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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa Universidade Federal da Paraíba 15 a 18 de agosto de 2017 ISSN 2236-1855 540 A IMPLANTAÇÃO DO ENSINO SECUNDÁRIO PÚBLICO NA PARAÍBA (1948-1961): INSTITUIÇÕES, POLÍTICAS E AÇÕES DOS GOVERNOS Bruna Bianca Albuquerque de Souza 1 ¹ Vívia de Melo Silva 2 ² Introdução Este trabalho é originário de uma pesquisa intitulada “A implantação do Ensino Secundário Público na Paraíba (1948-1961)”, vinculada ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - PIBIC/CNPq, ligado à Universidade Federal da Paraíba UFPB. A referida pesquisa buscou refletir sobre o processo de implantação do Ensino Secundário público na Paraíba, focando nas seguintes discussões: ações e políticas dos governos voltadas ao Ensino Secundário; instituições secundárias implantadas no recorte temporal da pesquisa e a repercussão da instauração do Ensino Secundário público na imprensa paraibana. Instigadas com as descobertas da pesquisa antes mencionada, decidimos reunir alguns resultados e ampliar um pouco mais a discussão a respeito do Ensino Secundário público paraibano, focando nas instituições implantadas, no fomento dessas implantações e, por fim, nas políticas e ações dos governos voltadas a este nível de ensino entre 1948 e 1961. Nosso estudo é centralizado no final da década de 1940 até o início da década de 1960. Este recorte temporal é justificado pelo seguinte: 1948, ano em que é anunciada no interior da Paraíba a implantação do primeiro colégio de ensino pós-primário do período republicano e estende-se até 1961, quando é promulgada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 20 de dezembro de 1961 (LDB lei nº. 4.024, de 20 de dezembro de 1961), a partir da qual foram sugeridas algumas mudanças no Ensino Secundário brasileiro. Em tempos não tão distantes, os estudos no campo da História da Educação brasileira vêm acendendo e possibilitando novas problematizações e reflexões no âmbito da Educação. Estes estudos histórico-educacionais vêm permitindo a descoberta de aspectos inexplorados na historiografia da educação brasileira, contribuindo assim para a escrita de uma nova história da educação no país. Nesta perspectiva almejamos, neste texto, contribuir para a 1 Graduanda do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Aluna pesquisadora do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq. E-Mail: <[email protected]>. 2 Doutora em Educação pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Professor Adjunto no Departamento de Fundamentação em Educação do Centro de Educação da UFPB, Campus I. E-Mail: <[email protected]>.

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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017

ISSN 2236-1855 540

A IMPLANTAÇÃO DO ENSINO SECUNDÁRIO PÚBLICO NA PARAÍBA

(1948-1961): INSTITUIÇÕES, POLÍTICAS E AÇÕES DOS GOVERNOS

Bruna Bianca Albuquerque de Souza1¹

Vívia de Melo Silva2²

Introdução

Este trabalho é originário de uma pesquisa intitulada “A implantação do Ensino

Secundário Público na Paraíba (1948-1961)”, vinculada ao Programa Institucional de Bolsas

de Iniciação Científica - PIBIC/CNPq, ligado à Universidade Federal da Paraíba – UFPB. A

referida pesquisa buscou refletir sobre o processo de implantação do Ensino Secundário

público na Paraíba, focando nas seguintes discussões: ações e políticas dos governos voltadas

ao Ensino Secundário; instituições secundárias implantadas no recorte temporal da pesquisa

e a repercussão da instauração do Ensino Secundário público na imprensa paraibana.

Instigadas com as descobertas da pesquisa antes mencionada, decidimos reunir alguns

resultados e ampliar um pouco mais a discussão a respeito do Ensino Secundário público

paraibano, focando nas instituições implantadas, no fomento dessas implantações e, por fim,

nas políticas e ações dos governos voltadas a este nível de ensino entre 1948 e 1961.

Nosso estudo é centralizado no final da década de 1940 até o início da década de 1960.

Este recorte temporal é justificado pelo seguinte: 1948, ano em que é anunciada no interior

da Paraíba a implantação do primeiro colégio de ensino pós-primário do período republicano

e estende-se até 1961, quando é promulgada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional, em 20 de dezembro de 1961 (LDB lei nº. 4.024, de 20 de dezembro de 1961), a

partir da qual foram sugeridas algumas mudanças no Ensino Secundário brasileiro.

Em tempos não tão distantes, os estudos no campo da História da Educação brasileira

vêm acendendo e possibilitando novas problematizações e reflexões no âmbito da Educação.

Estes estudos histórico-educacionais vêm permitindo a descoberta de aspectos inexplorados

na historiografia da educação brasileira, contribuindo assim para a escrita de uma nova

história da educação no país. Nesta perspectiva almejamos, neste texto, contribuir para a

1 Graduanda do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Aluna pesquisadora do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq. E-Mail: <[email protected]>.

2 Doutora em Educação pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Professor Adjunto no Departamento de Fundamentação em Educação do Centro de Educação da UFPB, Campus I. E-Mail: <[email protected]>.

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ampliação dos estudos histórico-educacionais do Estado, em especial, referente à história do

Ensino Secundário paraibano.

Sobre a discussão teórica que norteou este estudo, destacamos o conceito de

configuração. Para Elias (2001; 2006; 2008) esse conceito serve de instrumento científico

para se evitar o constrangimento de pensar o indivíduo e a sociedade como antagônicos.

