C
Os ensaios triaxiais não-adensados não-drenados de compressão foram realizados nas
amostras Sherbrooke, seguindo-se a metodologia apresentada no item 5.2.2.1.
Curvas tensão-deformação típicas são apresentadas na Figura 5.36 (Ensaios UU-4 a
UU-6). Pode-se notar que as curvas são de argila estruturada com um valor de
resistência de pico, seguida de amolecimento com a desetruturação. Os valores da
deformação axial na ruptura situam-se entre 1 e 2%, indicando um material de alta
rigidez e de alta sensibilidade. Portanto é uma argila muito sensível ao amolgamento.
Figura 5.36 - Curvas tensão-deformação dos ensaios triaxiais UU-C – Amostras
Sherbrooke – Argila mole de Recife (Ensaios UU-4 a UU-6)
No capítulo 6 serão feitas comparações com resultados de ensaios triaxiais UU-C
realizados em material coletado com amostradores tubulares.
141
5.3.2.2 Ensaios triaxiais CIU-C
Os ensaios triaxiais CIU-C foram realizados segundo a metodologia descrita no item
5.2.2.2 desta tese.
Curvas tensão-deformação obtidas estão apresentadas na Figura 5.37 (Ensaios CIU-3,
CIU-4 e CIU-5). Pode-se observar que os valores da deformação axial na ruptura estão
situados entre 2 e 4%, sendo superiores aos apresentados pelos ensaios UU-C (1 a 2%).
O ensaio realizado na amostra Sherbrooke na profundidade 13,70 a 14,00 metros,
apresentou valores muito abaixo do esperado, o que pode significar algum problema,
não detectado durante o ensaio. Possivelmente a amostra não estivesse completamente
adensada.
Figura 5.37 - Curvas tensão-deformação dos ensaios triaxiais CIU-C – Amostras
Sherbrooke – argila mole de Recife (Ensaios CIU-3, CIU-4 e CIU-5)
A Figura 5.38 mostra as curvas poro-pressão versus deformação axial para os ensaios
CIU-C realizados nas amostras Sherbrooke em Recife. A Figura 5.39 apresenta os
caminhos de tensão obtidos para estes ensaios.
142
Figura 5.38 - Curvas poro-pressão versus deformação axial – amostras Sherbrooke –
argila mole de Recife (Ensaios CIU-3, CIU-4 e CIU-5)
Figura 5.39 - Caminhos de tensão – ensaio CIU-C – amostras Sherbrooke – argila mole
de Recife (Ensaios CIU-3, CIU-4 e CIU-5)
143
Observando os caminhos de tensão pode-se ressaltar a repetibilidade dos resultados do
ensaio nestes dois corpos de prova.
O caminho de tensão do ensaio da amostra Sherbrooke 1 (8,80 – 9,15 m/CIU-1) foi
afetado pelo problema de ensaio, já mencionado, que talvez possa ter sido causado por
uma perda de pressão confinante na célula, pois o valor de equilíbrio apresentado no
trecho inicial vertical (aproximadamente 42 kPa) está abaixo da tensão confiante
prevista (60 kPa).
5.3.2.3 Ensaio triaxial CAU-C
A metodologia deste ensaio foi descrita no item 5.2.2.3 desta tese.
A Figura 5.40 apresenta curvas tensão-deformação dos ensaios realizados em amostra
Sherbrooke (Ensaios CAU-3 a CAU-5). Nota-se que as curvas não apresentam um pico
tão bem definido como no caso dos ensaios CIU-C. Nem tampouco deformação de
amolecimento muito pronunciada. As curvas mostram um comportamento típico de solo
normalmente adensado, apesar do valor de OCR deste material nesta profundidade está
em torno de 1,5. A Figura 5.41 mostra uma comparação com resultados de ensaios CIU-
C. Nota-se que a deformação axial na ruptura dos ensaios CIU-C (entre 1 e 4%) são
menores do que para os ensaios CAU-C (entre 4 e 6%). O formato da curva também é
diferente, principalmente em relação ao corpo de prova de maior umidade ( w = 90% /
prof. 12,90 a 13,20 m –Ensaio CIU-4). A resistência não-drenada se mostra também
superior nos ensaios CAU-C. Este fato pode ser devido tanto à fase de adensamento
diferente, bem como ao envelhecimento em laboratório.
144
Figura 5.40 - Curvas tensão-deformação – ensaio CAU-C – amostras Sherbrooke –
argila mole de Recife (Ensaios CAU-3 a CAU-5)
Figura 5.41 -Comparação de curvas tensão-deformação – ensaios CAU-C (3, 4 e 5) e
CIU-C (4 e 5), com valores de umidade inicial– amostras Sherbrooke – argila mole de
Recife
As Figuras 5.42 e 5.43 apresentam as curvas poro-pressão versus deformação e o
caminho de tensão, respectivamente das amostras Sherbrooke no ensaio CAU-C. Para
efeito de comparação o caminho de tensão de um ensaio CIU-C de uma amostra Shelby
145
100 mm, foi também incluído (OLIVEIRA , 1991). Pode-se observar que todos os
caminhos de tensão atingem uma linha, independente da amostra e do tipo do ensaio. Os
caminhos de tensão devem estar dentro da curva de escoamento e exibem um
comportamento aproximadamente elástico, com a curva com formato vertical no trecho
antes da ruptura. Este fato indica amostras com estruturação mantida e portanto de alta
qualidade. O valor da resistência não-drenada é diferente de um corpo de prova para
outro, em função tanto do tipo de ensaio como do caminho de tensão na fase de
adensamento.
Neste caso a amostra Shelby se mostrou equivalente à amostra Sherbrooke. Uma
comparação mais detalhada será feita no Capítulo 6.
A Tabela 5.5 apresenta um resumo dos ensaios triaxiais realizados nas amostras
Sherbrooke para esta argila do Recife.
Figura 5.42 - Curvas poro-pressão versus deformação – ensaio CAU-C - amostras
Sherbrooke – argila mole de Recife (Ensaios CAU-3 a CAU-5)
146
Figura 5.43 - Caminhos de tensão – ensaios CAU-3 a CAU-5 (Sherbrooke) e CIU-C
(Shelby 100 mm (OLIVEIRA, 1991) – argila mole de Recife
147
Tabela 5.5 – Resumo dos ensaios triaxiais realizados nas amostras Sherbrooke – argila mole do Recife
Código
Do ensaio
Amostra/tipo Prof. (m) Tipo do
Ensaio
Umidade
inicial (%)
Tensão
confinante
(kPa)
Tensão
desvio (kPa)
Deformação
axial na
ruptura(%)
Deform.
volumétrica
adensamento(%)
Qualidade
(LUNNE et al.,
1997)
UU-4 1 8,80-9,15 UU-CP1 95,2 100 72 1,09 - -
UU-5 1 8,80-9,15 UU-CP2 94,6 100 92 2,43 - -
UU-6 2 11,9-12,3 UU 78,2 100 127 1,99 - -
CIU-3 1 8,80-9,15 CIU 87,8 60 34 2,21 2,25 Muito boa
CIU-4 3 12,9-13,2 CIU 88,4 75 92 1,50 1,59 Muito boa
CIU-5 4 13,7-14,0 CIU 74 75 92 3,52 3,69 Muito boa
CAU-3 1 8,80-9,15 CAU-CP1 63,4 σ´H= 65 e
σ´V = 92
145 4,80 6,5 Boa a regular
CAU-4 1 8,80-9,15 CAU-CP2 69,4 σ´H= 65 e
σ´V = 92
174 5,65 3,0 Muito boa
CAU-5 3 12,9-13,2 CAU 66,7 σ´H= 70 e
σ´V = 100
121 3,92 2,67 Muito boa
148
CAPÍTULO 6 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
6.1.INFLUÊNCIA DO TRANSPORTE
A influência do transporte foi analisada a partir da realização de ensaios edométrico
convencional incremental e triaxial UU na argila mole do Rio de Janeiro, nos
Laboratórios de Geotecnia da COPPE/UFRJ e da UFPE. Os ensaios foram realizados
nas amostras Sherbrooke 1 (3,38-3,63 m) e Pistão 2 (3,40-4,09 m).
A Figura 6.1 apresenta uma comparação entre resultados de ensaios edométricos em
termos da curva índice de vazios versus tensão vertical, enquanto a Figura 6.2 apresenta
a comparação com relação às curvas deformação vertical versus tensão vertical. Nota-se
que aparentemente não houve influência significativa do transporte terrestre do Rio até
Recife, no formato das curvas. A pequena diferença pode ser creditada à própria
heterogeneidade da amostra. Na classificação apresentada na Tabela 5.1 do capítulo 5, a
amostra é considerada boa a partir do ensaio realizado na UFPE, enquanto é considerada
regular através do ensaio da COPPE, utilizando o critério de LUNNE et al. (1997).
Portanto não houve amolgamento provocado pelo transporte.
Figura 6.1 – Influência do transporte na curva índice de vazios versus tensão vertical –
amostra 1 Sherbrooke (3,38 – 3,63 m)– Argila mole do Rio de Janeiro
149
Figura 6.2 – Influência do transporte na curva tensão-deformação – amostra 1
Sherbrooke (3,38 – 3,63 m)– Argila mole do Rio de Janeiro
A Figura 6.3 apresenta uma comparação entre resultados de ensaios edométricos em
termos da curva índice de vazios versus tensão vertical, enquanto a Figura 6.4 apresenta
a comparação com relação às curvas deformação vertical versus tensão vertical, para a
amostra Pistão.
Pode-se observar que a curva índice de vazios versus tensão vertical tem o mesmo
formato, diferindo apenas em relação ao índice de vazios inicial. Aparentemente apenas
houve uma translação da curva. Entretanto a amostra COPPE é classificada como muito
boa e a amostra do ensaio UFPE é classificada como boa, segundo o critério de LUNNE
et al. (1997). Os valores do índice ∆e/eo são muito semelhantes, sendo igual a 0,039
para o ensaio da COPPE e 0,047 para o ensaio da UFPE. Quanto menor este índice
melhor a qualidade da amostra. A classificação é diferente porque estes valores situam-
se no limite da mudança de faixa (0,04). Esta afirmativa é corroborada pelo
coincidência das curvas deformação vertical versus tensão vertical (Figura 6.4).
150
Figura 6.3 – Influência do transporte na curva índice de vazios versus tensão vertical –
amostra Pistão (3,40 – 4,09 m)– Argila mole do Rio de Janeiro
Figura 6.4 – Influência do transporte na curva deformação vertical versus tensão vertical
– amostra Pistão (3,40 – 4,09 m)– Argila mole do Rio de Janeiro
151
Foram realizados também ensaios triaxiais UU nas amostras selecionadas para analisar
a influência do transporte. A Figura 6.5 apresenta as curvas tensão-deformação obtidas.
Nota-se que o corpo de prova da amostra Sherbrooke cujo ensaio foi realizado na
COPPE/UFRJ apresenta o maior valor de resistência. Entretanto os valores de
deformação axial na ruptura, bem como o formato das curvas são semelhantes, não
apresentando portanto sinais de amolgamento. Pode-se concluir então que o
amolgamento causado pelo transporte neste estudo particular foi pequeno, quase
desprezível, e que o amolgamento causado pelo alívio de tensões e técnica de
amostragem deve ser mais relevante.
Figura 6.5 – Comparação entre curvas tensão desvio vs. deformação específica axial –
Ensaio triaxial UU – Amostras Sherbrooke e Pistão – Argila mole do Rio de Janeiro
6.2 Comparação de resultados: amostrador tubular x Sherbrooke
Neste item serão feitas comparações entre resultados de ensaios de laboratório obtidos a
partir de amostras coletadas com diferentes amostradores: Shelby, Pistão estacionário e
Sherbrooke. Os resultados apresentados foram obtidos na presente tese e também
compilados da literatura.
Os amostradores tubulares discutidos foram os seguintes:
152
• Argila mole de Recife: Shelby de 60 mm (AMORIM JR., 1975) e de 100 mm de
diâmetro (OLIVEIRA, 1991; COUTINHO et al., 1993);
• Argila mole do Rio de Janeiro: Shelby de 100 mm de diâmetro (ALMEIDA et al.,
1995), Pistão de 127 mm de diâmetro (ALMEIDA et al., 2000) e Pistão 100 mm de
diâmetro (Presente Tese).
Todos os resultados apresentados relativos às amostras Sherbrooke foram obtidos na
presente tese. A Tabela 6.1 apresenta detalhes da geometria dos amostradores tubulares
utilizados, e as Figuras 6.6 a 6.8 mostram desenhos esquemáticos dos mesmos.
Tabela 6.1 – Resumo das dimensões e índices dos amostradores
Argila Amostrador Diâmetro
interno D3
(mm)
Espessura
da parede
e (mm)
Índice de
área
Cα (%)
Rel. folga
interna Ci
(%)
Ângulo da
sapata de
corte α (o)
Recife Shelby 60 60,3 1,6 14,7 1,68 55
Shelby 100 98 1,8 7 0 6
Shelby 100 100 - - - -
Rio Pistão 127 127 - - - -
Pistão 100 96,8 1,6 8,9 1,0 7
L: 600 mme: 1,6 mmD3: 60,3 mmα: 55°Ca: 14,7 %Ci: 1,68 %Material: Aço InóxPré - furoReferência-Amorim Jr. (1975)
Shelby 60 mm - UFPE
Figura 6.6 – Detalhes da geometria do amostrador Shelby 60 mm (AMORIM JR., 1975)
L: 800 mme: 1,8 mmD3: 98 mmα: 6°Ca: 7 %Ci: 0%Material: Aço InóxPré - furo
Shelby 100 mm - UFPE
Figura 6.7 – Detalhes da geometria do amostrador Shelby 100 mm
153
L: 800 mme: 1,6 mmD3: 96,8 mmα: 7°Ca: 8,96 %Ci: 1%Material: LatãoPré - furo
Pistão - Geotécnica/RJ
Figura 6.8 – Detalhes da geometria do amostrador Pistão 100 mm
6.2.1.Curva tensão-deformação edométrica
6.2.1.1 Argila do Rio de Janeiro
As Figuras 6.9 a 6.12 mostram comparações entre curvas tensão-deformação
edométricas obtidas a partir de amostras tubulares e Sherbrooke. Os corpos de prova
utilizados tem diâmetro igual a 87 mm.
Observa-se na Figura 6.9 que a amostra Pistão situa-se entre as curvas das amostras
Sherbrooke, no trecho inicial da curva até a tensão de pré-adensamento. Após a tensão
de pré-adensamento as 3 curvas se confundem. Considerando o critério de LUNNE et
al. (1997) a amostra Sherbrooke 1 (3,38-3,63 m) é a de melhor qualidade (boa),
enquanto a amostra Sherbrooke 2 (3,92-4,25 m) é a de pior qualidade (pobre).
