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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA “LUIZ DE QUEIROZ” DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA RURAL LCE – 5708 Processos de Transferência no Sistema Planta-Atmosfera Professor: Luiz Roberto Angelocci A importância do conhecimento do potencial da água no sistema solo-planta-atmosfera (É o potencial da água um bom indicador do estado hídrico da planta?) Ralini Ferreira de Mélo Tales Miler Soares Piracicaba – SP Novembro de 2004

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA “LUIZ DE QUEIROZ”

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA RURAL

LCE – 5708 Processos de Transferência no Sistema Planta-Atmosfera

Professor: Luiz Roberto Angelocci

A importância do conhecimento do potencial

da água no sistema solo-planta-atmosfera

(É o potencial da água um bom indicador do estado hídrico da planta?)

Ralini Ferreira de Mélo

Tales Miler Soares

Piracicaba – SP

Novembro de 2004

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INTRODUÇÃO

A disponibilidade de água e de energia radiante, junto com a temperatura,

são importantes fatores físicos do ambiente a governar a distribuição das espécies

vegetais na Terra. Na agricultura, a disponibilidade hídrica é um dos grandes

fatores que condicionam a produtividade e o sucesso de uma cultura. A

importância ecológica da água está associada ao fato de que todos os processos

fisiológicos das plantas são, direta ou indiretamente, influenciados pelo

suprimento hídrico (Kramer & Boyer, 1995). Sua importância fisiológica decorre

das funções que ela desempenha na planta, como principal constituinte dos

tecidos; como excelente solvente para nutrientes; como imprescindível reagente

em processos metabólicos; como mantenedora da turgescência e moderadora

térmica dos tecidos (Angelocci, 2002).

Conforme Kramer (1988), as várias razões para se avaliar o status da água

na planta podem ser sumarizadas em quatro categorias que são de interesse de

diferentes grupos de pessoas que requerem distintos tipos de informações:

1 - Determinar quando irrigar. De interesse dos agricultores.

2 - Selecionar populações de plantas. De interesse dos pesquisadores em

melhoramento.

3 - Estudar efeitos do estresse hídrico sobre o desenvolvimento e a

produtividade. De interesse dos agrônomos.

4 - Estudar efeitos do estresse hídrico sobre processos fisiológicos e

bioquímicos. De interesse dos fisiologistas e ecologistas.

O homem tem tentado de alguma forma estimar o status da água das plantas

desde que descobriu que poderia aumentar as produtividades com a irrigação. As

mais antigas observações científicas relatadas sobre o status da água nas plantas

foram provavelmente aquelas de Stephen Hales (1727). Hales mediu a seiva

ligando tubulações de vidro às extremidades cortadas de ramos e raízes, a partir

dos quais obteve observações suficientes para deduzir uma abundância de

informações sobre o fluxo da água nas plantas (Baker, 2003). Nos últimos 30

anos, muitas ferramentas têm sido desenvolvidas para medir o estado de

3

equilíbrio termodinâmico da água nos tecidos vegetais (Boyer, 1995), mas estas

não têm sido amplamente utilizadas em todos os campos com sentido diagnóstico

ou como base para se tomar decisões de manejo. O meio ambiente natural em

que operam as plantas é simplesmente não conducente às medidas de equilíbrio.

Insolação, temperatura, umidade atmosférica e velocidade do vento podem afetar

o status da água na planta ou as medidas do potencial da água, e são todos

inerentemente instáveis (Baker, 2003).

Mesmo se as medidas de potencial da água pudessem ser feitas de maneira

precisa e rotineira no campo, os valores dos dados seriam incertos. Como

mostrado por Sinclair & Ludlow (1985), muitos dos processos fisiológicos que

ocorrem dentro da planta, embora dependentes da água, não são correlacionados

com o potencial da água. Passioura (1988) discorreu sobre isto, notando o falso

conforto com que os fisiologistas têm abraçado o conceito aparentemente

unificador do potencial da água. Como notado por ele, uma das principais

atrações do potencial da água, isto é aquela que é a força motriz para o fluxo da

água, nem mesmo se aplica em plantas, onde o efeito de solutos e as

propriedades das membranas complicam o assunto. O que se mede então ?

Provavelmente não há uma resposta simples. Os fisiologistas estudando o

mecanismo de tolerância à seca precisam de informações diferentes das que

precisam os produtores que tentam otimizar a produção das culturas irrigadas.

Conseqüentemente, se reunidos os desejos, o requisitado pode ser uma série mais

ampla de ferramentas de medida (Baker, 2003).

ESTRESSE HÍDRICO

Em condições naturais e agricultáveis, as plantas estão freqüentemente

expostas ao estresse ambiental, seja por fatores bióticos ou abióticos. Alguns

fatores dessa natureza, como a temperatura do ar, por exemplo, podem se tornar

estressantes em poucos minutos; enquanto outros, como o conteúdo de água no

solo, podem levar dias ou até semanas e, ainda, fatores tais como as deficiências

minerais no solo necessitam de meses para se manifestar. Estima-se que, devido

ao estresse resultante de condições climáticas e edáficas (fatores abióticos), a

4

produtividade de culturas agrícolas nos EUA constitui apenas 22% da

produtividade potencial genética (Boyer, 1982). Em sua publicação, Taiz &

Zeiger (2004) dedicam um capítulo ao estudo da fisiologia do estresse,

destacando o estresse hídrico, dentre outros como os provocados pelo calor e

choque térmico, pelo resfriamento e congelamento, pela salinidade e pela

deficiência de oxigênio e nutrientes.

Além disso, o estresse desempenha um importante papel na determinação

de como o solo e o clima limitam a distribuição de espécies vegetais. Assim, a

compreensão dos processos fisiológicos subjacentes aos danos provocados por

estresse e dos mecanismos de adaptação e aclimatação de plantas a estresses

ambientais é de grande importância para a agricultura e o meio-ambiente. A

produtividade de plantas, limitada pela água, depende da quantidade disponível

deste recurso e da eficiência do seu uso pelo organismo. Uma planta capaz de

obter mais água porque tem maior eficiência no seu uso resistirá melhor à seca.

Algumas plantas possuem adaptação, como os tipos fotossintéticos C4 e CAM,

que lhes permitem explorar ambientes mais áridos. Além disso, as plantas

exibem mecanismos de aclimatação que são ativados em resposta ao estresse

hídrico (Taiz & Zeiger, 2004).

O déficit hídrico pode ser definido como todo conteúdo de água de um

tecido ou célula que está abaixo do conteúdo mais alto exibido no estado de

maior hidratação. Quando o déficit hídrico apresenta evolução suficientemente

lenta para permitir mudanças nos processos de desenvolvimento, o estresse

hídrico tem vários efeitos sobre o crescimento, um dos quais é a limitação da

expansão foliar. A área foliar é importante, porque em geral a fotossíntese é

proporcional a ela. No entanto, a expansão foliar rápida pode afetar

desfavoravelmente a disponibilidade de água (Taiz & Zeiger, 2004).

O estresse hídrico afeta praticamente todos os aspectos do crescimento da

parte aérea e da raiz, causando redução na expansão celular (Figura 1),

condutância estomática, fotossíntese e conseqüentemente na acumulação de

matéria seca (Hsiao, 1990). A Figura 2 mostra algumas mudanças fisiológicas

devido ao estresse hídrico.