Neste sentido, partimos do entendimento de que o processo de implantação do Ensino

Secundário público na Paraíba compreendeu uma configuração, tendo em vista o

imbricamento entre os indivíduos e a sociedade, movido pelas interdependências entre os

sujeitos que integraram esse processo. Ademais, baseamo-nos na categoria de representação

de Chartier (1990) que nos auxiliou no trabalho com documentos históricos produzidos, para

atender determinados objetivos e interesses do período, e talvez de grupos. Portanto, foram

exploradas formas de representações de uma dada realidade para construir com um

conhecimento acerca do Ensino Secundário público paraibano.

No que tange ao trabalho com fontes, o conceito de “documento/monumento”

elaborado por Jacques Le Goff foi bastante pertinente, tendo em vista que os monumentos e

os documentos são materiais da memória coletiva e da história, que nos auxiliam na

elaboração das respostas aos problemas de pesquisa. Comungando dessa orientação,

utilizamos o Jornal A União como fonte de pesquisa. Este jornal foi fundado em 2 de

fevereiro de 1893 por Álvaro Machado e é ligado ao estado da Paraíba, editado na capital

João Pessoa. Acessamos este veículo de comunicação no acervo do Arquivo Histórico

Waldemar Bispo Duarte da Fundação Espaço Cultural José Lins do Rego (FUNESC).

Portanto, mediante tudo que foi apresentado anteriormente, organizamos este artigo

da seguinte forma: além desta introdução, que traz aspectos fundamentais e as justificativas

deste trabalho, trazemos três (03) itens referentes à discussão do nosso tema, o primeiro é

referente ao Ensino Secundário, envolvendo definições e suas características de um modo

geral; no segundo item apresentamos as instituições secundárias públicas que foram

implantadas e publicadas no Jornal A União durante 1948 a 1961. No terceiro, discutimos as

ações e políticas do poder público voltadas ao ensino pós-primário. E por último,

apresentamos as considerações finais.

O Ensino Secundário

O Ensino Secundário refere-se a um nível escolar subsequente ao ensino primário. É

um ensino de orientação propedêutica que divide-se em duas partes: ginasial e colegial. Esse

mesmo ensino era parte integrante do Ensino Médio, o qual era composto pelos seguintes

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cursos: Ensino Secundário, Agrícola, Industrial, Comercial e Normal. Dentre estes cursos, o

Ensino Secundário era julgado o mais importante pelo fato de ser preparatório para a

Educação Superior, ao contrário dos demais que compuseram o Ensino Médio, que eram

voltados para uma formação técnica e conduzia o alunado para o mercado de trabalho.

Até a promulgação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)

de 1961, o Ensino Secundário passou por várias reformas. Estas reformas apresentaram

orientações e regulamentações distintas voltadas ao ensino pós-primário. Além disso, essas

reformas representaram uma constante necessidade do poder público e de grupos de

intelectuais e professores de organizar o Ensino Secundário no país. Algumas destas reformas

foram as seguintes:

Reforma Benjamim Constant (1891), que introduziu a equiparação e os exames de madureza, embora que limitado aos estabelecimentos oficiais de ensino; Reforma Epitácio Pessoa (1901), a qual consolidou a equiparação de colégios ao Colégio Pedro II e sua transformação em instrumento de padronizar o Ensino Secundário nacional; Reforma Rivadávia (1911), apresentada pela experiência de ‘‘desoficialização’’ do ensino, já que extinguiu a equiparação e objetivava a instauração de um regime de livre competição entre os estabelecimentos de ensino oficiais e particulares; Reforma Maximiliano (1915), cuja finalidade incidia na melhoria do ensino secundário e na retomada da uniformização, destacando, mais uma vez, o caráter propedêutico desse ensino; Reforma Rocha Vaz (1925), que propôs os exames seriados; Reforma Francisco Campos (1931), que enfatizou a preparação do adolescente à integração com uma sociedade mais complexa que estava em formação naquela época. (SILVA, 2014, p.43)

Aproximando-se do período temporal em que se inicia nossa pesquisa, o Ensino

Secundário, após todas essas reformas, passou novamente por reformulação durante o

Estado Novo, sob o comando do ministro da educação e saúde Gustavo Capanema, mediante

a Lei Orgânica do Ensino Secundário, sancionada pelo Decreto-Lei nº 4.244, de 9 de abril de

1942, a qual vamos aprofundar mais um pouco na nossa discussão.

Conforme o capítulo II do título I desta lei, o Ensino Secundário configurou-se em dois

(02) ciclos: o Ginasial com duração de quatro (04) anos, que compreendia uma formação

geral, a qual servia como preparação para o segundo ciclo, o Colegial, que tinha um espaço de

tempo de três (03) anos. Neste segundo ciclo o aluno tinha duas (02) opções: o curso

Clássico, que era voltado para a formação nas humanidades clássicas e modernas, ou seja,

mais focado nas línguas e literaturas e o curso Científico que valorizava as ciências naturais e

exatas.

Ao observar a configuração do currículo escolar nos capítulos I e II do título II da Lei

Orgânica do Ensino Secundário que trata sobre a estrutura deste nível de Ensino, ficou

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evidente que, no primeiro ciclo (Ginasial), as línguas a serem estudadas eram: português,

latim, francês e inglês, além de outras disciplinas advindas das duas áreas. No segundo ciclo,

além destas, são acrescidas: grego e espanhol. Uma observação importante a respeito do

segundo ciclo (Clássico e o Científico) é que as disciplinas que eram estudadas no Clássico

eram basicamente as mesmas estudadas pelo Científico. No entanto, a esse respeito, as

disciplinas da área humanística eram mais presentes no currículo do Curso Clássico, ao

contrário do Científico, o qual era composto mais pelas ciências e o desenho que não era

oferecido no Clássico.

