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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO A (IN)DISPENSABILIDADE DO INQUÉRITO POLICIAL PARA O OFERECIMENTO DA DENÚNCIA E QUEIXA-CRIME NOS PROCESSOS JUDICIAIS NAS COMARCAS DO VALE DO TAQUARI EM 2008 Caroline Sangalli Lajeado, junho de 2009

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES

CURSO DE DIREITO

A (IN)DISPENSABILIDADE DO INQUÉRITO POLICIAL PARA O OFERECIMENTO DA DENÚNCIA E QUEIXA-CRIME NOS

PROCESSOS JUDICIAIS NAS COMARCAS DO VALE DO TAQUARI EM 2008

Caroline Sangalli

Lajeado, junho de 2009

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES

CURSO DE DIREITO

A (IN)DISPENSABILIDADE DO INQUÉRITO POLICIAL PARA O OFERECIMENTO DA DENÚNCIA E QUEIXA-CRIME NOS

PROCESSOS JUDICIAIS NAS COMARCAS DO VALE DO TAQUARI EM 2008

Caroline Sangalli

Monografia apresentada ao Curso de Direito,

como exigência para obtenção do título de

Bacharel em Direito.

Orientadora: Ms. Flávia Colossi Frey

Lajeado, junho de 2009

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“Não seja nunca um pesquisador de

defeitos, todos possuem virtudes. Descobrir

qualidades negativas nos outros é tarefa muito

fácil e está ao alcance de todos, o difícil e o

que não está à altura de todos, é a pesquisa

das qualidades positivas de cada um”. (autor

desconhecido)

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia ao meu avô Agostinho Sangalli, “in memorian”, que,

mesmo não estando presente nesta importante etapa da minha vida, muitas vezes

foi minha fortaleza e fonte de inspiração.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a meus queridos pais, Marcos e Suniva, por

estarem sempre ao meu lado, aconselhando-me e escutando-me. Obrigada pelo

carinho, apoio e bondade que sempre demonstraram, incentivando-me a alcançar

este momento de elevada importância para minha vida.

A minha irmã Bianca, por ceder-me por longas horas seus momentos à frente

do computador e, principalmente, por permitir que seu quarto se transformasse em

uma minibiblioteca durante este período da minha vida.

A meu namorado Glauco, pelo carinho, compreensão e presteza, sempre me

incentivando e me impulsionando à realização deste sonho.

A minha amiga e orientadora, Ms. Flávia Colossi Frey, que contribuiu de

forma significativa para a execução deste trabalho, sempre me estimulando.

Aos colegas e amigos da Câmara Municipal de Vereadores de Encantado,

que em nenhum momento mediram esforços para que eu pudesse chegar ao final

deste trabalho.

A Deus, por ter me dado a vida, a capacidade, serenidade e perseverança

para a realização deste sonho.

A todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para a concretização

desta importante conquista, muito obrigada!

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RESUMO

A presente monografia aborda a (in)dispensabilidade do Inquérito Policial para

o oferecimento da denúncia e queixa-crime nos processos judiciais nas Comarcas do Vale do Taquari em 2008. A doutrina classifica o inquérito policial como mera peça informativa, sem valor probatório e totalmente dispensável para o oferecimento da denúncia ou queixa-crime. Em nosso entendimento, entretanto, o Inquérito Policial é um procedimento eficaz e necessário para o início dos processos. O trabalho inicia descrevendo o Inquérito Policial e seus procedimentos. Além disso, identifica os sistemas processuais penais, bem como os requisitos para a ação penal pública e privada e os casos de oferecimento de denúncia e queixa-crime. Por fim, analisa a (in)dispensabilidade do Inquérito Policial para o oferecimento da denúncia e queixa-crime, com base nos processos judiciais que ingressaram nas Comarcas do Vale do Taquari em 2008, através da realização de uma pesquisa de campo, que se deu com o preenchimento de um questionário, respondido pelo responsável de cada Comarca. PALAVRAS-CHAVE: Inquérito Policial. Ação Penal. Denúncia. Queixa-Crime.

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 01 Número de Comarcas que responderam ao questionário............ 62

GRÁFICO 02 Percentual de processos-crime que ingressaram sem o prévio

inquérito policial no ano de 2008 na Comarca de Arvorezinha.....

63

GRÁFICO 03 Percentual de processos-crime que ingressaram sem o prévio

inquérito policial no ano de 2008 na Primeira Vara Judicial da

Comarca de Estrela.......................................................................

63

GRÁFICO 04 A (in)dispensabilidade do inquérito policial para o início dos

processos-crime............................................................................

64

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Art. Artigo

Arts. Artigos

CF Constituição Federal

CF/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

CP Código Penal

CPM Código Penal Militar

CPP Código de Processo Penal

Dec. Decreto

DJU Diário de Justiça da União

Ex Exemplo

IPM Inquérito Policial Militar

JTJ Jurisprudência do Tribunal de Justiça

LOMN Lei Orgânica da Magistratura Nacional

LONMP Lei Orgânica Nacional do Ministério Público

MP Ministério Público

rel. Relator

RHC Recurso de Habeas Corpus

RISTF Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal

RTJ Revista Trimestral de Jurisprudência

STF Supremo Tribunal Federal

T. Turma

v. u. Votação unânime

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 10

2 O INQUÉRITO POLICIAL................................................................................... 13 2.1 Origem histórica............................................................................................... 14 2.2 Polícia judiciária .............................................................................................. 15 2.3 Inquéritos extrapoliciais ................................................................................... 17 2.4 Finalidade e importância do inquérito policial .................................................. 17 2.5 Competência e atribuição ................................................................................ 19 2.6 Características ................................................................................................ 20 2.7 Instauração do inquérito policial ...................................................................... 21 2.8 Notitia criminis ................................................................................................. 22 2.9 Delatio criminis ................................................................................................ 23 2.10 Início do inquérito policial .............................................................................. 25 2.11 O auto de prisão em flagrante ....................................................................... 26 2.12 Prazos de conclusão do inquérito policial ..................................................... 27 2.13 Conclusão ou encerramento do inquérito policial ......................................... 28 2.14 Arquivamento do inquérito policial ................................................................ 29 2.15 Valor probatório ............................................................................................. 30

3 OS SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS, A AÇÃO PENAL PÚBLICA E PRIVADA E OS CASOS DE OFERECIMENTO DE DENÚNCIA E QUEIXA-CRIME....................................................................................................................

33

3.1 Sistemas processuais penais .......................................................................... 33 3.1.1 Sistema inquisitivo ........................................................................................ 33 3.1.2 Sistema acusatório........................................................................................ 34 3.1.3 Sistema misto................................................................................................ 36 3.2 Ação Penal ...................................................................................................... 37 3.2.1 Ação Penal Pública ...................................................................................... 41 3.2.1.1 Ação Penal Pública Incondicionada .......................................................... 41 3.2.1.2 Ação Penal Pública Condicionada ............................................................ 43 3.2.1.3 Ação Penal Pública Condicionada à Requisição do Ministro da Justiça.... 46 3.2.2 Ação Penal Privada ...................................................................................... 47 3.3 Oferecimento da denúncia e queixa-crime ...................................................... 51 3.3.1 Denúncia....................................................................................................... 51

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3.3.2 Queixa-crime ................................................................................................ 53 3.3.3 Renúncia ...................................................................................................... 55 3.3.4 Perdão .......................................................................................................... 56 3.3.5 Perempção ................................................................................................... 57

4 A (IN)DISPENSABILIDADE DO INQUÉRITO POLICIAL PARA O OFERECIMENTO DA DENÚNCIA E QUEIXA-CRIME NOS PROCESSOS JUDICIAIS NAS COMARCAS DO VALE DO TAQUARI EM 2008.......................

59

4.1 Considerações preliminares ............................................................................ 59 4.2 Levantamento de dados .................................................................................. 60 4.3 Análise dos resultados .................................................................................... 61

5 CONCLUSÃO..................................................................................................... 67

REFERÊNCIAS...................................................................................................... 69

APÊNDICES........................................................................................................... 71

ANEXOS................................................................................................................. 74

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1 INTRODUÇÃO

A presente monografia foi elaborada com a pretensão de lançar mais luzes ao

debate acerca da real eficácia do Inquérito Policial para o início dos processos

judiciais, com base no número de denúncias e queixas-crime oferecidas sem o

prévio Inquérito Policial, nas Comarcas do Vale do Taquari, durante o ano de 2008.

O Inquérito Policial é utilizado pelo Poder Judiciário como peça meramente

informativa, que engloba o conjunto de diligências efetuadas pela autoridade policial

para conhecer os fatos e identificar a autoria, sendo sua principal finalidade servir de

suporte para a ação penal a ser promovida pelo Ministério Público, nos crimes de

ação pública, ou pelo particular, nos crimes de ação privada.

É no Inquérito Policial que há o primeiro contato com o delito cometido e são

colhidas as peças fundamentais para o início do processo, as quais dificilmente

poderão ser produzidas com tanta precisão na fase processual, tais como auto de

flagrante, exames periciais, depoimentos dos envolvidos e das testemunhas, dentre

outros.

Buscando fornecer uma noção geral sobre como o Inquérito Policial é

utilizado no Poder Judiciário, é necessário reunir informações básicas sobre os

aspectos mais relevantes a respeito do tema.

Para a realização do estudo proposto, pesquisou-se de forma quali-

quantitativa. A abordagem foi qualitativa, uma vez que se buscou identificar a

natureza, o alcance, além de interpretar de forma mais genérica a

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(in)dispensabilidade do Inquérito Policial para o oferecimento da denúncia e queixa-

crime nos processos judiciais nas Comarcas do Vale do Taquari em 2008.

Também foi utilizada a forma quantitativa de pesquisa, a qual tem por base

adotar procedimentos de quantificação. Tal procedimento ocorreu por meio de coleta

de informações buscadas nos Fóruns das Comarcas do Vale do Taquari, por

intermédio do preenchimento de um questionário.

O método utilizado foi o dedutivo, que busca encontrar conclusões restritas ao

tema analisado. Assim, partiu-se de aspectos gerais sobre o Inquérito Policial para o

oferecimento da denúncia e queixa-crime nos Processos Judiciais, passando pelo

seu detalhamento, até chegar ao foco, qual seja, o levantamento de dados locais,

para se saber a (in)dispensabilidade do Inquérito Policial.

Como método auxiliar, foi utilizado especialmente o comparativo, a fim de

demonstrar o número de denúncias e queixas-crime oferecidas sem o prévio

Inquérito Policial nas Comarcas do Vale do Taquari durante o ano de 2008, já que,

para a maioria dos doutrinadores, é uma mera peça dispensável ao início da ação

penal.

Além disso, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, que inclui livros de

referência na área do direito processual penal e direito penal e sites relacionados ao

direito processual penal e direito penal.

Em uma segunda etapa, foi realizada a coleta de dados nos Fóruns das

Comarcas do Vale do Taquari, para verificar o número de denúncias e queixas-crime

feitas no ano de 2008 sem o prévio Inquérito Policial.

Assim, esta monografia está dividida em três capítulos. Inicia-se com

considerações acerca do Inquérito Policial e seus procedimentos, com uma

abordagem da origem histórica, polícia judiciária, inquéritos extrapoliciais, finalidade

e importância, competência e atribuição, características, instauração do inquérito

policial, notitia criminis, delatio criminis, início do inquérito policial, o auto de prisão

em flagrante, prazos de conclusão do inquérito policial, conclusão ou encerramento

do inquérito policial, arquivamento do inquérito policial, bem como seu valor

probatório.

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No capítulo seguinte, são abordados os sistemas processuais penais, bem

como os requisitos para a ação penal pública e privada e os casos de oferecimento

de denúncia e queixa-crime.

O último capítulo investiga a (in)dispensabilidade do Inquérito Policial para o

oferecimento da denúncia e queixa-crime, com base nos processos judiciais que

ingressaram nas Comarcas do Vale do Taquari em 2008. Com base nesses

números a serem levantados, pretende-se demonstrar que, apesar de ser

desvalorizado por parte da doutrina, o Inquérito Policial possui papel fundamental no

início da Ação Penal, haja vista que é um procedimento pré-processual, mas

destinado ao processo penal.

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2 O INQUÉRITO POLICIAL Tendo em vista que a doutrina classifica o Inquérito Policial como mera peça

informativa, sem valor probatório e totalmente dispensável para o oferecimento da

denúncia ou queixa, vale questionar quantas denúncias e queixas foram oferecidas

sem o prévio Inquérito Policial nas Comarcas do Vale do Taquari em 2008, ou seja,

pretende-se analisar a sua (in)dispensabilidade.

Nos termos do art. 4º do Código de Processo Penal, o inquérito será

elaborado, em regra, pela Polícia Judiciária e, conforme o disposto no parágrafo

único do mesmo artigo, não será excluída a competência de autoridade

administrativa, a quem por lei seja atribuída a mesma função.

O Inquérito Policial é um conjunto de informações sobre o delito cometido

pelo infrator, as quais são colhidas pela autoridade policial com o objetivo de

conhecer o fato delituoso e identificar sua autoria (CPP, art. 4º). Trata-se de uma

instrução provisória, preparatória, informativa, em que se colhem elementos por

vezes difíceis de serem obtidos na instrução judiciária.

Conhecidas essas informações, elas servirão de suporte ao titular da Ação

Penal, que poderá ser o Ministério Público - nos delitos de ação pública - e o

particular ofendido - nos delitos de ação privada.

Podemos dizer que o inquérito é sempre um procedimento destinado a reunir

elementos sobre um delito; em outras palavras, é a fase preparatória da ação penal.

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Neste sentido, Tourinho Filho afirma: “O inquérito nada mais é que um

conjunto de informações sobre a prática de infração, isto é, sobre o fato infringente

da norma e a respectiva autoria” (2007, p. 2).

Para a maioria dos doutrinadores, o Inquérito Policial é totalmente

dispensável, mas o posicionamento do doutrinador Nucci é outro. Ele entende que

“Eventualmente é possível dispensar o inquérito, desde que o acusador possua

provas suficientes e idôneas para sustentar a denúncia ou a queixa, o que não deixa

de ser hipótese rara” (2006, p. 153).

Por outro lado, Mirabete (2005, p. 82) demonstra seu posicionamento em

outro sentido quando cita o art. 12, CPP, que diz que “o inquérito policial

acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou a outra” e

afirma “O inquérito policial não é indispensável ao oferecimento da denúncia ou da

queixa. Deduz-se do artigo citado que podem elas ser oferecidas mesmo sem

fundarem-se nos autos da investigação oficial”.

Desta forma, fica demonstrado que existem posicionamentos divergentes

entre os doutrinadores quanto à (in)dispensabilidade do inquérito policial para o

oferecimento da denúncia e queixa-crime nos processos judiciais.

Assim, o próximo capítulo tem a finalidade de descrever o inquérito policial e

seus procedimentos.

2.1 Origem histórica

O processo investigatório para a apuração dos delitos, suas circunstâncias e

seus autores existe desde a antiguidade1.

Ensina o doutrinador Garcia (2007, p. 8) que “O Inquérito Policial, de forma

embrionária, teve sua origem em Roma, com passagens pela Idade Média e

referências na legislação portuguesa e, logicamente, com aplicação no Brasil”.

No Brasil, segundo Tourinho Filho (2004), o Código de Processo Penal,

surgido em 1832, não regulamentava o inquérito policial. Conforme Mehmeri (1992,

1 Optou-se, neste trabalho, por adotar o novo acordo ortográfico, inclusive nas citações.

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p. 4), “em 1841 havia lei disciplinando os trabalhos de investigação policial dos

crimes, suas circunstâncias e seus autores”, entretanto não havia nenhuma

legislação que regulamentasse especificamente o inquérito policial.

