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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO ATIVA DA FAMÍLIA NA ESCOLA FLÁVIA LOPES DA SILVA TORRES MARCELINO VIEIRA 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA

A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO ATIVA DA FAMÍLIA NA ESCOLA

FLÁVIA LOPES DA SILVA TORRES

MARCELINO VIEIRA

2016

FLÁVIA LOPES DA SILVA TORRES

A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO ATIVA DA FAMÍLIA NA ESCOLA

Artigo Científico apresentado ao Curso de Pedagogia à Distância, do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como requisito parcial para obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia, sob a orientação da professora Dra. Márcia Cristina Barragan Moraes Toledo.

MARCELINO VIEIRA

2016

A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO ATIVA DA FAMÍLIA NA ESCOLA

FLÁVIA LOPES DA SILVA TORRES

Artigo Científico apresentado ao Curso de Pedagogia a Distância, do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como requisito parcial para obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia.

Artigo apresentado em: ______/______/_____

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________

Dra. Márcia Cristina Barragan Moraes Toledo (Orientadora)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN

_____________________________________________________

Dr. Flávio Boleiz Junior - UFRN

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

______________________________________________________

Dra. Renata Viana de Barros Thome - UFRN

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

4

A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO ATIVA DA FAMÍLIA NA ESCOLA

Flávia Lopes da Silva Torres

Universidade Federal do Estado do Rio Grande do Norte (UFRN)

Resumo

O presente artigo contempla sobre a relação escola-família e a sua importância no processo de escolarização. Baseado na experiência de estágio e referencial teórico bibliográfico, desenvolve-se uma linha de pesquisa com o objetivo de compreender e refletir sobre a importância da participação ativa dos pais na escola e o reflexo dessa atuação. O referido estágio foi realizado em uma escola pública, da rede estadual de educação, nas séries iniciais do ensino fundamental, como requisito curricular do Curso de Licenciatura em Pedagogia à distância. A reflexão e contextualização das experiências com a pesquisa possibilitou reconhecer a importância e o direito da participação dos pais, assim como, restou significativa para a escola a interação da família para atingir melhores resultados.

Palavras-chave: Escola-família. Ensino Fundamental. Participação Ativa.

PARTICIPATION IMPORTANCE OF ACTIVE FAMILY AT SCHOOL

Abstract

This paper is about the relationship school -family and its importance in the

schooling process. Based on the internship experience and theoretical literature

develops a line of research with the objective to understand and reflect on the

importance of the active participation of parents in school and the reflection of this

act. That stage was conducted in a public school, in the state system of education

in the early elementary school grades, as a curricular requirement of pedagogy

course in Education at a distance. The reflection and contextualization of

experiences with research allowed recognize the importance and the right of

parental involvement, as well as, significant to school the family interaction to

achieve best results.

Keywords: School - family. Elementary School. Active participation.

5

Introdução

A ideia de explorar o tema do presente artigo, “A importância da

participação ativa da família na escola”, surgiu durante as experiências nos

estágios, ofertados pela grade curricular do curso de Pedagogia,

especificamente o Estágio Supervisionado I – Organização e Gestão dos

Processos Educativos, componente curricular do Curso de Licenciatura em

Pedagogia - EAD pela Universidade Federal do Estado do Rio Grande do Norte

- RN. O estágio realizou-se numa escola estadual da educação básica de

séries iniciais do ensino fundamental, localizada no município de Pau dos

Ferros, no estado do Rio Grande do Norte/RN.

Durante o período de estágio, foi realizada intervenções com a

participação da família na escola, cujo projeto se concretizou como uma

idealização da experiência teoria e prática. O contato com a escola e

especificamente com a gestão durante esse período, nos permitiu observar e

analisar diversas situações e posturas da escola. Entre essas situações, a

participação da família nos espaços escolares e a participação dos pais na vida

escolar dos filhos. Embora não pareça, mas há uma diferença nessa fala e é

importante que saibamos diferenciar. A participação da família nos espaços

escolares faz parte de algo que chamamos de imediatismo, isto é, entrar,

permanecer e sair dos espaços escolares é uma ação imediata, pois ao deixar

e buscar o filho na escola, caracteriza-se em um ato de participar dos espaços

escolares.

No entanto, a participação na vida escolar do filho é uma ação que

requer responsabilidade, dedicação, respeito, zelo e, porque não dizer, amor,

que é o sentimento que rege o vínculo entre pais e filhos, capaz de motivar e

promover mudanças necessárias para oferecer sempre o melhor aos

educandos.

Com base nisso, é oportuno registrar que o tema do presente artigo se

aproxima dessa reflexão. E sabendo que esse questionamento poderia surgir,

foi cuidadosamente posto que, a importância da participação da família na

escola, deve ser ativa. Esse pequeno substantivo faz a diferença neste

momento, pois não basta apenas estar, é preciso participar ativamente, fazer

constar com ações que surtam efeitos.

6

O presente artigo composto a partir de elementos como a observação e

reflexão da prática do estágio juntamente a pesquisa bibliográfica realizada,

tem o objetivo geral de compreender e reconhecer a importância da relação

escola-família, estimulando o diálogo para a materialização da proposta de

estreitamento da relação de ambas as instituições. E a partir dessa percepção,

apresentar os seguintes objetivos específicos: (i) pesquisar mecanismos de

como instigar a participação efetiva da família na escola; (ii) promover nos

eventos da escola, algo que entusiasme os pais a se fazerem presentes e

sentirem-se importantes e necessários; (iii) gerenciar a interação entre direção,

coordenação, professores e pais, assim melhorando o relacionamento entre os

sujeitos da escola, zelando por um projeto pedagógico promissor.

Nessa perspectiva, descobrir as razões da ausência da participação

dos pais no processo de escolarização, cuja indagação é a nossa

problematização a ser descoberta e discutida no decorrer da escrita. A reflexão

e discussão sobre a participação dos pais na escola, objeto da pesquisa e o

estudo da temática, se justifica pela necessidade encontrada durante a

experiência de estágio, onde foi percebido a ausência da participação ativa da

família no processo educativo.

A escola tem dado uma atenção maior à relação com a família e vem

procurando estabelecer uma maior aproximação. A demanda da instituição é

extensa e tem aumentado cada dia mais. E segundo a escola, parte desse

crescimento de atribuições, acontece justamente pelo fato da família se eximir

de algumas ações, deixando tais tarefas a cargo da escola. É perceptível a

pretensão da escola em se aliar à família, pois almeja que, com mais

participação dos pais, as atribuições e responsabilidades de casa, sejam

assumidas.

Para fundamentar nosso artigo, relacionamos alguns autores que

estudam e pesquisam, se não diretamente, mas fazem algum direcionamento

e/ou abordagem sobre a relação escola-família e a sua importância, cujo tema

será ao longo da escrita, contextualizado com a experiência adquirida no

estágio durante o curso. Durante a revisão bibliográfica, encontramos alguns

autores que dedicaram um capítulo ou uma seção em suas obras, sobre a

temática escola-família, descrevendo, discutindo, refletindo suas peculiaridades

e a sua significância para ambas instituições.

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Entre os pesquisados, destacamos, Vitor Henrique Paro (2000); Júlio

Cesar Furtado dos Santos (2015); e Jane Margareth Castro e Marilza Regattieri

(2009). O foco da linguagem e a linha de pensamento de Vitor Paro (Idem) está

voltada à gestão democrática, cujo setor da educação é justamente o indicado

a gerir e propor medidas que assegurem a existência e efetividade da

participação da família no processo escolar.

O livro, Qualidade do ensino: a contribuição dos pais (2000) é uma das

principais obras de Paro que relata e explica mais diretamente sobre esse

assunto, afirmando sobre a contribuição que o professor teria, se o estudante

viesse para a escola predisposto para o estudo, por contar com a colaboração

dos pais ou responsáveis, que compreendesse a importância da escolaridade.