Ainda sobre a estruturação do Ensino Secundário, podemos observar nos capítulos IV,

V e VI do título II da referida lei, além das línguas, das ciências e das artes, era obrigatório: a

prática da educação física para alunos com até 21 anos de idade; os alunos do sexo masculino

recebiam instruções militar, exceto aqueles que tivessem incapacidade física (essa

intervenção militar na educação está atrelada ao período Getulista); como parte integrante do

ensino, era lícito aos estabelecimentos de Ensino Secundário incluir a educação religiosa que

tinha seu regime ditado pela autoridade eclesiástica.

No capítulo VII do título II, podemos observar de forma mais explicita que, a Reforma

Capanema, tentou a revalorização das humanidades clássicas e modernas no âmbito da

cultura escolar, propôs que o ensino fosse patriótico por excelência e que fosse capaz de

proporcionar aos adolescentes a compreensão dos problemas e das necessidades da missão e

dos ideais da nação. Tal orientação difundida por essa reforma vem corroborar com o ideário

do Estado Novo.

No que tange as nomenclaturas das instituições de Ensino Secundário, o capítulo III

do título I, esclarece que existem dois tipos de estabelecimentos de Ensino Secundário: os

Ginásios, destinado a ministrar apenas o curso de primeiro ciclo, ou seja, os primeiros quatro

(04) anos; e os Colégios, que obrigatoriamente tinha que oferecer o curso do Ginásio e os dois

cursos que compreendiam o segundo ciclo (Clássico e Cientifico), sem negar-se a oferecer

qualquer curso pertencente ao Ensino Secundário.

Essa última Reforma perdurou pelo menos cerca de duas décadas, deixando marcas

duradouras na configuração do Ensino Secundário no país. A Reforma Capanema sofreu

modificações introduzidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº

4.024/61) promulgada em 1961. Esta lei alterou a configuração curricular do Ensino

Secundário, mas manteve a estruturação deste nível de ensino nos dois ciclos antes

apresentados (SOUZA, 2010).

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Em 1961, ocorreu a promulgação da primeira LDB de nº 4.024/61, que foi aprovada

depois de treze (13) anos de debates, reformulações e tramitação. No que diz respeito ao

Capítulo II da referida lei que regulamenta o Ensino Secundário, podemos identificar

algumas mudanças importantes como: diferença no currículo incluindo matérias optativas

sobre preferência dos estabelecimentos de ensino; delimitação do número de disciplinas a

serem ministradas e a diversificação na terceira série do colegial incluindo aspectos

linguísticos, históricos e literários no currículo, visando o preparo dos alunos para os cursos

superiores (SILVA, 2014).

Em suma, a Lei n.º 4024, na verdade, apresentou soluções fragmentadas e limitadas às

necessidades demandadas no momento para a organização do Ensino Secundário,

principalmente por causa dos conflitos ocasionados pelas batalhas de interesses diversos

existentes quando da formulação desse dispositivo.

Instituições De Ensino Secundário Implantadas

Observando os achados da nossa principal fonte de pesquisa, O Jornal A União (1948-

1961) pudemos constatar que anterior a 1948, o Ensino Secundário paraibano era constituído

por mais de dez estabelecimentos de ensino. Eram os seguintes: Colégio N. S de Lourdes,

Colégio Diocesano Padre Rolim, Ginásio Diocesano de Patos, Ginásio Paroquial de

Esperança, Colégio Estadual da Paraíba, Ginásio dos Maristas em Alagoa Grande, Colégio

Diocesano Pio X, Colégio N. S. das Neves, Colégio Diocesano Pio XI em Campina Grande,

Colégio Alfredo Dantas, Colégio Imaculada Conceição (DAMAS), Colégio Nossa Senhora de

Lourdes na cidade de Cajazeiras.

Em 1948, foi publicada uma matéria no Jornal A União que sugeriu uma preocupação

por parte do governo com o Ensino Secundário, visto que, a nível nacional a expansão do

Ensino Secundário era discurso recorrente nos anos 1940, mais especificamente nos anos de

1950. Conforme Silva (1969), esse alargamento do ensino pós-primário estava atrelado ao

avanço da industrialização, urbanização e aumento da renda nacional. A partir da citação

que segue, podemos também ter uma noção da situação das instituições de Ensino

Secundário na época:

O ensino secundário do primeiro ciclo vem sendo ministrado por dez ginásios distribuídos na capital e no interior e devido á iniciativa particular. O único estabelecimento oficial, o Colégio Estadual da Paraíba, funcionou ano passado, nos dois ciclos [...] Torna-se indispensável à ampliação de nossa rede de estabelecimentos de ensino secundário com a criação de novos colégios pelo Estado e estímulo á iniciativa particular. Com esse propósito já determinou o Governo a construção do Colégio Estadual de Campina

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Grande, que também disporá de dois ciclos, havendo concedido auxílios para a ampliação do Ginásio Diocesano de Patos e para a construção do Ginásio Paroquial de Esperança e do Ginásio dos Maristas de Alagoa Grande, conforme autorização dada pela Lei nº 33, de 11 de novembro de 1947. (Jornal A UNIÃO, 03/06/1948, p.05).

De acordo com o fragmento da matéria do Jornal, o Ensino Secundário, em um período

anterior ao ano de 1948, ficou sugerido que funcionou regularmente na Paraíba em dez (10)

estabelecimentos deste nível de ensino, sendo nove (9) particulares e um (1) público (Colégio

Estadual da Paraíba, o atual Lyceu Paraibano). Dessas dez (10) unidades escolares, apenas

quatro (4) destinavam-se ao sexo masculino. Já ao sexo feminino, podemos observar que

existiam três (3) estabelecimentos de ensino, nos levando a pensar que os demais eram

mistos.