De acordo com os mesmos autores, um marco importante na história do

inquérito policial aconteceu trinta anos após, quando da edição do Decreto-Lei nº

4.824, de 28 de novembro de 1871, que regulamentou a Lei nº 2.033, de 20 de

setembro de 1871, criando o inquérito policial. O art. 42 do citado Decreto-Lei o

definia como aquele que “consiste em todas as diligências necessárias para o

descobrimento dos fatos criminosos, de suas circunstâncias e de seus autores e

cúmplices, devendo ser reduzido a instrumento escrito” (Tourinho Filho, 2004, p.

190). Já na sua origem o inquérito policial aparecia como peça de informação, sendo

o conjunto de informações que, no momento favorável, propiciaria o início da ação

penal.

No mesmo sentido está o posicionamento de Nucci: “Apesar de seu nome ter

sido mencionado pela primeira vez na referida Lei 2.033, suas funções, que são da

natureza do processo criminal, existem de longa data [...]” (2006, p. 126), o que

demonstra que as primeiras legislações processuais já preceituavam o procedimento

informativo, apenas não mencionavam a denominação “inquérito policial”.

Na legislação atual, o Código de Processo Penal faz menção à manutenção

do inquérito policial como processo preliminar ou preparatório da ação penal,

amparado pelo Direito Processual Penal Brasileiro e expressamente previsto nos

arts. 4º ao 23 do referido diploma legal. No mesmo sentido, a Constituição Federal

faz referência, em seu artigo 129, inciso VIII, às funções institucionais do Ministério

Público, quando preceitua “requisitar diligências investigatórias e a instauração de

inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações

processuais”. Na mesma esteira, encontramos o art. 144, § 4º, CF/88, que dispõe

sobre as atribuições da polícia civil.

2.2 Polícia judiciária

A Constituição Federal de 1988 define em seu art. 144, § 4º, que às polícias

civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a

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competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações

penais, exceto as militares.

Segundo Mirabete (2005, p. 79), “A Polícia é uma instituição de direito

público, destinada a manter a paz pública ou a segurança individual” e acrescenta

que, como a polícia judiciária é “de caráter repressivo, após a prática de uma

infração penal recolhe elementos que o elucidem para que possa ser instaurada a

competente ação penal sobre os autores do fato”.

Assim, as polícias, quanto ao objeto, podem ser divididas em administrativa,

ou de segurança, e judiciária, conforme entendimento a seguir elencado:

a) quanto ao lugar de atividade: terrestre, marítima ou aérea; b) quanto à exteriorização: ostensiva e secreta; c) quanto à organização: leiga e de carreira; d) quanto ao objeto: administrativa (ou de segurança): caráter preventivo; objetiva impedir a prática de atos lesivos a bens individuais e coletivos; atua com grande discricionariedade, independente de autorização judicial; e judiciária: função auxiliar à justiça, atua quando os atos que a polícia administrativa pretendia impedir não foram evitados. Possui a finalidade de apurar as infrações penais e suas respectivas autorias, a fim de fornecer ao titular da ação penal elementos para propô-la. Cabe a ela a consecução do primeiro momento da atividade repressiva do Estado [...]. (Capez, 2007, p. 72-73).

Na visão de Garcia (2007), a polícia judiciária mantém os primeiros contatos

com a infração penal e cuida para que não desapareçam os vestígios, sendo sua

finalidade principal a elaboração do inquérito policial.

Nucci (2006, p. 128) acrescenta que “O nome polícia judiciária tem sentido na

medida em que não se cuida de uma atividade policial ostensiva [...], mas

investigatória, cuja função se volta a colher provas para o órgão acusatório e, na

essência, para que o Judiciário avalie no futuro”.

Fica demonstrado, portanto, que a polícia judiciária possui papel de caráter

fundamental para o início do procedimento do inquérito policial, pois, sem ela, não

seria possível colher todas as informações necessárias à elucidação dos fatos e

identificar a autoria da conduta criminosa.

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2.3 Inquéritos extrapoliciais

O Código de Processo Penal, em seu art. 4º, deixa claro que o inquérito

policial não é a única forma de investigação criminal e que podem ser instauradas

outras modalidades de inquérito, conforme a doutrina a seguir elencada:

Ao juiz também é cedida a função investigatória no inquérito judicial referido na Lei de Falências (arts. 103 ss). As comissões parlamentares de inquérito (CPIs) têm poderes de investigação próprios das autoridades judiciais (art. 58, § 3º, da CF), tendo sua atuação regulamentada atualmente pela Lei nº 1.579, de 18-3-1952, que disciplina o inquérito parlamentar. O Código de Processo Penal Militar prevê o inquérito policial militar (IPM). Criou-se, também, o inquérito civil, presidido pelo órgão do Ministério Público e destinado à propositura da ação civil pública [...], e previu-se a possibilidade de instauração de inquérito ou procedimento administrativo para apuração de ato de improbidade administrativa (Lei nº 8.429, de 2-6-1992. Há, por fim, disposições sobre o inquérito em caso de infração penal cometida na sede ou dependência do STF (art. 43 do RISTF), por Juiz de Direito (art. 33, parágrafo único, da LOMN) e por Promotor de Justiça (art. 20, parágrafo único, da LONMP) (Mirabete, 2005, p. 81).

Entendemos serem de suma importância as exceções acima dispostas, visto

que cada uma possui sua particularidade em especial, deixando a autoridade policial

livre da investigação de assuntos internos que não lhe competem.

2.4 Finalidade e importância do inquérito policial

A principal finalidade do inquérito policial é formar a convicção do órgão

acusatório (Ministério Público ou ofendido, através de seu advogado) e colher

provas urgentes e perecíveis, com a intenção de evitar acusações levianas,

garantindo a dignidade da pessoa humana, bem como agilizar o trabalho do Estado

na busca de provas da existência do crime e de seu autor (Nucci, 2006).

Através da leitura de alguns dispositivos do Código de Processo Penal,

especialmente do art. 4º ao 12, podemos observar que o inquérito policial tem como

objetivo apurar a existência de uma infração penal, de um fato delituoso, de uma

conduta típica e antijurídica, ou seja, o crime propriamente dito, quando se busca,

através do mesmo, encontrar o autor e a materialidade da conduta criminosa, para

que, posteriormente, o titular da ação penal disponha de elementos suficientes para

propor a ação penal competente.

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Já o art. 41 do Código de Processo Penal determina que a denúncia ou a

queixa contenha a exposição do fato criminoso, a qualificação do acusado, a

classificação do crime e o rol de testemunhas, se for o caso. Logo, o disposto no

citado artigo somente será possível mediante uma investigação prévia, no caso o

inquérito policial, o qual terá condições de colher esses dados.

Segundo Garcia (2007), para a decretação da prisão preventiva, a prova de

existência do crime e de indícios suficientes de autoria mencionada no art. 312,

CPP, será possível, via de regra, somente mediante o inquérito.

Para Capez (2005, p. 70), a finalidade do inquérito policial é “a apuração de

fato que configure infração penal e a respectiva autoria para servir de base à ação

penal ou às providências cautelares”, porque, não havendo indícios de autoria da

infração, não poderá o Ministério Público ou o ofendido ingressar em juízo com a

denúncia ou queixa.

No mesmo sentido, Nucci (2006, p. 127), assim destaca: “O inquérito é um

meio de afastar dúvidas e corrigir o prumo da investigação, evitando-se o

indesejável erro judiciário”, e sabiamente acrescenta que “[...] somente deveríamos

admitir que as provas colhidas no inquérito policial fossem usadas para instruir a

peça inicial acusatória, já que a razão de sua existência e sua finalidade não

condizem com outra conclusão”.

É preciso levar em consideração que o inquérito policial tem a importante

finalidade de fornecer elementos probatórios ao juiz, para que este possa permitir a

decretação da prisão cautelar do indiciado. Portanto, o Inquérito Policial possui

fundamental importância para o início da Ação Penal, pois é o momento em que

ocorre o primeiro contato com o fato delituoso, quando são colhidas as peças

fundamentais para o início do processo, na maioria das vezes impossíveis de serem

reproduzidas em fase judicial.

Cabe salientar que a função do inquérito policial não é trabalhar

exclusivamente para o Ministério Público (acusação), mas sim descobrir a verdade

sobre o fato delituoso cometido, buscando uma solução ao prejuízo sofrido pelo

ofendido.

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2.5 Competência e atribuição

Conforme esclarece o parágrafo único do art. 4º do CPP, de um modo geral a

competência para presidir o Inquérito Policial é atribuída aos Delegados de Polícia

(Mirabete, 2002), havendo a necessidade de se observar o lugar em que ocorreu a

infração penal, quando se dá a competência em razão do lugar ou ainda podendo se

dar em razão da matéria.

Contudo, para Capez (2005), a colocação da palavra “competência” no

parágrafo único do art. 4º do CPP não é exata. Afirma que seria melhor se houvesse

dito “atribuição”, sendo que o termo “competência” deve ser entendido em seu

sentido vulgar, como “poder conferido a um funcionário para conhecer determinado

assunto”.

Deve-se observar alguns casos específicos em que não cabe à autoridade

policial a competência2:

[...] a) o art. 40, parágrafo único, da Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (Lei nº 8.625, de 12-2-1993; b) o art. 43 e respectivo parágrafo do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal; c) a Súmula 397 do Supremo Tribunal Federal; e d) o art. 33 da Lei Complementar nº 35, de 14-3-1979 (Lei Orgânica da Magistratura Nacional). Salvante esses casos, excluída a ressalva feita pelo parágrafo único do art. 4º do CPP, e deixando de lado os inquéritos extrapoliciais (militar, judicial, parlamentar), a competência para a realização de inquéritos policiais é distribuída a autoridades próprias, de acordo com as normas de organização policial dos Estados. [...] (Tourinho Filho, 2004, p. 194-195).

Portanto, via de regra, as autoridades competentes para presidir o inquérito

são em geral Delegados de Polícia que dirigem as Delegacias de Polícia de sua

circunscrição (art. 144, §§ 1º e 4º CF/88).

Em caso de Auto de Prisão em Flagrante, conforme entendimento da

doutrina, a atribuição é da autoridade do lugar em que ocorreu a prisão (arts. 290 e

308 CPP), e os atos seguintes serão praticados pela autoridade do local em que o

crime se consumou (Capez, 2007).

2 O Código de Processo Penal utilizou impropriamente o termo competência, quando a forma mais correta seria atribuição. Conforme Mirabete (2005, p. 84) “a palavra ‘competência’ é empregada, na hipótese, em sentido amplo, como a ‘atribuição’ a um funcionário público para suas funções”.

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Garcia (2007, p. 4) enfatiza que “À Autoridade Policial cabe a iniciativa de

proceder às investigações para apuração de um fato com características de crime,

visando ainda determinar a respectiva autoria”.

Neste sentido, conforme ensinamento da doutrina, podemos afirmar que,

excetuando as exceções já citadas, a competência ou atribuição para presidir o

inquérito policial se dá em razão do lugar e em razão da matéria, cabendo à

autoridade policial presidi-lo.

2.6 Características

Para a doutrina, o inquérito policial apresenta as seguintes características:

[...] Procedimento escrito - todas as peças do inquérito policial serão num só processo, reduzidas a escrito ou datilografadas [...]. Sigiloso - A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade [...]. Oficialidade - O inquérito policial é uma atividade investigatória feita por órgãos oficiais, não podendo ficar a cargo do particular [...]. Oficiosidade - Corolário do princípio da legalidade (ou obrigatoriedade) da ação penal pública. Significa que a atividade das autoridades policiais independe de qualquer espécie de provocação, sendo a instauração do inquérito obrigatória diante da notícia de uma infração penal [...]. Autoritariedade – [...] o inquérito é presidido por uma autoridade pública, no caso, a autoridade policial (Delegado de Polícia). Indisponibilidade – [...] após sua instauração não pode ser arquivado pela Autoridade Policial [...]. Inquisitivo – Caracteriza-se como inquisitivo o procedimento em que as atividades persecutórias concentram-se nas mãos de uma única autoridade [...] (Capez, 2005, p. 72-73, grifo nosso).

Destacamos que a doutrina considera o caráter inquisitivo e o sigiloso as

principais características do inquérito policial. Conforme entendimento de Nucci

(2006), o caráter inquisitivo é próprio do inquérito policial, pois ele não permite a

ampla defesa ao suspeito ou indiciado. Já o caráter sigiloso, para o mesmo autor, é

considerado uma importante característica, pois o procedimento não é levado ao

conhecimento de nenhuma pessoa e é dispensada a sua publicidade.

Mirabete (2005) declara que o sigilo é fundamental para que a autoridade

policial possa realizar as diligências necessárias para a elucidação dos fatos, e

neste sentido determina a lei: “A autoridade assegurará no inquérito o sigilo

necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade (art. 20

CPP)”.

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E, neste sentido, a Súmula Vinculante nº 14, aprovada no início deste ano,

permite acesso a inquérito policial sigiloso:

É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.

Dessa forma, após a realização de todos os procedimentos imprescindíveis

para colher as provas necessárias à elucidação dos fatos, será permitido que o

defensor do acusado tenha acesso aos autos do inquérito policial, proporcionando-

lhe o contraditório.

Na mesma esteira, encontramos o art. 7º, XIV, do Estatuto da Ordem dos

Advogados do Brasil:

Art. 7º - São direitos dos advogados: XIV – examinar em qualquer repartição policial, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de inquérito, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos.

Ressalta-se que, conforme entendimentos doutrinários, de um modo geral o

inquérito policial é eminentemente não contraditório, porém nada impede que se

oportunize o contraditório, o que fica claramente demonstrado nos casos de auto de

prisão em flagrante, quando é permitida a presença do defensor do acusado.

Assim, é preciso quebrar este paradigma que vem sendo utilizado por grande

parte da doutrina no sentido de que o inquérito policial não oportuniza o

contraditório, pois hodiernamente esta regra vem sendo quebrada e amparada pela

legislação brasileira, que se coaduna com a Constituição Federal, haja vista que o

Código de Processo Penal é anterior à Constituição Federal e, portanto, deve ser

interpretado conforme esta.

2.7 Instauração do inquérito policial

O inquérito policial é instaurado a partir da notitia criminis; a lei processual, no

entanto, disciplina a matéria prevendo modalidades específicas de sua instauração,

de acordo com a espécie de iniciativa da ação penal exigida para o fato criminoso.

Essas modalidades serão identificadas a seguir.

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A instauração de inquérito no caso de ação pública incondicionada, conforme

art. 5º, I, CPP, poderá ser de ofício e, conforme Mirabete (2005), “Trata-se de uma

regra geral que só cede diante de disposição expressa em lei”. Além disso, de

acordo com o art. 5º, II, primeira parte, o inquérito policial poderá ser instaurado por

meio de requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público. Já o art. 5º, II,

segunda parte, dispõe sobre a instauração do inquérito a pedido da vítima, e,

segundo o mesmo autor, “a comunicação verbal é a forma mais comum de notícia

crime prestada pela vítima ou terceiro, cumprindo à autoridade policial determinar

que sejam reduzidas a termo as declarações do comunicante”.

Destaca ainda Mirabete que “o inquérito pode ser instaurado pelo flagrante

delito, quando o respectivo auto será a primeira peça do procedimento”. Esclarece

que “os requerimentos, as requisições e o auto de prisão em flagrante são peças

iniciais do inquérito policial, nos demais casos a autoridade policial deve baixar

portaria para a instauração do procedimento”.

No caso de ação pública condicionada à representação da vítima ou à

requisição do Ministro da Justiça, o mesmo autor explica que, “a instauração do

inquérito policial, nessas hipóteses, também depende da prática desses atos

jurídicos, que são previstos expressamente pela lei processual”.

