a ilha do marajóna philosophica (1783-1792) de alexandre...

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Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Ciências Humanas, Belém, v. 1, n. 1, p. 149-169, jan-abr. 2005 149 1 Parte da dissertação de mestrado da autora. Instituto de Geociências da UNICAMP, com orientação da Professora Doutora Maria Margaret Lopes. 2 UNICAMP-Universidade Estadual de Campinas. Doutoranda. Departamento de Geociências Aplicadas ao Ensino do Instituto de Geociências. ([email protected]) A Ilha do Marajó na Viagem Philosophica (1783-1792) A Ilha do Marajó na Viagem Philosophica (1783-1792) A Ilha do Marajó na Viagem Philosophica (1783-1792) A Ilha do Marajó na Viagem Philosophica (1783-1792) A Ilha do Marajó na Viagem Philosophica (1783-1792) de Alexandre R de Alexandre R de Alexandre R de Alexandre R de Alexandre Rodrigues F odrigues F odrigues F odrigues F odrigues Ferreira erreira erreira erreira erreira 1 The Marajó Island in the Book Viagem Philosophica (1783-1792), The Marajó Island in the Book Viagem Philosophica (1783-1792), The Marajó Island in the Book Viagem Philosophica (1783-1792), The Marajó Island in the Book Viagem Philosophica (1783-1792), The Marajó Island in the Book Viagem Philosophica (1783-1792), by Alexandre R by Alexandre R by Alexandre R by Alexandre R by Alexandre Rodrigues F odrigues F odrigues F odrigues F odrigues Ferreira erreira erreira erreira erreira Ermelinda Moutinho Pataca 2 Resumo: esumo: esumo: esumo: esumo: Pouco estudado e explorado nesses dois séculos de sua existência, o vastíssimo acervo iconográfico resultante da Viagem Philosophica serve, principalmente, como registro da natureza que estava sendo explorada e estudada, o que nos leva a considerá-lo principalmente em seus aspectos científicos. Como fontes documentais sobre a Amazônia do século XVIII, as imagens podem ser estudadas por historiadores interessados nos diversos ramos científicos abordados na viagem, como Arquitetura, Zoologia, Botânica, Mineralogia, Antropologia ou Geografia, mas também são obras de arte que devem ser estudadas por seus aspectos estéticos. Portanto, para que haja um completo entendimento da iconografia da expedição é necessário que haja uma integração entre arte e ciência. Neste trabalho reconstituímos a trajetória da Viagem Philosophica numa excursão para a ilha de Joannes, ou Marajó, entre outubro e novembro de 1783. Analisamos as imagens geográficas, botânicas, zoológicas e etnográficas produzidas pelos desenhistas José Joaquim Freire e Joaquim José Codina como principal fonte de informação. As imagens são analisadas de forma complementar às fontes escritas pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira e às relações de remessas de produtos naturais do jardineiro botânico Agostinho Joaquim do Cabo. Consideramos, ainda, o contexto político, econômico e social em que a expedição se inseria. Palavras-Chave: alavras-Chave: alavras-Chave: alavras-Chave: alavras-Chave: Viagem Philosophica, Ilha do Marajó, Desenhos de animais, História da arte e ciência, Perspectivas de cidades. Abstract Abstract Abstract Abstract Abstract: A little studied and explored in these two centuries of its existence, the huge iconographic heap as a result from the Philosophical Journey works mainly as a Amazon nature’s record, which leads us to consider it mainly on its scientific aspects. As a proof source about Amazon in the eighteenth century, the images can be studied by historians interested on the several scientific branches approached in the journey, like Architecture, Zoology, Botany, Mineralogy, Anthropology or Geography, but they are also masterpieces that must be studied for its aesthetics aspects. Thus, in order to have a complete understanding about the iconography of the travel there must be integration between arts and science. In these Work we reconstitute the trajectory of the Philosophical Journey in an excursion to Joanne’s island, or Marajó, between October and November 1783. We have analyzed the geographical, botanical, zoological and ethnographical images produced by the sketchers José Joaquim Freire and Joaquim José Codina as the main information source. The images are analyzed in a complementary way to the sources written by the naturalist Alexandre Rodrigues Ferreira and the relations of the natural products delivery from the botanical gardener Agostinho Joaquim do Cabo. We have also considered the political, economical and social context on which the expedition was inserted. Key W ey W ey W ey W ey Words: ords: ords: ords: ords: Philosophical Journey, Marajó island, Zoological drawings, History of art and science, Village’s perspectives

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1 Parte da dissertação de mestrado da autora. Instituto de Geociências da UNICAMP, com orientação da Professora Doutora MariaMargaret Lopes.

2 UNICAMP-Universidade Estadual de Campinas. Doutoranda. Departamento de Geociências Aplicadas ao Ensino do Instituto deGeociências. ([email protected])

A Ilha do Marajó na Viagem Philosophica (1783-1792)A Ilha do Marajó na Viagem Philosophica (1783-1792)A Ilha do Marajó na Viagem Philosophica (1783-1792)A Ilha do Marajó na Viagem Philosophica (1783-1792)A Ilha do Marajó na Viagem Philosophica (1783-1792)de Alexandre Rde Alexandre Rde Alexandre Rde Alexandre Rde Alexandre Rodrigues Fodrigues Fodrigues Fodrigues Fodrigues Ferreiraerreiraerreiraerreiraerreira11111

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Ermelinda Moutinho Pataca 2

RRRRResumo: esumo: esumo: esumo: esumo: Pouco estudado e explorado nesses dois séculos de sua existência, o vastíssimo acervo iconográfico resultante daViagem Philosophica serve, principalmente, como registro da natureza que estava sendo explorada e estudada, oque nos leva a considerá-lo principalmente em seus aspectos científicos. Como fontes documentais sobre aAmazônia do século XVIII, as imagens podem ser estudadas por historiadores interessados nos diversos ramoscientíficos abordados na viagem, como Arquitetura, Zoologia, Botânica, Mineralogia, Antropologia ou Geografia, mastambém são obras de arte que devem ser estudadas por seus aspectos estéticos. Portanto, para que haja umcompleto entendimento da iconografia da expedição é necessário que haja uma integração entre arte e ciência.....Neste trabalho reconstituímos a trajetória da Viagem Philosophica numa excursão para a ilha de Joannes, ou Marajó,entre outubro e novembro de 1783. Analisamos as imagens geográficas, botânicas, zoológicas e etnográficas produzidaspelos desenhistas José Joaquim Freire e Joaquim José Codina como principal fonte de informação. As imagens sãoanalisadas de forma complementar às fontes escritas pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira e às relações deremessas de produtos naturais do jardineiro botânico Agostinho Joaquim do Cabo. Consideramos, ainda, o contextopolítico, econômico e social em que a expedição se inseria.

PPPPPalavras-Chave: alavras-Chave: alavras-Chave: alavras-Chave: alavras-Chave: Viagem Philosophica, Ilha do Marajó, Desenhos de animais, História da arte e ciência, Perspectivas decidades.

AbstractAbstractAbstractAbstractAbstract: A little studied and explored in these two centuries of its existence, the huge iconographic heap as a result from thePhilosophical Journey works mainly as a Amazon nature’s record, which leads us to consider it mainly on its scientificaspects. As a proof source about Amazon in the eighteenth century, the images can be studied by historians interestedon the several scientific branches approached in the journey, like Architecture, Zoology, Botany, Mineralogy, Anthropologyor Geography, but they are also masterpieces that must be studied for its aesthetics aspects. Thus, in order to have acomplete understanding about the iconography of the travel there must be integration between arts and science. Inthese Work we reconstitute the trajectory of the Philosophical Journey in an excursion to Joanne’s island, or Marajó,between October and November 1783. We have analyzed the geographical, botanical, zoological and ethnographicalimages produced by the sketchers José Joaquim Freire and Joaquim José Codina as the main information source. Theimages are analyzed in a complementary way to the sources written by the naturalist Alexandre Rodrigues Ferreira andthe relations of the natural products delivery from the botanical gardener Agostinho Joaquim do Cabo. We have alsoconsidered the political, economical and social context on which the expedition was inserted.

