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A UNIÃO JOÃO PESSOA, DOMINGO, 16 DE AGOSTO DE 2009 ESP ECIAL GILBERTO ARAÚJO que salvou Paris e sumiu no céu Há 36 anos, a perícia do piloto Gilberto Araújo evitou que um Boeing 707 da Varig caísse sobre o aeroporto de Orly. Das 134 pessoas a bordo, 11 sobreviveram. O desastre No dia 30 de janeiro de 1979, o comandante Gilberto Araújo decolou com outro Boeing 707 da Varig do Japão para os EUA. O avião continua desaparecido. O mistério A incrível história do herói aviador Paraíba democrática, terra amada”

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A UNIÃOJOÃO PESSOA, DOMINGO,

16 DE AGOSTO DE 2009

E S P E C I A L

GILBERTO ARAÚJO

que salvou Paris e sumiu no céu

Há 36 anos, a perícia do pilotoGilberto Araújo evitou que umBoeing 707 da Varig caísse sobreo aeroporto de Orly. Das 134pessoas a bordo, 11 sobreviveram.

O desastreNo dia 30 de janeiro de 1979, ocomandante Gilberto Araújodecolou com outro Boeing 707 daVarig do Japão para os EUA. Oavião continua desaparecido.

O mistério

A incrível história do herói aviador

“Paraíba democrática, terra amada”

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2 JOÃO PESSOA, DOMINGO, 16 DE AGOSTO DE 2009 A UNIÃO

“Paraíba democrática, terra amada”GILBERTO ARAÚJOE S P E C I A L

SUPERINTENDÊNCIA DE IMPRENSA E EDITORAFundado em 2 de fevereiro de 1893 no

governo de Álvaro Machado

BR-101 - Km 3 - CEP 58.082-010 - Distrito Industrial - João Pessoa -Paraíba . PABX: (0xx83) 3218-6500 - FAX: 3218-6510 - Redação:

3218-6511/3218-6512www.para iba .pb .gov .b r

SuperintendenteNELSON COELHO DA SILVA

Diretor de OperaçõesMILTON FERREIRA DA NÓBREGA

Diretor TécnicoWELLINGTON H. VASCONCELOS DE AGUIAR

Diretor AdministrativoCRISTIANO XAVIER DE LIRA MACHADO

Editor GeralJOÃO EVANGELISTA

Editor de Cadernos EspeciaisWILLIAM COSTA

ReportagemÂNGELO MEDEIROS

Editoração Eletrônica ULISSES DEMÉTRIO

CONSELHO EDITORIAL

Lena Guimarães, Genésio de Sousa, Nelson Coelho, WellingtonAguiar, Cristiano Machado, Milton Nóbrega, João Evangelista,Linaldo Guedes, Marlene Alves (UEPB), João Pinto (API), Land

Seixas (Sind. Jornalistas), Juarez Farias (APL), Luiz HugoGuimarães (IHGP), Rômulo Polari (UFPB) e Thompsom Mariz (UFCG)

A UNIÃO

Nascido para voarGILBERTO ARAÚJO

ilberto Araújo da Silva é um dos pilotosmais marcantes na história da aviaçãobrasileira. Nascido no município de

Santa Luzia, na região do Vale do Sabugi pa-raibano, no início da década de 20, mais preci-samente em 12 de novembro de 1923, o Co-mandante Gilberto, como era mais conheci-do, ficou mundialmente famoso por duas gran-des tragédias: o "Desastre de Orly", em 1973,na França, e o sumiço do voo prefixo PP-VLU,em 1979, ambos com ele no comando de ae-ronaves Boeing 707, da Varig.

Gilberto Araújo casou-se em primeiras núp-cias com Eclair Freitas da Silva, e em segunda,com Vilma Fogarolli Silva, de cujas uniões nas-ceram os seguintes filhos: Maria Letícia, Cleuza,Elizabeth, Leonardo e Gilberto, da primeira es-posa, e Ana Cláudia e Eduardo, da segunda.

Comandante Gilberto nasceu predestinadoa obter sucesso na aviação brasileira. Em 1942transferiu-se da Paraíba para a capital de Goiás,tendo sido nomeado funcionário da Prefeitu-ra Municipal de Goiânia. Neste mesmo anotrabalhou como empregado do aeroclube da-quela cidade, de que era instrutor o seu tio e ogrande exemplo para aviação, Filon FerrerAraújo, então sargento da Força Aérea Brasi-leira - FAB. Através de uma bolsa concedidapelo Estado, fez o curso de piloto naquela mes-ma unidade, qualificando-se em 1943.

Ângelo MedeirosREPÓRTER

Glórias de um piloto brasileiro

G

Menino Lucas, de 5 anos, brinca com um avião de brinquedo em frente à casa onde nasceu o comandante Gilberto Araújo da Silva, em Santa Luzia

De 1944 a 1946, Gilberto Araújo foi piloto da Funda-ção Brasil Central, baseado em Xavantina, às margensdo Rio Xingu, no Estado do Mato Grosso. Preocupa-do sempre em buscar o aperfeiçoamento profissional, oComandante Gilberto, neste período, ainda participoudos cursos de Aperfeiçoamento de Instrutores, PilotoComercial e Voo por Instrumentos (Voo Cego), no Ae-roclube do Brasil, com ajuda de bolsa federal.

Em 1947, iniciou-se na carreira da aviação comer-cial, já como funcionário da antiga Viação Aérea Baia-na, subsidiária no Brasil das empresas Panair do Bra-sil, Convair-440, Super Constellation, Electra II, DC-8 e Boeing 707. Até a terceira, no posto de Coman-dante. Naquela época seus voos eram restritos ape-nas ao território nacional brasileiro.

Gilberto Araújo foi ainda promovido ao cargo decomandante dos modelos Boeing 247 (bi-motor) ede Douglas DC-3, em 1949. Neste ano, tornou-se ain-da proprietário de táxi-aéreo em Goiânia e sócio daImperial Transportes Aéreos, em Belo Horizonte(MG). Entre 1952 e 1973, foi nomeado comandanteda Nacional Transportes Aéreos, adquirida pela Real,recebendo o nome de Consórcio Aerovias Nacional,mais tarde adquirido pela Viação Aérea Riogranden-se - Varig. Neste período, o comandante, ávido peloconhecimento e crescimento profissional, ainda fezo curso Curtes Comander (C-46).

Em 1966, Araújo também fez o curso de aviação naaeronave Electra II, tendo sido promovido a coman-dante da mesma, em linhas domésticas e da Ilha doSal, em Cabo Verde, e Lisboa, em Portugal. Em 1967,fez o curso de DC-8, não chegando a voar naquele

equipamento por interesse da empresa, que o repas-sou a uma aeronave de categoria superior, o Boeing707. Neste tipo de avião, foi promovido, no ano de1971, Comandante Máster, posto máximo da carreira.

No comando do Boeing-707, realizou voos em to-das as linhas da Varig do exterior: América do Sul,América Central e do Norte, Ásia, Europa e África.Ainda foi treinado pela gigante da aviação mundial,TAP, em Lisboa.

Em 1973, foi condecorado com a Ordem do MéritoAeronáutico, no grau de Cavaleiro, pela sua condutano acidente que ficou conhecido como �O Desastre deOrly�, na França, episódio que ficou conhecido peloato heróico do comandante Gilberto, ao conseguir des-viar o voo do Aeroporto de Orly para a periferia deParis. Em 11 de julho de 1973, um Boeing 707 modelo345-C prefixo PP-VJZ da Varig, que faria o voo 820Rio-Paris caiu quando se preparava para aterrissar noaeroporto de Orly, em Paris, no local denominadoSaulx-des-Chartreux. O acidente deixou 122 mortos.

Em 1973, Gilberto Araújo ainda foi agraciado com aoutorga do �Brevet de Ouro", pela Varig, por seus 25anos de comando na aviação comercial.