A instauração de inquérito no caso de ação privada, entretanto, dá-se

somente mediante a iniciativa da vítima (art. 5º, § 5º, CPP), ou seja, através de

requerimento.

2.8 Notitia criminis

Mirabete (2002, p. 80) ressalta que o instituto da notitia criminis (notícia crime)

é o “conhecimento, espontâneo ou provocado, pela autoridade policial de um fato

aparentemente criminoso”, podendo ser de cognição imediata ou mediata. Segundo

o mesmo autor, a notitia criminis pode, ainda, dar-se de forma coercitiva nos casos

de prisão em flagrante delito por funcionário público no exercício de suas funções ou

por particular (2005, p. 87), com o que concorda Nucci, o qual acrescenta que a

notitia criminis “não deixa de ser uma maneira indireta da autoridade policial tomar

conhecimento da prática de uma ação penal” (2006, p. 134).

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Para Tourinho Filho (2004, p. 211), “a notitia criminis de cognição imediata

acontece quando o Delegado de Polícia fica sabendo de forma direta do fato

contrário à norma regulamentadora da conduta por qualquer meio”. Já a notitia

criminis de cognição mediata é definida pelo mesmo autor como sendo aquela que

“ocorre quando a autoridade policial fica sabendo do fato delituoso mediante

provocação da vítima ou de quem possa representá-la, como, por exemplo,

requisição da autoridade Judiciária bem como do Ministério Público ou Ministro da

Justiça” (p. 211).

Conforme o entendimento da doutrina, a notícia crime nada mais é do que o

momento em que a autoridade policial toma conhecimento de um fato criminoso

praticado.

2.9 Delatio criminis

De acordo com o § 3º do art. 5º do CPP, o inquérito policial pode ser iniciado,

nos crimes de ação pública incondicionada, por meio da delatio criminis:

Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito.

Apesar de a delatio criminis ser facultativa, existem algumas exceções

previstas no art. 66 da Lei de Contravenções:

Art. 66 – Deixar de comunicar à autoridade competente:

I – crime de ação pública, de que teve conhecimento no exercício de função pública, desde que a ação penal não dependa de representação;

II – crime de ação pública, de que teve conhecimento no exercício da medicina ou de outra profissão sanitária, desde que a ação penal não dependa de representação e a comunicação não exponha o cliente a procedimento criminal:

Pena - multa.

Outra exceção é o artigo 269 do Código Penal: Art. 269 – Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

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Por outro lado, encontramos como exceção o art. 45 da Lei nº 6.538 de

22/6/1978, que “Dispõe sobre os serviços postais”:

Art. 45 – A autoridade administrativa, a partir da data em que tiver ciência da prática de crime relacionado com o serviço postal ou com o serviço de telegrama, é obrigada a representar, no prazo de 10 (dez) dias, ao Ministério Público Federal contra o autor ou autores do ilícito penal, sob pena de responsabilidade.

Citados os casos de exceção da delatio criminis, passamos aos

posicionamentos de alguns doutrinadores.

Para Nucci (2006, p. 134), a delatio criminis “É a denominação dada à

comunicação feita por qualquer pessoa do povo à autoridade policial (ou a membro

do Ministério Público ou juiz) acerca da ocorrência de infração penal em que caiba

ação penal pública incondicionada[...]”. Tourinho Filho possui o mesmo

entendimento e acrescenta: “[...] o legislador deu ao cidadão a faculdade de levar ao

conhecimento da Autoridade Policial a notitia criminis. Mera Faculdade. Tanto é

faculdade que, se alguém deixar de fazê-lo, não sofrerá nenhuma sanção” (2007, p.

24), e complementa: “[...] quem o desejar poderá fazer a delatio. Contudo é preciso

que assuma a responsabilidade, identificando-se [...]”.

Em relação a essa questão, Muccio (2000, p. 216) acrescenta:

Como há interesse do Estado em reprimir os crimes de ação penal pública incondicionada, como garantia de paz e tranquilidade pública, interesse que é compartilhado pelo povo, é evidente que o cidadão comum possa contribuir, colaborar com a autoridade policial, incumbida da persecução penal na sua primeira fase, levando ao seu conhecimento o fato infringente da norma penal. É evidente que, sendo mera colaboração do cidadão, tornando possível a persecução penal, a delatio não poderia ser, como não é, obrigatória. Fosse obrigatória, o Estado semearia a discórdia e intranquilidade pública (grifo nosso).

Acrescenta-se a isso que, segundo a doutrina, quando há delatio criminis, a

providência inicial a ser tomada é a oitiva do ofendido, pois é ele que geralmente

prestará as informações mais precisas e seguras à autoridade policial (Noronha,

1999, p. 23).

Portanto, a delatio criminis é a oportunidade que qualquer pessoa do povo

possui de fazer ou não a comunicação de uma infração penal à autoridade policial.

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A doutrina trata também sobre a delatio criminis inqualificada, ou seja,

denúncia anônima. A polícia judiciária, ao receber uma denúncia anônima, poderá

proceder a uma investigação sigilosa, com a finalidade de apurar o fato denunciado

e, havendo probabilidade de a informação ser verdadeira, procederá à instauração

do inquérito policial para apuração dos fatos (Tourinho Filho, 2007). Muccio (2000)

acrescenta que a denúncia anônima não é proibida, sendo dever da autoridade

policial investigar a infração penal e sua autoria; não importa de onde tenha partido a

notícia do fato, há o dever legal de a polícia investigá-lo.

Assim, a autoridade policial não poderá de imediato instaurar o inquérito

policial. Será necessária uma prévia verificação sobre a veracidade da denúncia, já

que o CPP estabelece que a delatio somente será aceita verbalmente ou por escrito

(art. 5º, § 3º) nos casos em que o sujeito que a fizer assumir a responsabilidade,

identificando-se. Ademais, a Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso IV, proíbe

o anonimato.

2.10 Início do inquérito policial

O art. 5º do Código de Processo Penal disciplina as formas de iniciar o

Inquérito Policial:

Art. 5º Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:

I - de ofício;

II - mediante requisição de autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.

Destaca Tourinho Filho (2004, p. 212) que “tratando-se de crime de ação

penal pública incondicionada, a Autoridade Policial, quando dele tomar

conhecimento, deverá instaurar o inquérito policial em uma das formas do art. 5º

CPP”, acima citado.

O art. 5º, § 3º, CPP, dispõe que qualquer pessoa que tiver conhecimento da

existência de delito cabível de ação penal pública, poderá comunicar à autoridade

policial, e esta, após verificar a procedência das informações, mandará instaurar o

inquérito policial.

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Segundo a doutrina, há basicamente cinco formas de dar início ao inquérito:

a) de ofício, quando a autoridade policial, tomando conhecimento da prática de uma infração penal de ação pública incondicionada (as ações públicas condicionadas e as ações privadas dependem de provocação do ofendido), instaura a investigação para verificar a existência do crime ou da contravenção penal e sua autoria; b) por provocação do ofendido, quando a pessoa que teve o bem jurídico lesado reclama a atuação da autoridade; c) por delação de terceiro, quando qualquer pessoa do povo leva ao conhecimento da autoridade policial a ocorrência de uma infração penal de iniciativa do Ministério Público; d) por requisição da autoridade competente, pode o juiz ou o promotor (procurador da República) exigir que a investigação policial se realize, porque há provas suficientes a tanto; e) pela lavratura do auto de prisão em flagrante (Nucci, 2006, p. 133).

O inquérito policial, portanto, somente terá início mediante uma das

modalidades acima citadas.

Cabe destacar que, de regra, o início do inquérito policial se dá através da

portaria, que é sua peça preambular, a qual deve conter o dia em que o fato típico foi

cometido, hora aproximada, local, o prenome e o nome do autor e da vítima, e em

conclusão determinará instauração do inquérito (Mossin, 1998).

2.11 O auto de prisão em flagrante

Dispõe o art. 301 do Código de Processo Penal que “qualquer pessoa do

povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer

que seja encontrado em flagrante delito”, e o art. 302, do mesmo diploma legal,

estabelece as situações consideradas flagrante delito.

O auto de prisão em flagrante é uma modalidade de início do inquérito policial

e será a sua peça inaugural, sendo que “o auto conterá, devidamente reduzido e

escrito, todas as circunstâncias da prisão ocorrida em estado de flagrância” (Salles

Junior, 1998).

Para Garcia (2007, p. 11), “O auto de prisão em flagrante, quando revestido

das formalidades legais, tem valor probatório suficiente para anular o direito de

liberdade do cidadão. Se irregular, perde seu valor probatório [...]”.

A autoridade competente para lavrar o auto de prisão em flagrante é a do

lugar em que tiver sido efetuada a prisão; todavia, se no local não houver

autoridade, será competente a autoridade do lugar mais próximo (art. 308, CPP). Na

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mesma esteira, ensina Muccio (2000) que “O juiz pode lavrar o auto de prisão em

flagrante, pois a lei fala em autoridade sem fazer nenhuma distinção; contudo, como

a investigação da infração penal e da sua autoria compete à polícia judiciária, o

flagrante deve ser lavrado pela autoridade policial”.

Realizados todos os procedimentos necessários ao auto de prisão em

flagrante, o qual deverá conter data e local onde foi lavrado, indicação da autoridade

que o presidiu, qualificação e depoimento do condutor, oitiva e qualificação de pelo

menos duas testemunhas, oitiva e qualificação do conduzido, os autos serão

remetidos à autoridade competente: juiz (Tourinho Filho, 1998).

Portanto, em caso de auto de prisão em flagrante, ele é considerado peça

inaugural do inquérito policial.

2.12 Prazos de conclusão do inquérito policial

O prazo de conclusão do inquérito policial pode variar de acordo com o caso

concreto, sendo o mesmo disciplinado pelo art. 10 CPP. Nos casos em que o

“indiciado estiver em liberdade, a autoridade policial deverá concluir as investigações

no prazo de trinta dias, contados a partir do recebimento da notitia criminis”, afirma

Capez (2005, p. 91), sendo possível a prorrogação, caso o juiz entenda necessário.

Já nos casos em que o indiciado estiver preso, segundo o mesmo autor, “o prazo

para conclusão do inquérito é de dez dias, contados a partir do dia seguinte à data

da efetivação da prisão, sendo que este prazo é improrrogável” (p. 92).

Verifica-se que existem alguns prazos diferenciados para determinados tipos

de inquéritos, o que torna a regra geral do art. 10 do CPP excepcional em algumas

leis específicas. Fixam-se prazos especiais para a conclusão do inquérito policial

nos seguintes casos:

a) Lei nº 5.010/1966 (que organiza a Justiça Federal de primeira instância): no

caso de réu preso, o prazo é de quinze dias para a autoridade policial federal

concluir o inquérito, podendo ser prorrogado por mais quinze (art. 66); caso o

indiciado esteja solto, o prazo é de trinta dias;

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b) Lei nº 1.521/1951 (Crime Contra a Economia Popular): o prazo é sempre

de dez dias (art. 10, § 1º), e o promotor possui dois dias para oferecer a denúncia

(art. 10, § 2º);

c) Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas): o inquérito policial será concluído no

prazo de trinta dias se o indiciado estiver preso, e de noventa dias quando solto (art.

51); conforme o parágrafo único do art. 51, os prazos podem ser duplicados pelo

juiz, ouvido o Ministério Público, mediante pedido justificado da polícia judiciária;

d) O Código de Processo Penal Militar tem o prazo de vinte dias para

conclusão do inquérito se o réu estiver preso, e quarenta dias (art. 20 caput) -

podendo ser prorrogados por mais vinte - se estiver solto (art. 20, § 1º).

Os casos acima elencados possuem legislação própria, que determina, além

dos prazos de conclusão do inquérito, a forma de realização dos procedimentos.

2.13 Conclusão ou encerramento do inquérito policial

Encerradas as investigações e concluídas as diligências determinadas no

inquérito policial, a autoridade policial deverá fazer um minucioso relatório de tudo o

que foi investigado e apurado e encaminhar os autos ao juiz competente (art. 10, §

1º, CPP). Este relatório deverá conter as providências tomadas e os depoimentos

resumidos da vítima e da pessoa investigada, mencionando ainda, o resultado da

investigação, demonstrando a tipicidade do delito, sua autoria e materialidade.

Tourinho Filho (2007, p. 10) explica que “O relatório é, como o próprio nome

diz, peça singela, em que a Autoridade Policial se limita a historiar, a relatar o que

houve e quais as diligências realizadas, e, eventualmente, as que não puderam ser

realizadas”.

Mirabete possui o mesmo posicionamento e ensina que “Não cabe à

autoridade em sua exposição emitir qualquer juízo de valor [...] apenas prestar todas

as informações colhidas durante as investigações e diligências realizadas” (2005, p.

102).

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No mesmo sentido, Capez (2007, p. 99) entende que, na elaboração do

relatório, não cabe a autoridade policial “expender opiniões, julgamentos ou qualquer

juízo de valor, devendo ainda, indicar as testemunhas que não foram ouvidas (art.

10, § 2º, CPP), bem como diligências não realizadas”.

Desta forma, após encerrado o inquérito e concluído o relatório, os autos do

inquérito serão remetidos ao juízo competente, acompanhados dos instrumentos do

crime e objetos que interessarem à prova (art. 11, CPP).

2.14 Arquivamento do inquérito policial

Entende a doutrina que, após ser concluído e encaminhado à Justiça, o

inquérito será remetido ao Ministério Público. Há quatro tipos de providências que o

titular da ação penal pode tomar: a) oferecer denúncia; b) requerer a extinção da

punibilidade; c) requerer o retorno dos autos à polícia judiciária para continuidade da

investigação, indicando as diligências a serem realizadas; d) requerer o

arquivamento (Nucci, 2006).

Conforme disciplina o art. 17, CPP, a autoridade policial não poderá mandar

arquivar o inquérito em nenhuma hipótese. Tal providência deve ser tomada pelo

juiz, nos casos em que o Ministério Público requerer (art. 28, CPP), sendo que o

mesmo é o titular exclusivo da ação penal pública (art. 129, I, CF/88).

Destaca Capez (2007, p. 104) que “o juiz jamais poderá determinar o

arquivamento do inquérito, sem prévia manifestação do Ministério Público (CF, art.

129, I); se o fizer, da decisão caberá correição parcial (Dec.-Lei n. 3/69, arts. 93 a

96)”.

Ainda, para o mesmo autor, nos casos em que o juiz discordar do pedido de

arquivamento feito pelo representante do Ministério Público, fará a remessa dos

autos ao procurador geral de justiça, que poderá oferecer denúncia, designar outro

órgão do Ministério Público para fazê-lo, ou insistir no arquivamento, tomando como

base o art. 28, CPP (2007, p. 104).

A doutrina entende que o despacho para arquivar o inquérito é irrecorrível,

com exceção nos casos de crime contra a economia popular, quando cabe recurso

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oficial (art. 7º da Lei nº 1.521/51) e no caso das contravenções previstas nos arts. 58

e 60 do Decreto-Lei nº 6.259/44, que “Dispõe sobre o serviço de loterias e dá outras

providências”, casos em que caberá recurso em sentido estrito.

Ainda em relação a esse assunto, dispõe o art. 18, CPP: “Depois de ordenado

o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base para a

denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras

provas tiver notícia”, sendo possível, portanto, o seu desarquivamento.

Neste sentido, Salles Junior (1998, p. 125) entende que “quando se trata de

despacho que determina o arquivamento de autos de inquérito, temos que este

despacho não faz a chamada ‘coisa julgada material’. Assim [...] a autoridade policial

poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia”. Desta forma,

esse autor entende que é possível a autoridade policial solicitar o desarquivamento

do inquérito, sendo que, após acrescentadas as novas diligências, os autos

retornarão ao Ministério Público, que poderá promover a ação penal, por meio de

denúncia, nos termos do art. 41, CPP (1998).