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INTRODUÇÃO

No final do século XVIII, Portugal empreendeu suamaior expedição científica ao Brasil durante seudomínio colonial. No dia primeiro de setembro de1783 o naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira3, ojardineiro botânico Agostinho Joaquim do Cabo eos desenhadores José Joaquim Freire e Joaquim JoséCodina partiram de Lisboa para o Pará nas CharruasÁguia e Coração de Jesus a fim de empreender a“Viagem Philosophica pelas capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Matto Grosso e Cuiaba”. Osmembros da expedição tinham como missãorecolher e aprontar todos os produtos dos três reinosda natureza que encontrassem e remetê-los aoReal Museu de Lisboa, bem como fazer particularesobservações filosóficas e políticas acerca de todosos objetos de viagem.A elaboração e a execução da Viagem Philosophicafazia parte da política científica portuguesa defomentar a produção de matérias-primas para aindústria, de promover um renascimento daagricultura e do comércio para compensar asoscilações dos rendimentos do quinto, osinconvenientes de um sistema fiscal sobrecarregado,a baixa do preço do açúcar, a perda das terras dooriente (DIAS, 1968; NOVAIS, 1995). Os estudosem ciências naturais com finalidade de descrever oglobo terrestre foram formas simbólicas deapropriação planetária que se realizam através dasgrandes expedições científicas, dos museus dehistória natural, dos jardins botânicos, das coleçõesde História Natural, dos sistemas e das taxonomiaseuropéias (PRATT, 1991, p. 154).A Viagem Philosophica percorreu um vastíssimoterritório, compreendendo os rios Amazonas,Negro, Branco, Madeira, Guaporé, Mamoré e

Paraguai, juntamente com seus afluentes, numaextensão de aproximadamente 39.000 km. Osmembros da expedição regressaram a Lisboa emjaneiro de 1793. Durante a expedição, AlexandreRodrigues Ferreira compôs diversos textos, comomemórias, diários e roteiros, que eram remetidospara Lisboa. Porém, Ferreira não chegou a ver apublicação de suas obras.Pouco tempo após a chegada em Belém, osmembros da expedição partiram para a ilha deJoannes (atualmente ilha do Marajó) em 7 denovembro e retornaram a Belém em 10 dedezembro de 1783. A excursão para a ilha foisugerida pelo governador do estado do Grão-Paráe o Inspetor Geral, Florentino da Silveira Frade,acompanhou os membros da expedição.Apesar da brevidade de tempo na ilha do Marajó(33 dias), os membros da expedição fizeram muitasobservações, preparações e desenhos. A extensabibliografia que trata da Viagem Philosophicaconcentrou-se, principalmente, nas obras impressasde Alexandre Rodrigues Ferreira, sobretudo noDiário do Rio Negro (escrito em 1786). Comomuitos dos textos referentes à capitania do Pará aindanão foram publicados e o texto sobre a ilha deJoannes ser pouco citado pelos historiadores quetrataram da Viagem Philosophica, a primeira etapada expedição que compreende a capitania doGrão -Pará foi pouco tratada na bibliografia.Com o objetivo de contribuir com a história dasciências realizadas na Amazônia no período colonial,neste trabalho seguimos a trajetória da ViagemPhilosophica, considerando os textos e as imagensproduzidos na ilha de Joannes ou Marajó entreoutubro e novembro de 1783. Nossa premissabásica é de uma aproximação entre arte e ciência

3 Alexandre Rodrigues Ferreira nasceu em Salvador em 1756 e morreu em Lisboa em 1815. Pertenceu a primeira turma debacharéis em “Philosophia natural”, de 1778, na Universidade de Coimbra. Foi discípulo de Domingos Vandelli e demonstrador dehistória natural no Museu de Ajuda de 1779 a 1783. É muito vasta a bibliografia sobre a vida de obra de Alexandre RodriguesFerreira. Para maiores informações biográficas deste importante naturalista consultar Correa Filho (1939).

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para a produção de imagens e textos que sãocarregados de proposições estéticas junto àsdescrições detalhadas sobre a geografia, os animais,as plantas e os minerais de cada local.

ARTE E CIÊNCIA NAS REPRESENTAÇÕESTEXTUAIS E IMAGÉTICAS DA ILHA DEMARAJÓ

Raros são os estudos em história das ciências queutilizam outras linguagens para suas análises, alémdas linguagens verbal e matemática, fortementevalorizadas na hierarquia das instituiçõeseducacionais. A grande maioria dos estudos dehistória das ciências utiliza, quase exclusivamente,fontes escritas, sendo os componentes visuais dasfontes materiais originais esquecidos ou reduzidos aum papel puramente ilustrativo e decorativo. Poucasilustrações originais são reproduzidas e, quando istoocorre, são raramente integradas ao texto pelo usosubstancial de exposição conceitual (RUDWICK,1976; FIGUEIRÔA, 1987).Assim, na história das ciências nota-se umdesequilíbrio entre a reflexão metodológica – e aconseqüente produção de instrumental analítico –versando sobre fontes escritas e aquela envolvendooutros tipos de fontes. Este quadro na história dasciências se relaciona à falta de uma forte tradiçãointelectual em que os modos de comunicação visualfossem aceitos como essenciais para análiseshistóricas e entendimentos do conhecimentocientífico (RUDWICK, 1976; FIGUEIRÔA, 1987).No entanto, nas últimas décadas, historiadores daciência começaram a voltar sua atenção para outrosaspectos das ciências como as imagens, práticas einstrumentos (RUDWICK, 1976). No que se refereà iconografia luso-brasileira do final do século XVIIIe particularmente da Viagem Philosophica, Belluzo(1994, p. 60) considera que as representações visuais

não se oferecem apenas pelas suas qualificaçõesartísticas, mas também devem ser entendidas emsuas proposições científicas. Porém, para tratarmosda associação entre arte e ciência no estudo dasimagens da expedição, devemos ter algumaindicação concreta que naquela época havia umarelação direta entre ciência e a produção pictóricada Viagem Philosophica.A vasta bibliografia sobre a Viagem Philosophicasempre centrou seu foco de atenção na vida e obrado naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira,esquecendo-se dos outros personagens e fontesdocumentais como as imagens e coleções deHistória Natural. No entanto, nos últimos anos estequadro está se revertendo e alguns historiadores têmse voltado para os desenhos, enquanto outros vêmestudando as coleções zoológicas, botânicas eetnográficas (RAMINELLI, 1998; AREIA; MIRANDA,1995, 1991; HARTMANN, 1975, 1991).Em nosso caso, pretendemos discutir o significadodas imagens da Viagem Philosophica no campo dahistória das ciências quanto a sua principal função dedocumentação para os estudos de história natural eclassif icação geográfica da época. Porém,considerando que tais imagens não se restringemapenas a propósitos científicos, mas contêm tambémelementos artísticos, somos levados a considerá-las de modo interdisciplinar buscando elementosrelacionados à sua produção e utilização em ciênciasnaturais. O próprio Alexandre Rodrigues Ferreiraconsiderava a complementaridade entre as funçõesestética e documental dos desenhos de Freire eCodina:

“q no princípio [os desenhos] servem de exercitar ogosto, e dar a ver o util adoçado com o deleitável” 4.

Os historiadores da arte nos últimos anos têmampliado seu campo de estudo quando começarama tratar de outros objetos, além do que era

4 Em uma carta de 21 de Março de 1784 (LIMA, 1953).

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anteriormente estipulado como arte, abrindopossibilidades de maiores interações entre arte eciência, dos quais muitos autores passaram a tratar.Baxandall (1989, p. 92) foi um dos autores quetratou da relação entre arte e ciência e dos limitesda aproximação entre o interesse visual dos quadrose o pensamento científico que a precede. Estaaproximação se justifica pela participação dos artistasnuma cultura mais ampla que os levava a seinformarem sobre os conceitos científicos de suaépoca. Deste modo, as representações pictóricasdevem ser tratadas como um conjunto doconhecimento humano (tanto artístico quantocientífico) e não de forma fragmentária. Sob estaperspectiva, este autor não restringe o estudo dasimagens apenas ao campo da história da arte, massim sob o conceito de cultura visual para um estudomais amplo das imagens, que considera, além desuas proposições artísticas, o contexto em que asobras foram produzidas. Esta perspectiva possibilitauma ampliação dos objetos a serem tratados peloshistoriadores da arte, como os mapas, atlas,estampas de tecidos, enfim, todos os objetos deapreensão visual.No estudo da arte holandesa do século XVII Alpers(1999) utiliza-se desta conceituação de culturavisual, numa perspectiva de aproximação entre artee ciência. Os elementos contidos nas representaçõescomo os desenhos, pinturas, gravuras e mapas sãointegrados ao contexto cultural em que sãoproduzidas, considerando-se os conceitoscientíficos, artísticos, as teorias da visão e dapercepção, a organização de guildas, as atividadeseconômicas e sociais do contexto da produção dasimagens.Sob um enfoque multidisciplinar e de completaintegração entre os diversos elementos dasrepresentações, há que se considerar a integraçãoentre texto e imagem, produtos dos estudoscientíficos da expedição, para o maior entendimentodas mesmas. Os desenhos produzidos durante aexpedição, com seu caráter essencialmentedescritivo, tinham a função de complementar os

textos que estavam sendo produzidos. José Antôniode Sá (1783, p. 210), naturalista portuguêscontemporâneo a Ferreira, aponta a função dosdesenhos nas Viagens:

“Entre a descrição das coisas entra também o Risco, ePintura, a qual se aplicará aqueles objetos, que a narraçãonão for capaz de descrever perfeitamente, e emclareza”.