Figura 6.9 – Comparação entre curvas tensão-deformação edométricas – amostra Pistão
100 mm e Sherbrooke 1 (3,38-3,63 m) e 2 (3,92-4,25 m)
154
Figura 6.10 – Comparação entre curvas tensão-deformação edométricas – amostra
Pistão 100 mm e Sherbrooke 3 (4,55-4,82 m)
Pode-se notar na Figura 6.10 que a amostra Sherbrooke 3 (4,55-4,82 m) é superior à
amostra pistão. Em relação ao critério de LUNNE et al. (1997) a amostra Sherbrooke é
classificada como pobre, enquanto a amostra pistão é classificada como muito pobre.
Deve-se registrar que este critério de LUNNE et al. (1997) é muito rigoroso para argilas
plásticas brasileiras, como será discutido no item 6.3.
Na Figura 6.11 observa-se que a amostra Sherbrooke (5,12-5,35 m) é superior à amostra
pistão. Considerando o critério de LUNNE et al. (1997) a amostra Sherbrooke é
classificada como boa e a amostra pistão como muito pobre.
Observando-se a Figura 6.12 conclui-se que a amostra Sherbrooke 5 (5,74-6,01 m) é a
de pior qualidade e que as amostras Sherbrooke 6 (6,41-6,76 m) e Shelby 100 mm
(ALMEIDA et al., 1995) são as de melhor qualidade. O valor do índice ∆e/eo (LUNNE
et al., 1997) é igual a:
155
• 0,132 para a amostra Sherbrooke 5
• 0,083 para a Sherbrooke 6
• 0,119 para a amostra pistão e
• 0,057 para a amostra Shelby (ALMEIDA et al., 1995)
Vale salientar que quanto menor este índice melhor a qualidade da amostra.
Figura 6.11 – Comparação entre curvas tensão-deformação edométricas – amostra
Pistão 100 mm e Sherbrooke 4 (5,12-5,35 m)
156
Figura 6.12 – Comparação entre curvas tensão-deformação edométricas – amostra
Pistão 100 mm, Shelby 100 mm (ALMEIDA et al., 1995) e Sherbrooke 5 (5,74-6,01 m)
e 6 (6,41-6,76 m)
Pode-se concluir neste item que as amostras Sherbrooke ora são superiores, ora são
inferiores às amostras tubulares de grande diâmetro, considerando as curvas tensão-
deformação edométricas.
6.2.1.2. Argila de Recife
As Figuras 6.13 a 6.16 apresentam as curvas tensão-deformação referentes às amostras
Sherbrooke e amostras tubulares de 100 mm (OLIVEIRA, 1991) e de 60 mm
(AMORIM JR, 1975), quando for o caso. Os corpos de prova para as amostras
157
Sherbrooke e Shelby 100 mm tem diâmetro igual a 87 mm, enquanto os das amostras
Shelby 60 mm tem diâmetro igual a 50 mm.
Observando-se a Figura 6.13 pode-se constatar que a amostra Sherbrooke (8,80-9,15 m)
tem um comportamento similar, quase idêntico, à amostra Shelby mais superficial
(7,50-8,15 m) e que após a tensão de pré-adensamento ocorre uma separação das curvas
da amostra Sherbrooke da amostra Shelby de profundidade 9,0 metros. Considerando o
critério de LUNNE et al. (1997) todas as amostras seriam classificadas como regulares.
Figura 6.13 – Comparação entre curvas tensão-deformação edométricas – amostras
Shelby 100 mm (OLIVEIRA, 1991) e Sherbrooke 1 (8,80-9,15 m) – argila mole de
Recife
Analisando-se a Figura 6.14 conclui-se que as curvas edométricas das amostras Shelby
(11,00-11,75 m) e Sherbrooke (11,90-12,30 m) exibem um comportamento quase
coincidente, ou seja, os dois tipos de amostra tem qualidades equivalentes.
A Figura 6.15 apresenta curvas edométricas correspondentes às amostras obtidas com
diferentes amostradores: Shelby com diâmetro de 60 mm (AMORIM JR., 1975) e de
100 mm (OLIVEIRA, 1991; COUTINHO et al., 1993) e amostrador Sherbrooke, a
profundidades equivalentes. Nota-se que a tensão de pré-adensamento aumenta com o
158
aumento do diâmetro da amostra. A forma da curva é diferente, podendo-se notar a
forma curvilínea do trecho de compressão virgem nas amostras Shelby-100 mm e
Sherbrooke. A deformação específica vertical (εvo ) correspondente à tensão vertical in
situ (σ’vo) é maior na amostra Shelby-60 mm (cerca de 13%), enquanto é bem menor na
amostra Sherbrooke (cerca de 3,5%). Este índice εvo, como anteriormente comentado,
pode ser utilizado como forma de avaliar quantitativamente a qualidade da amostra
(LACASSE, 1988; LUNNE ET AL., 1997; COUTINHO et al., 1998). Quanto menor o
seu valor, melhor será a qualidade da amostra.
Figura 6.14 – Comparação entre curvas tensão-deformação edométricas – amostras
Shelby 100 mm (OLIVEIRA, 1991) e Sherbrooke 2 (11,90-12,30 m) – argila mole de
Recife
Analisando-se a Figura 6.16 nota-se que as amostras Sherbrooke 3 (12,90-13,20 m) e 4
(13,70-14,00 m) são superiores à amostra Shelby 100 mm. A amostra Sherbrooke 3
(12,90-13,20 m) é a de melhor qualidade, pois exibe um trecho de recompressão de
menor inclinação, ou seja Cr menor, e consequentemente um valor de ∆e/e0 menor
(0,052), sendo classificada como amostra de boa qualidade pelo critério de LUNNE et
159
al. (1997). A amostra Sherbrooke 4 (13,70-14,00 m), apesar da curva visualmente ser de
boa qualidade, é classificada pelo critério de LUNNE et al. (1997) como pobre. Este
fato corrobora a necessidade de adaptação deste critério para argilas plásticas
brasileiras.
Figura 6.15 – Comparação entre curvas tensão-deformação edométricas – amostras
Shelby 100 mm (OLIVEIRA, 1991), Shelby 60 mm (AMORIM JR, 1975) e Sherbrooke
3 (12,90-13,20 m) – argila mole de Recife
160
Figura 6.16 – Comparação entre curvas tensão-deformação edométricas – amostras
Shelby 100 mm (OLIVEIRA, 1991), Sherbrooke 3 (12,90-13,20 m) e Sherbrooke 4
(13,70-14,00 m) – argila mole de Recife
Concluindo este item pode-se dizer que as amostras Sherbrooke são equivalentes ou
levemente superiores às amostras Shelby de 100 mm e bastante superiores às amostras
Shelby de 60 mm, em termos das curvas tensão-deformação edométricas nesta argila
mole de Recife. O projeto e a geometria do Shelby de 100 mm da UFPE contribuem
para a obtenção de amostras de alta qualidade equivalentes àquelas obtidas com o
amostrador Sherbrooke.
6.2.2.Coeficiente de adensamento vertical
6.2.2.1.Argila do Rio de Janeiro
As Figuras 6.17 a 6.19 mostram curvas comparativas do coeficiente de adensamento
vertical versus a tensão vertical, para amostras coletadas de diferentes formas (Pistão e
Sherbrooke).
161
Analisando-se a Figura 6.17 chega-se à conclusão que a amostra Pistão apresenta
valores mais altos de Cv no trecho pré-adensado, o que indica qualidade superior.
Figura 6.17 – Coeficiente de adensamento vertical versus tensão vertical média –
amostras Pistão (3,40-4,09 m) e Sherbrooke (3,38-3,63 m) – Argila do Rio de Janeiro
Figura 6.18 – Coeficiente de adensamento vertical versus tensão vertical média –
amostras Pistão (4,60-5,26 m) e Sherbrooke (4,55-4,82 m) – Argila do Rio de Janeiro
162
Analisando-se as Figuras 6.18 e 6.19 pode-se concluir que o formato das curvas é
semelhante para a amostra Pistão e para a amostra Sherbrooke, como também a ordem
de grandeza dos valores, o que indica qualidades equivalentes.
Figura 6.19 – Coeficiente de adensamento vertical versus tensão vertical média –
amostras Pistão (6,10-6,84 m) e Sherbrooke (6,41-6,76 m) – Argila do Rio de Janeiro
6.2.2.2.Argila de Recife
As Figuras 6.20 a 6.22 apresentam as curvas de Cv versus a tensão vertical média.
Pode-se observar que:
• Os valores para as amostras Sherbrooke são equivalentes aos encontrados nas
amostras coletadas com o Shelby 100 mm;
• Os valores das amostras Shelby 60 mm (AMORIM JR., 1975) são inferiores aos
encontrados através das amostras Shelby 100 mm e Sherbrooke. Esta diferença pode
chegar até a 1000%, para tensões inferiores a 100 kPa.
163
Figura 6.20 – Coeficiente de adensamento vertical versus tensão vertical média –
amostras Shelby 100 e 60 mm e Sherbrooke (8,80-9,15 m)– argila mole de Recife
Figura 6.21 – Coeficiente de adensamento vertical versus tensão vertical média –
amostras Shelby 100 e 60 mm e Sherbrooke (11,90-12,30 m)– argila mole de Recife
164
Figura 6.22 – Coeficiente de adensamento vertical versus tensão vertical média –
amostras Shelby 100 e 60 mm e Sherbrooke (12,90-13,20 m e 13,70-14,00 m)– argila
mole de Recife
6.2.3.Módulo edométrico (M)
6.2.3.1 Argila do Rio de Janeiro
As Figuras 6.23 a 6.25 apresentam as curvas do módulo edométrico versus tensão
vertical média para as amostras Sherbrooke e Pistão.
Analisando-se a Figura 6.23 nota-se que os valores são equivalentes.
Observando-se a Figura 6.24 pode-se constatar que para tensões inferiores à tensão de
pré-adensamento o Módulo edométrico é maior na amostra Sherbrooke, o que indica
maior rigidez no trecho pré-adensado e portanto melhor qualidade.
Da Figura 6.25 pode-se dizer que a amostra pistão (6,20-6,84 m) é equivalente à
amostra Sherbrooke (5,74-6,01 m) e de qualidade inferior à amostra Sherbrooke (6,41-
6,76 m). Os valores do Módulo edométrico são superiores nesta última amostra para
baixas tensões.
165
Figura 6.23 – Módulo edométrico versus tensão vertical média – amostras Sherbrooke
(3,92-4,25 m) e Pistão (3,40-4,09 m)– Argila mole do Rio de Janeiro
Figura 6.24 – Módulo edométrico versus tensão vertical média – amostras Sherbrooke
(4,55-4,82 m) e Pistão (4,60-5,26 m)– Argila mole do Rio de Janeiro
166
Figura 6.25 – Módulo edométrico versus tensão vertical média – amostras Sherbrooke
(5,74-6,01 e 6,41-6,76 m) e Pistão (6,20-6,84 m)– Argila mole do Rio de Janeiro
6.2.3.2 Argila de Recife
As Figuras 6.26 a 6.29 apresentam as curvas do Módulo edométrico versus a tensão
vertical para as amostras Sherbrooke e Shelby 100 mm. Analisando estas Figuras pode-
se comentar que:
• As amostras Sherbrooke e Shelby 100 mm são equivalentes nas Figuras 6.26 e 6.27.
Ocorre uma espécie de translação nas curvas.
• Na Figura 6.28 os valores do Módulo edométrico são superiores na amostra
Sherbrooke, em até 90%;
• Na Figura 6.29 a amostra Shelby 100 mm apresentas valores mais altos no trecho
até 200 kPa. A diferença pode chegar a 40%.
LUNNE et al. (1997) encontraram resultados similares, comparando amostras tubulares
de 54 e 75 mm com o Sherbrooke, para uma argila da Noruega (ver item 2.3).
167
Figura 6.26 – Módulo edométrico versus tensão vertical média – amostras Sherbrooke
(8,80-9,15 m) e Shelby 100 mm (9,00-9,75 m - OLIVEIRA,1991) – Argila mole de
Recife
Figura 6.27 – Módulo edométrico versus tensão vertical média – amostras Sherbrooke
(11,90-12,30 m) e Shelby 100 mm (11,00-11,75 m - OLIVEIRA,1991) – Argila mole de
Recife
168
Figura 6.28 – Módulo edométrico versus tensão vertical média – amostras Sherbrooke
(12,90-13,20 m) e Shelby 100 mm (13,00-13,75 m - OLIVEIRA,1991) – Argila mole de
Recife
Figura 6.29 – Módulo edométrico versus tensão vertical média – amostras Sherbrooke
(13,70-14,00 m) e Shelby 100 mm (13,00-13,75 m - OLIVEIRA,1991) – Argila mole de
Recife
169
6.2.4. Perfis de parâmetros geotécnicos de compressibilidade
6.2.4.1 Argila do Rio de Janeiro
São apresentados neste item os perfis de índices e parâmetros geotécnicos de
compressibilidade ao longo da profundidade, a saber:
• Índice de vazios inicial (e0);
• Coeficiente de compressão (CR)
• Razão de pré-adensamento (OCR)
Estão incluídos resultados obtidos na presente tese e dados da literatura.
A Figura 6.30 apresenta o perfil do índice de vazios inicial (e0) ao longo da
profundidade. Nota-se que os valores obtidos na presente tese para o amostrador
Sherbrooke e pistão 100 mm são em média superiores aos encontrados por ALMEIDA
et al (1995), utilizando o Shelby 100 mm. Vale salientar que este índice não é sensível
ao amolgamento causado pelo processo de amostragem
A Figura 6.31 apresenta o perfil do coeficiente de compressão (CR), do primeiro trecho
reto após a tensão de pré-adensamento, ao longo da profundidade. Nota-se que os
valores obtidos na presente tese, tanto com o Sherbrooke quanto com o pistão 100 mm,
são inferiores aos obtidos com o uso do pistão 125 mm (ALMEIDA et al., 2000). Este
fato deve indicar que, considerando este parâmetro geotécnico, as amostras coletadas
com o pistão 125 mm têm qualidade superior às encontradas com o amostrador
Sherbrooke. Esta diferença chega a 18%.
A Figura 6.32 apresenta o perfil da razão de pré-adensamento (OCR) ao longo da
profundidade. Nota-se que as amostras pistão 125 mm (ALMEIDA et al., 2000)
apresentam valores superiores em relação às amostras Sherbrooke e pistão 100 mm.
Considerando que o amolgamento diminui a tensão de pré-adensamento e
consequentemente o valor de OCR, as amostras pistão de 125 mm são de qualidade
superior, comparadas com o Sherbrooke e o pistão 100 mm. A diferença pode chegar a
35%.
170
Figura 6.30 – Perfil do índice de vazios inicial – amostras Shelby 100 mm (ALMEIDA
et al., 1995) , Sherbrooke e Pistão – Argila mole do Rio de Janeiro
171
Figura 6.31 – Gráfico do coeficiente de compressão versus profundidade – amostras
pistão125 mm (ALMEIDA et al., 2000) , Sherbrooke e Pistão100 mm – Argila mole do
Rio de Janeiro
172
Figura 6.32 – Gráfico da razão de pré-adensamento (OCR) versus profundidade –
amostras pistão125 mm (ALMEIDA et al., 2000) , Sherbrooke e Pistão100 mm – Argila
mole do Rio de Janeiro
173
6.2.4.2.Argila mole de Recife
As Figuras 6.33 a 6.36 apresentam os perfis do índice de vazios inicial (eo), do índice de
compressão (CC), do índice de recompressão (CR) e do OCR, respectivamente, versus a
profundidade.