Nos casos de desarquivamento de inquérito policial, é necessário observar a

causa extintiva de punibilidade prevista no art. 107, IV, CP, que configura a

prescrição.

2.15 Valor probatório

O inquérito policial é uma peça de conteúdo informativo, de caráter inquisitivo,

como instrução provisória, e tem como finalidade principal fornecer informações ao

Ministério Público ou ao ofendido. Nele encontram-se os elementos necessários à

propositura da ação penal.

Conforme a RTJ 59/786, a decisão condenatória apoiada exclusivamente em

inquérito policial violaria o princípio constitucional do contraditório, sendo este o

entendimento dominante dos doutrinadores, já que a Constituição Federal reforça as

garantias processuais.

Há duas correntes doutrinárias na discussão sobre o valor probatório do

inquérito policial: a primeira defende que ele é uma peça meramente informativa,

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que deixa o Ministério Público a par do fato delituoso, não tendo qualquer valor

probatório; a segunda corrente admite a possibilidade de o juiz embasar o seu livre

convencimento em peças do inquérito.

O juiz é amparado pelo princípio do livre convencimento motivado (persuasão

racional) e poderá valer-se de prova colhida no inquérito, ainda que na fase judicial

não seja reproduzida (Muccio, 2000). O autor entende que o juiz pode valer-se de

qualquer prova produzida no inquérito, e não apenas da prova pericial, pois trata-se

de provas sérias, tranquilas e induvidosas quanto à autoria e à materialidade.

Cabe lembrar que existem algumas modalidades de provas que ficam

impossibilitadas de serem realizadas em juízo, como a prova pericial (ex: exame de

corpo de delito), pois certamente os vestígios já terão desaparecido quando o

procedimento estiver na fase judicial; por isso a prova pericial realizada na fase

inquisitorial por órgão oficial do Estado tem plena validade.

No entendimento da maioria da doutrina, a prova realizada no inquérito possui

valor probatório relativo, que ganhará força na medida de sua confirmação, sob o

crivo do contraditório e da garantia da ampla defesa, ou seja, não se pode

fundamentar uma decisão condenatória apoiada exclusivamente no inquérito policial,

senão restariam contrariados os princípios do contraditório e ampla defesa.

Se considerados isoladamente, os elementos colhidos no inquérito não

servirão para fundamentar a condenação final do acusado no processo; todavia, se

houver ao menos uma prova ou indício colhido claramente sob o crivo do

contraditório, aqueles elementos colhidos no inquérito podem ter validade (Lima,

2007).

Para Muccio (2000, p. 370-371), nos casos de julgamento do Tribunal do Júri

por crimes dolosos contra a vida, os jurados podem basear-se em todas as provas

produzidas no inquérito, pois eles decidem livremente, sem necessidade de justificar

o voto, amparados pelo princípio da soberania dos veredictos.

O art. 41 do Código de Processo Penal enumera os requisitos da denúncia; o

inquérito policial objetiva fornecer ao Ministério Público os dados elencados no

referido artigo. Acontece que, se o Ministério Público estiver de posse de todos os

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elementos suficientes para a denúncia, o inquérito poderá ser dispensado (Garcia,

2007). O posicionamento desse autor é no sentido de que, mesmo sendo

dispensável, o inquérito será sempre útil, mesmo quando já tiverem sido coletadas

as provas suficientes para a comprovação da existência do crime e descoberta a

autoria, pois informações sobre a vida pregressa do indiciado, investigação

criminológica e preenchimento do boletim individual ocorrem na fase policial.

Ao finalizar este primeiro capítulo, que descreve o inquérito policial e seus

procedimentos, pedimos a devida vênia para nos filiarmos à corrente minoritária da

doutrina, que entende ser o inquérito policial indispensável ao início dos processos

judiciais e ter papel fundamental no início da ação penal, apesar de ser

desvalorizado pela corrente majoritária doutrinária, haja vista que é um

procedimento pré-processual, mas destinado ao processo penal.

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3 OS SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS, A AÇÃO PENAL PÚBLICA E PRIVADA E OS CASOS DE OFERECIMENTO DE DENÚNCIA E

QUEIXA-CRIME

Com a finalidade de aprofundar o presente estudo, é imprescindível fazer

menção aos sistemas processuais penais, à ação penal pública e privada e aos

casos de oferecimento de denúncia e queixa-crime, pois são elementos essenciais

para o início dos processos. Para tanto, passaremos a descrevê-los.

3.1 Sistemas processuais penais

Segundo posições doutrinárias, são três os sistemas processuais penais

surgidos no decorrer da evolução do direito processual penal: o inquisitivo, o

acusatório e o misto, os quais serão analisados a seguir.

3.1.1 Sistema inquisitivo

Conforme Thums (2006, p. 201), “Na história dos sistemas processuais, o

modelo acusatório antecedeu ao inquisitório, sendo largamente praticado na Europa

continental”.

O sistema inquisitório surgiu devido ao fracasso do sistema acusatório, a

partir do século XII na França (Thums, 2006). Teve suas origens em Roma e

caracteriza-se por ser escrito e secreto; nele valoriza-se a confissão e, em épocas

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passadas, se admitia a tortura (Lima, 2007). Assim, seu principal objetivo é descobrir

o que realmente aconteceu (a confissão do fato).

Neste sentido, Thums (2006, p. 206) ensina que “a confissão do acusado e a

insistência do julgador para que ela ocorra têm uma razão, porque se acredita que a

verdade está na boca do réu, e a confissão, ainda que sob tortura, representa o

principal fundamento da sentença condenatória”.

A aplicação do sistema inquisitório possui conceitos típicos de Estado

absolutista, quando há concentração de todo o poder nas mãos do soberano

(Thums, 2006).

Para Mirabete (2002, p. 40), “no sistema inquisitivo encontra-se mais uma

forma autodefensiva de administração da justiça do que um genuíno processo de

apuração da verdade [...]”. Por outro lado, Oliveira (2002, p. 9) afirma que “[...]

inquisitorial seria o sistema em que as funções de acusação e de julgamento

estariam reunidas em uma só pessoa (ou órgão) [...]”.

Possui o mesmo entendimento o doutrinador Capez (2007), que afirma: “É

sigiloso, sempre escrito, não é contraditório e reúne na mesma pessoa as funções

de acusar, defender e julgar”.

O sistema inquisitivo vigorou até a edição do Código de Instrução Criminal

Francês de 1808, considerado a pedra fundamental da reforma do direito e do

processo penal europeu do século XIX, traduzindo parte do sentimento do povo

contra o sistema inquisitório e implantando um sistema acusatório que exigia

respeito à dignidade da pessoa humana (Thums, 2006).

Assim, entendemos que o sistema inquisitivo é violador das garantias

individuais, pois o acúmulo das funções de acusar, defender e julgar não permite

que o juiz tenha condições de ser imparcial.

3.1.2 Sistema acusatório

O sistema acusatório é caracterizado pela rígida separação entre juiz e

acusador, a imparcialidade, a ampla defesa, o contraditório e, em decorrência, a

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paridade entre a acusação e a defesa, a publicidade e a oralidade dos atos

processuais.

Este sistema, oriundo da Grécia e Roma antigas, além de ter vigorado no

direito germânico da Idade Média, caracteriza-se pela oralidade e publicidade (Lima,

2007).

A doutrina apresenta o seguinte entendimento quanto à evolução dos

sistemas processuais:

A evolução dos sistemas processuais indica que o primeiro modelo de processo foi informado pelo princípio acusatório, com todas as suas limitações, migrando-se para um sistema inquisitório que perdurou por vários séculos, e com o surgimento do Estado Democrático de Direito, retomou-se o modelo acusatório (Thums, 2006, p. 230).

Assim, o sistema acusatório foi o primeiro sistema surgido na história dos

sistemas processuais penais, o qual teve seu espaço tomado pelo sistema

inquisitivo, retornando após um extenso período.

Mirabete (2002, p. 40), ao se referir ao sistema acusatório, diz que “no direito

moderno, tal sistema implica o estabelecimento de uma verdadeira relação

processual [...], estando em pé de igualdade o autor e o réu, sobrepondo-se a eles,

como órgão imparcial de aplicação da lei, o juiz”.

No Brasil, aplica-se o sistema acusatório, que possui alguns pontos

marcantes:

a) o contraditório, como garantia político-jurídica do cidadão; b) as partes acusadora e acusada, em decorrência do contraditório, encontram-se no mesmo pé de igualdade; c) o processo é público, fiscalizável pelo olho do povo; excepcionalmente permite-se uma publicidade restrita ou especial; d) as funções de acusar, defender e julgar são atribuídas a pessoas distintas [...]; e) o processo pode ser oral ou escrito; f) existe, em decorrência do contraditório, igualdade de direitos e obrigações entre as partes [...]; g) a iniciativa do processo cabe à parte acusadora, que poderá ser o ofendido ou seu representante legal, qualquer cidadão do povo ou um órgão do Estado. (Mirabete, 2005, p. 43-44).

Capez (2007) ensina que o sistema acusatório é “Contraditório, público,

imparcial, assegura ampla defesa; há distribuição das funções de acusar, defender e

julgar a órgãos distintos”.

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Neste sistema, a fase investigatória é realizada pela polícia judiciária, a quem

caberá colher as provas e elementos necessários à propositura da ação penal.

O sistema acusatório concede ao réu as garantias constitucionais previstas no

art. 5º, sendo este o sistema vigente no Brasil.

Neste sentido, podemos afirmar que no sistema acusatório o réu é tratado

como sujeito de direitos, tendo respeitadas suas garantias individuais.

Segundo a corrente majoritária da doutrina, o sistema processual penal

brasileiro é o acusatório, por acreditarmos que é o sistema mais justo a ser adotado

no Brasil. Ele é assegurado na Constituição Federal, haja vista que as funções de

polícia judiciária e a apuração de infrações penais incumbem às policias civis e à

polícia federal, e inclusive à militar, no que diz respeito aos crimes militares (art. 144

e §§); estabelece o contraditório e a ampla defesa, com o meio e recurso a ela

inerentes (art. 5º, LV); a ação penal pública é promovida, privativamente, pelo

Ministério Público (art. 129, I), embora seja assegurado ao ofendido o direito à ação

penal privada subsidiária da pública (art. 5º, LIX); a função de julgar está afeta a

juízes constitucionalmente investidos (art. 5º, LIII e 92); assevera a motivação das

decisões judiciais (art. 93, IX) e a publicidade dos atos processuais, podendo a lei

restringi-la apenas quando a defesa da intimidade ou o interesse público o exigirem

(art. 5º, LX).

Filiamo-nos à posição da doutrina majoritária, pois as partes têm garantidas

mais uma gama de recursos na legislação infraconstitucional, sendo que o processo

penal brasileiro tem como princípio a forma acusatória. É preciso lembrar, no

entanto, que, antes do processo, existe um procedimento extrajudicial inquisitório: o

inquérito policial.

3.1.3 Sistema misto

A origem do sistema penal misto se deu em toda a Europa, do século XIII até

a Codificação Napoleônica (Lima, 2007).

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O sistema penal misto, para Mirabete (2002, p. 41), “é constituído de uma

instrução inquisitiva (de investigação preliminar e instrução preparatória) e de um

posterior juízo contraditório (de julgamento)”.

No mesmo sentido, Capez (2007, p. 46) afirma que “há uma fase inicial

inquisitiva, na qual se procede a uma investigação preliminar e a uma instrução

preparatória, e uma fase final, em que se procede ao julgamento com todas as

garantias do processo acusatório”.

Para Thums (2006, p. 203), “Parte da doutrina afirma que a partir da

Revolução Francesa desenvolve-se um novo sistema processual, denominado

misto, embora fosse uma reforma do sistema inquisitório”; afirma que há muita

polêmica na caracterização dos elementos que formaram esse sistema misto.

Thums (2006, p. 213) ainda destaca que “havendo regras procedimentais de

natureza inquisitória, o sistema acusatório se desfigura e surge o modelo autoritário

ou inquisitório, mas jamais pode ser denominado misto”. Assim, entende o mesmo

autor que “A nomenclatura ‘sistema misto’, é um modo simpático de identificar um

sistema inquisitório moderno, ou reformado”, e acrescenta: “assim como não há

democracia nas ditaduras, não há garantismo no sistema inquisitório” (2006, p. 213),

ou seja, criou-se uma nova nomenclatura para o sistema inquisitório, mas, em

síntese, os procedimentos aplicados continuaram sendo os mesmos.

Podemos dizer, portanto, que o juiz, de modo secreto, busca indícios de

autoria e materialidade, e no momento do julgamento, surge o amplo direito de

defesa e o contraditório.

3.2 Ação Penal

Não há como se falar em ação penal sem citar o art. 5º, XXXV, da

Constituição Federal, que assim dispõe: “A lei não excluirá da apreciação do Poder

Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Nucci (2006, p. 163) afirma que “assegura-se

a todo indivíduo a possibilidade de reclamar do juiz a prestação jurisdicional toda vez

que se sentir ofendido ou ameaçado”. Em outro sentido, o inciso LIX, do art. 5º da

CF/88 disciplina que “será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se

esta não for intentada no prazo legal”, o que permite que, nos casos em que o órgão

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competente do Estado (Ministério Público) não agir quando lhe competir fazê-lo,

poderá o particular ofendido ingressar em juízo.

Além disso, disciplina o art. 1º do CP que “Não há crime sem lei anterior que o

defina. Não há pena sem prévia cominação legal”. Nesse sentido, o posicionamento

de Salles Junior (1998, p. 156) é o seguinte:

A simples prática do ato incriminado por parte do indivíduo não dá ao Estado o direito de lhe impor a sanção sem obediência a determinadas normas. Ao cometer um fato definido pela lei como crime, o indivíduo sujeita-se a uma punição. Incorre no juízo de reprovação, cabendo ao Estado, por meio da aplicação da lei, devolver o equilíbrio à sociedade, equilíbrio perdido pela prática do ato delituoso. Aquele que pratica uma ação, em sentido amplo, ação típica, antijurídica e culpável, sujeita-se à conseqüência imposta pela lei, que é a pena.

De acordo com esse autor, “Ação é o direito de invocar o Poder Judiciário

para aplicação do direito objetivo a determinado caso concreto”, e afirma: ”É por

meio da ação penal que o Estado-Administração leva ao conhecimento do Estado-

Juiz a prática do ato violador, movimentando o aparelho necessário para a

respectiva apuração e punição”.

Tal posicionamento é corroborado por Nucci (2006, p. 163): “Através da ação,

tendo em vista a existência de uma infração penal precedente, o Estado consegue

realizar a sua pretensão de punir o infrator”.

Seguindo nesta linha, o mesmo autor ensina:

Do crime nasce a pretensão punitiva estatal, mas não o direito de ação, que preexiste à prática da infração penal, aliás, como direito constitucional (art. 5º, XXXV, CF). Entretanto, não há possibilidade de haver punição, na órbita penal, sem o devido processo legal, isto é, sem que o Estado ou a parte ofendida, exercitando o direito de ação, proporcione ao acusado o direito ao contraditório e à ampla defesa. [...] nos casos encaminhados ao Juizado Especial Criminal, satisfaz o Estado a sua pretensão punitiva, pois o autor de crime ou contravenção termina respondendo pelo que realizou indevidamente, causando lesão ou ameaça a direito de terceiro (Nucci, 2006).

Segundo Capez (2005, p. 101), Ação Penal “é o direito de pedir ao Estado-

Juiz a aplicação do direito penal objetivo a um caso concreto” e, para o mesmo

autor, “é o direito público subjetivo do Estado-Administração, único titular do poder-

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dever de punir, de pleitear ao Estado-Juiz a aplicação do direito penal objetivo, com

a consequente satisfação da pretensão punitiva”.