Considerados de forma complementar, as imagensdescrevem aquilo que não pode ser dito em palavras eo texto descreve aquilo que não pode ser representadoem imagens. Aqui, texto e imagem são consideradoscomo registros irredutíveis que se cruzam, vinculam-se e transformam- s e, mas que nunca se confundem,pois são linguagens distintas. As integrações entre textoe imagem podem ser consideradas em dois sentidos: ode complementaridade, em que as informações contidasnas imagens complementam o conteúdo do texto evice-versa; e o de transformação: “a imagem atravessaos textos e lhes muda; atravessados por ela, os textos atransformam” (MARIN, 1993, p. 9).As imagens, juntamente com os textos que lhessão complementares, são consideradas comorepresentações da Viagem Philosophica, no mesmoduplo sentido atribuído por Marin (1993) deapresentação do ausente (tornando presente umaausência) – e de auto - representação – exibindo suaprópria presença como imagem através doobservador, em seu afeto e sentidos provocados peloprazer estético.A complementaridade entre os desenhos e os textosnos leva a analisá-los em conjunto através de suasrelações explícitas ou implícitas, considerando os textosde acordo com as circunstâncias e objetivos em queforam produzidos. Os textos da Viagem Philosophica,escritos antes, durante e posteriormente à expedição,diferenciam-se quanto à forma e às circunstâncias queforam escritos, dos quais devemos destacar,principalmente, as instruções da viagem, as memórias,os diários, os roteiros, as correspondências e os jornaisde viagens. Esses documentos estabelecem conexõesdiversas entre eles e as imagens e devem ser

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submetidos a considerações distintas durante suaanálise. As descrições sobre a ilha do Marajóencontram-se, principalmente, na:“Noticia historica da ilha Grande de Joannes ouMarajó”Podemos dizer que este texto, escritoposteriormente à expedição para a ilha do Marajóem 20 de dezembro de 1783, é uma espécie dediário de viagem. Como anotações imediatas feitasdurante a viagem, os diários contêm informaçõessobre o cotidiano da expedição e dados científicos.A forma descritiva e minuciosa dos diários fornecemuitas informações e detalhes, como os locais, adata, a autoria dos desenhos e o ambiente em queforam coletadas as espécies animais e vegetais queposteriormente não comporiam as memórias e sãode suma importância para a análise do cotidiano daexpedição. Ferreira concentrou-se em narrardiversas observações históricas e naturalísticas da ilha,de acordo com seus objetivos expressos no iníciodo texto:

Trabalhar com sucesso no exame das produções, quehá, e podem haver na Ilha de Joanes, por outro nomeMarajó, e se rever de cada uma delas uma históriacircunstanciada como merecem as suas propriedades,ou seus usos, as suas aplicações, em todas elas rastejarquanto podem a razão, e os sentidos corporais...(Notícia histórica, p. 145)

A Notícia histórica é realmente bastante abrangente,com descrições geográficas, mineralógicas, agrícolas,históricas, botânicas e zoológicas da ilha do Marajó,a fim de mostrar um amplo levantamento científico,político e artístico do local, prática comum dosnaturalistas viajantes do século XVIII que tratavam oconhecimento de uma forma enciclopédica.Os diários de viagens confeccionados durante aexpedição serviram posteriormente para a produçãode memórias zoológicas, botânicas, mineralógicas,e histórico-geográficas. A Notícia histórica serviu

para a elaboração de uma memória antropológica,que também estaremos analisando, a:“Notícia da Nação Juioana a que chamam hojeSacaca” 5

Além das memórias, outros documentos como osroteiros, as relações de remessas, as correspondênciase os jornais de viagens possuem informações sobre aautoria dos desenhos, o procedimento de confecção,ou o local onde foram produzidos que auxiliam nacompreensão do conjunto iconográfico da ViagemPhilosophica. Este tipo de fonte traz elementos sobrea construção da ciência, que nos permite acompanharcomo ela é feita. Alguns autores dos “Estudos Sociaisdas Ciências” defendem a utilização de outros tipos dedocumentos, como os cadernos de anotaçõescientíficas, as correspondências etc, no estudo daconstrução social do conhecimento (LYNCH;WOOLGAR, 1990).A Notícia Histórica relaciona-se diretamente ao“Prospecto da Villa de Monforte na Ilha Grande deJoannes” (Figura 1), confeccionado por Freire emnovembro de 1783 (mede 33 centímetros delargura. (RODRIGUES, 1952, p. 87). Ele tambémrelaciona-se indiretamente a uma série de desenhoszoológicos e botânicos produzidos durante aexpedição para a ilha ou, posteriormente, emBelém, através da observação das coleçõespreparadas na expedição.As imagens acima descritas são consideradas em trêsaspectos que se integram: à forma em que estãocompostos os elementos plásticos e estruturais darepresentação; ao conteúdo onde são expostos osconceitos da representação e ao contexto históricoem que foram produzidas as imagens.Os aspectos das representações considerados acimasão inseparáveis e complementares. Assim, osdiversos elementos plásticos e estruturais que seassociam à forma como a utilização de cores, deperspectiva, de proporção e distribuição dos objetos

5 In: Ferreira (1974, p. 99-101).

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representados, mostram-nos os métodos utilizadospelos artistas. Os aspectos históricos do método eda técnica na representação artística se relacionamàs condições predominantes de produção econsumo da arte da época. A caracterização dasformas de representações da Viagem Philosophicapode conduzir a elementos artísticos e científicosreveladores da natureza das imagens. Osdesenhadores utilizavam-se de alguns modelosfigurativos de observação, classificação e descriçãozoológica, botânica e histórico-geográfica que seintegravam à cultura visual da época.O acervo iconográfico da Viagem Philosophica nosmostra uma gama variada de tipos de representação:desenhos de animais, plantas, índios e seus utensílios;mapas e plantas cartográficas; prospectos (ouperspectivas) de cidades, vilas, rios, cachoeiras eserras; perspectivas de máquinas agro-industriais;plantas de edifícios e de casas (FERREIRA, 1971).Na análise dessa série iconográfica ainda poucoexplorada, Alexandre Rodrigues deixa de ser o únicopersonagem da expedição, sendo necessário,também, um estudo sobre a vida e obra dos outrosparticipantes, com um foco central para seus doisdesenhistas: Freire e Codina. A formação científicae artística dos desenhistas pode nos conduzir aelementos importantes na interpretação dasimagens.Desenhista e cartógrafo, José Joaquim Freire(1760-1847) teve uma ampla atividade artística ecientífica. Foi aprendiz do artista João de Figueiredo.Juntamente com Codina, durante a expedição, Freireconfeccionou diversos tipos de representaçõescientíficas e mapas. Posteriormente à viagem,retomou seu cargo de desenhista no Real Museu eJardim Botânico de Ajuda. Inventou máquinas (umasege de salvação de incêndios) e publicou em 1842a obra: Analyse demonstrativa, calculos e reflexões.Ingressou na carreira militar em 1798, trabalhandocomo cartógrafo no Arquivo Militar. Sobre JoaquimJosé Codina temos poucas informações, massabemos que também era desenhista da Casa do

Desenho. Retornou para Lisboa em 1793, porém,não sabemos de seu paradeiro posteriormente àexpedição.A variedade de formas representacionais da ViagemPhilosophica requeria dos artistas conhecimentos emdiversas áreas: nas práticas artísticas em desenho epintura que requisitavam conhecimentos emmatemática e física, necessários para os desenhosem perspectiva, em história natural, em arquiteturae em cartografia. A representação enciclopédica quea viagem requeria levou a uma forte aproximaçãoentre as artes e os diversos campos da ciênciasintetizados nas obras dos desenhistas Freire eCodina.Para compreendermos as mensagens científicasreveladas em cada imagem, necessitamos fazer umacaracterização dos desenhos. Isto implica nacompreensão de como os naturalistas convencionavamna época suas observações, descrições e classificações.Dividimos o numeroso e variado acervo iconográficoda Viagem Philosophica em três categorias científicas:zoológica, botânica e histórico-geográf ica,considerando-se os propósitos científicos, políticos,artísticos e sociais da expedição. Os temas dezoologia e botânica incluem os fenômenos domundo animal e vegetal. Na categoria histórico-geográfica são retratadas as atividades, utensílios,ornamentos, trajes, habitações dos habitantes daAmazônia, assim como cenas de cidades, vilas,fortalezas, rios, cachoeiras, montanhas, habitações,canoas, barcos etc e, ainda, os mapas confeccionadosposteriormente à viagem.A forma e o conteúdo das imagens devem sempreser considerados no contexto político, econômicoe social da Viagem Philosophica que se encontramexplícitos ou implícitos nos desenhos ou nos textoscomplementares às imagens. O contexto históricopode determinar alguns elementos de sumaimportância, como a escolha dos locais que seriamdesenhados de acordo com sua localizaçãogeográfica, importância econômica ou informaçõessocioculturais que deviam ser descritas para a efetiva