Figura 6.33 – Índice de vazios inicial versus a profundidade – argila mole de Recife –
amostras Sherbrooke (presente tese) e Shelby (COUTINHO e OLIVEIRA, 1997)
Nota-se analisando a Figura 6.30 que os valores do índice de vazios inicial das amostras
Sherbrooke são similares àqueles obtidos com o amostrador Shelby de 100 mm
apresentados por COUTINHO e OLIVEIRA (1997). Vale salientar que este índice não é
muito sensível ao amolgamento.
174
Figura 6.34 – Índice de compressão versus a profundidade – argila mole de Recife –
amostras Sherbrooke (presente tese) e Shelby 100 mm (COUTINHO e OLIVEIRA,
1997)
Observando-se a Figura 6.34 nota-se que os valores do índice de compressão obtidos a
partir de amostras Sherbrooke (camada 1) estão dentro da faixa de variação das
amostras Shelby 100 mm (COUTINHO e OLIVEIRA, 1997). A amostra Sherbrooke 1
(8,80-9,15 m) apresentou o maior valor deste índice (2,02), situando-se acima da média
175
apresentada por COUTINHO e OLIVEIRA (1997). As demais amostras apresentam
valores em torno da média para amostras Shelby 100 mm.
Figura 6.35 – Índices de recompressão (Cr) e expansão (Cs) versus a profundidade –
argila mole de Recife – amostras Sherbrooke (presente tese) e Shelby 100 mm
(COUTINHO e OLIVEIRA, 1997)
Analisando-se a Figura 6.35 nota-se o seguinte:
• Os valores dos índices de recompressão das amostras Sherbrooke são em média 3
vezes menores aos obtidos a partir de amostras Shelby 100 mm. Este fato indica que
as amostras Sherbrooke sofreram uma desestruturação menor durante o processo de
amostragem, o que indica amostras de maior qualidade. Os valores dos índices de
176
expansão das amostras Sherbrooke são equivalentes aos obtidos pelas amostras
Shelby 100 mm (COUTINHO e OLIVEIRA, 1997). Este fato parece indicar que
este índice não é adequado para avaliar a qualidade da amostra.
Figura 6.37 – História de tensões do depósito de argila de Recife – amostras Sherbrooke
e Shelby 100 mm (COUTINHO e OLIVEIRA, 1997); (a) tensão de pré-adensamento;
(b) razão de pré-adensamento OCR
Analisando-se a Figura 6.33 pode-se concluir que os valores da tensão de pré-
adensamento e consequentemente do OCR das amostras Sherbrooke seguem a mesma
tendência apresentada pelas amostras Shelby 100 mm. Vale comentar que amostras com
alto de grau de amolgamento geralmente apresentam valores mais baixos de OCR.
Portanto tendo como base o valor de OCR as amostras Sherbrooke e Shelby são
equivalentes em termos de qualidade, para esta argila do Recife.
177
6.2.5 Curvas tensão-deformação triaxiais
6.2.5.1 Argila do Rio de Janeiro
Neste item serão apresentadas curvas comparativas tensão-deformação de amostras
Sherbrooke e tubulares, obtidas a partir de ensaios triaxiais.
A Figura 6.37 apresenta resultados comparativos tensão-deformação para ensaios
triaxiais UU. Nota-se que as curvas tem formato semelhante e que a amostra Sherbrooke
apresenta maior valor de resistência não-drenada.
Figura 6.37 – Curvas tensão deformação triaxiais – Ensaio UU – Amostras Sherbrooke
e Pistão 100 mm – argila mole do Rio de Janeiro
A Figura 6.38 apresenta resultados de ensaios CAU-C realizados na amostra Sherbrooke
6 (6,41-7,76 m) e Pistão 100 mm AM4 (6,20 – 6,84 m). Nota-se que a resistência não-
drenada da amostra Pistão é superior àquela apresentada pela amostra Sherbrooke em
45%. A deformação axial na ruptura é inferior na amostra Pistão (7,4%) em relação à
amostra Sherbrooke (11,4%). Ao lado das curvas é indicada a deformação volumétrica
necessária para atingir as tensões efetivas de campo (εvo). O valor da amostra
Sherbrooke é cerca de 2,5 vezes superior. Conclui-se que neste caso a amostra Pistão
178
100 mm apresenta qualidade superior em relação à amostra Sherbrooke, tomando-se
como base estes corpos de prova triaxiais. O fato da argila ser muito mole e de alta
plasticidade colabora para deformações maiores durante a amostragem no caso do
amostrador Sherbrooke, que não confina lateralmente o solo, como amostradores
tubulares.
Figura 6.38 – Curvas tensão-deformação – ensaio triaxial CAU-C – Amostra
Sherbrooke 6 (6,41-6,76 m) e Pistão 100 mm (6,20-6,84 m) – argila mole do Rio de
Janeiro
6.2.5.2.Argila do Recife
As Figuras 6.39 e 6.40 apresentam curvas tensão-deformação de ensaios triaxiais UU-C
realizados em amostras Sherbrooke e Shelby 100 mm (OLIVEIRA, 1991). Observa-se
que as curvas apresentam formato semelhantes e valores de resistência não-drenada e
deformação axial na ruptura dentro de uma mesma ordem de grandeza. Este fato indica
que os dois tipos de amostradores têm qualidades equivalentes neste caso. O projeto e a
geometria do amostrador tubular contribuem para obtenção de qualidades equivalentes.
179
Figura 6.39 – Curvas tensão-deformação – ensaio triaxial UU-C – Amostra Sherbrooke
1 (8,80-9,15 m) e Shelby 100 mm (7,50-8,15 m) – argila mole do Recife
Figura 6.40 – Curvas tensão-deformação – ensaio triaxial UU-C – Amostra Sherbrooke
1 (8,80-9,15 m) e Shelby 100 mm (9,00-9,75 m) – argila mole do Recife
A Figura 6.41 apresenta outra comparação de curvas triaxiais UU de uma amostra
Sherbrooke (11,90-12,30 m) e Shelby 100 mm(11,00-11,75 m). Nota-se que a amostra
Sherbrooke tem valor superior de resistência, embora apresente também deformação na
ruptura maior, o que parece contraditório.
180
Figura 6.41 – Curvas tensão-deformação – ensaio triaxial UU-C – Amostra Sherbrooke
1 (11,90-12,30 m) e Shelby 100 mm (11,00-11,75 m) – argila mole do Recife
A Figura 6.42 mostra curvas comparativas do ensaio triaxial CIU-C. Nota-se que a
amostra Sherbrooke apresenta resistência inferior à amostra Shelby 100 mm, bem como
deformação na ruptura inferior. Entretanto o formato das curvas é praticamente idêntico,
apresentado um pico bem definido com posterior amolecimento.
A Figura 6.43 mostra comparações entre curvas de ensaios CIU-C e CAU-C de
amostras Sherbrooke (8,80-9,15 m) e de ensaio CIU-C da amostra Shelby 100 mm
(OLIVEIRA, 1991). O ensaio CIU da amostra Sherbrooke apresentou problemas e os
valores são muito baixos. O ensaio CAU-C Sherbrooke apresenta resistência superior,
fato este que pode ser explicado pelo menor valor de umidade inicial.
181
Figura 6.42 – Curvas tensão-deformação – ensaio triaxial CIU-C – Amostra Sherbrooke
1 (12,90-13,20 m) e Shelby 100 mm (13,00-13,75 m) – argila mole do Recife
Figura 6.43 – Curvas tensão-deformação – ensaio triaxial CIU-C e CAU-C – Amostra
Sherbrooke 1 (8,80-9,15 m) e Shelby 100 mm (9,00-9,75 m) – argila mole do Recife
182
6.2.6 Caminho de tensões
6.2.6.1 Argila do Rio de Janeiro
O formato das curvas de caminho de tensões de ensaios triaxiais pode ser utilizado
como indicativo de qualidade de uma amostra de argila mole. Dentro da superfície de
escoamento, ou seja, no trecho elástico, o caminho de tensões de amostras de alta
qualidade permanece com uma linha aproximadamente reta e vertical.
A Figura 6.44 apresenta caminhos de tensão de amostras Sherbrooke (6,41 – 6,76 m) e
Pistão 100 mm (6,20-6,84 m). Nota-se que a curva da amostra Pistão se aproxima mais
de uma reta vertical do que a curva da amostra Sherbrooke. Assim a amostra Pistão
seria de melhor qualidade considerando este fato, e corroborando a análise feita a partir
da Figura 6.38 do item 6.2.5.1.
Figura 6.44 – Caminhos de tensão – ensaio triaxial CAU-C – Amostra Sherbrooke
(6,41-6,76 m) e Pistão 100 mm (6,20-6,84 m) – argila mole do Rio de Janeiro
6.2.6.2 Argila do Recife
Na Figura 6.45 é apresentada uma comparação entre caminhos de tensão. Nota-se que
tanto a amostra Sherbrooke quanto a amostra Shelby 100 mm têm curvas com trecho
183
inicial praticamente reto vertical e com valores de resistência máxima semelhantes.
Portanto a qualidade das amostras coletadas de diferentes formas é equivalente.
A Figura 6.46 apresenta caminhos de tensão de ensaios CIU-C e CAU-C. Nota-se que o
ensaio CAU da amostra Sherbrooke (8,80-9,15 m) apresenta uma curva com formato
diferente do esperado para amostra de alta qualidade. O valor da umidade destes corpos
de prova é igual a 70%, abaixo da média nesta profundidade, o que pode indicar que
houve perda de umidade durante o armazenamento em laboratório.
Figura 6.45 – Caminhos de tensão – ensaio triaxial CIU-C – Amostra Sherbrooke (12,90
–13,20m) e Shelby 100 mm (13,00-13,75 m) – argila mole do Recife
Figura 6.46 – Caminhos de tensão – ensaio triaxial CIU-C e CAU-C – Amostra
Sherbrooke (8,80-9,15m) e Shelby 100 mm (9,00-9,75 m) – argila mole do Recife
184
6.2.7 Curvas de escoamento
Serão apresentadas apenas as curvas de escoamento da argila do Recife devido ao
pequeno número de ensaios triaxiais das amostras Sherbrooke do Rio de Janeiro.
Na Figura 6.47 são apresentadas as curvas de escoamento da argila do Recife,
considerando amostras Shelby 100 mm (OLIVEIRA, 1991; COUTINHO et al., 1993;
COUTINHO e OLIVEIRA, 1997), Shelby 60 mm (AMORIM JR., 1975) e Sherbrooke
(presente tese). Nota-se que as amostras Shelby 100 mm e Sherbrooke se confundem em
uma mesma curva, enquanto as amostras Shelby 60 mm apresentam uma curva que
experimentou um encolhimento. O amolgamento portanto alterou a curva de
escoamento, comportamento este semelhante ao encontrado por outros autores (LA
ROCHELLE et al., 1981 ; HIGHT et al., 1992).
Figura 6.47 – Curvas de escoamento – Amostras Shelby 60 mm(AMORIM JR., 1975) ,
Shelby 100 mm (COUTINHO et al., 1993) e Sherbrooke (presente tese) – argila mole
do Recife – camada 1 (8,00-16,00 m)
6.3.Avaliação da qualidade das amostras
6.3.1.Critério de LUNNE et al. (1997)
185
A Tabela 6.2 apresenta a classificação das amostras Sherbrooke de acordo com o
critério de LUNNE et al (1997) apresentado no Capítulo 2, tomando-se como base os
ensaios edométricos. Pode-se notar que esta classificação varia entre boa e pobre, com
predominância para qualidade pobre nas amostras do Rio de Janeiro. Este fato pode
indicar que o amostrador Sherbrooke não é o mais adequado para ser utilizado nesta
argila, pela sua baixa consistência. Entretanto mesmo as amostras da argila do Recife,
de consistência maior, têm qualidade apenas regular em geral, o que não é coerente com
resultados da literatura mundial que atestam a superioridade do amostrador Sherbrooke
(ver por exemplo LACASSE et al., 1985, LUNNE et al., 1997; HIGHT et al., 1992).
Este fato parece indicar que este critério é muito rigoroso para as argilas brasileiras, pois
o aspecto visual e os resultados de laboratório, em muitos casos, indicam se tratar de
amostras de alta qualidade.
Tabela 6.2 Classificação das amostras Sherbrooke – Critério de LUNNE et al (1997) –
ensaio edométrico
Argila Amostra Prof. (m) Ensaio/anel(mm) ∆e/eo Classificação
1 3,38-3,63 COPPE 0,070 regular
1 3, 38-3,63 UFPE 0,047 boa
2 3,93-4,25 UFPE 0,096 pobre
3 4,55-4,82 UFPE 0,098 pobre
Rio Janeiro 4 5,12-5,35 UFPE 0,051 boa
5 5,74-6,01 UFPE 0,132 pobre
6 6,41-6,76 UFPE/50,5 0,082 pobre
6 6,41-6,76 UFPE/71,3 0,075 pobre
6 6,41-6,76 UFPE/87,0 0,083 pobre
6 6,41-6,76 UFPE/101,9 0,074 pobre
1 8,80-9,15 UFPE 0,064 regular
Recife 2 11,90-12,30 UFPE 0,060 regular
3 12,90-13,20 UFPE 0,052 boa
4 13,70-14,00 UFPE 0,092 pobre
186
Para efeito de comparação gráfica são apresentados na Figuras 6.48 os valores de ∆e/eo
para a argila do Rio de Janeiro das amostras Sherbrooke, Pistão obtidos na presente tese
e Shelby 100 (ALMEIDA et al., 1995). Pode-se notar que as amostras Shebrooke
apresentam valores superiores aos das amostras Shelby 100 mm e equivalentes aos das
amostras Pistão. Portanto as amostras Sherbrooke têm qualidade inferior às amostras
Shelby 100 mm, considerando-se o critério de LUNNE et al (1997) para esta argila
mole do Rio de Janeiro.
A Figura 6.49 apresenta o gráfico da deformação específica vertical (εvo)
correspondente à tensão vertical efetiva de campo para a argila de Recife ao longo da
profundidade. Este índice é similar a ∆e/eo . Estão incluídos também na Figura valores
apresentados por COUTINHO et al (1998) para amostras Shelby 100 mm. Pode-se notar
que os valores das amostras Sherbrooke situam-se na mesma faixa dos dados das
amostras Shelby 100 mm. Este fato corrobora a idéia de que estes amostradores são
equivalentes para esta argila do Recife.
6.3.2.Critério de HONG e ONITSUKA (1998)
Este critério, apresentado no Capítulo 2, baseia-se na comparação entre a inclinação do
trecho pré-adensado ou pré-escoamento de uma amostra totalmente remoldada e da
amostra natural no ensaio edométrico. Define-se então um grau de amolgamento em
percentagem SD%. Quanto menor este índice melhor a qualidade da amostra.