Capez (2005), assim define a ação penal:

a) um direito autônomo, que não se confunde com o direito material que se pretende tutelar; b) um direito abstrato, que independe do resultado final do processo; c) um direito subjetivo, pois o titular pode exigir do Estado-juiz a pretensão jurisdicional; d) um direito público, pois a atividade jurisdicional que se pretende provocar é de natureza pública.

Mirabete (2005, p. 109) possui o mesmo entendimento dos autores já citados

e explica que “A ação é um direito de natureza pública, que pertence ao indivíduo

como pessoa, e ao próprio Estado, enquanto administração, perante os órgãos

destinados a tal fim”.

Há que se falar do art. 100, CP, que define as espécies de ação penal em

pública ou privada. Vejamos: “A ação penal é pública, salvo quando a lei

expressamente a declare privativa do ofendido”; assim, a ação penal pública é a

regra; e a privada, a exceção.

A ação penal pública, pode ser subdividida em ação penal pública

incondicionada e condicionada. Segundo Capez (2007, p. 114), “no primeiro caso, o

Ministério Público promoverá a ação independente da vontade ou interferência de

quem quer que seja, bastando para tanto, que concorram as condições da ação e os

pressupostos processuais”. No segundo caso, para o mesmo autor, “a sua atividade

fica condicionada também à manifestação de vontade do ofendido ou do seu

representante legal”. Prevê o § 1º do art. 100, CP: “A ação pública é promovida pelo

Ministério Público, dependendo, quando a lei o exige, de representação do ofendido

ou de requisição do Ministro da Justiça”.

Faz-se necessário tecer mais algumas considerações quanto à ação penal,

pois a doutrina determina alguns requisitos como condições específicas de

procedibilidade. Vejamos:

a) representação do ofendido e requisição do Ministro da Justiça; b) entrada do agente no território nacional; c) autorização do Legislativo para a instauração de processo contra Presidente e Governadores, por crimes comuns; d) trânsito em julgado da sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento, no crime de induzimento a erro essencial

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ou ocultamento do impedimento (Grinover, Scarance e Magalhães apud Capez, 2007, p. 115).

Ainda, a declaração de pobreza nos crimes contra os costumes, previstos nos

artigos 213 a 234 do Código Penal, configura um dos requisitos de condição de

procedibilidade da ação penal.

De acordo com a doutrina, as condições da ação penal são os elementos

necessários para que o julgador decida o mérito da pretensão, uma vez que o

objetivo é a aplicação do direito positivo no caso concreto, restando divididas em

possibilidade jurídica do pedido, interesse de agir e legitimidade de parte. Neste

sentido, Nucci (2008, p. 189) ressalta: “O art. 43 do Código de Processo Penal os

previa, embora não o fizesse de maneira ordenada, nem tampouco os denominasse

com nomenclatura adequada”.

Assim, com a edição da Lei nº 11.719/2008, que revogou o art. 43 CPP, faz-

se necessário tecer algumas considerações, pois ela transferiu o seu conteúdo para

o art. 395 do CPP, que, conforme a doutrina, de maneira ampla, passou a prever

como causas para a rejeição da denúncia ou queixa a inépcia da denúncia ou

queixa, ausência de pressuposto processual, falta de condição para o exercício da

ação penal e ausência de justa causa para o exercício da ação penal (Nucci, 2008).

O mesmo autor sustenta que, mesmo com as alterações sofridas pela Lei nº

11.719/2008, as condições genéricas da ação são as já indicadas (possibilidade

jurídica do pedido, interesse de agir e legitimidade de parte).

A possibilidade jurídica do pedido refere-se ao fato de a pretensão do autor

ser admissível pelo direito objetivo (Salles Junior, 1998).

Nesse sentido, Nucci (2008, p. 190) explica que “Significa que o Estado tem a

possibilidade, em tese, de obter a condenação do réu, motivo pelo qual é

indispensável que a impugnação diga respeito a um fato considerado criminoso”.

O interesse de agir, conforme Salles Junior (1998, p. 159), “é a relação havida

entre a situação antijurídica denunciada e a tutela jurisdicional solicitada”.

Nucci (2008, p. 192) entende que “Detecta-se o interesse de agir do órgão

acusatório quando houver necessidade, adequação e utilidade para a ação penal”.

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A legitimidade de parte garante que somente o titular do interesse pode

propor a ação (Salles Junior, 1998). Nucci (2008, p. 193) ensina que “Ingressando

ação penal, deve o juiz certificar-se da legitimidade da parte nos dois polos: ativo e

passivo. E mais, necessita verificar a legitimidade para a causa (ad causam) e a

legitimidade para o processo (ad processum)”.

Desta forma, fica demonstrado que as condições da ação são requisitos

fundamentais para o início da ação penal.

É importante destacar algumas teorias sobre o direito de ação, formuladas por

doutrinadores com a finalidade de definir sua natureza jurídica:

Para Coutoure a ação seria o próprio direito material substancial; Savigny afirmava que ação e direito material constituíam uma só e mesma coisa; Windscheid criou o conceito de pretensão; Muther definia como o direito de reclamar, de exigir do Estado-Juiz para que este torne respeitado o direito violado; Adolfo Wach demonstrou a autonomia do direito de ação, desvinculando-o da concepção civilista; Chiovenda e Weisman afirmavam que a ação é um direito potestativo; Degenkolb e Plós definiam a ação como direito abstrato, ou seja, um poder jurídico independente do fundamento ou falta de fundamento da pretensão (Mirabete, 2005).

A partir das considerações tecidas a respeito da ação penal, passaremos a

descrever os tipos de ação penal.

3.2.1 Ação Penal Pública

A ação penal pública pode ser subdividida em ação penal pública

incondicionada e condicionada, e ambas serão promovidas pelo órgão do Ministério

Público, conforme § 1º do art. 100, CP, e art. 24, CPP.

3.2.1.1 Ação Penal Pública Incondicionada

Conforme Salles Junior (1998), a ação penal pública incondicionada é aquela

promovida pelo Ministério Público, que a propõe independentemente de quaisquer

condições, sendo que a lei não leva em consideração a vontade da vítima em propor

ou não a ação (CPP, art. 24).

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Mirabete (2005, p. 119) conceitua a ação penal pública incondicionada como

sendo aquela “promovida pelo Ministério Público sem que haja manifestação da

vontade da vítima ou qualquer pessoa”.

Lima (2007, p. 169) demonstra seu posicionamento no mesmo sentido e

acrescenta: “para se saber se determinado delito é ou não é de ação penal pública

incondicionada, basta que debaixo do tipo penal, do título, capítulo ou seção na qual

o mesmo se insere, não venha restrição em outro sentido”. Desta forma, esclarece o

autor que, sabendo-se que a regra é os crimes serem processados através de ação

penal pública incondicionada, apenas quando constarem as expressões procede-se

mediante representação; somente se procede mediante requisição; ou somente se procede mediante queixa, é que o Ministério Público não estará autorizado a

iniciar a ação penal.

Mossin (1998, p. 273) segue o mesmo entendimento dos doutrinadores já

citados, e acrescenta a seguinte conceituação à ação penal pública incondicionada:

[...] desde que o Ministério Público, por meio do procedimento cautelar levado a efeito pela polícia judiciária ou de outras peças de informações (notitia criminis), formar sua opinio delicti, ou seja, sua convicção sobre a ocorrência de um fato punível (parte objetiva) e que a pessoa apontada seja seu possível autor (parte subjetiva), deverá ele promover a ação penal. Neste caso, é integralmente irrelevante, inclusive, a oposição da própria vítima ou de seu representante legal quanto à persecução criminal em juízo. Aqui, na íntegra, prepondera o interesse público em detrimento do particular.

No mesmo sentido, Tourinho Filho (1998, p. 323) afirma que “o órgão do

Ministério Público a propõe, sem que haja manifestação de vontade de quem quer

que seja. Desde que provado o crime [...], deve promover a ação penal, sendo até

irrelevante contrária manifestação de vontade do ofendido[...]” e acrescenta que a

ação penal pública incondicionada, que é a regra na ação penal brasileira, é regida

por cinco princípios: oficialidade, indisponibilidade, legalidade ou obrigatoriedade,

indivisibilidade e intranscedência.

Conforme este autor, o princípio da oficialidade requer que a ação penal

pública incondicionada seja proposta por um órgão oficial do Estado, qual seja,

Ministério Público.

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Já o princípio da indisponibilidade, conforme Tourinho Filho (1998), não

permite ao Ministério Público desistir da ação penal, não importando se ela é

condicionada ou incondicionada. Neste sentido, dispõe o art. 42, CPP, que o

Ministério Público não poderá desistir da ação penal. Sobre o mesmo princípio, o art.

576, CPP, assim prevê: “O Ministério Público não poderá desistir de recursos que

haja interposto”, ou seja, pode não intentar a ação ou não interpor o recurso;

contudo, depois de feito, não poderá desistir, e, no caso de fazê-lo, o Ministério

Público poderá pedir a absolvição ao final do processo.

O princípio da legalidade ou obrigatoriedade, segundo Tourinho Filho (1998,

p. 326), “impõe ao Ministério Público o dever de promover a ação penal, ou o da

oportunidade, que lhe permite julgar da conveniência ou não da propositura da ação

penal”.

O princípio da indivisibilidade, para o mesmo autor, estabelece que, seja a

ação penal pública ou privada, ela é indivisível, pois abrange todos aqueles que

cometeram a infração, ou seja, a vítima não pode escolher quem vai processar (por

exemplo, se duas pessoas cometeram um fato delituoso, caso a vítima deseje

processar, o processo será interposto contra os dois). Contudo, os arts. 79 e 80 do

CPP apresentam exceções a este princípio: “o primeiro determinando a disjunção

obrigatória dos processos, o que vale dizer, das ações penais, e o segundo

cuidando da separação facultativa” (Tourinho Filho, 1998, p. 330).

O último princípio mencionado, o da intranscedência, é assim definido pelo

mesmo autor: “a ação penal é proposta apenas contra a pessoa ou as pessoas a

quem se imputa a prática da infração”. Pode-se afirmar, pois, que a ação penal não

passa da pessoa do condenado.

Feita esta exposição, passaremos a tecer algumas considerações importantes

sobre a ação penal pública condicionada.

3.2.1.2 Ação Penal Pública Condicionada

A ação penal pública condicionada, para Tourinho Filho (2004), é aquela cujo

exercício se subordina a uma condição, sendo a manifestação de vontade no

sentido de proceder do ofendido ou por quem legalmente o represente, ou, ainda, a

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requisição do Ministro da Justiça. Ainda, para o mesmo autor, (2004, p. 333), no

caso do art. 24 do CPP, “a ação penal se diz pública, porque promovida pelo

Ministério Público, e condicionada, porque subordinada a uma daquelas condições

de procedibilidade: representação ou requisição do Ministro da Justiça”.

Mossin (1998, p. 278) conceitua a ação penal pública condicionada desta

maneira: “a representação constitui-se na manifestação de vontade do ofendido ou

de seu representante legal, objetivando a instauração da persecução criminal contra

o sujeito ativo do crime que vitimou o ofendido”. Por isso, podemos dizer que há

certos crimes que atingem mais acentuadamente o interesse do ofendido do que o

do Estado.

Para Salles Junior (1998), a ação penal pública condicionada é uma exceção

ao princípio de que a ação penal pública é incondicionada, sendo que ela continua

sendo pública, visto que o Ministério Público é o órgão competente para promovê-la;

no entanto - embora continue como dominus litis, senhor da ação - o MP depende

de uma condição para propô-la. Desta forma, mesmo que a ação penal seja pública,

a persecutio criminis depende de duas condições: a representação do ofendido ou

de seu representante legal e ou a requisição do Ministro da Justiça.

Mirabete (2005, p. 122) afirma que “a ação pública pode depender da

representação do ofendido, que se constitui numa espécie de pedido-autorização em

que a vítima, seu representante legal ou curador nomeado [...] expressam o desejo

de que a ação seja instaurada [...]”.

A doutrina descreve os crimes cuja ação depende de representação da vítima

ou de seu representante legal, os quais passaremos a expor:

Crime de lesão corporal leve (CP, art. 129, caput, c/c art. 88 da Lei nº 9.099/95; crime de lesão corporal culposa (CP, art. 129, § 6º, c/c art. 88 da Lei nº 9.099/95); perigo de contágio venéreo (CP, art. 130, § 2º); crime contra a honra de funcionário público, em razão de suas funções (art. 141, II, c/c o art. 145, parágrafo único); ameaça (art. 147, parágrafo único); violação de correspondência (art. 151, § 4º), correspondência comercial (art. 152, parágrafo único); furto de coisa comum (art. 156, § 1º); tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de transporte sem ter recursos para o pagamento (art. 176, parágrafo único); corrupção de preposto e violação de segredo de fábrica ou negócio (art. 196, § 1º, X a XII, c/c o § 2º); nos crimes contra os costumes, quando os pais da vítima não têm condições de arcar com as despesas do processo (art. 225, § 2º). O Supremo Tribunal Federal entendeu que, cessado o estado de miserabilidade do ofendido, que legitimou o Ministério Público à propositura

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da ação, esta passaria a ser de natureza privada, cabendo à vítima, ou a quem de direito, dar-lhe prosseguimento no prazo de trinta dias, sob a pena de perempção, causa extintiva da punibilidade (CPP, art. 60, I; CP, art. 107, IV). Nos crimes contra a honra de funcionário cometido propter officium a ação penal também é pública condicionada à representação, de acordo com o Código Penal (art. 145, parágrafo único) e a Lei de Imprensa (art. 40, I, b, da Lei nº 5.250, de 9-2-1967), sendo incabível a persecução privada. Entretanto, recentemente, o STF editou a Súmula 714, na qual firmou entendimento no sentido de que “É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções (Capez, 2007, p. 123).

Capez (2007) define a representação como a manifestação de vontade do

ofendido ou do seu representante legal no sentido de autorizar o desencadeamento

da persecução penal em juízo, tratando-se de condição objetiva de procedibilidade.

O direito de representação poderá ser exercido somente pela vítima ou seu

representante legal. Mirabete (2005, p. 122) ensina que “No caso da vítima ser

menor, somente teriam capacidade processual as pessoas mencionadas na lei civil:

pais, tutores ou curadores, ou, na ausência destes, o curador especial, nomeado, de

ofício ou a requerimento do Ministério Público, pelo juiz (art. 33, CPP)”. E

acrescenta: “Aceitou-se, porém, representação formulada por mãe da vítima maior

de crime contra os costumes por haver nos autos fundadas dúvidas de tratar-se de

débil mental” (JTJ 182/317).

Ainda neste sentido, o art. 39, caput, CPP, prevê que o direito de

representação poderá ser exercido por procurador com poderes especiais, mediante

declaração escrita ou oral. E o art. 24, § 1º, CPP, prevê, sobre os casos de morte do

ofendido, ou quando declarado ausente por decisão judicial, que o direito de

representação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.

Quanto ao prazo para interpor a representação, a vítima ou seu representante

legal possuem seis meses contados do dia em que vierem a saber quem é o autor

do crime, conforme art. 103, CP, e 38, CPP. Caso não seja oferecida a

representação no prazo legal, ocorre a decadência, causa extintiva de punibilidade

(Mirabete, 2005).

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3.2.1.3 Ação Penal Pública Condicionada à Requisição do Ministro da Justiça

Tourinho Filho (1998) afirma que são poucas as hipóteses em que nossa lei

condiciona a proposição da ação penal à requisição ministerial.

