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A IMPORTÂNCIA DE UM MODELO
ESTRUTURADO DE
DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS
EM PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS:
UM ESTUDO DE CASO DE
EMBALAGENS REFRIGERADAS
ELIANE APARECIDA COSTA SANCHES (UFSCAR )
Ana Lucia Leonardi (UFSCAR )
Alessandro Augusto Jordao (UFSCAR )
Patricia Saltorato (UFSCAR )
Há uma extensa discussão sobre a importância da Inovação para as
empresas, e estas discussões estão geralmente relacionadas ao
aumento das vantagens competitivas, aos fatores econômicos e ao
aumento da produtividade e ou qualidade de bens ee serviços. A
Inovação esta amplamente relacionada com o Processo de
Desenvolvimento de Produtos (PDP). Desta forma, o departamento de
Desenvolvimento de Produtos passou a ser potencialmente importante,
não apenas para grandes empresas, mas também paras as pequenas e
médias. Entretanto é relevante salientar, que poucas empresas,
principalmente as pequenas e médias, tem um Processo de
Desenvolvimento de Produto formalizado. Na grande maioria, o
Desenvolvimento de Produto segue apenas a ciência de alguns
colaboradores sem uma sequencia gerencial estruturada. O objetivo
deste artigo consiste em compreender, através de estudo de caso, o
Processo de Desenvolvimento de Produto em uma empresa de médio
porte. O PDP foi analisado segundo a ótica do Modelo de Processo
Unificado proposto por Rozenfeld e colaboradores em 2006.
Observou-se que a empresa estudada não dispõe de PDP formalizado e
que este não segue um fluxo linear para o desenvolvimento dos
produtos. A empresa estudada, de maneira geral, trabalha com
desenvolvimento de produtos customizados. Seguindo as demandas
provenientes dos clientes, e desta forma organizam os colaboradores
de maneira que estes desenvolvam o produto segundo as determinações
e necessidades dos mesmos.
Palavras-chaves: Processo de Desenvolvimento de Produto.
Embalagem. Inovação.
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Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
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Introdução
A criação e o desenvolvimento de novos produtos no mercado e a inovação por
pequenas e médias empresas tornam-se cada vez mais essenciais para o sucesso contínuo e
para a competitividade das empresas.
Segundo Dosi (1982), as inovações consistem em um processo de busca, descoberta,
experimentação, desenvolvimento, imitação e adoção de novos produtos, novos processos e
novas técnicas organizacionais. Guimarães (1998) contribui afirmando que as inovações
acorrem em um contexto envolto por um processo de interação social e marcado pela
geração de conhecimento e de aprendizagem contínua.
Nesse sentido, destaca-se a crescente necessidade por sistemáticas, otimização de
recursos e métodos de avaliação de oportunidades para novos produtos nos estágios iniciais
do desenvolvimento, de forma a maximizar a probabilidade de sucesso (SONG, 2006).
Oliveira (2006) destaca que o processo de desenvolvimento de produtos consiste em
um processo fundamental capaz de garantir o sucesso e competitividade das firmas.
Portanto, por meio dessa ferramenta, as firmas são capazes de criar e lançar produtos mais
competitivos, produzir em menor tempo e de forma mais eficiente e, com isso, conquistar
diferentes parcelas de mercado.
O processo de desenvolvimento de produto consiste, portanto, em uma ferramenta
estratégica que permite às firmas a criação e a difusão de inovações. Permite, além disso,
que essas firmas ocupem uma posição capaz de identificar as oportunidades de um novo
produto, devido às suas relações de trabalho próximas com clientes, fornecedores e
concorrentes. E, por fim, garante às firmas grandes oportunidades de crescimento e de
expansão para novos segmentos de mercado, possibilitando uma melhor posição
competitiva (XIN, YENG e CHENG, 2008).
