a implantacao usinas hidreletricas processo de licenciamento ambiental

Upload: yuri-de-castro

Post on 20-Jul-2015

108 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBPROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DA ENERGIA

A IMPLANTAO DE USINAS HIDRELTRICAS E O PROCESSO DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL: A IMPORTNCIA DA ARTICULAO ENTRE OS SETORES ELTRICO E DE MEIO AMBIENTE NO BRASIL

Autora: Eng. MICHELINE FERREIRA FACURI

Dissertao

apresentada

ao

Programa

de

Ps-

graduao em Engenharia da Energia da Universidade Federal de Itajub como parte dos requisitos para obteno do ttulo de Mestre em Engenharia da Energia, rea de Concentrao Planejamento

Energtico.

Orientador: Prof. Dr. FRANCISCO ANTNIO DUPAS

Itajub MG Dezembro - 2004

ii

DEDICATRIA

Aos meus pais amados PAULO e MIRIAN, pelo imenso amor que existe entre ns, pela educao, dedicao e confiana em todos os momentos de minha vida. Muito obrigada pelos carinhos, pelas alegrias e pelas oportunidades que sempre me deram para que eu pudesse alar vos cada vez mais altos. Ao meu querido LUIS HENRIQUE BASSI pelo amor, pacincia, dedicao e companheirismo. Muito obrigada por estar ao meu lado em momentos mais difceis de minha vida e tambm nos momentos mais gratificantes e felizes. Muito obrigada por tudo!

minha TIA MNICA (in memoriam), pela sua alegria e vontade de viver, pela sua coragem e perseverana, pela sua f acima de qualquer coisa. Muito obrigada por ter mostrado para todas as pessoas que tiveram a oportunidade de estar ao seu lado, o quanto a vida bela e importante de ser verdadeiramente vivida.

minha amada V NEGA (in memoriam), pelo amor, respeito, carinho e confiana. Muito obrigada por sempre ter acreditado e apostado em mim.

__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

iii

AGRADECIMENTOS

DEUS por me dar sade, f, fora de vontade e permitir conquistas. ANEEL pela oportunidade de crescimento intelectual, profissional e pessoal. Sou grata pelos cursos oferecidos para o meu aperfeioamento, pelo importante tempo de experincia na agncia, pela credibilidade no meu trabalho, pelos ensinamentos tcnicos e principalmente por mostrar-me que possvel ser profissional lidando com tica e humildade. Ao orientador Prof. Dr. FRANCISCO ANTNIO DUPAS pela credibilidade e confiana na elaborao deste trabalho e pelos ensinamentos cientficos. Aos rgos Institucionais envolvidos no trabalho, em especial ANEEL, ao Ministrio de Minas e Energia, aos rgos ambientais de quase todo o pas, pela troca de informaes e materiais. Ao meu eterno mestre e parceiro profissional JOO AUTTO MAGALHES CASTRO, pelos ensinamentos, pelo carinho e ateno, pela bela parceria. Muito obrigada por ter me ensinado a ser uma articuladora. Ao meu admirvel amigo PAULO NASCIMENTO, pela amizade, proteo, conselhos e fidelidade. Muito obrigada por acreditar em mim.

s minhas lindas maninhas KARINE e NICOLE e aos meus avs MOISS, MARINA,NAGIB (in memoriam) e a MARIA MANSUR (V NEGA) (in memoriam). Muito obrigada pela confiana e pela fora. Muito obrigada por apostarem sempre em mim. Ao meu amigo irmo espiritual BETO pelo otimismo e apoio. Muito obrigada por esta amizade to forte e slida construda ao longo de vidas. Aos meus companheiros de jornada de trabalho e meus amigos orientadores FERNANDO CAMPAGNOLI , WOUGRAN GALVO e MARY ANGOTTI, pela orientao, pelos ensinamentos, pelas parcerias e por serem estas pessoas maravilhosas e queridas. Aos meus queridos amigos do CENARIOS: Carlos Alberto Calixto Mattar, Carlos Roberto Camura, Marcelino Cruz, meus maiores incentivadores para encarar mais um desafio acadmico. Aos meus amigos que muito me ajudaram na ANEEL: Afonso Henriques Moreira Santos, Jos Alves de Mello, Cristiano Abjaode Amaral, Hlvio Neves Guerra, Christina Salimena, Lcia Helena Michels, Maria Helena Novaes, Camille Ferraz, Francisco Neris, Ldia Meija, Luciano Reis, Fabiano Mafra e Edson Leite.

Aos meus amigos: Luiz Antnio (MME), Denise Nicolaides (Ministrio Pblico), Neuza Marcondes (SMA/SP), Paulo Arruda, Marcus Vincius, Agostinha, Jorge Lus, Claret, Mnica e Mirian (IBAMA), Morel (FEAM/MG), Carneiro (FATMA/SC), Daphine e Suzan (FEMA/MT), Slvia e Eduardo (FEEMA/RJ), Francisca (IMAP/MS), Roberto Freire, Emiliano e Neuzelides (Agncia Goiana de Meio Ambiente), Adriana Coli (UNIFEI), Daniela Maia e Gustavo Cabral.

__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

iv

SUMRIO

Pgina

LISTA DE FIGURAS.......................................................................................................... vi LISTA DE TABELAS......................... ............................................................................... vii LISTA DE ABREVIATURAS, SGLAS E SMBOLOS................................................... viii

RESUMO............................................................................................................................ x ABSTRACT........................................................................................................................ xi CAPTULO 1 INTRODUO..................................................................................... CAPTULO 2 OBJETIVOS.......................................................................................... CAPTULO 3 REVISO BIBLIOGRFICA............................................................. 01 05 06

3.1 Caractersticas do setor eltrico brasileiro..................................................................... 06 3.1.1 Evoluo histrica e aspectos legais..................................................................... 07

3.1.2 Novo modelo do setor eltrico brasileiro ................................................................... 11 3.1.3 Expanso da oferta de energia eltrica no Brasil........................................................ 14 3.2 Etapas necessrias para implantao de usinas hidreltricas......................................... 16 3.2.1 Estudo de inventrio hidreltrico................................................................................ 17 3.2.2 Estudo de viabilidade.................................................................................................. 18 3.2.3 Licitao para concesso............................................................................................ 20

3.2.4 Projeto Bsico............................................................................................................. 21 3.2.5 Projeto Executivo........................................................................................................ 21 3.3 Questes ambientais na implantao de usinas hidreltricas........................................ 3.3.1 Legislao ambiental pertinente................................................................................. 22 27

3.4 Instrumentos da Poltica Nacional do Meio Ambiente.................................................. 30 3.4.1 Licenciamento ambiental............................................................................................ 31 3.4.2 Licenas ambientais e seus procedimentos................................................................. 32 3.4.3 Avaliao de Impacto Ambiental .............................................................................. 35

3.4.3.1 Relatrio de Impacto Ambiental.............................................................................. 36 3.4.3.2 Termo de Referncia................................................................................................ 36 3.4.3.3 Audincia Pblica.................................................................................................... 37 3.4.4 Diagnstico ambiental................................................................................................ 38

__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

v

CAPTULO 4 METODOLOGIA.................................................................................. 40 4.1 Material.......................................................................................................................... 40 4.2 Mtodo........................................................................................................................... 40 CAPTULO 5 RESULTADOS E ANLISES.............................................................. 5.1 Caracterizao das usinas hidreltricas licitadas entre 1996 e 2003............................. 5.2 Usinas hidreltricas em construo............................................................................... 5.3 Usinas hidreltricas com obra no iniciada................................................................... 44 44 49 51

5.4 Aes judiciais e questes ambientais........................................................................... 55 5.5 Anlise da situao das usinas hidreltricas licitadas entre 1996 e 2003...................... CAPTULO 6 CONSIDERAES FINAIS E RECOMENDAES..................... CAPTULO 7 CONCLUSO....................................................................................... REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS............................................................................ 58 64 71 73

__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

vi

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 5.1 Localizao das 54 UHE............................................................................. FIGURA 5.2 Situao das UHE (potncia)...................................................................... FIGURA 5.3 Motivo do atraso de UHE em construo (potncia).................................. FIGURA 5.4 Motivo do atraso de UHE com obras no iniciadas....................................

46 48 51 55

FIGURA 5.5 UHE com e sem problemas......................................................................... 60 FIGURA 5.6 UHE com e sem problemas motivos (potncia)....................................... 61 FIGURA 5.7 UHE com e sem problemas ambientais (potncia)..................................... 63

FIGURA 5.8 Diagnstico ambiental da bacia Taquari-Antas no RS................................ 67

__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

vii

LISTA DE TABELAS

TABELA 5.1 Relao das UHE licitadas entre 1996 e 2003...........................................