5

Tax

a de crescim

ento

foliar

(mm

/h), G

R

Figura 1 – Dependência da expansão foliar em relação ao turgor. Indivíduos de

girassol (Helianthus annuus) foram submetidos a condições de crescimento

hídrico ou com água limitada no solo para produzir um estresse hídrico

moderado. Após re-hidratação, as plantas dos dois grupos de tratamentos foram

estressadas por falta de água, sendo as taxas de crescimento foliar (GR) e o

turgor (ψp) medidos periodicamente. A redução da extensibilidade (m) e o

aumento do limiar de turgor para crescimento (γ) limitam a capacidade de

crescimento da folha após exposição ao estresse (Matthews et al., 1984).

Os principais aspectos avaliados para análise da planta em tolerar déficit

hídrico elevado, principalmente sob baixa disponibilidade de água no solo,

referem-se à sensibilidade estomática, à troca gasosa e à capacidade de manter

alto teor de água na folha e suportar a desidratação imposta pelo ambiente

adverso. Tais aspectos resumem-se à medida da resistência oferecida pelos

estômatos a esta troca gasosa e pela análise do potencial da água na folha

(Brunini & Cardoso, 1998).

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Figura 2 - Potencial da água de plantas sob várias condições de crescimento e

sensibilidade de vários processos fisiológicos ao potencial da água (Fonte: Taiz

& Zeiger, 2004).

Medidas do potencial da água na folha têm-se apresentado como importante

instrumento para quantificação do estresse hídrico a que os vegetais são

submetidos, e ainda permite observar e determinar a resistência ao transporte de

água no sistema solo-planta (Faiz & Weatherley, 1978; Taylor & Klepper, 1978;

Brunini, 1979).

SUPRIMENTO DE ÁGUA VIA IRRIGAÇÃO

A água é fator limitante para o desenvolvimento agrícola. Tanto a falta como o

excesso afeta o crescimento, a sanidade e a produção das plantas. A irrigação é

uma prática agrícola cujo propósito é manter adequado o estado hídrico da

planta, para assegurar o desenvolvimento, a produtividade e a rentabilidade

econômica. O objetivo da irrigação é maximizar a produção agrícola,

racionalizando o uso da mão-de-obra, energia, água e fertilizantes, e evitar a

ocorrência de problemas fitossanitários relacionados às aplicações excessivas ou

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deficiências de água. Para este objetivo, deve-se adotar um manejo correto.

Portanto, para promover o uso racional da água, há necessidade do conhecimento

das variáveis de clima, solo e planta e de alguns aspectos relacionados ao

transporte da água no sistema solo-planta-atmosfera. Dentro de um contexto

amplo, o manejo da irrigação consiste na determinação do momento, da

quantidade e de como aplicar a água, levando-se em consideração os demais

aspectos do sistema produtivo, como a adubação, o controle fitossanitário, as

informações climatológicas e econômicas, e os tratos culturais. O manejo

racional da irrigação pode ser realizado, via solo (tensiômetros, sensores

eletrométricos e por dissipação térmica, sonda de Nêutrons, sonda enviroscan,

reflectometria no domínio do tempo – TDR, tomografia computadorizada,

atenuação de raios-gama, etc.), via clima (determinando-se a evapotranspiração

da cultura de interesse ou estimando-a mediante a evapotranspiração de

referência), via planta (avaliação visual ou outros métodos) ou pela associação

destes (Pires et al., 2001).

Cabe ressaltar que os métodos de avaliação do estado hídrico das plantas

são promissores, entretanto, devido à complexidade envolvida e também à falta

de informações mais específicas, eles ainda não têm sido utilizados em grande

escala. Se por um lado parece ser óbvio que o monitoramento da água

diretamente na planta seja a forma mais correta de se manejar e planejar

irrigações, por outro lado, a variabilidade encontrada entre plantas em função das

condições ambientais e a dificuldade em integrá-los tornam o seu uso pouco

prático para tal fim (Pires et al., 2001).

A avaliação visual é uma forma muito subjetiva para verificar o estresse

hídrico nas plantas, pois a sintomatologia é muito dependente da espécie vegetal.

Na maior parte dos casos, quando se visualiza o déficit hídrico os danos já estão

ocorrendo. A sintomatologia geral das plantas sob deficiência hídrica é a perda

de turgescência, mudança na posição e coloração das folhas, passando para um

verde azulado e redução de crescimento de suas partes mais expostas, aumento

da temperatura das folhas pelo fechamento dos estômatos, entre outros. A médio

e longo prazo, ocorrem morte das raízes superficiais, amarelecimento e

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senescência das folhas inferiores. As plantas crescem menos, ficando com

estatura e enfolhamento menores em relação às áreas irrigadas. As gramíneas

apresentam enrolamento típico de folhas no sentido dos bordos para a nervura

central. Já as leguminosas apresentam movimentos de folíolos, num fechamento

típico para redução da carga de radiação recebida pelo sol (Pires et al., 2001)

(Figura 3).

Figura 3 – Aspecto característico de planta sob estresse hídrico.

Além da sintomatologia, o manejo das irrigações via planta pode ser

realizado por meio de avaliações do estado hídrico das plantas. Existem inúmeros

métodos para esse fim, que avaliam: temperatura foliar, resistência estomática,

grau de turgescência das plantas, diâmetro do caule, fluxo da seiva e, dentre

outros, potencial de água nas folhas.

Conforme Kramer (1988), parece que o status da água na planta pode ser melhor

estudado tanto em termos de conteúdo de água ou turgor celular quanto em

termos da energia livre ou potencial da água, sendo algumas características

desejáveis de um método para mensuração do status da água:

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i) uma correlação razoavelmente boa entre o grau do estresse hídrico

medido e as taxas de importantes processos fisiológicos;

ii) um dado grau de estresse hídrico como medido pelo método deveria

ter similar efeito fisiológico em uma ampla gama de materiais

vegetais;

iii) as unidades usadas expressam o estresse hídrico e o método usado

para medi-lo deveria ser aplicável a uma ampla faixa de materiais

vegetais e ao solo;

iv) o método deveria ser tão simples e barato quanto possível;

v) deveria requerer uma quantidade mínima de tecidos vegetais para

cada medida, ou seja, deveria ser relativamente não destrutivo.

Infelizmente, ressalva Kramer (1988), nenhum método de medida do status

da água na planta encontra a maioria destas características.

O status hídrico das plantas usualmente é descrito em termos de potencial

da água, porque ele é fisicamente definido e permite que experimentos sejam

facilmente repetidos. Também, a água move-se através do sistema solo-planta,

por causa do potencial da água ou por forças incluídas no potencial da água.

Sinclair & Ludlow (1985) argumentam que o conteúdo relativo da água deveria

ser usado ao invés do potencial, pois ele é melhor correlacionado com processos

fisiológicos. As diminuições do conteúdo da água na célula podem concentrar

constituintes celulares e provavelmente causa mudanças na atividade enzimática.

Porém, o conteúdo de água freqüentemente falha como um indicador do status da

água na planta. O conteúdo relativo de água não detecta estas diferenças e,

enquanto, o conteúdo de água é importante, o potencial da água é preferível

(Kramer & Boyer, 1995).

Têm-se encontrado uma boa relação entre a evapotranspiração relativa

(razão da evapotranspiração real e a evapotranspiração máxima) de culturas e o

potencial da água foliar no pré-amanhecer, que parece ser dependente das

características do solo e estádio fenológico, portanto, o tratamento

termodinâmico é interessante para o manejo da irrigação (Itier et al., 1992).

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São inúmeros os exemplos de averiguação do status da água na planta para

fins de manejo da agricultura irrigada. As Figuras 4 e 5 exemplificam alguns

estudos.