O objetivo proposto pelo artigo consiste em compreender como é dado o processo
de desenvolvimento de produto na empresa estudada, para isso foi averiguado, por meio de
estudo de caso, o processo de desenvolvimento de produto especificamente da embalagem
refrigerada (ice box). Para alcançar esse objetivo o estudo foi estruturado em cinco partes. A
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primeira parte trata consiste em uma revisão de literatura sobre o processo de
desenvolvimento de produtos, buscando proporcionar suporte teórico para analise do
processo de desenvolvimento de embalagens refrigeradas (ice box). A segunda parte trata
da caracterização da empresa Embalagens Seguras do Grupo, focando na sua estrutura e na
sua cultura organizacional. A terceira parte trata da caracterização e das espeficificidades
das embalagens seguras, em especial, da embalagem refrigeradas (ice box). A quarta parte
trata de apresentar os procedimentos metodológicos para a realização do estudo. A quinta e
última parte busca articular o processo de desenvolvimento de embalagens refrigeradas (ice
box) com a teoria e os conceitos de processo de desenvolvimento de produtos
desenvolvidos na revisão de literatura.
1. Revisão de Literatura
1.2 Aspectos Sociais
De acordo com Dorst & Dijkhuis (1995), o projeto de produto pode ser descrito por
dois paradigmas diferentes. Por um lado, pode-se pensar o desenvolvimento de produtos
voltado para a ciência, direcionado para a racionalidade técnica e, nesse caso, as soluções
são limitadas pela capacidade de processamento de informação dos atores. Por outro lado,
pode-se pensar o desenvolvimento de produtos como um processo único (reflexão em
ação), cabendo ao projetista a habilidade de determinar como cada problema deve ser
tratado.
Bucciarelli (2006) defende a incorporação de diversas lógicas dentro de um projeto
de produto, isto é, para o autor, o projeto de engenharia é um processo social que requer a
participação de diferentes indivíduos com diferentes competências, responsabilidades e
interesses técnicos. De acorco com Bucciareli (2006), cada ator do processo de
desenvolvimento de produto tem um visão, um mundo-objeto, que é formado a partir de
suas experiências, de sua formação e de sua história de vida.
Portanto, para o desenvolvimento satisfatório de um projeto, essas lógicas têm de se
equalizar, por meio de construção social.
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Beguin (2003) aponta, ainda, que o projeto de produto é um processo de
aprendizagem mútua e partilhada entre projetistas e usuários. Menegon (1999) destaca a
importância da construção de um projeto de produto coletivo, possibilitanto a integração e a
interação entre o processo, o produto e o trabalho.
De acordo com Deniellou (2004), a dupla construção, técnica e social, da intervenção,
pode se mostrar essencial para promover a trasnformação da representação de trabalho dos
atores e, consequentemente, a transformação de seus próprios determinantes.
Portanto, adotar um modelo de projeto de produto coletivo pode se mostrar essecial
para o sucesso no desenvolvimento do produto uma vez que articula lógica de diferentes
saberes, permitindo, com isso, a aplicação de um ponto de vista técnico e também social.
1.2 Aspectos técnicos
A definição proposta por Rozenfeld (2006) estabelece o processo de
desenvolvimento de produtos (PDP) como um conjunto de atividades realizadas em uma
sequência lógica com o objetivo de produzir um bem ou serviço que tem valor para um
grupo específico de clientes e que o processo de desenvolvimento de produtos consiste em
um conjunto de atividades por meio das quais se busca partir das necessidades do mercado
e das possibilidades e restrições tecnológicas, e considerando as estratégias competitivas e
de produto da empresa, chegar às especificações de projeto de um produto e de seu
processo de produção, para que a manufatura seja capaz de produzi-lo.
O PDP tem uma importância estratégica por situar-se na interface entre a empresa e
o mercado. O desempenho superior nesse processo permite o lançamento eficaz de novos
produtos, bem como a melhoria da qualidade dos produtos existentes. O desempenho esta
diretamente ligado a capacidade das empresas gerenciarem o processo de desenvolvimento
(PD) e de interagirem com o mercado e com as fontes de inovação tecnológica (SCORALICK,
2004).
Segundo Ullmann (1997), planejar é o processo usado para desenvolver um plano de
programação e alocação dos recursos de tempo, monetários e humanos. O resultado deste
processo é um mapa mostrando como as atividades de projeto estão programadas e
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também a distribuição das informações necessárias para as pessoas certas, no momento
certo. Contudo, para uma maior eficácia para o desenvolvimento de um novo produto é
recomendável que haja uma simultaneidade das etapas de planejamento (HAYES et al.,
2004).
