a ilha desconhecida de jose saramago analise

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ANÁLISE DO CONTO DA ILHA DESCONHECIDA DE JOSÉ SARAMAGO Trata-se de um conto, como o próprio título diz, que possui similaridades com as metáforas bíblicas e os contos de fadas. O texto é construído a partir de um narrador onisciente,  portanto na terce ira pessoa, n o qual usa muitas vezes o s verbos no pre térito imperfe ito, por exemplo: passava, ouvia , dava , havia e outros. Esta característica corrobora com o que diz Propp, no livro As Raízes Históricas do Conto Maravilhoso, sobre a predominância deste tipo de flexão verbal em contos de fadas. Uma característica notória nos textos do autor é o uso de uma pontuação fora da norma como, por exemplo: Um homem foi bater à porta do rei e disse-lhe, Dá-me um barco. Como se vê a vírgula é colocada em lugar do que seriam dois pontos, a justificativa do autor, tão respondia exaustivamente em vida, é que o texto deve se aproximar da oralidade, uma vez que quando falamos não usamos pontuação, ou pelo menos a pontuação da norma culta. O conto fala da busca obstinada de um homem a uma ilha nomeada, obviamente, de Ilha Desconhec ida. Para conseguir este obje tivo ele vai até um determinado reino e fica para Podemos dividir o conto em duas partes: a primeira seria a tentativa do “homem” em convencer o “rei” a lhe dar um barco, a segunda seria a aquisição deste barco e as tentativas de fazê-lo ir à ilha desconheci da. Ademais, percebemos o uso de um anticlímax, que é segundo o dicionário  Aulete: 1. Fato, cena (de filme, peça teatral etc.), situação etc. que frustra a expectativa de um clímax por ser menos relevante, às vezes decepcionante . Os personagens não encontram realmente uma ilha desconhecida física, como diz o final do texto:  Depois, mal o so l acabou de nascer, o homem e a mulher foram pintar na proa do barco, de um lado e do outro, em letras brancas, o nome que ainda faltava dar à caravela. Pela hora do meio-dia, com a maré, A Ilha Desconhecida fez-se enfim ao mar, à procura de si mesma.  Nessas linhas finais nota-se u ma atmosfera metafóric a, bem pa recida com as parábolas de Jesus nos evangelhos bíblicos, como por exemplo a parábola das dez virgens encontradas em Mateus 25:1-13.

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ANÁLISE DO CONTO DA ILHA DESCONHECIDA DE JOSÉ SARAMAGO

Trata-se de um conto, como o próprio título diz, que possui similaridades com as

metáforas bíblicas e os contos de fadas. O texto é construído a partir de um narrador onisciente,

 portanto na terceira pessoa, no qual usa muitas vezes os verbos no pretérito imperfeito, por 

exemplo: passava, ouvia , dava , havia e outros. Esta característica corrobora com o que diz

Propp, no livro As Raízes Históricas do Conto Maravilhoso, sobre a predominância deste tipo

de flexão verbal em contos de fadas.

Uma característica notória nos textos do autor é o uso de uma pontuação fora da norma

como, por exemplo: Um homem foi bater à porta do rei e disse-lhe, Dá-me um barco. Como se

vê a vírgula é colocada em lugar do que seriam dois pontos, a justificativa do autor, tão

respondia exaustivamente em vida, é que o texto deve se aproximar da oralidade, uma vez que

quando falamos não usamos pontuação, ou pelo menos a pontuação da norma culta.

O conto fala da busca obstinada de um homem a uma ilha nomeada, obviamente, de Ilha

Desconhecida. Para conseguir este objetivo ele vai até um determinado reino e fica para

Podemos dividir o conto em duas partes: a primeira seria a tentativa do “homem” em convencer 

o “rei” a lhe dar um barco, a segunda seria a aquisição deste barco e as tentativas de fazê-lo ir à

ilha desconhecida.

Ademais, percebemos o uso de um anticlímax, que é segundo o dicionário

 Aulete: 1. Fato, cena (de filme, peça teatral etc.), situação etc. que frustra a expectativa de um

clímax por ser menos relevante, às vezes decepcionante. Os personagens não encontram

realmente uma ilha desconhecida física, como diz o final do texto:  Depois, mal o sol 

acabou de nascer, o homem e a mulher foram pintar na proa do barco, de um lado e do outro,em letras brancas, o nome que ainda faltava dar à caravela. Pela hora do meio-dia, com amaré, A Ilha Desconhecida fez-se enfim ao mar, à procura de si mesma.

 Nessas linhas finais nota-se uma atmosfera metafórica, bem parecida com as parábolasde Jesus nos evangelhos bíblicos, como por exemplo a parábola das dez virgens encontradas emMateus 25:1-13.