a importância do estudo da história do direito

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  • 7/25/2019 A Importncia Do Estudo Da Histria Do Direito

    1/19

    HISTRIA D O DIREITO CINCIA E DISCIPLINA

    Luiz Carlos de Azevedo

    Professor Associado d o Dep artame nto de Direito Processual da

    Faculdade d e Direito da Universidade de S o Paulo

    Des emb arg ado r aposentado do Tribunal de Justia de S o Pau lo

    R e s u m o :

    O autor busca,e msua obra, demonstrar a importncia do estudo

    da Histria

    do

    Direito para

    a

    co mp re en s o dos institutos jurdicos atuais,

    procurando n o passado (associado aos mom e nt os poltico-histrico e cultural)

    respostas para as mu da n as daqueles. T a m b m procura mostrar a importncia

    deste estudo para os vrios ra mo s d o Direito, al m de fazer breve anlise de

    suas fontes. Traa, ainda,aevoluodocursodeHistriadoDireitoe m

    Portugal,acriaoedesenvolvimento destenoBrasil,b e mc o m oa sua

    presena nos ma is variados cursos de Direito e m todo o m u n d o .

    Abstract:

    T h e authoraims,at his wo rk , to sh ow the importance of

    the

    study

    on History of L a w du e the understanding of nowadays juridical institutes,

    looking at the past (coordinated with political, historical and cultural miment)

    for answers that explain those. H e also intends to show the importance of this

    study for the various wi ngs of La w , yonderashort analysis of

    its

    resources.

    H e defines,yet,the evolution of

    the

    L a w History of Portugal, the creation and

    development of this on e in Brazil, as well its presence in various studiesof

    L a w thoroughout the world.

    n i t e r m o s

    Histria d o Direito; evo lu o d o cur so de Histria d o Direito.

    Sumrio:

    1.

    Introduo.

    2.Conc eit o d e Histria d o Direito.

    3.A Histria d o Direitoeos vrios r a m o s d a cincia jurdica. Interdisciplinaridade.

    Fontes.

    4.

    AHistria d o Direito, disciplina obrigatria integrante do s curso s jurdicos.

    5.Oens ino d a Histria d o Direito no Brasil.

    6.Oen si no d a Histria d o Direito n o exterior.

    7.A

    consolidao

    da

    Histria

    d o

    Direito c o m o disciplina obrigatria

    d o

    currculo

    d o curso de gr adua o da Facul dade d e Direito da Universidade d e S o Paulo.

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    2/19

    32

    Luiz CarlosdeAzevedo

    8.

    Concluso.

    Bibliografia.

    1. Introduo.

    Todo Estado dispe de ordenamento jurdico prprio, composto de

    no rm as nas quais se distinguem determinados valores protegidos pelo Direito. Estes

    valores,

    ou bens jurdicos, cont am c o m maior o u m en or am pa ro perante as

    respectivas no rm as qu e os resguardam, confo rme a natureza e relevncia qu e estas

    lhes emprestaram, no m o m e n t o e m qu e editadas e e m face do ambiente social para o

    qual se destinaram; e co m o o substrato social se encontra e m continuada alterao,

    t a m b m aquelas vo conhecend o peridicas mudan as , de acordo c o m a poca e

    convenincia de sua manuteno, ou-no.

    As si m, con for me as exigncias de o rd em poltica, ec onm ic a ou

    cultural,

    u m ato antijurdico, qu e estava a merecer apenas u m a represso de carter

    civil, colocado pelo legislador sob outro prisma devalores,e a necessidade de se

    proteger a ordem jurdica provoca,

    ento,

    u m a sano mai s rigorosa para a hiptese;

    ou ocorre o inverso, e o

    ato,

    embo ra continue sendo reconhecido c o m o ilcito, deixa

    de sofrer aquela pena, passando a ser coibido ou condicionado a outros me ios

    igualmente vlidos para o restabelecimento d o direito atingido.

    Ora,

    para que se possa b e m compr eender todo o envolvimento que

    este proble ma comporta, no possvel se ater unicamente ao m o m e n t o e m qu e o ato

    acaba de ser praticado e ao dispositivo legal que o regulamenta ou sanciona;

    preciso

    ir

    mai s alm, colhendo este e aquele na sua inteira extenso e plenitude, para

    visualiz-los sob u m critrio amplo e abrangente; na

    verdade,

    se o Direito constitui

    u m a expresso inseparvel de qualquer m eio social civilizado; e se este Direito n o

    se conserva esttico, m a s se dinamiza e se transforma na me di da e m qu e as

    condies sociais assim exigem; no h c o m o desvincul-los da realidade histrica,

    pois preciso saber c o m o este Direito foi, at ontem, para entend-lo, hoje, e

    melhor-lo, ama nh .

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    Histria

    do

    Direito, Cincia

    e

    Disciplina

    33

    J se disse que a ord em jurdica se assemelha a u m im enso relgio,

    repleto de

    engrenagens:

    algumasdelas,po ssuem mov ime nto rpido evisvel;outras,

    mai s m oro so e apenas perceptvel;outras,enfim, trazem m ov im en to

    to-lento,

    que

    pa re ce m imveis. Por isso, para medi-las, deve-se consider-las dentro de u m

    largussimo perodo de t em po. E so justamente estas engrenagens m ais lentas qu e

    no p o d e m serdesprezadas;aorevs,d e v e m ser levadas e m considerao, antes qu e

    as

    outras;

    ou, por

    outra,

    deve-se

    atentar,

    de preferncia, para aqueles institutos que

    revelaram possuir maior longevidade e estabilidade, porque foram eles qu e

    influenciaram o p ens amento jurdico e m maior profundidade e dimenso.

    1

    Ora,c o m o buscar a evoluo de u m determinado Direito se m se valer

    do concurso d a Histria e s em cuidar dos fundam entossociais, polticos,econmicos

    e culturais que dirigiram a conduta do conglomerado humano que o adotou e

    utilizou?

