a importância da cartografia para o cotidiano: utilização
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Andréia Alves de Oliveira
Universidade Federal de Campina Grande- [email protected]
Daniel de Souza Andrade
Universidade Federal de Campina Grande- [email protected]
A importância da cartografia para o cotidiano: utilização de mapas com uma
turma do ensino básico
INTRODUÇÃO
Todos os dias somos contemplados com infinitas informações, muitas delas
expressas em imagens, números, gráficos, textos, sons, vídeos, mapas, dentre outros. São
informações visuais e não visuais que transmitem ou tentam transmitir algum tipo de
conhecimento para os que se interessam ou não pelo o que está sendo ali inferido.
Neste meio, encontram-se os mapas, possuidores de importantes conteúdos que
na maioria das vezes passam despercebidos ou mal interpretados. Este produto histórico
faz parte da sociedade desde a pré-história, quando os homens utilizavam desenhos em
rochas, árvores, ou no chão (areia, terra), para orientar-se/ localizar-se. Nesta perspectiva,
Duarte (2008, p.17), afirma que os mapas possuem uma importância nos grandes
momentos da história da humanidade, sendo um produto de orientação para diversos
povos. Servindo como um instrumento de planejamento, administração e dominação.
Apesar de sua importância para sociedade, muitos não o conhecem, nem tão pouco
sabem orientar-se através dele. É na tentativa de minimizar tal realidade que o ensino
cartográfico foi inserido no currículo escolar da educação básica, com conteúdo
cartográfico na disciplina de geografia. Sem falar também que no ensino básico, os
conteúdos trabalhados na geografia, são fragmentados, sem vinculação, concebidos como
temas dissociados, um problema no ensino geográfico, apontado pelos autores da área.
A geografia enquanto ciência que estuda e analisa a interação do ser humano com
o espaço, beneficia-se da cartografia para representar tais modificações e interações dos
sujeitos com os vários fenômenos espaciais. Para que entendamos, faz-se necessário
definir a cartografia sendo está a ciência e arte capaz de retratar em um plano, carta e
outras formas de expressão da organização do espaço, seja ele terrestre ou não, seguindo
determinados aspectos estéticos, os vários fenômenos espaciais (DUARTE, 2008).
Tratando do uso da cartografia na disciplina geográfica, Cavalcanti (2005, p.16),
aponta que a esta
perpassa todos os conteúdos, fazendo parte do cotidiano das aulas dessa
matéria. Os conteúdos da cartografia ajudam a abordar os temas
geográficos, os objetos de estudos. Eles ajudam a responder àquelas
perguntas: “Onde? Por que nesse lugar?” Ajudam a localizar
fenômenos, fatos e acontecimentos estudados e a fazer correlações entre
eles, são referências para o raciocínio geográfico.
Dessa forma, Mendes (2011, p. 112), cita que
(...) na análise geográfica por parte dos alunos e na construção de uma
sociedade espacial menos desigual, já que conhecer o espaço de sua
vivência pode possibilitar a modificação de desigualdades espaciais e
sociais estabelecidas pelo capitalismo. Além disso, levar o aluno às
mais diversas formas de representação espacial e também no estudo dos
mapas è essencial e prioritário, ocasionando aos alunos a penetração
cada vez mais profunda na estruturação espacial ao nível de sua
concepção e representação.
Ou seja, o estudo de mapas perpassa os aspectos físicos e materiais do espaço,
contemplando assim, os fenômenos sociais e imateriais deste.
Com os avanços tecnológicos as produções cartográficas foram sendo
aprimoradas, geotecnologias e instrumentos tecnocientíficos assumem um importante
papel para aquisição/ produção e análise dos vários fenômenos meteorológicos,
geomorfológicos, hidrográficos, geológicos, demográficos, urbanos, etc.
Nessa perspectiva, Pancher e Maria (2014, p.2), citam que, as “tecnologias estão
se aprimorando e ampliando as possibilidades para tornar o aprendizado em sala de aula
mais eficaz e prazeroso, tanto para o professor e, sobretudo para os alunos”.