A Tabela 6.3 apresenta os valores de SD% para as amostras Sherbrooke obtidas na
presente tese. Os valores de amolgamento variam entre 9 e 29% para a argila do Rio de
Janeiro, exceto para a amostra 5 (5,74-6,01 m) que apresenta alto valor de
amolgamento, igual a 54%. O valor médio sem considerar esta amostra muito amolgada
é de 21%. Em relação à argila do Recife a faixa de variação é menor, indo de 7 a 14%,
com um valor médio de SD igual a 11%. Considerando estes dados pode-se afirmar que
nos trabalhos desta tese as amostras obtidas a partir do amostrador Sherbrooke foram de
melhor qualidade na argila do Recife.
As Figuras 6.50 e 6.51 apresentam o Índice de Amolgamento SD ao longo da
profundidade de amostras Sherbrooke e tubulares para as argilas do Rio de Janeiro e
Recife, respectivamente.
187
Analisando-se a Figura 6.50 constata-se que o amolgamento das amostras Sherbrooke é
ligeiramente inferior aos obtidos através do amostrador Pistão de 100 mm. Conclui-se
também que o amolgamento aumenta com a profundidade. Da Figura 6.51 conclui-se
que as amostras Sherbrooke apresentam índices de amolgamento inferiores às amostras
Shelby 60 e 100 mm. O Shelby 60 mm apresenta os mais altos índices. Os valores
médios são:
• Sherbrooke SD = 11%
• Shelby 100 mm SD = 16%
• Shelby 60 mm SD = 46%
Figura 6.48 - Valores de ∆e/eo ao longo da profundidade – argila mole do Rio de Janeiro
– amostras Sherbrooke, Pistão 100 mm e Shelby 100 mm (ALMEIDA et al., 1995)
188
Figura 6.49 - Valores de εvo ao longo da profundidade – argila mole do Recife –
Amostras Sherbrooke (presente tese) e Shelby 100 mm (COUTINHO et al., 1998)
189
Tabela 6.3 - Percentagem de amolgamento (SD%) das amostras Sherbrooke – Critério
de HONG e ONITSUKA (1998) – ensaio edométrico
Argila Amostra Prof. (m) Ensaio/anel(mm) SD (%)
1 3,38-3,63 COPPE 18
1 3, 38-3,63 UFPE 11
2 3,93-4,25 UFPE 23
3 4,55-4,82 UFPE 9
Rio Janeiro 4 5,12-5,35 UFPE 20
5 5,74-6,01 UFPE 54
6 6,41-6,76 UFPE/50,5 29
6 6,41-6,76 UFPE/71,3 27
6 6,41-6,76 UFPE/87,0 25
6 6,41-6,76 UFPE/101,9 24
1 8,80-9,15 UFPE 10
Recife 2 11,90-12,30 UFPE 7
3 12,90-13,20 UFPE 13
4 13,70-14,00 UFPE 14
190
Figura 6.50 – Índice de amolgamento definido por HONG e ONITSUKA (1998) –
Argila do Rio de Janeiro – amostras Sherbrooke e Pistão 100 mm
191
Figura 6.51 – Índice de amolgamento definido por HONG e ONITSUKA (1998) –
Argila do Recife – amostras Sherbrooke (presente tese), Shelby 100 mm
(OLIVEIRA,1991) e Shelby 60 mm (AMORIM JR., 1975)
6.3.3. Adaptação de propostas de classificação
Baseado nos resultados obtidos na presente tese e em dados da literatura nacional,
decidiu-se adaptar os critérios anteriores para adequá-los à realidade das argilas
brasileiras. O critério de LUNNE et al. (1997) é muito rigoroso para as argilas plásticas
brasileiras, tendo em vista que mesmo o amostrador Sherbrooke não conseguiu obter
192
amostras de excelente qualidade. Baseado em estudos anteriores apresentados por
COUTINHO et al (1998) e COUTINHO et al (2000) e nos resultados desta tese a partir
da análise visual das curvas edométricas e da variação dos parâmetros geotécnicos com
a qualidade, sugere-se que um novo critério seja adotado para as argilas moles
brasileiras. Este critério é apresentado na Tabela 6.4. A Figura 6.52 ilustra a variação do
parâmetro coeficiente de compressão CR, com a qualidade para uma argila do Recife
(Ibura), modificando os limites apresentados por COUTINHO et al (1998) e
COUTINHO et al (2000). A Figura 6.53 apresenta a variação do CR, com a qualidade
para a argila do Clube internacional. Esta Figura apresenta dados de amostradores
Shelby 100 mm e Sherbrooke. A Figura 6.53 apresenta ainda as faixas propostas por
LUNNE et al. (1997) e as adaptadas na presente tese. Pode-se notar que os pontos
correspondentes às amostras Sherbrooke se encontram nas faixas satisfatórias (muito
boa a excelente e boa a regular). A Tabela 6.4, então, pode ser considerada como uma
evolução da proposta de COUTINHO et al (1998) e COUTINHO et al (2000),
incorporando a chamada faixa de transição dentro da faixa de boa a regular ou pobre,
modificando seus limites, em relação à proposta original de LUNNE et al.(1997). Este
critério representa o estado atual desta pesquisa, podendo ainda ser revisto no futuro.
Tabela 6.4 - Proposta de classificação da qualidade de amostras de argilas moles/médias
plásticas brasileiras (adaptado a partir de LUNNE et al., 1997 e COUTINHO et al,1998)
Qualidade
(Presente
tese)
Muito boa a
Excelente
Boa a regular
Pobre
Muito pobre
∆e/e0
< 0,05
0,05-0,08
0,08-0,14
> 0,14
Qualidade
(LUNNE et
al., 1997)
Muito boa a
Excelente
Boa a regular
Pobre
Muito pobre
∆e/e0
< 0,04
0,04-0,07
0,07-0,14
> 0,14
COUTINHO et al.,1998
Muito boa a excelente
Boa Regular Transição regular/pobre
Pobre Muito pobre
∆e/e0 < 0,04 0,04-0,055 0,055-0,07 0,07-0,10 0,10-0,14
>0,14
193
Figura 6.52 – Variação de CR com a qualidade da amostra – Argila mole do Ibura –
Recife (modificado de COUTINHO et al., 1998 e 2000)
Figura 6.53 - Variação de CR com a qualidade da amostra – Argila mole do Ibura –
Recife (modificada de SOUZA e COUTINHO, 2002)
194
A partir da proposta de HONG e ONITSUKA (1998), que determina um índice ou Grau
de Amolgamento de uma amostra de argila mole, decidiu-se nesta tese complementar o
trabalho destes autores japoneses e sugerir um índice que pudesse representar de forma
clara e objetiva a qualidade de uma amostra. É importante ressaltar que na verdade a
nota deve ser atribuída ao corpo de prova ensaiado, pois em geral a qualidade de uma
amostra não é uniforme. Entretanto um ou mais corpos de prova podem representar a
qualidade daquela amostra. Nada mais natural no meio acadêmico-científico do que
uma avaliação numérica. Pensou-se então em criar uma metodologia para atribuir uma
nota ao corpo de prova da amostra ensaiada. Esta nota é calculada a partir da seguinte
expressão:
Nota (N) = (100-SD%)/10 (6-1)
Onde :
SD% - índice ou Grau de Amolgamento definido por HONG e ONITSUKA (1998)
A partir da atribuição da Nota (N), sugere-se um critério para classificar a qualidade da
amostra, apresentado na Tabela 6.5.
Tabela 6.5 - Critério proposto para classificar uma amostra de argila mole baseado na
nota de um corpo de prova (a partir de HONG e ONITSUKA, 1998)
Qualidade Excelente Boa Regular Pobre Muito Pobre
Nota (N) 9-10 7-9 6-7 4-6 0-4
Para exemplificar este procedimento, a Tabela 6.6 apresenta as notas atribuídas aos
corpos de prova de amostras Sherbrooke. As Figuras 6.54 e 6.55 ilustram o
procedimento através da comparação entre as notas de amostras Sherbrooke e tubulares.
195
Tabela 6.6 - Notas atribuídas aos corpos de prova das amostras Sherbrooke e sua
classificação baseada no critério proposto
Argila Amostra Prof. (m) Ensaio/anel(mm) Nota (N) Qualidade
1 3,38-3,63 COPPE 8,2 Boa
1 3, 38-3,63 UFPE 8,9 Boa
2 3,93-4,25 UFPE 7,7 Boa
3 4,55-4,82 UFPE 9,1 Excelente
Rio Janeiro 4 5,12-5,35 UFPE 8 Boa
5 5,74-6,01 UFPE 4,6 Pobre
6 6,41-6,76 UFPE/50,5 7,1 Boa
6 6,41-6,76 UFPE/71,3 7,3 Boa
6 6,41-6,76 UFPE/87,0 7,5 Boa
6 6,41-6,76 UFPE/101,9 7,6 Boa
1 8,80-9,15 UFPE 9 Excelente
Recife 2 11,90-12,30 UFPE 9,3 Excelente
3 12,90-13,20 UFPE 8,7 Boa
4 13,70-14,00 UFPE 8,6 Boa
Analisando-se a Tabela 6.6 conclui-se que todas as amostras têm nota acima de 7, sendo
classificadas como boas e excelentes, exceto a amostra 5 (5,74-6,01 m) do Rio de
Janeiro, que realmente está muito amolgada, como já comentado anteriormente. Este
critério da Nota tem a vantagem de ser claro, inclusive para engenheiros de todas as
especialidades.
Nota-se a partir da Figura 6.54 que as amostras Sherbrooke da argila do Rio de Janeiro
apresentam notas ligeiramente superiores (média 7,9) às amostras tubulares pistão 100
mm (média 7,4). Além disso as notas de ambos amostradores diminuem com a
profundidade, indicando aumento na dificuldade de amostragem.
Observando a Figura 6.55 pode-se concluir que as amostras Sherbrooke da argila do
Recife apresentam notas superiores (média de 8,9) às amostras Shelby 100 (média de
8,4), que por sua vez são superiores às amostras Shelby 60 mm (média de 5,3). As
qualidades das amostras Sherbrooke e Shelby 100 mm são praticamente equivalentes.
196
Figura 6.54 – Notas comparativas das amostras Sherbrooke e Pistão – Argila do Rio de
Janeiro
197
Figura 6.55 – Notas comparativas das amostras Sherbrooke e Shelby 100 (OLIVEIRA,
1991) e 60 mm (AMORIM JR., 1975) – Argila do Recife
6.4 Influência do diâmetro do corpo de prova
Para o estudo da influência do diâmetro do corpo de prova, foi escolhido o ensaio
edométrico, sendo realizados 4 ensaios com anéis de diâmetros diferentes (50,0, 71,3,
198
87,0 e 101,9 mm), na mesma amostra Sherbooke 6 (6,41-6,76 m) da argila do Rio de
Janeiro.
As curvas tensão–deformação e índice de vazios versus tensão vertical estão
apresentadas nas Figuras 6.56 e 6.57.
Figura 6.56 – Curvas tensão-deformação comparativas – Influência do diâmetro do anel
– ensaio edométrico – Amostra Sherbrooke 6 (6,41-6,76 m) – Argila do Rio de janeiro
Nota-se que as curvas tensão-deformação edométricas (Figura 6.56) são praticamente
coincidentes e que a influência do diâmetro do corpo de prova é desprezível. As curvas
índice de vazios – tensão vertical são separadas devido aos índices de vazios iniciais
serem diferentes.
Todos os corpos de prova apresentam valores de ∆e/e0 entre 0,071 e 0,083, sendo
classificados como amostras pobres pelo critério de LUNNE et al. (1997). Entretanto
pelo novo critério sugerido seriam classificados como amostras regulares. A Figura 6.58
apresenta a variação de ∆e/e0 com o diâmetro do corpo de prova. Nota-se uma leve
199
diminuição deste índice com o aumento do diâmetro. Quanto menor o índice melhor a
amostra.
Pelo critério da nota os ensaios destes corpos de prova seriam classificados como
amostras de boa qualidade com notas entre 7,1 e 7,6. Portanto existe uma divergência na
classificação dependendo do critério adotado. A nota da amostra, entretanto, aumenta
levemente com o aumento do diâmetro do corpo de prova. A Figura 6.59 ilustra este
comentário.
Figura 6.57 – Curvas índice de vazios versus tensão vertical comparativas – Influência
do diâmetro do anel – ensaio edométrico – Amostra Sherbrooke 6 (6,41-6,76 m) –
Argila do Rio de janeiro
A influência do diâmetro do corpo de prova no ensaio edométrico e na qualidade da
amostra avaliada a partir deste ensaio parece ser pequena. Os dados, no entanto são
limitados para uma conclusão definitiva.
200
Figura 6.58 – Variação do índice ∆e/e0 (LUNNE et al., 1997) com o diâmetro do corpo
de prova – argila do Rio de Janeiro
Figura 6.59 – Variação da nota da amostra com o diâmetro do corpo de prova – argila
do Rio de Janeiro
6.5 Influência do método de moldagem
201
HIGTH et al. (1992) e LUNNE et al (1997) chegaram à conclusão que o método de
moldagem influencia os resultados de ensaios de laboratório realizados em amostras de
argilas moles, alterando também a classificação da qualidade destas amostras.
Usualmente utiliza-se um anel cravado no solo para moldar ensaios edométricos
enquanto um fio de aço é usado para moldar corpos de prova triaxiais.
A cravação de um anel seria análoga à cravação de um amostrador tubular no terreno
durante a amostragem. Esta cravação causa uma certa deformação no solo, amolgando-
o. A cravação do anel de adensamento portanto seria uma espécie de sub-amostragem
tubular. Considerando o anel como um amostrador tubular, quanto menor a relação
entre o diâmetro e a espessura do anel maior a deformação imposta, como previram
HVORSLEV (1949) e BALIGH et al. (1987).
Para analisar este efeito foi realizado um ensaio de adensamento hidrostático na célula
triaxial, com o corpo de prova sendo moldado com fio de aço. A Figura 6.60 apresenta a
comparação, em termos da curva tensão-deformação, entre este ensaio e um ensaio
edométrico convencional, onde o corpo de prova foi moldado a partir da cravação de
um anel metálico. A amostra Sherbrooke 4 de Recife (13,70-14,00 m) foi utilizada neste
caso. A deformação volumétrica correspondente à tensão efetiva de campo é igual a 2%
para o ensaio hidrostático, enquanto assume o valor de 5,5% para o ensaio edométrico.
Vale salientar que o estado de tensão é diferente. Pelo critério de LUNNE et al. (1997) a
amostra seria classificada como excelente no ensaio hidrostático e como boa/regular no
ensaio edométrico. A deformação causada pela cravação do anel deve ser a responsável
pela diferença nos valores. Vale registrar que o estado de tensão é diferente nos dois
casos, mas a análise qualitativa, ainda assim, parece válida.