Seis anos após estar afastado dos voos comerciais,por causa do "Desastre de Orly", o comandante Gil-berto Araújo, voltaria a voar em conexões internacio-nais com o Boeing 707, prefixo PP-VLU, da Varig, em1979. No dia 30 de janeiro do mesmo ano, o pilotoparaibano e mais cinco tripulantes zarparam do aero-porto de Narita, em Tóquio, no Japão, com destino aLos Angeles, nos Estados Unidos. Nunca mais se tevenotícias do voo.

ÂNGELO MEDEIROS

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3JOÃO PESSOA, DOMINGO, 16 DE AGOSTO DE 2009 A UNIÃO“Paraíba democrática, terra amada” GILBERTO ARAÚJO

E S P E C I A L

Um exemplo na aviaçãoTENENTE FILON

T alvez o maior exemplo daaviação para o jovem Gilber-to Araújo tenha sido o seu

tio, o tenente Filon Araújo. Irmãode seu pai e um dos filhos de Chi-co Pedro, Filon ingressou na Aero-náutica mediante rigorosa seleçãopara o curso de sargento, por pos-suir predicados e conhecimentosadequados para tal.

Na Aeronáutica, ele foi um dedi-cado aluno, tendo concluído o seucurso sem maiores dificuldades,dentro do prazo mínimo estabele-cido pela corporação. Coincidente-mente, ele recebeu seu diploma desargento aviador e mecânico no dia31 de dezembro de 1931, na mes-ma solenidade em que o cadetetambém paraibano AdamastorCantalice recebia o seu diploma deoficial. Talvez tenham sido os doisprimeiros paraibanos a se tornarempilotos de avião.

Nesta época, a família de Chico Pe-dro tinha se mudado para CampinaGrande, e começava a se organizarnaquela cidade. O neto Gilberto Araú-jo continuava seus estudos, enquan-to seu tio Filon prosseguia sua carrei-ra cheia de méritos na Aeronáutica,onde dava sinais de uma trajetóriabrilhante na função de sargento avi-ador e, posteriormente, tenente.

Na Aeronáutica, Filon desempe-nhou importantes missões no Bra-sil central, onde era sediado. Resi-dindo em Goiânia (GO) na décadade 30, o piloto paraibano não de-

"Recordo-me de um deles, emque o sargento Filon, enfrentan-do uma atmosfera de raios e tro-vões em plena selva, com a visibi-lidade bastante prejudicada, em-brenhou-se mata adentro, para,em uma pequena pista improvi-sada em uma clareira, fazer umperigoso pouso, no afã de resga-tar para cuidados médicos umcompanheiro que fora acometidode mal súbito", frisou.

Ainda segundo ele, há poucosminutos da viagem de volta, o co-mandante Filon, sozinho com seucompanheiro em estado muitograve, dividindo suas atençõesentre o amigo enfermo e os ins-trumentos de bordo, passou pelomaior constrangimento de suavida, ao ser testemunha única dapassagem daquele companheirodeste para o outro mundo. Nosúltimos momentos o seu amigo deforma desesperada pedia para nãomorrer, fato que deixou o velho

piloto estarrecido e impotente,diante daquela situação melan-cólica, dentro da cabina solitá-ria do monomotor, na imensi-dão dos ares.

PIONEIRO DO CORREIO AÉREO "O Serviço Aéreo do Estado é

dirigido pelo tenente Filon Fer-rer de Araújo, que tem a seguintefolha de serviço: é piloto e me-cânico diplomado e, de 1934 a1942, comandou todo o serviçoda FAB em Goiás. Nesse perío-do, dinamizou o aeroclube deGoiânia criado em 1938, e fun-dou os de Jataí, Rio Verde e Aná-polis, onde foi formada mais deuma centena de pilotos. Em1945, recebeu menção honrosada Fundação Brasil Central, pelaassistência mecânica que pres-tou, como técnico, à expediçãoRoncador Xingu.

Em 1951, a Rádio Nacional doRio de Janeiro lhe conferiu di-ploma de Honra ao Mérito, pe-los relevantes serviços prestadosà FAB, também na qualidade detécnico. Mais recentemente, otenente Filon foi agraciado coma grande medalha de Fundadore Pioneiro do Correio Aéreo Na-cional", diz trecho de matériapublicada no jornal O Popular,em Goiânia, na sua edição de 25de agosto de 1965, em que rela-ta a atuação do santaluziense, te-nente Filon, no Estado de Goiás.

#O tenente Filon de Araújo também acumulou glórias e enfrentou adversidadesno comando de aeronaves. O maior transtorno de sua vida aconteceuquando foi obrigado a lidar com os instrumentos de bordo, enquanto tentavasalvar um companheiro acometido de mal súbito. O avião permaneceuno curso certo; o amigo, no entanto, perdeu a vida em pleno ar.

Sob a orientação do seu tio, o tenente Filon Araújo,ainda na década de 40, o comandante Gilberto Araújoiniciou a carreira na aviação comercial.Entre as aeronaves que pilotou na épocaestava o avião "Super Constellation". (Foto)

morou muito a se integrar àquela so-ciedade, em razão da sua grande ca-pacidade de comunicação.

Por muitos anos pilotou vários aviõesmilitares em trabalho difícil e perigo-so, voando sobre a floresta amazôni-ca, pousando e decolando em pistasimprovisadas na selva, enfrentandomaus tempos e tempestades, princi-palmente quando desempenhavafunções no conhecido Correio AéreoNacional, do qual foi fundador e quetanto serviço prestou à pátria.

"Não foram poucas as situações deperigo enfrentadas pelo sargento Fi-lon, no cumprimento do seu dever.Tive a oportunidade de ler uma ma-téria publicada em uma revista espe-cializada enviada ao meu pai (AbelCoelho) em Santa Luzia pelo próprioFilon, onde eram narrados vários epi-sódios enaltecendo a bravura do nos-so valente militar", diz Newton Mari-nho em um trecho da obra que es-creve sobre o município de SantaLuzia e seus filhos ilustres.

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4 JOÃO PESSOA, DOMINGO, 16 DE AGOSTO DE 2009 A UNIÃO

“Paraíba democrática, terra amada”GILBERTO ARAÚJOE S P E C I A L

Descoberta da vocaçãoPRIMEIROS PASSOS

O

Chico Pedro: fonte do senso de orientação

tenente Filon foi também umdos fundadores do Ministé-rio da Aeronáutica. Sempre

preocupado com o destino dos seusparentes deixados em CampinaGrande, no ano de 1941, quando seusobrinho Gilberto Araújo havia com-pletado dezoito anos, Filon o cha-mou para a sua companhia a fim decompletar seus estudos e se definirpor uma profissão.

"O jovem santaluziense embarcouem Recife em um avião militar tipoBeechraft, na companhia de um irmãomais novo, desconfiado e temeroso,pois nunca tinha saído de casa para lu-gar algum até aquela data. Na viagem,que durou cerca de oito horas, enfren-tando o medo, sede, falta de comodi-dade do avião e, principalmente, afome, Gilberto finalmente chega a Goiâ-nia, após ter passado uma semana noRio de Janeiro como hóspede da Ae-ronáutica, aguardando outra caronaaté seu destino final, tudo por inter-médio do seu tio graduado da ForçaAérea", relata Newton Marinho.

Quando da chegada de Gilberto aGoiânia, a primeira coisa que seu tiofez foi matriculá-lo no Liceu, para con-tinuar seus estudos. Agregado no ae-roclube onde seu tio dispunha degrande prestígio, o menino Gilberto

já se sentia feliz bem próximo dos avi-ões, ajudando os mecânicos em pe-quenos reparos, no cheiro que lhe eraagradável, da graxa e da gasolina.