O Código Penal, em seu art. 7º, § 3º, b, dispõe sobre crime cometido por

estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, o qual fica subordinado à requisição

ministerial. Ainda, o parágrafo único do art. 145 do Código Penal trata de requisição

do Ministro da Justiça nos casos de crimes contra a honra cometidos contra o

Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro.

Em relação a essa questão, Tourinho Filho (1998) ensina que, quando é

cometido crime contra a honra do Presidente da República, é preciso observar que

no caso de injúria é aplicada a norma do parágrafo único do art. 145, CP; já no caso

de calúnia ou difamação, a ação penal dependerá de requisição ministerial se não

se tratar de crime contra a segurança nacional, a qual tem como finalidade atingir as

instituições e o regime. No caso de a ofensa não atingir a segurança interna ou

externa do Brasil, a ação dependerá de requisição do Ministro da Justiça.

Segundo o mesmo autor, a Lei de Imprensa dispõe sobre outras hipóteses

que exigem a requisição do Ministro da Justiça: crime contra a honra de Ministro de

Estado, Chefe de Estado ou Governo Estrangeiro, seus representantes diplomáticos,

Ministros do Supremo Tribunal Federal e crimes de injúria cometidos pela imprensa

contra Presidente da República, Presidente da Câmara dos Deputados, Presidente

do Senado e Presidente do Supremo Tribunal Federal.

Para a doutrina, no silêncio da lei, entende-se que a requisição pode ser feita

a qualquer tempo, enquanto não extinta a punibilidade do agente, podendo o

Ministro da Justiça encaminhar a requisição ao Ministério Público.

Nucci (2006) entende que é admissível a possibilidade de retratação da

requisição e afirma que “a lei menciona ser retratável, até a oferta de denúncia,

apenas a representação (art. 25, CPP), embora não vejamos qualquer óbice, de se

aplicar, por analogia, o mesmo dispositivo à requisição” (p. 180).

Mirabete entretanto, possui outro entendimento: “a requisição é irretratável,

mesmo porque não contempla a lei expressamente, como o faz na hipótese de

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representação, a possibilidade de revogação do ato de iniciativa do ministro” (2005,

p. 127).

Assim, notadamente, não há um entendimento pacífico da doutrina quanto à

questão da retratação.

Ao finalizar este tópico, convém salientar que a requisição ministerial tem

como destinatário direto o Ministério Público, o qual, após recebê-la, deverá verificar

se é ou não o caso de oferecer denúncia, podendo, ainda, requerer o arquivamento

dos autos se verificar que não estão presentes os pressupostos para sua atuação,

ou enviar à Autoridade Policial para que proceda às diligências necessárias.

3.2.2 Ação Penal Privada

A ação privada subdivide-se em ação penal privada e ação penal privada

subsidiária da pública, e seu titular será sempre o ofendido ou o seu representante

legal. Seu início se dará por meio de queixa, conforme disposto nos artigos 29 e 30

do Código de Processo Penal.

A ação penal privada, que é a exceção na legislação, é amparada pelo

parágrafo 2º do art. 100 do CP e art. 30, CPP, sendo ela promovida pelo particular

ou, nos termos da lei, pelo ofendido ou seu representante legal. Somente de modo

excepcional o Estado transfere ao indivíduo o jus accusationis, de modo exclusivo

ou subsidiário. Para Salles Junior (1998, p. 253), “em nosso direito, por constituir a

ação penal privada medida de exceção, deverá sempre estar expressamente

prevista pela lei. No silêncio, a ação penal será pública”.

O art. 33, CPP, disciplina os casos em que o ofendido for menor de dezoito

anos, ou mentalmente enfermo, ou retardado mental e não tiver representante legal,

ou colidirem os interesses deste com os daquele, o direito de queixa poderá ser

exercido por curador especial, nomeado para o ato.

Dispõe ainda o art. 31, CPP, que, nos casos de morte do ofendido, ou quando

declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na

ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.

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Capez (2007, p. 136) conceitua a ação penal privada como sendo “aquela em

que o Estado, titular exclusivo do direto de punir, transfere a legitimidade para a

propositura da ação penal à vítima ou a seu representante legal”. E explica que

“mesmo na ação privada, o Estado continua sendo o único titular do direito de punir

e, portanto, da pretensão punitiva. Apenas por razões de política criminal é que ele

outorga ao particular o direito de ação” (2007, p. 136).

Lima (2007, p. 216) entende que “Admite-se na ação privada, ao contrário da

pública, a desistência, a renúncia, perdão do ofendido, retratação e perempção, pois

na ação penal privada vigora o princípio da oportunidade e da disponibilidade [...]”.

Passaremos a algumas considerações sobre os princípios que regem a ação

penal privada, na visão de Capez:

Princípio da oportunidade ou conveniência: o ofendido tem a faculdade de propor ou não a ação de acordo com a sua conveniência [...]se a autoridade policial se deparar com uma situação de flagrante delito de ação privada, ela só poderá prender o agente se houver expressa autorização do particular (CPP, art. 5º, § 5º). Princípio da disponibilidade: Na ação privada, a decisão de prosseguir ou não até o final é do ofendido. [...] O particular é o exclusivo titular dessa ação, porque o Estado assim o desejou, e, por isso, é-lhe dada a prerrogativa de exercê-la ou não, conforme suas conveniências. [...] Princípio da indivisibilidade: Previsto no art. 48 do Código Penal. O ofendido pode escolher entre propor ou não a ação. Não pode, porém, escolher dentre os ofensores qual irá processar. [...] Princípio da intranscedência: Significando que a ação penal só pode ser proposta em face do autor e do partícipe da infração penal, não podendo se estender a quaisquer outras pessoas. Decorrência do princípio consagrado no art. 5º, XLV, da Constituição Federal (2007, p. 138-140).

Segundo o entendimento da doutrina, a ação penal privada é dividida em

espécies.

Capez (2007) define a ação penal exclusivamente privada, ou propriamente

dita, como sendo aquela que “pode ser proposta pelo ofendido, se maior de 18 anos

e capaz; por seu representante legal, se o ofendido for menor de 18 anos; ou, no

caso de morte do ofendido ou declaração de ausência, pelo seu cônjuge,

ascendente, descendente ou irmão (CPP, art. 31)”.

Lima (2007, p. 215) define a ação penal privada exclusiva como “aquela

proposta pelo ofendido ou seu representante legal nas hipóteses permissivas na

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Parte Especial do Código Penal, através da expressão somente se procede mediante queixa”.

No mesmo sentido, o doutrinador Tourinho Filho (1998, p. 440) define a ação

penal exclusivamente privada como sendo “aquela cujo exercício compete ao

ofendido ou a quem legalmente o represente; se o ofendido morrer ou for declarado

ausente por decisão judicial, o direito de queixa ou de prosseguir na ação passa ao

cônjuge, ascendente, descendente ou irmão”.

Mossin (1998, p. 147) classifica resumidamente a ação penal exclusivamente

privada como “aquela que pode ser proposta pelo ofendido ou seu representante

legal”.

Quanto a esta modalidade de ação penal, Lima acrescenta:

Dentro da categoria ação penal privada exclusiva, temos a ação penal privada personalíssima, cuja legitimação para agir é deferida apenas à pessoa indicada em lei (ex: o cônjuge ou contraente, na ocultação de impedimento, do art. 236). Neste caso, mesmo com a morte do ofendido, não pode haver sua substituição processual pelas pessoas elencadas no art. 31, devendo se dar a extinção da ação (2007, p. 215).

Na ação privada personalíssima, segundo Capez (2007, p. 140), “Sua

titularidade é atribuída única e exclusivamente ao ofendido, sendo o seu exercício

vedado até mesmo ao seu representante legal, inexistindo, ainda, sucessão por

morte ou ausência”. Assim, tornam-se inaplicáveis os artigos 31 e 34 do Código de

Processo Penal. Ainda, conforme o mesmo autor, “há apenas um caso dessa

espécie de ação penal: crime de induzimento a erro essencial ou ocultação de

impedimento, previsto no Código Penal, no capítulo ‘Dos Crimes contra o

Casamento’, art. 236, parágrafo único”. Neste sentido é o entendimento de Tourinho

Filho (1998) e Mossin (1998), os quais acrescentam que o exercício compete única e

exclusivamente ao ofendido.

Já a ação penal privada subsidiária da pública é “proposta nos crimes de ação

pública, condicionada ou incondicionada, quando o Ministério Público deixar de fazê-

lo no prazo legal” (Capez, 2007, p. 140), sendo a única exceção prevista na CF/88 à

regra da titularidade exclusiva do Ministério Público sobre a ação penal pública (CF,

arts. 5º, LIV, e 129, I).

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Na mesma esteira, destaca Tourinho Filho (1998, p. 441): “aquela que se

intenta nos crimes de ação penal pública, seja condicionada, seja incondicionada, se

o órgão do Ministério Público não oferecer denúncia no prazo legal”.

Acrescentamos o pensamento do doutrinador Lima (2007, p. 224): “se o

promotor não oferece a denúncia no prazo legal ou não arquiva o inquérito ou

mesmo não requisita novas diligências, poderá o ofendido propor a ação penal”.

Para Mossin (1998, p. 147), “é aquela que pode ser exercida pelo ofendido ou seu

representante legal, quando houver inércia ou incúria do Ministério Público, quanto à

observância do prazo legal para a propositura da ação penal pública”.

É válido citar o posicionamento da doutrina que descreve os tipos de ação

penal privada previstos no Código Penal:

a) calúnia, difamação e injúria arts. 138, 139 e 140), salvo as restrições do art. 145; b) alteração de limites, usurpação de águas e esbulho possessório, quando não houver violência e a propriedade for privada (art. 161, § 1º, I e II); c) dano, mesmo quando cometido por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima (art. 163, caput, parágrafo único, IV); d) introdução ou abandono de animais em propriedade alheia (art. 164 c/c o art. 167); e) fraude à execução (art. 179 e parágrafo único); f) violação de direito autoral, usurpação de nome ou pseudônimo alheio, salvo quando praticados em prejuízo de entidades de direito (arts. 184 a 186); g) violação de privilégio de invenção (art. 187); h) usurpação ou indevida exploração de modelo ou desenho privilegiado (art. 189); i) violação de direito de marca de indústria ou de comércio (art. 192); j) concorrência desleal, propaganda desleal, desvio de clientela, falsa indicação de procedência de produto, uso indevido de termos retificativos, arbitrária aposição do próprio nome em mercadorias de outro produtor, uso indevido de nome comercial ou título de estabelecimento, falsa atribuição de distinção ou recompensa e fraudulenta utilização de recipiente ou invólucro de outro produtor (art. 196, caput, e § 1º, I a IX, c/c o § 2º do mesmo artigo); l) induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento para fins matrimoniais (art. 236 e seu parágrafo); m) adultério (art. 240 – revogado pela Lei nº 11.106/2005); n) crimes contra os costumes (Capítulos I e II do Título VI da Parte Especial do CP). Convém notar que o Capítulo III, que tipificava as diversas modalidades do crime de rapto, foi revogado pela Lei nº 11.106/2005, desde que: não sejam cometidos com abuso de pátrio poder, da qualidade de padrasto, de tutela ou curatela; da violência empregada não resulte lesão corporal grave ou morte; possam a ofendida ou seus pais prover as despesas do processo, sem privarem-se dos recursos indispensáveis à sua subsistência; e desde que, no caso do estupro, o crime não seja cometido com violência real (Súmula 608 do STF); e o) exercício arbitrário das próprias razões, desde que praticado sem violência (art. 345, parágrafo único). Em leis extravagantes, os únicos casos de ação privada são os crimes contra a honra cometidos por intermédio da imprensa (Lei nº 5.250/67) (Capez, 2007, p. 142-143).

O art. 38, CPP prevê o prazo de seis meses, contado do dia em que vier a

saber quem foi o autor do crime, para o ofendido ou seu representante exercerem o

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direito de queixa, e o mesmo artigo permite algumas exceções à regra. Na mesma

esteira, o art. 10, CPP, trata do prazo decadencial, contando-se o do início e

excluindo-se o dia final.

Neste sentido, Capez (2007, p. 144) afirma que “se o termo final do prazo cair

em sábado, domingo ou feriado, o ofendido, ou quem deseje, por ele, propor a ação,

deverá procurar um juiz que se encontre em plantão e submeter-lhe a queixa-crime”.

Ainda, para o mesmo autor, nos casos de ação penal privada subsidiária, “o

prazo será de seis meses a contar do encerramento do prazo para o Ministério

Público oferecer a denúncia (CPP, art. 29)” (2007, p. 145).

É importante frisar que a ação penal pública inicia-se com a denúncia, e a

ação penal privada inicia-se com a queixa, conforme veremos a seguir.

3.3 Oferecimento da denúncia e queixa-crime

A denúncia é a peça inaugural da ação penal pública condicionada ou

incondicionada, a qual é disciplinada pelo art. 24 CPP; a queixa é a peça acusatória

inicial da ação penal privada. Assim, passaremos a descrever os casos de

oferecimento de denúncia e queixa-crime.

3.3.1 Denúncia

Conforme já foi mencionado, a denúncia é a peça inaugural da ação penal

pública condicionada ou incondicionada.

Para Salles Junior (1998, p. 178), “denúncia é o ato pelo qual o Estado, por

seu representante junto ao Poder Judiciário (o Ministério Público), fazendo valer o

direito de punir, dá o impulso inicial ao procedimento criminal”.

O art. 41 CPP apresenta os requisitos da denúncia: “A denúncia ou queixa

conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a

qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a

classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas”.

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Neste sentido, a doutrina entende que a denúncia deve conter os seguintes

requisitos:

a) o Juiz a quem é dirigida; b) a exposição do fato criminoso com todas as circunstâncias e sua qualificação jurídico-penal (classificação); c) o nome e a qualificação do réu; d) o pedido para a sua citação; e) o pedido de condenação; e finalmente, f) a indicação das provas que pretenda produzir para demonstrar a veracidade da imputação, inclusive rol de testemunhas. Em seguida, deve o Promotor datá-la e assiná-la (Tourinho Filho, 2008, p. 170).

Assim, para a doutrina, a denúncia é apresentada em forma de petição, pois,

além do juiz a que é dirigida, apresenta duas partes: a primeira, que deve conter a

qualificação do denunciado e a descrição do fato criminoso; e a segunda, que deve

conter a indicação dos dispositivos penais em que o acusado esteja incurso, o

procedimento adequado, o pedido de condenação e o rol de testemunhas (Greco

Filho, 1998).

Tourinho Filho (1998, p. 382-389) apresenta uma classificação específica

para cada requisito da denúncia:

a) Exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias. [...] A exposição deve limitar-se ao necessário à configuração do crime e às demais circunstâncias que circunvolveram o fato e que possam influir na sua caracterização, como, inclusive, as que digam respeito a qualificadoras, causas de aumento ou diminuição da pena, agravantes, atenuantes, etc [...]. b) Qualificação do acusado. [...] As circunstâncias identificatórias devem coincidir com a pessoa do verdadeiro culpado. Por isso, salvo raríssimas exceções, será temeridade indicar apenas o nome e prenome [...]. c) Classificação do crime. A classificação do crime, exigida pelo art. 41 do CPP, nada mais é senão a indicação do dispositivo legal que descreve o fato criminoso. Classificando o crime na denúncia, o Ministério Público está, apenas, indicando o dispositivo legal em cuja pena se encontra incurso o acusado [...]. d) Rol de testemunhas. [...] Se o Promotor de Justiça pretende provar o fato com testemunhas, cumpre-lhe arrolá-las na peça inaugural da ação penal, vale dizer, na denúncia. Não as apresentando naquela oportunidade, não lhe será lícito fazê-lo posteriormente [...].