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colonização, detalhamento das representações dezoologia ou botânica pelas possibilidades deexploração dos animais e plantas de cada local etc.Os objetos retratados por artistas e naturalistasdurante as viagens científicas giravam em torno dosobjetivos de cada expedição e do contexto científico,artístico, político e social em que as expediçõescientíficas se inseriam. Uma nova forma descritivade representar e domesticar o mundo fez parte dogrande projeto de expansão política e comercial quea Europa planejava. É na articulação de naturezapolítico-administrativa, científica e econômica quedevemos compreender as grandes expediçõescientíficas e militares patrocinadas e idealizadas pelosestados europeus com objetivos claros de apropriaçãode regiões geográficas e exploração econômica desuas potencialidades (DOMINGUES, 1991). Nestecontexto que estudamos a Viagem Philosophica deFerreira e particularmente neste artigo, os desenhose textos produzidos na expedição para a ilha doMarajó.

CARACTERIZAÇÕES HISTÓRICAS EGEOGRÁFICAS DE MONFORTE

Na perspectiva de integração entre arte e ciência,analisamos o Prospecto da Villa de Monforte (Figura 1)relacionando-o aos textos escritos por AlexandreRodrigues Ferreira. Ele é uma representação do grupohistórico-geográfico da iconografia da ViagemPhilosophica. Os desenhos deste grupo condizemcom os objetivos de Ferreira de compor a histórianatural, civil, filosófica e política do Estado. Além disto,são registros complementares aos levantamentosgeográficos das Comissões de Demarcações deLimites (REIS, 1957; DOMINGUES, 1991). Históriae a geografia eram integradas para mostrar a“antigüidade dos estabelecimentos portugueses” ecaracterizar a posse lusitana do território, servindocomo instrumentos de controle territorial e humano.Quanto à forma do Prospecto de Monforte, de início,poderíamos caracterizá-lo como uma paisagem,

assim como outras cenas de cidades, vilas, povoações,rios e cachoeiras da Viagem Philosophica. Porém,como assinalado no título, trata-se de um prospecto.Buscando em alguns dicionários da época ossignificados para os termos prospecto e paisagem,não encontramos uma diferenciação clara entre eles.Em um dicionário histórico de arte de um português(RODRIGUES, 1875), encontramos a seguintedesignação para prospecto:

“Do latim, prospectus: ver de longe. (Architectura)Representação óptica de obras d’arte e da natureza,principalmente de edifícios. ‘E chamam os latinos a verd’este modo prospecto, de onde vem perspectiva, e osgregos lhe chamam optica’”.

Esta significação aponta para algumas consideraçõessobre a forma prospectiva de desenhar. O prospecto,antes de tudo, pode ser entendido como perspectiva.Quanto à forma, este tipo de representação édiferente dos desenhos de animais, índios e plantasque não foram pintados em perspectiva. Ferreira,em sua correspondência, designa prospectos comodesenhos em perspectiva ou, simplesmente,perspectivas. Ele explica que estas representaçõesdemoram mais tempo para serem feitas, por queem si agregam duas funções, a da utilidade e a doprazer estético.Os prospectos da Viagem Philosophica podemtambém ser denominados cartas topográficas. Ascartas topográficas que mostravam predominantementea topografia do local informavam também sobre adisposição das casas, sobre a vegetação local, sobreo movimento de embarcações, como encontramosno prospecto de Monforte (Figura 1). Estas formasde representação, amplamente utilizadas na ViagemPhilosophica, foram baseadas em tradiçõesrepresentativas que se estabeleceram desde o séculoXV, em que as formas topográficas tambémdependiam, em grande medida, da posição ondese encontrava o desenhador quando retratava seuobjeto. No prospecto de Monforte, o desenhadorencontrava-se na margem oposta do rio quandoobservava a povoação para retratá-la. A topografia

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do local permitia que ele vislumbrasse a cidade naaltura de seus olhos, o que determinou que arepresentação fosse feita em perfil. Como emMonforte não havia um local mais elevado onde odesenhador pudesse observar a cidade do alto, a únicaforma de registro do local era em perfil. A conceituaçãopara perfil apontada por Souza (1995, p. 78) tambémse enquadra na caracterização destas perspectivas:

“O perfil na arte de paisagem consiste num recursoformal de representação de lugares no qual unem-secartografia e arte: nele são providas informações sobrea situação geral do lugar no que diz respeito àconformação topográfica e aos acidentes geográficoscomo a existência de rio, lago ou mar.”.

A representação das cidades em perfil foi uma dasprimeiras formas de representação das paisagenscosteiras por europeus na América, após odescobrimento. A tradição de retratar a cidade vistaa certa distância, no nível do olhar do observador,relaciona-se fortemente com a prát ica danavegação. Antigos navegadores tinham o hábito dedesenhar perfis de linhas costeiras que eles viam emsuas viagens para funcionarem como um guia parafuturas viagens, pois forneciam informações úteissobre a localização e o reconhecimento dos lugares(SOUZA, 1995, p. 78).O modo que os desenhadores utilizavam pararepresentar seus prospectos constituía umaaproximação entre as técnicas de desenho, pinturae perspectiva e um modo cartográfico de representaras paisagens. Alpers (1999) destaca que, na Holanda,no século XVII, havia uma congruência entrecartografar e pintar, devendo-se considerar tantoos aspectos artísticos quanto geográficos dos mapase paisagens topográficas para se compreender acartografia holandesa deste período. Umaconvergência entre as informações e suasrepresentações surgiu com as grandes expediçõesdo século XVI, o que teria impulsionado o estudo ea representação da flora, fauna e geografia e de suasrepresentações. Estas eram feitas englobando todosos aspectos em um único mapa: “a astronomia, a

história do mundo, as vistas de cidades, os costumes,a flora e a fauna vieram a aglomerar-se em imagense palavras ao redor do centro oferecido pelo mapa”(ALPERS, 1999).Em Portugal, na segunda metade do século XVIII,esta congruência entre cartografia e pintura tambémocorre, porém, consideramos que havia um sentidode complementaridade entre as representações, emque as vistas topográficas ou prospectos mostravamcenas que os mapas não representavam.As observações geográficas, assim como os desenhosque lhes eram complementares, relacionavam-seà geografia física, em que: “todas as observaçõesque tiverem feito sobre o fisico do paiz, serão bemaceitas, principalmente aquellas, que possão de algummodo ser uteis para o augmento do commercio edas artes”, de acordo com Breves instruções (1781).Constatamos aqui o princípio da utilidade, premissabásica da ciência moderna, onde as observações edescrições serviriam para o desenvolvimento docomércio e da indústria. Nas Instruções (1956, p.49) para os membros da expedição, encontramostambém estes princípios pragmáticos, onde osobjetivos da expedição seriam apenas o da “utilidadeda Pátria” e do “crédito da Nação”.Os prospectos de cidades, vilas, povoações eedifícios podem ser caracterizados como urbanos,devendo ser analisados em conjunto para umavisualização mais completa possível das povoações.Não iremos tratar desta categoria esteticamente,ou com os estilos arquitetônicos e artísticospresentes nas representações, pois o que nosinteressa são os conceitos geográficos e científicosimplícitos ou explícitos em tais desenhos. Algunsdesses prospectos, como as fortalezas emonumentos, contêm informações sobre asestratégias pol í t ico-mil i tares da ocupaçãoamazônica, outros, como os desenhos das casas,possuem informações socioculturais sobre o modode viver dos índios e brancos da Amazônia.A estrutura urbanística representada no prospectode Monforte (Figura 1) simbolizava a administração