44

TABELA 5.2 Situao atual das UHE licitadas entre 1996 e 2003.................................. 47 TABELA 5.3 Resultado das licitaes realizadas no perodo de 1996 a 2003................. 48 TABELA 5.4 Situao do cronograma de implantao das UHE em construo........... 49

TABELA 5.5 UHE em construo com cronograma de implantao atrasado................ 50 TABELA 5.6 Motivo do atraso das UHE em construo................................................. 50 TABELA 5.7 Situao do cronograma de implantao das UHE com obra no iniciada 52 TABELA 5.8 UHE com obra no iniciada com cronograma atrasado............................. 53

TABELA 5.9 Motivo de atraso das UHE com obra no iniciada..................................... 54 TABELA 5.10 UHE com demandas judiciais.................................................................. 56

TABELA 5.11 Situao das UHE com e sem problemas................................................. 59 TABELA 5.12 Situao das UHE com problemas - motivos........................................... 61 TABELA 5.13 Situao das UHE com problemas ambientais......................................... 63

__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

viii

LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SMBOLOS

AAE - Avaliao Ambiental Estratgica AAI - Avaliao Ambiental Integrada AIA - Avaliao de Impacto Ambiental AGMA - Agncia Goiana do Meio Ambiente ANEEL - Agncia Nacional de Energia Eltrica AP Auto-produtor de Energia Eltrica CCEE Cmara de Comercializao de Energia Eltrica CNEN Comisso Nacional de Energia Nuclear CNPE Conselho Nacional de Poltica Energtica CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente DNAEE Departamento Nacional de guas e Energia Eltrica EIA - Estudo de Impacto Ambiental EPE Empresa de Pesquisa Energtica FEPAM - Fundao Estadual de Proteo Ambiental - Rio Grande do Sul FUNAI - Fundao Nacional do ndio LP - Licena Prvia LI - Licena de Instalao LO - Licena de Operao IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis IPHAN - Instituto do Patrimnio Histrico e Artstica Nacional MAB - Movimento de Atingidos por Barragens MAE Mercado Atacadista de Energia Eltrica MMA Ministrio do Meio Ambiente__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

ix

MME Ministrio de Minas e Energia MPE - Ministrio Pblico Estadual MPF - Ministrio Pblico Federal MW Mega Watts OEMA rgo Estadual de Meio Ambiente ONS Operador Nacional do Sistema Eltrico PBA Projeto Bsico Ambiental PCH Pequena Central Hidreltrica PDG Plano Decenal de Gerao PDMA Plano Diretor para Proteo e Melhoria do Meio Ambiente PI Produtor Independente de Energia Eltrica PND Plano Nacional de Desestatizao PNMA Poltica Nacional do Meio Ambiente RAS - Relatrio Ambiental Simplificado RIMA - Relatrio de Impacto Ambiental SEB - Setor Eltrico Brasileiro SISNAMA Sistema Nacional de Meio Ambiente SLAP Sistema de Licenciamento de Atividades Poluidoras SP Servio Pblico de Energia Eltrica TR - Termo de Referncia UHE - Usina(s) Hidreltrica(s)

__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

x

RESUMOAs usinas hidreltricas representam a principal fonte de gerao no Brasil. Na matriz energtica brasileira, verifica-se que a base da capacidade instalada do parque gerador a explorao de potenciais hidrulicos. O momento que o setor eltrico atravessa implica a premente necessidade de agilizar a entrada de novas unidades geradoras. Isso minimizaria o risco de dficit de oferta de energia, o que colabora para a expanso da oferta de energia eltrica. A presente pesquisa tem como objetivo sistematizar e comentar um conjunto de dados e informaes relativas ao processo de implantao de usinas hidreltricas j licitadas. Foram levantados, tambm, dados sobre a situao atual das usinas hidreltricas licitadas a partir de 1996. Esses dados contm as principais implicaes encontradas nos empreendimentos que esto com seus cronogramas atrasados. Busca-se, portanto, mostrar que se houver maior incorporao de instrumentos de gesto ambiental no processo de planejamento de projetos hidreltricos, poder haver maior possibilidade de se viabilizar a implantao de novas usinas hidreltricas, com melhor qualidade dos estudos ambientais. Assim sendo, o processo de licenciamento ambiental poder ocorrer em prazos mais adequados. Os resultados gerados indicam que dos 54 empreendimentos licitados, 28 esto com problemas ambientais, correspondendo a 43,30% da potncia outorgada. Isso permite inferir que h necessidade de uma maior interao entre os setores eltrico e ambiental. Com a anlise dos resultados, conclui-se que o licenciamento ambiental de empreendimentos de gerao tem sido motivo de preocupao dos agentes do setor eltrico. Isso acontece seja pela necessidade de aprimoramento dos estudos ambientais ou pela necessidade de trmites burocrticos para obteno das licenas - principalmente quanto s aes judiciais e processos de licenciamento ambiental. Finalmente, a identificao adequada dos entraves do licenciamento, permite obter um processo mais eficaz para a implantao de usinas hidreltricas, gerando resultados mais geis e consistentes.

Palavras Chaves:Licenciamento Ambiental.

Expanso do Setor Eltrico Brasileiro; Usinas Hidreltricas;

__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

xi

ABSTRACTHydroelectric power plants stand for the main generation source in Brazil. The basis of the national generator park installed capacity is the exploration of hydraulic potency when the Brazilian energetic die is observed. The atmosphere that the Brazilian electric sector is found now asks for new generator units. In this sense, it would decrease energy offer deficit risk, which collaborates to the electric energy offer expansion effort. This research aims to join and to comment on a group of data and information regarding to the process of implantation of hydroelectric power plants already bid. It includes up to date data on hydroelectric power plants bid since 1996. This data describe the main implications found in the enterprises that are late in their schedules. It shows that the greater the environmental management instruments incorporation in hydroelectric projects planning process, the greater the possibility of new hydraulic generation enterprises with better quality of environmental studies implantation. In this way, it makes even better the process of environmental licensing that could occur in a more adequate deadline. As a result, 28 - out of 54 - enterprises bid are found with environmental problems, which represent 43.30% of bestowed potency. It is possible to infer, thus, that there is a need of more interaction between the electric and the environmental sectors. After analyzing the results, it is concluded that the generation enterprises environmental licensing has been worrying the electric sector agents. This happens due to the need of refinement on environmental studies or due to the need of bureaucracy to get licenses mainly regarding to judicial actions and environmental issues. Finally, the adequate identification of environmental licensing drags allows a more efficient process to hydroelectric power plants implantation, which generates more consistent and faster results.

Key-words: Brazilian electric sector expansion; Hydroelectric power plants; Environmentallicensing.

__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

Captulo 01 Introduo____________________________________________________

1

CAPTULO 01 INTRODUOCom base na premissa de que a economia do Brasil depende, em grande medida, do aproveitamento adequado do potencial de gerao de energia eltrica para sustentar o seu crescimento, pode-se afirmar que o Setor Eltrico Brasileiro - SEB tem uma responsabilidade estratgica no desenvolvimento do pas. A histria tem confirmado a necessidade de expanso do parque gerador nacional em atendimento crescente demanda por energia eltrica. Por ser um pas privilegiado por seu imenso potencial hidreltrico, a matriz de energia eltrica foi, ao longo dos anos, sendo moldada base de grandes usinas hidreltricas. A construo dessas usinas representava, poca, muito mais do que a possibilidade de converter um potencial hidrulico em energia eltrica: significava tambm a opo estratgica pelo uso de uma forte vantagem competitiva do pas, em benefcio de seu desenvolvimento, em especial daquelas regies consideradas prioritrias pelo governo federal. Nesse contexto, inmeras usinas hidreltricas foram construdas, sob o comando estatal e sob a condio de monoplio. Todo o processo de implantao dessas usinas estava sob coordenao da Eletrobrs, por meio de suas subsidirias (Eletronorte, Chesf, Furnas e Eletrosul). As diversas bacias hidrogrficas do pas comeavam a sofrer as conseqncias da construo de barragens e formao de vastos reservatrios. Na dcada de 70 e incio dos anos 80, ainda no estava em voga a questo ambiental, a preocupao com o meio ambiente. A sociedade estava deslumbrada com o progresso que a construo de grandes usinas hidreltricas e outros elementos da infra-estrutura nacional proporcionava a inmeros estados e municpios. Como no se tinha conhecimento para mensurar os impactos ambientais que essas usinas causavam ao meio ambiente, a viabilizao delas dependia, nica e exclusivamente, da disponibilidade de recursos oramentrios. Nesse ambiente, foram formados os grandes reservatrios, a maioria nas cabeceiras, responsveis por regularizar as vazes dos principais rios do pas. A concepo, viabilizao e implantao ocorreram sem que houvesse uma participao efetiva dos agentes de meio ambiente, ento inexistentes. Portanto, durante esse perodo, no se falava em estudos ambientais, varivel ambiental, medidas mitigadoras ou compensatrias. Pode-se afirmar que a dimenso ambiental estava ausente na definio das polticas pblicas.