A Figura 6.61 apresenta uma compilação comparativa de dados da literatura de
amostras Shelby 100 mm coletadas na argila do Recife (OLIVEIRA, 1991;
COUTINHO et al., 1993; COUTINHO et al., 1998). Esta Figura mostra a deformação
volumétrica (εvo) correspondente à tensão efetiva de campo ao longo da profundidade,
em ensaios de adensamento edométrico e triaxiais CIU-C. Pode-se constatar que
sistematicamente os valores de εvo do ensaio de adensamento edométrico são superiores
aos do ensaio triaxial. A deformação imposta pela cravação do anel parece ser a
responsável por esta diferença. Deste modo a mesma amostra pode ser classificada de
maneira diferente em termos de qualidade, dependendo do tipo e da metodologia do
ensaio de laboratório.
202
Figura 6.60 – Comparação entre curvas tensão-deformação de corpos de prova
moldados de diferentes formas – argila de Recife
Figura 6.61 – Valores da deformação volumétrica correspondente às tensões efetivas de
campo – ensaios edométrico e triaxiais - amostras Shelby 100 mm ( a partir de
OLIVEIRA, 1991 e COUTINHO et al., 1998) – argila mole do Recife
6.6. Influência da estruturação
203
BURLAND (1990) mostrou que existem duas curvas paralelas (ICL e SCL) no gráfico
Iv vs. log σ’V para depósitos de argila mole normalmente adensados, onde Iv é o índice
de vazios normalizado definido no item 2.4. BURLAND (1990) considera ainda que a
distância entre a tensão de pré-adensamento de curvas de compressão normalizadas de
argilas naturais e a linha ICL reflete o grau de estruturação desta argila. Considerando
que quanto melhor a qualidade de uma amostra de argila maior deve ser sua
estruturação, maior também deve ser a distância da tensão de pré-adensamento à linha
ICL. Neste item portanto a sistemática de BURLAND (1990) será utilizada para avaliar
a qualidade de amostras coletadas a partir de diferentes amostradores.
Com este objetivo foram normalizadas as curvas de compressão de ensaios edométricos
e traçadas no espaço Iv – log σ’V , tendo as curvas ICL e SCL como referências. Foram
utilizadas as equações propostas por BURLAND (1990) e apresentadas no item 2.4
desta tese.
As Figuras 6.62 a 6.67 apresentam as curvas de compressão normalizadas de amostras
Sherbrooke e tubulares.
Pode-se tirar as seguintes conclusões destas figuras:
• A argila do Recife é mais estruturada do que a argila do Rio de Janeiro;
• A estrututuração das amostras pistão 100 mm é semelhante à estruturação das
amostras Sherbrooke, para a argila do Rio de Janeiro. Portanto a qualidade seria
equivalente;
• Na argila do Recife a estruturação das amostras Sherbrooke é similar àquela das
amostras Shelby 100 mm e superior à da amostra Shelby 60 mm (Figura 6.65);
• Na Figura 6.66 pode-se notar que a amostra Shelby 60 mm parece estar mais
estruturada do que a Sherbrooke e a Shelby 100 mm. Este fato não é confirmado
pela análise das curvas não-normalizadas. Talvez se trate de uma distorção do
método, que pode ser explicada pelo alto valor do índice de vazios inicial da
amostra Shelby 60 mm coletada por AMORIM JR (1975).
Mais resultados de curvas de compressão normalizadas são necessárias para validação
da interpretação da qualidade a partir do grau de estruturação proposto por BURLAND
(1990).
204
Figura 6.62 – Curvas de compressão normalizadas segundo a proposta de BURLAND
(1990) – argila mole do Rio de Janeiro – Amostra Sherbrooke e Pistão 100 mm
Figura 6.63 – Curvas de compressão normalizadas segundo a proposta de BURLAND
(1990) – argila mole do Rio de Janeiro – Amostra Sherbrooke e Pistão 100 mm
205
Figura 6.64 – Curvas de compressão normalizadas segundo a proposta de BURLAND
(1990) – argila mole do Rio de Janeiro – Amostra Sherbrooke e Pistão 100 mm
Figura 6.65 – Curvas de compressão normalizadas segundo a proposta de BURLAND
(1990) – argila mole do Recife – Amostra Sherbrooke , Shelby 60 (AMORIM JR.,
1975) e 100 mm
206
Figura 6.66 – Curvas de compressão normalizadas segundo a proposta de BURLAND
(1990) – argila mole do Recife – Amostra Sherbrooke , Shelby 60 (AMORIM JR.,
1975) e 100 mm
Figura 6.67– Curvas de compressão normalizadas segundo a proposta de BURLAND
(1990) – argila mole do Recife – Amostra Sherbrooke e Shelby 100 mm
207
Concluindo este item vale registrar que segundo um princípio da Engenharia e Ciências
dos Materiais (ECM), citado por VAN VLACK (1984) , as propriedades de um material
originam-se na sua estrutura interna. Desta forma, considerando a argila orgânica como
sendo um material de engenharia, a estrutura deste solo irá governar as suas
características físicas e mecânicas. Consequentemente a qualidade da amostra que afeta
diretamente a estruturação do material tem influência dominante no comportamento da
argila.
6.7 Influência do armazenamento
Para avaliar o efeito do armazenamento das amostras em laboratório foram realizados
ensaios nas amostras Sherbrooke , após um longo tempo decorrido da amostragem. Este
tempo variou entre 2 e 3 anos. Este item foi incluído no estudo basicamente por
sugestão do Prof. Ian Martins da COPPE/UFRJ.
Na literatura existem estudos sobre este efeito e suas alterações no comportamento do
solo a partir de ensaios de laboratório. Pode-se citar como exemplos os trabalhos de
BOZOZUK (1971), ARMAN e McMANIS (1976) e KIRKPATRICK e KHAN (1984),
citados por DANZIGER e LUNNE (1994), além de HIGHT et al. (1992). Estes últimos
autores não encontraram alteração no valor da tensão efetiva inicial ou residual após um
longo tempo de armazenamento, em amostras coletadas com o amostrador Laval na
argila de Bothkennar.
O armazenamento pode causar ressecamento do solo, o que é uma alteração nas suas
propriedades naturais, podendo então ser encarado como um amolgamento. Como
decorrência de todo amolgamento, a qualidade da amostra sofre uma alteração.
As Figuras 6.68 a 6.70 apresentam curvas tensão-deformação edométricas comparativas
realizadas em amostras Sherbrooke na umidade natural e após um longo tempo de
armazenagem (2ª série). Nota-se que existe um paralelismo entre as curvas da 1ª e 2as.
Séries. A Figura 6.70 em particular mostra um aumento na estruturação da amostra
Shelby 60 mm para a de 100 mm, desta para a Sherbrooke natural e finalmente para a
Sherbrooke ressecada (2ª série). Em todas as Figuras é nítido um aumento na tensão de
pré-adensamento.
208
Figura 6.67 – Curvas edométricas comparativas – ensaios da 1ª e 2ª série – argila mole
do Rio de Janeiro – amostra Sherbrooke 1 (3,38-3,63 m)
Figura 6.68 – Curvas edométricas comparativas – ensaios da 1ª e 2ª série – argila mole
do Rio de Janeiro – amostra Sherbrooke 5 (5,12-5,35 m)
209
Figura 6.69 – Curvas edométricas comparativas – ensaios da 1ª e 2ª série – argila mole
do Recife – amostra Sherbrooke 2 (11,90-12,30 m) e Shelby 100 mm
Figura 6.70 – Curvas edométricas comparativas – ensaios da 1ª e 2ª série – argila mole
do Recife – amostra Sherbrooke 3 (12,90-13,20 m), Shelby 60 mm (AMORIM JR.,
1975) e 100 mm
210
6.8. Proposta de correção da tensão de pré-adensamento
O amolgamento pode influenciar fortemente a tensão de pré-adensamento, diminuindo o
seu valor. A proposta de SCHMERTMANN (1953) corrige a tensão de pré-
adensamento de uma maneira interativa, através do método de tentativas e erro, tendo
como base a diferença de índice de vazios na curva edométrica, entre a curva corrigida e
a curva de laboratório para diversos valores de tensão de pré-adensamento arbitradas. O
ponto de simetria da curva de diferença de índice de vazios é a tensão de pré-
adensamento supostamente real (ver item 6.10). Este é um procedimento trabalhoso.
Decidiu-se então propor nesta tese uma correção da tensão de pré-adensamento que
utilizasse um procedimento mais simples operacionalmente e que fosse baseado em um
banco de dados regional.
HONG e ONITSUKA (1998) chegaram, para argilas moles japonesas, a uma correlação
entre tensão de pré-adensamento e grau de amolgamento da amostra. Os autores
definiram um índice chamado Grau de Amolgamento (SD%), como sendo a relação
entre a inclinação do trecho de recompressão da curva oedométrica da amostra natural
(CCLB) e a inclinação deste trecho para o solo completamente amolgado (CCLR) na curva
ln(1+e) – log p . Numericamente pode-se escrever:
SD% = CCLB/ CCLR x 100% (6-6)
Os autores comentam que o valor de CCLR pode ser estimado a partir da correlação por
eles apresentada, com o limite de liquidez (WL). Esta correlação utiliza um banco de
dados com vários resultados de ensaios com solos amolgados de todo o mundo. A
correlação é a seguinte:
CCLR = -0,390 + 0,332 log(WL) (6-7)
Utilizando resultados da Ariake Clay com amostras de vários graus de amolgamento,
HONG e ONITSUKA (1998), realizaram uma regressão linear com a diferença entre a
tensão de pré-adensamento da amostra de melhor qualidade (pCL, best) e a tensão de
pré-adensamento de uma amostra qualquer (pCL) traçada versus o Grau de
Amolgamento (SD%). A partir desta regressão, os autores chegaram a uma expressão
211
que corrige a tensão de pré-adensamento em função do Grau de Amolgamento (SD%).
Este valor foi chamado de Tensão de pré-adensamento de campo (pYF).
Como as argilas recifenses possuem características semelhantes às japonesas, tentou-se
verificar a validade desse método para essas argilas. Usou-se então os locais de pesquisa
do Banco de Dados de Argilas Moles/Médias do Grupo de Engenharia Geotécnica de
Encostas e Planícies da UFPE (COUTINHO e OLIVEIRA, 1994; COUTINHO et al.,
1998a; COUTINHO et al., 2000).
A correlação da diferença entre os valores da tensão de pré-adensamento (pcl,best – pcl)
com o grau de amolgamento das amostras foi encontrada, como mostra a Figura 6.71.
Tomando-se como base a inclinação da reta da Figura 6.71 chega-se à expressão
definitiva da correção da tensão de pré-adensamento em argilas recifenses.
A expressão é a seguinte:
pYF= pCL + 0,84.SD% (6-8)
Onde: pYF – Tensão de pré-adensamento de campo
pCL – Tensão de pré-adensamento da amostra natural
SD% - Grau de amolgamento
Figura 6.71 – Diferença entre tensão de pré-adensamento da amostra de melhor
qualidade e amostra qualquer (pcl,best – pcl) vs. Grau de Amolgamento (SD%)– Argila
de Recife
Par ilustrar a aplicação do método, tomou-se como exemplo 3 curvas de adensamento
edométrico apresentadas por OLIVEIRA (2000), que serviram de subsídio para
212
estimativa de recalques por adensamento em prédio apresentado por GUSMÃO FILHO
et al. (1999). As três curvas são apresentadas na Figura 6.72. A Tabela 6.7 apresenta os
valores do Grau de Amolgamento SD e tensões de pré-adensamento obtidas no ensaio e
corrigidas. Pode-se comentar que a correção varia entre 12 e 47% do valor obtido
experimentalmente, o que alteraria significativamente a estimativa de recalque por
adensamento primário. Quanto maior o grau ou percentagem de amolgamento (SD%),
maior a correção.
Figura 6.72 – Curvas edométricas apresentadas por OLIVEIRA (2000) – Argila de Boa
Viagem-Recife-PE -edifício analisado por GUSMÃO FILHO et al.,(1999)
213
Tabela 6.7 - Valores do Grau de Amolgamento SD , tensões de pré-adensamento
obtidas experimentalmente e corrigidas pelo método proposto
Amostra/Prof. (m) SD (%) σ’vm experimental,
pcl (kPa)
σ’vm corrigida, pyf
(kPa)
1/10,7 23 160 179
2/13,15 31 74 100
3/19,6 44 78 115
6.9. Proposta de construção de família de curvas edométricas
Utilizando os resultados de ensaios de adensamento realizados nas amostras Sherbrooke
coletadas no Rio de Janeiro e em Recife, imaginou-se um método simples para
construção de família de curvas edométricas. Tomou-se como referência as amostras
Sherbrooke pois estas apresentaram baixos níveis de amolgamento de uma maneira
geral, além deste amostrador ser considerado um dos mais modernos e eficientes do
mundo. Esta curva construída pode ser utilizada como primeira estimativa em
anteprojetos, bem com comparada com a curva obtida no ensaio a ser realizado.
A idéia é adotar o índice de vazios inicial (e0) da amostra natural como um dado de
entrada. Este índice foi o escolhido pelo fato de ser este um valor aproximadamente
constante para uma dada argila independente do amolgamento.
Criou-se então um ábaco em que são apresentadas curvas correlacionando a razão índice
de vazios final/índice de vazios inicial (ef/e0) versus o índice de vazios inicial (e0), para
cada uma das tensões normalmente utilizadas em laboratório (5, 10, 20, 40, 80, 160,
320, 640 e 1280 kPa). Estas curvas foram construídas a partir de conjuntos de pontos
(ef/e0;e0) das amostras Sherbrooke. A Figura 6.73 apresenta este ábaco. A metodologia
de construção da curva estimada consiste em:
1) Identificar o índice de vazios inicial (e0) da amostra cuja curva será construída;
2) Entrar no ábaco com o índice de vazios inicial e determinar a relação ef/e0 para cada
uma das tensões normalmente utilizadas no ensaio;
3) Calcular o índice de vazios final (ef) para cada estágio de carga;
214
4) Construir a curva edométrica estimada.
Exemplo de família de curvas edométricas estimadas, para diferentes índices de vazios
iniciais são apresentadas na Figura 6.74. Estas curvas foram construídas a partir do
ábaco proposto. Espera-se que estas curvas representem amostras de boa qualidade, já
que o ábaco a partir da qual foram derivadas, representam curvas de boa qualidade.
Com o objetivo de avaliar esta proposta foram selecionadas amostras de três argilas
brasileiras: Sarapuí-RJ, Ibura-PE e Juturnaíba-RJ. A Tabela 6.8 apresenta um resumo de
informações geotécnicas destas amostras. Exemplos de curvas construídas são
mostradas nas Figuras 6.75 a 6.77, juntamente com curvas edométricas obtidas
experimentalmente, para as argilas de Sarapuí-RJ, Ibura-PE e Juturnaíba-RJ,
respectivamente. Estes exemplos foram escolhidos pois estas argilas estão fora do
universo utilizado para elaboração do ábaco.
