a ideias de ferdinand de saussure

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1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima Campus Boa Vista Diretoria de Graduação Licenciatura em Letras Espanhol e Literatura Hispânica Linguística I: Fundamentos epistemológicos Prof. Miguel Linhares A IDEIAS DE FERDINAND DE SAUSSURE UNIDADE I 1 1. Relembrando a linguística que se fazia no século XIX Como vimos em aulas passadas, a inovação mais relevante que houve nos estudos linguísticos do século XVIII para o XIX foi o fato de que a metodologia de pesquisa foi se tornando cada vez mais rigorosa. Assim, se até os alvores do século XIX ainda se faziam estudos extravagantes para demonstrar a toda custa que o hebraico era a primeira língua e conferir força de ciência à metáfora bíblica, propriamente já no século XIX o foco da pesquisa muda: de investigar qual tenha sido a primeira de todas as línguas a investigar a formação de certa família de línguas a partir da mudança de uma língua antiga, conhecida ou desconhecida. Como se disse, esse tipo de pesquisa surgiu dos trabalhos de dois precursores. Estudando o nórdico antigo, o dinamarquês Rasmus Rask (1787-1832) demonstrou a relação de parentesco entre este e o alemão e o inglês antigos, pelo que explicitou a família de línguas que hoje chamamos de germânica. Pela mesma época, o alemão Franz Bopp (1791-1867) comparou as línguas clássicas ocidentais, o grego e o latim, a uma das línguas clássicas da Índia, o sânscrito, que foi revelado ao Ocidente pela dominação britânica sobre este país. A comparação também incluía o gótico, a língua germânica de atestação mais antiga, e o avéstico 2 , a forma atestada mais antiga da língua persa, todas elas línguas que se convencionou chamar de indo-europeias. Como a obra de Bopp foi mais divulgada, foi ela, não a de Rask, que criou escola: a linguística comparativa. O rigor metodológico de que se tem falado é consequência do fato de que os linguistas comparatistas juntaram a filologia e a gramática descritiva. O estudo filológico permite seguir a mudança de certa forma por toda a extensão de sua atestação pela escrita. O estudo descritivo permite explicar essa mudança. Assim, à primeira vista a palavra conhecer e seu equivalente inglês know têm tão pouca semelhança que pareceria um contra-senso postular que têm a mesma origem. No entanto, se consultarmos textos escritos em português na Idade Média veremos que conhecer tinha a forma conhocer. E por que a vogal terá mudado? Veja que a maioria dos verbos que acabam com -ecer contêm a vogal /e/ nessa posição: parecer, empobrecer, envelhecer, esclarecer, daí conhocer > conhecer, ou seja, a mudança aconteceu para assemelhar o diferente ao modelo neste caso mais comum, fenômeno que tem o nome de analogia. Confrontando conhocer e o equivalente latino noscere 1 Esta unidade corresponde ao primeiro e segundo capítulos do Curso de linguística geral (doravante CLG), de Ferdinand de Saussure, que está contido na apostila de Linguística I: Fundamentos epistemológicos. 2 Chamado assim porque nela foi escrito o Avesta, as escrituras sagradas do zoroastrismo, religião dominante na Pérsia antes da conversão ao Islã.

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Texto sobre a evolução das ideias linguísticas do método histórico-comparativo a Saussure.

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    Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia de Roraima

    Campus Boa Vista

    Diretoria de Graduao

    Licenciatura em Letras Espanhol e Literatura Hispnica Lingustica I: Fundamentos epistemolgicos

    Prof. Miguel Linhares

    A IDEIAS DE FERDINAND DE SAUSSURE UNIDADE I1

    1. Relembrando a lingustica que se fazia no sculo XIX

    Como vimos em aulas passadas, a inovao mais relevante que houve nos

    estudos lingusticos do sculo XVIII para o XIX foi o fato de que a metodologia de

    pesquisa foi se tornando cada vez mais rigorosa. Assim, se at os alvores do sculo XIX

    ainda se faziam estudos extravagantes para demonstrar a toda custa que o hebraico era a

    primeira lngua e conferir fora de cincia metfora bblica, propriamente j no sculo

    XIX o foco da pesquisa muda: de investigar qual tenha sido a primeira de todas as

    lnguas a investigar a formao de certa famlia de lnguas a partir da mudana de uma

    lngua antiga, conhecida ou desconhecida.