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temporal instituída durante a administraçãopombalina. Foram criadas instituições como acâmara, o pelourinho, a cadeia, a residência dodiretor, a igreja e as casas para o exercício de funções,como os armazéns e as casas das canoas que setornaram símbolos do poder do Estado e serviamcomo ferramentas para a concretização das políticasque seriam implantadas na região Amazônica(DOMINGUES, 1995). Pelo Alvará de 7 de junhode 1755, foi abolido o governo temporal e espiritualque tinham os missionários. As aldeias passaram aser vilas e lugares, ficando dez povoações na ilha deJoannes (ou Marajó): 5 vilas e 5 lugares. As antigasaldeias com nomes indígenas foram renomeadas –atitude que simbolizaria a apropriação e controleda população. Os missionários tornaram-se apenasorientadores espirituais e criou-se uma novaestrutura política para empregar governadores,juizes, vereadores e outros oficiais.Na casa do Capitão da ordenança da vila, assinaladacom o nº 4, ficava a Câmara. Símbolo da dominaçãoportuguesa, assim como em outras vilas da ilha deJoanes, a câmara era presidida por dois juízes (umbranco e um índio), três vereadores (índios oubrancos), um escrivão (sempre branco), umprocurador, oficiais de justiça e o Principal dos Índios(Notícia histórica). No prospecto estavam aindaassinalados o Armazém da Vila e do pesqueiro Real(nº 3), onde estavam contratados os índios da vila ea Casa das Canoas (nº 5), elementos comuns naurbanização amazônica e essenciais ao cotidiano daspovoações.As construções assinaladas no prospectodistinguem-se das outras por serem cobertas detelhas e construídas com pedra e cal. As casas estãoalinhadas geometricamente às margens do rio,urbanização característica das vilas amazônicas dasegunda metade do século XVIII. Tal geometrizaçãourbanística enquadrava-se na política urbanizadorado Marquês de Pombal e mostrava a ocupaçãoportuguesa e a efetivação da prática colonizadora.Ao fundo das casas, está representada a vegetação.

A canoa do Ouvidor, assinalada com o nº 6, estavasendo util izada pelos membros da ViagemPhilosophica. Trata-se de uma canoa coberta demadeira, normalmente utilizada no transporte dosoficiais do estado. A importância da marinha nointerior do estado para o desenvolvimentoeconômico da região, para o transporte das drogasdo sertão e produtos agrícolas produzidos no estado,assim como para a dominação política e militaratravés das inspeções, foi um tema bastante debatidopelo naturalista. Em várias de suas memórias oudiários, Ferreira analisa as técnicas de navegação, aconstrução de embarcações e as condições físicasde cada região.Num primeiro plano do prospecto de Monforte,encontramos o rio navegado por duas canoas, ouigarités. A presença de embarcações nos prospectosdas povoações é muito comum na iconografia daViagem Philosophica, pois, além de documentaremas construções náuticas características, tambémeram símbolos políticos e de prosperidade comercialda colônia. Quanto maior o tráfego de canoas nosrios, maior seria o transporte de gêneros agrícolase industriais, o que simbolizaria o desenvolvimentocomercial da colônia.Em suas funções fi losóficas, Ferreira estavaexaminando as condições naturais da ilha para seucrescimento populacional e desenvolvimentoeconômico. O naturalista mostra-se bastanteentusiasmado com as condições naturais da ilha,considerando-a:

“no tocante à sua extensão, fertilidade, produções, rios,situações, como o embrião de uma vasta província”(Noticia histórica, p. 150).

O autor se debruça, então, em cada um destesfatores tecendo considerações que pudessem levarao desenvolvimento agrícola e comercial. Sob estaperspectiva desenvolvimentista, ele fez uma análiseda situação hidrográfica e das possibilidades denavegação para o transporte de gêneros produzidosna ilha:

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“Examinarei agora se, para crescer a povoação, faltamna Ilha rios, que sirvam para os transportes dos seusgêneros... não entro no detalhe particular dos rios todos,e igarapés grandes ou pequenos; porque só fito a vistanos que ou são, ou se podem fazer mais navegáveis, éposta esta prevenção” (Noticia histórica, p. 156)

No tocante à hidrografia, suas observações são feitastanto pessoalmente, quando esteve no campo,quanto na análise de uma carta geográfica “que aseu modo traçou o Comandante” (Noticia histórica,p. 157). Ele descreve a situação dos principais riose lagos da ilha, tecendo algumas considerações sobreos gêneros produzidos e a fertilidade dos solos. Oprospecto pode ser considerado complementar àCarta Geográfica por ele indicado, mas por suasdescrições não é possível determinar o autor, datae título, dificultando sua localização.O destaque especial conferido ao rio e àsembarcações no prospecto de Monforte condiz coma memória do naturalista e suas análises referentesao transporte. A navegação marajoara para Ferreira(Noticia histórica) fazia-se em função das condiçõesnaturais como as marés, as correntezas, as direçõesdos ventos, assim como das necessidades comerciaiscom o transporte do gado o ano todo. O naturalistaem seu pragmatismo aponta o desenvolvimentonáutico pelas necessidades comerciais da população:

“... mas que outro remédio tem senão atravessá-lasem todo o tempo as Canoas, que transportam o gadopara os açougues da cidade? Eis aqui a necessidade,que sempre foi a mestra da indústria, também nestepaís feita mestra da navegação: observam que os ventosreinantes na Costa da Ilha ... e praticada contudo aprudência náutica, atravessam para a ilha grande...”(Noticia histórica, p. 148)

Situada sobre a costa do rio Amazonas, a vilalocalizava-se em frente ao canal da cidade de Belém,dando para observar “os navios que demandam oporto do Pará, e da Vila expede o Comandante umaCanoa de aviso ao General dando-lhe parte do Lugarem que descobre o navio, do seu tamanho e o maisque pode observar” (Noticia histórica, p. 162). Alocalização estratégica da vila possibilitava o controle

comercial e a defesa da ilha e da capital do estado doGrão -Pará e Maranhão. Com uma população emtorno de 700 pessoas, a vila de Monforte contavacom oficiais das quatro companhias militares criadaspor João Pereira Caldas e mais as ordenanças de índios,que se localizavam no Quartel Comandante,assinalado no prospecto com o nº 2.A associação de Ferreira entre o sistema hidrográficoe a navegação no estado do Grão-Pará convinhacom a política colonizadora de conquista,legitimação, exploração e defesa do território. Aobservação dos sistemas fluviais na Amazônia eraum instrumento de ação política onde os rios seriamos canais para possíveis penetrações estrangeiras quedeveriam ser evitadas. Além disto, eram o meio detransporte e de escoamento da produção agrícola,mineral e das drogas do sertão (produtos nativoscomo cravo Eugenia caryophyllata, salsa parrilhaSmillax officinalis, cacau Theobroma cacao etc, queeram extraídos das matas) que consolidariam apolítica mercantilista portuguesa na região. Assim,os prospectos de rios e cachoeiras, juntamente comas cartas hidrográficas serviriam como instrumentosde efetiva dominação e colonização da Amazônia,pois indicariam as rotas fluviais.

HISTÓRIA DOS JOANNES

As considerações de Ferreira sobre a história daocupação da ilha e de seus habitantes são expressastanto na Notícia Histórica (1964), como num textopossivelmente composto quando ele esteve no localintitulado “Notícia da nação Juioana a que chamamhoje Sacaca”, (FERREIRA, 1974, p. 99-101). Asconsiderações históricas e etnográficas dos povosda ilha de Marajó interessaram o naturalista, masparece não terem sido registradas em nenhumaimagem, pois não encontramos desenho dos índiosdescritos por Ferreira.Não podemos dizer que as descrições dos índiospor Ferreira sejam antropológicas, pois, na época,a antropologia ainda não estava estruturada. As

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observações sobre os humanos estavam muito maispróximas da zoologia. Na obra de Ferreira,constatamos este tipo de tratamento principalmentenas Observações gerais e particulares sobre as classesdos mammaes (FERREIRA, 1972, p. 67-204). Onaturalista inicia este texto tratando dos homensamericanos, que seriam da ordem dos Primatas:

“O homem natural f icou sendo o objeto dasobservações dos naturalistas. A sabedoria ligada à suaalma, a docilidade e o ensino, forma o caráter essencialde sua espécie. A diversidade de sua cor, os diversoslugares em que habita, os seus usos e faculdadescorporais, indicam que, como em outros animais,também a sua espécie apresenta variedades.”(FERREIRA, 1972, p. 74).

