a importÂncia do lÚdico na hora do conto

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A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NA HORA DO CONTO Adriana Alves Goethel* Aline de Quevedo Brendel* Arlete Ribeiro Rodrigues* Jorgina Nazário Moreira* 1 No mundo de hoje a mídia está substituindo, cada vez mais, o diálogo nas famílias e diminuindo as oportunidades de desenvolvimento da imaginação infantil. O meio mais importante para atingir esse objetivo é a contação de histórias e a leitura, conduzidas num ambiente agradável para a criança. É necessário então, que se reveja a importância de utilizar métodos lúdicos no momento da contação e interpretação de histórias em sala de aula. Ouvir a leitura de histórias leva os alunos a perceberem as características da língua escrita, cuja sintaxe e cujo léxico não são os mesmos da língua oral. Com essa prática, constata-se que não só o conhecimento da língua pode ser enriquecido no contato com a literatura, mas também a experiência indireta do mundo. A arte de contar histórias ganhou uma conotação maior, como valoroso instrumento no processo educativo, devido ao seu aspecto lúdico. 1 * Alunas do Curso de Licenciatura em Pedagogia do IFRS – Câmpus Porto Alegre. Ensaio dirigido à disciplina de Língua Portuguesa II, ministrada pela professora Jaqueline Cunha.

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Page 1: A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NA HORA DO CONTO

A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NA HORA DO CONTO

Adriana Alves Goethel*Aline de Quevedo Brendel*

Arlete Ribeiro Rodrigues*Jorgina Nazário Moreira*1

No mundo de hoje a mídia está substituindo, cada vez mais, o diálogo nas famílias e

diminuindo as oportunidades de desenvolvimento da imaginação infantil. O meio mais

importante para atingir esse objetivo é a contação de histórias e a leitura, conduzidas num

ambiente agradável para a criança. É necessário então, que se reveja a importância de utilizar

métodos lúdicos no momento da contação e interpretação de histórias em sala de aula.

Ouvir a leitura de histórias leva os alunos a perceberem as características da língua escrita,

cuja sintaxe e cujo léxico não são os mesmos da língua oral. Com essa prática, constata-se que

não só o conhecimento da língua pode ser enriquecido no contato com a literatura, mas também a

experiência indireta do mundo. A arte de contar histórias ganhou uma conotação maior, como

valoroso instrumento no processo educativo, devido ao seu aspecto lúdico.

É importante repensar no encantamento da hora do conto para o desenvolvimento da

criança, acreditando na importância do faz-de-conta e da fantasia desvinculados de atividades

pós- leitura.

Um bom início para a formação do leitor é o mergulho na escuta/leitura que podem ser

experimentadas por meio da voz do contador de histórias ou pelas linhas desenhadas que correm

soltas pelo papel. A contação de histórias é uma forma de fazer arte que faz com que as pessoas

se sintam parte do espetáculo, interajam, sintam prazer em ouvir e, conseqüentemente de ler.

Destaca-se assim, portanto, a necessidade de haver em sala de aula momentos de leituras

diversificadas com o simples objetivo de deleite dos alunos.

Nos dias atuais vive-se em constante agitação. As informações chegam com uma

velocidade impressionante. Coisas acontecem do outro lado do oceano e em minutos aparecem as

notícias através da televisão, da internet, redes sociais ou até mesmo por aparelhos telefônicos.

Cada vez mais, a era digital toma conta da vida das pessoas. Nunca antes se formaram seres tão

1 * Alunas do Curso de Licenciatura em Pedagogia do IFRS – Câmpus Porto Alegre. Ensaio dirigido à disciplina de Língua Portuguesa II, ministrada pela professora Jaqueline Cunha.

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bem informados como atualmente. Entretanto, essa velocidade de informações e capacidade

digital está tornando os seres humanos individualistas e, consequentemente há a perda da

habilidade de integração social.

Então é preciso manter o contato das crianças com o mundo da imaginação. É importante

contar histórias, brincar de faz de conta, ativar o simbólico dessa criança e permitir que ela viva

esse momento. Segundo Cosson (2007, p.17) "(...) na literatura e na escritura do texto literário

encontramos o senso de nós mesmos e da comunidade a que pertencemos. A literatura nos diz o

que somos e nos incentiva a desejar e a expressar o mundo por nós mesmos."