    Como se disse, esse tipo de pesquisa surgiu dos trabalhos de dois precursores.

    Estudando o nrdico antigo, o dinamarqus Rasmus Rask (1787-1832) demonstrou a

    relao de parentesco entre este e o alemo e o ingls antigos, pelo que explicitou a

    famlia de lnguas que hoje chamamos de germnica. Pela mesma poca, o alemo

    Franz Bopp (1791-1867) comparou as lnguas clssicas ocidentais, o grego e o latim, a

    uma das lnguas clssicas da ndia, o snscrito, que foi revelado ao Ocidente pela

    dominao britnica sobre este pas. A comparao tambm inclua o gtico, a lngua

    germnica de atestao mais antiga, e o avstico2, a forma atestada mais antiga da

    lngua persa, todas elas lnguas que se convencionou chamar de indo-europeias. Como a

    obra de Bopp foi mais divulgada, foi ela, no a de Rask, que criou escola: a lingustica

    comparativa.

    O rigor metodolgico de que se tem falado consequncia do fato de que os

    linguistas comparatistas juntaram a filologia e a gramtica descritiva. O estudo

    filolgico permite seguir a mudana de certa forma por toda a extenso de sua atestao

    pela escrita. O estudo descritivo permite explicar essa mudana.

    Assim, primeira vista a palavra conhecer e seu equivalente ingls know tm to

    pouca semelhana que pareceria um contra-senso postular que tm a mesma origem. No

    entanto, se consultarmos textos escritos em portugus na Idade Mdia veremos que

    conhecer tinha a forma conhocer. E por que a vogal ter mudado? Veja que a maioria

    dos verbos que acabam com -ecer contm a vogal /e/ nessa posio: parecer,

    empobrecer, envelhecer, esclarecer, da conhocer > conhecer, ou seja, a mudana

    aconteceu para assemelhar o diferente ao modelo neste caso mais comum, fenmeno

    que tem o nome de analogia. Confrontando conhocer e o equivalente latino noscere

    1 Esta unidade corresponde ao primeiro e segundo captulos do Curso de lingustica geral (doravante

    CLG), de Ferdinand de Saussure, que est contido na apostila de Lingustica I: Fundamentos

    epistemolgicos. 2 Chamado assim porque nela foi escrito o Avesta, as escrituras sagradas do zoroastrismo, religio

    dominante na Prsia antes da converso ao Isl.

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    [noskere]3, percebe-se uma ntida semelhana, mas ainda assim resta esclarecer por que se acrescentou o elemento co-. Quem conhece a lngua latina sabe que nela h um

    prefixo {ko(N)-}, que expressa a ideia de companhia, correspondente preposio cum

    com. Essa ideia continua presente em palavras das lnguas romnicas que derivam de palavras latinas que continham este prefixo. Assim, colega quem est ligado com

    outra pessoa; compaixo (< lat. compassio [kompasio]) se sente quando se padece (pass- uma das formas da raiz que expressa a ideia de padecer em latim) junto com

    algum; duas pessoas casadas so cnjuges (tanto que as suas relaes so conjugais), e

    de fato so como uma parelha de bois presa a uma carroa, ligados com o jugo,

    instrumento tambm conhecido como canga. Portanto, bem plausvel supor que

    conhocer derive de noscere mais esse prefixo, ou seja, *conoscere, afinal se conhece o

    que foi aprendido, e em geral se aprende com algum.