Foi partindo desse princípio que, o autor Vitor Paro desenvolveu uma

pesquisa que culminou na idealização da obra, esta que contribuirá na

argumentação e contextualização das ideias do presente artigo. O que se

percebeu na pesquisa do professor, foi a convicção dos agentes da escola.

Quanto a importância da colaboração dos pais para o melhor desenvolvimento

dos alunos na escola, embora na concepção deles, essa participação está em

falta.

O professor Furtado, com os artigos Educação e família, que educação

cabe a cada uma (2015) e Relação escola-família: uma questão de gestão

(2016) reafirmam a convicção da importância da família no processo escolar e

entende que esta pauta é uma questão de gestão. Outra fonte de pesquisa que

influenciou na nossa argumentação, nos possibilitando conhecer várias outras

situações em diversos municípios do país, foi a pesquisa da UNESCO,

Interação escola-família: subsídios para práticas escolares (2009), organizada

por Castro e Regattieri (2010).

Essas obras nos permitiram conhecer sobre outras realidades e,

consequentemente, a forma de como acontece, as causas e consequências de

quando não acontece. Além desses destaques, o artigo faz referência a várias

outras fontes como a legislação, os artigos e as entrevistas publicadas em

sites, os quais contribuíram para reunir e contextualizar as ideias.

Atribuições da família e da escola

8

Considerando a temática deste artigo, que tem como objetivo pesquisar

e refletir sobre a importância da participação ativa da família na escola,

inicialmente, faremos uma breve explanação dos papéis dessas duas

instituições, família e escola. Consequentemente, discutiremos as

consequências e os motivos da restrita, se não, frágil relação família-escola. É

comum nos dias atuais ouvir falar sobre a inversão de papéis que tem surgido

nos últimos tempos em relação a esses dois ambientes.

Dessa forma, historicamente, desde que nos conhecemos como

pessoas, que reconhecemos a família como nossa base, responsável por

nossa criação, educação e principal responsável por nossa formação. Dessa

interpretação, extraímos que o papel da família é de cuidar, educar, orientar,

preparar pessoas para a vida. Assim nossa Constituição afirma,

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988, art. 227).

Por se tratar da instituição social mais antiga do mundo e por sua

relevante importância na formação do indivíduo, a família é um tema bastante

discutido e explorado, assim como seu dever é bastante difundido por diversos

autores. É na família que a criança recebe seus primeiros direcionamentos

para vida, acessando e conhecendo o mundo a sua volta, portanto é a nossa

primeira referência, que posteriormente passa a ser complementada com a

escola. Segundo Oliveira,

A família é considerada a primeira agência educacional do ser humano e é responsável, principalmente, pela forma com que o sujeito se relaciona com o mundo, a partir de sua localização na estrutura social (OLIVEIRA, 2010, p. 100).

A autora ratifica nossa argumentação, nos convencendo ainda mais a

perceber e entender a família como instituição que proporciona e instiga o

desencadeamento de ações essenciais para o desenrolar da vida, articulando

diretamente no processo de ensino e aprendizagem. Percebe-se então a

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importância que a instituição família representa na formação do ser humano,

sendo ela o referencial e a principal fonte de estímulo para o conhecimento,

tomando por base, desde o nascimento da criança quando recebe os primeiros

estímulos e a interagir com suas primeiras apropriações para seu

desenvolvimento, psicomotor, social, afetivo e cognitivo.

Para a sociedade, a escola é uma extensão da família, pois é por meio

dela que se amplia o conhecimento. E essa extensão, possibilita que crianças e

jovens tenham acesso ao conhecimento científico, com a perspectiva de torna-

los cidadãos críticos, participantes conscientes de seus direitos e deveres e

conectados com o mundo a sua volta. Neste sentido, Szymanski, afirma que

A escola, tanto ou mais do que a família, tem um papel preponderante na constituição identitária das pessoas em sua inserção futura na sociedade e quanto maior a sincronia entre escola e família, tanto melhor para o desenvolvimento de crianças e jovens (SZYMANSKI, 2004, p. 13).

Pelo senso comum, temos a ideia de que a escola tem papel bem

semelhante ao da família, porém, com suas especificidades. De acordo com as

pesquisas e também por meio da observação durante o estágio, o papel da

escola não é algo muito claro para os pais. Muitos pais acham e esperam que a

criança deve aprender tudo na escola. Nessa perspectiva, retomando sobre o

papel de cada instituição, o professor Mário Sérgio Cortella faz a seguinte

argumentação:

As famílias estão confundindo escolarização com educação. É preciso lembrar que a escolarização, é apenas uma parte da educação. Educar é tarefa da família. Muitas vezes o casal não consegue com o tempo que dispõe, formar seus filhos e passa essa tarefa ao professor, responsável por 35 a 40 alunos (CORTELLA, 2014, Trecho de Entrevista ao site estadão.com.br)

O foco principal deste artigo é refletir sobre a importância de uma

parceria entre escola e família, ratificando através da pesquisa o quanto é

fundamental a participação da família na escola. Mas para que isso aconteça,

se faz necessário que ambas as instituições se comprometam e colaborem

entre si. Neste contexto, Arroyo, acrescenta que

[...] os aprendizes se ajudam uns aos outros a aprender, trocando saberes, vivências, significados, culturas. Trocando

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questionamentos seus, de seu tempo cultural, trocando incertezas, perguntas, mais do que respostas, talvez, mas trocando. (ARROYO, 2000, p. 66).

Embora estejamos falando de parceria, colaboração, troca de ideias, é

importante que cada ambiente se responsabilize e zele por aquilo que é direito

e de sua obrigação. Assim, Oliveira, destaca:

Desta forma entende-se que apesar de escola e família serem agências socializadoras distintas, as mesmas apresentam aspectos comuns e divergentes: compartilham a tarefa de preparar os sujeitos para a vida socioeconômica e cultural, mas divergem nos objetivos que têm nas tarefas de ensinar. (OLIVEIRA, 2010, p. 102).

Ao compreender essa causa, perceberemos o quanto será positiva

essa definição, pois cada um fazendo o seu devido papel e se apoiando uma a

outra, certamente, o resultado será de uma escola mais forte e certamente

todos os envolvidos sairão se beneficiando, essencialmente os alunos que são

os principais interessados.

Para intensificar nossa abordagem, Júlio Cesar Furtado dos Santos

afirma que,

É fundamental compreendermos que tanto família quanto escola, têm papéis semelhantes que são desempenhados em contextos diferentes. A família foca o indivíduo, visando sua vida de relação e a escola foca o cidadão, que deve integrar uma sociedade sobre a qual deve lançar um olhar crítico. As duas educam cada uma em seu contexto. As duas ensinam valores, limites, regras e atitudes. O ideal é que escola e família atuem de forma colaborativa para facilitar a formação do cidadão (FURTADO, 2015).

Na escola, verificamos alguns exemplos que denotam uma certa

confusão nos papéis da escola e da família. Podemos citar como exemplos,

crianças indisciplinadas, cujo comportamento é apontado pelo professor como

uma falta dos pais e por outro lado, os pais tendem a pensar que a escola é a

principal responsável pela educação e disciplina. Por falta de diálogo e por não

dispor de uma relação mais sólida, percebe-se o desentendimento e a

sensação de que ambas as instituições apontam uma a outra, suas faltas, no

propósito de cada uma, se eximir de sua responsabilidade, refletindo em casa e

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quase sempre também na escola pouco desempenho (MALDONADO, 1997, p.

11).

Se faz necessário o reconhecimento das falhas e a definição de cada

papel, assim, permite a reflexão e a busca por alternativas para conduzir uma

relação mais favorável e essencialmente mais proveitosa no processo de

ensino e aprendizagem.