    Da a importncia inestimvel da Histria do Direito: fornecer ao

    Direito atual a com pr ee ns o dessa retrospectiva, esclarecendo dvidas, afastando

    imprecises, levantando,

    passo apasso,a verdadeira estrutura do ordenamento, seus

    institutos ma is slidos eperenes,suas bases de fundo e suas caractersticas formais,

    at alcanar a razo d e ser de seu significado e contedo.

    2. Conceito de Histria do Direito.

    Mas a Histria do Direito no se reduz a um inventrio, nem se limita

    a erguer e revolver os antecedentes histricos das instituies ora

    vigentes;

    explica-

    se,no pela volta s antigidades

    jurdicas,

    m a s pelo fato de constituir o nico

    caminho para a compreenso da essncia do Direito''na sua atual conjuntura.

    N a condio de cincia qu e,descreve erevela;pesquisa e esclarece;

    coo rdena e explicita a vida jurdica de u m pov o e m seus mais variados aspectos,

    detendo-se nas fontes, nos co stumes, na legislao que o rege, e m todas as

    manifestaes,

    enfim, que possibilitem o aperfeioamento dessa compre enso c o m o

    u m todo, resultante do conhec ime nto dos fatos ocorridos e das impresses maiores

    ou me no res qu e estes deixaram.

    1. Bruno Paradisi,Questioni Fondamentali per una Moderna Storiografia dei Diritto,in Apologia

    delia storia giuridica , Bologna,1973,IIMulino, pp. 488-489.

    2.

    Jos Ma nu el Prez-Prendes

    Y

    M u n o z

    D e Arrac,

    Curso

    de

    Historia

    dei

    Derecho

    Espanol,

    Madri,

    Ed.Darro, 1978,

    p.17.

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  • 7/25/2019 A Importncia Do Estudo Da Histria Do Direito

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    Histria do Direito, Cincia e Disciplina

    35

    sua vez, a Histria do Direito, pois ela ensina que o Direito no surgiu

    espontaneamenteexnihilo,m a ssem pre esteve condicionadoaincontveis ordensde

    realidade, nunca estticas,

    m a s

    dinmicas,

    e que se

    alternam, co nforme igualmente

    se

    mo difi ca m outros inumerveis fatoresque avida continuamente proporciona.

    3. A Histria do Direito e os vrios ramos da cincia jurdica. Interdisciplinaridade.

    Fontes.

    Onde h de se colocar a Histria do Direito entre os vrios ramos que

    este ltimo comporta? Costuma-se dizerque o historiador reconhecido pelos

    juristas... c o m ou m b o mhistoriador e, entreoscolegas historiadores, c o m ou m b o m

    jurista.Se por u mladonodeixade serincmodaa suainsistnciae mretroagirao

    estado temporal

    das

    questes

    q ue

    examina, t a m b m esta ressalta

    na

    mentalidade

    jurdica, tnica

    que

    identifica todos

    os

    temas

    que

    aborda.

    4

    O

    vastssimo c a m p o pelo

    qual atua co nd uz necessariamenteinterdisciplinaridade, pois esteletantosvoltas

    c o masinstituiesdeDireito Pblico, quantodeDireito Privado;aqui,otema de

    Direito Civil,ali,deDireito Penal, Processual, Administrativo...N e m valeapena

    estabelecer alg um as regras para esse fim: durante

    a

    Idade Mdi a,

    por

    exemplo,

    u m a

    das principais caractersticas

    d o

    perodo

    justamente

    a

    ausncia

    d e

    regras

    e de

    parmetros estanques

    que

    po ss am melhor orientar

    o

    pesquisador.

    E atarefa torna-se ainda mais co mp le xa qu an doolequeseampliaat

    a Filosofiad oDireitoou aoDireito Constitucional, presentesnoestudodaevoluo

    do pens amen to jurdicoe dasidias polticas. Parau m apossvel com preensod o

    contedod aHistriad oDireito, muito ajuda,porcerto,aclassificaodasfontes

    nas quais esta

    se

    escora, sejam elas jurdicas

    ou no;

    entre

    as

    primeiras,

    principalmente as

    leise oscostumes,sem que

    se desprezem

    assecundrias,

    fartas

    e m

    nmero

    e que se

    acham dispersas

    nos

    tratados, contratos, termos, do cu me nt os ,

    tabuletas, alvars, testamentos, etc.A ssegundas compreendem acervo ainda mais

    extenso: obras filosficas, histricas, cientficas, literrias, artsticas;acontribuio

    do folclore,daslendasemitos populares,doshbitos culturaisereligiosos,a

    maneira como

    se

    vestiam

    as

    pessoas, alimentavam-se, qual

    o

    tratamento

    q ue se

    d a v a m

    nas

    relaes

    d o dia a

    dia,

    os

    estamentos sociais

    e m que se

    dividiam. Tantas

    4.

    HansThieme,

    Ideensgeschichte und Rechtsgeschichte,

    p.

    28 8

    apud

    Jos Antni oEscudero,

    Curso

    de Historia

    dei

    Derecho,

    Madri,

    1995,

    p.

    33.

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    36

    Luiz Carlos

    de

    Azevedo

    marcas e sinais, imagens vividas de u m povo sobre o qual se pretende esmiuar as

    origens, tendncias, inclinaes, o seu grau de civilizao, enfim.

