a história das invenções - do machado de pedra às tecnologias da informação

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Trevor I. WIllIams hIsTórIa das Do machaDo De peDra Às TecNoloGIas Da INFormaçÃo

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Page 1: A história das Invenções - Do machado de pedra às tecnologias da informação

Trevor I. WIllIams hIsTórIa das

Do machaDo De peDra Às TecNoloGIas Da INFormaçÃo

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Agricultura, construção, transporte, energia, medicina, máquinas, armamentos, arquitetura e comunicação. Tudo o que você sempre quis saber sobre invenções está neste ambicioso projeto de Trevor I. Williams, que dedicou mais de 30 anos de sua vida a estudos sobre tecnologia. A história das invenções fascina e envolve os leitores em uma viagem pela história da atividade humana, que começa com o trabalho da pedra e o surgimento da agricultura até o lançamento de foguetes espaciais, o advento dos computadores e a invenção dos chips de silício.

Com conteúdo surpreendente e inúmeros fatos e dados curiosos, a obra atinge seu principal objetivo: mostrar como os fatores tecnológicos modelaram – e continuam a modelar – a história humana.

O velhO mundOOs primórdios da civilização; a Revolução Agrícola; o transporte; edificações e construções; energia e maquinário.

A desCObeRTA de um nOvO mundOda ascensão do islã ao Renascimento; as frotas e a navegação; o início da mecanização.

O nAsCImenTO dA IndusTRIAlIzAçãOO surgimento do mundo moderno; novas formas de transporte; a mineração e os metais; a invenção dos utensílios domésticos.

A expAnsãO TRAnsATlânTICAO início do século xx; a tecnologia militar e a primeira Guerra mundial; os novos canais de comunicação; a ascensão do transporte terrestre e aéreo; as novas técnicas de construção.

O mundO mOdeRnOO mundo do pós-guerra; medicina e saúde pública; os novos aspectos da agricultura e dos alimentos; novos materiais; os computadores e a tecnologia da informação.

contar a história da tecnologia

desde o despertar da

civilização até os dias de

hoje não é tarefa simples. porém,

não há ninguém mais indicado

para esse ambicioso trabalho que

Trevor I. Williams, que dedicou

mais de 30 anos de sua vida aos

estudos sobre ciência e tecnologia.

da Idade da pedra, passando pela

Revolução Agrícola, pelo início

da mecanização, pela evolução

tecnológica durante as grandes

guerras, até chegar ao advento

dos computadores e da tecnologia

da informação, o autor abrange a

história da civilização material em

sua totalidade e nos fornece uma

obra indispensável.

Com texto objetivo e de leitura

prazerosa, o livro possui conteúdo

surpreendente, com inúmeros

fatos, dados curiosos e mais de

300 imagens, incluindo:

FotograFias das principais invenções do homem

diversos inFográFicos que contribuem para uma Fácil compreensão

www.editoragutenberg.com.br0800 2831322

representações artísticas e imagens do período citado no texto

a cada início de capítulo, um mapa para identiFicar as principais características sociais do período histórico a ser descrito

uma linha do tempo em cada capítulo para identiFicar as principais invenções daquele período da história

trevor illtyd Williams nasceu em 16 de julho de 1921, em bristol, Inglaterra. escreveu e editou uma série de livros sobre química e tecnologia. A importância de seu trabalho rendeu-lhe, em 1976, o prêmio dexter, concedido a quem presta notáveis contribuições à história da química, por seu extenso número de publicações relativas à área.

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história das

D o m a c h a D o D e p e D r a À s t e c N o L o G i a s D a i N F o r m a ç Ã o

atualizado e revisto por:WiLLiam e. schaaF, Jr.com ariaNNe e. BurNette

tradução: cristiNa aNtuNes

trevor i. WiLLiamstrevor i. WiLLiams

Page 3: A história das Invenções - Do machado de pedra às tecnologias da informação

Publicado originalmente em 1987 por Macdonald & CoEdição atualizada e revista publicada em 1999 por Little, brown

and Company (UK)

Copyright do texto original © 1987 Trevor I. WilliamsMaterial textual adaptado da tradução em português © 1999 William E.

Schaaf Jr/ Little Brown Company (UK)

Copyright da tradução © 2009 Autêntica Editora LTDA./Gutenberg

TíTULo orIGInAL

A History of Invention – From Stone Axes to Silicon Chips

TrADUção

Cristina Antunes

ProJETo GráfICo DE CAPA

Diogo Droschi

ProJETo GráfICo DE MIoLo

Christiane Costa / Conrado Esteves

EDITorAção ELETrônICA

Christiane Costa / Conrado Esteves

EDIção DE TExToS

Ana Carolina Lins

rEvISão

Ana Carolina LinsCecília Martins

EDITorA rESPonSávEL

Rejane Dias

Todos os direitos reservados pela Autêntica Editora/Gutenberg. nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora.