Figura 4 – Padrões sazonais do potencial da água foliar no pré-amanhecer e taxa

de assimilação líquida de videira medida ao meio-dia em 1992 (Fonte: Lopes,

1999).

Solo

Figura 5 – Potencial da água médio no solo e na folha de 5 genótipos de feijão,

cultivados nos meses de setembro a novembro de 1992, em casa de vegetação

(Fonte: Pimentel & Perez, 2000).

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POTENCIAL DA ÁGUA NA PLANTA

As propriedades das soluções são descritas pelo conceito termodinâmico do

potencial, como primeiro exposto por J. Willard Gibbs (1875-1876) (Kramer &

Boyer, 1995). Todas as coisas vivas, incluindo as plantas, requerem uma adição

contínua de energia livre para aumentarem e repararem suas estruturas altamente

organizadas, assim como, para crescerem e se reproduzirem. Processos como

reações bioquímicas, acúmulos de solutos e transporte a longa distância são todos

movidos por um acréscimo de energia livre na planta. O potencial químico da

água é uma expressão quantitativa da energia livre a ela associada. Em

termodinâmica, energia livre representa potencial para realizar trabalho. Observa-

se que o potencial químico é uma grandeza relativa: ela é expressa como a

diferença entre o potencial de uma substância em um determinado estado e o

potencial químico da mesma substância em um estado padrão (Angelocci, 2002;

Libardi, 2004; Taiz & Zeiger, 2004).

Os principais fatores que influenciam o potencial da água em plantas são

concentração, pressão e gravidade. O potencial da água é simbolizado por ψw e o

potencial da água de soluções pode ser divido em componentes individuais,

sendo normalmente escrito pelos seguintes somatórios (Taiz & Zeiger, 2004):

ψw=ψs+ψp+ψg (1)

Os termos ψs, ψp, ψg expressam os efeitos de solutos, pressão e gravidade,

respectivamente, sobre a energia livre da água. O estado referencial utilizado

para definir potencial da água é a água pura sob pressão e temperatura ambientes.

O termo ψs, chamado de potencial de solutos ou potencial osmótico, representa o

efeito de solutos dissolvidos no potencial da água. Os solutos reduzem a energia

livre da água por diluição da mesma. Esse é primariamente um efeito de entropia;

ou seja, a mistura de solutos e água aumenta a desordem do sistema e, portanto,

reduz a energia livre. Isto significa que o potencial osmótico é independente da

natureza específica do soluto (Taiz & Zeiger, 2004). Para soluções diluídas de

12

substâncias indissociáveis o potencial osmótico pode ser estimado pela equação

de van´t Hoff:

ψσ= -RTCs (2)

onde R é a constante dos gases (8,32 J mol-1 K-1), T é a temperatura absoluta (em

K) e Cs é a concentração de solutos da solução, expressa como osmolalidade

(moles de solutos totais dissolvidos por litro de água) (mol L-1). O sinal negativo

indica que os solutos dissolvidos reduzem o potencial da água da solução em

relação ao estado de referência da água pura.

O termo ψp é a pressão hidrostática da solução. Pressões positivas

aumentam o potencial da água; pressões negativas reduzem-no. Às vezes, ψp é

chamado de potencial de pressão. A pressão hidrostática positiva dentro de

células é aquela que se refere à pressão de turgor. O valor de ψp também pode

ser negativo, tal como ocorre no xilema e nas paredes entre as células, onde uma

tensão ou pressão hidrostática negativa pode se desenvolver. Pressões negativas

fora da célula são muito importantes para o movimento de água de longas

distâncias na planta (Taiz & Zeiger, 2004).

A gravidade faz com que a água se mova para baixo, a não ser que à força

da gravidade se oponha uma força igual e oposta. O termo ψg depende da altura

da água acima dela no estado de referência, da densidade da água e da aceleração

da gravidade. Quando se lida com o transporte de água em nível celular, o

componente gravitacional é geralmente omitido porque ele é desprezível

comparado ao potencial osmótico e a pressão hidrostática (Taiz & Zeiger, 2004).

Assim, nestes casos a equação 3 pode ser simplificada como segue:

ψw=ψs+ψp (3)

Em discussões sobre solos secos, sementes e paredes celulares é comum

encontrar-se referência a um outro componente do potencial ψw, o potencial

mátrico. O conceito de potencial da água tem dois usos principais: primeiro, o

13

potencial da água governa o transporte através de membranas celulares,

conforme foi descrito. Segundo, o potencial da água é comumente utilizado como

uma medida do status hídrico de uma planta. Devido à perda de água

transpiratória para a atmosfera, as plantas raramente estão com plena hidratação.

Elas sofrem déficits hídricos que levam à inibição do crescimento vegetal e da

fotossíntese, assim como a outros efeitos prejudiciais. A Figura 2 lista algumas

das mudanças fisiológica as quais as plantas se expõem à medida que secam

(Taiz & Zeiger, 2004).

A Figura 2 também mostra valores representativos de ψw em vários

estágios de estresse hídrico. Em folhas de plantas bem aguadas, ψw varia de -0,2

até cerca de -1,0 MPa, mas as folhas de plantas em climas áridos podem ter

valores muito mais baixos, talvez de -2 a -5 MPa sob condições extremas.

Devido ao transporte de água ser um processo passivo, as plantas podem

absorver água somente quando ψw das plantas for menor que ψw do solo. À

medida que o solo torna-se mais seco, a planta, similarmente, torna-se menos

hidratada (atinge um menor ψw). Se esse não fosse o caso, o solo começaria a

extrair água da planta (Taiz & Zeiger, 2004).

O potencial total da água e seus principais componentes podem ser obtidos

por vários instrumentos e em diferentes partes da planta. No geral, a utilização do

potencial total é suficiente para uso em irrigação. Entretanto, há casos em que o

conhecimento do potencial de pressão é fundamental, visto ser este melhor

relacionado com processos biológicos, como o crescimento e expansão celular

(Pires et al., 2001). A medida de potencial da água como um indicador das

condições hídricas das plantas tem sido feita preferencialmente nas folhas,

embora nos últimos anos o desenvolvimento de técnicas apropriadas tenha

causado aumento do interesse de medidas na raiz e no caule (Angelocci, 1994).

O potencial total da água na folha é diretamente relacionado ao potencial da

água no solo na região das raízes e aos elementos meteorológicos que afetam o

processo de transpiração e abertura dos estômatos. Para cada cultura existe uma

relação em que potenciais da água do solo ou da planta podem ser críticos, a

partir do qual há redução da produção. A Figura 6 apresenta valores de potencial

14

da água no solo e na planta, durante um ciclo de secamento do perfil de solo. Em

um período ideal sem chuvas e de ambiente estável, o potencial da água do solo

se desenvolve paulatinamente, apresentando uma diminuição contínua em seu

valor. Por outro lado, o potencial da água nas folhas apresenta uma oscilação

diária e progressiva negativamente, até início dos períodos de fechamento de

estômato ao meio dia, seguido pela recuperação no final da tarde e à noite (Pires

et al., 2001).

Figura 6 - Alterações nos potenciais da água no solo, na superfície da raiz e nas

folhas, com o transcorrer da transpiração da cultura desde o molhamento

(ψraiz=0). As mesmas condições evaporativas são consideradas a cada dia

(Slatyer, 1967).