__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

Captulo 01 Introduo____________________________________________________

2

O marco regulatrio jurdico da proteo ambiental ocorreu por meio da Lei n 6.938, de 31 de agosto de 1981, que instituiu a Poltica Nacional do Meio Ambiente PNMA e o SISNAMA Sistema Nacional de Meio Ambiente como rgo executor. Passou-se a exigir, em nvel nacional, o licenciamento ambiental e a Avaliao de Impactos Ambientais - AIA para atividades efetivas ou potencialmente poluidoras ou utilizadoras dos recursos ambientais, envolvendo tanto o poder pblico quanto a iniciativa privada. Na dcada de 80, as questes ambientais comearam a ganhar fora no pas, principalmente em funo de presses externas. A preocupao com o meio ambiente comeou a ganhar fora e a requerer normas, leis e regulamentos que disciplinassem a construo de empreendimentos que produzissem impactos ambientais, seja no perodo de construo ou de operao. No mbito da estrutura do SISNAMA, foi criado o Conselho Nacional de Meio Ambiente CONAMA que, em 1986, emitiu a Resoluo 001 que determina a apresentao de estudo de impacto ambiental e seu respectivo relatrio como parte integrante do processo de licenciamento ambiental. A Resoluo CONAMA 006/87 criou regras especficas para o licenciamento ambiental de empreendimentos de grande porte, como as de gerao e transmisso de energia eltrica. Nos trabalhos de reviso da Constituio Federal, em 1988, o artigo 225 torna obrigatria, a elaborao de estudo prvio de impacto ambiental para instalao de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradao do meio ambiente. Com a construo de um arcabouo jurdico e o fortalecimento dos conceitos de conservao e preservao ambiental, a implantao de grandes usinas hidreltricas no mais dependia exclusivamente da necessidade de expanso do setor eltrico. nesse momento que comea a surgir a necessidade de inserir a varivel ambiental no planejamento da expanso do setor eltrico. No perodo compreendido entre a metade dos anos 80 e o presente, muitos esforos e avanos ocorreram em busca de aperfeioamentos nos estudos ambientais e nos processos de licenciamento. O setor eltrico liderou esses esforos, dispondo hoje de um rico acervo de metodologias, critrios e procedimentos para o tratamento das questes ambientais em seus empreendimentos. Em paralelo, os rgos ambientais, em que pesem as dificuldades oramentrias e polticas, tambm conseguiram importantes conquistas: foram obtidos

__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

Captulo 01 Introduo____________________________________________________

3

aprimoramentos em suas estruturas e, melhor do que isso, foram promovidos treinamento e capacitao de um nmero expressivo de profissionais nas mltiplas disciplinas integrantes das cincias sociais e ambientais, seja na esfera federal, seja em numerosos estados da federao. Cumpre, porm, registrar que atualmente notvel o descompasso entre os setores de infra-estrutura e a rea de meio ambiente. Prova inequvoca pode ser dada pelo nmero de usinas hidreltricas j licitadas que esto com o processo de licenciamento ambiental paralisado em funo de questionamentos do Ministrio Pblico e da postura do rgo ambiental de indeferir o referido processo. Essa condio, preocupante por diversas ticas, fornece um sinal de incerteza que dificulta a atrao de investimentos privados; prejudica o planejamento da expanso devido a no-implantao de usinas inicialmente previstas na carteira de empreendimentos necessrios a suprir o aumento da demanda por energia; eleva o risco de racionamento; atrasa o cronograma de implantao dos empreendimentos; suscita discusses na esfera judicial que perduram, em muitos casos, por muito tempo. Dessa forma, para se compatibilizar melhor o planejamento do setor eltrico com a as normas do licenciamento fundamental a maior interao entre os rgos setoriais e demais agentes envolvidos com o processo de licenciamento. Na dcada de 90, aps a implantao do Programa Nacional de Desestatizao PND, houve a insero de novos agentes no setor eltrico, tais como os agentes privados de gerao, a Agncia Nacional de Energia Eltrica - ANEEL, o Operador Nacional do Sistema Eltrico ONS, o Mercado Atacadista de Energia Eltrica - MAE, o Conselho Nacional de Poltica Energtica - CNPE, entre outros. Com a publicao das Leis n 9.427/96 e n 9.648/98, o setor eltrico passou a ter um modelo no qual se pretendia que o monoplio na gerao se transformasse num ambiente de competio. A efetiva implementao dessa poltica criou um novo patamar de entendimento entre o setor eltrico, as agncias pblicas e os segmentos sociais envolvidos ou afetados por seus empreendimentos. Definidas as diretrizes de atuao, durante a dcada de 90, novos esforos foram orientados para o desenvolvimento e aprimoramento de instrumentos que possibilitassem a operacionalizao destes conceitos.

__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

Captulo 01 Introduo____________________________________________________

4

Observe-se que, segundo as regras atuais, de acordo com o exposto no Decreto n 5.184, de 16 de agosto de 2004, que cria a Empresa de Pesquisa Energtica EPE, para um aproveitamento hidreltrico ser licitado, necessrio que sejam aprovados os estudos de engenharia, inventrio e viabilidade, e que se tenha obtido a Licena Prvia Ambiental - LP. Nesse sentido, as recomendaes relativas implantao de futuros projetos devem ser examinadas luz dos avanos j alcanados, seja pela existncia de novo contexto polticoinstitucional, seja pelos marcos legais estabelecidos. Acrescenta-se que tal contexto tem em vista a preocupao da sociedade com a questo ambiental e, conseqentemente, a prpria mudana de postura do setor, no tratamento das questes sociais e ambientais. Este trabalho fundamenta-se no estudo do impacto das questes ambientais no processo de implantao de usinas hidreltricas. Inicialmente, descreve-se, respectivamente, nos captulos 1, 2 e 3 o contexto histrico da insero da varivel ambiental no planejamento de usinas hidreltricas no Brasil; os objetivos desta pesquisa e a reviso bibliogrfica sobre essas questes. O captulo 4 apresenta a metodologia utilizada para o procedimento de anlise e organizao dos dados encontrados. No captulo 5 os resultados so descritos e segue-se aos resultados, uma anlise crtica da situao das usinas hidreltricas licitadas de 1996 a 2003; a situao do cronograma e os motivos do atraso e as questes ambientais e judiciais, no desenvolvimento de tais empreendimentos. Finalmente, as consideraes finais, recomendaes e concluso deste estudo so apresentadas.

__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

Captulo 02 Objetivos____________________________________________________

5

CAPTULO 02 - OBJETIVOSObjetivo GeralSistematizar e analisar o conjunto de dados e informaes relativo implantao das usinas hidreltricas licitadas a partir de 1996, sob o enfoque do processo de licenciamento ambiental.

Objetivos Especficos Contextualizar o setor eltrico brasileiro; Contextualizar o setor de meio ambiente; Descrever as etapas de implantao de usinas hidreltricas; Descrever o processo de licenciamento ambiental de usinas hidreltricas; Avaliar a expanso da oferta de energia eltrica por meio da implantao das usinas hidreltricas; Apresentar as questes ambientais envolvidas na implantao de usinas hidreltricas; Descrever o panorama atual das usinas hidreltricas licitadas a partir de 1996; Contribuir para a compatibilizao dos interesses dos setores eltrico e de meio ambiente.

__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

Captulo 03 Reviso Bibliogrfica___________________________________________ 6

CAPTULO 3 REVISO BIBLIOGRFICA3.1 Caractersticas do Setor Eltrico BrasileiroA capacidade de gerao do Brasil de 82,35 GW. Existem, ainda, sistemas isolados no norte do pas, cujo parque gerador representa 3,5% do parque nacional instalado. A base geradora eminentemente hidrulica (78%), com a gerao trmica exercendo a funo de complementaridade nos momentos de pico do sistema. Uma caracterstica importante da gerao eltrica brasileira a coordenao da operao das usinas hidreltricas para a otimizao da utilizao do parque instalado (SILVA, 2004). Pouco menos de 60% da capacidade instalada, no Brasil, est na bacia do rio Paran. Outras bacias importantes so as do So Francisco e do Tocantins, com 16% e 12%, respectivamente, da capacidade instalada no pas. As bacias com menor potncia instalada so as do Atlntico Norte/Nordeste e Amazonas, que somam apenas 1,5% da capacidade instalada, no pas. Em termos de esgotamento dos potenciais, verifica-se que as bacias mais saturadas so as do Paran e do So Francisco, com ndices de aproveitamento (razo entre potencial aproveitado e potencial existente) de 64,5% e 39,2%, respectivamente. As menores taxas de aproveitamento so verificadas nas bacias do Amazonas e Atlntico Norte/Nordeste. Em nvel nacional, cerca de 25,6% do potencial hidreltrico estimado j foi aproveitado. Em relao ao potencial inventariado, essa proporo aumenta para 37,3%. Os baixos ndices de aproveitamento da bacia do Amazonas devem-se ao relevo predominante da regio (plancies), grande diversidade biolgica e distncia dos principais centros consumidores de energia. J na regio centro-sul do pas, o desenvolvimento econmico muito mais acelerado e o relevo predominante (planaltos) levaram a um maior aproveitamento dos seus potenciais hidrulicos. Mas o processo de interiorizao do pas e o prprio esgotamento dos melhores potenciais das regies Sul e Sudeste tm requerido um maior aproveitamento hidrulico de regies mais remotas e economicamente menos desenvolvidas. Na primeira metade do sculo XX, a grande maioria dos projetos hidreltricos foi instalada na regio Sudeste. At 1950, as usinas estavam concentradas prximas ao litoral, entre os Estados de So Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

Captulo 03 Reviso Bibliogrfica___________________________________________ 7

Atualmente, h uma disperso mais acentuada, cujo centro de massa est localizado entre os estados de So Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Gois. No perodo de 1945 a 1970, os empreendimentos se espalharam mais em direo ao Sul e ao Nordeste, com destaque para os estados do Paran e Minas Gerais. Entre 1970 e meados dos anos 80, as usinas espalharam-se por diversas regies do pas, graas ao aprimoramento de tecnologia de transmisso de energia eltrica em grandes blocos e distncias. Nesse mesmo perodo verificou-se tambm uma forte concentrao de projetos na zona de transio entre as regies Sudeste e Centro-Oeste, onde esto duas importantes sub-bacias do Paran (Grande e Paranaba). Mais recentemente, tem-se destacado as regies Norte e Centro-Oeste, principalmente o estado de Mato Grosso (ATLAS, 2004).