AutênticA EditorA LtdA./gutEnbErg

rua Aimorés, 981, 8º andar . funcionários30140-071 . Belo Horizonte . MGTel: (55 31) 3222 68 19 Televendas: 0800 283 13 22www.autenticaeditora.com.br

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Williams, Trevor I.História das invenções : do machado de pedra às tecnologias da informação /

Trevor I. Williams ; tradução Cristina Antunes. – atual. e rev. por William E. Schaaf, Jr. e Arianne E. Burnette. – Belo Horizonte : Gutenberg, 2009.

Título original: A History of Invention : From Stone Axes to Silicon Chips.ISBN 978-85-89239-21-9

1. Invenções - História 2. Tecnologia - História I. Schaaf, William E.. II. Burnette, Arianne E.. III. Título.

10-02687 CDD-609

Índices para catálogo sistemático:

1. Invenções : História : Tecnologia 609

Page 4: A história das Invenções - Do machado de pedra às tecnologias da informação

Introdução

1 .Os primórdios da civilização2 . A Revolução Agrícola

3 . Transporte4 . Edificação e construção

5 . Engenharia e maquinário

6 .Da ascensão do Islã ao Renascimento7 . Frotas e navegação

8 .O início da mecanização

9 .O surgimento do Mundo Moderno10.Novos modos de transporte

11.Mineração e metais12. Utensílios domésticos

13.O princípio do século XX14. A tecnologia militar e

a Primeira Guerra Mundial15.Novos ca0nais de comunicação

16 . Transporte: a ascensão dotransporte terrestre e aéreo

17.Novas técnicas de construção

18.O mundo do Pós-Guerra19.Medicina e Saúde Pública

20. Novos aspectos da agricultura e dos alimentos

21.Novos materiais22. Computadores e Tecnologia da Informação

i. o veLho muNDo

ii. a DescoBerta De um Novo muNDo

iii. o NascimeNto Da iNDustriaLizaçÃo

iv. a expaNsÃo traNsatLâNtica

v. o muNDo moDerNo

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No decorrer dos últimos 30 anos dedi-quei muito tempo à história da tecnologia e escrevi e editei uma série de livros de ca-ráter geral, tratando de temas e períodos históricos específicos. O fato de eles terem sido bem recebidos encorajou-me a embar-car neste novo trabalho que é, ao mesmo tempo, mais ambicioso e mais simples. Mais ambicioso na medida em que abrange a to-talidade da história da civilização material, desde o trabalho da pedra e o surgimento da agricultura até o lançamento de foguetes espaciais e a o advento dos computadores e das tecnologias da informação. Simples porque notas de rodapé, referências no texto e outros aparatos acadêmicos foram deixa-dos de lado para favorecer um texto discur-sivo ininterrupto que resistisse à tentação de explorar caminhos secundários, ainda que esses possam ser interessantes. Usando idioma vernáculo moderno – ele próprio reflexo de avanços tecnológicos recentes –,

apostamos no impacto visual causado pelo amplo uso de imagens coloridas e ilustra-ções, diferentemente do modo anterior a que estive acostumado.

A civilização tem muitas facetas, mas a maneira como o homem vive depende muito mais do que ele pode fazer. O obje-tivo deste livro é despertar maior interesse pelo modo como os fatores tecnológicos modelaram – e continuam a modelar – a história humana; mas, se isso é conseguido, o interesse deve ser mantido. Há, portanto, uma extensa bibliografia no final para aque-les que quiserem leituras adicionais. Na maior parte do período aqui examinado, os inventores são anônimos e devem per-manecer assim: não podemos dizer quem fez a primeira roda ou fundiu o primeiro cobre. De fato, como veremos, é provável que muitas invenções básicas tenham sido feitas independentemente, em diferentes épocas e diversos lugares. Nas palavras de um provérbio russo, o melhor do novo é muitas vezes o passado imemorável.

À medida que a história se desenvolve, no entanto, a situação muda: invenções específicas podem ser progressivamente atribuídas a indivíduos específicos, aten-tos às oportunidades sociais e econômicas. Mesmo assim, podemos apontar diversos

O século XIX viu uma revolução no transporte por terra e por mar graças à

propulsão a vapor. Essa ilustração mostra o esboço de Boulton e Watt para o Clemont de Robert Fulton (1807). (Birminghan Public

Libraries. Boulton and Watt Collection)

i N t r o D u ç Ã o

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casos nos tempos atuais em que inventores rivais registraram patentes um do outro, num prazo de dias ou mesmo de horas. A ideia, por assim dizer, estava no ar, pronta para ser agarrada.