Para nós, a perplexidade é causada por seremagrupados os indígenas das etnias visitadas peloscomponentes da expedição juntamente com osoutros animais. Tal concepção é condizente com ahistória natural do século XVIII, quando se acreditavana Grande Cadeia do Ser: uma hierarquia na qualhavia uma descendência a passos graduais econtínuos, na qual o homem europeu ocupava otopo da cadeia, passando pelos humanos “maisinferiores”, pelos animais, posteriormente pelosvegetais, até o mais inferior dos minerais(TOULMIN; GOODFIELD, 1990). As concepçõesetnográficas de Ferreira, na qual ele buscava umahierarquia entre os indígenas condizem com estateoria.De acordo com a Notícia Histórica, a vila deMonforte foi constituída pelos índios da naçãoJuioana (daí vem o nome da ilha, que depois sereduziu a Joannes) numa guerra com os Aroãs. Osíndios Juoianes (posteriormente chamados Sacacas)habitavam o interior da ilha, quando os Aroãs,juntamente com os Tupinambás, obrigaram-nos adescer para a costa. Os Juoianes foram à cidade doPará, sujeitando-se ao domínio português em trocade auxílio militar na guerra contra os Aroãs, queforam dizimados na ilha pelos portugueses. Assim,os Juoianes ficaram na Aldeia de Joanes (depois Vila

de Monforte) e os Aroãs espalharam-se emdiversas aldeias de administração dos capuchos:Najatuba (depois Vila de Chaves), Conceição (depoisVila de Salvaterra), de São José (depois lugar deMondim). Indígenas de outras nações espalharam-se em alguns povoados da ilha, como os Ingaíbasque ficaram nas vilas de Conde e de Beja, deadministração dos jesuítas.As descrições sobre a história da ocupação da ilhaajustam-se aos objetivos de Ferreira de um diaescrever a “História da Indústria Americana”(COELHO, 1998), ou seja, através da descrição eanálise dos trajes, armas, utensílios e ornamentosindígenas, o naturalista pretendia avaliar o grau de“civilização” dos indígenas, que o levava a coletar,desenhar e descrever os “produtos industriais”.Assim, as considerações de Ferreira sobre os índiosnão eram simplesmente naturalistas e sim históricas,políticas, sociais e econômicas.Possivelmente foram coletados objetos etnográficosna excursão, mas não foi feito nenhum desenhoreferente às coleções e aos povos marajoaras. Nadocumentação resultante da Viagem Philosophica édifícil determinar o preparo de alguma coleçãoartificial. Hartmann (1991) identifica duas figuraszoomorfas de borracha, que possivelmente foramcoletadas por Ferreira na ilha de Marajó. Estesobjetos estão na Academia de Ciências de Lisboa eHartmann determinou o local de procedência pelasdescrições de Spix e Martius, que percorreram aregião em 1819. De acordo com estes viajantes,os seringueiros colocavam a seiva em formas debarro e moldavam objetos de formas diversas:frutas, animais ou figuras de pessoas. Mas na relaçãode Agostinho do Cabo (1788) não há referência anenhum objeto da ilha.A Notícia Histórica e o Prospecto de Monfortemostram, ainda, a história de aculturação dos povosda ilha de Marajó. A igreja matriz, assinalada com onº 1, era da Invocação de Nossa Senhora doRosário, Invocação essa que, assim como em outrasvilas e lugares da ilha, foi o que “não mudou no

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meio desta revolução geral” (Noticia histórica,p. 152). Após as reformas pombalinas, oseclesiásticos não possuíam mais o poder temporal,apenas o espiritual. Porém, os missionárioscontinuavam a exercer uma função na colonizaçãodos índios, através da catequização e de algunsdescimentos de índios para as vilas estabelecidas emlocais estratégicos.A representação da igreja simboliza, então, estepoder espiritual. É principalmente sob a ótica dahistória do estabelecimento das aldeias que Ferreirafaz referências aos religiosos em vários de seus textosproduzidos durante a Viagem Philosophica. Para onaturalista, assim como para a administração colonial,os religiosos deveriam continuar trabalhando nodescimento de índios para a criação de novaspovoações. Assim, os religiosos ajudariam a efetivara posse portuguesa do território colonial,arregimentando mão-de-obra indígena para aagricultura das povoações, e estabelecer acolonização na Amazônia. Ao falar dos religiososmercedários que tinham uma igreja em Belém, notexto explicativo do prospecto de Belém, (FERREIRA,1784), diz o seguinte:

“Melhor seria, q tanto estes, como os outros frades seempregassem antes, em dêcerem, e aldeassem o Gentiopela pregação do Evangelho, à imitação dos seusinstituidores, do q estarem enchendo cellas no conventoda cidade, com o pretexto da obrigação do côro. Estaobrigação suppoem q não collide com ella outra obrigaçãode maior serviço para D.s [Deus] e para S. Mag.e.”

Mesmo após a expulsão dos jesuítas durante oconsulado pombalino, o poder eclesiástico aindapossuía grande expressão econômica na região -algumas ordens eram donas de diversas fazendas,como os mercedários que possuíam as melhoresfazendas de gado na ilha de Marajó e um engenhode açúcar. As igrejas da capital simbolizavam acentralização deste poder eclesiástico na economia,na política e na sociedade do estado do Grão-Pará,e as igrejas de cada povoado se subordinavam a elas,simbolizando as práticas de aculturação dos índios.

OS ANIMAIS DA ILHA DE MARAJÓ

Nesta viagem para a ilha de Marajó, o jardineirobotânico Agostinho do Cabo esteve gravementedoente a maior parte do tempo, com exceção denove dias. Por isto, os desenhadores estiveramincumbidos de fazer as preparações dos produtosnaturais, habilidade extra destes profissionais de acordocom as vicissitudes do campo, consumindo- lhesbastante tempo e impedindo que fizessem muitosdesenhos (Carta de Alexandre Rodrigues Ferreira,datada do Pará a 23 de dezembro de 1783 apudLIMA, 1753, p. 118-119).Apesar do tempo reduzido para a confecção dedesenhos, há algumas estampas referentes aosanimais da ilha de Marajó. Esta determinação podeser feita por algumas indicações nas estampas, comoé o caso da estampa de um tucano de papo brancode Monforte pousado em um cajueiro. O animalvem assinalado com o nº 1, a árvore com o nº 2 ena parte inferior da representação há uma legendaexplicativa: “Nº 1 Ramphastos niger, orbitis pedibusque caeruleis, uropygio, rostri que carinalongitudinaliter luteis, pectore albo, rubro fimbriato.Tucano de papo branco, de Monforte. Freire, annode 84”; “Nº 2, Inarcadian occidentale. Linn. Cajú.”(Figura 2). Pela data da estampa – 1784 – quecorresponde à época em que os membros daexpedição já tinham voltado da ilha e encontravam-se em Belém, verificamos que não foi feita pelaobservação do animal vivo no campo, mas simposteriormente em Belém. Muitas das estampasforam confeccionadas pelos desenhadores na casaem que se hospedaram na rua do Norte na capitaldo Estado. No meio da sala da casa havia uma grandemesa onde Ferreira trabalhava e, defronte às janelas,havia duas mesas onde os desenhadores ‘riscavam’os desenhos desde o sábado de noite até segunda-feira de manhã (FERREIRA, 1933).Além desta ave, há mais duas do Marajó: o “Quirirúde Marajó” Guira guira (GMELIN, 1788) (Figuras3-4) e o “Pato do Marajó” Neochen jubata (SPIX,

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1825) (Figura 5) (TEIXEIRA, 1998). Na Noticiahistórica, Ferreira cita alguns dos animais encontradosna ilha e menciona o tucano de papo branco(também outros tucanos: o aracari e o encarnado)e o pato. Além destes, ele fala que são notáveis otijoju, jaburu, maguari, urubus negros, urubus tingas,as corujas, mochos, corvos, papagaios, araras, asmarandubeiras, amanaciras, tem-tem, guará,jacamins etc, que podem ter sido coletados edesenhados na excursão à ilha, mas não encontramosnenhum desenho referente a essas aves.Além das aves, pode ser que haja mais desenhos deanimais da ilha de Marajó. Na 2ª remessa de 24 dedezembro de 1783, foram enviados a Lisboa trêsjacarés: dois preparados e um esqueleto, doismamíferos terrestres vivos e um esqueleto demamífero aquático e, possivelmente, outrosanimais, como aves e peixes que não foram citadospor Agostinho do Cabo (1788) na sua relação dasremessas para Lisboa. A respeito dos jacarés ébastante provável que haja desenhos, pois chamarambastante a atenção de Alexandre Rodrigues pelotamanho em sua “Memória sobre os jacarés doestado do Grão-Pará” (FERREIRA, 1972, p. 45)