DETERMINAÇÃO DO POTENCIAL DA ÁGUA DA PLANTA

Há uma infinidade de métodos de medida do potencial da água e de seus

componentes desenvolvidos ao longo deste século, a maioria deles para tecidos

foliares. Os primeiros métodos para determinação de potencial osmótico

utilizando células, bastante tediosos e demorados, foram substituídos pela medida

15

na seiva extraída. Os métodos para determinação do potencial total da água na

folha evoluíram a partir da década de 1940, e podem ser classificados em três

grandes grupos, de acordo com o princípio: a) de compensação na fase líquida; b)

de equilíbrio na fase de vapor; c) equilíbrio de pressão (câmara de pressão). Nos

grupos a e b foram desenvolvidos métodos com técnicas diferentes de detecção

do ponto de compensação, mas de todos eles, somente o método do corante

(compensação na fase líquida) foi bastante utilizado, embora tenha perdido hoje

sua importância, enquanto que no grupo b tem boa aceitação o método baseado

na medida de pressão de vapor do ar em equilíbrio com a amostra, pela utilização

da técnica psicrométrica ou da higrométrica na medida, o qual permite também a

determinação do potencial osmótico da seiva extraída. O método de maior

utilização atualmente é o da câmara de pressão (Angelocci, 1994).

As determinações do potencial de água na planta devem ser realizadas com

muito cuidado para se obter resultados confiáveis. As modificações introduzidas

no ambiente durante as medições podem afetar a abertura dos estômatos e

conseqüentemente o potencial da água. Deve-se escolher folhas adultas, recém

expandidas, posicionadas no topo, horizontalmente bem exposta a radiação.

Devido ao dinamismo do sistema e a grande dependência do potencial às

condições do ambiente, dois horários têm sido utilizados para as medições no

campo: antes do amanhecer (pré-amanhecer) e no horário mais quente do dia.

Medições nas primeiras horas da manha expressam a integração da água no solo

e na planta. Após o período noturno de recuperação e antes do completo nascer

do sol, a planta expressa o seu maior valor de potencial da água nas folhas

(menor estresse). Boas correlações têm sido obtidas entre o potencial medido no

pré-amanhecer e a produção. Vários trabalhos têm sido desenvolvidos no sentido

de determinar um valor crítico de potencial da água na folha no pré-amanhecer

para estabelecer o momento de irrigação. As determinações no meio dia integram

a resposta da planta à umidade do perfil de solo e, além disso, respondem às

condições ambientais. É nesse horário do dia que a planta apresenta o menor

valor do potencial da água na folha (maior estresse). Em condições de clima de

baixa nebulosidade, o horário de medição é ao redor das 14:00 h (horário local).

16

Em regiões onde as manhãs se apresentam com céu limpo e à tarde com

nebulosidade crescente, as medições devem ser antecipadas. Medições feitas fora

desses horários podem não ter significado para uso na quantificação do estresse

para fins de irrigação, mas a obtenção de curvas de valores ao longo do dia são

de extrema importância para se conhecer a dinâmica da água na planta (Pires et

al., 2001).

Para auxiliar a interpretação de resultados, Cleary & Zaerr (1992) citam os

seguintes valores de potencial da água na folha: valores até -0,80 MPa são ideais

para o crescimento; de -0,90 a -1,20 MPa o estresse limita alguns processos de

crescimento resultando em menores altura e diâmetro; de -1,30 a -2,00 MPa

ocorre o fechamento acentuado dos estômatos, redução da fotossíntese, sendo

que a maioria das culturas sofre estresse e reduz a produção; de -2,00 a -4,00

MPa forte declínio do crescimento com o agravamento do déficit, há redução no

vigor e na capacidade da planta de recuperação quando re-hidratada; de -4,00 a -

5,00 MPa há um estresse muito acentuado e de ocorrência rara em cultivos

comerciais.

O estudo das relações hídricas de células, tecidos e órgãos é fundamental

para se entender a água em equilíbrio e em movimento nos vegetais. Um aspecto

importante a se considerar no estudo é a existência de compartimentagem da

água em simplasto (espaço interno a plasmalema) e apoplasto (paredes, vasos,

lúmen dos vasos, etc.). Caso se divida a planta nos seus “compartimentos”, o

potencial total da água no simplasto (ψsimp) pode ser representado pela equação

4, mediante a qual se computam os potenciais de pressão e osmótico. No

apoplasto, há um componente de solutos e um componente devido à tensão com

que a água fica submetida. O potencial de solutos (osmótico) do apoplasto é

menos negativo do que o do simplasto, devido à maior diluição da seiva

apoplástica (Angelocci, 2002). Alguns autores como Boyer (1995), reconhecem

o componente devido à tensão como sendo um potencial mátrico do apoplasto,

que será denominado de ψm (apo). O potencial total do apoplasto ψapo pode,

então, ser representado pela equação 5.

17

ψsimp=ψp(simp)+ψπ(simp) (4)

Em que:

ψp(simp)= potencial de pressão do simplasto;

ψπ(simp)= potencial osmótico do simplasto.

ψapo=ψs(apo)+ψm(apo) (5)

Em que:

ψs(apo)= potencial de solutos do apoplasto;

ψm(apo)= potencial mátrico do apoplasto.

POTENCIAL DA ÁGUA COMO INDICADOR DO ESTRESSE HÍDRICO

Há alguma dificuldade de interpretação do significado de valores do

potencial da água da folha como um indicador de deficiência hídrica, bem como,

na adoção de valores críticos de potencial na folha, que são muito variáveis de

espécie pára espécie. Um problema adicional é que o potencial total da folha é a

soma de componentes (pressão, osmótica, matricial) e as relações entre eles,

mostradas pelo diagrama de Höfler (Figura 7), são variáveis não somente de

espécie para espécie, mas de acordo com as condições de crescimento, podendo

ocorrer modificações, por ajustamento osmótico e modificação da elasticidade da

parede celular. Principalmente para estudos fisiológicos, muitas vezes torna-se

mais interessante a determinação em conjunto do potencial total e de seus

componentes (Angelocci, 2002).

18

Figura 7 – Diagrama de Hofler-Thoday ilustrando as relações entre o potencial da

água (Ψ), potencial de turgor (Ψp), potencial osmótico (Ψπ) e CRA (Θ) quando

uma célula ou tecido perde água a partir da turgidez plena. A linha tracejada

abaixo do turgor zero representa possível turgor negativo em células rígidas.

Muito da problemática em se encontrar um método ideal para se determinar

o status da água na planta é a falta de um entendimento do mecanismo ou

transdutor pelo qual a diminuição no potencial da água ou no conteúdo de água

pode afetar processos metabólicos mediados por enzimas (Kramer, 1988). A

atividade de enzimas sintéticas e hidrolíticas, tais como a amilase usualmente é

aumentada (Jacobsen, et al., 1986), mas a atividade da enzima pode ser

aumentada ou diminuída (Bradford & Hsiao, 1982). Por exemplo, prolina se

acumula em plantas em estresse hídrico porque: a) sua síntese da glutamina é

acelerada, b) sua oxidação é inibida e c) sua conversão em proteína é retardada

(Hanson & Hitz, 1982). Não está claro como uma diminuição no potencial da

água pode ser acompanhada pela diminuição na atividade de algumas enzimas e

aumento na atividade de outras.

A seguir, apresenta-se a transcrição das críticas de Sinclair & Ludlow

(1985) na qual eles argumentam pelo uso do conteúdo relativo de água, ao invés

19

do potencial da água, para avaliar o status da água na planta. Num terceiro

momento deste tópico, serão avaliadas as argumentações posteriores às críticas

destes autores.