3.1.1 Evoluo histrica e aspectos legais

A iniciativa privada, cuja participao setorial foi praticamente inexistente nos anos 60 at meados dos anos 90, hoje participa, aps a privatizao realizada nos mbitos federal e estadual, respectivamente, com cerca de 62% e 12% dos segmentos de distribuio e gerao de eletricidade. Apesar da estrutura diversificada, historicamente a estrutura de decises do Setor Eltrico Brasileiro - SEB era bastante centralizada. Essa caracterstica acentuou-se aps 1962, com a criao da Eletrobrs que assumiu as funes de coordenao do planejamento e da operao e de agente financeiro e transformou-se em holding das quatro geradoras federais, (Chesf, Furnas, Eletronorte e Eletrosul) responsveis, ao longo da dcada de 90, por cerca de 50% da energia gerada no pas (PIRES et al., 1999). A reestruturao do SEB, na ltima dcada, tinha como objetivo a busca da eficincia econmica em um setor tradicionalmente caracterizado pela forte interveno do poder pblico, em grande parte sob a forma de monoplios estatais. A reforma do SEB no pode ser examinada fora do quadro de transio econmica que o Brasil vivenciava no incio dos anos 90. A abertura comercial promovida a partir de 1989 sinalizou o incio de uma nova etapa de desenvolvimento marcado pela substituio de crescimento impulsionado pelo Estado, para o crescimento predominantemente impulsionado por capitais privados. Como a economia de escala era a prioridade que definia a maior parte das decises sobre investimentos, as usinas

__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

Captulo 03 Reviso Bibliogrfica___________________________________________ 8

maiores eram preferidas s menores. Isso resultou em projetos enormes, os quais demandaram grandes dispndios com ativos fixos e perodos de maturao longos fatores que, posteriormente, impediram o trmino da construo de muitas delas (SILVA, 2004). A crise de abastecimento de energia eltrica, verificada no pas no ano de 2001, foi oriunda de inmeros fatores, tais como: falta de investimentos no setor eltrico, falta de infraestrutura nos rgos ambientais, lacunas regulatrias, erros na elaborao do planejamento, cenrio hidrolgico desfavorvel, dentre outros. Aspectos de cunho estrutural e tambm conjuntural levaram o pas a implementar um plano de reduo do consumo e aumento de oferta de energia eltrica. A partir da promulgao da Constituio Federal de 1988 at os dias atuais, inmeras medidas foram tomadas para reestruturar o SEB, inclusive a publicao de novas leis, criao de novos agentes e extino de outros. Os principais artigos da Constituio Federal de 1988 para o setor eltrico so relacionados a seguir (FACURI et al.,1999). O art. 20 determina que so bens da Unio os lagos, rios e quaisquer correntes de gua em terrenos de seu domnio, ou que banhem mais de um Estado, alm dos potenciais de energia hidrulica; O art. 21 estabelece que compete Unio explorar, diretamente ou mediante autorizao, concesso ou permisso os servios e instalaes de energia eltrica e o aproveitamento energtico dos cursos de gua, em articulao com os Estados, onde se situam os potenciais hidroenergticos. Alm disso, institui o sistema nacional de gerenciamento de recursos hdricos e define critrios de outorga de direito de seu uso; O art. 22 determina que compete Unio legislar sobre guas e energia eltrica e, em pargrafo nico, dispe que lei complementar poder autorizar os Estados a legislar sobre questes especficas das matrias neste artigo; O art. 175 incumbe ao poder pblico, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concesso ou permisso, sempre atravs de licitao, a prestao de servios pblicos. O art. 225 diz que todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se, ao Poder Pblico e coletividade, o dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e futuras geraes.__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

Captulo 03 Reviso Bibliogrfica___________________________________________ 9

As competncias do poder concedente so regulamentadas pelas Leis Federais n 8.666, de 21 de Junho de 1993, n 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, e n 9.074, de 07 de julho de 1995 as quais definem as normas para licitao, o regime de concesso e as normas para outorga e prorrogao de concesses (LA ROVERE et al., 1999). Em termos legais, as competncias do poder concedente (Unio, Estado, Distrito Federal ou Municpio), para a outorga relativa a servios pblicos esto definidas na forma de concesso de servio pblico. Ou seja, uma delegao de prestao mediante licitao, na modalidade de concorrncia, pessoa jurdica, ou consrcio de empresas que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado (LEI 8.987/95). A Lei das Concesses (n 8.666/93) institui normas para a realizao de licitaes e para assinatura de contratos de concesso de servios pblicos, o que inclui a outorga de concesses de aproveitamentos hidreltricos. De acordo com os artigos 6 e 12 da referida Lei, devero ser realizados e aprovados estudos de impacto ambiental como requisito para anlise dos projetos bsicos e executivos de obras e servios.1 Conforme estabelecido no artigo 5, o poder concedente deve justificar a convenincia da outorga de concesso, alm de caracterizar seu objeto, rea e prazo, previamente publicao do edital de licitao. A motivao provm das anlises que culminam com a elaborao do Plano Decenal de Gerao PDG. J a caracterizao do empreendimento se d aps a aprovao dos estudos de viabilidade, etapa em que se inicia a anlise individualizada dos aproveitamentos (LA ROVERE et al., 1999). Nos casos de realizao de licitao para outorga de concesso (aproveitamento de potenciais hidrulicos superiores a 30.000 kW, denominado Usina Hidreltrica UHE), a Lei n 9.074/95, em seu artigo 5, 2 estabelece que nenhum aproveitamento hidreltrico poder ser licitado sem a definio do aproveitamento timo pelo poder concedente, podendo ser atribuda ao licitante vencedor a responsabilidade pelo desenvolvimento dos projetos bsico e executivo. O aproveitamento timo, em consonncia com o Decreto 2.003, de 10 de setembro de 1996, artigo 3, 3 refere-se a todo potencial definido em sua concepo global pelo melhor eixo do barramento, arranjo fsico geral, nveis dgua operativos, reservatrio e1

Posteriormente sero descritas as etapas do processo de licenciamento ambiental.

__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

Captulo 03 Reviso Bibliogrfica___________________________________________ 10

potncia, integrante da alternativa escolhida para diviso de quedas de uma bacia hidrogrfica. De acordo com o mencionado Decreto, o rgo regulador e fiscalizador do poder concedente pode delegar, mediante autorizao, a realizao dos estudos tcnicos necessrios para definio do aproveitamento timo. Nesse caso, os estudos e levantamentos realizados e aprovados pelo rgo regulador e fiscalizador sero fornecidos a todos os interessados na licitao da outorga de concesso. A Lei n 9.074/95 introduz diversas alteraes no setor eltrico (Cap. II exclusivamente sobre os servios de energia eltrica), ou seja: no estabelecimento de normas para a outorga e prorrogao das concesses e permisses de servios pblicos. A Lei n 9.427, de 26 de dezembro de 1996, institui a Agncia Nacional de Energia Eltrica - ANEEL, extinguindo o DNAEE, que tem como finalidade regular e fiscalizar a produo, transmisso, distribuio e comercializao de energia eltrica, em conformidade com as polticas e diretrizes do governo federal. O Decreto n 2.335, de 06/10/97 dispe sobre a Estrutura Regimental da ANEEL. Em 04 de dezembro de 1998, a ANEEL criou duas importantes resolues. A resoluo ANEEL n 393/98 que estabelece os procedimentos gerais para registro e aprovao dos estudos de inventrio hidreltrico de bacias hidrogrficas. Ela resolve conceituar como inventrio hidreltrico, a etapa de estudos de engenharia em que se define o potencial hidreltrico de uma bacia hidrogrfica, mediante o estudo de diviso de quedas e as definies prvia do aproveitamento timo. J a resoluo ANEEL n 395/98 estabelece os

procedimentos gerais para registro e aprovao dos Estudos de Viabilidade e Projeto Bsico de empreendimentos de gerao hidreltrica, assim como da autorizao para explorao de Pequenas Centrais Hidreltricas - PCH at 30 MW. Na Resoluo ANEEL n 395/98, reza o art. 3 que os interessados em obter concesso para explorao de aproveitamentos hidreltricos com potncia superior a 30 MW, devero apresentar os estudos de viabilidade ou o projeto bsico e solicitar a sua incluso no programa de licitao de concesses. A Lei n 4.261, de 06 de junho de 2002 atribui competncia ao Ministrio de Minas e Energia MME, que dispe sobre a estrutura e funcionamento do Conselho Nacional de Poltica Energtica CNPE.