De acordo com Clark e Wheelwright (1993), o processo de gestão de
desenvolvimento de projetos é um complexo conjunto de atividades realizadas em certo
período de tempo, representadas pela interação de seis elementos com a finalidade de criar
um padrão de desenvolvimento. Os seis elementos são os seguintes:
(1) Definição de projeto,
(2) Organização e projeto de pessoal,
(3) Gestão e liderança de projeto,
(4) Resolução de problemas, testes e protótipos,
(5) Revisão e controle da alta gerência e
(6) Correções em tempo real ou em curso.
Cooper e Kleinschmidt (1996) apontam os principais fatores, relacionado ao processo
de desenvolvimento, que afetam a performance dos novos produtos, em ordem de
importância são: (1) um PDP de alta qualidade (não basta ser formalizado), (2) uma
estratégia de NP definida, (3) recursos financeiros e humanos adequados às necessidades e
(4) gastos em P&D. Sendo que este último fator afeta o impacto nos negócios e não
necessariamente aumenta a lucratividade.
Segundo Schilling e Hill (1998) um P&D de sucesso requer atenção em quatro pontos
estratégicos. (1) Estratégia tecnológica ou processo pelo qual a empresa constrói seu
portfólio de desempenho de produtos, (2) o contexto organizacional no qual esta inserido o
PDP, (3) a formalização e uso de times de projetos e (4) o uso de ferramentas adequadas que
aperfeiçoam o PDP.
O que ocorre em muitas empresas, principalmente nas pequenas e médias empresas,
é que pouca importância é dada ao planejamento e tenta-se partir rapidamente para as
etapas do processo de projeto onde o produto é projetado e fisicamente concebido. Em
oposição a este fato, diversas pesquisas apontam, que se os produtos que são melhor
planejados podem ter até três vezes mais chances de sucesso, e diante do ambiente de alta
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competitividade ao qual as empresas estão expostas, este fator não deve ser menosprezado,
e sim melhor explorado (LEONEL et al., 2005).
Os modelos de PDP exerce a função de auxiliar na concepção de uma visão única do
processo, descrevendo-o e servindo de referência para que empresas e seus profissionais
possam desenvolver produtos segundo um padrão estabelecido (MENDES, 2008).
Para Rozenfeld et al. (2006), o PDP está dividido em três macro-fases: (1) Pré-
desenvolvimento, (2) Desenvolvimento e (3) Pós-desenvolvimento, da seguinte forma: Estas
macro-fases subdividem-se em fases que detalham e especificam atividades dentro do
processo. Outro aspecto importante observado no modelo de Rozenfeld (figura 1) é a
adoção de gates entre as fases, ou seja, o estabelecimento de revisão e aprovação formal do
produto para que possa prosseguir para a próxima fase. Esse processo proporciona uma
maior eficiência no PDP, uma vez que a aprovação do produto, após a revisão da fase
anterior, reduz significativamente as falhas do processo, e consequentemente, melhora seu
desempenho na perspectiva de melhoria contínua.
Figura 1. Visão geral de PDP. Fonte: Rozenfeld et al. (2006).
Em resumo, o desenvolvimento de produto também possui atividades que estão
relacionadas ao acompanhamento do produto após seu lançamento para que eventuais
mudanças possam ser realizadas no projeto do produto quando necessárias assim relata
Rozenfeld et al (2006). Segundo o autor as principais características do processo de
desenvolvimento de produto (PDP) são:
(1) Elevado grau de incertezas e riscos das atividades,
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(2) Decisões importantes devem ser tomadas no início do processo,
(3) Dificuldade de mudar as decisões iniciais,
(4) As atividades básicas seguem o ciclo: projetar, construir, testar e otimizar,
(5) Manipulação e geração de alto volume de informações,
(5) As informações e atividades provêm de diversas e
(6) Multiplicidade de requisitos a serem atendidos pelo processo, considerando todas
as fases do ciclo de vida do produto e seus clientes.
2. Caracterização da empresa
A empresa estudada esta localizada na cidade de Itapevi – SP e pertence a um grupo
de empresas que busca atender as necessidades do mercado de embalagens e distribuição.