    O problema da origem de conhecer estaria resolvido se no houvesse outro.

    que o /n/ entre vogais iguais em latim se apaga nasalizando-as em portugus: bonus >

    *bono > b > bom, lana > l > l, unus > *uno > > um, pelo que *conoscere teria dado *ccer no portugus antigo e *concer no moderno. , pois, preciso pesquisar

    mais sobre a forma latina. Ora, usando de novo a filologia, constatamos que nos

    testemunhos mais antigos da lngua latina aparece a forma gnoscere [noskere]. Juntando a forma gnoscere e o prefixo co- tem-se cognoscere, como o segmento /n/ entre vogais, que, este sim, d // (escrito ) em portugus, como demonstra a palavra punho, que vem de pugnus. Agora sim, podemos dizer com certeza que a

    palavra conhecer vem do latim cognoscere.

    E quanto a know? Embora hoje se diga [no], se na ortografia vigente ainda se escreve k-n-o-w porque no ingls antigo se dizia [kno]. Mesmo assim, uma forma que lembra pouco a encontrada nos clssicos latinos: noscere. Se compararmos know a

    gnoscere, a forma latina mais antiga, o parentesco se torna mais provvel, j que [k] e

    [] so consoantes articuladas no mesmo ponto, o vu palatino (portanto, consoantes velares), sendo que uma surda e a outra sonora. Se houver pares de palavras

    semelhantes em latim e em ingls em que estes sons alternem, ficar provado que h

    uma correlao entre as duas lnguas, o que aumenta ainda mais a chance de gnoscere e

    know procederem do mesmo timo. E temos! A estirpe genus [ns] em latim e a famlia kin [kn] em ingls, e mais parecido ao nosso problema: o joelho genu [nu] em latim e knee [ni] em ingls.

    Com isto, resta apenas explicar o segmento -scere em latim, e, novamente, para

    quem conhece a lngua fcil: {-sk-} um prefixo que expressa a ideia de mudana de

    estado, o que continua presente em alguns casos em portugus, por exemplo, quem diz

    que pobre diz que sempre foi pobre, mas quem diz que empobrece porque antes no

    era e agora comea a ser. Deste modo, compreende-se facilmente que a raiz de

    (g)noscere gno-, e que -sc- acrescenta a ideia de mudana de estado, como se fosse

    comear a saber. No mais, -e- a vogal temtica da terceira conjugao e -re a desinncia do infinitivo ativo.

    Portanto, conhecer em portugus e know em ingls tm a mesma origem, que,

    ainda que bastante distante, descritvel e explicvel mediante o mtodo histrico-

    comparativo. Dificilmente uma anlise sofisticada como esta teria sido possvel antes da

    consolidao deste mtodo. Provavelmente se tomaria a palavra inteira (g)noscere, sem

    perceber que preciso decomp-la, (g)no-+-sc-+-e-+-re, para ento obter a raiz (g)no-,

    que o que justo comparar com know.

    3 Uso a transcrio fontica para assinalar a pronncia de palavras em lngua estrangeira. Para os valores

    dos smbolos, pode-se continuar a consultar os exerccios de lingustica comparada.

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    Alm disso, na segunda metade do sculo XIX a pesquisa avanou ainda mais,

    quando o movimento dos neogramticos formulou a noo de lei fontica. Uma lei

    fontica uma mudana regular de uma lngua para outra, sendo uma continuao da

    outra. A lei fontica mais famosa da lingustica comparativa , talvez, a Lei de Grimm,

    chamada assim porque foi o gramtico alemo Jakob Grimm quem a evidenciou no

    comeo do sculo.

    A Lei de Grimm pode ser descrita com o seguinte enunciado: as consoantes

    oclusivas surdas do proto-indo-europeu se tornam fricativas no proto-germnico4,

    lngua no atestada da qual derivam as lnguas germnicas: alemo, ingls, sueco etc.

    Nas lnguas romnicas bastante evidente a lei fontica que constitui a aspirao

    e seu posterior apagamento do /f-/ latino em castelhano:

    Latim Castelhano

    Antigo Moderno

    facere [fakere] hazer [haer] hacer [aer] filius [fils] hijo [hio] hijo [ixo] formica [formika] hormiga [hormia] hormiga [ormia]

    O mtodo histrico-comparativo, mais comparativo que histrico quando no se

    dispe do texto escrito, continua a ser um meio til de se estudarem as mudanas que

    acarretaram divergncias entre lnguas com a mesma origem.