No entanto, embora o gênio criativo e imaginativo do indivíduo seja a mola mestra da invenção, neste momento, de certa forma talvez estejamos rumando para um novo pe-ríodo de anonimato, pois muito do progres-so tecnológico agora se origina do trabalho de equipes não identificadas publicamente, dentro de laboratórios governamentais ou de grandes corporações. Isso reflete ainda outro desenvolvimento significativo: a complexida-de da tecnologia moderna é hoje tão notá-vel que frequentemente apenas instituições

muito grandes podem se permitir aplicar os recursos necessários para se arriscarem mais longe dentro do desconhecido.

A ideia tradicional de que a necessi-dade é a mãe da invenção – postulada pela primeira vez por escritores clássicos como Aristóteles – é, na melhor das hipóteses, não mais que meia verdade. O que espero que este livro vá mostrar não é que a tecnologia serve apenas para satisfazer necessidades hu-manas visíveis, mas que a sociedade pode lucrar tirando proveito dos novos avanços técnicos. Às vezes é difícil perceber qual fator é dominante em um caso específico, mas, quando se trata da realidade da poderosa interação entre tecnologia e sociedade, não pode haver dúvida.

Trevor I. Williams.

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o veLho muNDo

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O VELHO MUNDOEsse é um termo conveniente, embora geral, que representa um período de cerca de 4.000 anos e abrange geograficamente uma distância que vai da Europa ocidental até a China – uma ampla zona dentro da qual uma sucessão de grandes impérios contíguos floresceu e caiu.

O IMPÉRIO ROMANO atingiu sua maior extensão no século III d.C., quando compreendia e havia assimilado as culturas da maior parte da Europa moderna, exceto a Alemanha, a costa norte da África, todo o Egito e grande parte do Oriente Médio.

O IMPÉRIO EGÍPCIOO IMPÉRIO ASSÍRIO

O IMPÉRIO ASSÍRIO floresceu de um pequeno começo no Tigre central. Por volta do século VII a.C., estendia-se do norte do Egito ao que é hoje o Irã ocidental, mas ruiu em 612 a.C. com o saque de Nínive, sua capital, pelos medos e babilônios.

O IMPÉRIO EGÍPCIO alcançou geograficamente o seu auge aproximadamente em 1450 a.C., quando se estendeu para o sul além de Cartum, no Nilo, e em direção ao norte para o Eufrates.

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O IMPÉRIO PERSA

IMPÉRIO PERSA(maior extensão em 525 a.C.)

ESTADOS GREGOS (550 a.C.)

O IMPÉRIO PERSA foi fundado aproximadamente em 550 a.C., por Ciro II. Sob Dario I, estendeu-se desde o rio Nilo até o Indo. Em seguida, sob Alexandre, o Grande, foi largamente incorporado em um notável novo IMPÉRIO GREGO, que floresceu a partir de cidades-Estado fundadas ao redor do Mediterrâneo e do Mar Negro.

IMPÉRIO DE ASOKA. A civilização harappiana floresceu na região do Vale do Indo cerca de 3.000 anos atrás. É duvidoso que ela sempre tenha tido um governo central, mas é certo que em 250 a.C. o soberano budista Asoka já estava firmemente estabelecido como chefe do império que cobria a maior parte do subcontinente indiano.

O IMPÉRIO HAN. No início da era cristã na Europa, o Império Han (202 a.C. – 220 d.C) já tinha dois séculos de idade e rivalizava com o Império Romano em extensão e riqueza.

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12 O v E l h O M U N D O

“Civilização” não pode ser precisamente definida, não apenas por ser um processo evolucionário, mas também por ter se ma-nifestado de formas muito diferentes através dos tempos. Assim, a civilização romana, que variava consideravelmente em si mesma dentro de sua enorme extensão, era muito diferente daquela da Polinésia, da qual o Ocidente sequer tinha conhecimento até as grandes viagens do Pacífico no século XVI, ou daquela dos incas da América do Sul, que foi extinta pelos espanhóis. Entre essas civili-zações, havia múltiplas diferenças nas crenças

religiosas, nos costumes sociais, nas formas de governo e na criação artística. Contudo, uma faceta de fundamental importância para todas elas: a tecnologia, que, num sentido mais amplo, pode significar a aplicação do conhecimento para finalidades práticas.

Hoje, a tecnologia é, na prática, sinôni-mo de ciência aplicada, mas as tecnologias básicas – tais como agricultura, construção, cerâmica, tecidos – foram originalmente em-píricas e transmitidas de uma geração para outra, enquanto a ciência, no sentido de pes-quisa sistemática das leis do universo, é um fenômeno relativamente recente. A tecnolo-gia foi fundamental, já que proporcionava os recursos necessários para sociedades organi-zadas, e estas tornaram possíveis não apenas a divisão do trabalho – por exemplo entre trabalhadores da terra, oleiros, marinheiros e similares –, como também um ambiente no qual puderam florescer as artes em geral, não