A parceria entre escola e família é necessária e quanto mais forte for

esse vínculo, melhor será o aproveitamento tanto para a instituição escolar

como para a família. A família acompanhando ativamente seus filhos na escola

e exercendo seu papel em casa, estará assim promovendo segurança ao filho,

que por vez se sentirá amparado em dobro, de um lado pela família e por outro,

a escola. Neste sentido, Parolin (2007, p. 36): “A qualidade do relacionamento

que a família e a escola construírem será determinante para o bom andamento

do processo de aprender e de ensinar do estudante e o seu bem viver em

ambas as intuições”.

Importantes mudanças começaram a acontecer entre essas duas

instituições, família e escola na década de 1990 com o estreitamento das

relações. E o reconhecimento da importância desse processo está referendado

no Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado em 2014. Para ampliar a

gestão democrática nas escolas públicas, a meta 19 do PNE prevê prazo de

dois anos para que toda a rede de educação básica constitua ou fortaleça

grêmios estudantis e associações de pais. Segundo estimativa da

Confederação Nacional das Associações de Pais e Alunos – CONFENAPA

(Portal do MEC, 2015), quase 50% dos munícipios brasileiros estruturaram as

associações de pais e alunos.

E para firmar a parceria é fundamental observar, estudar, ou seja,

planejar de modo que seja renovado o modelo de participação hoje existente, o

qual tem se mostrado improdutivo. O professor, doutor em ciências da

educação, Júlio César Furtado dos Santos, entende que a relação escola-

família é uma questão de gestão e assim afirma que

Essa gestão é tão importante que merece planejamento específico e envolvimento de toda a escola. Não estamos falando apenas de calendário de reunião de pais ou de planejamento de festas que envolvam a família. Essas atividades são fundamentais e devem fazer parte do plano,

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mas é essencial que escola planeje atividades de assessoramento e reflexão sobre o processo educacional dela e a forma de educar da família. Promover discussões de temas como colocação de limites, ensino de valores, uso da internet, desenvolvimento da autonomia, importância e gestão do dever de casa etc. é essencial para se criar uma base intercambiável que torne possível uma educação de qualidade (FURTADO, 2015, p.35).

O autor sugere propostas que pontuam mudanças no sentido de

contribuir com as famílias, atitudes de como lidar com os filhos em

determinadas situações tanto em casa como na escola. Como por exemplo, a

promoção de discussões de temas que envolvam disciplina e valores.

Ainda no entendimento do autor, a participação e/ou relação da família

com a escola, está intimamente ligada à gestão escolar. Para tanto, percebe-se

que se faz necessário a abertura da escola e para esse processo chamamos

de escola democrática. A expressão democracia é um termo que se relaciona

muito bem com relação. Para um bom relacionamento é importante, aliás

necessário, que os interessados se socializem positivamente. Compete a

escola como responsável pelo processo de escolarização, a concessão e a

promoção da interação.

Refletindo nessa abordagem, não pelo entendimento de que as escolas

são de um todo opressivas, hoje maioria delas, manifestam um discurso de que

está aberta ao diálogo e a participação, no entanto, na prática, persiste

vestígios de um passado presente que precisa ser superado. Assim, Luck

(2006, p.48) “a qualidade do ensino depende de que as pessoas afetadas por

decisões institucionais exerçam o direito de participar desse processo de

decisões, assim como tenham o dever de agir para implementá-las”.

Outro fator a ser considerado pela escola, é a expressiva mudança que

tem ocorrido no perfil da família. Essa instituição hoje não se limita apenas a

família matrimonial. A família que antes facilmente se identificava com o pai, a

mãe e os filhos, denominada família nuclear, hoje, por transformações sociais e

culturais, se apresenta em diversas formas. Pais separados que ficam com os

filhos, mães solteiras, entre outras situações, que vivem em um ambiente onde

se cuidam, se amam e há uma relação de harmonia, afeto e proteção, também

denominam-se famílias. Discorre nesse sentido, a autora Maria Luiza Dias,

quando cita:

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A família é um grupo aparentado responsável principalmente pela socialização de suas crianças e pela satisfação de necessidades básicas. Ela consiste em um aglomerado de pessoas relacionadas entre si pelo sangue, casamento, aliança ou adoção, vivendo juntas ou não por um período de tempo indefinido (DIAS, 2005, p. 210).

Trata-se então de uma nova realidade que a sociedade tem, no

entanto, o que parece ser um recurso, os que vivem essa diversidade podem

se sentir distanciados da proposta do modelo de família nuclear, como destaca

Szymanski (2004, p.7) “A força do modelo hegemônico, entretanto, é tão

intensa que pode gerar sentimentos de incompetência para os que escolheram

formas alternativas de se organizar”. A escola precisa estar preparada para

lidar com novos aspectos socioculturais. Com os diversos tipos de relações,

laços afetivos e sanguíneos devem ser observados e respeitados na

comunicação entre os dois ambientes, escola e família.

Como ocorre a participação da família na escola e a sua importância para

o aluno.

A família ganhou novas concepções nos últimos anos, razão maior por

apresentar complexidade, ainda mais, aliada ao âmbito escolar, o que torna

mais delicada a sua discussão. A participação da família na escola hoje é

discutida e requerida de forma que a mesma venha a fazer parte do processo

educativo escolar e não mais convocada somente quando as coisas não

andam bem ou para resolução de assuntos de ordem disciplinar dos filhos.

O presente artigo se desenvolve a partir da pesquisa qualitativa e

apresenta em paralelo do ponto de vista dos procedimentos objetivos, técnicos

(Gil, 1991), citado por Kauark, Manhães e Medeiros (2010), características de

natureza exploratória, com esboço de pesquisa bibliográfica e participante,

visto que consta como recurso na metodologia, as observações e reflexões

vividas durante a experiência nos estágios do curso.

Neste entendimento, de acordo com o mencionado na introdução deste

artigo, passamos a discorrer nosso trabalho de campo contextualizando com o

que dizem os pesquisadores. Assim, Kant (1998, p.20), citado por por Kauark,

Manhães e Medeiros (2010), diz que para o conhecimento científico, é

14

imprescindível a relação do teórico com o prático, afirmando que: “os conceitos

sem as intuições são vazios, e as intuições sem os conceitos são cegas”.

Para concluir o estágio, realizamos uma intervenção como objeto de

estudo e análise da atividade profissional, relacionando prática e teoria e seus

respectivos desdobramentos. A experiência no Estágio Supervisionado I –

Organização e Gestão dos Processos Educativos, como o próprio nome diz,

trata-se de observar e experimentar como é na prática as atividades

relacionadas a gestão. E isso é feito justamente na equipe gestora, com a

colaboração do coordenador pedagógico. O estágio realizou-se pelo período de

aproximadamente três meses, tendo início em 12/08/2014 a 06/11/2014 e

compôs basicamente de três fases: observação, planejamento e execução da

atividade de intervenção.

A primeira fase do estágio foi a observação. Durante esse período

precisamente na parte de gestão, ouvimos queixas da direção, especialmente

dos professores. Acompanhamos situações conflituosas para discutir questões

de indisciplina e percebemos o quanto a relação entre família e escola

necessita de atenção e ações que construam e edifiquem essa ligação.

Nas observações, verificamos que a participação dos pais se limita ao

deixar e buscar o(a) filho(a) e a prestação de contas em termos de avaliações,

queixas e eventuais despesas materiais. Essas análises foram feitas

inicialmente com professores e a equipe gestora no primeiro estágio e

posteriormente com os pais e alunos no estágio de prática docente, ocasião em

que as observações se estenderam também a família e assim constatamos a

restrição que existe na relação entre escola e família.