O prazo para o oferecimento da denúncia está disciplinado no art. 46, CPP, e

será de “cinco dias estando o réu preso, contado da data em que o órgão do

Ministério Público receber os autos do inquérito policial” e “quinze dias se o réu

estiver solto ou afiançado, caso em que se houver a devolução do inquérito policial à

autoridade policial (art. 16), o prazo será contado da data em que o Ministério

Público receber novamente os autos”.

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Neste sentido, a doutrina ensina que existem algumas modalidades de prazos

especiais para o oferecimento da denúncia:

Será de dez dias, no caso de crime eleitoral, dois dias para crime contra a economia popular, quarenta e oito horas para abuso de autoridade, e dez dias para crime previsto na Lei de Drogas (cf. art. 54 da Lei nº 11.343/2006, publicada em 24 de agosto de 2006) [...]. Ressalve-se que esse prazo para oferecimento da denúncia não se aplica à infração prevista no art. 28 da lei, pois, nessa hipótese, o agente será processado e julgado na forma dos arts. 60 e seguintes da Lei nº 9.099/95, que dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais, salvo se houver concurso com os crimes nos arts. 33 a 37 (cf. art. 48, § 1º). Quando o Ministério Público dispensar o inquérito, o prazo para o oferecimento da denúncia contar-se-á do recebimento das peças de informação ou da representação que contiver os elementos indispensáveis à propositura da ação penal (Capez, 2007, p. 155).

Para o mesmo autor, “caso o juiz rejeite a denúncia após tê-la recebido, essa

decisão será nula (nesse sentido: TRF, 3ª Reg., 1ª T., RHC 97.03.014548-5/SP, rel.

Juiz Roberto Haddad, j. 19-8-1997, v. u., DJU, 23 set. 1997, p. 77261-2)” (2007, p.

159).

Nos casos de interposição de recurso, a doutrina entende que “da decisão

que recebe a denúncia não cabe, via de regra, qualquer recurso. Em crimes da

competência originária dos tribunais superiores, cabe agravo. Tratando-se de crimes

de imprensa, cabe recurso em sentido estrito, sem efeito suspensivo” (Capez, 2007,

p. 160). Ainda, no entendimento do mesmo autor, “Da decisão que rejeita, em geral,

cabe recurso em sentido estrito. Nos crimes de competência originária dos tribunais

superiores cabe agravo. Na Lei de Imprensa, a decisão será impugnável mediante

recurso de apelação” (2007, p. 160). No mesmo sentido, vai a súmula 709 do STF:

“Salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o acórdão que provê o recurso

contra a rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo recebimento dela”.

3.3.2 Queixa-crime

A queixa é a peça inicial da ação penal privada; é o ato pelo qual o ofendido

ou seu representante legal dá o impulso inicial ao procedimento criminal, levando ao

conhecimento do Juiz a ocorrência de um fato definido como crime de ação penal

privada, e pede a punição do responsável por sua prática (Salles Junior, 1998).

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Da mesma forma, Tourinho Filho (2008, p. 198) entende que “quando o crime

é de ação penal privada, [...] a ação penal inicia-se por meio de queixa”.

A doutrina considera totalmente impróprio denominar a notícia do crime na

Delegacia de Polícia de queixa, pois trata-se de notícia-crime, e não de queixa

(Lima, 2007).

O § 2º do art. 100, CP, é claro ao expor que “A ação de iniciativa privada é

promovida mediante queixa do ofendido ou de quem tenha qualidade para

representá-lo”; consequentemente, é por meio da queixa que a ação penal privada,

em qualquer uma de sua modalidades, tem seu início.

Disciplina o CPP, em seu art. 38, que a queixa deverá ser oferecida ao juízo

dentro do prazo de seis meses, a partir da data em que a pessoa com direito de

queixa vem a saber quem foi o autor do crime. Segundo a doutrina, “trata-se de

prazo de direito material (decadencial), computando-se o dia do começo, excluindo-

se o dia final, e não se admite prorrogação” (Capez, 2007, p. 155).

O oferecimento da denúncia e da queixa será formalizado nos termos do art.

41, CPP. Portanto, a queixa é ato processual tal qual a denúncia, na qual a

acusação é formalizada.

Nos termos dos arts. 45 e 46, §2º do CPP, poderá ocorrer o aditamento à

queixa, que será deferido pelo Ministério Público, facultativamente, no prazo de três

dias, com a finalidade de incluir circunstâncias que melhor qualifiquem o crime ou

tenham relevância na aplicação da pena (Lima, 2007).

A queixa poderá ser oferecida pelo próprio ofendido ou por quem legalmente

o represente, pessoalmente ou por intermédio de procurador, caso em que o

instrumento procuratório deverá conter poderes especiais, a narração sucinta do fato

criminoso e o nome do querelado (Tourinho Filho, 1998). O mesmo autor

complementa afirmando que “Se o ofendido possuir habilitação técnica, nada

impede que ele próprio ofereça a queixa, caso contrário é necessário constituir um

advogado” (1998, p. 484).

No caso de o ofendido não oferecer a queixa no prazo legal, será decretada a

extinção da punibilidade pela decadência (Tourinho Filho, 1998). Além disso, se o

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ofendido renunciar ao direito de queixa será decretada extinta a punibilidade com

base no art. 107, V, CP. O mesmo autor acrescenta que, nos casos em que o

ofendido reconhecer que o fato era atípico, ou a Polícia não identificar o criminoso,

não há pedido de arquivamento, os autos simplesmente permanecem em Cartório e,

decorrido o prazo legal, decreta-se a extinção da punibilidade (1998).

3.3.3 Renúncia

Segundo Nucci (2006, p. 185), “Renunciar significa desistir ou abdicar de

algo. No contexto processual penal, demonstra que a vítima se recusa a tomar

providência contra o seu agressor, em se tratando de crime de ação penal privada”.

Conforme entendimentos doutrinários, a renúncia deve ocorrer sempre antes

do ajuizamento da ação. O ofendido pode agir assim por diversos motivos: “porque

julga inconveniente o processo, porque perdoou a atitude do ofensor ou ainda por

qualquer outro motivo que lhe evidencia a inutilidade do processo contra o autor da

infração penal” (Nucci, 2006, p. 185).

O art. 104 do Código Penal disciplina que a renúncia pode ser expressa ou

tácita, bastando deixar nítida sua intenção. Porém, o parágrafo único do citado artigo

deixa claro que a renúncia não implica desistir do direito de recebimento da

indenização civil do dano causado pelo crime.

Neste sentido, o art. 50, CPP, assim denomina a renúncia expressa: “A

renúncia expressa constará assinada pelo ofendido, por seu representante legal ou

procurador com poderes especiais”. Já a renúncia tácita está descrita no parágrafo

único do art. 104 CP: “Importa renúncia tácita ao direito de queixa a prática de ato

incompatível com a vontade de exercê-lo; não a implica, todavia, o fato de receber o

ofendido a indenização do dano causado pelo crime”. Assim, para que exista a

renúncia tácita, é fundamental que o titular da ação penal pratique ato incompatível

com o direito de queixa (Tourinho Filho, 1998).

Nucci (2006, p. 186) salienta ainda que, “quando se configurar a renúncia,

havendo inquérito, o juiz cuidará de findar a investigação, julgando extinta a

punibilidade do agente. Inexistindo inquérito, [...] o mais comum é simplesmente

nada fazer, deixando-se de registrar a ocorrência do fato delituoso”.

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3.3.4 Perdão

Conforme ensinamento de Nucci (2006, p. 186), “Perdoar significa desculpar

ou absolver. No caso da ação penal privada exclusiva, equivale à desistência da

demanda, o que somente pode ocorrer quando a ação já está iniciada. É ato

bilateral, exigindo, pois, a concordância do agressor”.

Tourinho Filho (1998) afirma que o perdão é próprio e exclusivo da ação penal

privada e nem mesmo nas hipóteses em que o ofendido oferece queixa substitutiva

da denúncia (art. 29, CPP) é possível ocorrer o perdão de modo a extinguir a

punibilidade.

O art. 105 do Código Penal assim o define: “O perdão do ofendido, nos crimes

em que somente se procede mediante queixa, obsta ao prosseguimento da ação”,

ou seja, a ação deve estar iniciada para poder haver o perdão.

O art. 55 do CPP dispõe que “o perdão poderá ser aceito por procurador com

poderes especiais”.

Conforme o § 2º do art. 106, CP, o limite para a ocorrência do perdão é o

trânsito em julgado da sentença condenatória. O mesmo artigo disciplina que o

perdão poderá se dar, no processo ou fora dele, de forma expressa ou tácita. Assim,

concedido o perdão, mediante declaração expressa nos autos, o querelado será

intimado a dizer, dentro de 3 (três) dias, se aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser

cientificado de que seu silêncio importará aceitação (art. 58 CPP – perdão

expresso). No caso de perdão tácito, o § 1º do art. 106, CP é claro: “perdão tácito é

o que resulta de ato incompatível com a vontade de prosseguir na ação”, como, por

exemplo, o querelante que volta a conviver intimamente com o querelado durante o

trâmite processual (Nucci, 2006). O art. 57, CPP admite todos os meios de prova, no

caso de perdão tácito.

O inciso I do art. 106, CP abre oportunidade para que todos os coautores dele

se beneficiem, “se concedido a qualquer dos querelados, a todos aproveita”. Porém

o inciso III do referido artigo e o art. 51, CPP, exigem a aceitação do querelado para

produzir efeitos, uma vez que o perdão é bilateral. Já o inciso II do art. 106, CP,

assim dispõe: “se concedido por um dos ofendidos, não prejudica o direito dos

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outros”, ou seja, quando houver mais de um ofendido, o perdão concedido por um

deles não afasta dos demais o direito de processar o agressor (Nucci, 2006).

3.3.5 Perempção

Nucci (2006, p. 188) esclarece que “O termo perempção advém do verbo

perimir, que significa colocar um termo ou extinguir. Dá-se a extinção da punibilidade

do querelado, nos casos de ação penal exclusivamente privada, quando o

querelante, por desídia, demonstra desinteresse pelo prosseguimento da ação”.

O art. 60, CPP, descreve as formas de perempção da ação penal, podendo o

juiz, com base nestas, colocar fim ao processo.

A perempção está definida no art. 107, IV do Código Penal como causa

extintiva de punibilidade.

Conforme Tourinho Filho (1998, p. 580), “a perempção é causa extintiva de

punibilidade que alcança, exclusivamente, aqueles casos em que somente se

procede mediante queixa”.

Segundo a doutrina, o Código de Processo Penal descreve cinco situações

em que poderá ocorrer a perempção. A primeira delas se dá quando o querelante

deixar de promover o andamento do processo durante trinta dias seguidos (art. 60,

I). A segunda hipótese é o caso de falecimento ou incapacidade do querelante,

interrompendo o andamento do processo, sem que no prazo de sessenta dias

qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo (cônjuge, ascendente, descendente ou

irmão) compareça em juízo (art. 60, II). A terceira situação é quando o querelante

não comparece injustificadamente a qualquer ato processual indispensável (art. 60,

III). A quarta possibilidade é quando o querelante deixa de formular o pedido de

condenação nas alegações finais (art. 60, III, parte final). A quinta hipótese é o caso

de extinção de pessoa jurídica, quando for a querelante, sem deixar sucessor (art.

60, IV).

Assim, encerramos este segundo capítulo, que apresentou as considerações

sobre o assunto, que é muito amplo e seguramente não fica limitado a este estudo;

contudo, devido a sua relevância para a efetivação deste trabalho, que pretende

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demonstrar a (in)dispensabilidade do inquérito policial para o oferecimento da

denúncia e queixa-crime nos processos judiciais nas Comarcas do Vale do Taquari

em 2008, fez-se necessário.

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4 A (IN)DISPENSABILIDADE DO INQUÉRITO POLICIAL PARA O OFERECIMENTO DA DENÚNCIA E QUEIXA-CRIME NOS

PROCESSOS JUDICIAIS NAS COMARCAS DO VALE DO TAQUARI EM 2008

Após a análise do inquérito policial e seus procedimentos e feitas as

considerações acerca dos sistemas processuais penais, da ação penal pública e

privada, bem como dos casos de oferecimento de denúncia e queixa-crime, será

feita a explanação dos resultados obtidos com a aplicação do questionário

(APÊNDICE A), para coleta de dados proposta para o presente estudo.

4.1 Considerações preliminares

Com o presente estudo, pretende-se demonstrar a (in)dispensabilidade do

Inquérito Policial para o oferecimento da denúncia e queixa-crime nos processos

Judiciais nas Comarcas do Vale do Taquari em 2008. Foi realizado um levantamento

de dados por meio de uma pesquisa, com preenchimento de um questionário, nos

Fóruns das Comarcas do Vale do Taquari, com o objetivo principal de identificar o

número de processos judiciais que ingressaram no período sem o prévio Inquérito

Policial. Faz-se um comparativo com o número total de processos-crime interpostos

no ano de 2008, já que, em nosso entendimento, o inquérito policial é peça

indispensável para o oferecimento da denúncia ou queixa-crime, ou seja, é essencial

para o início do processo-crime, ao contrário da maioria dos doutrinadores, que

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entendem ser o Inquérito Policial mera peça informativa, totalmente dispensável

para o início do processo.

O Vale do Taquari é composto por sete Comarcas, que abrangem trinta e seis

municípios, distribuídos da seguinte forma:

• Comarca de Arroio do Meio: Arroio do Meio, Capitão, Coqueiro Baixo,

Nova Bréscia, Pouso Novo e Travesseiro;

• Comarca de Arvorezinha: Arvorezinha, Ilópolis, Itapuca e Putinga;

• Comarca de Encantado: Anta Gorda, Doutor Ricardo, Encantado,

Muçum, Relvado, Roca Sales e Vespasiano Correa;

• Comarca de Estrela: Bom Retiro do Sul, Colinas, Estrela e Fazenda

Vilanova;

• Comarca de Lajeado: Canudos do Vale, Cruzeiro do Sul, Forquetinha,

Lajeado, Marques de Souza, Progresso, Santa Clara do Sul e Sério;

• Comarca de Taquari: Tabaí e Taquari;

• Comarca de Teutônia: Imigrante, Paverama, Poço das Antas, Teutônia e

Westfália.

Assim, passaremos a expor a análise das respostas obtidas com a aplicação

do questionário encaminhado aos diretores dos Foros das Comarcas do Vale do

Taquari.

4.2 Levantamento de dados

A pesquisa foi aplicada através de questionário (APÊNDICE A) enviado via e-

mail e protocolado pessoalmente, conforme ANEXOS A, B, C, D, E, F e G, nos

Fóruns das Comarcas do Vale do Taquari.

O questionário consiste de questões com perguntas abertas, ou seja, a

pessoa discorre sobre o assunto colocando os dados solicitados e a sua opinião e,

após o seu preenchimento, a direção do Foro o retorna via e-mail ou pessoalmente.

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Ressaltamos a imensa dificuldade encontrada para obtenção dos dados

necessários à conclusão deste trabalho. Em um primeiro momento, a intenção era

realizar a pesquisa no Fórum da Comarca de Encantado, para levantar o número de

processos-crime que ingressaram naquela comarca sem o prévio inquérito policial

no ano de 2008, mas a pesquisa foi inviabilizada pela direção do Foro, que alegou

não existir um servidor para colocar à disposição e realizar o levantamento manual.

Diante da negação, argumentei que eu mesma poderia realizar a pesquisa, mas,

mesmo assim, ela foi inviabilizada. A única informação repassada foi que um

número muito pequeno de processos-crime teria ingressado sem o prévio inquérito

policial durante o ano de 2008 naquela comarca, informação prestada de forma

verbal, pois, até o momento, não recebemos a resposta oficial.

Desta forma, parti para a Comarca de Lajeado, que, sob o mesmo argumento,

inviabilizou a conclusão deste trabalho.