O sonho do paraibano durou mui-to pouco, pois o tenente Filon, usan-do da sua influência junto às autori-dades locais, arranjou por intermédiodo Dr. Pimenta, secretário do Gover-no, um emprego público para Gilber-

to, na prefeitura da Capital, com di-reito a sala, birô e privilégio no expe-diente havendo até folga para conti-nuar estudando.

"Para quem havia chegado de Cam-pina Grande sem possuir nada, esta-va ali estampada uma oportunidadeímpar. Era a grande chance. Os ou-tros operários do aeroclube lhes de-ram os parabéns. Gilberto acabava de

ficar na boa, era esse o pensamentoda maioria dos colegas. Nunca maishaveria de vestir roupa suja de óleo etombar latas de gasolina, jamais", res-saltou Marinho.

Gilberto tomou posse no empregoe, na sua designação, foi ser chefiadopor um senhor conhecido como Elias,pessoa que desempenhava a funçãode secretário do prefeito de Goiânia,professor Ventura.

Em pouco tempo, o novo funcioná-rio começou a dar conta das suas atri-buições e, como era de se esperar, omoço logo conquistou a amizade dosseus colegas, pois era uma característi-ca daquele sertanejo se comunicar fa-cilmente com as pessoas. Desde crian-ça sempre foi muito simpático.

O ambiente do trabalho era outro,completamente diferente da oficina dohangar do aeroclube. Todos ali anda-vam bem vestidos, o cheiro da graxa eda gasolina agora se substituía pelosodores do nanquim, mofo e naftalina,bem característicos das salas burocráti-cas. Muito satisfeito com o serviço, ali-ás, o seu primeiro emprego, contudo,ele via passar o tempo numa monoto-nia que o estava deprimindo dia a dia,semana após semana, mês após mês,chegando finalmente à conclusão deque aquilo não era vida para ele.

Segundo relato de amigos e co-nhecidos mais próximos das raízesfamiliares do comandante Gilber-to Araújo da Silva, ele herdou o apu-rado senso de orientação do seu avô,Francisco Pedro de Araújo, mais co-nhecido como 'seu Chico Pedro'.

De acordo com o secretário deEstado da Pecuária, Newton Ma-rinho Coelho, que atualmente es-creve um livro sobre o municípiode Santa Luzia e seus persona-gens, Chico Pedro era um serta-nejo nato, disposto, alto e forte,comunicativo, simpático, brinca-lhão, amante da poesia, além deser um exímio improvisador. Suaprocedência é da região de Vár-zea, hoje cidade de mesmo nome.Seus versos eram muito engraça-dos e agradavam a todos.

"Seu Chico gozava da condiçãode ser assim uma pessoa muito que-rida, e, por conta desses predicados,é que as garotas de sua época não

lhe davam trégua, apesar de saberemque ele era um homem muito bemcasado. Contam que em Santa Luziaexistem algumas pessoas e famíliasque, segundo o 'noticiário bocal', sãodescendentes diretas de Chico Pedro,embora por vias indiretas", contaNewton Marinho.

Amigo inseparável de seu AbelCoelho, ex-cultivador de algodão emSanta Luzia, gerente da antiga Socie-dade Algodoeira do Nordeste Brasi-leiro (Sanbra), em Santa Luzia, e paido jornalista e advogado Nelson Coe-lho da Silva, atual superintendente deA UNIÃO, e também do próprio se-cretário Newton Marinho, Chico Pe-dro foi o companheiro predileto de'Seu Abel', durante as muitas viagensa trabalho que os dois realizaram.

"Nas viagens de meu pai pelos ser-tões do Estado, Chico Pedro era o seucompanheiro predileto, pois além daagradável companhia, Chico conhe-cia bem a geografia da área e prestava

um inestimável serviço, qual seja abriras porteiras que eram interpostas emtodas as estradas do interior. Essa pres-tação de serviço era regiamente remu-nerada", enfatiza Newton Marinho.

Sertanejo cheio de vida e de cau-sos, ele tinha uma inteligência pró-pria do homem do interior, conhe-cia todas as trilhas e caminhos, e po-deria levar qualquer pessoa a qual-quer cidade circunvizinha da regiãodo Vale do Sabugi e do Seridó, noRio Grande do Norte.

Um dos vários filhos de Chico Pe-dro foi Humberto Freire Silva, que aos18 anos de idade casou-se com donaJuvina Araújo Silva. Da união nasce-ram vários filhos, dentre eles, o jovemGilberto Araújo, que ainda menino sedestacava em tudo quanto fazia, gra-ças à sua privilegiada inteligência, aju-dando o pai na sua profissão de me-cânico de caminhão.

"Acredito que o grande censo deorientação que o comandante Gilber-

to Araújo tinha enquanto pilotavaas suas aeronaves, ele herdou deseu avô Chico Pedro. O velho ti-nha o dom de desbravar os cami-nhos do Sertão, sem a necessidadede ajuda de qualquer sinalização,que naquela época (por volta dadécada de 30), era bem precária.Chico Pedro era o acompanhanteideal de viagem para qualquer pes-soa. Com ele, não tinha rota perdi-da", acentua Newton Marinho.

Durante a obra que escreve so-bre o município de Santa Luzia eseus personagens, Newton Mari-nho ainda relata várias históriasengraçadas e por vezes sérias de"seu Chico Pedro", personagemque não cansa de elogiar, principal-mente pela inteligência provenientedo homem sertanejo e tambémpelos inúmeros causos em que elevivenciou, e que seu pai Abel Coe-lho contou dos anos em que o ve-lho trabalhou ao seu lado.

O secretário Newton Marinho Coelho é um notório conhecedor da história de Gilberto Araújo

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5JOÃO PESSOA, DOMINGO, 16 DE AGOSTO DE 2009 A UNIÃO“Paraíba democrática, terra amada” GILBERTO ARAÚJO

E S P E C I A L

O �Desastre de Orly�11 DE JULHO DE 1973

á exatamente 36 anos, umavião da Varig, com incêndioa bordo, fez um pouso de

emergência pouco antes de atingiro aeroporto de Orly. Ao todo, 123pessoas morreram. Bombeiros reti-raram os corpos dos destroços doBoeing 707 da Varig, no vilarejo deSaulx-les-Chartreux. O fogo come-çou num banheiro.

Na tarde de 11 de julho de 1973,aconteceu a primeira e um dos maismarcantes episódios na carreira do co-mandante Gilberto Araújo da Silva. NoComando do Boeing 707 do voo RG820 da Varig, ele foi o piloto que este-ve à frente da aeronave do famoso "De-sastre de Orly". O acidente na rota en-tre o Rio de Janeiro e Paris chocou omundo. Quando faltava apenas umminuto para atingir a pista do Aero-porto de Orly, em Paris, na França,Gilberto fez um pouso forçado sobreuma plantação de cebolas, no vilarejode Saulx-les-Chartreux, ao sul da ca-pital francesa. Das 134 pessoas quehaviam embarcado no Aeroporto In-ternacional do Galeão, 11 sobrevive-ram - dez tripulantes e um passageiro.

Entre os 123 mortos, encontravam-se personalidades ilustres, como o en-tão presidente do Senado, Filinto Mul-ler, o cantor Agostinho dos Santos, aatriz Regina Lécrery e o iatista JoergBruder. Quem estuda os detalhes doocorrido com o voo 820 - narrados pelojornalista Ivan Sant'Anna em seu livroCaixa-preta - não tem dificuldade paraentender por que até hoje o acidente éconsiderado um dos mais dramáticosda história da aviação comercial.