Apesar das observações indicarem certa limitação na relação escola e

família, ao pesquisarmos a parte documental da escola, especificamente o

Projeto Político Pedagógico, constatamos a participação da família nele. E

entre as anotações que nele consta, há um registro que denota uma

participação ativa dos pais naquela escola. Os pais juntamente com a escola

construíram duas salas de aula. Um exemplo de que a participação da família

na escola é riquíssima de possibilidades e ela pode acontecer em outras

circunstâncias e de formas diversas, além das convencionais e

tradicionalmente realizadas. Nesse sentido, Vasconcelos argumenta:

15

Participar da vida na escola (Conselho de escola, Associações de Pais e Mestres, reuniões, grupo de mães, grupos de reflexão, acompanhamento de alunos, reforço escolar, etc.). Os profissionais pais podem colocar suas especialidades a serviço da escola ex.; pais médicos, professores, pedreiros, marceneiros, esportistas, artistas, psicólogos, advogados, nutricionistas, dentistas, engenheiros, eletricistas, encanadores, pintores, etc (VASCONCELOS 1989, p. 128).

No estágio de docência, ao realizarmos o planejamento das aulas,

procuramos incluir em todo o projeto, tarefas para serem executadas em casa,

como bem conhecido pelo dever de casa. E nessa trajetória, como trata-se de

um procedimento claro e objetivo, onde há a expectativa para uma devolutiva,

foi perceptível o quanto o acompanhamento dos pais ou responsáveis pela

criança não foi realizado. Em alguns momentos, as atividades eram devolvidas

sem ao menos uma tentativa de resolução. Muitas vezes ao recebermos a

criança na porta da sala, recebíamos junto uma justificativa da mãe sobre o

fato de não ter feito a atividade de casa, e maioria, nem sequer, mencionava

sobre o assunto.

Assim, nesse caso, observamos a importância da escola e mais

precisamente do professor, em conhecer a família dos seus alunos. Sabe-se

que não é uma tarefa simples e fácil, pois não inúmeras as atribuições que há

na escola, especificamente na sala de aula, no entanto, para que o professor

saiba lidar e assim desenvolver um plano de resolução, se faz necessário

saber outras questões além das funções da sala de aula. No caso de se

deparar com criança que apresente necessidades especiais ou algum distúrbio

de aprendizagem diagnosticada, é importante conhecer a família, o que

permitirá ao professor, entender origem do problema e os possíveis caminhos

para o entendimento da questão.

Registradas as observações, considerando a fragilidades nas relações

da comunidade escolar, especialmente relacionado a família para com a

escola, iniciamos o planejamento que se consolidou em um evento que teve

como finalidade reunir todos os envolvidos da comunidade escolar. Ao planejar,

foi analisado local, espaço, data, horário, temática, convidados e tudo que

fosse relevante para a realização do evento. Para o fechamento desses pontos,

houveram alguns contratempos, como o tempo de espera pelo agendamento

do evento, três semanas de espera, aguardando uma data para realização do

16

encontro. Passada essa parte, percebeu-se a necessidade de um profissional

com conhecimento na área para deliberar e conduzir a reflexão do encontro e

para esse momento, foi convidada uma assistente social, coordenadora de um

CRAS- Centro de Referência Social. O planejamento resultou em um encontro

para discutir e refletir sobre as relações interpessoais na comunidade escolar e

essencialmente promover ainda mais a parceria escola e família. Esse

encontro ganhou o título de “Chá Social”.

A execução da atividade de intervenção ocorreu no encerramento do

estágio, no dia seis de novembro de 2014 às 19h em uma escola pública

estadual, localizada no município de Pau dos Ferros, Estado do Rio Grande do

Norte. Apesar de alguns imprevistos, como problemas em equipamento de

informática, a atividade aconteceu razoavelmente dentro dos parâmetros.

Contou com a presença de pelo menos um integrante de cada setor da escola,

entre professores, gestão, coordenação pedagógica, demais funcionários. Em

relação aos pais, compareceu um número aproximado de sessenta

participantes, uma quantidade relativamente pequena, considerando o total de

alunos matriculados. Segundo dados da escola, no início do ano foram

matriculados trezentos e doze alunos e foram distribuídos aproximadamente

duzentos e oitenta convites para o evento. Da participação dos pais,

matematicamente falando, tivemos a presença de ¼ (um quarto) e do quadro

docente, registramos a presença de quatro professores de uma equipe de onze

professores.

Durante e após a execução do evento, nos certificamos de que

acertamos no plano de intervenção, pois ficou mais nítido o quanto é

necessário intensificar e persistir com a ideia de trazer e atrair os pais,

professores e comunidade escolar no geral a se encontrarem para discutir,

planejar, trocar experiências, pois há uma omissão considerável nesse sentido.

Como em toda atividade, registramos pontos favoráveis e negativos. Os pontos

negativos foram de origem técnica e organizacional. Foram pontos negativos,

mas insuficientes para prejudicar o evento. Havia a intenção de que no

fechamento do evento, a parte social fosse feita com um lanche em mesa

aberta para que houvesse a socialização e descontração. No entanto, não foi

possível fazer da forma planejada, pois sob orientação da escola, “que temia

desordem”, a mesa que seria aberta, transformou-se em um kit, “tipo lancheira”

17

e foi distribuído no final com refrigerante a todos os convidados. A atitude da

escola em não concordar com a forma em que a confraternização foi

conduzida, denota insegurança e passa a ideia de que ainda está muito

fechada para o público, indicando também que não costuma realizar eventos

do tipo, e, portanto, não dispõe de estratégias para solucionar eventuais

ocorrências.

É perceptível o despreparo da escola e o autoritarismo que ainda

resiste. Essa realidade foi apontada em outras escolas, quando em

socialização do estágio com colegas, estes indicaram como sendo fatores a

serem superados no dia a dia escolar. Neste sentido, Paro (2001, p.19) diz [...]

“a participação depende de alguém que dá abertura ou que permite sua

manifestação, então a prática em que tem lugar essa participação não pode ser

considerada democrática, pois democracia não se concede, se realiza”.

Em meios aos imprevistos, o encontro se realizou com a seguinte

pauta: Iniciou às 19h15min; acolhida e recepção dos participantes;

apresentação da equipe escolar; apresentação de um vídeo sobre o tema;

explanação do tema feito pela convidada, assistente social; considerações

finais e a parte social com confraternização entre todos os convidados com um

lanche.

Diferentemente da reunião de pais, a ideia foi proporcionar algo

extraordinário, motivador, que destacasse para os pais a importância de sua

participação e contribuição no acompanhamento dos filhos na escola, formando

uma parceria com a escola. A intenção do encontro foi despretensiosa, sem

cobranças ou exigências; ou para tratar de rotinas escolares, como entrega de

avaliações, etc. Um encontro para conversar; refletir, para que os participantes

se sentissem confortáveis e movidos com o momento e o seu respectivo

objetivo, adquirindo entusiasmo e informações a partir do que foi lançado e

assim tornar sua participação permanente e ativa no processo educativo

escolar.

Registramos da experiência nos estágios, situações em que de um

lado a escola se queixa da ausência da família e o quanto isso influencia

negativamente para a educação do aluno, e do outro, temos a família que por

sua vez, deixa a desejar no acompanhamento na escola, acarretando para a

instituição atribuições além do permitido. O que se percebe é que ambas as

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instituições têm dificuldades em exercer seus papéis e essa situação é uma

realidade na maioria das escolas brasileiras. Não pretendemos com essas

articulações, prometer ou afirmar que se a família passar a ter uma

participação efetiva na escola, a educação será salva, ou seja, terá todos os

seus problemas e desafios solucionados. Mas o que se espera com uma boa

relação e uma participação ativa, é que o processo de ensino e aprendizagem

ganhe um suporte maior para sua execução.