    A amplitude do domnio que a Histria do Direito abarca, constitui o

    selo mais significativo da sua importncia e valor entre as cincias jurdicas. No

    estorvam lindes espaciais ou temporais, nem balizas geogrficas ou cronolgicas:

    estas podero ser adotadas eventualmente, quando necessrias ao melhor

    entendimento deste ou daquele objeto, ou para que o leitor no se perca e m

    anacronismos. M a s a investigao tanto sincrnica, quanto diacrnica de modo a

    permitir, assim, a percepo de u m sistema jurdico como u m todo, bem como a

    vai orao das gradaes cambiantes que nele ocorreram. D e h muito deixou de ser

    meramente descritiva, para fornecer a reconstruo viva dos fatos, colocando-os

    luz de processosorgnicos e

    evolutivos'';

    trat-se de conhecer

    o

    ambiente

    fsico,

    os fatores tnicos e o meio social em que as

    instituies jurdicas

    nascem e se

    desenvolvem; e de observar a origem e transformao dessas

    instituies,

    relacionando-as como o condicionalismo

    social

    e

    natural

    de que so produto '

    Para que se tenha uma breve idia de como este lavor empolga, basta

    exemplificar que do exame de tais impulsos concluir-se- que nem sempre o Direito

    positivo vigente e m determinado perodo histrico, e m dada regio, vinha conforme

    a conscincia jurdica do povo que a habitava; que n em sempre as leis ditadas com

    soberba pelas autoridades governantes recebiam respaldo entre a populao

    encarregada de as suportar...

    4. A Histria do Direito, disciplina obrigatria integrante dos cursos jurdicos.

    A Histria do Direito, embora presente desde pocas remotas que se

    perdem na origem das civilizaes, teve o seu estudo institucionalizado de dois

    sculos parac,incorporando-se definitivamente ao elenco das cincias

    jurdicas,

    de

    m o d o a constituir disciplina obrigatria para a formao de todo aquele que procura

    u m completo conhecimento do

    saber,

    no campo do Direito.

    Para comprovao desta assertiva, impe-se, ento, o retorno ao

    sculo XVIII e ao regime que vigia e m Portugal

    e,

    por conseqncia, no

    Brasil,

    antes

    da Independncia.

    5.

    Wa ld em ar Martins

    Ferreira,

    Histria

    do

    Direito Brasileiro,

    Rio-So

    Paulo,

    Livraria Freitas

    Barros,

    1951, pp. 17-18.

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    Histria

    doDireito,

    Cincia

    e

    Disciplina

    37

    Passava-se por crtico

    perodo,

    pois o guante colocado sobre as idias,

    e a censura, distintivos do absolutismo, foravam o imobilismo da sociedade e de

    suas eventuais vocaes. E o Direito no qual aquela se an imava seguia por igual

    destino, conformando-se os juristas e m repetir o longo prstito de autores ,

    ab us an do da fastidiosa enfiada de

    remisses,

    to b e m exemplificadas nas obras dos

    tratadistas da poca. O m ar a s mo cientfico e intelectual traduzia o ferrolho aos

    estmulos e a estagnao dos

    espritos,

    enquanto as regras universitrias, alheias a o

    qu e sucedia no continente, advertiam aos estudantes e m cnones e leis que eles se

    detivessem, por cinco cursos inteiros, na leitura das Institutas, do Digesto, d o

    Decreto de Graciano, das Clementinas, do Sexto... e n ada mais.(Estatutos da

    Universidade de Co im br a de

    1559,

    captulos 99, 100 e

    101).

    6

    Esta incompreensvel imutabilidade sacudiu-a o terremoto de Lisboa,

    levantando dos esc ombros da tragdia as idias qu e o Iluminismo carreava. E a Lei

    da B oa -R az o , de 176 9, ainda que editada sob o crivo do Absolutismo, veio

    promover sensveis modificaes n o quadro poltico e administrativo da na o lusa,

    as quais teriam q ue influir, por sua

    vez,

    na estrutura do Direito at ento utilizado.

    J alguns anosantes,por m , discutia-se a necessidade de ac om pa nh ar

    o movimento de renovao cultural que corria pela Europa, estendendo-se este

    debate at a rea d o ensino do Direito; nas cartas dedicadas a este te ma , Lus

    Ant ni o Ve rn ey advertia: Quem sabe somente quatro apostilas, ainda que as tenha

    presente na memria, eu no o

    distingo

    do papagaio que repete aquilo que ouviu

    muitas vezes. Isto no ser jurista, nem para l vai (Verdadeiro Mtodo de

    Estudar,v. IV carta13a,I,

    c,

    3 .E continuava: se u m jurista desconhece a Histria

    Civil,principalmente a R o m a n a e u m telogo ignora a Histria da Igreja, sem mais

    outro exame assente que nem Leis, nem Teologia sabe; porque a Histria uma

    parte principal destas duas faculdades, sem a qual no possvel que um homem as

    entenda

    (l,

    d,

    l .

    7

    A apreciao do exmio educador no se limitou crtica sobre a

    man eira ultrapassada pela qual era ministrado o curso jurdico na Universidade de

    Coi mb ra ; aprofundou-se o autor na descrio detalhada dos mtodos recomendados

    6.Estatutos da Universidade de

    Coimbra,

    1559,Padre Serafim Leite, 1963, por ordem da

    Universidade,pp. 27 8 ess.Estes estatutos seriam

    alterados,

    e m parte,antesde 1772, ma s no osistema

    de ensino.

    7.Lus AntnioVerney,Verdadeiro Mtodo

    deEstudar,Lisboa,

    S da Costa, 1952,v.IV, pp. 117 e

    119.

  • 7/25/2019 A Importncia Do Estudo Da Histria Do Direito

    8/19

    38

    Luiz Carlos

    de Azevedo

    para as

    diferentes disciplinas jurdicas,

    segundo o

    critrio

    exposto pelo notvel

    iluminista

    italiano,

    Luiz Antnio Muratori, de quem se considerava

    discpulo''

    8

    A

    longa exposio que faz sobre a matria compe u m dos captulos de seu trabalho

    (II,b, 1, 2, sq.), partindo do princpio de que o jurisconsulto tem manifesta

    necessidade do estudo da Histria

    visto

    ser

    ela

    a que mostra por que fim e em que

    circunstncias

    e tempo foram

    feitas

    as

    ditas

    leis j que muitas delas parecem

    contrrias

    as

    outras

    (II,a).