Ainda no fragmento do jornal citado anteriormente, fica claro a mensagem do governo

sobre a proposta de ampliação deste ensino, anunciando a construção de novas unidades

escolares, inclusive a implantação do Colégio Estadual de Campina Grande no ano de

publicação da matéria, sendo o segundo colégio de ensino secundário público da Paraíba. O

colégio foi implantando em Campina Grande pelo fato de ser a cidade mais populosa depois

de João Pessoa, atendendo assim uma demanda de jovens na zona urbana.

Na Paraíba, considerando o contexto da implantação daqueles colégios antes

mencionados, mais especificamente na década de 1940, a população do Estado enfrentava

sérios problemas referentes ao ensino, tais como: a precarização do ensino; número reduzido

de escolas, principalmente nas localidades do interior; pouca oferta para uma demanda de

jovens considerável; falta de professores qualificados; recursos escassos destinados ao ensino

e, mais especificamente, a este nível de ensino, dentre outros problemas.

Ainda em 1948, identificamos no jornal uma reivindicação da Vanguarda Estudantil,

grupo de mobilização liderado por estudantes, que tinha como objetivo a luta por direitos

estudantis, por um curso ginasial noturno, tendo como justificativa a necessidade dos alunos

que trabalhavam durante o dia e dispunham apenas da noite para atividades educacionais.

[...] Exmo. Sr. Presidente da Assembleia Legislativa do Estado da Paraíba. A ‘VANGUARDA ESTUDANTIL’ toma a liberdade de lembrar aos ilustres Deputados à necessidade de instituir um Curso Ginasial Noturno no Colégio Estadual da Paraíba. Essa justa medida vem preencher uma lacuna ainda em claro, beneficiando grande parte dos alunos daquele curso, prejudicados em virtude da coincidência dos horários de estudo e trabalho [...] (Jornal A UNIÃO, 28/08/1948, p. 03)

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Como efeito dessa petição realizada pelos estudantes, temos a implantação do primeiro

Ginásio Noturno em João Pessoa, funcionando no Colégio Estadual da Paraíba em fevereiro

de 1949. Um grande avanço na oferta deste nível de ensino no estado.

Durante a pesquisa, também foi encontrada informação sobre outro ginásio noturno. O

Ginásio Castro Pinto, também localizado em João Pessoa. Sobre este ginásio podemos

destacar o seguinte:

[...] instalação do Ginásio Noturno Castro Pinto, da Campanha Nacional de Ginásios Gratuitos. [...] a sua instalação iria proporcionar o ensino secundário de todos aqueles que por determinadas circunstâncias não podem frequentar os cursos diurnos. (Jornal A UNIÃO, 12/02/1949, p. 3).

Em conformidade com o trecho do jornal citado, podemos perceber que o Ensino

Secundário, embora de forma demorada começa a oportunizar estudos a classe de jovens

trabalhadores, dessa forma, perdendo o caráter de ensino elitista.

Em Sapé, localizada a 42 km de João Pessoa – PB, cidade conhecida como a ‘‘Terra do

abacaxi’’ e berço do poeta Augusto dos Anjos, especificamente em dezembro de 1956, foi

implantado o primeiro ginásio de ensino secundário no interior, nomeado apenas como

‘‘Ginásio de Sapé’’. Hoje é nomeada Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio

Monsenhor Odilon Alves Pedrosa, sendo a terceira instituição oficial de ensino secundário na

Paraíba e também a terceira maior do estado em termos de estrutura. O ginásio foi levado

para Sapé através de um projeto do deputado Luiz Ribeiro Coutinho, o qual já tinha sido

prefeito da cidade, assinado pelo governador do Estado. Isso nos leva a inferir que foi um

atendimento político levado a feito por este deputado em forma de agradecimento ao povo de

Sapé, visto que foi à cidade que lhe elegeu como deputado. Segue um pequeno trecho do

discurso de inauguração do governador Flávio Ribeiro Coutinho na inauguração do ginásio

de Sapé:

Trata-se de uma medida das mais incentivadoras para o ensino secundário do nosso Estado, uma vez que até então somente João Pessoa e Campina Grande possuíam Ginásios Oficiais, sendo Sapé agora comtemplada com um estabelecimento dessa ordem que terá inestimáveis benefícios á sua população e das cidades circunvizinhas. (Jornal A UNIÃO, 12/12/1956, p. 03)

Em suas últimas palavras, nesta mesma matéria jornalista, o governador Flávio Ribeiro

Coutinho afirma que Sapé foi comtemplada com o ginásio por que a referida cidade era a

terra do seu saudoso irmão Dr. João Úrsulo Ribeiro Coutinho, pessoa fortemente ligada à

política na cidade de Sapé (Jornal A UNIÃO, 1956).

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No ano seguinte, no mandato do governador Pedro Gondim, em março de 1957 foi

instalado o Ginásio ‘‘4 de julho’’ em Araruna, cidade que fica a 165 km de João Pessoa, um

dos principais municípios do agreste paraibano. A inauguração foi comemorada com

banquete, missa, discurso e grande recepção por parte da população e dos homens públicos.

No que se refere ao funcionamento deste Ginásio de Araruna, foi recorrente no jornal

anúncios dos cursos de admissão para ingresso na instituição. “De vários dias se anunciava a

instalação dos Cursos de Admissão do Ginásio ‘4 de julho’ de Araruna”. (Jornal A UNIÃO,

22/03/1957, p. 02). O objetivo, possivelmente, era motivar a população a realizar tal exame e

conseguir um importante número de matriculados neste ginásio.