__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

Captulo 03 Reviso Bibliogrfica___________________________________________ 11

3.1.2 Novo modelo do setor eltrico brasileiro

No quadro atual, consolidado pelas leis n 10.847 e n 10.848, de 15 de maro de 2004 e regulamentados pelos Decretos n 5.184, de 16 de agosto de 2004 e n 5.163, de 30 de julho de 2004, respectivamente, compete: ao poder executivo, a formulao de polticas e diretrizes para o setor eltrico, subsidiadas pelo Conselho Nacional de Polticas Energticas CNPE, sob coordenao do Ministro de Estado de Minas e Energia; ao regulador, a Agncia Nacional de Energia Eltrica ANEEL, a normatizao das polticas e diretrizes estabelecidas e a fiscalizao dos servios prestados; ao Operador Nacional do Sistema Eltrico NOS, a coordenao e a superviso da operao centralizada do sistema interligado; Cmera de Comercializao de Energia Eltrica CCEE, sucednea do Mercado Atacadista de Energia MAE, o exerccio da comercializao de energia eltrica; Empresa de Planejamento Energtico EPE a realizao dos estudos necessrios ao planejamento da expanso do sistema eltrico, de responsabilidade do poder executivo, conduzido pelo MME; e aos agentes setoriais (geradores, transmissores, distribuidores e comercializadores), a prestao dos servios de energia eltrica aos consumidores finais.

Compete EPE, em especial ao estudo aqui realizado:

realizar estudos e projees da matriz energtica brasileira; identificar e quantificar os potenciais de recursos energticos; realizar estudos para a determinao dos aproveitamentos timos dos potenciais hidrulicos; obter a licena prvia ambiental e a declarao de disponibilidade hdrica necessrias s licitaes envolvendo empreendimentos de gerao hidreltrica; desenvolver estudos de impacto social, viabilidade tcnico-econmica e scioambiental para os empreendimentos de energia eltrica;

__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

Captulo 03 Reviso Bibliogrfica___________________________________________ 12

efetuar o acompanhamento da execuo de projetos e estudos de viabilidade realizados por agentes interessados e devidamente autorizados e promover estudos e produzir informaes para subsidiar planos e programas de desenvolvimento energtico ambientalmente sustentvel. Para se equacionar os problemas relacionados expanso da oferta de energia

hidreltrica, houve algumas modificaes e aperfeioamentos no novo modelo do setor eltrico. O processo de planejamento e monitoramento da expanso da oferta de energia, hoje aperfeioado e ajustado ao novo modelo do setor eltrico, de responsabilidade, respectivamente, da Empresa de Pesquisa Energtica (EPE) e do Comit de Monitoramento do Setor Eltrico (CMSE), com o apoio da ANEEL, esta responsvel pela regulao e fiscalizao das atividades dos concessionrios. Esse processo envolve trs etapas: (i) estudos de inventrio do potencial hidreltrico das bacias hidrogrficas; (ii) estudos de viabilidade dos aproveitamentos hidreltricos, ambos correspondentes fase de planejamento, de responsabilidade da EPE, e (iii) etapa de implantao do projeto, cujo monitoramento/fiscalizao cabe ao CMSE/ANEEL. A etapa dos estudos de inventrio, com durao mdia de 2 a 3 anos, compreende a realizao de estudos, pesquisas e sondagens para a identificao dos aproveitamentos da bacia hidrogrfica e seleo daqueles mais viveis sob os pontos de vista energtico, econmico e scio-ambiental. Essas atividades despertam curiosidade e expectativas no seio da comunidade regional. A etapa dos estudos de viabilidade de cada aproveitamento compreende o aprofundamento do conhecimento sobre as condies fsicas, ambientais e socioeconmicas da rea onde se situa o aproveitamento. Isso possibilita a elaborao dos estudos de viabilidade tcnica e dos estudos scio-ambientais (EIA/RIMA). Nesta etapa, amplia-se e intensifica-se a presena de equipes tcnicas na regio do projeto, ocasionando os primeiros movimentos e aes dos segmentos representativos das comunidades, associados aos mais diversos interesses despertados pela futura usina hidreltrica. Concluda essa segunda etapa, os estudos de viabilidade tcnica e os estudos scioambientais so submetidos, respectivamente, aprovao da EPE (da ANEEL no modelo antigo) e do rgo ambiental (IBAMA ou rgo ambiental estadual, conforme o caso). A__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

Captulo 03 Reviso Bibliogrfica___________________________________________ 13

aprovao desses estudos constitui a declarao da viabilidade tcnica e scio-ambiental do projeto que, assim, estar apto a integrar o programa de licitaes. A EPE a responsvel pelo cumprimento dessas duas etapas e pela obteno da Licena Prvia ambiental (LP), ficando as demais, ou seja, a Licena de Instalao (LI) e a Licena de Operao (LO), sob responsabilidade do futuro concessionrio. Conclui-se, portanto que os condicionantes e compromissos a serem assumidos pelo vencedor da licitao sero estabelecidos pelo Governo, representado pela EPE, em parceria com os rgos de licenciamento ambiental responsveis pelo licenciamento. A terceira etapa, de implantao do empreendimento, de responsabilidade do vencedor da licitao, ao qual foi outorgada a concesso para a construo e operao do empreendimento. Esta etapa fiscalizada/monitorada pela ANEEL/CMSE. a etapa na qual, com o inicio das obras civis, comea a chegar, regio, contingente populacional atrado pelas oportunidades de trabalho, direta e indiretamente proporcionadas pela construo da usina hidreltrica. Nessa etapa, intensificam-se as negociaes com representantes das comunidades locais e do s atingidos, relativas aos programas de indenizao, mitigao e compensao pelos impactos sociais e ambientais ocasionados pelo empreendimento, culminando com a celebrao de acordos para a implantao desses programas, detalhados no Projeto Bsico Ambiental (PBA), que constitui instrumento para a obteno da Licena de Instalao (LI). Como se pode constatar da descrio ora apresentada, a concepo e a implantao de um projeto hidreltrico envolvem o cumprimento de cronogramas de natureza complexa, relacionados a elementos tcnicos (obras de engenharia e execuo do projeto); econmicofinanceiros (financiamento); questes ambientais (estudos e obteno de licenas); questes judiciais (Ministrio Pblico Federal e Estadual) e aspectos sociais (remanejamento e reassentamento de grupos sociais). Dessas consideraes, resulta claro o papel da EPE, como gestora de todas as etapas do planejamento, assim como dos CMSE/ANEEL, como responsveis pela

fiscalizao/monitoramento da implantao e operao dos empreendimentos para a expanso da oferta de energia eltrica. O xito do empreendimento depender, em grande medida, do cumprimento das responsabilidades e aes de natureza social e ambiental que cabem a esses rgos.

__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

Captulo 03 Reviso Bibliogrfica___________________________________________ 14

3.1.3 Expanso da oferta de energia eltrica

Uma das atribuies da ELETROBRS executar o plano de expanso do sistema eltrico brasileiro, cujo desenvolvimento se d em trs nveis: longo, mdio e curto prazos. Os estudos que subsidiam a elaborao do Plano de Longo Prazo devem ser conduzidos em consonncia com a Poltica Energtica Nacional. Esse plano contempla a definio das estratgias de expanso do sistema para um horizonte de 20 anos e aponta as disponibilidades de fontes energticas primrias e alternativas tecnolgicas. Nessa fase do planejamento, torna-se extremamente necessria, a utilizao de ferramentas de Avaliao Ambiental Estratgica AAE. Essas ferramentas esto sendo desenvolvidas para subsidiar a concepo e anlise de polticas, planos e programas. Os estudos relativos hidroeletricidade devero apontar a necessidade de realizao de novos inventrios, para melhor conhecimento do potencial hidroeltrico disponvel, em vistas a atender a requisitos tcnicos, energticos, econmicos e ambientais. Como exemplo, a perspectiva de esgotamento do potencial hidrulico disponvel nas regies Sul, Sudeste e Nordeste, apontam para a utilizao dos recursos hdricos na regio Amaznica. Isso exigir, certamente, cuidados especficos para a priorizao da utilizao dos recursos dessa regio, em funo de sua complexidade ambiental e de grande interesse pelas intervenes a realizadas, manifestado pela sociedade em geral (CEPEL/COOPE, 1998). A partir da escolha de aproveitamentos inventariados, so programados os estudos de viabilidade, configurando-se na etapa de planejamento de mdio prazo, contemplando um horizonte de 15 anos. Por fim, o planejamento de curto prazo, conhecido como Plano Decenal de Gerao PDG, com horizonte de 10 anos, inicia-se a partir da aprovao dos estudos de inventrio e de viabilidade. Empresas contratadas elaboram os projetos bsicos e fazem ajustes nos cronogramas de implantao dos aproveitamentos, em funo da evoluo do mercado consumidor de energia, estimado tambm pela ELETROBRS, por meio do Comit Tcnico de Estudos de Mercado CTEM (ELETROBRS, 2004). Os estudos so elaborados com o objetivo de estabelecer diretrizes para a expanso do sistema, de modo a atender a demanda de energia e nortear as decises individuais dos