Técnicas de SR, geoprocessamento são empregadas para facilitar o
confeccionamento dos produtos cartográficos, e metodologias para o ensino desta ciência.
No ensino básico, as lacunas no ensino dos elementos cartográficos são decorrentes de
fatores externos e internos, como a falta de conhecimento dos docentes sobre o uso das
novas tecnologias, e da realidade precária das instituições educacionais que não dispõem
de recursos de apoio pedagógicos, como mapas, globos, computadores, estrutura física
dos prédios, dentre outros.
O trabalho aqui apresentado trata-se de um relato de experiência resultante de um
Projeto Multidisciplinar realizado com a turma do 2° ano B do ensino médio de uma
escola da rede pública de ensino do estado da Paraíba, intitulado - A importância da
cartografia para o cotidiano: utilização de mapas nos anos finais do ensino médio. Tendo
como executores do projeto dois acadêmicos do curso de Geografia da UFCG-
Universidade Federal de Campina Grande.
Justificando-se pela importância da cartografia para o cotidiano e vida dos
sujeitos, tentou-se a partir de uma proposta de trabalho por projetos trazer os alunos para
o mundo dos mapas vinculando com os vários conteúdos da Geografia. Segundo Pimenta
e Carvalho (2008), este é um método que se caracteriza por considerar os problemas reais
do cotidiano do aluno.
OBJETIVO
Geral
Aprender a utilizar mapas para orientar-se e se localizar no espaço a partir de
recursos geotecnológicos.
Específicos
Identificar os elementos de um mapa através de recursos cartográficos;
Entender a utilização e leitura de um mapa para se localizar;
Construir um raciocínio sobre como utilizar um mapa e aprender a lê-los.
METODOLOGIA
Conhecendo a Escola
A Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Carlota Barreira está
localizada no Centro da cidade de Areia- PB, na Praça Monsenhor Ruy Barreira Vieira,
S/N, CEP. 58397-000 (Figura 1). Referente a turma trabalhada, está possui 27 alunos.
Figura 1. Mapa de localização da Escola Estadual Carlota Barreira, Areia-PB.
Desenvolvendo o projeto
As metodologias utilizadas para a construção do conhecimento cartográfico com
os alunos foram:
Aulas expositivas dialogadas, as quais aconteceram em horário normal de aula, de
acordo com o cronograma estabelecido pela supervisora do estágio, com a
utilização de DataShow, quadro, caneta, mapas e outros recursos;
Encontros extraclasse realizados em horário contra turno na biblioteca da escola,
utilizando mapas, livros didáticos e xerox;
Construção de mapas manuais, confeccionados no início das aulas e no decorrer
do projeto;
Produção de um mapa em formato de globo (círculo de isopor, cola, lápis de cor
e xerox), construído nas etapas finais do projeto e de uma maquete hipsométrica,
(papel higiênico, cola, água, isopor, tesoura, tintas, canetas e lápis de cor, régua);
Culminância do projeto, realizado no início do ano letivo de 2018, com várias
turmas da escola em horário de intervalo.
RESULTADOS PRELIMINARES
Para alcançar os resultados desejados, foram utilizadas as metodologias já citadas,
inserir o aluno no processo de desenvolvimento de um projeto educacional é o ponto
central para o acontecimento da aprendizagem, dessa forma, considerou-se as opiniões e
como eles preferiam desenvolver as atividades.
Seguiu-se o pensamento de Hernández e Ventura (1998), os quais consideram as
especificidades e o cotidiano do aluno. Tentando-se assim, tornar o projeto mais dinâmico
e flexível, modificando metodologias e abordagens para alcançar uma aprendizagem mais
interessante para os discentes.
Pimenta e Carvalho (2008), ao citar Lev Vygotsky afirmam que “a relação entre
os objetos do mundo e o desenvolvimento da consciência é a mediação” (p.3), sendo
assim, partiu-se da ideia de construção de recursos pelos alunos, mediando os passos para
a construção, deixando estes livres para construir os recursos.