Ainda em 1957, foi implantado o Ginásio ‘‘Eduardo Ferreira’’ em Rio Tinto, cidade

localizada na região metropolitana de João Pessoa, a 62 km da Capital. Foi trazido para a

cidade através do comendador Arthur Ludgreen, o qual era o prefeito de Rio Tinto, na época.

Começou a funcionar nos grupos escolares da cidade e somente no consequente ano mudou-

se para o prédio oficial.

A citação que segue confirma o ato de institucionalização do Ginásio Eduardo Ferreira:

“[...] sancionará na próxima semana um decreto criando naquela localidade um Ginásio

Municipal, nos moldes de outros estabelecimentos recentemente instituídos neste Estado e já

reconhecidos pelo Ministério da Educação.” (Jornal A UNIÃO, 04/04/1957, p. 02). Tal ação

nos chamou a atenção pelo fato deste ginásio, especificamente, ter sido uma motivação do

governo municipal, visto que as demais instituições de Ensino Secundário identificadas na

pesquisa se enquadram na situação de “equiparados”, aqueles que eram mantidos pelo

Estado ou Distrito Federal e também era autorizado pelo Governo Federal. O capítulo II do

título V da Lei Orgânica do Ensino Secundário (1942), no art. 71, nos esclarece sobre essa

questão, classificando o Ginásio Municipal Eduardo Ferreira como “reconhecido”, sendo

esses mantidos pelos Municípios, por pessoa natural ou pessoa jurídica de direito privado,

precisando também serem autorizados pelo Governo Federal.

Em março de 1958, na cidade de Alagoa Grande, localizada no brejo paraibano,

aproximadamente 110 km de João Pessoa, foi inaugurado o Ginásio São José. (Jornal A

UNIÃO, 26/02/1958). Quanto à constituição do corpo docente deste Ginásio, vale ressaltar

que:

A propósito da formação do corpo docente do colégio, a Mitra Arquidiocesana entrou em entendimentos com a Congregação de Santa Cruz, no sentido de que educadores católicos, padres e leigos americanos e canadenses, se responsabilizem pelo ensino que será ali ministrado. O primeiro diretor do Ginásio São José, padre José Paulino, coadjuntor da

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Paróquia de Alagoa Grande, foi indicado pelo Bispo auxiliar da Paraíba. (Jornal A UNIÃO, 26/02/1958)

Na matéria do jornal A União, na qual encontramos essa informação, é enfatizado que a

administração e o corpo docente do ginásio eram regidos pela igreja católica, mas não ficou

claro se era um estabelecimento de Ensino Secundário público ou privado. Ademais, em uma

pesquisa mais ampla também não encontramos maiores informações. Por isso, não podemos

mensurar precisamente a categoria na qual se enquadra esta instituição escolar.

Para melhor vislumbrar a implantação do Ensino Secundário público na Paraíba,

durante este período, apresentamos a seguinte tabela.

QUADRO 1 INSTITUIÇÕES DE ENSINO SECUNDÁRIO PÚBLICO IMPLANTADAS

ENTRE 1948-1961 NA PARAÍBA

Fonte: Elaborado a partir do Jornal A UNIÃO (1948-1961)

A partir do quadro antes apresentado, observamos que a instauração dos

estabelecimentos de Ensino Secundário público na Paraíba foi relativamente considerável na

década de 1950. Década esta que, com base nos dados catalogados no Jornal A União,

tivemos a implantação de quatro (4) instituições públicas de ensino secundário. Estas quatro

implantações ocorreram nas seguintes cidades do interior paraibano: Sapé, Araruna, Rio

Tinto e Alagoa Grande.

Em resumo, conforme a pesquisa, entre 1948-1961 foram instituídas cinco (5)

instituições públicas de Ensino Secundário e um (1) estabelecimento deste mesmo ensino,

ainda sem confirmação se era público ou de iniciativa privada (o Ginásio de Alagoa Grande).

Em 1959, 1960 e 1961 não foram encontrados registros de Ginásios e Colégios de Ensino

Secundário nesses anos.

CIDADE INSTITUIÇÃO ANO CATEGORIA

Campina Grande Colégio Estadual de Campina Grande 1948 Público

João Pessoa Ginásio ‘‘Castro Pinto’’ 1949 Público

Sapé Ginásio de Sapé 1956 Público

Araruna Ginásio ‘‘4 de julho’’ 1957 Público

Rio Tinto Ginásio ‘‘Eduardo Ferreira’’ 1957 Público

Alagoa Grande Ginásio ‘‘Ginásio São José’’ 1958 ?

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Políticas e Ações dos Governos

No decorrer dos 14 (quatorze) anos do recorte temporal desta pesquisa (1948-1961),

temos 4 (quatro) governadores oficiais. Dentre esses governos, entre 1960 e 1961 o estado da

Paraíba estava sob o poder do presidente da Assembleia Legislativa, João Fernandes de Lima.

Em março de 1947, o cargo de governador da Paraíba foi ocupado por Oswaldo

Trigueiro de Albuquerque Melo, de Alagoa Grande-PB, formado em direito e um dos

fundadores do partido político “União Democrática Nacional” (UDN), no Rio de Janeiro em

1945. Exerceu o cargo de prefeito em João Pessoa em 1936 através de nomeação. Atuou como

advogado, embaixador, foi presidente do Supremo Tribunal Federal em 1969 e foi professor

da Faculdade de Ciências Econômicas na Universidade do estado de Guanabara e na

Universidade Federal da Paraíba.