    A reao contra o mtodo histrico-comparativo

    Ao mesmo tempo em que os neogramticos aperfeioavam o mtodo histrico-

    comparativo foram surgindo outras abordagens com o fim de suprir suas naturais

    insuficincias.

    Uma das crticas mais relevantes neste sentido foi atentar-se para o fato de que a

    anlise comparativa privilegiava a dimenso fsica da linguagem, isto , os sons, tanto

    que o nome de lei fontica j aponta para isto. No entanto, como cdigo usado por uma

    sociedade, a lngua muito mais psquica do que fsica, sendo os sons a mera realizao

    desse cdigo abstrato que permite a comunicao entre os membros da sociedade, alm

    de ser um sinal de identidade coletiva.

    Um exemplo famoso de insuficincia do mtodo histrico-comparativo uma

    das palavras para galo em gasco: veguir [bei]. Pelas leis fonticas que regem a mudana do latim para esta variante do occitano5 a palavra latina gallus [als] deveria ter dado *gath [at], pois ll > th: ille [le] > eth [et] ele. Como explicar por leis fonticas a perda da palavra gallus em gasco? No explicam, pois neste caso

    necessrio observar a lngua alm da mudana dos sons, ou seja, a sua dimenso

    cultural. Ora, o que acontece que o gato tambm gat [at] em gasco, e como dois bichos to comuns no poderiam ser chamados pelo mesmo nome sem provocar

    frequentes confuses, passou-se a chamar o galo de veguir, ou seja, vigrio (< lat. uicarius [wkars]), afinal o galo e o vigrio fazem o mesmo, um com o canto e o outro com o sino: chamam as pessoas a cumprirem seus deveres.

    Fatos como este foram descritos e explicados por meio da pesquisa

    geolingustica, que mapeia a variao da lngua no espao. Surgiram outras abordagens

    semelhantes, mas a mais diferente e radical , sem dvida, o idealismo lingustico, que

    4 Vejam-se os exemplos dos exerccios de lingustica comparada. 5 O gasco variedade do occitano falada na Gasconha, cuja capital Bordeaux [bdo]. O occitano a lngua prpria de todo o sul da Frana, embora hoje seja minoritrio dentro do seu prprio domnio.

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    tomou forma em um momento em que os movimentos estticos que valorizavam a

    objetividade da cincia enfraqueciam a favor de um novo gosto pela subjetividade.

    O principal postulado do idealismo lingustico que as lnguas, como os povos

    que as falam, tm um esprito ou gnio, o Sprachgeist6 [paxast]. Assim, por esta abordagem se poderia tecer uma proposio to subjetiva quanto os sons guturais do

    alemo refletem o esprito viril e guerreiro da raa germnica. Embora o mtodo

    idealista tenha um fundo de verdade em suas premissas, como demonstrar depois a

    lingustica norte-americana ligada antropologia, a sua aplicao comprometia muito o

    valor cientfico de seus resultados.

    A importncia de Saussure

    Ferdinand de Saussure7 nasceu em Genebra, na parte francesa da Sua, em

    1857. Doutorou-se aos 23 anos na universidade alem de Leipzig [lap] com uma tese sobre o caso genitivo em snscrito. Saussure teve, pois, uma formao acadmica

    dentro da lingustica comparativa, especificamente dentro do movimento dos

    neogramticos. No entanto, as ideias que o tornaram o pai de lingustica moderna foram

    expostas em trs cursos que ministrou na universidade de Genebra, respectivamente de

    janeiro a julho de 1907, de novembro de 1908 a julho de 1909 e de outubro de 1910 a

    julho de 1911.