Além dos diversos pesquisadores mencionados, que acreditam na

importância da participação e acompanhamento dos pais do processo escolar,

há pesquisas que comprovam dados positivos neste sentido. O Instituto

Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP, em

2003 realizou um levantamento através de cruzamento das informações

obtidas pelo questionário socioeconômico do Saeb (Sistema Nacional de

Avaliação da Educação Básica), com as notas dos estudantes que fizeram a

prova, e foi constatado que o acompanhamento da família eleva o desempenho

escolar do aluno (PORTAL INEP, 2003). Inclusive o dia nacional da família na

escola, comemorado no dia 24 de abril, instituído pelo Ministério da Educação

– MEC, com o objetivo de sensibilizar a sociedade sobre a importância da

parceria entre instituições escolares e familiares, foi motivado por levantamento

que indicou positiva a participação dos pais no acompanhamento das aulas

(MENEZES, 2001).

A escola reclama pela falta de contribuição e participação dos pais,

mas ao que verificamos, é que ao menos sabe como de fato essa demanda

poderia existir, além da que ocorre atualmente, que se reduz, quando

eventualmente se realiza, as atividades de casa. Não que a participação em

menor expressão não faça diferença, faz sim e é muito importante. A

participação dos pais na escola deve ser qualitativa, portanto, sem demanda de

tempo, no entanto, é fundamental transmitir aos filhos sua credibilidade a

escola, orientando-os da importância do estudo e demonstrar seu apoio ao

professor. Inclusive, acompanhar e orientar o filho na atividade de casa é um

bom começo, aliás, é um dos atos da efetiva participação (ZAGURY, 2013).

No texto, Família, disciplina e ética da autora Zagury (2013), ela discute

sobre o papel da família na educação das crianças. Educar, criar filhos não é

tarefa fácil, essencialmente nos dias atuais em meio as dificuldades que o país

19

enfrenta. A autora relata do desejo dos pais em acertar e da impossibilidade

que os cerca. Na perspectiva da autora, está difícil proporcionar e conduzir a

educação dos filhos, diante de tantas mudanças ocorridas na sociedade, se

referindo sobre a fragilidade que o país vive em diversos aspectos, moral,

social, cultural, e como os pais podem administrar e impor uma postura, se

quando a criança sai na rua ou tem acesso aos meios de comunicação, se

deparam com influências contrárias ao que recebeu em casa. (ZAGURY,

2013).

Evidentemente, na atualidade, a vida está mais corrida, os pais saem

para trabalhar e ficam sem tempo algum para dedicar aos filhos, embora

acreditando fielmente que tudo que faz é em benefício dos filhos e assim é o

dilema que vive a maioria das famílias. Podemos perceber também a influência

que o nível social, intelectual e econômico das famílias impõe nesses aspectos

e fatores expostos. Maioria das famílias dos alunos da escola que realizamos o

nosso estágio, pertencem a classe social de baixa renda, operários,

ambulantes, faxineiras, pessoas que tiveram poucas ou nenhuma

oportunidade, como acesso à escola.

Muitos dos alunos são filhos de mães solteiras, outros criados por

família extensa como avós, tios. Obviamente a condição social, cultural e

econômica não generaliza o resultado de um todo. Existem famílias bem

simples, que vivem humildemente e conseguem superar os desafios em

relação a educação. Nesse sentido, a pesquisa do INEP, anteriormente

mencionada, também obteve comprovação neste aspecto. Que mesmo o

trabalho sendo o principal obstáculo apontado pelos pais por não acompanhar

o filho como deveria, algumas mães pobres, separadas, que trabalham como

faxineiras ou domésticas, dão exemplo de superação de dificuldades e

afirmaram acompanhar ativamente a vida escolar dos filhos, isso

especificamente no estado do Rio de Janeiro (PORTAL INEP, 2003).

Então, são diferentes fatores em diferentes famílias que na maioria das

vezes, no passado também não tiveram apoio, acompanhamento e

consequentemente não sabem nem como participar na vida escolar do filho.

Neste seguimento, Maria Luciana Caetano diz:

20

A intervenção pedagógica a estas questões, deve ser no sentido de considerar a necessidade da família vivenciar reflexões que lhes possibilitem a reconstrução da auto-estima, a fim de que se sintam primeiramente compreendidos e não acusados, recepcionados e não rejeitados, pela instituição escola, além de que esta última, possa fazê-los sentir-se reconhecidos e fortalecidos enquanto parceiros nesta relação

(CAETANO, 2003, p. 8).

A autora sabiamente pontua sobre a importância da aproximação da

escola e a preocupação que a mesma deve ter com o seu público. A escola

deve procurar conhecer seu aluno e respectivamente sua família e sua história.

Só assim, saberá as razões que lhe oportunizará propor medidas que

possibilitem a reestruturação do que venha a ser necessário reestruturar. A

escola diz que tenta estabelecer relação com a família, e que realiza um

trabalho de conscientizar, conversar e convidar as famílias a se fazerem mais

presentes.

No entanto, durante a convivência do estágio, o que constatamos

foram as rotineiras reuniões de pais para entrega de avaliações e

comemorações de datas exaustivamente comemoradas anualmente. Diante

dessa circunstância, nos questionamos: será que as estratégias estão sendo

adequadas ao público alvo? Será que o convite a família para se fazer presente

na escola, está sendo realmente convidativo?

Apesar dos questionamentos, entende-se que a relação da família com

a escola é um processo em construção, portanto, é considerável que tudo que

é feito em seu benefício, é válido. Neste sentido, Paro afirma o seguinte:

A escola deve utilizar todas as oportunidades de contato com os pais, para passar informações relevantes sobre seus objetivos, recursos, problemas e também sobre as questões pedagógicas. Só assim, a família irá se sentir comprometida com a melhoria da qualidade escolar e com o desenvolvimento de seu filho como ser humano (PARO, 1997, p. 30).

Considerando as palavras do autor e o fato da relação entre escola e

família estar em construção e adequação, é oportuno para a escola aproveitar

todo espaço que tiver no sentido de viabilizar a efetividade da participação e

contribuição.

Escola e família: uma parceria necessária

21

Ao longo destas discussões, procuramos deixar explícito que a escola

necessita do apoio da família e a família também necessita dos pais. Mas, é

fundamental alguns esclarecimentos e termos em mente alguns pontos

importantes. A participação da família na escola é considerável e

consequentemente o trabalho coletivo de ambas renderá, mas a ausência não

elimina o exercício da função da escola, que é promover o processo

educacional.

Deste modo, não devemos esquecer que tem o Estado como o

primeiro responsável pela educação pública, que deve ser encarregado em

garantir meios para que essa obrigação seja cumprida. Em relação a família,

esta, tem obrigação de matricular o filho na escola, sob pena de responder por

negligência. “Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos

ou pupilos na rede regular de ensino” (ECA, 1990, art. 56).

Essas disposições são lembradas em “Interação escola- família:

subsídios para práticas escolares”, uma pesquisa realizada pela Unesco,

organizada por Jane Margareth Castro e Marilza Regattieri (2009), que

apresenta uma série de sinalizações que propõe a articulação nos esforços

teóricos e práticos sobre a relação família-escola. Nesse estudo, elaborado a

partir do levantamento de experiências vivenciadas, além do suporte referencial

usado, as autoras chamam atenção para a importância do contexto familiar em

que o aluno está inserido.

Então, retomando ao que falamos anteriormente, e considerando que

a perspectiva do trabalho de pesquisa deste artigo, tem como autores

principais, alunos de escola pública e de ensino fundamental, é importante,

aliás, necessário que a escola considere o contexto familiar, visto que, a

formação do aluno e consequentemente o futuro cidadão resultante desse

aluno, será a essência da situação e circunstância que vive. O conhecimento

do contexto familiar e social é tão importante que permitirá ao professor uma

avaliação condizente a realidade do aluno, após, obviamente a um

planejamento de acordo com as diversidades encontradas.