    9

    No h propsito em demorar na exposio sistemtica dos estudos

    sugeridos, bastando acrescentar que se acolheram quando da divulgao dos novos

    estatutos da

    Universidade,

    no ano de1772;ao tratar das disciplinas que deveriam ser

    ensinadas no curso de Direito

    Civil,

    as normas ali contidas dispuseram que nenhum

    Direito pode ser entendido sem um claro conhecimentoprvio,assim do Direito

    Natural, Pblico e

    Universal

    e das Gentes; como da

    Histria Civil

    das Naes e das

    leis

    para

    elas estabelecidas,

    conforme as

    diferentes

    pocas dos tempos e as

    diversas

    conjunturas que nelas ocorreram; por serem

    estas

    prenoes

    indispensveis

    para a

    verdadeiraintelignciade todas asleise do genunosentido

    delas.

    Mando que no

    sobredito Curso Jurdico hajaliespblicas: I

    o

    : de Direito Natural, Pblico

    Universal e das Gentes;II

    o

    :de

    Histria Civil

    do Povo e do

    Direito

    Romano; III

    o

    :da

    Histria

    Civil

    de Portugal e das Leis

    Portuguesas'' (Estatutos

    da Universidade de

    Coimbra, Liv.

    II,

    Tt.

    II,

    cap. III, item 9).O programa das lies de Histria do

    Direito Civil, Romano e Portugus, prossegue no captulo VI do m e s m o ttulo e

    Livro dos estatutos,

    ali

    se

    especificando,

    quanto ltima seo, que seriam estudadas

    asleis,usos e costumes legtimos da nao portuguesa, passando,

    depois,

    Histria

    da Jurisprudncia Teortica, ou Cincia das Leis e m Portugal, e Histria da

    Jurisprudncia Prtica, ou do exerccio das Leis (Tt.III,cap. IX,

    l).

    10

    O professor designado para reger a cadeira seria obrigado a formar u m

    Compndio Elementar de Histria do Direito

    (Tt.III,cap.

    IX,

    14),

    11

    tarefa da qual

    se incumbiu Pascoal Jos de M elo Freire dosReis,dando a conhecer a suaHistoriae

    iuris civilis Lusitani liber singularis,

    a qual seria reconhecida oficialmente para o

    8. Moacyr Lobo da Costa,A Revogao da Sentena,So Paulo, EDUSP/cone, 1995, p. 186.

    9.

    Lus AntnioVerney,ob.

    cit.,

    pp.159 ess.

    10.Estatutos da Universidade de Coimbra,1772,Coimbra,1972,por ordem daUniversidade,pp.

    284 e357.

    11.

    Estatutos da Universidade de

    Coimbra,1772,cit.,p.

    364.

  • 7/25/2019 A Importncia Do Estudo Da Histria Do Direito

    9/19

    Histria

    do

    Direito,

    Cincia e

    Disciplina

    39

    estudo da disciplina. Desde

    1774,

    todavia, esta vinha sendo ministrada pelo insigne

    jurista, sendo certo que , a partir dessa data, nunca mais deixou de figurar no

    currculo do

    curso jurdico

    da Faculdade de Direito da Universidade de C oi mb ra .

    A par da contribuio bibliogrfica do s professores qu e se lhe

    seguiram, Francisco Coelh o de So usa e So Paio (1789) e Ricardo R a i m u n d o

    Nogueira(1795),a historiografia jurdica conheceu expressivo influxo, mormente

    aps a criao da A ca de mi a Real das Cincias de Lisboa: Antnio Caetano d o

    Am ar al , Jos Anastcio de Figueiredo, Joo Pedro Ribeiro, Jos Verssimo Alv es da

    Silva so nomes que ressaltam entre a produo cientfica do perodo a qual

    continuaria ainda c o m maior significado durante o curso do sculo X I X , a

    despontan do a contribuio de Man oe l Antnio Coe lho daRocha,do vulto superior

    que foi Alexandre Herculano, do dedicado em pe nh o de Henrique da G a m a Barros.

    N a seqncia, j para os nossosdias,entre outros, Jos Ferreira Ma rn oco e S ouza ,

    Ma no el Paulo Mere a, Lus Cabral de Mo nc ad a, Guilherme Braga daCruz,Marcello

    Caetano, M rio Jlio de Al mei da Costa e N u n o Espinosa G o m e s da Silva.

    Hoje,a Histria do Direito pe rman ec e c o m o disciplina fundamental do

    currculo d e todas as Faculdades de Direito de Portugal: est no primeiro ano da

    tradicional Faculdade de Direito da Universidade de

    Lisboa.

    A presena

    ocorre,

    da

    m e s m a forma, no curso de ps-graduao, c o m p o n d o o conjunto das cincias legais

    histricas. Ai nd a na graduao, v e m contemplada no curso de Direito d a

    Universidade Au t no m a de Lisboa Lus de Ca m es (I

    o

    ano, Histria das

    Instituies);d a Faculdade de Direito da Universidade Catlica Portuguesa (I

    o

    ano,

    Histria do Direito Portugus); no Departamento de Direito da Universidade

    Internacional, Lisboa (I

    o

    ano, Histria d o

    Direito);

    na Faculdade de Direito d a

    Universidade Catlica Portuguesa, Porto (I

    o

    ano, Histria do Direito); no

    Depar tamento de Direito da Universidade

    Portocalense,

    Porto (I

    o

    ano,Histria das

    Instituies),etc.

    5. O ensino da Histria do Direito no Brasil.

    No Brasil, o estudo de Histria do Direito, embora no contasse com

    cadeira prpria, quando da instituio dos cursos jurdicos, se mp re esteve presente

    na preocupao dos educadores e no magistrio desenvolvido nas Faculdades de

    Direito de S o Paulo e do Recife.