O Grupo é formado pelas empresas: de Embalagens de segurança; Sistemas de Embalagens;
Armazenagem e Logística, Produtos Promocionais e Sistemas de Segurança.
A empresa iniciou suas atividades há aproximadamente 15 anos.
A empresa é exclusivamente brasileira administrada por membros da mesma família
com uma cultura organizacional japonesa. Atendendo somente o mercado Nacional. No que
diz respeito a seus colaboradores a estrutura é montada da seguinte maneira:
Estrutura Organizacional
Área Cargo Número de
Funcionários
Comercial
Superintendente 01
Gerente 01
Representante 40
Desenvolvimento Projetista 03
Designer Gráfico 01
Tecnologia da
Informação
Analista de Software 03
Analista de Hardware 01
Segurança Gestor de Risco* 03
Operacional
Colaboradores Diretos 150
Colaboradores 350
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Indiretos
Equipe de Apoio Staff 20
Total 572
* Gestor de Risco – Especializado em carga aérea, marítima, rodoviária e segurança patrimonial.
O foco deste artigo consistiu em analisar o processo de desenvolvimento de
embalagens seguras Safe Duty, em especial, o processo de desenvolvimento da ICEBOX,
embalagem refrigerada, produzidas pela empresa de Embalagens de Segurança e que
proporciona uma proteção eficiente e confiável para pequenos embarques de bens sensíveis
à temperatura.
A empresa desenvolve embalagens para as linhas de produtos fármacos e
alimentícios. Os produtos são acondicionados na Caixa Unitizadora, que além de blindadas,
possuem rastreador, trava eletro-mecânica e sistema que denuncia a violação. No destino, a
Caixa Unitizadora poderá ser aberta apenas por pessoas autorizadas, pela Central de
Monitoramento ou por senha.
3. Procedimento Metodológico
Para alcançar o objetivo proposto desenvolveu-se o seguinte procedimento
metodológico:
(1) Realiza-se uma revisão de literatura com objetivo de proporcionar suporte
teórico e adensar a discussão sobre modelos de desenvolvimento de
produto;
(2) Examina-se, em seguida, o caso do processo de desenvolvimento de
embalagens refrigeradas em uma empresa de médio porte, buscando
descrever e sistematizar os aspectos mais importantes em termos de
cultura e estrutura organizacional. Para Yin (2004) o estudo de caso
permite uma investigação que preserve as características holísticas e
significativas dos acontecimentos da vida real. Gil (1999) aponta que o
estudo de caso permite examinar um fenômeno atual dentro do seu
contexto.
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(3) Procura-se, por último, articular o processo prático de desenvolvimento de
embalagens refrigeradas com o processo teórico de processo de
desenvolvimento de produtos, apresentando os resultados práticos
obtidos no processo de desenvolvimento de embalagens refrigeradas em
oposição aos resultados esperados com aplicação do modelo teórico.
Síntese das Características Metodológicas
Tipo de
Abordagem
Foco da
Abordagem
Método de
Coleta de Dados
Instrumentos de Coleta de Dados
Método de
Análise
Instrumento de Análise
Qualitativa
Descritiva
Estudo de Caso*
Entrevistas
semi-estruturada**
Análise de Conteúdo
PDP para Embalagem refrigerada
ICE BOX
* Procurou-se descrever e caracterizar as particularidades da situação de processo de desenvolvimento de produto frente ao contexto particular da firma. **Entrevistas com os dirigentes responsáveis pelas atividades de desenvolvimento de produto da empresa.
4. Discussão
O objetivo proposto por esta seção é articular o processo prático de desenvolvimento
de embalagens refrigeradas realizado pela empresa Embalagens Seguras do Grupo com o
potencial processo teórico de desenvolvimento de produtos proposto por Rozenfeld e
colaboradores (2006). Busca-se, por fim, apontar a importância de um modelo estruturado
de desenvolvimento de produtos em pequenas e médias empresas.
Analisa-se, a seguir, o processo de desenvolvimento de embalagens refrigeradas,
partindo da noção de processo de desenvolvimento de produtos proposta através do
Modelo de Processo Unificado elaborado por Rosenfeld at al. (2006). Vale ressaltar que
através do estudo realizado por Suarez at al. (2009), onde buscou analisar os modelos de
PDP entre 1962-2006, concluiu que o Modelo de Processo Unificado proposto por Rosenfeld
e colaboradores (2006) é o que define as etapas de PDP com maior grau detalhamento.