    De fato, Saussure um caso mpar na histria da cincia, dado que o livro que o

    consagrou no foi escrito por ele. Inovador e perfeccionista demais, Saussure no

    conservava nem mesmo as notas com as quais planejava suas aulas, muito menos

    publicou um livro para expor as suas ideias. O Cours de linguistique gnrale8 [ku d listik eneal], publicado dois anos aps a sua morte em 1913, foi uma iniciativa de seus discpulos que tinham assistido aos cursos. Poder-se-ia questionar o quanto fiel

    este texto ao pensamento do mestre, porm a edio crtica elaborada por Rudolf Engler

    em 1968 demonstra que os autores do texto do CLG redigiram uma boa sntese do

    contedo dos cursos de lingustica geral ministrados por Saussure, de modo que se h

    falhas, se devem natureza da transmisso do contedo e limitao que comporta um

    curso.

    Saussure foi inovador por uma razo muito singela: ele percebeu a insuficincia

    da lingustica na qual se formou e procurou supri-la. Ora, se observarmos com cuidado

    os estudos lingusticos levados a cabo no sculo XIX, nenhum estuda a lngua em si

    mesma, como ela , mas a mudana da lngua. Explicar que o // no proto-indo-europeu se ensurdece, /k/, no proto-germnico e se emudece antes de /n/ no ingls moderno,

    como em pr.-ind.-eur. *neH- > pr.-germ. *knwanan > ingl. know, no explica como funciona o verbo know em ingls, ou seja, estudavam-se as leis que regem a mudana

    em uma ou mais lnguas, mas no as leis que regem o funcionamento interno de uma

    lngua. E um dos mais famosos postulados de Saussure precisamente a diferenciao

    entre o estudo de uma ou mais lnguas em uma ou mais pocas, enfocando a mudana, e

    o estudo de uma lngua em uma s poca, enfocando a configurao interna.

    As ideias mais difundidas de Saussure so conhecidas como dicotomias

    saussurianas. Uma dicotomia um conceito que se reparte em dois outros,

    independentes e complementares, isto , um diferente do outro, mas um no existe

    sem o outro. Estudaremos quatro dicotomias: lngua fala, significado significante,

    6 Palavra alem. 7 L-se [fdin d sosy] em francs. No Brasil costuma-se ler [sosih]. 8 Traduzido para o portugus e publicado pela editora Cultrix junto com a editora da USP em 1969.

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    sincronia diacronia, paradigma sintagma. Cada uma constitui uma unidade desta

    etapa da nossa disciplina.

    A lingustica de Saussure

    O breve segundo captulo do CLG expe um anseio de Saussure. Tem o ttulo de

    Matria e tarefa da lingustica; suas relaes com as cincias conexas. Ora, no fim do

    sculo XIX para o XX havia tantos mtodos concorrendo no estudo das lnguas que

    quem o fazia no sabia muito bem se estava pesquisando no campo de uma cincia j

    estabelecida, como a histria, a filologia, a sociologia, a antropologia, a psicologia, a

    fisiologia, ou se estava produzindo em uma cincia nova.

    De fato, quem pesquisava os acontecimentos que tinham infludo na formao

    de uma lngua, no deixava de estudar histria, e se se valia de textos escritos nesta

    lngua, no deixava de fazer filologia; se pesquisava uma lngua como parte de uma

    cultura no deixava de fazer antropologia; se pesquisava a dimenso fsica da lngua, os

    sons, no podia se furtar de estudar fisiologia, mas se, ao contrrio, pesquisava a sua

    dimenso psicossocial, noes de psicologia e sociologia eram necessrias. Assim,

    pairava a dvida de se a lingustica era ou no uma cincia parte.

    Saussure lembrado mais uma vez por ter tido a perspiccia que ningum teve

    antes: a lingustica uma cincia independente porque tem seu prprio objeto. Como a

    lngua perpassa toda a interao entre os homens, pode ser estudada de vrios pontos de

    vista, inclusive dos pontos de vista de cincias diferentes, mas cada uma delas tem o seu

    prprio objeto:

    Filologia: o texto escrito (gr. [pilos] amigo, i. , amor ao saber); Antropologia: o homem (gr. [antrpos] homem); Sociologia: a sociedade (lat. societas [sokietas] sociedade); Psicologia: a mente (gr. [psyk] alma); Fisiologia: a natureza dos seres vivos (gr. [pysis] natureza).