Inicialmente partiu-se da elaboração de um desenho de trajeto, o qual chamou-se
de mapa de percurso. Antes da confecção deste, foi realizada uma simples introdução
sobre a história dos mapas. Este “mapa”, teve o intuito de analisar os conhecimentos
prévios dos alunos sobre, considerando a percepção deles sobre o espaço e os vários
componentes que nele está presente (Figura 1)
Figura 1: Primeiros desenhos do percurso da casa dos estudantes até a escola.
FONTE: DADOS DA PESQUISA, 2017.
No decorrer da execução do projeto, após aulas expositivas sobre os vários
componentes que formam um mapa, foi sugerido a elaboração de um novo mapa, o qual
apontou alguns avanços, como entendimento sobre os elementos da paisagem, a exemplo
o tamanho, simbologia e etc. (Figura 2).
Figura 2: Segundo mapa criado pelos alunos.
FONTE: DADOS DA PESQUISA, 2017.
Percebe-se nos desenhos criados pelos alunos que houve uma evolução referente
aos elementos que compõem um mapa, assim como também relacionados aos produtos
existentes.
Como exemplo, na Figura 1 nota-se que estes não têm um refinamento da noção
espacial dos objetos, pois como ver-se o tamanho das árvores são maiores ou do tamanho
das casas (o que não existe no terreno), os equipamentos urbanos não são devidamente
ilustrados com legendas e nem cores, figuras de orientação, escala, dentre outros.
Importante ressaltar, que mesmo havendo discrepância espacial dos equipamentos, os
alunos demonstraram entendimento do trajeto, só não sabendo representa-lo.
Na Fig. 2 constatou-se a evolução dos alunos quanto aos critérios de elementos
necessários em um mapa, com pouca experiência, porém, com entendimento do que cada
elemento significa, já identificando o tamanho dos objetos, a importância da legenda,
entre outros.
Os conteúdos trabalhados foram: escala, legenda, semiologia, orientação,
coordenadas geográficas e a história dos mapas, inicialmente. Para tanto, fez-se
necessário a inserção de recursos pedagógicos que dinamizassem e inovasse as aulas,
chamando a atenção dos alunos.
Como recurso, foi levado dois mapas para sala de aula, sendo um mapa do relevo
brasileiro e outro da densidade demográfica do país, já que a proposta era de um projeto
multitemático, buscou-se em cada aula, trabalhar mapas a partir de conteúdos diferentes.
Utilizou-se régua para representar a questão da escala no mapa, relacionando com o
terreno, usou-se também slides com figuras, mapas e textos.
Solicitou-se aos alunos que identificassem tais elementos no mapa que estava
fixado no quadro (Figura 3), a maioria conseguiu identificar do que se tratava o conteúdo
do mapa assim como dois elementos nele composto. Percebeu-se que a maior dificuldade
foi a questão da escala e das coordenadas geográficas, com isto, se fez uso da régua para
relacionar os centímetros no mapa para os quilômetros no terreno e para as coordenadas
geográficas explicando a questão da rede geográfica considerando Norte, Sul, Leste e
Oeste- Latitude/Longitude.
Figura 3. Alunos identificando os elementos de um mapa.
FONTE: AUTORES, 2017.
Um dos momentos extraclasse com alguns alunos na biblioteca da escola foram
os momentos de roda de leitura sobre a história dos mapas, onde foi trabalhado o texto de
Paulo Araújo Duarte (2008), intitulado- Um pouco da história dos mapas, p. 18-44. Aqui
buscou-se trabalhar o surgimento deste produto cultural, a relação do mapa com a
sociedade e sua função, e os tipos de mapas e suas modificações durante os tempos.
O trabalho com os softwares aconteceu na sala de vídeo, onde foi projetado pelo
Data Show o QGIS e o Google Earth. O Topográphic Map foi trabalhado pelos alunos
nos seus celulares, tendo em vista que estes estavam sempre com os aparelhos em mãos,
não obedecendo assim as normas adotadas pela escola. A atividade foi encontrar a escola
na imagem de satélite e na imagem hipsométrica, observando o relevo e as características
paisagísticas da região e ver como funciona os softwares.