“Há três variedades de jacarés: a primeira chamada dejacaré-açú ou grande, a segunda chamada jacaré-tinga ou branca e a terceira jacaré-curuba ou de sarna.Supõe-se que existem em maior ou menorabundância nos rios do Estado do Pará; contudo, não vitantos nem tão grandes como na Ilha grande de Joanes,também chamada Marajó; no lugar de outeiro ouUrubuquara, na Vila de Monte Alegre ou Curupatuba,na Vila de Santarém, ou Tapajós, na Vila de Alter doChão ou Murari, nos Lagos de Vila Franca ou Cumaru,em Vila Boim e na de Pinhel, todos no rio Tapajós”

Encontramos apenas uma estampa do jacaré-tingaCaiman crocodilus (LINNAEUS, 1758 apudFERREIRA, 1971) (Figura 6), mas pode também tersido feita em Santarém no rio Tapajós, de onde foienviado a Lisboa, em janeiro de 1785, na 5ªremessa, um exemplar desta espécie (Carta Ferreirade Santarém a 9 de Janeiro de 1785. apud LIMA,1953, p. 140-141). Na memória sobre a ilha,

Ferreira cita os seguintes animais que podem tersido posteriormente representados, como peixes-boi Trichechus inunguis, pirarucus Arapaima gigas,dourados Coryphaena hippurus etc. (Noticiahistórica, 162).A imbricação entre arte e ciência para a produçãodestes desenhos zoológicos, leva-nos a buscar,na prática do desenho artístico, os significadosatribuídos a estas imagens, revelando algunssignif icados concernentes à forma dasrepresentações de animais na Viagem Philosophica.Com uma natureza essencialmente descritiva, taisdesenhos não se restringem apenas aodelineamento fiel de uma figura. No caso, o que édenominado aqui como desenho, corresponde àrepresentação de todos os detalhes do objeto deforma mais naturalística possível, devendo ser“riscados” todos os detalhes com o máximo deprecisão possível. Em um vocabulário de termosartísticos, Michel Angelo Brunetti (1815) assimdesigna o desenho:

“Desenho: na pintura entende-se de dous modos;significa o delineamento, a traça ou a idéia que concebeno pensamento o pintor, com a qual pinta na imaginaçãoo quadro ou figura ainda antes de começar; e toma-setambém pela justa medida, e proporção, ou forma exteriorque devem ter os objectos, que são imitados ao natural.”

O maior realismo dos desenhos de história naturaldependia tanto da delimitação das formas de maneiramais próxima ao natural, quanto da utilização decores pelas técnicas da aquarela. Este tipo derepresentação seria fronteiriço entre a pintura e odesenho, com uma absorção peculiar entre eles,com as funções de documentar e de representar oobjeto, tanto pela precisão no delineamento dasformas quanto pelas composições e gradações dascores que, aliadas, conferiam o máximo de realismoaos desenhos:

“Os desenhos coloridos chamam a atenção para o duploaspecto de uma representação pictórica: elesdocumentam o que aparece e também representamcomo ele aparece” (ALPERS, 1999, p. 103).

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Os desenhos feitos por Freire e Codina, durante aViagem Philosophica, teriam, então, este duploaspecto de documentação e de representação deplantas, animais e pessoas. No século XVIII asdescrições e representações eram feitas de mododistinto, separando-se em representações isoladasespécies animais, vegetais ou minerais, mas havendototal conexão entre elas.Os desenhos de animais da Viagem Philosophicaforam agrupados em um volume que foicaracterizado, na época, por algum naturalista emseis subgrupos (índios, quadrúpedes, aves, anfíbios,peixes e insetos). Particularmente os mamíferosforam divididos, por Alexandre Rodrigues Ferreira,em quadrúpedes, alados e pinados. Posteriormente,ele trata individualmente cada uma das ordens, comdescrições físicas sobre diversas espécies, incluindo,ainda, os usos econômicos, dietéticos e médicosde cada animal. Muitas destas espécies foramrepresentadas em desenhos.O grupo botânico distingue-se do zoológico tantona classificação científica quanto nas técnicasrepresentativas. Este grupo era o de maior interessepara a ciência, a política e a economia da época, oque explica o grande volume de desenhos de plantasque foram confeccionados durante a expedição. ABNRJ na obra Amazônia redescoberta no séculoXVIII (1992) e Belluzzo (1994) editaram algunsdesenhos da expedição, dentre os quais, há algunsde botânica, que são apenas uma pequena mostradentre o grande volume de 664 desenhos de plantasproduzidos durante a Viagem Philosophica e devárias cópias. A ausência de estudos sistemáticos etaxonômicos destes desenhos dificulta uma análisecomparativa entre os originais e suas cópias e nacaracterização de cada espécie.A investigação botânica necessariamente implicava naconfecção de desenhos, que seriam complementaresàs descrições textuais. A descrição textual tambémdevia permitir a elaboração de representações. Estadualidade imagem-texto foi apontada, no início doséculo XIX, por Félix de Avelar Brotero:

Figura 2. (1) Tucano de papo branco, de Monforte. (2)Anarcardium Occidentale Linn. Caju. Original confeccionadopor Freire, em Belém, em 1784. Pela indicação na legenda,provavelmente o espécime de tucano foi recolhido na ilhade Marajó e desenhado posteriormente (HARTMANN,1991).

Figura 3. Anum branco, tariri ou quiriri (anômalo) (Guira guira).Possivelmente foi confeccionado na ilha de Joannes (Marajó).Cópia confeccionada posteriormente à expedição na Casa doDesenho do Real Jardim Botânico de Ajuda. (FERREIRA, 1971,p. 97).

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Figura 6. Jacaretinga (Caiman crocodilus). Original (FERREIRA,1971, p. 65).

Figura 4. Anum branco, tariri ou quiriri (anômalo) (Guira guira).Possivelmente foi confeccionado na ilha de Joannes (Marajó).Original. (FERREIRA, 1971, p. 98).

Figura 5. Marrecão – pato de marajó (Neochen jubata). Original(FERREIRA, 1971, p. 81). Figura 7. Sucuri (Eunects notaeus) capturando capivara. Cópia

confeccionada na Casa do Desenho. (FERREIRA, 1971, p. 62).

“As estampas são na verdade de grande socorro, mashe raríssimo de encontrar alguma em que não hajãodefeitos e descuidos; demais disso há muitascircunstancias que não se podem nellas bem exprimir,as quaes se podem pelo contrario bem expor nasdescripções. Huma descripção, na qual se mencionassecompletissimamente a forma exterior, estado orgânico,e toda a natureza de huma planta, dando-se dellahuma boa estampa, seria hum fixo monumento da dictaplanta, e não deixaria para observar a respeito della oque huma descripção abbreviada, ainda que reunida ahuma boa Estampa, costuma deixar”6

6 Brotero, Compêndio de Botânica ou Noçoens Elementares desta Sciencia... t. primeiro. Paris, 1788, p. LXIX. apud Faria, 1999, p. 108.

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Muitos dos desenhos de plantas da ViagemPhilosophica são assinados e têm algumas anotaçõesconcernentes à data e ao local de execução, aoperíodo de florescimento da planta, ao seu nomeetc. Tais desenhos possuem relações implícitas comalgumas memórias botânicas, porém, a explicaçãoe a descrição de cada espécie provavelmenteconstava nos diários botânicos, desaparecidos desde1833.Para a classificação das plantas são necessárias apenasquatro variáveis: forma dos elementos, quantidadesdesses elementos, maneira como se distribuem noespaço uns em relação aos outros e grandeza relativade cada um. Estas variáveis deviam ser representadasnos desenhos botânicos de modo a possibilitar aclassificação da espécie, e poderiam, também, seraplicadas às cinco partes da planta – raízes, caules,folhas, flores, frutos (FOUCAULT, [199_?]).No caso dos desenhos da ilha do Marajó, há umdesenho do cajueiro (Figura 2), que é possívelanalisar. Ele foi identificado na Viagem Philosophica,como consta na sua legenda (Inarcadian occidentale.Linn. Caju). Esta imagem diferencia-se dos outrosdesenhos botânicos impressos que consultamos, poishá uma ave pousada nos galhos da árvore. Estacomposição da imagem determinou a forma dodesenho. Diferentemente de outros desenhosbotânicos da Viagem Philosophica, quando oexpectador se depara com a imagem, é possíveluma noção de escala de cada parte representada daplanta – os frutos, as folhas e as flores. Isto é possívelporque o tucano serve como um ponto de referêncianum olhar relativo entre as proporções do animal edas partes da planta.Outra disparidade com o conjunto de desenhosbotânicos é que nesta representação os quatrocomponentes visuais das flores – forma, posição,tamanho e distribuição no espaço – não foramrepresentados, impossibilitando a classificação daespécie pelo sistema linneano. Mas como já setratava de uma espécie conhecida, que inclusivefoi identificada durante a viagem, a representação

minuciosa do sistema sexual da planta não foinecessário. Em outros desenhos de plantas daViagem Philosophica, o sistema sexual éminuciosamente representado em tamanhonatural.As descrições geográficas escritas nos diários etextos da Viagem seriam complementares àsobservações zoológicas, botânicas e mineralógicas,assim como às coleções de história natural quedeviam ser enviadas ao reino, pois, na época, aciência já considerava uma associação entre alocalização geográfica e a distribuição das espécies,conferindo a estes desenhos caráter geográficoimplícito. Portanto, as observações de histórianatural deviam sempre ser acompanhadas dedescrições geográf icas, como indicado nasInstruções (1956):

“e como não interessa menos conhecer o paiz, que osproduz [produtos de história natural], recommenda-se aos correspondentes, que mandem tambem umadescripção geographica delle, que comprehenda comexacção possivel tudo o que lhe tiverem observado, elhes parecer mais digno da attenção de um filosofo.