    Do mesmo modo, o linguista tambm pode indiretamente estudar estes objetos,

    tanto que hoje h disciplinas dependentes da lingustica e independentes dela que

    estudam essas faces da lngua: a lingustica histrica, a sociolingustica, a lingustica

    cognitiva, a fonoaudiologia.

    Seja como for, Saussure atentou para o fato at ento despercebido de que

    independente do ponto de vista o que o linguista estuda a lngua: a lngua o objeto da

    lingustica, e por isto constitui uma cincia por si.

    Na prxima unidade estudaremos a primeira dicotomia saussuriana, lngua

    fala, em que se define o objeto da lingustica.

  • 6

    ATIVIDADES

    1. Resuma a unidade em trs pargrafos que perfaam no mnimo 20 linhas e no

    mximo 30.

    2. Na pgina 13 do CLG diz-se o seguinte sobre a matria da lingustica:

    A matria da lingustica constituda inicialmente por todas as manifestaes da linguagem humana, quer

    se trate de povos selvagens ou de naes civilizadas, de pocas arcaicas, clssicas ou de decadncia, considerando-se em cada perodo no s a linguagem correta e a bela linguagem, mas todas as formas de expresso.

    Escreva um comentrio de no mnimo 20 linhas e no mximo 30 destacando dois

    aspectos desta citao:

    a) uma diferenciao hoje defasada; b) a diferenciao entre a gramtica tradicional e a lingustica.

    2. Na mesma pgina diz-se que a tarefa da lingustica :

    a) fazer a descrio e a histria de todas as lnguas que puder abranger, o que quer dizer: fazer a

    histria das famlias de lnguas e reconstituir, na medida do possvel, as lnguas-mes de cada

    famlia;

    b) procurar as foras que esto em jogo, de modo permanente e universal, em todas as lnguas e deduzir as leis gerais s quais se possam referir todos os fenmenos peculiares da histria;

    c) delimitar-se e definir-se a si prpria.

    Escreva um comentrio de no mnimo 20 linhas e no mximo 30 destacando dois

    aspectos desta citao:

    a) o reconhecimento dos estudos lingusticos que se faziam no sculo XIX, com os quais o prprio Saussure se formou;

    b) a inovao de suas ideias sobre a lingustica.

  • 7

    ORIENTAES PARA A REDAO DA ATIVIDADE

    Redija as suas respostas com a fonte (tipo de letra) Times New Roman ou Arial com tamanho 12 e espaamento simples entre as linhas.

    Preste ateno ao uso do negrito e do itlico: o negrito serve, por exemplo, para ressaltar o ttulo, e o itlico, para assinalar palavras soltas.

    Na primeira pgina da sua resposta redija o cabealho com o seu nome centralizado, pule duas linhas e redija o ttulo em negrito no modo justificado:

    Resposta primeira atividade. Pule uma linha e redija o seu texto. Ao acab-

    lo, v seo Inserir do editor de texto, selecione a opo Quebra e a a opo

    Quebra de pgina. Com isto voc ser mandado pgina seguinte, na qual

    redigir o ttulo Resposta segunda atividade e o seu texto. O mesmo em

    relao terceira atividade. Insira a numerao das pginas no canto inferior

    direito.

    Salve o seu documento com o formato .doc. Se redigir o documento no Word 2007 e salv-lo automaticamente, ficar com o formato .docx, e eu no poderei

    l-lo.

    Se quiser, estude com o seu colega, mas no copie as respostas dele. Respostas clonadas sero sumariamente anuladas, e voc o prejudicar. Se h algo que a lingustica gerativa provou que cada texto uma produo indita em uma

    lngua. Se eu mesmo perdesse o texto destas orientaes por algum motivo,

    quando as reescrevesse no sairiam igual, muito menos se fossem escritas por

    outra pessoa.

    Cada atividade vale 3 pontos, atribudos subjetivamente, e devem ser entregues impreterivelmente at sexta-feira.