Assim sendo, Para julgar como importante esse conhecimento, as

autoras da pesquisa, avaliaram por meio das coletas realizadas durante a

organização da obra. A pesquisa foi realizada em vários municípios do país e

22

relatam que muitos professores após ouvidos nesse estudo, afirmaram ter

modificado seu olhar, deixando de lado a expectativa de aluno ideal e

abraçando o aluno real (CASTRO e REGATTIERI, 2009).

As autoras também apresentam um outro elemento relevante apontado

como norteador, inclusive para dar suporte no desempenho do acesso ao

contexto familiar do aluno que é a convocação e interação de novos atores

para políticas educacionais. Diante de tantas funções que a escola tem para

realizar, é bem sabido que são muitos os desafios, portanto, a escola por si só,

não dá conta para resolução de tantos problemas e conflitos que surgem no

seu dia-dia e, desse modo, se requer a colaboração de outros agentes.

Os colaboradores indicados pelas autoras da pesquisa são as

Secretarias de Educação e de Assistência Social. Estes órgãos, ao

desempenhar seu papel junto à comunidade em conexão com a escola,

estarão contribuindo para intensificar e solidificar a participação da família no

processo de escolarização, apontando, e se for o caso, resolvendo possíveis

problemas ou conflitos. Obviamente esse trabalho é coletivo e como cada caso

é um caso, ou seja, só se é possível a aplicação dessa estratégia dentro do

que é convencional a cada situação. No caso da pesquisa acima mencionada,

esta, se restringiu às escolas municipais, onde as Secretarias de Educação e

Ação Social funcionam no próprio município, logo, o acesso se torna mais

viável possibilitando assim o trabalho em equipe.

Mas há outros aliados que podem e devem colaborar,

independentemente da escola ser do município ou do estado. Como é o caso

do Conselho Tutelar e o Ministério Público, que agem como interlocutores dos

agentes educacionais. O Conselho Tutelar, como um mediador, objetivando a

inspeção e o equilíbrio das relações escola e família.

De acordo com o exposto, destacamos:

Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de: I - maus-tratos envolvendo seus alunos; II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos escolares; III - elevados níveis de repetência (ECA, 1990, art. 56).

23

Compete ao Ministério Público “ zelar pelo efetivo respeito aos direitos

e garantias legais assegurados às crianças e adolescentes, promovendo as

medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis” (ECA, 1990, art. 201, VIII). Essas

mediações afetam o equilíbrio das relações de poder dentro das escolas, das

famílias e entre escolas e famílias. Ao constatar irregularidades, o Conselho

deve registrar e encaminhar ao Ministério Público, que ao receber a denúncia

ou comunicação, deverá tomar as medidas que entender pertinente ao caso

(CASTRO e REGATTIERI, 2009, p. 30).

A ação de integração da escola com a família é assegurada por lei,

pois segundo a LDB (1996), os profissionais da educação devem ser os

responsáveis pelo processo de aprendizagem, mas não estão sozinhos nessa

tarefa, visto que a lei prevê a ação integrada dos pais (LDB, 1996, art. 12).

Essa é mais uma referência de que as evidências encontradas nas

experiências são reais, benéficas e por isso merecem atenção aos seus

desdobramentos.

Durante a pesquisa para compor o presente artigo, vimos diversas

sugestões tanto para a família, como para a escola, que visam a participação

ativa da família e o fortalecimento da parceria escola-família. Entre as

sugestões destacamos para a família, algumas recomendações, entre elas, a

escolha da escola, de acordo com critérios que entenda ser o melhor perfil para

o filho.

No entanto, essa escolha, em se tratando de escola pública, de certa

forma intimida os pais. É que, maioria dos pais cultuam a ideia de que o direito

a educação se limita a simples vaga na instituição, a merenda e ao transporte,

isto, quando existe. Pois o fato de não “pagar”, por ser público, os pais

entendem que não devem fazer exigências. Quando se inicia o ano, é possível

ver em telejornais, reportagens que falam de mães em filas enormes e as

vezes não conseguem vaga para o filho.

Esse tipo de situação, geralmente ocorre na educação básica, em

bairros periféricos. Isso denota a precária situação da maioria das famílias de

baixa renda e apesar de não ser uma justificativa plausível para o pai ou a mãe

se intimidar com a situação, é compreensível seu comportamento, o qual é

derivado da falta de conhecimento. Acompanhar e auxiliar na tarefa de casa,

oportunidade em que os pais se inteiram do assunto e dos desenvolvimentos

24

das aulas. Esse é um dos pontos básicos de participação dos pais na escola.

Básico, porém necessário e fundamental. Como citamos no decorrer da escrita,

são evidentes os benefícios no desenvolvimento da criança quando os pais

participam.

Desse modo, manter o contato com a escola, e mais especificamente

com o professor do filho, se fazendo presente aos chamados ou não,

participando das reuniões e eventos promovidos pela escola, os pais agregam

valores a escola que consequentemente impulsiona no processo de ensino do

filho. Neste seguimento, os pais têm a oportunidade de conhecer melhor a

escola, o professor, a proposta pedagógica e assim, terá subsídios para

contribuição no processo de ensino aprendizagem do filho, assim como,

também cobrar. Recomenda-se também para a escola algumas sugestões,

como, apresentar a escola e funcionários para a família. Essa ideia deve ser

acatada por toda e qualquer escola e geralmente é feita no início do ano. É

uma atitude simples, porém, com repercussão muito importante.

A partir dessa ação, pais, professores, funcionários, comunidade

escolar em geral aos poucos, irão se apropriando de um sentimento mútuo de

cumplicidade e interação, que obviamente, o tempo se encarregará de

ambientar cada membro, abrindo oportunidades ao diálogo. Agendar reuniões

em horários convenientes aos pais. Sabe-se que essa é uma sugestão

praticamente impossível de abranger todos os pais, pois cada família tem seus

compromissos de trabalho e pessoais e que certamente terão horários

divergentes uma as outras pessoas.

Entretanto, é possível atingir grande parte do público neste sentido. O

importante é que esse ponto seja considerado, porque demonstra a

importância da presença dos pais. Fazer com que os pais conheçam e

discutam os objetivos da proposta pedagógica. Sabemos que a escola abrange

diversos públicos e por questões sociais como baixa escolarização, é possível

que nem todos os pais acompanhem e estendam sob o ponto de vista técnico,

a proposta pedagógica. É o caso de a escola estudar previamente o perfil das

famílias e planejar um encontro para essa temática de acordo com o público a

ser atingido. Informar a família sobre o desempenho da escola. É importante a

comunidade escolar, essencialmente os pais, cientificar-se dos avanços, ou

declínios do desempenho escolar.

25

Com base nessas informações, a família saberá o que tem pautado

para seu filho, dependendo da situação, será uma oportunidade de verificar e

corrigir possíveis danos ao desenvolvimento no processo de ensino e

aprendizagem. Oferecer oportunidades ao aluno a liberdade para manifestar-se

na comunidade escolar, permitindo-lhe a compreensão de que é o foco

principal do processo educativo. Proporcionar maior abertura da escola aos

pais. Essa abertura pode ser dada com um tratamento mais amistoso, onde a

“autoridade” do gestor fique de lado e os pais não se sintam intimidados ao se

dirigir.

A relação com um tratamento de cordialidade e respeito mútuo,

promoverá uma melhor interação entre direção, coordenação e professores,

favorecendo sentimentos de confiança e competência. Permitir a indicação de

sugestões e opiniões em eventos e projetos. O direito de ser ouvido pode

demonstrar aos pais a sua inclusão no processo. Pelo que pesquisamos e o

que foi evidenciado durante a prática de estágio, percebeu-se o quanto ainda a

escola é centralizadora.

Com isso, é concebível, em seu discurso de que está acessível, no

entanto, quando se percebe na prática, verificamos que ainda há restrições.