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ETAPAS PROCESSO TEÓRICO PROCESSO PRÁTICO
Pré-
Desenvolvimento
Trata as limitações do modelo
visando orientar as
características e aplicação
identificadas em cada fase do
mesmo. Nesta etapa as fases são
agrupadas para facilitar a
visualização.
- Representante Comercial;
- Embalagens capazes de:
(1) manter o controle de temperatura e
(2) solucionar extravios.
Desenvolvimento
Delimita as tarefas específicas
para que sejam atendidas as
especificações do produto. Nesta
etapa o desenvolvimento do
produto é gerenciado como um
projeto.
- layout da embalagem
- dimensionamento
- criação de protótipo
Pós-
Desenvolvimento
Distingue as necessidades de
trocas de peças e garantia do
produto. Nesta etapa delimita-se
os procedimentos de acesso à
assistência técnica.
- acompanhamento do produto através
da devolução via contrato de
comodato.
- manutenção para alocação futura
Construção Social Apresenta o conjunto dos papéis
organizacionais envolvidos em
cada etapa do PDP. Nesta etapa
alocam-se os recursos humanos
disponíveis para a obtenção do
melhor resultado.
- momento no qual estão envolvidos
diversos atores para garantir as
melhores oportunidades maximizando
resultados.
- preocupação com o valor agregado.
A primeira macro-fase, o pré-desenvolvimento, contempla o planejamento
estratégico do produto. O projeto das embalagens refrigeradas é desenvolvido de acordo
com as especificações técnicas dos usuários. Destaca-se, nesta macro-fase inicial, a
participação do representante comercial destinado a observar as principais necessidades e
coletar as demandas oriundas dos usuários.
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A segunda macro-fase trata do processo de desenvolvimento do produto,
contemplando um conjunto de atividades sequenciais detalhadas e especificas a manufatura
do produto. Destaca-se, nessa segunda macro-fase, o desenvolvimento de um projeto de
produto informacional, caracterizado por levantamento de informações sobre os recursos
para a produção, estudos de viabilidade técnica e análise de dados. Em seguida, desenvolve-
se o projeto de produto conceitual, buscando traçar a arquitetura do produto.
Particularmente, no caso das embalagens refrigeradas, buscaram-se desenvolver soluções
de segurança, soluções para garantir o controle da temperatura e, por fim, soluções para o
monitoramento das embalagens via satélite ou ondas de rádio. Em seguida, desenvolveu-se
o projeto detalhado de produto, buscando, no caso das embalagens refrigeradas, a
concepção de um protótipo de embalagens refrigerada para teste e também para a
verificação de não conformidades com as especificações do cliente.
Posteriormente, implantou-se um sistema de monitoramento com tecnologia GPRS e
satelital hibrido para rastreabilidade, buscando garantir melhor performance do produto.
Adicionalmente a esse sistema de segurança, incorporou-se um software de gestão de
embalagens, onde unitiza-se a carga e controla-se o fluxo das operações de transporte. Este
serviço é realizado por uma central de monitoramento onde durante o trajeto percorrido
pela mercadoria, tem-se em tempo real, a localização da caixa, a temperatura da câmara
interna, garantindo o transporte com total segurança.
No final da macro-fase de desenvolvimento de produto, foi construído um protótipo
de embalagem refrigerada e apresentado ao cliente para testes e verificação, buscando
analisar suas características em termos de dimensionais adequados, peso da embalagem,
sistema de rastreamento e vulnerabilidade, funcionabilidade, praticidade, manuseio de
abertura e fechamento, teste de senhas e identificação dos usuários previamente
cadastrados.