Pode-se notar das Figuras 6.75 a 6.77 que as curvas construídas a partir do ábaco
proposto se aproximam das curvas experimentais de boa qualidade. No caso da argila de
Sarapuí a concordância entre as curvas de boa qualidade e construída pelo ábaco é
muito boa a baixas tensões, até cerca de 100 kPa, a partir deste valor a concordância
reduz, apresentando um recalque menor. Na argila do Ibura a curva construída pelo
ábaco situa-se por baixo da curva experimental até cerca de 160 kPa, quando as curvas
se encontram. Apesar deste fato as curvas tem boa concordância. Em ambos os casos a
forma das curvas são semelhantes e distintas da curva de má qualidade. Na argila de
Juturnaíba as curvas são praticamente paralelas a partir da tensão igual a 20 kPa, com
uma diferença de índice de vazios final para cada pressão, aproximadamente igual a 0,3
(ou 7% do índice de vazios inicial e0 = 4,24), no sentido de maior recalque.
A Tabela 6.9 apresenta os parâmetros geotécnicos (σ’Vm, CC1 e Cr ) obtidos das curvas
experimentais e construídas pelo ábaco proposto. Vale ressaltar que a tensão de pré-
adensamento foi determinada através do Método de Pacheco Silva.Nas três argilas o
índice de recompressão (Cr) é maior para a curva construída em relação à amostra de
boa qualidade, enquanto a tensão de pré-adensamento e o índice de compressão virgem
são menores. A tabela apresenta também a relação entre a tensão de pré-adensamento
das outras curvas e a tensão de pré-adensamento da curva de boa qualidade, que foi
tomada como referência. O mesmo foi feito para o índice de compressão do primeiro
trecho reto (CC1) e para o índice de recompressão (Cr). Analisando os dados desta tabela
pode-se constatar que as relações de σ’Vm e CC1 das curvas construídas pelo ábaco
215
variam entre 0,70 e 0,77 para σ’Vm e 0,64 e 0,98 para CC1. Isto significa que o ábaco
consegue reproduzir estes parâmetros em pelo menos 64 a 70% do seu valor
experimental para curvas de boa qualidade apresentadas, sendo os resultados muito
superiores aos parâmetros das curvas de má qualidade. O valor da relação para Cr varia
entre 1,78 e 5,25. Estes exemplos, ainda que limitados, parecem indicar que a
metodologia é promissora. Entretanto é necessária a utilização desta proposta em outras
argilas para validação do método, inclusive com a consideração da sensibilidade.
Em termos do potencial de utilização do ábaco, pode-se considerar o seu uso em
anteprojetos e/ou projetos das maneiras descritas a seguir:
1. Com realização de campanha de SPT com determinação da umidade natural e
ensaios edométricos:
1a . Previsão inicial (durante o ensaio): a partir do índice de vazios inicial obter uma
primeira estimativa da curva edométrica;
1b. Comparação entre a curva experimental e a curva construída e seleção em função da
sua qualidade;
1c. Obtenção de curvas edométricas estimadas em profundidades e/ou locais
complementares às de amostragem.
2. Com campanha de sondagem SPT com determinação da umidade natural:
A partir da obtenção da umidade na sondagem SPT (GUSMÃO FILHO, 1998;
COUTINHO et al., 1998), utilizar este valor para estimar o índice de vazios inicial a
partir de correlações propostas na literatura, tais como COUTINHO et al. (1998) e
FUTAI (1999). Com o índice de vazios inicial construir a curva edométrica estimada a
partir do ábaco. As correlações de COUTINHO et al. (1998) são apresentadas na Tabela
6.10. A Figura 6.78 mostra a correlação do índice de vazios inicial com a umidade.
Estas correlações podem também serem utilizadas no próprio processo de previsão,
permitindo ao projetista uma melhor avaliação
Vale ressaltar que a proposta do ábaco não é a substituição da investigação geotécnica
detalhada e sim contribuir na sua complementação e/ou aperfeiçoamento.
.
216
Figura 6.73 – Ábaco proposto na presente tese para construção da curva edométrica
Figura 6.74 - Família de curvas edométricas construídas a partir do ábaco proposto
217
Tabela 6.8 - Informações geotécnicas - curvas experimentais
Argila
Curva
Prof.
(m)
Amostra
dor
Wi
(%)
e0
∆e/e0
p/
σ’V0
e0 usado
para a
construção
da curva
Classificação
(LUNNE et al.,
1997)
Boa
qualida
de
6,5-7,0
Pistão
125
mm
137
3,54
0,033
Muito boa a
excelente
Sarapuí
Má
qualida
de
6,5-7,0
Pistão
125
mm
(amolga
da no
lab.)
144
3,51
0,46
3,54
Muito pobre
Boa
qualida
de
7,8-8,5
Shelby
100
mm
149
3,84
0,05
Boa
Ibura
Má
qualida
de
7,0-7,8
Shelby
100
mm
132
3,35
0,33
3,84
Muito pobre
Juturnaíba
Boa
qualida
de
3,25-
3,50
(III-2)
Pistão
125
mm
165
4,24
0,032
4,24
Muito boa a
excelente
218
Figura 6.75 – Curvas edométricas experimentais de boa e má qualidade apresentadas
por COUTINHO et al. (1998) e a construída pelo ábaco (e0 = 3,54) – argila de Sarapuí
Figura 6.76 – Curvas edométricas obtidas experimentalmente e corrigida pelo ábaco
(e0 = 3,84) – argila do Ibura – Recife/Prof. 8,00 m
219
Figura 6.77 – Curvas edométricas obtidas experimentalmente (COUTINHO,1986) e
construída pelo ábaco (e0 = 4,24) – argila de Juturnaíba – Rio/Prof. 3,25-3,50 m
220
Tabela 6.9 - Parâmetros geotécnicos obtidos das curvas edométricas experimentais e
construídas pelo ábaco proposto
Argila Curva σσ’Vm
(kPa)
CC1 Cr (início
da curva)
σσ’Vm/ σ σ’Vm,
boa qualidade
CC1/ CC1,
boa qualidade
Cr/ Cr,
boa qualidade
Boa
qualidade
39 2,50 0,12 1 1 1
Sarapuí
(e0 = 3,54)
Má
qualidade
21 1,12 0,63 0,54 0,45 5,25
Construída
pelo ábaco
30 1,60 0,22 0,77 0,64 1,83
Boa
qualidade
43 2,55 0,16 1 1 1
Ibura
(e0 = 3,84)
Má
qualidade
11 0,95 0,68 0,26 0,37 4,25
Construída
pelo ábaco
32 1,84 0,50 0,74 0,72 3,12
Juturnaíba
Boa
qualidade
33 2,03 0,27 1 1 1
(e0 = 4,24) Construída
pelo ábaco
23 1,98 0,48 0,70 0,98 1,78
221
Tabela 6.10 – Correlações estatísticas em função da umidade (W%) e do índice de
vazios inicial (e0) solos orgânicos e argilas moles do Recife (COUTINHO et al., 2000)
Solo Correlação Equação r2 Desvio-padrão
e0 vs. W(%) e0 = 0.024 W + 0.1410 0.98 0.14
Argilas orgânicas CC vs. W(%) CC = 0.014 W - 0.0940 0.82 0.26
W ≤ 200 % CC vs. e0 CC = 0.586 e0 - 0.165 0.84 0.25
e0 ≤ 4.0 CS vs. W(%) CS = 0.0019 W + 0.0043 0.80 0.04
CS vs. e0 CS = 0.084 e0 - 0.0086 0.81 0.04
e0 vs. W(%) e0 = 0.012 W + 2.230 0.88 0.68
Solos orgânicos/turfas CC vs. W(%) CC = 0.0040 W + 1.738 0.52 0.54
W ≥ 200% CC vs. e0 CC = 0.411 e0 + 0.550 0.79 0.45
e0 ≥ 4.0 CS vs. W(%) CS = 0.0009 W + 0.1590 0.53 0.12
CS vs. e0 CS = 0.055 e0 - 0.0900 0.62 0.10
Figura 6.78 – Correlação estatística – índice de vazios inicial (e0) em função da
umidade inicial (W%) (COUTINHO et al., 2000)
222
6.10 Correção de SCHMERTMANN (1955)
SCHMERTMANN (1955) propôs uma correção da curva edométrica experimental para
levar em conta o amolgamento e obter a curva de campo. A Figura 6.79 ilustra
esquematicamente este procedimento, que segue as seguintes etapas:
1. A partir do índice de vazios inicial (e0) traçar uma reta horizontal até atingir a
tensão vertical efetiva de campo (σ’V0);
2. Traçar uma paralela ao trecho de descarregamento do ensaio passando pelo
ponto (e0 , σ’V0);
3. Adotar um valor da tensão de pré-adensamento (σ’Vm) igual ou superior ao
obtido no ensaio e marcar este valor na reta paralela da etapa 2;
4. Traçar uma linha reta a partir do ponto marcado na etapa 3 até o ponto da curva
ou seu prolongamento correpondente ao índice de vazios igual a 0,42 e0.
5. Calcular as diferenças entre os índices de vazios da curva experimental e
corrigida, plotando os valores em função do log σ’V. Se o valor da tensão de pré-
adensamento estiver correto o gráfico da diferença será simétrico em relação à
σ’Vm. Caso contrário adotar outro valor para σ’Vm e repetir as etapas 3 a 5.
Foi feita a correção de SCHMERTMANN (1955) nas curvas de boa, má qualidade e
construídas pelo ábaco para as três argilas (Sarapuí, Ibura e Juturnaíba), analisadas no
item 6.9. As Figuras 6.80 a 6.87 apresentam as curvas experimentais, as construídas
pelo ábaco e as corrigidas. Para analisar quantitativamente a correção nos parâmetros
σ’Vm, CC1 e Cr foi calculada a relação entre o parâmetro corrigido e o parâmetro não
corrigido. A Tabela 6.11 apresenta os parâmetros obtidos das curvas experimentais,
construídas pelo ábaco e corrigidas por SCHMERTMANN (1955), bem como as
relações entre os parâmetros corrigidos e não corrigidos. De uma maneira geral os
parâmetros são corrigidos entre 8 e 68%, com algumas exceções que são a tensão de
pré-adensamento e o índice de compressão da curva de má qualidade do Ibura e o índice
de recompressão da curva de boa qualidade de Sarapuí. Retirando as amostras de má
qualidade as correções médias e as faixas de variação para cada parâmetro são:
• Tensão de pré-adensamento σ’Vm : média de 25% para mais e faixa de 8-39%
• Índice de compressão CC1: média de 16% para mais e faixa de 8-26% e
223
• Índice de recompressão Cr : média de 20% para menos e faixa de –68 a +50%.
Vale registrar que JAMIOLKOWSKI et al. (1985) citam que a correção aumenta
tipicamente entre 10 e 20% o valor do índice de compressão CC , para amostras de boa
qualidade de argilas moles e médias. Nas argilas estudadas nesta tese os resultados
obtidos para as amostras de boa qualidade, situam-se dentro desta faixa (8-16%).
Dando prosseguimento ao estudo do item 6.9 e para avaliar o potencial do ábaco para
construção de curvas edométricas foi avaliado o efeito da correção de
SCHMERTMANN (1955) nas curvas de boa, má qualidade e construídas pelo ábaco,
através da estimativa da relação entre a tensão de pré-adensamento das outras curvas e a
tensão de pré-adensamento da curva de boa qualidade corrigida por SCHMERTMANN
(1955), que foi tomada como referência. O mesmo foi feito para o índice de compressão
do primeiro trecho reto (CC1). A Tabela 6.12 apresenta as relações encontradas.
Analisando os dados desta tabela pode-se constatar que as relações de σ’Vm e CC1 das
curvas construídas pelo ábaco corrigidas por SCHMERTMANN (1955), variam entre
0,72 e 0,95 para σ’Vm e 0,67 e 1,11 para CC1. Isto significa que as curvas construídas
pelo ábaco e corrigidas pela metodologia de SCHMERTMANN (1955), conseguem
reproduzir estes parâmetros em pelo menos 67% do seu valor corrigido a partir de
curvas experimentais de boa qualidade, sendo os resultados bem superiores a uma
amostra de má qualidade. A correção ainda aproxima as curvas de boa qualidade e
construídas pelo ábaco. Vale salientar que a correção de SCHMERTMANN (1955) tem
o objetivo de obter a curva de campo, enquanto o ábaco proposto tem o objetivo de
construir curvas equivalentes às de boa qualidade experimentais, que não estão livres de
amolgamento ainda que pequeno. Por este motivo as curvas corrigidas pela metodologia
de SCHMERTMANN (1955) situam-se sempre acima das curvas de boa qualidade e
consequentemente das curvas construídas a partir do ábaco proposto.
Alguns autores recomendam que correção de SCHMERTMANN (1955) seja feita,
como é o caso de WINTERKORN e FANG (1975) e JAMIOLKOWSKI et al. (1985),
enquanto LUNNE et al. (1997) apenas citam a sua existência sem detalhar nem
recomendar o seu uso.
224
Figura 6.79 – Procedimento esquemático para correção de SCHMERTMANN (1955)
225
Figura 6.80 – Curva edométrica de má qualidade e corrigida pela metodologia de
SCHMERTMANN (1955) - Argila de Sarapuí (Prof. 6,5-7,0 m)
Figura 6.81 – Curva edométrica de boa qualidade e corrigida pela metodologia de
SCHMERTMANN (1955) - Argila de Sarapuí (Prof. 6,5-7,0 m)
226
Figura 6.82 – Curva edométrica construída pelo ábaco e corrigida pela metodologia
SCHMERTMANN (1955) – argila do Sarapuí
Figura 6.83 – Curva edométrica de má qualidade e corrigida pela metodologia de
SCHMERTMANN (1955) - Argila do Ibura (Prof. 7,0 – 7,8 m)
227
Figura 6.84 – Curva edométrica de boa qualidade e corrigida pela metodologia de
SCHMERTMANN (1955) - Argila do Ibura (Prof. 7,8 – 8,5 m)
Figura 6.85 – Curva edométrica construída pelo ábaco e corrigida pela metodologia de
SCHMERTMANN (1955) - Argila do Ibura
228
Figura 6.86 – Curva edométrica de boa qualidade e corrigida pela metodologia de
SCHMERTMANN (1955) - Argila de Juturnaíba (Prof. 3,25-3,50 m)
Figura 6.87 – Curva edométrica construída pelo ábaco e corrigida pela metodologia de
SCHMERTMANN (1955) - Argila de Juturnaíba
229
Tabela 6.11 – Relação entre os parâmetros geotécnicos corrigidos por
SCHMERTMANN (1955) e não corrigidos (curvas experimentais de boa e má
qualidade e construídas pelo ábaco)
Argila Curva σσ’Vm
corrigido
(kPa)
CC1
corrigido
Cr
corrigido
σσ’Vm
corr/σσ’Vm
não corrigido
CC1 corr/
CC1 não
corrigido
Cr corrigido/
Cr não
corrigido
Boa
qualidade
42 2,90 0,33 1,077 1,16
2,75*
Sarapuí Má
qualidade
25 1,64 - 1,19 1,46* -
Construída
pelo
ábaco
40 1,94 0,33 1,33 1,21 1,5
Boa
qualidade
55 2,75 0,2 1,28 1,08 1,25
Ibura Má
qualidade
42 1,96 0,22 3,82* 2,06* 0,32
Construída
pelo
ábaco
40 2,14 0,2 1,25 1,16 0,40
Boa
qualidade
40 2,24 0,23 1,21 1,10 0,85
Juturnaíba Construída
pelo
ábaco
32 2,49 0,23 1,39 1,26 0,48
Faixa de variação - - - 1,08-1,39 1,08-1,26 0,32-1,5
Média - - - 1,25 1,16 0,80
* Valores não incluídos na média
230
Tabela 6.12 - Parâmetros geotécnicos obtidos das curvas corrigidas pela metodologia de
SCHMERTMANN (1955) (experimentais de boa e má qualidade e construídas pelo
ábaco)
Argila Curva σσ’Vm (kPa) CC1 Cr σσ’Vm/ σ σ’Vm
,boa corrigida
CC1/ CC1,
boa corrigida
Boa
qualidade
42 2,90 0,33 1 1
Sarapuí Má
qualidade
25 1,64 - 0,75 0,59
Construída
pelo ábaco
40 1,94 0,33 0,95 0,67
Boa
qualidade
55 2,75 0,2 1 1
Ibura Má
qualidade
42 1,96 0,22 0,76 0,71
Construída
pelo ábaco
40 2,14 0,2 0,72 0,78
Boa
qualidade
40 2,24 0,23 1 1
Juturnaíba Construída
pelo ábaco
32 2,49 0,23 0,80 1,11
231
CAPÍTULO 7 APLICAÇÃO PRÁTICA: QUALIDADE DA AMOSTRA E
ESTIMATIVA DE RECALQUE 7.1.Introdução
Este capítulo aborda aspectos de uma aplicação prática ligada ao tema estudado. Esta
aplicação diz respeito à influência da qualidade da amostra de argilas moles na
estimativa de recalque de edificações, especialmente na Cidade do Recife. Este assunto
foi abordado por SILVA et al. (2000), GUSMÃO (2000), OLIVEIRA (2000) E
GUSMÃO et al. (2000).