O voo 820 foi tranquilo até os ins-tantes finais. Os passageiros, seguindoas instruções da tripulação, já estavamem seus assentos, com os cintos afive-lados. Ninguém a bordo tinha perce-bido que um incêndio estava em cur-so na parte traseira do avião. Investi-gações oficiais posteriores concluíramque o fogo se iniciou numa cesta delixo de um dos banheiros, provavel-mente por causa de uma ponta de ci-garro aceso ali deixado por um passa-geiro. Faltando poucos minutos parao pouso, o fundo do avião, na classeeconômica, começou a ser invadidopor uma fumaça densa e tóxica. Rapi-damente, ela tomou conta de toda acabine, inclusive o cockpit de coman-do, na parte dianteira.

Os passageiros começaram a desmai-ar e o pânico atingiu a tripulação. Ospilotos não conseguiam enxergar nemmesmo o painel de instrumentos porcausa da fumaça e perderam a comu-

H

nicação com a torre de comando doAeroporto de Orly. A cerca de cinco qui-lômetros do destino, foi tomada a deci-são de fazer um pouso forçado. Depoisde se arrastar por 600 metros, o Boeingestacionou. Dez dos 17 tripulantes queestavam na cabine de comando, ouperto dela, conseguiram escapar. Umdos passageiros foi retirado com vidapelos bombeiros. Como o fogo se alas-trou rapidamente, acabou matando ospassageiros que haviam sobrevivido àfumaça, mas estavam desmaiados emseus assentos.

"Ele (o comandante Gilberto Araú-jo) avisou à torre de comando que oavião estava em chamas e que ia fazerum pouso de emergência na planta-

ção, para que o Boeing não caísse so-bre a cidade e deixasse mais mortos.Ele disse: �Já que vamos morrer, nãovamos matar mais pessoas lá embai-xo. Só 11 pessoas se salvaram�, lem-bra a filha do comandante, ElisabeteAraújo, de 46 anos. "Nossa família es-teve este ano na plantação, rezando echorando pelos que morreram", diz.

Passados quase 36 anos, a tragédiano voo 820 ainda é cercada por muitapolêmica. Será que os pilotos agiramcorretamente ao decidir fazer um pou-so de emergência? Os tripulantes nãopoderiam ter feito algo a mais para ten-tar salvar os passageiros? O materialusado pela Varig no revestimento doavião teria contribuído para a intoxi-

cação dos passageiros? O fato é que,diante das causas do acidente, autori-dades do setor aeronáutico passaramem 1974 a adotar novas medidas desegurança, entre elas a proibição dofumo nos banheiros. Posteriormente,o fumo seria banido nos aviões.

Na época, o comandante Gilbertoacabou ficando famoso e com imagempositiva perante a opinião pública por-que, mesmo com a morte da maioriados passageiros, ele, ao lado do subco-mandante Antônio Fuzimoto, tinhaevitado um desastre ainda maior, casoa queda do avião da Varig não fossedesviado. Se não fosse a perícia da du-pla, o avião poderia ter caído sobre ca-sas nos arredores de Paris.

A notícia e as fotos do acidente com o Boeing da Varig chocaram o Brasil. Inicialmente houve questionamentos sobre anecessidade do pouso forçado comandado por Gilberto Araújo. Posteriormente, o piloto foi aclamado herói pela ousadia

Um incêndio provocou o pouso forçado do Boeing 707 da Varig em uma plantação no vilarejo de Saulx-les-Chartreux, ao sul de Paris

REPRODUÇÃO

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6 JOÃO PESSOA, DOMINGO, 16 DE AGOSTO DE 2009 A UNIÃO

“Paraíba democrática, terra amada”GILBERTO ARAÚJOE S P E C I A L

O último voo do herói30 DE JANEIRO DE 1979

té então, o maior mistério da avia-ção brasileira era o sumiço doBoeing 707, cargueiro da Varig,

prefixo PP-VLU. No dia 30 de janeiro de1979, o comandante paraibano GilbertoAraújo da Silva e mais cinco tripulanteszarparam do aeroporto de Narita, em Tó-quio, no Japão, com destino a Los Angeles,nos Estados Unidos. Nunca mais se obtevenotícias sobre o voo.

Doloroso, angustiante, preocupante, de-sastroso, comovente e inexplicável. A tra-gédia do Airbus A330-200 da Air Franceque fazia o trajeto Rio-Paris, sumiu em al-gum ponto entre Fernando de Noronha eDakar, e trouxe à tona outro caso que intri-ga a aviação mundial, há exatamente 30anos. Em 30 de janeiro 1979, uma terça-feira, dia típico de inverno japonês, seis tri-pulantes da empresa brasileira Varig apre-sentaram-se para serviço no Aeroporto deNarita, em Tóquio, no Japão. Sua missãoera decolar da capital japonesa e voar semescalas até Los Angeles, primeira paradanum voo que deveria chegar na tarde dodia seguinte, ao Aeroporto Internacional doGaleão, no Rio de Janeiro.

A aeronave era o Boeing 707-323, prefixoPP-VLU, que, na ocasião, tinha 13 anos deserviços prestados. No comando estava umprofissional tão experiente quanto famoso:o comandante paraibano, natural do mu-nicípio de Santa Luzia, Gilberto Araújo daSilva, mesmo comandante do PP-VJZ, ofatídico Boeing 707 que se acidentou em 11de julho de 1973 durante o voo RG 820. Ocomandante Araújo foi um dos poucos so-breviventes desse famoso desastre nos ar-

redores de Paris. Completamente recupe-rado, Araújo prosseguiu trabalhando nocomando de Boeing 707 na Varig, pilotan-do tanto em voos de passageiros como emserviços puramente cargueiros, como o quesairia de Narita.

Naquela noite, Araújo comandava a ae-ronave, secundado por uma competenteequipe, que tinha o comandante Erny Pei-xoto Myllius, mais dois primeiro-oficiais,também conhecidos como co-pilotos: An-tônio Brasileiro da Silva Neto e Evan BragaSaunders. Dois engenheiros de voo com-pletavam a tripulação de revezamento: Ni-cola Espósito e Severino Gusmão Araújo,este sem qualquer grau de parentesco como comandante Araújo.

O Boeing foi carregado até sua capacida-de de peso, embora não de carga. O PP-VLUtransportava algo incomum: 153 pinturasdo mestre nipo-brasileiro Manabu Mabe,que havia acabado de completar uma ex-posição de sua arte no Japão. As obras fo-ram avaliadas na época em mais de US$1,24 milhão. Carga de outras origens, entreelas bens manufaturados, completavam acapacidade do 707, que saiu com seu pesomáximo de decolagem, de pouco mais de151 toneladas. A limitação deu-se não emfunção de espaço na cabine (cubagem), mas,sobretudo do peso máximo estrutural. Afi-nal, para cumprir a longa etapa de 5.451milhas (8.773 km) até Los Angeles, havia anecessidade de tanques cheios para garan-tir autonomia para a travessia.

De acordo com o plano de voo, na che-gada à Califórnia, o comandante Gilber-to Araújo entregaria a responsabilidade

de levar o 707 para uma nova tripulação,que então assumiria o voo sem escalasaté o Galeão.

Reportagens da época enfatizaram quena hora da decolagem fazia muito frio eestava nublado no Japão, mas a torre deNarita deu plenas condições de voo. Cui-dadoso como sempre foi em toda a sua car-reira, o comandante Gilberto cumpriu to-das as formalidades. Carregou os tanquescom combustível, checou os equipamen-tos e decolou. Mas, a partir dali, ele não sa-bia o triste fim em que tudo iria terminar.

Vinte e dois minutos depois da decola-gem, o comandante fez o primeiro contatocom a torre de controle. No entanto, até alinão havia qualquer problema a bordo. Osegundo contato, previsto para as 21h23,não chegou a ser feito. O silêncio foi total.As famílias dos seis tripulantes esperamaté hoje por uma notícia conclusiva.