Sua administração iniciou-se quando a Paraíba regressava ao regime constitucional de

1946. O novo governo vinha como esperança para solucionar os problemas educacionais

enfrentados pela população naquela época. Tais como: a precarização do ensino; número

reduzido de escolas, principalmente nas localidades do interior; pouca oferta para uma

demanda de jovens considerável; falta de professores qualificados; recursos escassos

destinados ao ensino e, mais especificamente, a este nível de ensino, dentre outros

problemas.

Dr. Oswaldo Trigueiro levou a sério a situação pelo qual passava o estado no que diz

respeito à educação no geral. Segundo Mello (1996), neste governo foram instalados e

começaram a funcionar o total de 28 (vinte e oito) grupos escolares. Além disso, este governo

realizou acordos com o Ministério da Educação para a construção de mais 13 (treze) prédios.

Destas 13 (treze) edificações, providenciou a conclusão de 4 (quatro), deixou 5 (cinco) em

início de obras e as demais construções em via de conclusão.

Sobre o desenvolvimento do Ensino de Adultos, o resultado também era animador. Na

administração do Dr. Oswaldo Trigueiro funcionaram 750 classes, com os quais o governo

gastou cerca de Cr$ 1.500.000,00. (MELLO, 1996)

Ainda no mesmo governo, também houve avanço na construção das escolas rurais,

sendo edificadas até 1950, pelo menos, 174 instituições de escolas rurais e outras em processo

de construção. (MELLO, 1996)

O Ensino Secundário, por sua vez, também foi contemplado pela ação do referido

governo. A obra mais marcante nessa gestão foi a idealização e proposta de construção do

Colégio Estadual de Campina Grande, o qual oferecia os dois ciclos do nível de ensino em

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foco. Em 1949, os estudantes secundários também foram beneficiados com Ginásio Noturno

Castro Pinto, através de reivindicações.

De acordo com um fragmento do Jornal A União do ano de 1948, podemos perceber a

preocupação do governo com o Ensino Secundário. Neste fragmento do jornal ficou evidente

a necessidade de ampliação do Ensino Secundário, mediante a implantação de colégios. Além

disso, também houve um estímulo para o funcionamento dos colégios particulares. ‘‘Torna-se

indispensável à ampliação da nossa rede de estabelecimentos de ensino secundário com a

criação de novos colégios pelo Estado e estímulo a iniciativa particular. ’’ (Jornal A UNIÃO,

03/06/1948, p. 05).

O governo Oswaldo Trigueiro encerrou com sua renuncia em 1950 com benfeitorias na

educação em geral. A administração foi seguida pelo vice-governador José Targino que

seguiu o ritmo das ações de seu antecessor.

Com a finalização dos governos de Oswaldo Trigueiro e José Targino, assume a

administração do Estado da Paraíba José Américo de Almeida, eleito governador do estado

em 1951. José Américo era formado em Direto, romancista, ex-senador (1945), fundador da

Universidade Federal da Paraíba, na qual foi o primeiro reitor. E ocupou as elevadas funções

de Procurador Geral do Estado.

Neste governo também foi dada importância à educação do estado da Paraíba. As

construções e as ampliações dos grupos escolares continuaram se expandindo juntamente

com o preenchimento das escolas e nomeações de professores para as instituições isoladas do

estado.

Um fato importante é que a preocupação com expansão do ensino foi além das

edificações dos prédios escolares. De acordo com as matérias do Jornal A União entre os anos

de 1951 a 1956, durante a administração de José Américo foi possível ressaltar as seguintes

ações deste governo, voltadas à educação: reaberturas de cursos pedagógicos para

aperfeiçoamento dos professores; supletivo para adultos, inclusive com escolas na zona rural;

incentivo ao primeiro Congresso de Professores Secundários do Nordeste; ampliação do

Colégio Estadual de João Pessoa; o aumento de reuniões pedagógicas; a elevação dos salários

dos professores secundários e a tentativa do barateamento do ensino privado em geral.

Todo este investimento anteriormente citado, principalmente no âmbito do Ensino

Secundário, implicou na criação de instituições de nível superior, visto que boa parte

daqueles estudantes que concluíam o ensino pós-primário desejavam ingressar nas

faculdades, ou seja, foi criada paulatinamente uma demanda para ingressar no Ensino

Superior. As ações educacionais do governo José Américo encerram-se por volta de 1955

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quando na Paraíba é instituída a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), através da

iniciativa deste governador. Segundo Bezerra (2007), a UFPB foi fundada primeiramente

através da Lei Estadual Nº 1.366, de 2 de dezembro de 1955 a partir da reunião de cursos de

nível superior já existentes no estado e passou a ser federalizada através da Lei nº 3.835 de 13

de dezembro de 1960, visto que antes desta última lei, a UFPB era chamada apenas de

Universidade da Paraíba.

No último dia de janeiro de 1956 quem assumiu o cargo de governador da Paraíba foi o

médico, industrial e banqueiro, Dr. Flávio Ribeiro Coutinho, o qual foi ex-deputado estadual

e federal e vice-governador.

Com base nas publicações do Jornal A União de 1956 a 1958, as ações voltadas à

educação no Estado da Paraíba, nos anos do governo de Flávio Ribeiro, ainda foi possível

encontrar publicações sobre criação e inauguração de grupos escolares, mas, não vem com a

frequência dos governos anteriores, o mesmo serve para o ensino supletivo. Em

contrapartida, observamos que existia uma preocupação maior com o Ensino Secundário,

visto que neste período, em âmbito nacional, havia um investimento no sentido de expandir

este nível de ensino, mediante algumas políticas e alguns programas, tais como: Campanha

Nacional de Educandários Gratuitos (CNEG)3, Campanha de Merenda Escolar (CME), e a

alteração no Fundo Nacional do Ensino Médio.