Em uma terceira tentativa, surgiu a idéia da elaboração de um questionário a

ser protocolado em todas as Comarcas do Vale do Taquari.

Feito isso, dentre os sete questionários enviados, somente quatro foram

devolvidos. Assim, o resultado da análise das respostas foi realizado com uma

amostragem pequena, porém suficiente para demonstrar a indispensabilidade do

inquérito policial no início dos processos-crime.

4.3 Análise dos resultados

Para facilitar o exame das informações que tem como objeto principal a

análise da (in)dispensabilidade do inquérito policial para o oferecimento da denúncia

e queixa-crime nas Comarcas do Vale do Taquari no ano de 2008, passaremos a

interpretar as respostas enviadas pelos operadores jurídicos.

Inicialmente, apresentaremos o GRÁFICO 1, o qual demonstra o número de

Comarcas que enviou resposta ao questionário.

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GRÁFICO 01 - Demonstração do número de Comarcas que responderam ao questionário.

Fonte: Elaborado pela autora com base na pesquisa realizada.

Evidencia-se que apenas as Comarcas de Arroio do Meio, Arvorezinha,

Estrela e Taquari responderam ao questionário enviado. A Comarca de Teutônia

encaminhou via e-mail o despacho da Diretora do Foro, que alega a inviabilidade do

atendimento do pedido, conforme consta do ANEXO M; e as Comarcas de

Encantado e Lajeado não encaminharam nenhum documento que pudesse

demonstrar a sua manifestação negativa.

A primeira pergunta do questionário visa unicamente saber quais os

municípios que compõem cada Comarca, o que foi respondido e consta dos

ANEXOS H, I, J, K e L.

Assim, passamos ao segundo questionamento, que objetiva saber o número

de processos-crime que ingressaram em cada comarca no ano de 2008, a fim de

confrontar com a terceira pergunta, que busca obter a informação do número de

processos-crime que iniciaram sem o prévio inquérito policial naquele período.

Vejamos os gráficos específicos de cada Comarca:

457%

343% Respondeu

Não Respondeu

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GRÁFICO 02 – Porcentagem de processos-crime que iniciaram sem o prévio Inquérito Policial no ano de 2008 na Comarca de Arvorezinha.

Fonte: Elaborado pela autora com base na pesquisa realizada

GRÁFICO 03 – Porcentagem de processos-crime que iniciaram sem o prévio Inquérito Policial no ano de 2008 na Primeira Vara Judicial da Comarca de Estrela.

Fonte: Elaborado pela autora com base na pesquisa realizada.

A Comarca de Taquari informou que não há como fornecer este dado; a

Comarca de Arroio do Meio informou que não há esse controle, mas pode assegurar

que a quase totalidade dos processos-crime está fundada em inquérito policial ou

termo circunstanciado (em crime de menor potencial ofensivo); e a Segunda Vara

Judicial da Comarca de Estrela informou que não é possível obter tal dado no

sistema e que a busca manual seria inviável.

Passamos à quarta pergunta, que se refere à opinião pessoal de cada

entrevistado quanto à (in)dispensabilidade do inquérito policial para o início dos

processos-crime. Identificamos as diversas opiniões que existem a respeito do tema,

conforme GRÁFICO 04.

219100%

00%

Processos-crimeque ingressaram noano de 2008

Processos-crimeque ingressaram noano de 2008 sem oprévio InquéritoPolicial

950100%

00%

Processos-crimeque ingressaram noano de 2008

Processos-crimeque ingressaram noano de 2008 sem oprévio InquéritoPolicial

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GRÁFICO 04 – O inquérito policial é dispensável ou indispensável para o início dos processos-crime?

Fonte: Elaborado pela autora com base na pesquisa realizada

Quanto ao quarto questionamento, o responsável pela Comarca de

Arvorezinha entende que o Inquérito Policial é indispensável, pois é necessário

procedimento investigado prévio para evitar acusações sem justa causa. E

acrescenta: é necessário, no entanto, atualizar o inquérito policial com a CF/88, isto

é, torná-lo mais contraditório e menos inquisitivo.

No mesmo sentido, o responsável pela Primeira Vara Judicial da Comarca de

Estrela entende que o Inquérito Policial é indispensável, já que é onde se produzem

provas para um bom andamento no processo criminal e onde são conseguidas as

melhores provas, através de perícias, reconstituição do crime, e mesmo prova oral

nos termos de depoimentos.

Já o responsável pela Segunda Vara Judicial da Comarca de Estrela

manifestou-se em outro sentido, afirmando que o inquérito policial é dispensável em

alguns casos, uma vez que o Ministério Público, tomando conhecimento de infração

penal e tendo peças de informação, poderá ajuizar o processo-crime. Em outros

delitos, porém, como em homicídios, roubos e outros, entende que o inquérito

policial seja indispensável, em razão das inúmeras diligências a serem feitas, o que

não seria possível na atual estrutura do Ministério Público. Entende, ainda, que a

Polícia Civil deveria ser melhor aparelhada, tanto com pessoal, como com veículos,

para melhor desempenhar as suas funções, assim como ampliar o Instituto Geral de

00%

240%

240%

120%

Dispensável

Indispensável

Dispensável/Indispensável

Não opinou

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Perícias com maior número de peritos e instrumentos mais modernos, o que

resultaria em um inquérito policial melhor instruído em um menor espaço de tempo.

Também o responsável pela Comarca de Arroio do Meio entende que, na

prática, o inquérito policial tem-se mostrado indispensável para a propositura das

ações penais, mas, em tese, poderia ser dispensado, desde que o órgão acusador

disponha de elementos suficientes oriundos de outras fontes (por exemplo, CPI,

Relatório do Conselho Tutelar, informação de Agente Fiscal, etc).

Em outro sentido, a responsável pela Comarca de Taquari informou que não

possui condições de afirmar se o inquérito policial é dispensável ou indispensável.

Porém, afirmou que as provas que considera para formar sua convicção são aquelas

produzidas perante o crivo do contraditório, ou seja, perante autoridade equidistante

(juiz) e as partes (acusação e defesa), salvo aquelas provas consideradas

irrepetíveis, a exemplo do auto de exame de corpo de delito.

Assim, após a realização do levantamento de dados, podemos confrontar o

posicionamento doutrinário com os números levantados, e encontramos uma

resposta divergente da doutrina, a qual em sua maioria, entende que o inquérito

policial é totalmente dispensável ao início do processo-crime.

Desta forma, a indispensabilidade do inquérito policial fica claramente

demonstrada nos GRÁFICOS 02 e 03, que ilustram a informação repassada pela

Comarca de Arvorezinha e pela Primeira Vara Judicial da Comarca de Estrela,

informando que nenhum processo-crime teve início sem o prévio inquérito policial no

ano de 2008.

Além disso, com as respostas direcionadas ao quarto questionamento,

podemos considerar que o inquérito policial é indispensável ao início dos processos-

crime, conforme se demonstra no GRÁFICO 04, que ilustra os diferentes

posicionamentos quanto ao assunto.

Assim, finalizamos este capítulo com a convicção de que o presente estudo

atingiu seu objetivo de demonstrar a indispensabilidade do inquérito policial para o

início dos processos-crime. Além disso, ressaltamos que, no decorrer da pesquisa,

nos deparamos com grandes dificuldades para a obtenção dos dados necessários à

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sua conclusão. Com certeza esta pesquisa teria uma melhor qualificação se todas

as Comarcas houvessem colaborado.

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5 CONCLUSÃO

O presente trabalho de conclusão de curso foi elaborado com a pretensão de

quebrar o paradigma criado por grande parte da doutrina, que considera o inquérito

policial uma peça meramente informativa e totalmente dispensável ao início do

processo.

A experiência do contato diário com o inquérito policial em estágio realizado

na Delegacia de Polícia de Encantado foi o que motivou o presente estudo, que

possui como objetivo principal demonstrar que o posicionamento apresentado pela

teoria é totalmente divergente do que realmente acontece na prática.

Assim, considerando-se o exposto neste estudo, de cunho teórico e prático,

concluiu-se que é indispensável o inquérito policial para o oferecimento da denúncia

e queixa-crime nos processos judiciais que ingressaram nas Comarcas do Vale do

Taquari no ano de 2008.

Conforme já referido, a pesquisa de campo foi efetuada nos Fóruns das

Comarcas do Vale do Taquari, visando constatar o número de processos-crime que

ingressaram sem o prévio inquérito policial no período de 2008.

Assim, após a realização da pesquisa de campo, respondida de forma parcial,

uma vez que apenas as Comarcas de Arroio do Meio, Arvorezinha, Estrela e Taquari

prestaram as informações, o objetivo pelo qual o trabalho de monografia foi

motivado restou concluído. A partir das respostas aos questionamentos foi possível

confrontar o posicionamento doutrinário com os números levantados, que nos

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permitiram constatar ser o inquérito policial um procedimento indispensável ao início

dos processos-crime.

Outra informação bastante importante obtida com a análise dos dados

levantados foi que as opiniões pessoais também ratificam a indispensabilidade do

inquérito policial, diferentemente do entendimento da maioria dos doutrinadores, que

o consideram um procedimento totalmente dispensável ao início dos processos.

Por derradeiro, constatamos que não se esgotam aqui as considerações a

respeito do assunto, já que chegamos a uma conclusão baseada em números

levantados apenas na área de abrangência das Comarcas do Vale do Taquari.

Contudo, pelo que se pode observar na prática, o inquérito policial é totalmente

indispensável e necessário ao início dos processos.

Finalizando o tema proposto, entendemos que o Inquérito Policial, da forma

como se apresenta, não está totalmente em consonância com a Constituição

Federal motivo pelo qual, entendemos que ele deveria ser repensado e

modernizado, adequando-se ao atual momento. Assim, se o inquérito policial fosse

mais contraditório e menos inquisitivo, atenderia melhor à sua finalidade.

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REFERÊNCIAS

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BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 8. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003.

BRASIL. Vade Mecum. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

______. Curso de Processo Penal. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

CHEMIN, Beatris F. (Org.). Guia prático da Univates para trabalhos acadêmicos. Lajeado: Univates, 2005.

GARCIA, Ismar Estulano. Procedimento Policial: Inquérito Policial e Termo Circunstanciado. 11. ed. Goiânia: AB Editora, 2007.

GRECO FILHO, Vicente. Manual de Processo Penal. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 1998.

LIMA, Marcellus Polastri. Manual de Processo Penal. Rio de Janeiro: Editora Lúmen Júris, 2007.

LUFT, Lya. Minidicionário Luft. São Paulo: Ática, 2000.

MEHMERI, Adilson. Inquérito Policial: dinâmica. São Paulo: Saraiva, 1992.

MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

______. Processo Penal. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

MOSSIN, Heráclito Antônio. Curso de Processo Penal. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1998. v 1.

MUCCIO, Hidejalma. Curso de Processo Penal. Bauru, SP: Edipro, 2000. v 1.

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NORONHA, E. Magalhães. Curso de Direito Processual Penal. 27. ed. Atual. Por Adalberto José Q. T. de Camargo Aranha. São Paulo: Saraiva, 1999.

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. 2. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006.

______. Manual de Processo Penal e Execução Penal. 5. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008.

OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. Belo Horizonte: Del Rey, 2002.

SALLES JUNIOR, Romeu de Almeida. Inquérito Policial e Ação Penal. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 1998.

THUMS, Gilberto. Sistemas Processuais Penais: Tempo. Tecnologia. Dromologia. Garantismo. Rio de Janeiro: Editora Lúmen Júris, 2006.

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 1998. v 1.

______. Processo Penal. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. v 1.

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APÊNDICES

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LISTA DE APÊNDICES

APÊNDICE A Questionário enviado às Comarcas do Vale do Taquari.........................................................................................

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APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO ENCAMINHADO AOS FÓRUNS DAS COMARCAS DO VALE DO TAQUARI.

Comarca de _________________________________________________________

1) Quais os municípios que compõem a Comarca?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

2) Quantos processos-crime ingressaram na Comarca durante o ano de 2008?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

3) Quantos processos-crime ingressaram na Comarca sem o prévio inquérito policial

durante o ano de 2008?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

4) Você considera o inquérito policial dispensável ou indispensável para o início dos

processos-crime? Por quê?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

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ANEXOS

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LISTA DE ANEXOS

ANEXO A Ofício 076/DIREITO/CCHJ/UNIVATES dirigido ao Diretor do Fórum de Arroio do Meio ..............................................................................

76

ANEXO B Ofício 075/DIREITO/CCHJ/UNIVATES dirigido ao Diretor do Fórum de Arvorezinha ..................................................................................

77

ANEXO C Ofício 073/DIREITO/CCHJ/UNIVATES dirigido à Diretora do Fórum de Encantado.....................................................................................

78

ANEXO D Ofício 077/DIREITO/CCHJ/UNIVATES dirigido ao Diretor do Fórum de Estrela ..........................................................................................

79

ANEXO E Ofício 074/DIREITO/CCHJ/UNIVATES dirigido ao Diretor do Fórum de Lajeado ........................................................................................

80

ANEXO F Ofício 079/DIREITO/CCHJ/UNIVATES dirigido à Diretora do Fórum de Taquari .........................................................................................

81

ANEXO G Requerimento dirigido à Diretora do Fórum de Teutônia .................. 82 ANEXO H Questionário respondido pela Comarca de Arvorezinha .................. 83 ANEXO I Questionário respondido pela Comarca de Arroio do Meio .............. 84 ANEXO J Questionário respondido pela Primeira Vara Judicial da Comarca

de Estrela .......................................................................................... 85

ANEXO K Questionário respondido pela Segunda Vara Judicial da Comarca de Estrela ..........................................................................................

86

ANEXO L Questionário respondido pela Comarca de Taquari ......................... 88 ANEXO M Despacho da Diretora do Foro da Comarca de Teutônia ................ 89

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ANEXO A - OFÍCIO 076/DIREITO/CCHJ/UNIVATES DIRIGIDO AO DIRETOR DO FÓRUM DE ARROIO DO MEIO

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ANEXO B - OFÍCIO 075/DIREITO/CCHJ/UNIVATES DIRIGIDO AO DIRETOR DO FÓRUM DE ARVOREZINHA

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ANEXO C - OFÍCIO 073/DIREITO/CCHJ/UNIVATES DIRIGIDO À DIRETORA DO FÓRUM DE ENCANTADO

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ANEXO D - OFÍCIO 077/DIREITO/CCHJ/UNIVATES DIRIGIDO AO DIRETOR DO FÓRUM DE ESTRELA

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ANEXO E - OFÍCIO 074/DIREITO/CCHJ/UNIVATES DIRIGIDO AO DIRETOR DO FÓRUM DE LAJEADO

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ANEXO F - OFÍCIO 079/DIREITO/CCHJ/UNIVATES DIRIGIDO À DIRETORA DO FÓRUM DE TAQUARI

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ANEXO G - REQUERIMENTO DIRIGIDO À DIRETORA DO FÓRUM DE TEUTÔNIA

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ANEXO H - QUESTIONÁRIO RESPONDIDO PELA COMARCA DE ARVOREZINHA

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ANEXO I - QUESTIONÁRIO RESPONDIDO PELA COMARCA DE ARROIO DO MEIO

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ANEXO J – QUESTIONÁRIO RESPONDIDO PELA PRIMEIRA VARA JUDICIAL DA COMARCA DE ESTRELA

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ANEXO K – QUESTIONÁRIO RESPONDIDO PELA SEGUNDA VARA JUDICIAL DA COMARCA DE ESTRELA

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ANEXO L – QUESTIONÁRIOS RESPONDIDO PELA COMARCA DE TAQUARI

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ANEXO M – DESPACHO DA DIRETORA DO FORO DA COMARCA DE TEUTÔNIA