Em outros tempos, os pais é que realizavam tais processos, mas devido ao cotidiano

acelerado já não se tem tão presente essa rotina de contar histórias na ambiente familiar. Mais

uma vez a escola assume outro papel importante: o de motivar os alunos a ler. Porém, para

despertar essa vontade no educando é necessário que os professores esqueçam um pouco os

conteúdos e adotem maneiras diversificadas de contar histórias. É importante que tragam para sua

sala de aula livros de literatura que façam seu aluno pensar, imaginar e querer fazer parte daquele

faz de conta. Transformar um tempo da aula em um universo de magia, onde apenas o ver e ouvir

histórias é que são o destaque, onde o aluno pode descobrir "que através da literatura podemos

escrever e ler o mundo e a nós mesmos"(COSSON, 2007, p.120).

Os professores e alunos que desejarem compartilhar esse caminho talvez descubram que a prática do letramento literário é como a invenção da roda. Ela precisa ser inventada e reinventada em cada escola, em cada turma, em cada aula. Nessa reinvenção contínua do mesmo, que não se faz sem oposição como na fábula,o ensino de literatura passa a ser o processo de formação de um leitor capaz de dialogar no tempo e no espaço com sua cultura, identificando, adaptando ou construindo um lugar para si mesmo. Um leitor que se reconhece como membro ativo de uma comunidade de leitores. (COSSON, 2007, p.120)

Destaca-se assim a importância de trabalhar a literatura em sala de aula, pois é através

desse universo da imaginação que o aluno consegue desenvolver sua capacidade de integração

entre seu mundo e sua cultura e a partir dessas experiências em aula ele formará seu hábito de

leitura, questionando, afirmando e expandindo seus sentidos.

O sucesso de uma contação de histórias depende muito das pessoas envolvidas, bem como

de um espaço físico adequado. Quando o professor conta uma história, expressando-se com uso

de voz e gestos, faz com que os alunos viajem nas asas da imaginação de um mundo mágico e

inesquecível. Esse tipo de método lúdico leva a criança a conviver com os livros, divulga a

literatura e cria interação com os colegas de aula.

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O momento da contação de histórias deve atender a todas as idades e também ser atraente

para enriquecer momentos de lazer sem a preocupação do estudo didático.

Alguns métodos são aconselháveis para se ter como exemplo positivo. Para a leitura de

livros é aconselhável criar um ambiente harmonioso. Se existem distrações fora, precisam ser

minimizadas. Dentro da sala de aula, cabe permitir que as crianças se sintam aconchegadas,

agrupando-as. A escolha de um horário propício para essas atividades, a preparação de um baú ou

uma prateleira com livros infantis, um tapete de feltro colorido com recortes dos personagens das

histórias e almofadas, um avental com velcro onde os personagens da história possam ser fixados

são recursos propícios à criação de um ambiente para a contação de histórias. Caixas com os

personagens da história contada em forma de fantoches ou dedoches podem ser exploradas pelas

crianças.

Tomar contato com a história antes de apresentá-la às crianças é um cuidado que cabe ao

contador, pois é preciso averiguar se ela é engraçada ou séria, alegre ou tristonha, a fim de

preparar as crianças. Se for uma história de fantasmas, o uso de uma voz mais misteriosa

contribuirá para a criação de um clima favorável ao envolvimento de todos. Se for engraçada, um

tom mais leve é esperado. No caso de livros narrados em voz alta, talvez uma sala escurecida

enriqueça a história.

Craidy e Kaercher (2001) afirmam que, se no dia a dia for dedicado tempo a esses

momentos, maior será a contribuição para formação de crianças que gostem de ler e ver no livro,

na leitura e na literatura um meio de interação e diversão. Cabe ao docente incluir, em seu

planejamento, períodos dedicados à leitura, que, ao serem aplicados, poderão formar uma nova

geração de leitores.

Ouvir histórias é muito importante na formação de qualquer criança, é o início da

aprendizagem para ser um leitor e, tornar-se um leitor é começar a compreender e interpretar o

mundo. Por isso precisamos “[...] ler histórias para as crianças, sempre, sempre...”

(ABRAMOVICH, 1993, p.17).

As histórias formam o gosto pela leitura. Quando a criança aprende a gostar de ouvir

histórias contadas ou lidas, ela adquire o impulso inicial que mais tarde a atrairá para a leitura. A

contação de histórias deve existir para que as crianças possam ser levadas ao texto original.