__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

Captulo 03 Reviso Bibliogrfica___________________________________________ 15

agentes investidores. Eles indicam a melhor seqncia de obras no horizonte de dez anos, do ponto de vista energtico, econmico e ambiental (GCPS/ELETROBRS, 1998). Devem ser sinalizados os custos e as incertezas associados a cada projeto, especialmente com relao aos aspectos ambientais. Igualmente as incertezas relativas data de entrada em operao, em decorrncia do prazo necessrio para o cumprimento dos procedimentos do processo de licenciamento ambiental2 (ELETROBRS, 2004). O processo de planejamento dever contar, desde o incio da tomada de deciso, com instncias participativas, de modo a integrar vises extra-setoriais e reduzir a margem de conflitos scio-ambientais, em etapas mais adiantadas. Considere-se que o comprometimento com recursos e prazos maior devido a decises j estabelecidas (ELETROBRS/DNAEE, 1997). Os estudos de inventrio hidreltrico so desenvolvidos em consonncia com o planejamento indicativo do setor eltrico que dever observar as diretrizes estabelecidas pelo poder concedente. A realizao dos estudos de inventrio tem importncia estratgica para a definio do aproveitamento timo. Do ponto de vista estritamente setorial, o inventrio hidreltrico assume um papel central na determinao da boa qualidade da expanso do setor. Nesta etapa so analisadas as mltiplas implicaes dos diferentes aproveitamentos, sem ainda ter ocorrido o comprometimento de recursos tcnicos e financeiros (LA ROVERE, 2000). Do ponto de vista ambiental, o momento em que podem ser identificados os impactos ambientais do conjunto de aproveitamentos sobre a bacia hidrogrfica, os efeitos cumulativos e as sinergias entre os diferentes projetos. Alm disso, as restries so impostas aos demais usos dos recursos hdricos e buscados os meios de equacion-los ou minimiz-los. Por outro lado, nesta fase, as interaes com os interesses dos demais agentes usurios da gua na bacia hidrogrfica em estudo podem ser mais bem avaliadas (LA ROVERE, 2000). De modo a disciplinar a execuo dos estudos ambientais em paralelo com os estudos energticos, a Resoluo ANEEL n 393/98 estabelece que os titulares de registro de estudos de inventrio devero formalizar consulta aos rgos ambientais para definio dos estudos relativos aos aspectos ambientais e aos rgos responsveis pela gesto dos recursos hdricos,

2

Ser falado posteriormente sobre o processo de licenciamento ambiental e das etapas necessrias para implantao de UHEs

__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

Captulo 03 Reviso Bibliogrfica___________________________________________ 16

com vistas melhor definio do aproveitamento timo e da garantia do uso mltiplo dos recursos hdricos. Ressalta-se que a conceituao de aproveitamento timo possvel mediante o tratamento da complexidade e subjetividade das questes envolvidas. Isso desloca o eixo da definio de timo, anteriormente restrito aos aspectos econmico-energticos, para uma nova posio multideterminada, resultante da contraposio de diversos objetivos conflitantes a serem atendidos. As questes ambientais, de recursos hdricos e de mercado devero ser consideradas de forma conjunta na definio de timo. O papel da articulao entre os agentes envolvidos ser fundamental para estabelecer o ponto de equilbrio (LA ROVERE, 2000).

3.2 Etapas necessrias para implantao de usinas hidreltricas

Motivados pela necessidade de aumentar a oferta de energia eltrica, sinalizada pela tendncia de crescimento da demanda (carga), os rgos de planejamento do setor eltrico iniciam o trabalho de estimativa do potencial hidreltrico do pas, em diferentes regies. A etapa preliminar dos estudos, com vistas implantao de usinas hidreltricas, constitui-se da anlise preliminar das caractersticas da bacia hidrogrfica, especialmente quanto aos aspectos topogrficos, hidrolgicos, geolgicos e ambientais. Nessa etapa, o objetivo fundamental verificar a potencialidade da referida bacia para gerao de energia eltrica. Com base nos resultados dos estudos para estimativa do potencial hidreltrico, so definidas, as bacias prioritrias para serem objeto de anlises mais complexas, os chamados estudos de inventrio hidreltrico. Nessa etapa, o potencial hidreltrico de uma bacia hidrogrfica determinado. Tambm estabelecida a melhor diviso (partio) de quedas, mediante a identificao do conjunto de aproveitamentos que propiciem um mximo de energia ao menor custo aliada a um mnimo de efeitos negativos sobre o ambiente. Destaca-se que, neste momento, o conceito de impacto ambiental constitui-se como a varivel ambiental objeto de mensurao que utilizada na tomada de deciso.

__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

Captulo 03 Reviso Bibliogrfica___________________________________________ 17

A elaborao dos estudos de inventrio baseada em informaes de campo, referenciadas em estudos hidrometeorolgicos, energticos, geolgicos, ambientais e de outros usos da gua. Esses fatores determinam as principais caractersticas dos aproveitamentos hidrulicos (ELETROBRS/DNAEE, 1997). Aps a elaborao dos estudos de inventrio hidreltrico inicia-se o estudo de viabilidade, etapa de definio da concepo global de um dado aproveitamento. Esse estudo parte da identificao da melhor alternativa de diviso de quedas estabelecida na etapa anterior. Os estudos de viabilidade vislumbram a otimizao tcnico-econmica e ambiental, alm da avaliao dos benefcios e custos associados. Essa concepo compreende o dimensionamento do aproveitamento, as obras de infraestrutura local e regional necessrias sua implantao, o seu reservatrio e respectiva rea de influncia, os outros usos da gua e as aes ambientais correspondentes. O Relatrio Final do Estudo de Viabilidade constituir a base tcnica para a licitao da concesso de projetos de gerao de energia hidreltrica. Conhecido o vencedor do leilo, ser iniciada a elaborao do projeto bsico. Nesta etapa, o aproveitamento, como concebido nos estudos de viabilidade, detalhado e o seu oramento definido com mais preciso (CEPEL/COPPE, 1999). Paralelamente, concebido o projeto executivo, onde se processa a elaborao dos desenhos de detalhamento das obras civis e dos equipamentos hidromecnicos e eletromecnicos, necessrios execuo da obra e montagem dos equipamentos. Nesta etapa, so tomadas todas as medidas pertinentes implantao do reservatrio (ANEEL, 2002). 3.2.1. Estudo de Inventrio Hidreltrico Segundo LA ROVERE (2000), de maneira mais ampla, os estudos de inventrio hidreltrico tm os seguintes objetivos: identificar a melhor alternativa de diviso de quedas para aproveitamento do potencial hidreltrico. Isso ocorre por meio de avaliaes baseadas nos benefcios energticos oriundos da sua implementao, nos custos de operao e manuteno dos empreendimentos, no uso mltiplo da gua e nos efeitos sobre o meio ambiente;__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

Captulo 03 Reviso Bibliogrfica___________________________________________ 18

caracterizar um elenco de aproveitamentos que possam ser includos nos planos de investimento de mdio prazo e de programas de estudos de viabilidade do setor de energia eltrica;

constituir documento hbil que defina tecnicamente a alternativa de partio de queda escolhida para efeito da definio do objeto de licitaes de concesso de aproveitamento hidreltrico com potncia superior a 30 MW3 na bacia estudada e

constituir documento de apoio a aes junto a rgos pblicos e privados, vom vistas a otimizar, de forma ordenada e racional, o aproveitamento dos recursos naturais na bacia estudada.

Os estudos de inventrio hidreltrico so realizados em trs fases: coleta de dados e planejamento do estudo, estudos preliminares e estudos finais. O planejamento do estudo a fase inicial, cujo planejamento e organizao das atividades realiza-se pela discriminao dos levantamentos e estudos necessrios, com estimativa da durao e do custo associado. O produto final dessa fase um relatrio gerencial contendo o programa de trabalho a executar. Na fase de estudos preliminares, so propostas alternativas de diviso de quedas para o aproveitamento do potencial hidreltrico. Preliminarmente, esse potencial avaliado e estimam-se os custos e impactos ambientais associados sua utilizao, tudo de forma expedita e com nfase em dados secundrios. Os estudos preliminares visam selecionar as alternativas mais atraentes sob os pontos de vista ambiental, energtico e econmico. Na fase de estudos finais, determina-se um conjunto de obras e instalaes que corresponda ao desenvolvimento integral do potencial hidreltrico ambiental e

economicamente aproveitvel da bacia. Os dados so consistidos em funo de levantamentos de campo complementares para os aproveitamentos constantes das alternativas de diviso de queda selecionadas na fase anterior. (ELETROBRS/DNAEE, 1997).

3.2.2 Estudo de Viabilidade

Os estudos de viabilidade, iniciados a partir da aprovao dos estudos de inventrio hidreltrico,3

definem

a

concepo

global

de

um

aproveitamento

Aproveitamentos hidreltricos com capacidade instalada superior a 30 MW so consideradas Usinas Hidreltricas UHEs, sendo objeto de licitao.