  • 7/25/2019 A Importncia Do Estudo Da Histria Do Direito

    10/19

    40

    Luiz Carlos

    de

    Azevedo

    As si m que a Carta de Lei de 11 de agosto de1827,ao criar os cursos

    jurdicos,

    disps qu e seriam provisoriamente regidos, no que fossem aplicveis e

    enquanto a congregao de lentes no-elaborasse o seu regulamento, pelos estatutos

    de autoria de Luiz Jos de Carvalho e

    Mello,

    Visconde da Cachoeira; na exposio

    detalhada que estes faze m das disciplinas do currculo, incluiu-se a Histria do

    Direito, de tal forma que o professor remontasse s origens da monarquia

    portuguesa, referindo as diversas pocas, os diversos cdigos e compilaes e tudo

    mais que fosse necessrio para que os estudantes conhecessem, a fundo, a marcha

    que tem seguido a cincia do Direito Ptrio at o presente''

    n

    Mais tarde, a reforma estabelecida pelo Decreto n. 1.134, de 3 0 de

    maro de1853,referendada no ano

    seguinte,

    pelo Decreto n. 1.386, de 28 de abril,

    inseria, no terceiro ano, a cadeira de Direito Civil Ptrio c o m anlise e co mp ar a o

    do Direito R o m a n o , demonstrando a importncia dada s razes histricas.

    Entre a literatura jurdica correspondente que se seguiu, Sa cramento

    Blake anota e m sua compilao o Tratado sobre as fontes do Direito Positivo para

    servir de introduo a um curso de Direito Ptrio de autoria do conselheiro Joo

    CrispinianoSoares,catedrtico de Direito R o m a n o a partir de1854,trabalho escrito

    e m colaborao co m o conselheiro Joa qui m Igncio Ra ma lho , outro mestre da

    Casa.

    13

    Alis,a busca s fontes dos institutos a estudar constitua mtodo

    c o m u m entre os juristas do perodo, bastando remontar s obras ento publicadas

    entre as quais, ttulo de exe mp lo , cite-se o clssico Da posse e das aes

    possessrias segun do o Direito Ptrio co mp ar ad o c o m o Direito R o m a n o e o

    Cannico'' d o Conselheiro Antnio Joaq uimRibas,catedrtico de Direito R o m a n o

    na d cada 1860-70. N a verdade, a utilizao do m t odo histrico-dogmtico

    prossegue, assinalando o valor da histria para explicar o esprito da legislao ,

    interpretando-a c o m o fato da vida e da sociedade n u m a extensa sucesso de

    manifestaes do pensa mento h um an o.

    12.

    Alberto Venncio

    Filho,Das

    Arcadas

    aoBacharelismo,S o Paulo, Ed.Perspectiva,1982, p. 3 2.

    13.

    Augusto Victorino Alves Sacramento

    Blake,

    Dicionrio Bibliogrfico

    Brasileiro,Rio de Janeiro,

    1883, 3

    o

    v.,p. 396 e 4

    o

    v.,p. 152,

    referindo-se

    aos

    mestres

    citados;J.A.AlmeidaNogueira,

    Academia

    de

    SoPaulo

    Tradiese

    Reminiscncias,So

    Paulo,

    1900,

    sextasrie,

    6

    o

    v.,

    p.

    73.

    14.

    Alfredo

    Buzaid,

    prefcio

    obraOrigem

    e

    Introduo

    da

    Apelao

    no

    Direito

    Lusitano,

    de

    Luiz

    Carlosde Azev edo, So Paulo, FI EO , 1976.

  • 7/25/2019 A Importncia Do Estudo Da Histria Do Direito

    11/19

  • 7/25/2019 A Importncia Do Estudo Da Histria Do Direito

    12/19

    42

    Luiz Carlos

    de

    Azevedo

    Faculdade de Direito de So Paulo,do ano de 1896 (v. IV), traz o discurso

    inaugural por ele proferido, no qual o ilustre mestre ressalta o valor e o significado

    da Histria do Direito, quando nos desvenda a ao benfica e incessante desse

    poderoso fator de civilizao, que acompanha o h o m e m na sua marcha progressiva

    para o ideal de perfeio.

    17

    Sobrava-lhe o intuito de elaborar compndio a respeito da matria,

    tanto que assim o declara na m esm a orao, ao acentuar que cadeira da Histria do

    Direito Nacional, da qual fora o primeiro catedrtico, adicionava-se o ensino da

    Histria do Direito, antes anexo Filosofia do Direito. D e tal

    sorte,

    a duplicao da

    responsabilidade animava-o ao projeto, inviabilizado por sbito falecimento;

    substituiu-o o professor Joo Pedro da Veiga Filho, nomeado por Decreto de 12 de

    maio de 1897.

    Assim, de 1891 at 1901, quando sobrevm nova reforma no ensino

    do Direito (Decreto n. 3.903, de 12 de janeiro de 1901) suprimindo a cadeira, foi ela

    ensinada, nesta Faculdade, por dois notveis educadores e juristas.

    D e seu retorno por mais de u m a vez se cogitou: Aurelino Leal anota

    e m livro publicado e m 1907, sobreA Reforma do Ensino do Direito no Brasil,que

    existia projeto na Cmara visando a sua incluso no programa; no ensejo, o autor

    oferecia u m substitutivo, insistindo pelo Direito Romano, no I

    o

    ano, e pela Histria

    do Direito Nacional, no

    2

    o

    ;

    e dizia que

    eliminar

    dos programas das Faculdades de

    Direito os estudos

    histricos

    desconhecer a atual compreenso pedaggica que

    manda remontar s origens, para que a assimilao seja mais completa e mais

    slida, pois, a cultura''

    Dcadas mais tarde, o Primeiro Seminrio de Ensino Jurdico,

    realizado em1967,sob o patrocnio do Instituto dos Advogados Brasileiros, ao tratar

    do currculo mnimo do curso de Direito, ampliava aquele estabelecido em 1962,

    pelo Conselho Federal de Educao (Parecer n. 215, Documenta n. 10) para incluir,

    entre outras

    disciplinas,

    a Histria do Direito.