c a p í t u l o 1

o s p r i m ó r D i o s D a c i v i L i z a ç Ã o

AGRICULTURA

VIDA DOMÉSTICA

TRANSPORTE

CONSTRUÇÃO

MAqUINáRIO DE fORÇA E DE COMBATE

METAIS

CULTURA URBANA

6000 a.C. 3500 a.C. 3000 a.C. 2500 a.C.trigo emmer linho

primeiro estágio agrícola

trigo einkorn

cevadaanimais domesticados

foice de sílexpainço

moinho manual arados

irrigação primitiva no Oriente Médio

foices de bronzecânhamo

cultivado na China

irrigação no Egito

semeadeiras na Babilônia

tecelagem

cerâmica

lâmpada a óleo

cerâmica queimada em fornos

roda de oleiro na Mesopotâmia

vidro feito no Egito

escrita em papirosseda na China

corantes animais e vegetais

bote escavado na madeira na Holanda

animal de carga (jumento)

veículos à roda na Mesopotâmia

barcos de junco no Nilobarcos à velanavios de madeira na Mesopotâmia

veículos à roda na China

navio funerário de Queops

esquis usados na Escandinávia

tijolos cozidos no forno no Oriente Médio

construção de pedra no Egito

arco aparece no Egito

pirâmide em degraus de Zoser (pedra)

represa de alvenaria através do Wadi Gerrawi

arcos e flechas simples

lanças

alavancas e rampas usadas para mover cargas pesadas

enxó e pua de arco de corda usada no Egito

carruagem na Suméria

ouro aluvial cobre / bronzesolda e soldagem

fundição por cera-perdida

trabalho em chapa metálica de prata

ornamentos de prata em Ur

Jericó Catal Hüyuk

escrita da civilização suméria

calendário egípcio da cultura no Nilo

primórdios da escrita cuneiforme

hieróglifos egípcios

Império Antigo egípcio

calendário babilônico

civilização do Vale do Indoescrita

hierática Harappa e Mohenjo-Daro

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O S P R I M ó R D I O S D A C I v I l I z A ç ã O 13

Olduvai Gorge, na planície do Serengeti, é um dos sítios arqueológicos mais famosos do mundo e

deve seu nome à mais antiga tecnologia humana de ferramenta de pedra conhecida.

necessárias para a vida no dia a dia. A maio-ria dessas artes dependia de alguma espécie de suporte tecnológico: o escultor requeria ferramentas, o escritor necessitava de tinta e papiro (ou papel, mais tarde), o dramaturgo precisava de teatros especialmente construí-dos. Muito frequentemente, a fronteira en-tre ofício e arte era indistinta: desde época bem remota, os vasilhames dos ceramistas eram ricamente ornamentados, exigindo uma habilidade prática em vitrificação; o tecelão usava corantes para tingir seu fio e manejava seu tear para produzir intricados e coloridos desenhos e os requintados pro-dutos do joalheiro exigiam conhecimento de trabalho com metais e de técnicas especiais, tais como esmaltagem e granulação.

Este livro pretende contar a história da tecnologia desde o despertar da civilização até os dias de hoje, quando, para o melhor ou o pior, tornou-se um fator dominante

na vida das pessoas do mundo ocidental e, por sua necessidade, também no restante do mundo. Não é, de maneira alguma, uma história simples, já que se desdobra regular e logicamente, estando, pelo contrário, longe de ser uniforme – enquanto o primeiro ho-mem estava andando na superfície da lua,

2000 a.C. 1500 a.C. 1000 a.C. 500 a.C. 1 d.C. 500 d.C.

algodão cultivado no Vale do Indo

shaduf

cultivo de campos de arroz na China

milho cultivado na América

arado com pontas de ferro

cadeia de baldes para irrigação

algodão no Oriente Médio e China

chá cultivado na China

parafuso de Arquimedes para irrigação

argila caulim usada pelos oleiros chineses

fechaduras e chaves no Egitopanela Li

chinesatricô de malha

velas na Ásia Menor

associação romana de pintores

estabelecido o comércio do sal

importação de seda para o ocidente

fornos horizontais para cerâmica em Roma e na China

vidro soprado

pergaminho no Egito primeiros caracteres chineses

cidades fenícias dominam comércio do Mediterrâneo

relógio de sol no Egito

colapso do império hitita

alfabeto fundação de Cartagocidades-Estado gregas

fundação de Romacaracteres demóticos

abreviaturas latinas

calendário Juliano

papel manufaturado na China

impressão manual com pedra na China

veículo puxado a cavalo

rodas com raios

bote de junco no Peru

cavalos cavalgados

Penteconter grego (embarcação a remo)