“As propriedades termodinâmicas da água têm sido de interesse dos

fisiologistas vegetais desde que Dixon (1914), primeiro usou a câmara de

pressão para estudar a ‘tensão osmótica’ da seiva de uma árvore. Com o

desenvolvimento do psicrômetro (Spanner, 1951) e a moderna câmara de

pressão (Scholander et al., 1965) dados têm sido reportados regularmente sobre

o potencial químico da água e seus componentes. Além da relação entre o

potencial de turgor e a acumulação de ácido abscísico (Pierce & Raschke,

1980), nenhuma única relação fundamental tem sido estabelecida relatando o

estado termodinâmico da água para o comportamento fisiológico (Ritchie, 1981;

Turner et al., 1985; van Volkenburgh & Boyer, 1985).

De tempo em tempo, dúvidas têm sido levantadas sobre quais variáveis do

estado termodinâmico conduziriam às explicações do comportamento

fisiológico. Hsiao (1973) e Oertli (1976), ambos questionam fortemente que não

parece existir qualquer transdutor para explicar mudanças tanto no potencial da

água total (ψ) quanto na pressão osmótica (π) dentro das respostas fisiológicas.

Por exemplo, no tecido vegetal sofrendo estresse severo, o potencial químico da

água é reduzido somente em um pequeno percentual abaixo daquele da água

livre. Além disso, o único efeito da pressão osmótica parece ser via

concentração local de compostos deletérios em compartimentos específicos

dentro da célula (vacúolos).

Uma justificativa freqüentemente levantada para mensuração do potencial

da água é que ela influencia o fluxo da água. De fato, porém, muito do fluxo de

água no sistema solo-planta é governado pela pressão hidrostática (P). O fluxo

de água no solo, no xilema, no floema e no apoplasmo é dirigido pelos

gradientes de pressão hidrostática e não pelos gradientes de potencial total da

água (Nobel, 1974; Passioura, 1984). Os gradientes de potenciais da água são

provavelmente apenas de maior importância para o fluxo hídrico através de

membranas entre o apoplasma e o simplasma. Desde que o potencial da água no

20

equilíbrio ou próximo do equilíbrio é usualmente assumido sobre estas pequenas

distâncias e é, portanto, não mensurável, a caracterização do fluxo de água

pelos gradientes de potencial da água é de pequena relevância prática.

Não somente a pressão hidrostática mostra-se relevante ao problema de

fluxo de água, mas ela é também o componente termodinâmico na forma de

pressão de turgor, que recentemente tem recebido a maior atenção como a

variável de influência na fisiologia das plantas. Porém, para as plantas

transduzirem a pressão de turgor dentro de um sinal fisiológico, a energia do

potencial mecânico da pressão hidrostática deve ser determinada. Zimmerman

(1978) propôs que o plasmalema deve estar sujeito tanto à compressão quanto à

expansão em pressões de turgor maiores, resultando na alteração nas

propriedades da membrana. Em plantas superiores, há pouco suporte

experimental para esta hipótese. Além disso, os resultados de Lucas & Alexander

(1981), contradizem-no. Adicionalmente, só o plasmalema pode ser diretamente

responsivo a pressão de turgor, porque os gradientes de turgor através das

membranas das organelas e o tonoplasto não podem ser maiores ou as

membranas se romperiam (Nobel, 1974).

Parece que o mais significante transdutor da pressão de turgor em células

maduras está associado com mudanças volumétricas da célula íntegra. A

pressão hidrostática influencia o volume celular mediante mudanças na

elasticidade dimensional das paredes celulares (Tyree & Jarvis, 1982). As

mudanças elásticas no volume do tecido (V) podem ser descritas simplesmente

em termos de um módulo da elasticidade volumétrica (∈).

VdPdV∈

= (6)

A equação (6) ilustra um problema adicional na caracterização do estado

fisiológico do tecido em termos de P. A pressão de turgor não é uma variável

particularmente conservadora para o tecido como o das folhas, que têm volumes

pequenos e ∈ razoavelmente grande, porque pequenas mudanças no volume

21

causam grandes mudanças em P. Portanto, valores de P de folhas são

inerentemente instáveis porque pequenas mudanças nas variáveis ambientais

que alteram insignificantemente V causarão grandes mudanças em P, ainda que

o status da água em toda célula seja essencialmente não mudado. Esta

instabilidade não ocorre nos estômatos porque eles são regulados pela P, tanto

das células guarda quanto das células vizinhas (Cooke et al., 1976). As forças

contrárias dos dois tipos de células ajudam a estabilizar a abertura do complexo

estomático.

Há crescente evidência para sustentar a visão de que o volume da célula,

ou mais comumente o conteúdo relativo de água (CRA), é um importante, e

possivelmente um maior determinante da atividade metabólica e da

sobrevivência da folha. Diferenças na resposta da taxa fotossintética foliar ao

déficit hídrico entre várias espécies, e a salinidade nas mesmas espécies,

desaparecem quando as taxas são comparadas com base no relativo volume

osmótico do protoplasto (Kaiser 1982) ou no relativo volume osmótico (Kaiser,

1983). Esta evidência sugere uma forte relação entre os volumes e as taxas

fotossintéticas das folhas, protoplastos e cloroplastos (veja também Sharkey &

Badger, 1982). Respostas similares têm sido mostradas para a síntese de

proteína (Bewley, 1981), e para a atividade da redutase do nitrato (Sinha &

Nicholas, 1981). Além disso, recentes evidências (Flower & Ludlow, 1986)

sugerem que folhas de uma espécie particular ou um grupo de espécies morrem

em um específico CRA, mais do que em um específico potencial da água na folha

(ou pressão osmótica, porque a pressão de turgor é zero); por exemplo, folhas de

27 gramíneas C4 morreram em um CRA de 25± 1%, enquanto o potencial total

variou entre -7,5 e -13 MPa.

Uma alternativa para a visão termodinâmica do status da água na planta,

portanto, pode ser através do exame das mudanças do volume no tecido

diretamente ou ignorando as variáveis termodinâmicas.

Naturalmente, a equação (7) permanece válida e permite o intercâmbio entre as

duas visões se desejado. Experimentalmente, esta visão alternativa sugere que

maior atenção deveria ser dado ao volume relativo do tecido, ou CRA. A

22

mensuração do CRA foi originalmente proposta por Weatherley (1950) e

revisada em detalhes por Barrs (1968). A desaprovação principal do uso de CRA

tem se devido ás incertezas em sua determinação, mas Catský (1974) sugere que

os valores de CRA com erro absoluto de 1% poderiam ser obtidos com técnicas

cuidadosas.

Uma vantagem na caracterização do estresse hídrico vegetal pelo CRA é

que ele reflete o balanço dinâmico da água entre o fluxo de água dentro e fora

do tecido. Isto pode ser mais facilmente visualizado ao se considerar uma planta

muito simples com uma única raiz e uma única folha. O balanço hídrico da

planta, e finalmente o CRA são dados pela diferença entre a transpiração (T) e

absorção radicular (R):

dV/dT=T-R (7)

Em muitas situações, dV/dT deve ser próxima de zero ou, do contrário, a

planta explodiria prontamente de uma situação de muito maior conteúdo de

água ou secaria com a perda de água. Conseqüentemente, CRA também seria

uma variável razoavelmente estável, comparada à transpiração (T) e à absorção

radicular (R).