    Alis,

    esta j vinha sendo lecionada em inmeras Faculdades de

    Direito dopas:aHistria do Direito, especialmente do Direito

    Brasileiro,

    do

    professor Haroldo Vallado, que contm, no apndice, o programa respectivo,

    adotado no Centro de Cincias Sociais da Pontifcia Universidade Catlica e na

    17.

    RevistadaFaculdadedeDireitode SoPaulo,v. IV,1896.

    18.Alberto VenncioFilho,ob.cit.,p.240.

  • 7/25/2019 A Importncia Do Estudo Da Histria Do Direito

    13/19

    Histria do Direito, Cincia e Disciplina

    43

    Universidade

    Federal,

    am ba s d o Ri o de Janeiro (1962-72) o mel hor comp rov ante

    de sua incluso e difuso pelos cursos jurdicos brasileiros.

    19

    N a Faculdade de Direito da Universidade de S o Paulo, depois de

    reaberto o curso de doutorado, o professor W al d e ma r Ferreira desenvolveu, e m

    curso regular, as suas prelees sobre a Histria do Direito Nacional, as quais iriam

    compor, a seguir, a sua clssica obra,

    Histria

    do

    Direito Brasileiro,

    publicada a

    partir de 1951 .

    A n o s mais tarde, extinto o curso de doutorado e criado o d e ps-

    graduao, nos nveis de mestrado e doutorado, os estudos histricos continuaram a

    co mp or o rol das disciplinas ofertadas aos interessados, distribudas na Histria d o

    Direito e na Histria do Processo R o m a n o , Cannico e Lusitano, sob a regncia,

    respectivamente, dos professores Alexandre Augusto de Castro Corra e M o ac y r

    L o b o da Costa.

    N o curso de graduao, qu ando das modificaes introduzidas na

    estrutura curricular, criaram-se, e m 1990, as disciplinas Histria d o Direito e do

    Pen sam ent o Jurdico I e II ( D C V 328 , c o m trs crditos e D C V 329, c o m dois

    crditos) a serem ministradas, respectivamente, no 5

    o

    e 6

    o

    semestres (sesso de 3 0 de

    ma io de 1989 , da C om is s o d e Grad uao, presidida pelo professor Ant nio

    Junqueira de A ze ve do e ofcio datado de 4 de julho desse m e s m o ano, endereado

    pelo ento Diretor da Faculdade, professor D a l m o de A br euDallari, Secretaria d a

    Universidade de S o Paulo of.ATC/155/FD/04/07/1989).

    Fo ram designados c o m o responsveis pela regncia das disciplinas os

    professores Antnio Junqueira de Az ev edo e Cludio D e Cicco, passando o

    pr og ram a a fazer parte da referida estrutura curricular; e na seqncia, tendo e m

    vista no va resoluo da C om is s o d e Gra dua o, para atender ao mel hor

    desenvolvimento d ocurso,as disciplinas mencionadas passaram a ser ministradas no

    3

    o

    e 4

    o

    semestres (segundo an o do ciclo institucional) c o m igual carga horria e

    atribuio de

    crditos,

    delas se incum bindo os professores Lui z Carlos de A ze ve do ,

    Igncio Maria Poveda Velasco e Jos Reinaldo de Lima

    Lopes.

    Hoje , para o

    Dep art ame nto de DireitoCivil,a disciplina denomina-se Histria do Direito

    O contedo do p rog ram a segue o m e s m o teor, a par das naturais

    alteraes introduzidas pelos atuais mestres das

    disciplinas,

    os quais tm procurado

    19.

    Haroldo Vallado,Histria do Direito, especialmente do Direito Brasileiro,Rio de Janeiro,

    1972.

  • 7/25/2019 A Importncia Do Estudo Da Histria Do Direito

    14/19

    44

    Luiz Carlos de Azevedo

    enfatizar, alm do embasamento histrico-dogmtico que aquele possui, u m sentido

    particularmente humanstico nas prelees, como elemento imprescindvel de

    formao do estudante de Direito, seguindo, alis, neste passo, o m e sm o critrio

    adotado pelos professores que os antecederam; alm disto, tem sido desenvolvido, de

    forma aprofundada, o ensino de temas de expressiva importncia na formao do

    aluno, como faz exemplo o estudo do Direito C o m u m e da sua introduo no Direito

    Lusitano ao tempo da criao das Universidades Medievais, ressaltando a influncia

    que aquele teve na elaborao das Ordenaes do Reino; procura-se, assim, valorizar

    a nossa tradio jurdica eo embasamento romano-cannico no qual esta se assenta

    para que os estudantes possam se familiarizar com os fundamentos histricos do

    Direito que iro futuramente exercitar na vida profissional; no se descura,

    finalmente, do ideal tico e moral que h de prevalecer na conscincia daquele que

    se dedica a todos os ramos profissionais que o Direito proporciona. E h um a

    ateno especial para a Histria do Direito Brasileiro, desenvolvida de modo mais

    especfico na ltima parte do programa.

    Vale acrescentar que a receptividade destes estudos tem sido

    extremamente significativa, circunstncia que se denota tanto nas aulas tericas

    quanto no desenvolvimento de seminrios e atividades extracurriculares.