Segundo especialistas aeronáuticos, nemtodo acidente aéreo tem respostas claras atodas as dúvidas que surgem. A aviação ci-vil diz que um acidente nunca é fruto de umacausa apenas. É preciso um conjunto de pro-blemas para derrubar um avião. As peque-nas falhas estão presentes quase todos osdias na aviação comercial. Mas só a sequên-cia de erros se transforma em tragédia.

O avião brasileiro sumiu ao sobrevoaro Oceano Pacífico. Nunca houve nada pa-recido na era dos aviões a jato. "Basta queele tenha caído com peças com fragmen-tos ou muito íntegro, com fragmentosmuito grandes, que você tenha uma áreade grande profundidade e um relevo sub-marino muito acidentado. Então, o avião

vai cair, vai sofrer deformação e afunda-mento, vai se alojar em algum vale e agente nunca mais vai saber dele", explicouMoacyr Duarte, especialista em acidenteda COPPE-UFRJ, durante entrevista aoFantástico, da Rede Globo.

Seis anos antes, o comandante GilbertoAraújo foi um dos sobreviventes da quedado 707 da mesma Varig em Orly, França. Secomo diz o lema da aviação para quem so-brevive a um acidente aéreo estará prote-gido pelo resto da vida, a prática provoubem ao contrário no caso do comandanteGilberto Araújo.

Ele era um piloto experiente. Na épocado sumiço do PP-VLU, estava com 54 anos,e mais de 23 mil horas de voo. "Era um dosmaiores pilotos que a Varig tinha", lembrao aviador, escritor e amigo de GilbertoAraújo, Oswaldo Profeta.

Seja como for, o caso do PP-VLU entroupara a história como o único jato comercialdesaparecido sem deixar vestígios. Alémde misterioso, o drama do Boeing 707 daVarig também traz uma carga emocionalextremamente forte para os parentes dosseis tripulantes desaparecidos. Somentequem passou pela situação sabe o quão de-sesperador é não poder enterrar seus entesqueridos. A isso se soma o drama da famí-lia do comandante Gilberto Araújo. Heróino desastre de Orly, Araújo desapareceuno comando do PP-VLU, um dos raríssi-mos casos de pilotos de aeronaves comer-ciais que se envolveram em dois acidentesfatais. Mais um dos fatores que torna o casodo PP-VLU um caso único, um verdadeiromistério nos dias de hoje.

A

A Rede Globo levou ao ar uma simulação do trajeto do Boeing 707, prefixo PP-VLU, da Varig, desde a decolagem no Aeroporto de Narita, no Japão...

...até o desaparecimento da aeronave sobre o Oceano Pacífico. Os laudos técnicos não são conclusivos. Se o avião caiu ou não no mar, ninguém sabe

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7JOÃO PESSOA, DOMINGO, 16 DE AGOSTO DE 2009 A UNIÃO“Paraíba democrática, terra amada” GILBERTO ARAÚJO

E S P E C I A L

O que de fato ocorreu?BOEING 707 PREFIXO PP-VLU

ados curiosos sobre o sumiçodo Boeing 707, prefixo PP-VLU, da Varig, que, em 30 de

janeiro de 1979, desapareceu quan-do fazia a rota Tóquio, no Japão, a LosAngeles, nos Estados Unidos, aindacercam a curiosidade de qualquerpessoa, quando se fala no assunto. Apilotagem estava a cargo do coman-dante paraibano Gilberto Araújo daSilva, secundado por uma competen-te equipe, que tinha o comandanteErny Peixoto Myllius, mais dois pri-meiro-oficiais, como co-pilotos: Antô-nio Brasileiro da Silva Neto e EvanBraga Saunders. Dois engenheiros devoo completavam a tripulação de re-vezamento: Nicola Espósito e Severi-no Gusmão Araújo.

Até os dias de hoje, várias hipóte-ses foram levantadas com relação aosumiço do voo. Algumas com certalucidez, outras beirando o absurdo.De falha técnica da aeronave e dopiloto a sequestro por ladrões deobras de arte se cogitou na épocapelo sumiço do PP-VLU. Vamos aalgumas delas:

- O Boeing 707 foi sequestrado porcolecionadores de arte, já que no com-partimento de cargas da aeronave,estavam mais de 150 obras do pintornipo-brasileiro Manabu Mabe. O cu-rioso é que nesses 30 anos jamais es-sas pinturas foram achadas em pare-des alheias.

- Em 1979, época em que a Guer-ra Fria acirrava as disputas de poderentre os Estados Unidos e a UniãoSoviética, especularam que o Boeing707, prefixo PP-VLU, teria sido aba-tido por soviéticos, interessados emesconder segredos de um caça MIG-25 que supostamente estaria des-montado e sendo também levadopela aeronave aos EUA. Segundo aAeronáutica brasileira, difícil seriaacreditar que a derrubada não dei-xasse destroços e que essa versão nãofosse a mais conhecida.

- Outra teoria conta que o 707 teriasido forçado a um pouso na costa daRússia, onde os tripulantes teriamsido mortos. Estranho é que não hou-ve nenhuma comunicação entre oavião, o tráfego aéreo e a torre de co-mando desde a saída de Narita.

- Talvez a hipótese mais aceita, po-rém, fala em problemas técnicos,como uma despressurização inespe-rada, e um consequente mergulhosem volta nas profundezas do mar doPacífico. Pela dificuldade das buscasno local, nunca se achou qualquerpeça e o caso foi encerrado.

D Tripulantes eram todos experientesOs tripulantes do cargueiro PP-VLU, eram experientes profis-sionais que tinha vários anos devida prestados à Varig e à avia-ção brasileira. De acordo compublicação da Associação de Pi-lotos da Varig - APVAR na épo-ca do sumiço do Boeing 707, es-tes foram os seis tripulantes dovoo que decolou do aeroportode Narita, em Tóquio, com des-tino a Los Angeles nos EstadosUnidos.

Eis abaixo a ficha técnica decada um:

Comandante Gilberto Araújoda Silva: nasceu em 12 de no-vembro de 1923, no municípioparaibano de Santa Luzia, esta-va há 27 anos na Varig (foi ad-mitido em 1º de fevereiro de1952). Sua espora é Dona Vil-ma Aparecida. Teve sete filhos:Maria Letícia, Cleusa, Elizabe-th, Leonardo, Gilberto, AnaCláudia e Eduardo. Ao seunome a imprensa deu maiordestaque, já que foi o coman-dante acidentado em Orly, em1973. Nesse acidente o coman-dante Gilberto evitou a quedado avião em chamas sobre aglo-meração urbana e foi condeco-rado pelo governo francês.

Comandante Erni PeixotoMylius: não estava escalado aprincípio para o voo, assumiuna função de 1º Oficial. Foi ad-mitido na empresa como co-piloto em 1º de janeiro de 1972.Portoalegrense, nascido em seisde março de 1934, casou-secom Dona Miriam Myllus eteve três filho: Igor, Eduardo eGuilherme.

2º Oficial Antonio Brasileiroda Silva Neto: casado comDona Haydée Antonina Figuei-redo Brasileiro e pai de Renatae Elaine, nasceu em 1940 emCachoeiro do Itapemirim, noEspiríto Santo. Estava na Varigdesde 16 de julho de 1973.

2º Oficial Evan Braga Saun-ders: era o mais novo tripulan-te, tanto em idade (37 anos),quanto em tempo de serviço (5anos). Amazonense de Manaus,Saunders teve experiência an-terior como comissário de bor-

do. Casado com Dona Jane Eliza-beth, foi pai de Marcus Vinícius eVanessa Cristina.

Mecânico de voo José SeverinoGusmão de Araújo: pernambuca-no natural de Água Preta, tinha 42anos. Desde 1947, quando foi ad-mitido como meio-oficial mecâni-co de manutenção, se dedicou ple-namente à Varig. Casado comDona Onilda, teve dois filhos: An-tonio Maurício e Patrícia.