A Cidade do Recife, localizada na costa nordestina brasileira, é uma das capitais onde se
tem verificado um dos maiores níveis de atividade do mercado imobiliário. A prática
atual mostra a construção de prédios cada vez mais altos, chegando a atingir até 45
lajes. Ao mesmo tempo, é sabido que a cidade possui um subsolo reconhecidamente
complexo do ponto de vista geotécnico, dificultando sobremaneira o projeto e execução
de fundações para as edificações.
A cidade está localizada na planície flúvio-marinha formada pela junção dos Rios
Capibaribe e Beberibe, e se desenvolve entre a praia e os morros na sua periferia
(Formação Barreiras). A influência geológica recente mais importante sobre as
características da Planície do Recife foi o avanço e recuo do mar. Há dois terraços
marinhos identificados na planície, que correspondem à penúltima e última transgressão
marinha (terraços marinhos pleistocênico e holocênico, respectivamente). No domínio
destes terraços, encontram-se depósitos flúvio-lagunares e depósitos de mangues, em
zonas baixas, separando os dois terraços ou estes das bordas da Formação Barreiras.
Antigos canais de maré, que cortam a continuidade do terraço pleistocênico, ligam os
terraços e se caracterizam pelo depósito de sedimentos finos e não consolidados
(GUSMÃO FILHO, 1998).
Tudo isto faz com que sejam encontrados em boa parte da planície, espessos depósitos
de argilas moles, cujas propriedades geotécnicas vêm sendo sistematicamente
pesquisadas pela Área de Geotecnia-DEC/UFPE, resultando em um Banco de Dados de
232
laboratório e de campo(COUTINHO e OLIVEIRA, 1994; COUTINHO et al., 1998;
COUTINHO et al., 2000).
Por outro lado, a complexidade do subsolo da cidade levou à pesquisa e
desenvolvimento de técnicas locais de melhoramento, tanto em profundidade quanto em
superfície, de depósitos de areias fofas, com o objetivo de se ter fundações mais
afastadas das camadas moles (GUSMÃO FILHO e GUSMÃO, 1994). Também houve
um grande avanço nas pesquisas sobre interação solo-estrutura, onde se considera o
efeito da rigidez dos edifícios na previsão dos recalques, havendo significativa redução
dos recalques diferenciais (GUSMÃO, 1990). Estas pesquisas naturalmente
favoreceram uma cultura no meio técnico local da importância do monitoramento dos
recalques dos prédios durante todo o período construtivo, e mesmo após a sua ocupação
por moradores. O monitoramento de recalques é atualmente considerado na cidade
como um controle tecnológico como outro qualquer, sem que isto represente uma
depreciação do imóvel.
É importante ressaltar que estas duas linhas de pesquisa se desenvolveram praticamente
de modo paralelo, ou seja, sem haver uma relação entre os parâmetros das argilas moles
e as medições de recalques de edifícios. Este estudo tem como objetivo correlacionar
estas duas linhas de pesquisa, enfatizando especialmente a influência da qualidade das
amostras das argilas moles na obtenção dos seus parâmetros de compressibilidade e,
consequentemente, na previsão de recalques de edifícios (OLIVEIRA, 2000).
Será apresentado um caso de medições de recalque de um edifício de 15 andares, em
que as deformações verticais são basicamente devidos ao adensamento da camada de
argila mole do subsolo. Comparações são feitas com recalques estimados considerando
a influência da qualidade da amostra. Este estudo faz parte de uma pesquisa conjunta
com a empresa Gusmão Engenheiros Associados através do Prof. Alexandre Gusmão.
7.2. Edifício analisado
O edifício estudado foi descrito por GUSMÃO FILHO et al. (1999) e consiste de uma
estrutura de concreto armado com 15 lajes e 17 pilares, cujas cargas verticais variam
entre 1510 e 5770 kN. A Figura 7.1 apresenta o perfil do subsolo do terreno que situa-se
no bairro de Boa Viagem. Foi executado um melhoramento da camada superficial de
233
areia, utilizando estacas de compactação. A previsão dos recalques foi realizada a partir
de resultados de ensaios edométricos em amostras de argila mole obtidas entre 10 e 25
metros de profundidade, utilizando a Teoria de Adensamento de Terzaghi. A argila
apresenta baixa plasticidade (IP = 20-25%). A umidade natural está situada entre 40 e
48%, enquanto o limite de liquidez é de 54% em média. Foram utilizados amostradores
Shelby de parede fina com diâmetro de 100 mm e razão de área igual a 5%. A Figura
7.2 apresenta as curvas de adensamento das amostras coletadas, a Tabela 7.1 mostra os
parâmetros adotados na previsão e a Figura 7.3 apresenta os recalques estimados sem
considerar a Interação Solo-Estrutura ISE (GUSMÃO FILHO et al., 1999).
Figura 7.1 – Perfil geotécnico do subsolo (GUSMÃO FILHO et al., 1999)
234
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1 10 100 1000
Tensão Vertical (KPa)
0.6
0.7
0.8
0.9
1
1.1
1.2
1.3
1.4
1.5
índ
ice
de
vazi
os
(e)
Am. 1/Prof. 10,70 mAm. 2/Prof. 13,15 mAm. 3/Prof. 19,60 m
)
'
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Figura 7.2 – Curvas de adensamento das amostras coletadas (OLIVEIRA,2000)
Tabela 7.1 – Parâmetros de compressibilidade da argila mole adotados na previsão de
recalque – (GUSMÃO FILHO et al., 1999)
Prof. (m) σ’vo (kPa) eo Cc Cs OCR
10-12 110 1,23 0,57 0,05 1,20
12-14 125 1,10 0,26 --- 1,00
14-18 143 1,00 0,16 --- 1,00
18-25 176 1,26 0,48 --- 1,00
A amostra 1 é classificada como pobre e as amostras 2 e 3 são classificadas
como muito pobres, segundo o critério de LUNNE et al. (1997). Todas as amostras
portanto apresentam alto grau de amolgamento.
Para monitorar o desempenho da edificação, foram instalados pinos de recalque
em todos os pilares. As leituras de referência foram feitas em junho de 1996. Até maio
de 2000 10 medições de recalque foram feitas durante o período de construção e 3 após
o prédio ter sido habitado. A Figura 7.4 apresenta as curvas de isorecalques medidos
para a 11ª leitura. Nota-se que existe uma discrepância entre os valores estimados
235
(Figura 7.3) e medidos. A Tabela 7.2 apresenta a relação entre valores medidos e
estimados para alguns pilares, considerando a 13ª medição datada de 08 de maio de
2000.
Figura 7.3–Planta de fundação com recalques estimados (GUSMÃO FILHO et al.,1999)
Tabela 7.2 – Relação recalque medido/recalque estimado – 13ª medição
Pilar Recalque medido/recalque estimado
P4 0,84
P5 0,79
P8 0,84
P9 0,53
P10 0,55
P11 0,68
P15 0,76
236
Figura 7.4 – Curvas de isorecalques – (GUSMÃO FILHO et al., 1999)
Os valores desta relação variam entre 0,53 e 0,84, sendo os valores mínimos referentes
aos pilares do centro e os valores máximos aos pilares da periferia. A Figura 7.5 ilustra
a Tabela 7.2, apresentando a curva recalque medido versus recalque estimado. Ressalta-
se que os recalques não estão ainda totalmente estabilizados , mas a velocidade de
recalque atualmente é pequena (faixa de 38 µm/dia). Nos primeiros 500 dias, esta
velocidade estava na faixa de 91 µm/dia, enquanto na 11ª leitura era de 78 µm/dia. A
Figura 7.6 mostra a tendência de estabilização desta velocidade.
237
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40 60 80 100 120 140 160 180 200
Recalque estimado (mm)
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60
80
100
120
140
160
180
200
Rec
alqu
e m
edid
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m)
10a. leitura 12a. leitura Reta 1:1 13a. leitura' ) #
Pilares do centro
Figura 7.5 – Recalques medidos x recalque estimados
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0 200 400 600 800 1000 1200
Tempo (dias)
0
20
40
60
80
100
Rec
alqu
e m
edid
o (m
m)
Média Pilar P6-Máxima Pilar P15-Mínima, ) '
Figura 7.6 – Recalques medidos em função do tempo (modificada de GUSMÃO FILHO
et al.,1999)
7.3. Reavaliação dos recalques estimados
7.3.1.Influência do Método de Cálculo
Existem dois métodos para estimativa dos recalques: analítico e gráfico. Neste item será
apresentado um estudo comparativo entre estes métodos utilizando-se resultados de
238
amostras de boa e má qualidade coletadas no depósito do SESI-Ibura em Recife. Este
depósito é um dos locais de pesquisa da Área de Geotecnia da UFPE , onde várias
campanhas de ensaios de laboratório e de campo já foram realizadas ( ver PEREIRA,
1997; COUTINHO et al. 1998c; COUTINHO et al., 1999; OLIVEIRA, 2000). Estes
estudos fazem parte de um Projeto integrado de Pesquisa do CNPq, cujo título é :
“Engenharia Geotécnica de Encostas e Planície”, coordenado pelo Prof. Roberto
Coutinho.
As amostras de má qualidade foram coletadas com amostradores Shelbies de 100 mm
de diâmetro, enquanto as amostras consideradas de boa qualidade foram coletadas
utilizando amostradores com diâmetro de 111 mm e dotados de pistão estacionário
desenvolvido na UFPE (ver PEREIRA, 1997).
Foram então estimados os recalques através dos dois métodos, fazendo-se variar a
tensão final aplicada ao solo. SILVA e COUTINHO (1999) apresentaram as curvas de
variação dos recalques dividido pela espessura inicial (R/Ho) versus a variação da
tensão final que são reproduzidas nas Figuras 7.7 e 7.8 . Nota-se que não há diferença
considerável entre os dois métodos .
0.0000
0.0500
0.1000
0.1500
0.2000
0.2500
0.3000
0.3500
0.4000
0 200 400 600 800
Tensão Final (kPA)
Rec
alq
ue
(R/H
o)
Recalque - GráficoRecalque - Fórmula
Figura 7.7 – Curvas recalque versus tensão final – métodos gráfico e analítico para
amostra de boa qualidade – prof. 18,05-18,90 m (SILVA e COUTINHO, 1999)
239
0
0.05
0.1
0.15
0.2
0.25
0 50 100 150 200
Tensão Final (kPA)
Rec
alq
ue
(R/H
o)
Recalque - GráficoRecalque - Fórmula
Figura 7.8 - Curvas recalque versus tensão final – métodos gráfico e analítico para
amostra de má qualidade – prof. 18,00-18,80 m (SILVA e COUTINHO, 1999)
7.3.2. Influência da qualidade da amostra
A qualidade da amostra influencia diretamente o cálculo do recalque, pois a forma da
curva edométrica será fortemente afetada. Consequentemente, todos os parâmetros
geotécnicos obtidos a partir desta curva serão modificados. Mesmo utilizando-se o
método gráfico, que prescinde da estimativa de parâmetros, o cálculo de recalque é
alterado.
Com o objetivo de investigar sistematicamente este efeito, foi realizado um estudo
paramétrico, considerando amostras de boa e má qualidade, utilizando-se diversos
procedimentos.
O recalque foi estimado através do método analítico de 3 maneiras diferentes:
1) a partir de amostras de boa qualidade
2) a partir de amostras de má qualidade
3) corrigindo o Cc de amostras de má qualidade a partir de correlações com o valor da
umidade natural e sem corrigir a tensão de pré-adensamento (COUTINHO et al.,
1998b).
A Figura 7.9 foi apresentada por SILVA e COUTINHO (1999) e mostra uma destas comparações. Nota-se o seguinte:
240
1) o valor do recalque é sempre maior no caso da amostra de má qualidade com o Cc
corrigido pela correlação;
2) o valor do recalque calculado diretamente a partir da amostra de má qualidade sem
correção é sempre maior do que o valor obtido pela amostra de boa qualidade. A
diferença é maior para menores valores de tensão aplicada. Para valores altos de
tensão, acima de 400 kPa, a diferença diminui, pois ocorre a desestruturação da
amostra de boa qualidade. A diferença é mais significativa na faixa de tensão abaixo
de 200 kPa, que é a faixa de trabalho para a grande maioria das edificações em
Recife, podendo chegar a até 100 % .
Pode-se concluir que a correção da curva da amostra de má qualidade apenas para o Cc,
sem corrigir a tensão de sobre-adensamento, conduz a valores superestimados de
recalque e a projetos superdimensionados.
A utilização de amostras de má qualidade diretamente conduz a valores muito diferentes
dos obtidos por amostras de boa qualidade. Ainda assim, o erro causado tende a ser
menor do que utilizar correlações que corrigem apenas o índice de compressão Cc e não
a tensão de sobre-adensamento. Ressalta-se então a importância do parâmetro σ’vm no
cálculo de recalque. A monitoração de recalques de edificações sugere que é melhor
utilizar resultados experimentais, mesmo de amostras de má qualidade, do que recorrer
a métodos de correção incompletos. Na literatura existem correlações para obter a
tensão de pré-adensamento a partir de propriedades índices, tais como o índice de
liquidez IL. Uma correlação deste tipo foi desenvolvida por DeGROOT et al. (1999)
para argilas offshore do Norte da Europa. A correlação tem a seguinte expressão:
σ’vm = 10 (2,90 – 0,96IL) (kPa) (7)
Comentam os autores que foi utilizando o método de regressão dos mínimos
quadrados, conforme STAS e KULHAWY (1984) e que a tensão de sobre-adensamento
é estimada a partir da construção de Casagrande.