    Acrescente-se, ainda, no mbito nacional, que a permanncia da

    disciplina Histria do Direito no currculo que lhe corresponde tem sido constante

    preocupao daqueles incumbidos de diagnosticar e oferecer perspectivas c

    propostas para o ensino jurdico: a Comisso da Ordem dos Advogados, e m 1991,ao

    traar diretrizes a esse respeito, disps que o currculo deve ter composio

    tridimensional integrada, interligando disciplinas de formao geral, disciplinas

    profissionalizantes e atividades prticas, sendo que as primeiras tm por finalidade

    desenvolver a formao fundamental do aluno, capacitando-o ao raciocnio jurdico,

    interdisciplinaridade, reflexo crtica, s transformaes sociais e jurdicas,

    incluindo-se a, entre outras, a Sociologia, Filosofia, Histria do Direito,

    Hermenutica, tica e as teorias gerais abrangentes dos vrios ramos do Direito

    Privado e Pblico.

    Dois anos mais tarde, participantes do Seminrio Nacional dos Cursos

    Jurdicos, realizado e m Braslia, no tema relativo elevao da qualidade e

    avaliao, concluram que era necessrio proporcionar ao acadmico

    embasamento humanstico, com nfase nas disciplinas como Filosofia Geral,

    Filosofia Jurdica, Sociologia Jurdica e outras matrias fundamentais e

  • 7/25/2019 A Importncia Do Estudo Da Histria Do Direito

    15/19

    HistriadoDireito, CinciaeDisciplina

    45

    interdisciplinares, a exemplo da Sociologia Geral, Teoria Geral do Direito,

    Hermenutica, Economia, Metodologia Cientfica,

    Histria

    do Direito, Portugus e

    Linguagem Jurdica, Fundamentos da tica Geral e Profissional

    Por ltimo, a Portaria n. 1.886, de 30 de dezembro de 1994, ao fixar

    as diretrizes curriculares e o contedo mnimo do curso jurdico, embora no-

    mencione expressamente a disciplina Histria do Direito, a esta acaba se reportando,

    de m o d o genrico, quando dispe no pargrafo nico do art. 6

    o

    que as demais

    matrias e novos direitos (alm daqueles especificados nos itens I e II) sero

    includos nas disciplinas e m que se desdobrar o currculo pleno de cada curso, de

    acordo com as suas peculiaridades e com observncia da interdisciplinaridade.

    C o m o j se fez meno, nas Faculdades de Direito brasileiras, o ensino

    de Histria do Direito no tem sido descurado, fazendo parte do currculo de

    inmeros estabelecimentos de ensino superior, seja como disciplina autnoma, seja

    como integrante das matriasbsicas,lecionadas nos primeiros anos do curso.

    6. O ensino da Histria do Direito no exterior.

    No exterior, em especial naqueles pases que adotam o denominado

    sistema continental (famlia romano-germnica) e que encontra suas razes no

    Direito C o m u m , romano-cannico, a disciplina lecionada obrigatoriamente, na

    grande maioria das Faculdades de Direito.

    N a ustria, suas Universidades (Viena,Graz,Innsbruck, Salzburg,

    Linz) a incluem nos cursos de Direito, compondo a primeira seo, ou seja,

    contemplando-a como u m a das matrias bsicas fundamentais, ao lado da Introduo

    ao Direito, Direito Romano, Sociologia.

    N a Blgica, a Faculdade de Direito da Universidade Livre de Bruxelas

    traz no primeiro ano de graduao a Histria da Blgica, a Histria do Direito e o

    Direito Romano; a Faculdade de Direito da tradicional Universidade Catlica de

    Louvain, tambm oferece em seu currculo a referida disciplina.

    N a Frana, a Histria do Direito ou a Histria das Instituies,

    lecionada praticamente e m todas as Faculdades de Direito, u m a vez que se trata de

    matria fundamental do primeiro ciclo; assim, por exemplo, na Paris II (Universit

    Panthon, onde funciona, igualmente, u m Centro de Estudos de Histria do

    Direito),

    e m Dijon (Universit JeanMoulin),e m Nancy, Bordeaux, etc.

  • 7/25/2019 A Importncia Do Estudo Da Histria Do Direito

    16/19

    46

    Luiz CarlosdeAzevedo

    Na Alemanha,

    os

    cursos

    de

    Direito incluem, entre

    as

    matrias

    compulsrias,aTeoria GeraldoDireito,aqual se desdobrae mFilosofiadoDireito,

    Histria Legal

    e

    Constitucional

    e

    Histria do Direito R o m a n o .

    N a Itlia,

    o

    ensino

    da

    Histria

    do

    Direito,

    a

    qual adota vrias

    denominaeseabrangncias (HistriadoDireito Italiano, HistriadaCodificao,

    HistriadoDireito Italiano M o derno,

    etc),

    obrigatrioe mtodas as Faculdadesde

    Direito.

    N a Espanha,

    a

    Faculdade

    de

    Direito

    da

    Universidade C ompl uten se

    de

    Madri apresenta

    u m

    programa detalhado

    da

    matria

    que se

    desenvolve desde

    o

    conceito da disciplina, passando pelos direitos primitivos, pela Ro maniza o, Direito

    Visigtico

    e

    Medieval, Direito

    dos

    vrios reinos

    que

    iro constituir

    a

    nao

    espanhola, at chegaraoDireitonaatualidade.E moutras universidades,estudada

    c o mottulodeHistriadaLegislao, EstruturaeEvoluodoDireito Espanhol,

    etc;m a s est sempr e presente no currculo de todas as Faculdades de Direito.