__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

Captulo 03 Reviso Bibliogrfica___________________________________________ 19

hidroeltrico(ELETROBRS/DNAEE, 1997). A Resoluo ANEEL n 395/98 estabelece, entre outros aspectos, os procedimentos gerais para registro, seleo e aprovao de estudos de viabilidade. Na referida resoluo, o artigo 12, incisos III e IV, define os critrios ambientais gerais para avaliao dos estudos e projetos, entre os quais destaca-se: articulao com os rgos ambientais e de gesto de recursos hdricos, nos nveis federal e estadual e junto a outras instituies envolvidas. Essa articulao visa a definio do aproveitamento timo e preservao do o uso mltiplo das guas e obteno do licenciamento ambiental pertinente4.

Conforme a legislao vigente, h a necessidade de se obter registro para iniciar os estudos de viabilidade. Os projetos devem estar inseridos na carteira do planejamento realizado pelo Ministrio de Minas e Energia MME, constante do Programa Decenal de Gerao PDG. Neste momento, devem ser includos os condicionantes scio-ambientais e de recursos hdricos decorrentes das anlises de conjuntos de projetos realizados no mbito dos estudos de planejamento. importante que essas informaes estejam colocadas de forma sistematizada para consultas pelos interessados na elaborao dos estudos de viabilidade, visto que servir de referncia. Uma breve anlise das informaes ambientais sobre os estudos de inventrio realizados possibilita verificar os potenciais impactos do aproveitamento no contexto scioambiental da bacia, e no conjunto dos processos impactantes dos aproveitamentos integrantes de diviso de queda. Ressalta-se que muitos inventrios hoje existentes (aprovados) foram realizados h muitos anos. Aponta-se a necessidade de reviso ou atualizao de informaes, para servir de referncia para as anlises, principalmente no que se refere aos cenrios de utilizao dos recursos hdricos e evoluo das atividades antrpicas na bacia. Nestes casos, torna-se fundamental interagir com os rgos ambientais e de recursos hdricos no sentido de obter informaes atualizadas sobre as bacias hidrogrficas, em particular para a rea de influncia do empreendimento (PIRES et al., 1997).4

Este ltimo critrio atende aos requisitos da legislao ambiental, a ser abordada posteriormente.

__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

Captulo 03 Reviso Bibliogrfica___________________________________________ 20

Os estudos ambientais devem ser conduzidos em estreita interao com os estudos energticos e de engenharia, tendo em vista subsidiar a concepo do projeto e contribuir para definio de medidas mitigadoras eficazes. Como os empreendimentos nesta etapa so tratados de modo individualizados, a definio da rea de influncia do projeto deve ser objeto de discusso, considerando as interaes entre os aproveitamentos existentes e/ou planejados no trecho de queda em que o aproveitamento estudado se insere. Na etapa inicial do estudo de viabilidade, deve-se fazer a apreciao da diviso de queda, enfocando as sinergias e efeitos cumulativos decorrentes da co-localizao com empreendimentos em fase de implantao ou j em operao. Esta preocupao decorre do fato de procurar evitar possveis conflitos com usurios de recursos hdricos, especialmente no que se refere aos usos mltiplos do reservatrio. Os estudos ambientais, realizados em consonncia com os estudos de engenharia e energticos, devem apontar as medidas mitigadoras e aes de controle ambiental e de gesto de recursos hdricos, bem como os custos relativos que devero subsidiar as anlises de viabilidade econmica do projeto. No caso da realizao de estudos para vrios empreendimentos na mesma bacia, ou ainda de empreendimentos na mesma bacia para os quais estejam previstas datas de entrada de operao prximas, sugerindo simultaneidade nos processos de implantao, deve-se programar a realizao integrada dos estudos, de modo a privilegiar a anlise dos aspectos sinrgicos e cumulativos resultantes do processo e a definio de planos de gesto integrados (LA ROVERE, 2000).

3.2.3 Licitao para Concesso

Segundo a Lei 9.074/95, nenhum aproveitamento hidroeltrico poder ser licitado sem a definio do aproveitamento timo pelo poder concedente, podendo ser atribuda ao licitante vencedor a responsabilidade pelo desenvolvimento dos projetos bsicos e executivo. Para tanto, devem ser definidas diretrizes tanto para a incluso dos empreendimentos no Programa de Licitaes, observando os seguintes aspectos:

__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

Captulo 03 Reviso Bibliogrfica___________________________________________ 21

observar se todas as pendncias com os rgos ambientais e de recursos hdricos estejam equacionadas; verificar se todas as questes consideradas mais relevantes na realizao do escopo foram devidamente estudadas e equacionadas, em particular as que requeriam articulao interinstitucional;

analisar se os custos ambientais estimados so compatveis com as aes definidas, tendo em vista garantir os recursos necessrios para a implantao futura de tais aes. Para os estudos de viabilidade realizados j h algum tempo, mesmo que possuam a

Licena Prvia, deve-se solicitar uma reviso dos estudos ambientais luz de dados atuais. Isso com vista a identificar possveis mudanas nas atividades na rea de projeto que possam resultar em problemas no considerados no estudo anterior e atualizao dos custos ambientais (ANEEL, 2002).

3.2.4 Projeto Bsico

Nesta etapa, que sucede obteno da outorga de concesso, o aproveitamento concebido nos estudos de viabilidade detalhado tendo em vista a definio mais precisa de suas caractersticas tcnicas, as especificaes tcnicas das obras civis e equipamentos eletromecnicos. Na etapa de Projeto Bsico, as questes ambientais devero ser contempladas num nvel mais detalhado, como o desenvolvimento dos projetos de controle ambiental e a consolidao das estratgias de gesto ambiental. A definio de diversos aspectos referentes s parcerias para implementao dos programas ambientais previstos tambm esto includos no Projeto Bsico Ambiental PBA. Os estudos realizados nesta etapa devero ser aprovados pelo poder concedente, que tem a responsabilidade de autorizar a construo (LA ROVERE et al., 2000). 3.2.5 Projeto Executivo Esta etapa contempla o detalhamento do projeto necessrio para a execuo da obra e montagem dos equipamentos eletromecnicos. So tomadas todas as medidas pertinentes __________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

Captulo 03 Reviso Bibliogrfica___________________________________________ 22

implantao do reservatrio, devendo ser tambm implementados os projetos ambientais mitigadores e compensatrios, sendo definido o programa de gesto ambiental, incluindo os programas de monitoramento.

3.3 Questes ambientais na implantao de usinas hidreltricas

At o final da dcada de 1970, as questes ambientais eram tratadas de maneira descentralizada: s concessionrias era delegada a elaborao dos seus programas onde suas aes visavam basicamente a correo dos problemas causados pela implantao dos empreendimentos. Ainda neste perodo, quase nenhuma preocupao foi dispensada aos aspectos sociais. A ao relativa obteno das reas de empreendimentos, objetivava a imediata ocupao da rea ao menor custo e dentro do cronograma estipulado pela companhia. A aquisio sempre foi baseada em uma avaliao unilateral, no se levando em conta a participao do proprietrio. Os reassentamentos, quando eram contemplados no projeto, no previam a participao das partes interessadas na elaborao. O tratamento dado s populaes indgenas foi at menos pior que o tratamento dispensado s populaes ribeirinhas. A prioridade era a desapropriao da rea para implantao da obra (MARIOTONI, 2001). S a partir da dcada de 1980 que houve uma maior conscientizao por parte do setor eltrico com relao flora, fauna e gua. Em 1986, com a publicao das diretrizes da Resoluo CONAMA n 001 e em 1987 com o Plano 2010, planejado e coordenado pela ELETROBRS, que as questes ambientais passaram a ter um carter setorial. Em novembro de 1986, foi publicado o I Plano Diretor para Proteo e Melhoria do Meio Ambiente I PDMA nas obras e servios do setor eltrico, contendo quatro temas prioritrios: 1) insero regional; 2) remanejamento de grupos populacionais; 3) tratamento das interferncias do setor com populaes indgenas; e 4) flora, fauna e carvo. Alm da poltica ambiental, tambm foi feita uma anlise da situao dos empreendimentos de maior impacto ambiental e das medidas previstas para sua mitigao ou compensao.