Mecânico de voo Nícola Exposi-

to: italiano de Roma, ele tinha 40anos. Era um dos mais antigos eexperientes mecânicos da Varig.Entrou para a Companhia emSão Paulo, em 1958, como meio-oficial mecânico de pista, na épo-ca trabalhando nos aviões C-46e C-47. Em 1975 veio para o Riode Janeiro, já como mecânico devoo do B-707. Casado com DonaHebe Cunha Exposito, teve trêsfilho: Ricardo Augusto, MarcosHenrique e Isabel Cristina.

Segundo oficial Antônio Brasileiro daSilva Neto. Na Varig desde 1973

Comandante Gilberto Araújo da Silva.Há 27 anos na Varig

Comandante Erny Peixoto Mylius. Era co-piloto da Varig desde 1972

Mecânico de voo José SeverinoGusmão de Araújo

Segundo oficial Evan Braga Saunders.Trabalhava há cinco anos na Varig

Mecânico de voo Nicola Exposito. Umdos mais experientes tripulantes

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8 JOÃO PESSOA, DOMINGO, 16 DE AGOSTO DE 2009 A UNIÃO

“Paraíba democrática, terra amada”GILBERTO ARAÚJOE S P E C I A L

Sem explicação oficialDRAMA

eja como for, o caso do PP-VLU entrou para a históriacomo o único jato comercial

desaparecido sem deixar vestígios.Além de misterioso, o drama doBoeing 707 da Varig também trazuma carga emocional extremamen-te forte para os parentes dos seis tri-pulantes que estavam a bordo. So-mente quem passou pela situaçãosabe o quão desesperador é nãopoder enterrar seus entes queridos.A isso se soma o drama da famíliado comandante paraibano Gilber-to Araújo da Silva. Herói no desas-tre de Orly, ele desapareceu no co-mando do PP-VLU, um dos rarís-simos casos da aviação em que ummesmo piloto de aeronave comer-cial se envolveu em dois acidentesfatais.

"Não houve uma explicação ofi-cial e não foram localizados os des-troços. Quando a gente não tem ocorpo para enterrar, parece que ociclo vital não se fecha", diz a mé-dica alergista Maria Letícia Cha-varria, de 57 anos, uma das filhasdo comandante que mora em Goi-ânia (GO).

A tragédia do voo AF 447 da AirFrance fez a família do comandan-te Gilberto Araújo da Silva revivero maior mistério da aviação inter-nacional. Em 30 de janeiro de 1979,fazia frio e estava nublado quandoAraújo decolou de Tóquio com umBoeing da Varig. Apenas seis tripu-lantes estavam na aeronave, queseguia com obras de arte para LosAngeles, nos Estados Unidos, e, delá, viajaria para o Rio de Janeiro. Oavião simplesmente desapareceudos radares.

Investigadores concluíram queuma despressurização provocou aqueda do Boeing no Oceano Pací-fico, 45 minutos após a decolagem.Seis meses depois do acidente,como nada foi encontrado. A famí-lia recebeu um atestado de óbito.

"No início das buscas, eu acredi-tava que ele havia entrado numbote e conseguido ir até um arqui-pélago. Há tantas ilhas perto... Me-ses depois, quando avisaram quenão havia nenhum rastro, nem in-sistimos para que continuassem aprocurar. É uma coisa doida, vocênão entende onde ele possa estar,imagina que ele sobreviveu. Masmeu pai morreu fazendo o quemais gostava, que era pilotar", re-latou Maria Letícia.

Seis anos antes de desaparecer

S

no mar, Araújo havia sido consi-derado herói nacional na França,depois de um acidente aéreo quevitimou fatalmente 123 pessoas.Em 11 de julho de 1973, o Boeingda Varig que ele comandava caiuem chamas numa plantação decebolas em Orly, Paris, 11 horasapós partir do Aeroporto Interna-cional do Rio de janeiro.

Não há nada parecido na históriada aviação. Há 30 anos, um Boeingde uma companhia brasileira somedo mapa. E é neste mesmo perío-do anos que os familiares, amigose colegas dos seis tripulantes espe-ram por uma explicação. É ummistério que parece não ter fim.

Uma matéria da revista Exameinformou na época que manchas

de combustível foram encontradasa cerca de 5 km do suposto localde sumiço do avião. A médica con-ta que a dúvida persiste em se ocargueiro caiu no mar ou se foi des-truído no ar: "A certeza que a fa-mília tem é de que nenhum des-troço ou vestígio do avião foi en-contrado até hoje."

Maria Letícia diz que a confirma-ção da morte do pai aconteceu seismeses depois do acidente, quandoo Ministério da Aeronáutica envioua certidão de óbito dele para a fa-mília. "O nosso sentimento foi deperplexidade diante da situação. Atristeza da perda existe, mas a sau-dade se mantém viva. O avião de-sapareceu com seis tripulantes abordo", frisou.

Médica alergista Maria Letícia Chavarria, uma das filhas do comandante Gilberto Araújo

Familiares esperamnotícias conclusivassobre o caso

A verdade é que há 30 anos osfamiliares dos seis tripulantes espe-ram até hoje ávidos por uma notí-cia conclusiva, que nunca vem. "Éduro você perder um parente numacidente como aquele e não ter ves-tígio nenhum", disse AdalbertoAraújo, irmão do comandante Gil-berto Araújo. "Até hoje não obti-vemos nenhuma informação con-clusiva. Nenhum sinal. É um as-sunto muito polêmico e dolorosopara a família", enfatizou.

"Notei isso agora: como isso ain-da está cravado em nós", contouLia Myllius, irmã do subcoman-dante desaparecido, Emy PeixotoMyllius.

Pai de sete filhos, o comandanteAraújo deixou um sucessor na pro-fissão: o filho caçula, Eduardo, queé piloto da Gol e faz a rota Manaus-Brasília, a mesma em que ocorreuum acidente com uma aeronave dacompanhia aérea em 2006, deixan-do 154 mortos.

"Quando houve o acidente da Gol(um jato Legacy bateu no Boeing737-800, que caiu na mata atlânti-ca), eu achei que ele podia estar pi-lotando naquele dia e fiquei deses-perada. Liguei para a minha irmã(Elisabete) e ela também não sabiadele. Demoramos para encontrá-lo,mas ele não estava voando naqueledia," relembra Maria Letícia.

No caso do sumiço do Boeing707, a investigação interna da Va-rig não conseguiu até hoje resolvero enigma. Eis a palavra final do re-latório: "Não foi possível encontrarnenhum indício que lançasse qual-quer luz sobre as causas do desa-parecimento da aeronave".

"Um dia alguém vai dizer algumacoisa, alguém que já sabia disso hámuito tempo", acredita Lia Myllius,irmã do subcomandante desapareci-do. "Esperamos que um dia Deus aju-de a revelar esse mistério para nós",disse Adalberto Araújo, irmão do pi-loto desaparecido.

Na verdade, o que se percebe, éque mesmo depois de 30 anos, asfamílias das vítimas mantém-se es-perançosas, aguardando qualquersinal que ajude a explicar os misté-rios e a causa que envolve o acidentedo Boeing 707.

DIÁRIO DA MANHÃ (GO)

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9JOÃO PESSOA, DOMINGO, 16 DE AGOSTO DE 2009 A UNIÃO“Paraíba democrática, terra amada” GILBERTO ARAÚJO

E S P E C I A L

O mistério do número 7OSWALDO PROFETA

x-rádio operador de áudio da For-ça Aérea Brasileira - FAB acostu-mado a enfrentar tempestades e

turbulências de todo o tipo, o escritor,advogado e piloto aeronáutico, OswaldoProfeta, é obcecado pelo maior enigma daaviação brasileira: o dia em que umBoeing 707, prefixo PP-VLU, desapare-ceu do mapa durante o voo Tóquio - Rio,sem deixar qualquer vestígio. Amigo pes-soal do comandante da aeronave, o co-mandante paraibano Gilberto Araújo daSilva, Profeta relata casos curiosos emtorno do "Desastre de Orly" - também vi-vido pelo comandante -, e traça as coinci-dências de ambos os casos com o númerosete.