birreme fenício

canal do Nilo ao Mar Vermelho

trirreme bússola magnéticamapa-múndi

carro de mão na China

sela acolchoada na China

barcos de casco trincado na Escandinávia

ferradura de ferroestribo de metal

navios chineses com anteparas transversais

Stonehenge Imuralha Assíria-Média

tumba Tholos em Micenas

Partenon Grande Muralha da China

Muralha de Adrianoarco ogival

arcos de pedra na China

reforço de ferro nas construções

Panteão, Roma Aqueduto Pont du Gard

cavalos de guerra usados pelos povos da estepe da Ásia

torno para madeira complexo de

moinho d’água de Barbegalarco composto

compostos incendiários

roda d’água baixa

plaina romana para madeira

manivela na Chinafortaleza concêntrica Sinjerli rede de correio

bestasguindaste e complexo de polias

torres de cerco

armas de artilhariapolia simples usada pelos assírios

fundido minério sulfato de cobre

ferro trabalhado pelos chalybes

expande-se o uso do ferro

molde de fundição em duas partes

mineração de estanho na Cornualha

ligas de bronze e cobre-níquel na China

aço produzido por cofusão

fundição em pilha na China

uso do latão na China

Coluna de Ferro em Delhi

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14 O v E l h O M U N D O

outros, em locais remotos do mundo, ainda estavam vivendo praticamente na Idade da Pedra. Também não ocorreu um processo simples de novas técnicas sendo inventa-das em um único centro, de onde elas se propagam para longe. Isso muitas vezes até chegou a ocorrer, mas temos diversos exem-plos de invenções independentes e de fortes interações nas quais culturas distintas se encontram. A China, embora tendo vivido uma história turbulenta, tem desfrutado cerca de 4.000 anos de civilização ininter-rupta, e a importância de suas exportações para o Ocidente é bem conhecida, já que seu povo foi responsável, entre outros, pela bússola magnética, pelo papel, pela impres-são e pela pólvora. Mais tarde, por outro lado, especialmente depois que os jesuítas lá se estabeleceram, as tecnologias ocidentais também foram absorvidas pela civilização chinesa. Portanto, determinar as rotas pelas quais tanto produtos manufaturados quanto novas ideias foram trocados ao longo dos séculos é um dos aspectos mais fascinantes da história da tecnologia.

os homeNs primitivosA afirmação de que a tecnologia é um

ingrediente essencial da civilização ime-diatamente nos faz questionar quando foi que o homem se tornou um ser civilizado, distinguível de seus ancestrais hominídeos. Pode não ser, é claro, um ponto preciso de transição, mas o critério geralmente acei-to é que o homem se diferencia de seus ancestrais primatas por sua habilidade de produzir ferramentas.

Desde a declaração do bispo James Ussher, no século XVII, de que a criação aconteceu no ano 4004 a.C., tem sido dada ao homem uma antiguidade muito maior. Estima-se que resquícios descobertos em Ol-duvai Gorge, na África oriental, e associados com pedras cruamente esculpidas como fer-ramentas tenham uma idade de 2,6 milhões

de anos. A mais antiga tecnologia humana de ferramenta de pedra conhecida é, por essa razão, chamada de Oldowan. Resquí-cios humanos de lugares tão longínquos como Pequim têm entre 350.000 e 500.000 anos, e fósseis mais primitivos do Homo erec-tus têm sido encontrados em Java, datando de 600.000 a 1,8 milhão de anos atrás. No entanto, o estudo de tais vestígios primi-tivos é domínio dos antropólogos, e para que encontremos homens com os quais possamos nos identificar não podemos vol-tar mais que, aproximadamente, 25.000 anos, apesar de a espécie Homo sapiens ter se desenvolvido bem antes disso.

Ao voltar tanto no tempo somos igual-mente levados para uma época de ampla variação climática, marcada por sucessivos avanços e recuos de geleiras que, vez ou outra, cobriam a maior parte da América do Norte, da Europa e da Ásia. Por causa dessa severidade do clima, a sobrevivência somente foi possível através de respostas tecnológicas: controle do fogo, construção de abrigos ou aperfeiçoamento dos naturais e produção de vestimentas capazes de isolar o frio. Essas mudanças climáticas tinham outra importante consequência, visto que, em sua extensão máxima, a cobertura de gelo ampliada podia imobilizar enormes quantidades de água a ponto de mudar o nível dos oceanos, fazendo-os descer a um nível cerca de 100 metros abaixo do atual. A migração humana – e animal – foi favo-recida pelo surgimento de pontes de terra que não existiam antes, abrindo caminho, por exemplo, da Ásia para a América do Norte – através do Estreito de Bering – e da Grã-Bretanha para a Europa continental. De modo inverso, à medida que períodos mais quentes intervinham, os oceanos se elevavam, fazendo com que as áreas recen-temente ocupadas se tornassem isoladas.