De fato, o balanço de água na planta e o status podem ser divididos dentro

de três preferenciais estágios distintos, com base na equação (X2). O estágio 1

ocorre quando a água do solo é abundante e a taxa de absorção radicular iguala

a taxa de transpiração. Desde que fossem esperadas as aberturas dos estômatos,

a taxa de transpiração é dominada pelo ambiente. O CRA, geralmente não cai

abaixo de 75-85% (Bradford & Hsiao, 1982). O estágio II inicia-se quando a

taxa de absorção radicular não pode se igualar à demanda da transpiração.

Neste estágio, a absorção radicular domina as taxas de perda de água, e os

estômatos são forçados a ajustar sua condutância para manter um balanço

hídrico mais ou menos estável nas folhas (Gardner, 1960; Cowan, 1965). Seria

esperado um CRA (assim como a pressão de turgor) mais baixo e diminuído

continuamente durante o estágio II, provavelmente na gama de 80-60%. O

23

estágio III começa quando o solo seca ainda mais, a absorção radicular de água

diminui, e os estômatos perdem a capacidade de manter a taxa de transpiração

aproximadamente igual à taxa de absorção. Neste estágio os estômatos estão

fechados e a taxa de transpiração é dependente da condutância de vapor da

epiderme. Quando a taxa de absorção radicular torna-se substancialmente

menor do que a taxa de transpiração da epiderme, o CRA cai e a folha morre

quando o CRA crítico é alcançado (Flower & Ludlow, 1986).

O potencial da água assim como o CRA diminui durante essas três fases.

Portanto, poderia ser argumentado que o CRA não é mais útil que o potencial

total para definir o status da água na planta quando ele influencia os processos

fisiológicos. Porém, a principal desvantagem do potencial total é que a relação

entre ele e o CRA não é única. Por exemplo, o ajuste osmótico causa alteração

nesta relação, de tal modo que potencial em que um específico CRA (ou pressão

de turgor) é alcançado diminui com o aumento do ajuste osmótico.

O conceito de estágios segregados da desidratação com base na regulação

tanto do ambiente atmosférico quanto das propriedades de transporte do solo

não é novidade. Gardner & Ehlij (1963) demonstraram uma fase inicial de

constante taxa de perda de água sob condições estáveis do meio ambiente,

seguido por uma taxa de diminuição que foi linearmente relatada ao conteúdo

volumétrico de água no solo. A confirmação para este padrão de perda de água

tem sido obtida sob condições controladas (Turner et al., 1985) e sob condições

de campo (Ritchie, 1974; Mason et al., 1980; Meyer & Green, 1981).

O uso do conceito de balanço hídrico para a visão do status da água na

planta e a resposta fisiológica parece ter várias vantagens sobre a aproximação

termodinâmica. Primeiro, a estrutura do balanço hídrico é consistente com a

substanciosa experiência de campo onde a taxa de perda de água não é regulada

pelas plantas sobre uma ampla variabilidade de água disponível no solo. Muitos

dos trabalhos sobre o uso da água pelas culturas durante a primeira parte deste

século (Veihmeyer & Hendrickson, 1950) concordam para esta conclusão, mas

ela não é popularmente prevalecente, porque estas pesquisas anteriores

confiavam em sintomas visuais, assim como o murchamento e o ponto de

24

murchamento permanente, para descrever o progresso da extração de água. Os

estágios como descritos acima são mais apropriadamente definidos pelo

comportamento estomático. Segundo, a aproximação do balanço hídrico oferece

uma nova perspectiva para análise das respostas fisiológicas ao secamento. Ao

invés de confiar em variáveis termodinâmicas relativamente instáveis que têm

falhado na revelação de relações universais às respostas fisiológicas, as taxas de

fluxo relativo de água dentro e entre tecidos vegetais e o CRA do tecido são

sugeridos como importantes variáveis independentes. A variação no fluxo de

água entre vários tecidos pode ser de considerável importância em influenciar a

destinação e as quantidades de compostos distribuídos na planta durante o

estresse hídrico. Assim como alterações nas quantidades de materiais chave

chegando nos tecidos, ligados com os efeitos diretos das mudanças de volume

(que estão vinculadas ao turgor), poderiam potencialmente ter efeitos profundos

nos processos fisiológicos. Terceiro, o uso do balanço hídrico e do CRA parece

conduzir a um estudo de variáveis que são inerentemente mais estáveis do que o

potencial químico da água ou seus componentes. Desde que o CRA é uma

propriedade dinâmica ainda estável que tende a integrar o balanço hídrico da

planta ou do tecido por dias e talvez semanas, ele poderia providenciar uma

ferramenta para estabelecer mais relações universais entre características

fisiológicas em níveis de estresse hídrico.”

Em qualquer evento, acreditam Sinclair & Ludlow (1985) que a

aproximação para a avaliação do status da água na planta precisa ser estendida

além dos pontos de referência da termodinâmica. Enquanto a visão

termodinâmica pode ser biofisicamente mais satisfatória, como um significado

prático ela não tem conduzido a qualquer profundo discernimento específico

sobre a resposta fisiológica ao déficit hídrico. Com sua proposta para explorar

novamente o conceito de balanço hídrico e a utilidade potencial da mensuração

do CRA, reabriram Sinclair & Ludlow (1985) o diálogo sobre as aproximações

experimentais apropriadas para o entendimento das relações da água na planta.

A integração das relações em cada compartimento aquoso (simplasto e

apoplasto) de um tecido leva a uma relação geral entre CRA e o potencial total da

25

água, do tipo mostrado na Figura 8. Relações deste tipo são denominadas de

isotermas de ψ, porque teoricamente são válidas para cada temperatura. A

relação entre CRA e ψ mostrada na Figura 6 é análoga à curva de retenção da

água no solo, característica para o tipo de solo usado (Angelocci, 2002).

Potencial da água na folha (M

Pa) Figura 8 – Relações entre potencial da água e conteúdo relativo de água de folhas

de soja (Fonte: Angelocci, 2002).

Assim como para estudos da disponibilidade hídrica do solo, em que o valor do

ponto de murcha permanente não deve ser adotado como fixo, já que é função da

capacidade de extração da planta, podendo, então, assumir diferentes valores

correspondentes de potencial da água para diferentes espécies (Slatyer 1957,

1967), para estudos do potencial da água na planta não se pode assumir valores

fixos de potencial total para limites críticos de disponibilidade de água, pois estes

são função da espécie, da idade das folhas, do ajuste osmótico, da elasticidade da

parede, do tamanho das células, da estrutura do mesófilo (Cutler et al., 1977;

Jones, 1990; Angelocci, 2002).

Não existe, portanto, muitas evidências para o envolvimento direto do

potencial no controle de processos fisiológicos. Por exemplo, comparações nos

26

efeitos de fluxos osmóticos (que afetam tanto o potencial quanto o potencial

osmótico da célula) e fluxos não osmóticos (que também afetam o volume

celular e a pressão de turgor) mostraram que nem o potencial total nem o

potencial osmótico afetam processos fisiológicos como atividade fotossintética.

Outros estudos têm demonstrado claramente a importância do turgor para o

desenvolvimento celular, para a ação dos estômatos, e a produção de ácido

abscísico. Apesar de ser difícil distinguir entre o turgor e o volume celular (CRA)

como os principais fatores controladores, experimentos usando protoplastos

isolados têm demonstrado que o volume celular pode ser a variável importante

em alguns casos (Jones, 1990). As Figuras 9 e 10 mostram relações do potencial

da água com taxa fotossintética e expansão foliar, por exemplo, mas as relações

do potencial com estas variáveis não são universais.