Segundo Nelly Novaes Coelho (1993) nenhuma contação, por melhor que ela seja, pode

substituir a leitura literária.

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As histórias têm uma magia e um encantamento capazes de despertar no leitor todo um

potencial criativo. É uma forma capaz de transformar a realidade quando trabalhada

adequadamente.

Se a escola ainda é o espaço por excelência de contato com o material impresso e com a

literatura em particular, cabe ao professor a função da interferência crítica diante do trabalho com

a leitura. Ela é o campo fértil para se produzir e despertar o gosto pela leitura e se a leitura do

mundo precede a leitura da palavra, estimular o imaginário da criança através da hora do conto no

âmbito escolar pode ser um bom começo.

As escolas precisam revitalizar o hábito de contar histórias e o caminho para o resgate

desta arte milenar deve começar pelos professores, pois são eles os contadores de histórias nas

salas de aulas. A contadora de histórias Cléo Busatto, cuja obra “Contar e encantar – pequenos

segredos da narrativa” explica por que devemos contar histórias

Conto histórias para formar leitores; para fazer da diversidade cultural um fato; valorizar as etnias; manter a História viva; para se sentir vivo; para encantar e sensibilizar o ouvinte; para estimular o imaginário; articular o sensível; tocar o coração; alimentar o espírito; resgatar significados para a nossa existência e reativar o sagrado (BUSATTO, 2003, p. 45-46)

Em um ambiente favorável onde a literatura é apresentada aos sujeitos sem restrições nem

imposições, o leitor exerce com autonomia fascínio à prática da leitura, transformando o ato de

ler em um relacionamento espontâneo, dialógico e afetivo com o texto, fazendo despertar no

leitor o desejo de estar sempre bem informado a fim de tornar-se um cidadão consciente de seu

papel, aumentando o seu poder de intervenção na luta por uma sociedade mais justa, pois a

pessoa bem informada tem noção dos seus direitos e deveres, podendo exercer sua cidadania com

maior facilidade.

O estímulo para ler deve ser feito sem cobranças à criança. Ela deve ser respeitada quanto

ao tipo de livros que queira ler. A criança precisa descobrir no ato de ler uma prática prazerosa, e

não obrigatória. A leitura deve se adequar ao leitor, respeitando seus interesses, habilidades e

formação. (BAMBERGER, 1991)

É importante que a criança interaja na leitura, através de atividades recreativas as quais

podem ser promovidas tanto na família, quanto na escola ou na biblioteca. Segundo Cramer;

Castle, 2001, p. 163 “O que é lido com prazer é comumente retido na memória, porque o prazer

sempre assegura atenção, mas os livros que são consultados por necessidade e examinados com

impaciência raramente deixam quaisquer traços na mente”.

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Diante disso, percebe-se que a hora do conto é um dos instrumentos essenciais para a

construção de seu conhecimento e exercício da cidadania. Ela alarga nosso entendimento do

mundo, propicia o acesso à informação com autonomia, permite o exercício da fantasia e da

imaginação, estimula a reflexão crítica, o debate e a troca de idéias.

Não tem uma receita, uma fórmula para atrair ledores de livros, leitores de histórias ou

contadores de estórias, porém, e mais importante, urge desenvolver em cada um de nós, partes de

uma sociedade intelectual, pensante ou quase isso, ter uma cartola mágica e de dentro tirar um

sorriso.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRAMOVICH, Fani. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1993.

BAMBERGER, Richard. Como incentivar o hábito da leitura. 5.ed. São Paulo: Ática, 1991.

BUSATTO, Cléo. Contar e encantar – pequenos segredos da narrativa. Petrópolis: Vozes, 2003.

COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil – teoria, análise,didática. 6ª ed. São Paulo: Ática,

1993.

COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. 1ª ed. São Paulo: Contexto, 2007.

CRAIDY, Carmem Maria; KAERCHER, Gládis Elise P. da Silva. Educação Infantil: pra que te

quero? Porto Alegre: Artmed, 2001.

CRAMER, Eugene H; CASTLE, Marrieta (Orgs). Incentivando o amor pela leitura. Tradução:

Maria Cristina Monteiro. Porto Alegre: Artmed, 2001.