Na administração do governador Flávio Ribeiro, embora existido apenas 2 (dois) anos

de duração, foi o governo que mais houve implantações de instituições secundárias. Em 1956,

houve a implantação do Ginásio de Sapé e em 1957 foi instaurado um Ginásio em Araruna e

outro em Rio Tinto.

De acordo com site oficial do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

(FNDE), em 1955 foi assinado o Decreto n° 37.106, que instituiu a Campanha de Merenda

Escolar (CME), subordinada ao Ministério da Educação, a qual visava cumprir as

necessidades nutricionais dos alunos. Entretanto, em uma matéria do Jornal A União é

informado que somente em junho de 1956 o Colégio Estadual de João Pessoa é contemplado

por esta campanha. ‘‘No primeiro dia do mês em curso, verificou-se, no Colégio Estadual de

João Pessoa, a solenidade de inauguração do serviço de fornecimento de merenda escolar aos

alunos daquele estabelecimento de ensino’’. (Jornal A UNIÃO, 05/06/1956, p. 03). Vale

destacar que no discurso de inauguração desta campanha no colégio mencionado, o diretor

3 Em abril de 1956 o Fundo Nacional de Ensino Médio é alterado pelo Decreto Nº 39.080 trazendo recursos vantajosos para o Ensino Médio. No entanto os subsídios só serviam para a manutenção dos cursos que estavam subordinados a fiscalização do Ministério da Educação e Cultura (MEC), neste caso, os cursos secundários, comercial e industrial.

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da instituição agradece ao governador e diz que esta conquista deveu-se à atuação do

administrador do estado. Posteriormente os grupos escolares também fizeram parte desta

campanha.

Em 1957, é firmado um convênio entre o Instituto Brasileiro de Administração

Municipal e a Campanha Nacional de Educandários Gratuitos (CNEG)³, no qual visava

implantar um ginásio em cada município brasileiro que ainda não possuísse. Provavelmente

os ginásios de Araruna e Rio Tinto foram alvos dessa campanha.

Ainda em 1957, por motivos de saúde, o Dr. Flávio Ribeiro afasta-se do cargo. O vice-

governador Pedro Gondim, assume a administração do estado. O governador interino nasceu

em Alagoa Nova, exerceu advocacia na Paraíba e nos estados vizinhos, foi deputado estadual

em 1946 e secretário da Agricultura, Viação e obras Públicas do estado da Paraíba.

No âmbito da educação primária, no governo Pedro Gondim, tomando como base o

Jornal A União (1958, 1959 e 1960), o número de escolas de ensino primário implantadas

nesse governo foi resumido em comparação aos mandatos anteriores. Observando as

publicações da imprensa referentes ao ensino primário foi registrada apenas a instauração de

um grupo escolar, o Grupo Escolar de Serra Redonda.

No ano de 1958, houve um crescimento na demanda de alunos para os cursos

secundários em João Pessoa. A partir daí foi vista a necessidade de expandir o número de

vagas. Sabendo que o Colégio Estadual de João Pessoa não comportava a crescente

quantidade de estudantes, o governador Pedro Gondim, estendeu o Ensino Secundário do

Colégio Estadual de João Pessoa para o Grupo Escolar Frei Martinho em Cruz das Armas. Em

trecho de uma mensagem acerca do Ensino Secundário no Jornal A União, apresentada pelo

Governador Pedro Gondim à Assembleia Legislativa em 1º de junho de 1958, podemos

destacar que:

Em 1958, as matrículas deste educandário (cursos diurnos e noturnos) elevaram-se a 2.319. Em face da elevação do número de matrículas foi iniciada uma secção do curso ginasial no bairro de Cruz das Armas, com a matrícula de 200 alunos, distribuídos em 6 (seis) turmas correspondente as três primeiras séries ginasiais. (Jornal A UNIÃO, 11/06/1958, p.04).

Ainda sobre o Ensino Secundário, no início de 1958, é implantando o Ginásio São José

em Alagoa Grande. De acordo com o jornal A União (1958), esse ginásio era regido por

autoridades eclesiásticas, no entanto, durante a pesquisa não encontramos informações se

essa instituição era de iniciativa pública ou privada, ficando essa incógnita para ser

desvendada em pesquisas futuras.

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No mês de março de 1960, Pedro Gondim afasta-se do cargo de suplência para

concorrer com Janduhy Carneiro a Governador da Paraíba. Nesse meio tempo, quem fica

como governador do estado é o presidente da Assembleia Legislativa José Fernandes de

Lima, o qual era advogado, professor, escritor e membro do Instituto Histórico e Geográfico

Paraibano.

Considerando o pouco tempo de administração de José Fernandes de Lima, de acordo

as publicações do Jornal A União de março de 1960 até janeiro de 1961, podemos destacar

duas ações educacionais, uma que beneficiou o Ensino Primário e outra, o Ensino o Ensino

Médio.