Figura 9 – Efeitos do estresse hídrico sobre a fotossíntese e a expansão foliar do

girassol (Helianthus annus) (Adaptado de Taiz & Zeiger, 2004).

27

Figura 10 – Efeitos relativos do estresse hídrico sobre a fotossíntese e a

translocação, no sorgo (Sorghum bicolor). (Adaptado de Taiz & Zeiger, 2004).

A despeito deste e de outros argumentos, a maioria dos pesquisadores usa o

potencial da folha como seu principal indicador do status da água. Por exemplo,

uma revisão dos artigos que foram publicados durante 1985 na HortScience e o

Jornal of the American Society for Horticultural Science mostrou que 58% dos

artigos referentes às relações hídricas vegetais (número total = 43) usaram

potencial foliar. Em contraste, somente 15% dos artigos revisados incluíram

medida de pressão de turgor, que normalmente pode somente ser estimada como

a diferença entre o potencial foliar e o potencial de solutos. A sonda de pressão

promove uma técnica poderosa para medir o turgor de células individuais, mas

ela ainda não tem sido utilizada no campo. A implícita suposição em muitas

medidas de potencial foliar é, naturalmente, que o conteúdo de solutos e a

elasticidade da parede celular não mudam muito em comparação com o

potencial, e sendo assim o potencial poderia ser usado como uma medida da

pressão de turgor, ou ainda como uma medida do CRA (medido em 21% dos

artigos) (Jones, 1990).

28

Para qualquer medida do status da água usada, é claro que o ajuste osmótico

e mudanças na elasticidade do tecido ou no tamanho das células podem atuar

para estabilizar o turgor ou volume celular em resposta a diminuição do potencial

e são um importante fenômeno que deve ser considerado nos estudos das

respostas das plantas aos déficits hídricos. A adaptação, porém, é um processo

relativamente lento que é freqüentemente não completo quando as plantas são

rapidamente secas em experimentos em vasos, tanto quanto, em conseqüência,

muitos experimentos publicados usando plantas desenvolvidas em vasos dão

resultados enganosos que não podem ser aplicados a situações de campo. Além

disso as diferentes condições ambientais (especialmente radiação) em ambientes

controlados e no campo afetam substancialmente o desenvolvimento das plantas

e as relações hídricas (Davies, 1977; Davies et al., 1986; van Volkenberg &

Davies, 1977).

O potencial da água é mais comumente medido na folha, talvez porque

muitos dos trabalhos pioneiros tenham se preocupado com os processos foliares

tais como a fotossíntese e o comportamento estomático, apesar da facilidade

desta medida com a câmara de pressão ser provavelmente outro fator (Jones,

1990). Recentemente, há uma tendência crescente de estimar o potencial da água

no xilema do caule como o valor do potencial da água na folha para uma folha

envolta por um saco de alumínio por um período antes da medição na câmara de

pressão (Begg & Turner, 1970; Powell, 1974).

As principais desvantagens com mensurações no status da água na folha

podem ser sumarizadas, conforme Jones (1990) em:

a) O status da água na folha é extremamente variável como uma função das

condições ambientais e da taxa de transpiração, com a sensibilidade dependendo

das capacitâncias assim como das resistências do sistema. Mudanças rápidas do

potencial na folha em algodão em resposta às nuvens têm sido notadas (Stansell

et al., 1973), enquanto as conseqüências da variabilidade ambiental para

comparação do potencial da folha são bem conhecidas (Jones & Cumming,

1984). Taxas típicas e magnitudes das mudanças no potencial da folha em maçã e

morango em resposta às nuvens ou ao sombreamento são ilustradas na Figura 11.

29

Pelo menos em morangueiro, e provavelmente em outras plantas pequenas, o

potencial da folha pode variar em mais de 100% dentro de poucos minutos.

Assim uma pequena constante do tempo implica que tanto a resistência quanto a

capacitância são pequenos. Como grandes flutuações em curto prazo no potencial

da folha ocorrem continuamente em ambientes naturais, parece improvável que

elas tenham maior relevância no desenvolvimento a longo prazo, exceto talvez

em poucos casos especiais como nas clareiras em florestas (Woodward, 1981).

Apesar de teleológico, este argumento sugere que valores instantâneos do

potencial da folha não podem promover uma medida absoluta do status da água e

que eles podem somente ser utilmente empregados como medidas relativas

quando expressas como uma diferença do valor de referência obtido para um

tratamento ou cultivar padrão.

Figura 11 – Mudanças no potencial da folha em resposta ao sombreamento da

planta a luz solar direta para maçã. O tratamento sombreado diminui a irradiação

de ondas curtas nas superfícies foliares de mais de 650 W m-2 para < 80 W m-2.

Períodos durante os quais plantas tratadas foram sombreadas são indicados e

períodos de nuvens são mostrados hachurados. Valores de potencial foliar para

30

plantas controle (não sombreados) (•), para plantas tratadas durante o período de

sombra (ο), e durante a restauração após o período de sombra (∆) (Woodward,

1981).

b) Evidências adicionais para a irrelevância das flutuações em curto prazo

no potencial da folha como um fator controlador das funções da planta vem das

aparentemente anômalas observações onde plantas com um suprimento hídrico

restrito podem ter potencial da folha tão alto ou maior que plantas controle bem

supridas (Jones, 1985; Jones et al., 1983). Similarmente, onde o potencial da

folha controla a condutância foliar (gs), um gs esperado diminui à medida que o

potencial cai, mas, quando um considera mudanças diurnas normais nestas duas

variáveis, gs é freqüentemente relatada negativamente ao potencial da folha,

implicando um reverso do controle normal (Jones, 1983). Um controle reverso

similar com gs controlando o potencial também é observado às vezes em

experimentos de secagem (Jones, 1985), e tem sido visto em comparações de

cultivares [em uma comparação, por exemplo, de linhagens de gergelim tendo os

mais baixos valores de potencial da água onde se encontraram as maiores gs

(Hall & Yermanos, 1975)].

c) Os controles dominantes da adaptação das plantas ao estresse a longo prazo

são respostas de desenvolvimento (Jones, 1983; Turner, 1986) e estas são mais

provavelmente controladas nos meristemas, incluindo aqueles nas raízes. É

provável, portanto, que o status da água dos meristemas seja mais relevante do

que aquele da folha. Mesmo as propriedades foliares, tais como condutância

estomática, podem não ser diretamente controladas pelo valor local do potencial

da folha (ou mesmo pela pressão de turgor na folha). Gollan et al. (1985) e

Schulze (1986) variaram o potencial da folha de uma folha experimental

alterando a taxa de evaporação de outras folhas da planta, e mostraram que a

condutância foliar foi mais relacionada à água do solo do que à água da folha na

folha experimental em uma ampla faixa de umidade do solo neste sistema.

31

d) Muitas espécies vegetais podem manter o potencial da folha estável

sobre uma gama de potencial do solo (Bates & Hall, 1981; Jones, 1983b; Jones et

al., 1983; Lorrenzo-Minguez et al., 1985), ainda que o crescimento possa ser

significantemente alterado. Em tais casos, e mais convincentemente, onde o

potencial da folha é mantido mais alto em plantas secas do que em plantas

controle (Jones, 1983b), o potencial da folha não pode ser um bom mensurador

do estresse ambiental e provavelmente não mede um status da água relevante na

planta.