Religioso por convicção, Oswaldo Pro-feta é escritor de vários livros, poeta, ad-vogado e fazendeiro. Foi jornalista, pro-fessor universitário, delegado de políciana cidade de São Paulo, piloto aeronáuti-co e rádio telegrafista.

Em 1947 começou a trabalhar para aFAB, como piloto e como rádio telegrafis-ta. Em 1953, Profeta deixou o órgão paravoar comercialmente, iniciando logo de-pois a carreira na aviação privada, pelasAerovias Brasil, que mais tarde foi com-prada pela Nacional Transportes Aére-os, posteriormente vendida para a REALTransportes Aéreos. Essa, por sua vez, foiadquirida em 1961 pela Viação Aérea RioGrandense (Varig). Foi nesse período queele conheceu o amigo e comandante Gil-berto Araújo.

Em 1955, durante alguns meses,Oswaldo Profeta voou para Juscelino Ku-bitscheck, governador de Minas Gerais,durante a campanha deste para a Presi-dência da República do Brasil. Durante operíodo que voou para Juscelino Kubits-check, ele trabalhou tanto como piloto,quanto como operador de voo.

A carreira de escritor iniciou-se em1958, escrevendo artigos e poemas, maistarde publicando vários romances. Em1978, recebeu uma comenda da Acade-mia Brasileira de Letras pelo seu livroPouso Forçado. A obra baseou-se na his-tória do acidente do Boeing 707 vôo 802da Varig que teve um pouso de emergên-cia nas redondezas do aeroporto de Orly,em 1973, matando 123 passageiros.

No comando da aeronave estava o co-mandante Gilberto Araújo. Na época, eleficou famoso porque, ao lado do subco-mandante Antônio Fuzimoto evitaramum desastre ainda, em julho de 1973. Senão fosse a perícia da dupla, possivel-mente a queda do avião da Varig seriaem pleno Centro de Paris.

Após o incidente, e de volta ao Brasil,depois de escapar por milagre do desas-tre em Paris, o comandante GilbertoAraújo fez uma confidência ao amigoOswaldo. "Quando ele voltou, ele mechamou só para me explicar e não quis

E

que ninguém mais soubesse", contou oaviador Oswaldo Profeta.

Segundo ele, o comandante disse queos arranhões que apareceram nas lentesdos óculos que usava a bordo do aviãoque caiu em Paris pareciam formar umnúmero. O ex-rádio-operador, que naépoca era delegado da Polícia Civil de SãoPaulo, pediu, então, que o Departamentode Criminalística fizesse uma ampliaçãodos arranhões da lente. O resultado? Pa-rece o número sete. "O sete apareceu navida dele, e ele ficou impressionadíssimo.Ele disse: 'Mas, Oswaldo, eu não entendo.Por que sete? '", disse o aviador.

Religioso, o rádio-operador disse ao co-mandante que o número sete estava noGênesis e no Apocalipse, o primeiro e oúltimo livro da Bíblia.

"A Bíblia fala o seguinte. Li Gênesispara ele: �Deus descansou no sétimo dia�.Agora veja o que diz o Apocalipse: 'E nomeio do trono um cordeiro como que ti-nha sido morto. Ele tinha sete chifres, bemcomo tinha sete olhos, que são sete espíri-tos de Deus enviados por toda a terra'",cita Oswaldo. O ciclo de coincidências como número sete se fechou. O mesmo co-mandante que escapara da morte emParis embarcou tempos depois no Boeing

707, que desapareceu no Japão. "O seteestá implícito em todo esse acontecimen-to. Uma coincidência que pode ser umamensagem de Deus para ele", enfatizou.

"O que eu acho mais estranho é que oGilberto era um piloto experiente. Ele te-ria feito contatos. Não fez contato ne-nhum? Depois silenciou. Simplesmenteevaporou. Criaram muitas teorias absur-das aí, até a de um disco voador. Um ob-jeto não-identificado teria derrubado omeu amigo Gilberto", conta Oswaldo.

O ex-rádio-operador e ex-co-piloto che-gou a escrever outro romance chamado"O mistério do 707" para dizer que o quehouve não foi um acidente. Para ele, oBoeing pode ter, por algum motivo, pene-trado no espaço aéreo soviético, uma áreasupervigiada. "É possível que o avião te-nha sido abatido", contou.

Ainda segundo Oswaldo Profeta, umex-colega do comandante Gilberto apos-ta que o que aconteceu foi uma despres-surizarão da cabine. A tripulação perdeuos sentidos. O avião teria voado no pilotoautomático até cair em alto-mar, em umponto que jamais foi localizado.

A verdade é que o desaparecimentodo Boeing 707 da Varig em janeiro de1979, 30 minutos após a decolagemem Tóquio é o tema intrigante quepersiste até os dias de hoje. O avião,guiado pelo mesmo comandante dovoo 802 do acidente de Orly em 1973,continha uma carga com 153 pinturasdo artista nipo-brasileiro Manabu Mabe,no valor de 1,24 milhão de dólares, e quedesapareceu sem deixar vestígios.

As pesquisas deOswaldo Profetasobre o acidenteem Paris o levou aescrever um livrosobre a tragédiacom o Boeingpilotado porGilberto Araújo

O escritor Oswaldo Profeta revelou que Gilberto Araújo teria visto um número sete em seus óculos, após o acidente com o Boeing em Paris

REPRODUÇÃO

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10 JOÃO PESSOA, DOMINGO, 16 DE AGOSTO DE 2009 A UNIÃO

“Paraíba democrática, terra amada”GILBERTO ARAÚJOE S P E C I A L

Outras tragédias similaresHISTÓRICO

o longo da história, houve tragédi-as semelhantes ao caso do Boeing707, prefixo PP-VLU, da Varig, co-

mandada pelo piloto Gilberto Araújo daSilva. Vários jatos também caíram sobreos oceanos. Em todos os casos, algum tipode evidência de catástrofe sempre se fez pre-sente. Como por exemplo:

1Um Airbus da Air France que partiudo Rio no dia 31 de maio em direção aParis caiu sobre o Oceano Atlântico.O voo AF 447 levava 228 pessoas. Nú-mero de corpos identificados até omomento foi retificado para 50. Oprovável acidente com o A-330 daAir France e seus mais de 200 passa-geiros vai ser notícia por muito tem-po, à procura das causas e de expli-cações. A tecnologia permite que seinvestigue com maior segurança doque em 1979. Talvez por isso a tragé-dia de 2009 não será esquecida comoa do cargueiro da Varig.

2Em 11 de setembro de 1990, um Boeing727-200, voando de Malta para o Perunum voo de traslado, desapareceu nomar. Antes, porém, a aeronave da em-presa peruana Faucett, que acabara decumprir um período de leasing na AirMalta, enviou um pedido de socorro. Aaeronave, que havia partido de Kefla-vik, na Islândia, com destino a Gander,Canadá, enviou uma mensagem deMayday, captada às 15h20 pelas tripu-lações de dois voos, o TWA 851 e o Ame-rican 35. A tripulação do Faucett avisouque estava descendo, cruzando o nívelde voo 100, com pouco combustível. Namensagem, os pilotos declaravam queiriam amerissar. Nenhum dos 15 ocu-pantes foi jamais encontrado. Apenasdestroços do Boeing 727 foram dar naspraias de Terra Nova, dias depois dodesaparecimento do jato.