Por fim, a última macro-fase, o pós desenvolvimento de produto, trata da aprovação
do protótipo e do lançamento do produto no mercado. Particularmente no caso das
embalagens refrigeradas (ice box), o protótipo foi aprovado e será produzido em escala
comercial a partir de um contrato de comodato ou locação, que acontece da seguinte
maneira: o cliente estabelece o número de caixas necessárias para a utilização do
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transporte, dependendo exclusivamente do volume a ser transportado. A empresa
disponibiliza as embalagens para uso e como facilitador no processo logístico, retira as
embalagens nos destinos pré fixados, implantando assim a logística reversa. Apresenta-
se, a seguir, um quadro que sistematiza, de acordo com o modelo proposto por Rozenfend
(2006), o processo de desenvolvimento das embalagens refrigeradas (ice box), apontando
detalhado e sistematicamente o conjunto de atividades para a produção. De acordo com
Ullmann (1997), a sistematização destas atividades mostra como as atividades do projeto
estão programadas e também a distribuição de informações necessárias para produção,
permitindo ao produtor diagnósticar falhas e corrigi-las pontualmente.
QUADRO 1 – Projeto de Desenvolvimento de Produtos.
Fonte: Quadro desenvolvido pelos autores com base no modelo proposto por Rozenfeld (2006).
Portanto, o processo de desenvolvimento de embalagens refrigeradas pode ter uma
importância estratégica para a empresa na medida em que se situa na interface entre a
empresa e o mercado, permitindo aumentar diferentes aspectos relacionados ao
desempenho de qualidade, à produtividade e a performance das embalagens refrigeradas
(ice box).
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5. Considerações finais
O produto estudado neste artigo envolve um projeto desenvolvido por uma
necessidade de mercado, o setor de embalagens vem dando grandes saltos em direção aos
processos de inovação por pormenorizar as necessidades em cada produto.
Por existir uma gama infinita de produtos os quais precisam chegar aos clientes
finais, adotaram-se como formas de protegê-los (as), as chamadas de embalagens, que com
o tempo cada vez mais se adéquam às necessidades de seus fornecedores.
A embalagem refrigerada nasceu de uma necessidade de um cliente específico do
segmento fármaco, cuja preocupação estava em garantir que o princípio ativo de seus
medicamentos não perdesse suas qualidades por questões de oscilação de temperaturas
durante o transporte, armazenagem e ou distribuição.
Outra preocupação girava em torno da grande quantidade de extravios de cargas o
que acarretava enormes prejuízos aos orçamentos, procurou-se então, desenvolver opções
para que se pudessem encontrar soluções as quais gerassem benefícios desde o fornecedor
até o cliente final.
As empresas de embalagens têm por hábito manter representantes comerciais
diretamente ligados aos clientes, normalmente formados por uma carteira de clientes
específicos estes representantes desenvolvem trabalhos voltados a segmentos exclusivos
para que assim possam ter maior discernimento sobre o assunto, e dominando a
segmentação para garantir maior qualidade, prazos, preços e inovação sobre a necessidade
do cliente.
Neste sentido quando a empresa precisa solucionar um caso como este do setor
fármaco, ela já tem em mente a sua necessidade e o representante é chamado para colocar
em prática as ideias do cliente, adaptando-as da melhor maneira possível, adequando
matéria prima, dimensionamento e tecnologia existentes no mercado.
Esta embalagem com tendências inovadoras surgiu como um trunfo para o segmento
que aprovou o uso e começa a ver os resultados de sua implantação na distribuição do
produto. A empresa tem como foco desenvolver embalagens inovadoras e para tanto se
especializou no segmento de embalagens especiais.
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Esta embalagem passou por um processo de desenvolvimento onde foram
apreciadas as etapas propostas pelo modelo de Rozenfeld at al. (2006), porém a empresa
não tem por hábito manter registros de forma a gerar uma representação de seu trabalho. O
que acontece é gerido pelos responsáveis e cada um em sua devida função, analisando e
complementado o processo de desenvolvimento do produto. No final o produto acabado
poderá ser reproduzido pelo modelo operacional, embora estes não tenham se envolvido
em seu desenvolvimento.
Percebe-se que neste segmento não há a formalização do PDP por se tratar de uma
área em constante inovação e que atende a necessidades imediatas de seus clientes, apesar
de existir um processo padrão existem tarefas específicas que se relacionam ao
desenvolvimento de embalagens de diferentes maneiras. O PDP não é totalmente
estruturado porque cada desenvolvimento de produto requer especificações diferentes,
alocações de recursos diferentes e o modelo de referência parte da necessidade do cliente.
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