CRA X POTENCIAL DA ÁGUA

Conforme Kramer (1988), a medida do CRA promove um método bastante

conveniente e barato de mensuração das mudanças no conteúdo de água sem os

erros causados pelas mudanças em pesos fresco e seco. Ele também promove um

indicador de mudanças no volume celular e no turgor, e foi reivindicado por

Sinclair & Ludlow (1985) como melhor correlacionado aos processos

fisiológicos do que o potencial da água. Porém, a relação dos processos

metabólicos ao CRA não é mais evidente que sua relação com o potencial da

água. Além disso, o CRA varia com a idade e o habitat (Knipling, 1967), e entre

espécies (Slatyer, 1967) e não pode ser relacionado ao status da água no solo.

Entre as vantagens do potencial da água para avaliação do status da água em

plantas tem-se que ele é uma quantidade física amplamente reconhecida,

geralmente controla o movimento da água, e pode ser medido convenientemente

em unidades que descrevem o status da água na planta e no solo. Medidas

termodinâmicas que podem ser feitas no solo e na planta são mais úteis que

medidas de CRA, que não podem ser relacionadas facilmente ao status da água

no solo ou ao movimento no continuum solo-planta-atmosfera (Figura 12).

Também, medidas feitas com psicrômetros fornecem informações relacionadas

ao potencial da água total e ao potencial osmótico, e informações necessárias aos

estudos do movimento da água em tecidos de desenvolvimento (Boyer, 1985).

32

Figura 12 – Visão geral representativa do potencial da água e seus

componentes em vários pontos ao longo da rota de transporte do solo, por meio

da planta para a atmosfera. O potencial da água (Ψw) pode ser medido ao longo

deste continuum, mas os componentes variam. Na parte líquida do transporte,

pressão (Ψp), potencial osmótico (Ψs) e gravidade (Ψg) determinam Ψw. No ar,

somente a umidade relativa (RT/Vw x ln[RH]) é importante. Observe que,

embora o potencial da água seja o mesmo no vácuo de células do mesófilo e na

parede celular circundante, os componentes do Ψw podem variar bastante (por

exemplo, nesse caso Ψp é 0,2 MPa no interior da célula do mesófilo e –0,7 MPa

fora) (Nobel, 1999, apresentado por Taiz & Zeiger, 2004).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na escolha de uma medida do status da água, é essencial notar o

mecanismo de controle que influencia o processo vegetal de interesse, que, para

muitos casos, será o desenvolvimento da planta (fisiologia).

33

É importante não rejeitar a relevância fisiológica pelo potencial

simplesmente porque ele é um termo baseado na termodinâmica.

Deve-se notar que a resposta inicial ao estresse hídrico pode ser muito

diferente das respostas a longo prazo quando processos adaptativos, como o

ajuste osmótico, ocorrem.

Para fins de manejo da irrigação, o uso do potencial da água na folha não

tem as restrições que sofre para fins de estudos fisiológicos.

34

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42

ANEXO

Acumulação de ácido abscísico

O ácido abscísico é o hormônio vegetal encontrado em todas as plantas

vasculares. Foi também detectado nos musgos, mas parece estar ausente nas

hepáticas. Vários musgos secundários produzem o ABA como metabólito

secundário. Nas plantas, ele tem sido detectado na maioria dos órgãos ou tecidos

vivos, desde a coifa até a gema apical, sendo sintetizado em quase todas as

células que possuem cloroplastos ou amiloplastos (Milborrow, 2001).

A perda de solutos a partir das células-guarda pode ser desencadeada por

um decréscimo no conteúdo de água da folha, e o ácido abscísico (ABA)

desempenha um importante papel nesse processo. O ácido abscísico é sintetizado

continuamente em taxas baixas nas células do mesófilo e tende a se acumular nos

cloroplastos. Quando o mesófilo torna-se moderadamente desidratado acontece o

seguinte: a) parte do ABA armazenado nos cloroplastos é liberada para o

apoplasto (o espaço entre as paredes celulares) do mesófilo (Hartung et al., 1998

citados por Taiz & Zeiger, 2004). A redistribuição de ABA depende de

gradientes de pH dentro da folha, de propriedades fracamente ácidas da molécula

de ácido abscísico e das propriedades de permeabilidade de membranas celulares.

A redistribuição de ABA possibilita ao fluxo da transpiração transportar parte

dele para as células-guarda; b) o ABA é sintetizado em taxas mais altas e a maior

quantidade dele se acumula no apoplasto foliar. As concentrações mais altas do

ABA resultantes de taxas mais altas de sua síntese parecem acentuar ou

prolongar o efeito inicial de fechamento por este ácido armazenado.

O papel do ABA nas respostas ao estresse hídrico, ao frio e à salinidade levou à

sua caracterização como um hormônio do estresse. Conforme, observada

inicialmente a concentração do ABA nas folhas pode aumentar até 50 vezes sob

condições de seca – a alteração de concentração mais severa descrita para um

hormônio em resposta a um sinal ambiental. A redistribuição ou a biossíntese do

ABA é muito eficaz no fechamento estomático e seu acúmulo em folhas

43

estressadas exerce um importante na redução da perda de água, pela transpiração,

sob condições de estresse hídrico (Figura 1).

O fechamento estomático pode também ser causado pelo transporte do

ABA sintetizado nas raízes para a parte aérea. Os mutantes que perderam a

capacidade para produzir o ABA exibem uma murcha permanente chamados de

mutantes wilty, devido à sua incapacidade de fechar os estômatos. A aplicação

exógena do ABA nesses mutantes leva ao fechamento estomático e à restauração

da pressão de turgor (Beardsell & Cohen, 1975).

As respostas estomáticas à desidratação foliar podem apresentar ampla

variação, intra e interespecífica. Os estômatos de algumas espécies com

desidratação retardada, como feijão-de-corda (Vigna unguiculata) e a mndioca

(Manihot esculenta) são incomumente responsáveis pelo decréscimo na

disponibilidade de água; a condutância estomática e a transpiração decrescem

tanto que o potencial da água da folha (ψw) pode permanecer quase constante

durante a seca.

Sinais químicos das raízes podem afetar as respostas estomáticas ao estresse

hídrico (Davies et al., 2002). A condutância estomática freqüentemente está

muito mais intimamente relacionada com o status hídrico do solo do que com o

status hídrico da folha. A única parte da planta que pode ser diretamente afetada

pelo status hídrico do solo é o sistema subterrâneo. De fato, a desidratação de

apenas parte das raízes pode causar fechamento estomático, mesmo que uma

porção bem hidratada do sistema subterrâneo ainda libere grande quantidade de

água para a parte aérea.

44

FIGURA 1 - Alterações no potencial da água, na resistência estomática (o

inverso da condutância estomática) e no conteúdo de ABA em milho, em

resposta ao estresse hídrico. À medida que o solo perde água, o potencial da água

das folhas decresce e aumenta tanto o conteúdo de ABA quanto à resistência

estomática. O processo foi revertido pela rega (Beardesell & Cohen, 1975).

Quando indivíduos de milho (Zea mays) crescem com as raízes orientadas

em dois vasos separados e um dos vasos não foi suprido de água, os estômatos

fecham parcialmente e o potencial da água da folha aumenta, justamente como

nos casos de retardo da desidratação descritos. Tais resultados mostram que os

estômatos podem responder às condições percebidas nas raízes. Além do ABA

(Sauter et al., 2001), outros sinais, como o pH e a redistribuição iônica

inorgânica, parecem desempenhar um papel na sinalização de longa distância

entre as raízes e as partes aéreas (Davies et al., 2002).