3 Outro caso de queda no oceano foi o747-200 Combi, prefixo ZS-SAS daSouth African Airways. O Jumboenfrentou o pior pesadelo que podeassustar qualquer piloto: fogo a bor-do. O voo SA 295 decolou de Taipeiàs 14h23 do dia 28 de novembro de1987, com 159 ocupantes e 6 palletsde carga. Às 23h49, ainda a leste dailha de Mauritius, a tripulação de-clarou emergência, afirmando ha-ver fogo no compartimento de car-ga do deck principal. Uma descidade emergência para o nível 140 foiiniciada, e logo depois o ZS-SAS foiautorizado para descer para 5.000pés. A curta resposta do comandan-te foi a última palavra ouvida pe-

A

los controladores de terra. A aero-nave, em chamas, despedaçando-se, mergulhou no mar, matandoseus 159 ocupantes.

4Em 14 de agosto de 2005, um Boeing737-400 da empresa cipriota Helios Ai-rways decolou de Larnaca, Chipre, às09h07 para um curto voo até Atenas,Grécia. Logo depois, às 09h37, a aero-

nave entrou em espaço aéreo grego,mas não estabeleceu contato com oscontroladores de solo. Os controlado-res gregos entraram em contato comseus colegas cipriotas, que às 10h20 no-tificaram o controle grego de que os pi-lotos do 737 haviam declarado "pro-blemas no ar-condicionado" logo apósa partida. Como subsequentes tentati-vas de contato com o 737 falharam, as10h55, dois caças gregos F-16 foramdespachados para interceptar o Boeing.Contato visual foi estabelecido às11h20. Os pilotos gregos, voando apoucos metros do Boeing, reportaramuma visão bizarra: não havia ninguémna cadeira do comandante; o co-pilotoestava aparentemente desmaiado so-bre o manche. Os F-16 continuaramvoando junto ao 737, que mantinha aproa, altura e velocidade constantes.Minutos depois, uma pessoa não iden-tificada entrou na cabine de comandoe sentou-se na poltrona da esquerda. O

jato então iniciou uma descida, os F-16ainda voando ao seu lado. O Boeingentão continuou a descer, e não muitotempo depois, às 12h05, perdeu abrup-tamente altitude e colidiu, em plena luzdo dia, contra montanhas em Gram-matikos, um vilarejo 19 milhas ao nor-te do aeroporto internacional de Ate-nas, matando os 121 ocupantes.

Investigações concluíram que o Boeing737 sofreu uma quase imperceptíveldespressurização. À medida que o jatoganhava altitude, o ar em sua cabine iaficando cada vez mais rarefeito. Todosos ocupantes do 737 da Helios morre-ram lentamente, primeiro perdendo aconsciência e depois, a própria vida, as-fixiados. O Boeing 737 praticamentevoou o tempo todo no piloto automáti-co, até que o apavorado comissário, quetinha algumas horas como piloto pri-vado, assumiu o controle do jato, semcontudo conseguir pousá-lo.

#Os acidentes aéreos semprelevantam polêmicas. Se houvefalha mecânica ou humanaé a primeira questão que osespecialistas tentam solucionara partir da análises técnicas

Equipes de resgate procuram destroços e corpos de passageiros etripulantes do voo AF447, da Air France. O Airbus caiu sobre o Oceano

Atlântico com 228 pessoas a bordo. Não houve sobreviventes e as causas doacidente ainda estão sendo investigadas

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11JOÃO PESSOA, DOMINGO, 16 DE AGOSTO DE 2009 A UNIÃO“Paraíba democrática, terra amada” GILBERTO ARAÚJO

E S P E C I A L

Condecorado na FrançaHOMENAGENS

comandante GilbertoAraújo ficou conheci-do no mundo inteiro

pelos atos de heroísmo, du-rante carreira como pilotoda Varig. Em 26 de julho de1973, foi condecorado peloMinistério dos Transportesda República da França naépoca. Já em 28 de julho domesmo ano, os moradores dovilarejo de Saulx-les-Char-treux, ao sul da capital fran-cesa, pararam para homena-gear o piloto paraibano.

Ambas as homenagens fo-ram pelo ato heróico no casodo piloto no caso conhecidocomo "O Desastre de Orly".Durante mais de duas déca-das, Gilberto Araújo fez car-reira na companhia aéreabrasileira Varig. Em 11 de ju-lho de 1973, o piloto estavano comando de um Boeing707, prefixo PP-VJZ, quandofez um pouso de emergência,próximo ao Aeroporto deOrly, em Paris na França, emconsequência de chamas nacauda da aeronave.

Araújo sobreviveu, assimcomo dez tripulantes do vooRG-820, que fazia a rota Bra-sil-França. A aeronave, quesaiu do Rio de Janeiro, com des-tino à cidade de Orly, pousou a5 km do aeroporto local. Os 122passageiros morreram asfixi-ados pela fumaça, entre eles osenador Filinto Muller, o cam-peão mundial de iatismos Jo-erg Bruder, o cantor Agostinhodos Santos e a socialite ReginaLéclery.

O comandante GilbertoAraújo e o subcomandanteAlberto Fuzimoto, ambos fo-ram homenageados pelo go-verno francês, através decarta encaminhada pelo mi-nistro dos Transportes daépoca, Yvés Guéna.

Já na homenagem presta-da pelos moradores do vila-rejo de Saulx-les-Chartreux,Gilberto Araújo recebeuuma carta escrita à mão eassinada por mais de 40pessoas, onde a populaçãosaudava o ato de perícia docomandante, que numa ati-tude de muito heroísmo,conseguiu a proeza de des-viar o avião coberto de cha-mas, que tomava rota parao vilarejo, para um terrenodescampado na periferia dacidade.

Varig concedeemblema aocomandanteparaibano

De acordo com publicação da compublicação da Associação de Pilotosda Varig - APVAR, em 1977, dois anosantes do sumiço do voo prefixo PP-VLU, o comandante Gilberto Araú-jo da Silva, foi homenageado pela Va-rig pelos seus 25 anos de comando.

A homenagem foi dividida comoutros comandantes da Varig,durante solenidade realizada noSalão Nobre da Fundação RubenBerta, em Porto Alegre, que con-tou com a presença de toda a di-retoria da empresa, que tinha àfrente na época o presidente Erikde Carvalho. Na ocasião foi entre-gue a cada homenageado um em-blema de ouro e um troféu especi-al alusivo a ocasião.

Entre os homenageados estavamos comandantes: Gilson Pinheiro,Hamilton Mancuso, Antonio JoséSchittini Pinto, Maxwell CliffordLloyd, Silvio Rodrigues Lima, Edirdo Amaral Vasconcelos, ErnaniEggers, Aldrovando Lacorte e Gil-berto Araújo da Silva (último à di-reita, na foto acima).

O

Comandantes da Varig participam da homenagem feita pela Varig, em 1977, a Gilberto Araújo da Silva pelos 25 anos de comando do piloto paraibano

Fac-símiles de documentos com as homenagens do povo francês ao herói paraibano Gilberto Araújo

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12 JOÃO PESSOA, DOMINGO, 16 DE AGOSTO DE 2009 A UNIÃO

“Paraíba democrática, terra amada”GILBERTO ARAÚJOE S P E C I A L

Desprovido de asas pela natureza, o homem criou o avião, a máquina de voar. Com ele singrou os

céus, levando mensagens, e transportando ora iguais, ora bombas de alto poder de destruição. A

história da aviação, no entanto, é uma história de heróis, de mártires; de homens que, em

momentos cruciais, por sua coragem e perícia, salvaram milhares de pessoas do desastre total. O

aviador paraibano Gilberto Araújo é um desses ases que a história não esquece, jamais. Primeiro,

impediu que a aeronave que pilotava caísse sobre Paris, causando a morte de todos os tripulantes

e passageiros e, possivelmente, de milhares de franceses. Depois, em outro voo, desapareceu para

sempre. O mistério permanece insondável, um desígnio divino, talvez, para a perpetuação do mito.

O nascimentodo mito