Promover eventos culturais com pautas estimuladoras em que toda a

comunidade escolar participe. Essa sugestão é propícia nos casos de escolas

que querem resgatar a relação com os pais ou quase não têm a participação

familiar, pois a motivação é forte aliada para esse processo de resgate ou

introdução.

A experiência mais comum a todas as escolas, no que diz respeito a

relação da escola com a família, é a reunião de pais, cujo evento é considerado

tradicional nas escolas. A princípio, entendemos que todas as reuniões de pais

são iguais. No entanto, esse evento, dependendo da sua condução, pode

aproximar, assim como também poderá distanciar.

Assim sendo, a estratégia atribuída a condução, será a responsável

pelo sucesso ou insucesso do evento. Há certos cuidados, que, se não

analisados e contemplados no planejamento, como a acolhida do público, a

transmissão de informações, a conveniência de horários que deve ser feito

previamente a reunião, poderá trazer consequências e a escola continuar

trabalhando com suposições sobre a família, pois se o evento não permitir a

26

participação ativa dos responsáveis, a escola perderá a oportunidade de

conhecer mais os responsáveis dos alunos e perder também a oportunidade de

abertura de diálogo e a consequente colaboração (Castro e Regattieri, 2009, p.

38).

Depois de reunirmos tantas informações que ressaltam a importância

da participação da família na escola e sobre o trabalho que deve ser feito para

a implementação dessa parceria, cumpre-nos fazer um questionamento: Os

agentes escolares, estão preparados para desempenhar um trabalho junto aos

pais, instigando-os a contribuir com o filho na valorização do saber? Para este

questionamento, Castro e Regattieri (2009), relatam sobre os obstáculos e a

complexidade que envolve a questão, afirmando:

[...] a relação escola-família é inevitável, compulsória (no caso do ensino fundamental, pelo menos) e importante. Ocorre que não é fácil para as escolas lidar com tantos públicos diferentes. Professores, coordenadores e diretores simplesmente não foram preparados nas faculdades para isso. Além disso, a velocidade das transformações socioculturais foi maior fora do que dentro do sistema educacional, o que gerou anacronismos nas relações escola-família que precisam ser revistos (CASTRO e REGATTIERI, 2009, p. 59).

Para reforçar esse entendimento, Paro cita:

Quanto à falta de um necessário conhecimento e habilidades dos pais para incentivarem e influenciarem positivamente os filhos a respeito de bons hábitos de estudos e de valorização do saber, o que se constata é que os professores, por si, não têm a iniciativa de um trabalho a esse respeito junto aos pais e mães (PARO, 2007, p.65)

Pelo que se percebeu até o presente momento, a relação escola-

família não é algo simples e fácil. Se trata de uma relação com pessoas de

diferentes níveis sociais e culturais, pelo que requer habilidade, estratégias,

planejamento, formação e isso sabemos, que com a demanda que a escola

tem, não é possível providenciar em curto prazo. É preciso considerar também

que a afirmação da necessidade dessa relação é algo relativamente novo,

portanto são muitos ajustes que precisam ser estudados e aos poucos

colocados em prática. E nessa perspectiva, trazemos duas questões problemas

que se complementam entre si, as quais tem viabilizado nossa pesquisa.

27

Porque a família é ausente no processo de ensino e aprendizagem de

seus filhos? E o que as impedem de se aproximarem da escola e se fazerem

presentes, participando e colaborando na condução do projeto de educação?

De certa forma, parte dessas questões forma respondidas no percurso

deste artigo, quando mencionamos anteriormente sobre a inibição dos pais em

participar, desmotivados por sua baixa escolarização ou nenhuma e a questão

de trabalhar e não ter tempo. Esta segunda justificativa é bastante conhecida

nas escolas e sabemos bem que em grande parte dos casos, trata-se de uma

desculpa, pois trata-se de questão de organização de tempo.

Como vimos, a participação pode acontecer de diversas formas,

cabendo aos pais, ver a melhor forma de poder participar da vida escolar de

seus filhos. Uma outra causa de não haver participação, é a falta de estrutura,

inclusive essa expressão é bem conhecida nas escolas, que é dada para

algumas famílias que não apresentam um perfil comum e conservador ao que

em geral se espera.

Desse modo, a família constituída por pai, mãe e os filhos, assim como

também, para as famílias de baixa renda e baixo nível de escolaridade. Há

casos de alunos de pais separados, criados por avós, e estes responsáveis,

dificilmente participam da vida escolar da criança. A começar por não

compreenderem a importância e a necessidade, desmotivado pela idade, pela

pouca escolarização, o que não lhes permite acompanhar. Essa titularidade

dada a essas famílias, de “desestruturada”, é delicada, principalmente, se

usada sem fundamento de sua origem.

A psicopedagoga, Szymanski, nos chama atenção quanto a essa ideia

que as escolas têm. É preciso conhecer, saber o perfil de família que a escola

tem, pois na maioria das vezes, esse conhecimento é baseado em

preconceitos (SZYMANSKI, 1997, p. 221).

Outra causa da pouca participação da família ou nenhuma no processo

de escolarização, é a centralização da escola que não se permite ver e

conhecer a lógica do outro, no caso, da família. Obviamente esta não é a regra,

mas este conceito ainda resiste em muitas instituições. “É preciso levar em

conta que o modo de pensar e agir das pessoas que aí atuam facilita/incentiva

ou dificulta/impede a participação dos usuários” (PARO, 2001, p. 47). E essa

atitude pode estar relacionada ao escolacentrismo, uma percepção

28

apresentada por Castro e Regattieri (2009), baseada em pesquisa realizada em

diversas escolas e neste sentido, afirmam:

A interação com as famílias nos moldes como estamos concebendo aqui é recente na história da educação brasileira, por isso ela requer mudanças de mentalidade de todos os envolvidos. Segundo várias pesquisas, as escolas frequentemente representam as famílias como uma extensão de si mesmas, sem perceber as diferenças de lógica de um espaço a outro. Esse traço, de colocar a lógica da instituição escolar no centro do diálogo, é chamado escolacentrismo e costuma impedir que os agentes escolares escutem e compreendam o ponto de vista das famílias (CASTRO e REGATTIERI, 2009, p. 43).

A interação escola-família é um processo delicado e escasso, onde as

razões apontadas denotam a fragilidade que há na relação de tal maneira que

se faz necessário intervenções, projetos e estratégias para sua respectiva

promoção. E certamente, além das causas apontadas, devem existir outros

motivos, considerando a abrangência desta temática, a pluralidade de

instituições em diversos lugares e com diversas culturas.

Os obstáculos existem e devem sempre ser questionados, debatidos,

contrariados, até que se obtenha solução ou superação, dependendo da

dificuldade. No entanto, se há perspectivas de melhor desenvolvimento da

criança quando a família participa do processo, e para isso, seja necessário

engajar numa luta para que esse processo de participação dos pais aconteça,

a ideia é que, se enfrente essa demanda, ultrapasse as dificuldades, buscando

apoio onde for necessário e fazer acontecer, para o bem da escola, da família e

essencialmente, da criança. Segundo Paro (2001), para acontecer a

participação é preciso agir, e essa ação se efetivará na medida que vai fazendo

acontecer, sem, contudo, deixar de refletir sobre as objeções.

A participação da comunidade na escola, como todo processo democrático, é um caminho que se faz ao caminhar, o que não elimina a necessidade de se refletir previamente a respeito dos obstáculos e potencialidades que a realidade apresenta para a ação (PARO, 2001, p. 17).

É comum ouvir reclamações que envolvem a educação, seja sobre o

tipo de ensino, a estrutura física das escolas, capacitação de funcionários, a

desvalorização do professor e é bem verdade que vivemos ao longo de muitos

29

anos uma defasagem na educação. É bem sabido que maioria dos problemas

que a educação enfrenta, cabe ao poder executivo, resolver.