Embora essas variações climáticas fos-sem mais severas nas latitudes setentrionais,

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O S P R I M ó R D I O S D A C I v I l I z A ç ã O 15

os efeitos eram globais. Afetavam profunda-mente a fauna e a flora regionais, fazendo com que o homem só pudesse sobreviver se adaptasse suas técnicas às novas condições. O Saara é um exemplo: hoje é um deserto, mas durante a Idade do Gelo europeia foi uma área verde. Prova disso são os traços abun-dantes de antigos assentamentos, com várias pinturas rupestres que retratam animais que desapareceram há muito tempo. Além disso, foi o principal caminho para a migração hu-mana, e não a barreira que é hoje.

As considerações climáticas, assim como a evidência fóssil, sugerem a África como o berço da espécie humana (embora a possibilidade de mais de um centro não possa ser descartada). De lá ocorreu a migra-ção para as partes do mundo onde o clima era mais favorável. Na Europa, na Ásia, no Japão e na Austrália certamente já existiam colônias humanas há cinquenta mil anos. A América do Norte, no entanto, parece ter sido praticamente desabitada até 20.000 anos atrás, quando caçadores da Mongó-lia atravessaram a ponte de terra até o que é hoje o Alasca e o Canadá, em busca de abundantes rebanhos de mamute e rena. Mais tarde, eles se espalharam para o sul, rumo ao México, e em seguida ao longo do istmo do Panamá, descendo a costa oeste da América do Sul. Um assentamento da Idade do Gelo, em Monte Verde, bem abaixo no sul do Chile, data de mais ou menos 11.000 a.C, e foi dessa linhagem que surgiram as civilizações dos incas e dos astecas, as quais, entretanto, tiveram vida curta.

Porém, por enquanto devemos voltar a examinar que tipos de habilidades acumu-ladas foram legados ao homem moderno por seus ancestrais remotos. Se aceitarmos a definição de que o homem é um primata criador de ferramentas, podemos olhar para um bastão pontiagudo endurecido no fogo ou para uma pedra rudemente lascada como evidência de realização tecnológica. Mas se

vamos falar de seres civilizados no sentido geralmente aceito, devemos procurar mais que isso. Além das habilidades manuais, de-vemos olhar para a capacidade de pensamen-to racional conceitual e a habilidade para se comunicar através de uma linguagem falada e, em última análise, escrita. Somente assim as realizações de uma geração podem ser transmitidas para as próximas e, por estas, ser aperfeiçoadas. Tendemos a considerar a informação tecnológica como uma inovação moderna, mas, na realidade, trata-se de uma das mais antigas e mais fundamentais: um sistema para manutenção de registros e rela-tos públicos foi um dos primeiros requisitos das comunidades organizadas.

homem, o caçador-coletorO Paleolítico ou antiga Idade do Gelo

foi um período no qual o homem viveu à custa da terra como caçador e coletor de ali-mento em vez de como um produtor delibe-rado. O sucesso nisso demandava uma série de habilidades, muitas das quais completa-mente refinadas e complexas, que lhe permi-tiram não apenas sobreviver, mas sobreviver confortavelmente, em circunstâncias sob as quais o homem civilizado moderno teria ra-pidamente perecido. Não é exequível colocar a aquisição dessas habilidades em qualquer espécie de ordem cronológica, visto que a prática variava de lugar para lugar e de época para época, dependendo das circunstâncias locais. A extraordinária habilidade do talha-dor de pederneira (ou britador), por exem-plo, não seria, obviamente, praticada em áreas onde esse tipo de pedra não estivesse disponível. Assim, devemos nos contentar em sumariar o que pode ser chamado de tecnologias básicas do homem paleolítico, o qual significa o homem que ainda não tinha nenhum conhecimento dos metais.

Inicialmente, o homem não produ-zia ferramentas, porém dependia do que se revelava imediatamente pronto, como

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16 O v E l h O M U N D O

Pinturas rupestres proporcionam imagens vívidas das atividades do homem primitivo. Este exemplo do platô Tassili n’Ajjer, na Argélia, data de cerca de 6.000 a.C. Retrata uma cena de caça, incluindo girafas, hoje só encontradas ao sul do Saara.

uma pedra afiada, um osso quebrado ou um galho partido. Posteriormente ele co-meçou a modelar madeira, osso e pedra como ferramentas. Artefatos de madeira raramente sobrevivem, embora sua forma possa muitas vezes ser deduzida a partir dos instrumentos de pedra – tais como ca-beças de machado ou pontas de lança –, com as quais eles devem ter sido usados. No começo, a machadinha pontiaguda, ainda usada pelos aborígines australianos, foi a ferramenta básica para todos os fins, sendo útil para cortar, raspar, triturar e rachar. Mas, já em época muito antiga, existe clara evidência não apenas da produção delibe-rada de ferramentas, mas também de um surpreendente grau de especialização.