Tal concepção científica nos leva a imaginar apossibilidade de encontrar desenhos de animais eplantas inseridos em seu habitat, como é muitocomum nas representações de artistas viajantes doséculo XIX, como Martius. Mas não encontramosespécies animais ou vegetais integradas em seuambiente natural na iconografia consultada sobre aViagem Philosophica.Muito inspiradoras para o naturalista, quiçá para osdesenhadores, as aves da ilha figuravam uma cenade notável beleza descrita por Ferreira (Noticiahistórica, p. 164), mas possivelmente não foirepresentada pelos desenhadores, pois nãoencontramos nenhum desenho assim:

“... é a perspectiva mais galante que os olhos humanospodem ver: porque as árvores em roda, não são árvores,mas viveiros de infinitos jaburus, tijujus, guarases,maguaris, patos...”

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A descrição de Ferreira assemelha-se às descriçõesde cenas pitorescas que vão estar presentes nasimagens e textos de diversos artistas-viajantesposteriores a Humboldt. Assim, como definido porArgan (1993, p. 20), “a poética iluminista dopitoresco vê o indivíduo integrado em seu ambientenatural”, o que entra em total consonância com adescrição da bela cena de Ferreira que consideranão as espécies individualmente, mas sim em seuconjunto. Porém, o treinamento dos artistas para odesenho de história natural era de fazer os desenhosde plantas e animais mostrando as espéciesindividualmente.Na iconografia da Viagem Philosophica encontramosalgumas tentativas de ambientação, como é o casodo tucano Ramphastos niger pousado no cajueiroque nos detemos anteriormente (Figura 2),mostrando os hábitos alimentares do animal.Há também um desenho de uma capivaraHydrochoerus hydrochoeris sendo capturada poruma sucuri Eunects notaeus (Figura 7) que apresentacomo o réptil estrangula sua presa. A cobra fixa-se, ainda, a um galho de uma árvore. Como setrata de uma cópia e não tivemos referências sobreo original, não sabemos se a estampa foi baseadaem uma cena presenciada no campo, ou se foi feitaem Lisboa, posteriormente à Viagem, por algumdesenhador da Casa do Desenho do Real JardimBotânico de Ajuda, que se valeu das descrições deFerreira para confeccioná-la.Estas tentativas de ambientação dos animais nãorevelam a diversidade natural, como descrito porArgan, nem tampouco ajustam-se à categoriaecológica caracterizada por Catlin (1997), dasimagens de artistas viajantes que estiveram naAmérica Latina no século XIX (1810-1860). Esteautor propõe uma divisão em quatro categorias detemas tratados pelos artistas cronistas viajantes queestiveram na América Latina: científica, ecológica,topológica e social. Os temas científicos incluíam asnovas descobertas do mundo mineral, animal evegetal. Na categoria topológica agrupavam-se:

vistas de cidades, lugarejos e praças, cenas portuáriase sítios de importância militar ou geográfica. Nacategoria social, achavam-se englobadas asatividades e os trajes típicos de toda espécie de gente.As observações ecológicas dos cronistas viajantesretratariam a diversidade da natureza em seuconjunto, incluindo as paisagens.Este modo de descrever e representar a naturezaem seu conjunto é uma combinação dasconcepções artísticas e científicas de Humboldt edos naturalistas posteriores a ele. Alexander vonHumboldt, junto com o francês Aimé Bonpland,fez uma viagem pela América espanhola, entre1799 e 1804. Especial atenção deve ser dedicadaà sua teoria sobre a distribuição das espécies pelatopografia do local, o que demanda que asdescrições e desenhos representem as espéciesexatamente no ambiente em que aparecem. Poroutro lado, Humboldt acreditava que a descriçãode uma forma estética era essencial para acompreensão do que estava sendo observado.Misturando a descrição científica com o discursoromântico do sublime, Humboldt criou o que elechamou de “a maneira estética de tratar temas dehistória natural”. Seu objetivo era produzir no leitor“esse prazer que a mente sensível recebe dacontemplação imediata da natureza” (PRATT,1991). O discurso sublime tratado por artistascomo Humboldt e outros naturalistas e artistas queo sucederam, ressalta a grandiosidade e a belezada natureza e a insignificância do homem peranteela.Este tipo de paisagem não aparece na iconografiada Viagem Philosophica, pois, nos prospectosgeográficos não é indicada a distribuição dasespécies, sendo apenas representada uma densavegetação sem mui tos deta lhes sobre asespécies botânicas e zoológicas que a compõem,e são retratados, principalmente, os aspectostopográficos e hidrográficos, como montanhas, riose cachoeiras.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As imagens de Freire e Codina, juntamente comtextos de Ferreira, produzidos na ilha de Joannes(ou Marajó), são complementares e devem serconsiderados em suas relações explícitas e implícitas.Na Notícia Histórica, Alexandre Rodrigues Ferreiradá uma ampla visão da ilha do Marajó em diversosaspectos como agricultura, comércio, náutica,urbanização, história, etnografia, zoologia, botânica.Seu texto não é somente descritivo. O autor analisaa situação política, econômica, social e natural dailha e em muitos casos propõe soluções para seudesenvolvimento.O prospecto de Monforte, com seu caráteressencialmente geográfico, em relação com o textode Ferreira, revela-nos as ações portuguesas paraefetivar a colonização na Amazônia. O prospectoda vila de Monforte mostra como eram planejadasas estruturas urbanas no estado do Grão-Pará queefetivariam a política colonial planejada desde aadministração pombalina. As imagens urbanas foramutilizadas pela administração como um instrumentode comprovação da posse dos povoados e deefetivação da colonização no estado.Constatamos que no prospecto de Monforte oscomponentes hidrográficos foram ressaltados,revelando os interesses do estado e dos membrosda Viagem Philosophica no conhecimento edominação náutica do sistema fluvial do estado doGrão -Pará. A representação de embarcações noprospecto ressalta a navegabilidade dos rios,componente simbólico de prosperidade comercial,agrícola e econômica da colônia. Ferreira tambémapresentou interesse na náutica em seus textos,mostrando que o aumento do fluxo de embarcaçõesnos sistemas fluviais levaria ao desenvolvimentoagrícola e comercial e seria uma forma de defendero território de invasões estrangeiras.Em seu texto, Ferreira mostrou sua preocupaçãocom a história da ocupação da ilha e com oscostumes dos povos. Isto coincidia com seus

objetivos de narrar a história dos estabelecimentosportugueses na Amazônia. Mas não encontrarmosdesenhos dos povos da ilha do Marajó ou indíciosde objetos coletados no local.Numa relação entre os desenhos de animais e osdocumentos resultantes da expedição, como ascorrespondências, as relações de remessas e asmemórias de Alexandre Rodrigues Ferreira,conseguimos identificar alguns animais que tenhamsido desenhados na ilha ou através da observaçãode espécimes coletados no local. Mostramos umadiferenciação nas técnicas de representação dedesenhos de animais e de prospectos geográficos.Foi possível, também, identificar um desenhobotânico: de um cajueiro. Este desenho se diferenciado conjunto de desenhos botânicos, pois, no galhoda árvore está pousado um tucano, que modificacompletamente a composição da imagem, tanto emsua forma, quanto nas informações científicas aserem transmitidas ao expectador.

AGRADECIMENTOS

Agradeço à Profa. Dra. Maria Margaret Lopes pelaorientação durante o mestrado e à Fundação deAmparo à Pesquisa do Estado de São Paulo –FAPESP pelo financiamento.

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Recebido: 07/05/2002Aprovado: 02/06/2003