No entanto, sabemos também de situações que permeiam os espaços

escolares que nem sempre os pais ficam cientes e muito menos, percebem a

consequência no ensino de seu filho. Diante da realidade, cabe a comunidade

escolar, enquanto participante do processo educativo, nesse caso,

especificamente, os pais, inteirar-se desses problemas, participando

ativamente da escola, passando a exigir se for o caso, de melhor condução no

processo educativo.

É necessário fazer parte do processo para poder cobrar por uma

educação de melhor qualidade, igualitária, democrática, participativa e que

ofereça a estrutura, que é de direito. Na medida em que se participa, se

apodera do conhecimento, o que dará subsídios para questionar, escolher,

opinar, e assim, fortalecer a escola, buscando para ela o que é adequado para

um melhor funcionamento, tal objetivo é o que toda família almeja para seus

filhos, uma boa escola para uma melhor educação. E certamente, é o que a

escola também deseja.

Destarte, o trabalho de envolver e atrair a família para escola, trará

inovação, beneficiando ambas instituições, família e escola que trabalham e

objetivam um único ideal, que é estabelecer e trilhar um caminho que os levem

a uma escola que promova uma educação de melhor qualidade. A

psicopedagoga e escritora Isabel Cristina Hierro Parolin, ratifica esse interesse

tanto da família, como da escola no objetivo de preparar crianças e da

atribuição social de cada uma, se interligando por uma justa causa, neste

sentido, cita:

[...] tanto a família quanto a escola desejam a mesma coisa: preparar as crianças para o mundo; no entanto, a família tem suas particularidades que a diferenciam da escola, e suas necessidades que a aproximam dessa instituição. A escola tem sua metodologia e filosofia, no entanto ela necessita da família para concretizar seu projeto educativo (PAROLIN, 2003, p. 99).

O trabalho coletivo é indispensável para o crescimento e prosperidade

da comunidade escolar, essencialmente no progresso dos principais

interessados no ambiente escolar e em seu entorno, o que na concepção do

autor Vitor Paro (2007, p.18) é entendido que “[...] uma sociedade democrática

30

só se desenvolve e se fortalece politicamente de modo a solucionar seus

problemas se contar com a ação consciente e conjunta de seus cidadãos [...]”.

Essa afirmação do autor vem ao encontro dos argumentamos que

apresentamos até o presente momento, evidenciando que a participação dos

pais no processo educativo, se apresenta como uma grande possibilidade de

desenvolvimento dos alunos.

Considerações finais

Pelos apontamentos e resultados de relevantes pesquisas, ficou

evidente a fundamental importância da participação da família na escola.

Ressaltando que essa participação se estende ao processo de escolarização,

ou seja, a contribuição dos pais no processo de ensino e aprendizagem do

aluno e não somente adentrar e percorrer os espaços escolares.

Assim, essa percepção é um pouco do que foi percebido, pois a

pesquisa é contínua, ainda mais, por tratar-se de um tema que demanda

complexidade e particularidade. O artigo foi composto por pesquisa, reflexão e

contextualização de informações e experiências, as quais ainda não foram

suficientes, mas, significativas para embasar a nossa proposta e explanar

grande parte do que há em volta desse processo. Durante a pesquisa para

construir o presente artigo, a participação dos pais no processo escolar,

revelou vários aspectos positivos, entre as vantagens, maior desempenho

escolar; o melhor desenvolvimento da criança; reflexos positivos na

aprendizagem.

Aproximar a família da escola e fazer com que tenha uma participação

ativa no processo escolar, é tarefa da escola, por dispor de profissionais que se

não capacitados exatamente para este fim, mas que dispõem do mínimo de

conhecimento na área. Não é por falta de formação direcionada, que a relação

escola-família não possa ser implementada pela escola, pois essa iniciativa

deve partir da instituição escolar, considerando que pai e mãe em sua maioria,

desconhecem sobre o assunto. Nessa busca, deve-se considerar o trabalho

intenso que deve ser para efetivar e estreitar a relação, permitindo abertura

para ouvir, conhecer e compreender as diversas situações das diferentes

famílias.

31

Neste seguimento, os diferentes núcleos familiares, a ausência dos

pais na escola, a velocidade das informações, o avanço da tecnologia, o uso

desenfreado de mídias, são alguns dos desafios que a escola enfrenta nos dias

atuais. E esses desafios não chegam somente como um obstáculo a ser

ultrapassado, mas também soam como instigação e nessa perspectiva,

percebemos que surgem não apenas como uma luta de superação, mas

possibilitando oportunidade de adquirir mais conhecimento.

Desta forma, se hoje a família tem uma nova composição, isso nos

permite vivenciar uma nova experiência. As novas informações e a tecnologia

são desafios que nos instiga a descobrir o novo, aprender com ele e fazer

proveito de seu uso pela vasta extensão e capacidade tecnológica. Portanto, a

escola precisa criar possibilidades e ampliar o que consta em sua prática de

forma a facilitar a interação e estreitar a relação escola-família.

Propomos ao longo da pesquisa e escrita deste artigo, nos questionar

sobre as razões pelas quais os pais pouco ou nada participam do processo

escolar dos filhos. E no decorrer do trabalho, percebemos que são vários os

motivos e maioria deles são de ordem social. Foi verificado também que essa

discussão sobre a importância dos pais na escola é assunto corrente nos dias

atuais; que o interesse pela aproximação dos pais para com a escola,

aumentou significativamente e esse interesse vem partindo da escola que tem

demonstrado desejo por apoio e colaboração.

Deste modo, ficou claro que além da família, a escola é um outro

ambiente que proporciona a criança a oportunidade de construir sua

identidade, acrescentando mais, especificamente nas áreas de conhecimento

científico, teórico, enquanto que a família cuida e orienta a parte emocional. E

embora ambas promovam conhecimento de áreas distintas, o objetivo das

duas é comum aos dois lados, proporcionar o melhor desenvolvimento da

criança, tornando-a um ser capaz, preparado para a vida e para a sociedade

que o espera. Neste aspecto, Paro, ratifica esse propósito da escola e da

família e conclui nossa argumentação com uma afirmação que declara

consideravelmente a relação escola-família.

A escola por sua maior aproximação às famílias, constitui-se em instituição social importante na busca de mecanismos que favoreça um trabalho avançado em favor de uma atuação que

32

mobilize os integrantes tanto da escola, quanto da família, em direção a uma maior capacidade de dar respostas, aos desafios que impõe a essa sociedade (PARO, 1997, p. 30).

Pautados nessas colocações, percebemos que é viável a escola

renovar sua linguagem, sua metodologia e investir em estratégias, para que a

participação dos pais no processo escolar passe a existir onde não há e seja

mais frutífera onde pouco existe.

Pela extensão que o tema remete, é concebível que se permita acoplar

muito mais informações do que aqui foi apresentado, no entanto, para

procedermos com uma pesquisa mais abrangente, se faz necessário um

estudo de caso que tomaria um tempo maior de estudos. Embora tenha

constado neste trabalho a experiência do estágio, e considerando a sua

importante colaboração para a composição deste artigo, ainda não foi

suficiente para conclusões com dados específicos. Seria necessário um tempo

maior para pesquisa de campo com maior elaboração, a considerar a

observação e análise de uma determinada turma ou escola, assim como

também uma intensa pesquisa bibliográfica.

As atribuições da família e da escola; a necessidade da parceria; a

participação da família no processo de escolarização; a forma como as escolas

trabalham; os benefícios e as consequências que a relação ou sua ausência

implicam em ambas instituições, foram os componentes da pesquisa e reflexão

do presente artigo, desenvolvidos cada uma com sua relevância ao estudo, nos

proporcionando análise das coletas e nos permitindo continuar pesquisando e

questionando.

Certamente, essa discussão não cessa por esse meio, pois há de vir

sucessivas pesquisas que cada vez mais argumente e exponha estratégias

diante de cada situação localizada e analisada.

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