Muitas das armas inventadas para a essencial e fundamental atividade da caça

permanecem em uso até os dias de hoje, sendo modificadas à medida que novos ma-teriais e técnicas se tornaram disponíveis. As antigas lanças eram, sem dúvida, nada mais que varas de madeira afiadas em pon-ta e endurecidas no fogo. Uma das mais antigas peças de marcenaria sobreviventes é exatamente semelhante a uma lança, feita de teixo, recuperada de solo alaga-do – um bom conservante de madeira – na Inglaterra e com, talvez, mais de um quar-to de milhão de anos de idade. Outra lança similar, também feita de teixo, foi encontra-da dentro do esqueleto de um elefante na Alemanha. Era com armas simples assim que grandes presas eram caçadas. Mais tarde, fo-ram utilizadas pontas feitas de pederneira ou osso, e o poder da arma nua do caçador foi aumentado pelo uso de recursos de alavanca (spear-throwers) para obter maior velocidade no arremesso, como aqueles usados pelos esquimós, pelos aborígines da Austrália e pelos nativos da Nova Guiné. O arco foi o mais antigo dispositivo usado para liberar instantaneamente energia concentrada e é claramente ilustrado em pinturas rupestres na África do Norte que datam, provavel-mente, de 20000 a.C. ou antes – indubita-velmente, eles eram, então, já bem antigos.

Para a caça de pequenos animais eram usadas armas de arremesso feitas de madeira, dentre as quais podemos citar o bumeran-gue australiano de formato falciforme que retorna ao lançador, uma forma altamen-te especializada de arma. Bumerangues de

O nível do mar caiu durante a última Idade do Gelo, criando pontes de terra entre Grã-Bretanha e Europa, Ásia e América do Norte, China e Indonésia e Nova Guiné e Austrália. Na medida em que desenvolveram meios de sobrevivência em climas mais frios, os homens primitivos começaram a se propagar fora da África, há cerca de 50.000 anos. As novas pontes terrestres permitiram-lhes colonizar primeiro a Europa e a Ásia, depois a Austrália e, finalmente, a América, alcançando a extremidade da América do Sul 13.000 anos atrás.

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diferentes formatos desenvolveram-se tam-bém na África, na Índia e em outros lugares, como prova um bumerangue encontrado na Polônia meridional, na caverna Obla-Zowa, que se acredita ter 21.000 anos, sendo mais antigo que o primeiro bumerangue austra-liano conhecido. Projetar tal artefato com a vantagem do conhecimento de aerodinâ-mica atual seria tarefa para um especialista; como ele foi desenvolvido empiricamente pelo homem primitivo, permanece um mis-tério. Outro exemplo de arma de arremesso bem antiga é a funda, que tem sido encon-trada em muitos sítios paleolíticos.

Para pessoas que vivem perto do mar ou dos rios, a pesca é uma importante fonte de alimento, e várias espécies de anzóis de pesca foram recuperadas de sítios paleolíticos. Eles vão desde o simples gancho de garganta (gorge hook) – uma espiga de pontas duplas no meio do qual a linha era amarrada – até verdadeiros anzóis feitos de sílex, osso ou concha.

Pinturas egípcias datadas de mais de 3000 anos a.C. mostram o uso do laço e de bolas. Estas últimas consistiam em dois pesos ligados por uma corda curta, lança-das com um movimento giratório a fim de serem enroscadas em torno das pernas da

caça para derrubá-la. Ambos os dispositivos são provavelmente armas muito antigas e bem podem ter sido inventadas indepen-dentemente, em mais de um lugar, já que os laços também eram usados pelos índios na América pré-colombiana, e as bolas, na região da Patagônia, na América do Sul.

A pedra foi de uma importância ímpar por causa de sua dureza e da capacidade de permitir um corte afiado, mas o homem também sempre se servia, onde quer que es-tivesse, de recursos locais. Embora os animais fossem caçados principalmente pela carne, também forneciam osso, chifre e marfim. Esses eram transformados não apenas em arti-gos úteis, mas também em outros objetos, tais como estatuetas, que tanto eram ornamentais como tinham significado religioso. Os chifres serviam como picaretas, e as escápulas, como pás. Ambos são comumente encontrados pró-ximos aos restos de minas e pedreiras, como as de Grime’s Graves na Inglaterra, que foram abertas para fornecer pederneira.

Os animais também forneciam couros que podiam ser raspados, limpos da gor-dura e dos pelos com raspadeiras de sílex e depois tornados macios e flexíveis, talvez pela mastigação, como faziam os esquimós. Posteriormente, o couro era transformado em vestimentas, essenciais para proteção nos frios invernos do norte.

A madeira servia a muitos propósitos. Nos locais de climas setentrionais, onde era abundante, funcionava como um combustí-vel indispensável e fonte de luz. O fogo tam-bém era usado na caça para dispersar animais rumo a uma emboscada ou em direção a ar-madilhas, conforme revelaram os esqueletos de uma manada de elefantes circundada por feixes queimados que foram encontrados em escavações na Espanha. A madeira, modela-da pelo corte e pela raspagem, era apropriada para muitas outras finalidades práticas, como fornecer cabos para ferramentas, conferindo uma vantagem mecânica. Também deve ter

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O aumento da população mundial durante o último milhão de anos. A inserção mostra o crescimento ao longo dos últimos 2.000 anos.