241
Figura 7.9 – Curvas de recalque versus tensão final comparativas– amostras de boa , má qualidade e utilizando correlações – prof. 16,50 – 17,30 m
7.3.3.Considerações sobre a igualdade Cr e Cs
Algumas hipóteses simplificadoras são adotadas na estimativa dos recalques. Uma delas
é a adoção do índice de recompressão (Cr) igual ao índice de expansão (Cs), obtidos no
ensaio edométrico tradicional. A hipótese normalmente é adotada para evitar o trecho
inicial da curva de adensamento que é muito sensível ao amolgamento. Entretanto, esta
hipótese pode levar a erros muito grandes, pois em argilas estruturadas a diferença entre
os índices pode ser muito grande, chegando a apresentar a relação Cs/Cr o valor igual a
3, na argila mole do Recife (Clube Internacional). A Figura 7.10 apresenta resultados de
curvas edométricas para esta argila mole, com amostras de diferentes qualidades
(Oliveira et al., 2000). A Tabela 7.3 mostra os valores obtidos a partir destas curvas para
Cr, Cs e da relação Cs/Cr. A diferença entre os índices ocorre porque no
descarregamento do ensaio edométrico a amostra de solo está desestruturada por
compressão e apresentará uma curva de inchamento que não é paralela à curva inicial de
recompressão (Ver LEROUEIL e VAUGHAN, 1990). No trecho inicial de
recompressão, ainda não houve a desestruturação, pois o nível de tensão é baixo.
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0 200 400 600 800
Tensão Final (kPA)
Rec
alq
ue
(R/H
o)
Boa qual. - p. experimentalmá qual. - p. correlaçãomá qual. - p. experimental
242
Logicamente em amostras amolgadas a diferença tende a ser menor, pois um dos efeitos
do amolgamento é aumentar a inclinação do trecho de recompressão. A estimativa de
recalque será afetada proporcionalmente à diferença.
Figura 7.10 – Curvas edométricas comparativas de amostras obtidas de diferentes
formas – ensaio incremental – Argila mole de Recife (OLIVEIRA et al., 2000)
Tabela 7.3 – Índices de recompressão e expansão – Argila mole do Recife – Clube
Internacional
Amostra Prof. (m) Cs Cr Cs/Cr
Shelby-100mm 13,00-13,75 0,17 0,15 1,13
Sherbrooke 12,90-13,20 0,20 0,067 2,98
7.3.4.Efeito da Velocidade de Deformação
A velocidade de deformação vertical é diferente no campo e em laboratório. A
velocidade no laboratório tende a ser maior do que no campo. LEROUEIL (1994)
comenta as faixas típicas destas velocidades. Enquanto no laboratório a velocidade varia
entre 5 x 10-8 e 5 x 10-6 s-1, a velocidade no campo varia entre 5 x 10-12 e 10-8 s-1. O
243
autor comenta ainda que a velocidade de deformação no ensaio edométrico
convencional no final do estágio de carregamento é da ordem de 10-7 s-1 , enquanto nos
ensaios CRS está entre 1 x 10-6 e 4 x 10-6 s-1. A influência do tempo e,
consequentemente, da velocidade de deformação na compressibilidade de argilas tem
sido abordada por décadas (TAYLOR, 1942; CRAWFORD, 1965; BJERRUM, 1967),
segundo LEROUEIL (1994). Esta diferença na velocidade de deformação é refletida em
diferentes comportamentos tensão-deformação: campo x laboratório. A tensão de sobre-
adensamento por exemplo é fortemente influenciada pela velocidade. Vários autores
têm estudado este efeito, entre eles: LEROUEIL et al. (1985), KABBAJ (1985),
MARQUES (1996), BOUDALI et al. (1994). LEROUEIL et al. (1988) apresentam uma
comparação esquemática para curvas tensão-deformação típicas de campo (aterros sobre
solos moles) e de laboratório. Os autores comentam que a diferença nas curvas é devida
à diferença na velocidade de deformação e que existe um valor de deformação
específica que deve ser somada à curva de laboratório para se obter a curva de campo. A
Figura 7.11 ilustra estes comentários. A diferença nas curvas pode também ser atribuída
à fluência do solo.
Figura 7.11 – Curvas tensão-deformação – Laboratório e campo (LEROUEIL et al.,
1988)
244
Neste item será considerada uma interpretação de medições de recalque como um
ensaio edométrico no campo. Para isso será introduzido o conceito de curvas
normalizadas tensão-deformação de sapatas. A normalização é feita considerando-se a
relação entre o recalque em uma determinada tensão aplicada correspondente a uma
dada medição, dividido pelo recalque máximo para cada sapata.
A Figura 7.12 apresenta curvas tensão-deformação normalizada considerando-se vários
pilares de um caso de um edifício de 15 pavimentos em Recife obtidas a partir dos
dados apresentados por GUSMÃO FILHO et al. (1999), comparada com uma curva
tensão-deformação normalizada obtida em laboratório. Os valores intermediários foram
obtidos a partir de leituras de recalque ao longo da construção do prédio. Foi adotada a
tensão vertical na cota de fundação. A idéia desta interpretação é analisar leituras de
recalque como um ensaio de adensamento no campo, com as devidas ressalvas em
termos de condições de contorno, principalmente o fato da drenagem ser parcial em
cada carregamento. Nota-se que as curvas de campo apresentam um comportamento
esquemático apresentado por LEROUEIL et al. (1988), embora este autor não tenha
trabalhado com deformações normalizadas e nem com fundação superficial de edifícios,
mas com casos de aterros sobre solos moles.
,
,
, ,
,
,
,
,
,
,
,
,
,
, ,
,
,
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,
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''
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)
)
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
reca
lque
med
ido
norm
aliz
ado
1 10 100 1000
Tensão Vertical (kPa)
Pilar P9+P6+P7+P10
lab.lab.MédiaPilar P17
Pilar P16Pilar P4Pilar P13
)'',,,,,
Figura 7.12 - Curvas tensão vertical versus recalque normalizado – Edifício analisado
versus laboratório - Recife - PE
245
A partir da Figura 7.12 , observa-se que ocorre o escoamento no campo, ou seja, existe
uma tensão de escoamento ou de sobre-adensamento que separa 2 tipos de
comportamento, com diferentes inclinações na curva tensão-deformação. O escoamento
neste caso é uma desestruturação devida à compressão. Um caso de desestruturação no
campo foi apresentado por LEROUEIL e VAUGHAN (1990), citando BURLAND
(1989), para a fundação de um silo.
O escoamento no campo ocorre em um nível de deformação normalizada menor em
relação ao laboratório. Enquanto no campo a desestruturação ocorre em torno de 0,1 de
deformação normalizada, no laboratório este valor sobe para 0,2. A contínua medição
de recalques pode possibilitar a identificação destes níveis de tensão para as argilas do
Recife. É importante lembrar que no campo ocorre drenagem parcial em cada
carregamento aplicado.
7.4. Efeito da correção da tensão de pré-adensamento no recalque estimado
Para analisar a influência da tensão de pré-adensamento na estimativa de recalque, foi
utilizada a correção proposta no tem 6.8 desta tese. Os novos valores da tensão de pré-
adensamento foram apresentados na Tabela 6.3 do capítulo anterior (item 6.8). Os
recalques foram então estimados novamente. A Figura 7.13 apresenta uma comparação
entre recalques medidos versus estimados com e sem correção da tensão de pré-
adensamento. Nota-se que corrigindo a tensão de pré-adensamento, os valores dos
recalques medidos e estimados se aproximam. A correção da tensão de pré-adensamento
faz com que ocorra uma diminuição no recalque estimado, pois parte deste recalque está
agora situado no trecho pré-adensado, levando a deformações menores. No caso da
estimativa sem a correção, o efeito do amolgamento diminui a tensão de pré-
adensamento, o que leva à consideração da condição normalmente adensada em projeto.
Este exemplo mostra de forma prática, a influência da qualidade da amostra no
comportamento tensão-deformação de uma argila mole.
246
Figura 7.13 – Recalques medidos versus estimados com e sem correção da tensão de
pré-adensamento – edifício analisado
247
CAPÍTULO 8 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS
8.1.Conclusões
A presente tese apresentou a primeira campanha de amostragem Sherbrooke realizada
no Brasil. Apresentou também resultados de ensaios de laboratório nas amostras
coletadas por este amostrador, bem comparação com resultados de amostras coletadas
por amostradores tubulares. Os corpos de prova foram avaliados em termos de
qualidade a partir de critérios da literatura. Vale ressaltar a importância do tema na
engenharia geotécnica para elaboração de projetos e a contribuição desta pesquisa no
acúmulo de experiência no tocante à amostragem de alta qualidade em argilas moles
brasileiras.
As principais conclusões estão listadas a seguir.
a) Foi possível a coleta de amostras Sherbrooke nas argilas plásticas brasileiras, apesar
da amostragem apresentar maiores dificuldades operacionais em relação à
amostragem convencional tubular. A maior destas dificuldades é a abertura de um
pré-furo de 450 mm de diâmetro.
b) Os amostradores tubulares de grande diâmetro (100 a 127 mm) utilizados no Brasil
e analisados nesta tese apresentam dimensões e geometrias adequadas. Pode-se
destacar: a razão de área, o ângulo suave da sapata de corte e a não existência de
folga interna, os quais permitem a obtenção de amostras de boa qualidade.
c) A proposta de LUNNE et al. (1997) em relação à qualidade das amostras pode ser
adaptada para avaliação de argilas plásticas e orgânicas brasileiras. Uma proposta de
adaptação desta Tabela foi apresentada no Capítulo 6, em função dos resultados
obtidos, incluindo as amostras Sherbrooke.
248
d) Foi adaptada uma proposta de classificação da qualidade das amostras de argila,
baseada nos estudos de HONG e ONITSUKA (1998).
e) A qualidade das amostras Pistão 100 mm e Sherbrooke coletadas nesta tese é
equivalente para as argilas do Rio. Em alguns casos a amostra Sherbrooke apresenta
qualidade inferior, o que se deve principalmente à baixa consistência e alta
plasticidade da argila.
f) As amostras Sherbrooke apresentam, em geral, qualidade equivalente ou levemente
superior em relação à amostras Shelby 100 mm, na argila do Recife. Ambos
amostradores apresentam qualidade bastante superior em relação ao amostrador
Shelby de 60 mm utilizado por AMORIM JR. (1975). A plasticidade menor e a
maior consistência desta argila em relação à do Rio de Janeiro deve ser levada em
conta.
g) As amostras Sherbrooke apresentam uma variabilidade menor em relação à
qualidade, entretanto a sua relação custo/benefício não justifica a utilização deste
amostrador para projetos práticos nas argilas ensaiadas.
h) A curva de escoamento da argila do Recife sofre um encolhimento em função do
amolgamento, confirmando outros resultados da literatura.
i) A estruturação da argila do Recife é maior em comparação à argila do Rio de
Janeiro, segundo o critério de BURLAND (1990). Consequentemente a argila do
Recife seria mais sensível ao amolgamento.
j) As amostras Sherbrooke e Shelby 100 mm conservaram a estruturação do solo de
maneira mais eficiente que o amostrador Shelby 60 mm utilizado por AMORIM JR.
(1975) na argila mole de Recife.
249
k) O armazenamento das amostras Sherbrooke em laboratório após um longo tempo (2
a 3 anos) causou ressecamento e conseqüente estruturação na argila.
l) O transporte das amostras Sherbrooke e Pistão 100 mm, por via terrestre, do Rio de
Janeiro para Recife não afetou a qualidade destas amostras de maneira significativa
no ensaio edométrico. No ensaio triaxial UU a resistência variou 27%, mantendo,
entretanto, o formato da curva tensão-deformação e a deformação de ruptura.
m) Na argila do Recife, o método de moldagem de um corpo de prova (cravação de anel
ou corte com fio de aço) alterou a avaliação da qualidade da amostra a partir de
resultados de corpos de prova ensaiados em laboratório, utilizando o critério de
LUNNE et al. (1997). Em média a deformação volumétrica correspondente às
tensões de campo (εv0) é igual a 2% para ensaios triaxiais CIU-C e igual a 5,5% para
ensaios edométricos.
n) Foi proposto um ábaco para construção de famílias de curvas edométricas em
função do índice de vazios inicial (e0). Este ábaco pode ser utilizado em anteprojetos
e/ou na complementação de informações do projeto final. As curvas construídas
reproduzem os parâmetros geotécnicos (σ’Vm , CC1 e Cr) em pelo menos 64% a 70%
do valor experimental para curvas de boa qualidade apresentadas, sendo os
resultados muito superiores aos parâmetros das curvas de má qualidade, nas argilas
analisadas (Sarapuí, Ibura e Juturnaíba).
o) Foi realizado um estudo sobre os efeitos da correção de SCHMERTMANN (1955)
nos parâmetros da curva edométrica, usando como exemplos curvas experimentais e
construídas pelo ábaco proposto das argilas de Sarapuí, Ibura e Juturnaíba.
Retirando as amostras de má qualidade as correções médias e faixas para cada
parâmetro são:
• Tensão de pré-adensamento σ’Vm : média de 25% para mais e faixa de 8-39%
• Índice de compressão CC1: média de 16% para mais e faixa de 8-26%
• Índice de recompressão Cr : média de 20% para menos e faixa de –68 a +50%.
250
p) Um exemplo prático mostrou que a tensão de pré-adensamento altera as diferenças
entre recalques por adensamento primário medidos e estimados.
8.2. Sugestões para futuras pesquisas
Algumas sugestões para pesquisas futuras são citadas a seguir:
a) Realizar uma campanha de amostragem Pistão 110 mm na argila mole do Recife;
b) Desenvolver um amostrador Sherbrooke de pequeno diâmetro (100 a 120 mm) para
facilitar a abertura do pré-furo e aproveitar a forma de coleta por rotação deste
amostrador, que evita a cravação de um tubo;
c) Aprofundar os estudo de estruturação das argilas moles brasileiras, a partir da
metodologia de BURLAND (1990);
d) Realizar um estudo mais detalhado sobre o efeito do armazenamento nas amostras
tubulares de argilas moles brasileiras;
e) Realizar um estudo detalhado sobre a influência da relação diâmetro do corpo de
prova/diâmetro da amostra em amostradores tubulares;
f) Dar continuidade ao estudo de aplicação do ábaco proposto para construção de
curvas edométricas, analisando outras argilas brasileiras.
g) O grande desafio, na opinião do autor desta tese, é como transferir estes
conhecimentos adquiridos na Universidade para a Indústria da Construção Civil.
251
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