No que diz respeito ao Ensino Primário, em agosto de 1960, houve a criação de diversas

escolas elementares mistas no município de Souza, o que provocou a expansão do Ensino

Primário, Elementar e Rural no Estado. Tal afirmativa é confirmada através da seguinte

citação: “O Governador José Fernandes de Lima, atendendo aos interesses do ensino, criou

diversas escolas elementares mistas no município de Souza de acordo com as Diretrizes da

Secretaria da Educação e Cultura [...]” (Jornal A UNIÃO, 10/08/1960, p.08)

Em janeiro de 1961, já na reta final do seu mandato, José Fernandes de Lima atende as

reinvindicações dos professores contratados do Ensino Secundário, equiparando os

vencimentos desses profissionais aos dos professores efetivos, uma ação que foi considerada

um aspecto positivo para o ensino pós-primário em sua administração. (Jornal A UNIÃO,

15/01/1961)

O governo de José Fernandes de Lima durou aproximadamente 10 (dez) meses, tempo

suficiente para que houvesse novas eleições para Governador do Estado. Quem sucedeu seu

governo foi Pedro Moreno Gondim, sendo designado ao cargo no último dia de janeiro de

1961, o mesmo que substituiu como vice, o governador Flávio Riberio em 1957.

De acordo com as publicações do Jornal A União até dezembro de 1961, já no final do

foco temporal da pesquisa, não foram encontradas matérias de ações significativas deste

governo voltadas a educação no sentido geral. Entretanto, é importante ressaltar que o

governo Pedro Gondim vigorou até 1966, no qual possivelmente houve ações direcionadas à

educação, mas, no momento esse período não é nosso foco.

Diante de tudo que foi apresentado anteriormente, elaboramos um quadro para uma

melhor visualização a respeitos das obras e ações públicas voltadas ao Secundário em 1948

até 1961.

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QUADRO 2

AÇÕES E POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS NA PARAÍBA VOLTADAS

AO ENSINO SECUNDÁRIO (1948-1961)

GOVERNADORES AÇÕES E POLÍTICAS

OSWALDO TRIGUEIRO (1946-1950)

Implantação do Colégio Estadual de Campina Grande e o Ginásio Noturno Castro Pinto.

JOSÉ AMÉRICO (1951-1956)

Incentivo ao primeiro Congresso de Professores Secundários do Nordeste; Ampliação do Colégio Estadual de João Pessoa; A elevação dos salários dos professores secundários; Tentativa do barateamento

do ensino privado em geral.

FLÁVIO RIBEIRO COUTINHO (1956-1958)

Investimento na expansão do Ensino Secundário Programas nacionais: Campanha Nacional de Educandários Gratuitos (CNEG),

Campanha de Merenda Escolar (CME), e a alteração no Fundo Nacional do Ensino Médio; Maior número de instituições

secundárias.

PEDRO GONDIM (1958-1960)

Extensão do Colégio Estadual de João Pessoa.

JOSÉ FERNANDES DE LIMA

(1960-1961)

Equiparação dos vencimentos dos professores secundários contratados com os efetivos.

Fonte: Elaborado a partir do jornal A União (1948-1961)

De acordo com o quadro apresentado, é possível observar que embora tenha havido

ações governamentais que favoreceram a expansão e a tentativa de melhoramento deste nível

de ensino no período da pesquisa, foi especificamente no governo do Dr. Flávio Ribeiro

(1956-1957) que houve um maior investimento no que tange o Ensino Secundário, tanto em

ações políticas quanto ao número de instituições secundárias implantadas.

Considerações Finais

O Ensino Secundário passou por várias reformas antes da Lei Orgânica do Ensino

Secundário, sancionada pelo Decreto-Lei nº. 4.244, de 9 de abril de 1942. No entanto, essa

Lei foi a que regeu o ensino pós-primário durante o período temporal da pesquisa, sendo

modificada somente em 1961 com a promulgação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional, Lei nº 4.024/61. Essa última Lei modificou o currículo do Ensino

Secundário, mas, manteve a mesma divisão organizada por Gustavo Capanema.

Entre 1948 e 1961 as ações dos governos estaduais foram significativas quando nos

referimos aos investimentos para expansão do Ensino Secundário, resultando na

implantação de cinco (05) instituições secundárias públicas e uma (01) não identificada.

Desse modo, é importante ressaltar que, embora tenha havido ações governamentais que

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favoreceram a expansão e a tentativa de melhoramento deste nível de ensino no período da

pesquisa, foi especificamente no governo do Dr. Flávio Ribeiro (1956-1957) que predominou

a implantação de unidades escolares destinadas ao ensino pós-primário, com três (03)

instituições públicas.

Conforme as discussões desenvolvidas durante a pesquisa, pudemos observar que

anterior a 1948, o Ensino Secundário era composto, na Paraíba, por dez (10) instituições

regularmente autorizadas deste nível de ensino, sendo apenas uma (01) pública, entretanto,

posteriormente, constatamos que houve uma expansão do ensino pós-primário, tendo grande

participação do Governo do Estado, desencadeando uma descentralização do poder

eclesiástico sobre as instituições secundárias, as quais eram voltadas para as elites. Esse

investimento de implantação no âmbito público possibilitou aos jovens de poderes

aquisitivos menores, uma oportunidade de ingressar em um nível escolar que, geralmente,

apenas os de famílias abastadas tinham acesso.

Referências

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SILVA, Geraldo Bastos. A Educação Secundária: perspectiva histórica e teoria. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969. 416p. SILVA, Vívia de Melo. Por uma formação da juventude campinense: o Colégio “Gigantão da Prata” (1948-1962). João Pessoa, PB: Programa de Pós-graduação em Educação – Universidade Federal da Paraíba, 2014 (tese de doutorado). SOUZA, Rosa Fátima de. A História do Ensino Secundário no Brasil investigada na Perspectiva da Cultura Escolar. Leitura, impressos e cultura escolar/Organização de Cesar Augusto Castro. São Luís, MA: EDUFMA, 2010.

Fontes

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