    E m outros paseseuropeus,oestudo da HistriadoDireitopor regra

    obrigatrio, situando-se logonosprimeiros anosdociclo bsico:naPolnia,a

    Universidade

    de

    Cracvia,

    e m seu

    curso

    de

    Direito, ministra Histria

    do

    Direito

    Comparada

    e a

    Histria

    do

    Direito

    e das

    Doutrinas Polticas;

    com o

    n o m e

    de

    Histria GeraldoDireito, est no currculo da Faculdade de Direito da Universidade

    de Gdansk;naUniversidadedeVarsvia,com ottulodeHistriadoDireito

    PolonseHistria GeraldoEstadoe doDireito.A HistriadoEstadoe doDireito

    Blgaroestudadanocurso respectivodaUniversidadedeSofia, Bulgria;na

    Crocia,estudadae m Rijeka (Histria GeraldoEstadoe doDireito),Split

    (Histria M un di al

    e

    Histria Nacional

    doDireito),e m

    Zagreb;

    na

    Universidade

    Carlos,

    da Repblica Tch ec a (HistriadoDireito

    Tcheco,

    Eslovaco, na Euro pa e nos

    Estados Un ido s

    da

    Amrica);

    na

    Finlndia, Hungria, Sucia, Sua, Turquia,

    na

    secular Universidade

    de

    Oxford,

    no

    Rei no Un ido; na Eslovquia, Litunia, Holan da,

    Noruega...

    0

    20.

    Guide To Legal Studies

    In

    Europe, Bruxelas, Law Books

    in

    Europe,

    1995, pp. 15, 65, 69, 83,

    87,

    99, 101, 113, 117, 121, 135, 153, 167, 173, 182, 199, 211, 213, 229, 237, 255, 597, 599, 601, 637,

    663^

    671, 689, 721, 725, 737, 751, 755, 759, 761, 774, 807, 819, 825, 891, 895, 903, 925, 965, 1127, etc.

  • 7/25/2019 A Importncia Do Estudo Da Histria Do Direito

    17/19

    Histria do Direito, Cincia e Disciplina

    47

    7. A consolidao da Histria do Direito c o m o disciplina obrigatria do currculo do

    curso de graduao da Faculdade de Direito da Universidade de S o Paulo.

    Na Faculdade de Direito da Universidade de So Paulo, nestes oito

    anos que se escoaram, a Histria do Direito prossegue fazendo parte dos ciclos

    bsico e institucional, na condio de disciplina obrigatria, sendo regularmente

    ministrada n o curso de graduao, terceiro e quarto semestres, sem interrupo de

    continuidade.

    Por outro lado, periodicamente, tm sido abertos concursos para a

    contratao de docente, na categoria de doutor, junto ao Departamento de Direito

    Civil, reas de Direito R o m a n o e de Histria do Direito; e concursos para a livre-

    docncia do D epar tamento de Direito

    Civil,

    rea de Histria do Direito.

    E m tais condies, sua posio c o m o disciplina integrante do curso

    jurdico j se encontra consolidada: na verdade, desde1772,qua ndo da reforma dos

    Estatutos da Universidade de Coimbra e a conseqente instituio das lies de

    Histria do Direito Civil, R o m a n o e Portugus; desde 182 7, qu ando da criao dos

    cursos jurdicos no Brasil, ao participar, naturalmente, do pr og ra ma das disciplinas

    que c o m p u n h a m o currculo; de m o d o mai s especfico, desde 1891, qua ndo da

    Reforma do Ensin o Jurdico e a adoo da cadeira de Histria do Direito

    Nacional;

    a

    partir de 1895, c o m o n o m e de Histria do Direito especialmente do Direito

    Nacional; e,inalmente,esde 199 0, quand o passou a ser no vame nt e lecionada no

    curso de graduao.

    N o se trata de novidade, n e m po de constituir surpresa, a atribuio de

    cadeira referida disciplina, a m e n o s se desconhea a realidade dos fatos

    secularmente apontados e a prpria realidade presente; constitui a conseqncia

    lgica, resultante destas duas realidades incontornveis.

  • 7/25/2019 A Importncia Do Estudo Da Histria Do Direito

    18/19

    48

    Luiz Carlos de Azevedo

    8. Concluso.

    Para concluir, vale transcrever, aqui, quanto disseram, como o

    professor Waldemar Ferreira, ao ressaltar a importncia da Histria do Direito, como

    cincia e disciplina: nenhum

    jurista

    pode

    dispensar

    o

    contingente

    do passado afim

    de bem compreender as

    instituies jurdicas

    dos dias atuais. Ningum capaz de

    dar um passo vanguarda, adiantando um, sem deixar o outro p na retaguarda.

    Diferentemente no se realizam caminhadas

    2I

    D o m es m o modo a oportuna lio de Henri de

    Page,

    transcrita por

    John Gilissen na suaIntroduo Histrica do Direito,cuja traduo portuguesa tem

    se revelado to-til aos estudantes:

    A histria do direito muitas vezes tratada com um condescendente

    desdm, por

    aqueles

    que entendem

    ocupar-se

    apenas do

    direito

    positivo. Os

    juristas

    que se

    interessam

    por

    ela,

    quase sempre

    custa

    de

    investigaes

    muito longas e

    muito laboriosas, so freqentemente acusados de pedantismo... Uma apreciao

    deste gnero no beneficia aqueles que a formulam. Quanto mais avanamos no

    direitocivil,mais constatamos que a Histria, muito mais do que a Lgica ou a

    Teoria,

    a nica capaz de explicar o que as nossas instituies so as que e porque

    , _ i 22

    e que sao as que existem

    So Paulo, dezembro de 1997.

    Bibliografia.

    GALLO, Alfonso Garcia.Manual de Historia dei Derecho Espanol,Madri, 1975.

    C L A V E R O , Bartolom.Institucon Histrica dei Derecho,

    Madri,

    Marcial

    Pons,

    1992.

    B A R C H E T , Bruno Aguilera.Historia y Derecho,Barcelona, 1994.

    21.

    Waldemar Martins

    Ferreira,ob .cit.,p.11.

    22.

    Henri

    de

    Page,

    Trait

    de

    Droit Civil

    Belge,Bruxelas,1942,

    p.

    806,

    apud John

    Gilissen,

    Introduo Histrica

    ao

    Direito,

    traduo

    de

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