Após se localizarem, eles compararam as informações existentes na imagem de
satélite (Figura 4) e na imagem hipsométrica (Figura 5), conhecendo assim a altitude da
cidade. Os dados obtidos nesta etapa serviram para a construção da maquete que será
descrita mais à frente.
Figura 4. Imagem de satélite. Figura 5. Imagem hipsométrica.
. FONTE: AUTORES, 2017.
Neste momento elaborou-se um globo do mapa mundo (Figura 7), o qual teve o
intuito de mostrar as várias formas de mapas sendo este um mapa do formato da terra sem
estar em um plano, objetivou também, mostrar as projeções cartografia e a deformação
da Terra nos mapas. Trabalhou-se algumas projeções como a Projeção de Mercator,
Projeção Senoidal, Projeção Cilíndrica e as várias outras.
Figura 6: Produção do globo.
FONTE: AUTORES, 2017.
Foi trabalhado com os alunos os aspectos físicos geográficos da cidade de Areia,
discutindo assim as condições climáticas, geológicas e geomorfológicas, destacando a
existência da mata atlântica no município e o clima da região. Para relacionar a cartografia
levou-se uma imagem da cidade (Figura 7), onde pediu-se aos discentes que
descrevessem, apontando os aspectos existentes nela. Apesar de já ter-se trabalhado os
diversos fenômenos geográficos, a turma em sua maioria teve dificuldade em relacionar
o que estava observando na imagem com o mapa temático.
Figura 7. Vista do relevo da cidade de Areia.
FONTE: AUTORES, 2017.
A partir dos conhecimentos construídos, foi confeccionada uma maquete
hipsométrica, a qual teve como objetivo primário tornar os alunos construtores de suas
próprias ações, e secundário permitir em um recurso 3D como é o relevo da cidade onde
eles vivem, (FIGURAS 8, 9).
Figura 8. Alunas produzindo maquete. Figura 9. Maquete em andamento.
FONTE: AUTORES, 2017.
Após a confecção da maquete, os alunos apresentaram ao restante da escola,
explicando a relação das cores com relevo, altitude e geomorfologia da área abrangida na
maquete (Figuras 9).
Figuras 9. Culminância do projeto.
FONTE: AUTORES, 2018.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se este relato de experiência afirmando a importância da cartografia para
o ensino da geografia e suas diversas áreas de conhecimento. A experiência de um projeto
multidisciplinar para um docente em formação é imprescindível, tendo em vista que, as
experiências adquiridas no decorrer da formação servem para o amadurecimento do
futuro profissional.
Quanto aos alunos, estes demonstraram nas atividades que o que foi trabalhado foi
absorvido, a partir das avaliações continuas. Ressaltamos a importância de considerar a
realidade dos alunos em sala de aula, trazendo estes para o conteúdo trabalhado. O uso de
tecnologias acaba facilitando a intermediação do conhecimento, quando estas são
utilizadas de forma adequada. Considerando a importância que a cartografia possui para
a compreensão dimensional, territorial e organizacional do espaço, buscou-se neste relato
de experiência mostrar o resultado do referido projeto. O intuito maior deste, foi trazer
para o ensino de geografia a utilização de mapas, pois nos livros didáticos como em outros
recursos de apoio pedagógico estes são concebidos como algo que só serve para decorar
o texto, não sendo trabalhados em sala de aula. O que contribui para que os estudantes
saiam do ensino básico sem o conhecimento cartográfico.
BIBLIOGRAFIA
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DUARTE, P. A. Fundamentos de Cartografia. Editora da UFSC: Florianópolis, 2008.
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Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
MENDES, J.C. Alfabetização cartográfica no ensino de geografia: uma perspectiva
socioconstrutivista. In: COLÓQUIO DE CARTOGRAFIA PARA CRIANÇAS E
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PIMENTA, S. A; CARVALHO, A. B. G. A interdisciplinaridade no ensino de
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http://www.cartografia.org.br/cbc/trabalhos/9/701/CT09-40_1404428345.pdf>.