__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

Captulo 03 Reviso Bibliogrfica___________________________________________ 23

O processo de internalizao das questes ambientais no mbito do setor eltrico ocorreu em 1990, com a elaborao do II PDMA que realimentou a poltica ambiental para o setor e estabeleceu as novas diretrizes que nortearam as aes ambientais (PDMA, 1990). Os estudos ambientais, aqui mencionados, tm como objetivo promover o conhecimento das principais questes ambientais da bacia hidrogrfica e avaliar os efeitos da implantao do conjunto de aproveitamentos, tendo em vista subsidiar a formulao das alternativas de diviso de queda e a tomada de deciso. Neste aspecto, considera-se a etapa de inventrio de especial relevncia, por ser o momento no qual pode ser dimensionado o comprometimento ambiental exigido pelo conjunto de aproveitamentos sobre a regio que constitui a bacia hidrogrfica. Isso possibilita a identificao e anlise dos efeitos cumulativos e as sinergias, em interao direta com os estudos energticos e de engenharia. A fase de planejamento de estudos j prev a interao dos estudos ambientais com os procedimentos das demais reas. Nesta etapa, devem ser identificadas as questes ambientais mais relevantes para a rea de estudo e, em especial, aquelas que possam vir a se configurar como restries, de modo a influenciar a definio dos locais barrveis. Nas fases de estudos preliminares e estudos finais, por haver a necessidade de sistematizar o contedo e os procedimentos dos estudos ambientais, foi estabelecida uma metodologia de avaliao de impactos ambientais de modo a tornar efetiva a sua incorporao na escolha da alternativa de diviso de queda. O conceito de avaliao de impactos ambientais utilizado como instrumento de planejamento. Neste contexto, o objetivo dessa avaliao no somente identificar os provveis impactos e apontar medidas mitigadoras, seja pela alterao do projeto, seja por aes compensatrias, mas permitir a hierarquizao das alternativas, tendo em vista os efeitos que provocaro sobre o meio ambiente (PIRES et al., 2000). Segundo LA ROVERE (1999), a Lei n 8.666/93 procura garantir que os aspectos ambientais e custos associados estejam j incorporados no momento em que se inicia o Projeto Bsico. Isso de fundamental importncia, uma vez que na etapa de Projeto Bsico as questes ambientais devero estar sendo contempladas num nvel mais detalhado, como o desenvolvimento dos projetos de controle ambiental e a consolidao das estratgias de gesto ambiental.

__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

Captulo 03 Reviso Bibliogrfica___________________________________________ 24

No rol das questes mais complexas, destaca-se a definio do aproveitamento timo, que de cunho estratgico para o planejamento energtico. Para sua adequada realizao, necessria uma viso global do setor eltrico. No somente uma questo de custo-benefcio empresarial, nem mesmo setorial, pois transcende a tradicional anlise da gerao de energia da forma mais eficiente e econmica, seja do ponto de vista particular do produtor, seja do ponto de vista do setor eltrico como um todo. Na seleo do aproveitamento timo, d-se a interface entre o projeto de um aproveitamento especfico e o planejamento da bacia hidrogrfica como um todo. Sua definio est associada ao estabelecimento da diviso de queda e suas principais caractersticas. A abrangncia espacial dos estudos assume propores de regio e, sendo o sistema eltrico nacional interligado, h interface com o planejamento setorial como um todo, de curto/mdio e longo prazo. Ao considerar a necessidade de compatibilizao do planejamento do setor eltrico com a poltica ambiental, bem como a necessidade de interao com os rgos setoriais e demais agentes envolvidos com as mesmas, evidencia-se que a seleo do aproveitamento timo no uma deciso com base em um nico objetivo. , na verdade, uma deciso multiobjetivo, que poder escapar possibilidade do agente interessado em estudar o aproveitamento de um potencial especfico. desejvel que se revise e complemente o conceito de aproveitamento timo, explicitando os condicionantes ambientais para sua definio e estabelecendo critrios para sua determinao de acordo com o novo contexto institucional do setor de recursos hdricos. Sem dvida, esta uma das questes-chave para a definio da poltica ambiental do poder concedente, para a consolidao de suas competncias e para definio do novo perfil institucional do planejamento do setor eltrico (LA ROVERE, 1999). A partir de seu tratamento, define-se a natureza da ao reguladora do poder concedente e de seu planejamento indicativo, os quais devero contribuir para que o setor eltrico possa se expandir e se desenvolver em benefcio da sociedade como um todo, mantendo um grau satisfatrio de equilbrio entre os interesses dos agentes envolvidos nas suas aes (LEI n 9.427/96). Ainda conforme LA ROVERE (1999), de uma forma geral, sabendo-se ser de competncia do poder concedente o estabelecimento de restries, limites e condies para a

__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

Captulo 03 Reviso Bibliogrfica___________________________________________ 25

obteno e transferncia de concesses para explorao de servios de gerao de energia eltrica, imperioso que as restries, limites e condies possam abranger tambm os aspectos ambientais das outorgas. Assim, nas licitaes e posteriores contratos, os critrios ambientais, os quais envolvem os aspectos ambientais de todas as etapas do empreendimento devero ser definidos com muita clareza. Tambm deve ser definida uma postura ambiental global para as outorgas, e para as situaes especficas de concesso, tendo como referncia diversos fatores, tais como: a legislao ambiental, o histrico da atuao ambiental do setor eltrico e as reivindicaes da sociedade em relao s questes ambientais do setor eltrico. As atividades dos outorgados com repercusso ambiental e as aes ambientais diretas devero ser contratualmente estabelecidas. Deve-se, portanto, estudar formas de explicitar as recomendaes ambientais nos termos das licitaes e dos contratos de outorga. No basta deix-las implcitas em recomendaes genricas que afirmam sobre a qualidade dos servios prestados e das aes empreendidas, ou ainda, explanar sobre a necessidade de seguir a legislao ambiental. Tudo isso necessrio, mas no suficiente, em virtude dos seguintes fatores: complexidade das questes e aes ambientais envolvidas; deficincias institucionais do setor ambiental; crescente nvel de exigncia da sociedade quanto ao tratamento da questo ambiental; magnitude e amplitude das implicaes ambientais normalmente relacionadas aos empreendimentos do setor eltrico e o carter estratgico do planejamento global do setor eltrico. Dentre os fatores acima, destaca-se o planejamento do setor eltrico, pois envolve decises de longo prazo que demandam decises importantes que envolvem aspectos ambientais desde as primeiras etapas do planejamento. Embora tais decises se dem bem antes das etapas do planejamento em que as exigncias da legislao ambiental passam a interferir diretamente nas aes institucionais, o prprio cumprimento posterior daquelas exigncias depende de um adequado direcionamento das questes ambientais desde o incio do processo (PIRES et al., 1997). Mais uma vez, a discusso remete para a importncia de se definir uma poltica ambiental, que permita a estruturao de uma estratgia de atuao do poder concedente, com

__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

Captulo 03 Reviso Bibliogrfica___________________________________________ 26

base na qual tanto as orientaes gerais para o planejamento do setor eltrico, como as orientaes especficas para suas diversas etapas podero ser coerentemente definidas. O setor eltrico tem realizado, ao longo dos ltimos 15 anos, expressivos investimentos em pesquisa, planejamento e gesto ambiental num sistema eltrico de caractersticas e porte nicos no mundo. Desenvolveu recursos humanos, normas, procedimentos e prticas ambientais que constituem acervo de conhecimento e recurso institucional de grande relevncia na conjuntura atual (MME, 2004). O Ministrio do Meio Ambiente MMA vem promovendo aes para modernizar a gesto ambiental no pas. As iniciativas de aproximao do MMA com diversos rgos governamentais, dentre eles os do setor eltrico, objetivam orient-los e apoi-los na mudana das prticas predominantes. Busca-se a substituio de aes corretivas no tratamento dos aspectos ambientais por uma postura mais pr-ativa que oriente a efetiva incorporao da dimenso ambiental nas polticas pblicas (MMA, 2004). A crise de energia evidenciou a necessidade de se propor o aperfeioamento de alguns aspectos do aparato jurdico-legal, em consonncia com o novo modelo setorial e com as diretrizes e critrios ambientais, a fim de garantir a sustentabilidade do uso dos recursos naturais. Esta situao revelou a grande oportunidade para a efetiva consolidao da integrao entre o planejamento ambiental e o planejamento da expanso da oferta de energia, o que possibilitar o estabelecimento de diretrizes capazes de orientar as atividades de planejamento, implantao e operao dos empreendimentos do setor eltrico, segundo os princpios da Poltica Nacional de Meio Ambiente e a otimizao dos recursos hoje disponveis na esfera da gesto pblica nacional (MME, 2004). A crise de energia veio tambm contribuir para acelerar a aproximao entre o MMA e o MME, que passaram a desenvolver diversas aes conjuntas no esforo maior para superla. Cabe ressaltar que a maioria delas tiveram carter emergencial e objetivaram a reviso e adequao de instrumentos legais relativos ao licenciamento dos empreendimentos prioritrios para gerao e transmisso de energia. A mudana estrutural ainda carece de mais esforos.

__________________________________________________________________________________________ FACURI, M. F. A implantao de usinas hidreltricas e o processo de licenciamento ambiental: A importncia da articulao entre os setores eltrico e de meio ambiente no Brasil. Itajub 2004. Dissertao de Mestrado. Instituto de Recursos Naturais, Ps Graduao em Engenharia da Energia, Universidade Federal de Itajub.____p

Captulo 03 Reviso Bibliogrfica___________________________________________ 27

3.3.1 Legislao ambiental pertinente

Com o acelerado desenvolvimento dos pases industrializados, e conseqente aumento dos seus nveis de poluio, e a crise do petrleo, que alertou para a possibilidade de escassez dos recursos naturais, graves problemas de degradao ambiental, econmicos e sociais se tornaram evidentes. Isso fez com que esses pases adotassem prticas adequadas de gerenciamento ambiental (ROSADO, 2000). A legislao am