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sido útil para a construção de estruturas de abrigos, como as cabanas revestidas de couro dos índios americanos, as tendas portáteis dos lapões e os yurts, construções arredon-dadas dos mongóis.

Embora barcos verdadeiros não possam ser identificados antes do sétimo milênio a.C., balsas simples devem ter sido usadas bem antes. Mesmo sob as mais primitivas condições, os recipientes simples e os vasi-lhames para beber eram cobiçados, e havia muitas fontes naturais deles antes do ad-vento da cerâmica. Conchas, chifres ocos, cabaças, cuias de coco e semelhantes podiam facilmente ser utilizados para esse fim, como ainda são em algumas partes do mundo. Certamente, pessoas que podiam costurar vestimentas de couro podiam igualmente costurar garrafas de couro. E, apesar de não haver evidência direta, podemos supor que a cestaria básica já era conhecida em épocas remotas, uma vez que vimeiros, juncos e outros materiais apropriados estavam larga-mente disponíveis. De fato, à medida que penetramos na visão dos períodos históricos, podemos inferir que o homem fez o mesmo tipo de uso dos recursos disponíveis que as tribos primitivas fazem hoje. Isso porque,

em situações similares, os homens tendem a reagir da mesma maneira, ainda que seja apenas pelo número de opções limitado.

O trabalho da pedraEm razão da natureza perecível da ma-

deira, nosso conhecimento de como ela era usada deve ser, em grande parte, uma ques-tão de inferência. Com a pedra, no entanto, falamos com mais propriedade, uma vez que existe um grande número de artefatos anti-gos que atravessaram os anos e chegaram até nós. A pederneira era o material favorito em todo o mundo devido às suas propriedades físicas incomuns. Embora um forte golpe a despedace, reduzindo grandes pedras a pro-porções manejáveis, golpes mais leves produ-zem o que é chamado de fratura concoidal (semelhante a “concha”), removendo uma lasca de pederneira e deixando uma rasa depressão. Pelo controle da força e direção do golpe, um trabalhador habilidoso pode regular o tamanho e a forma das lascas com extraordinária precisão.

Duas técnicas básicas eram usadas. Em uma delas, eram lascados pedaços de uma peça de pederneira de tamanho considerável até o objeto desejado (por exemplo, uma ma-chadinha) ser produzido. Os resultados disso são chamados de ferramentas sobre núcleo. Na outra técnica, a pedra era trabalhada para produzir lascas de tamanho e forma ade-quados para serem usadas como raspadeiras ou lâminas de faca. Essas eram chamadas ferramentas sobre lascas. Inevitavelmente, as duas técnicas se sobrepunham de vez em quando. O produtor de ferramentas sobre núcleo, naturalmente, recolheria algumas das lascas resultantes para convertê-las em ferramentas sobre lascas. Essas técnicas de modelagem da pederneira não desapare-ceram de todo na sociedade moderna. Na cidade de Brandon, na Inglaterra, romper pederneiras com martelos foi uma técnica usada desde 1790 até recentemente para

O homem primitivo fez hábil uso de todos os materiais disponíveis. Ossos e chifres tiveram muitas utilidades: escápulas, por exemplo, davam excelentes pás, e galhadas serviam como picaretas. Estes arpões feitos de chifres de galhadas vieram de um sítio mesolítico (cerca de 6.000 a.C.) em Stone Car, Yorkshire, Inglaterra.

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fornecer pedra para fecharias de pederneira de armas de fogo na África.

Se corretamente desferido, um golpe leve descolava uma lasca. A pederneira a ser modelada geralmente seria mantida numa das mãos e golpeada com um seixo seguro na outra mão, embora a experiência e a

observação de povos primitivos nos tempos atuais mostrem que também pode ser usada uma peça de madeira dura ou de osso. Uma técnica alternativa era golpear a pedra a ser es-culpida contra a borda de outra maior, usada como uma bigorna. Na lascagem por pressão, uma peça pontuda de madeira ou de osso era

As mais primitivas ferramentas de pedra eram pouco mais que seixos lascados, como aqueles recuperados em Olduvai Gorge (A). Esses contrastam com a lasca e o núcleo (B), o raspador e a pederneira (C), as pontas de flecha neandertais (f) e a lindamente trabalhada adaga de pederneira da Dinamarca (E), que provavelmente data da antiga Idade do Bronze. Numa primeira fase, a produção de ferramentas de pederneira torna-se uma indústria organizada, e produtos característicos são distribuídos ao longo das rotas de comércio. Um desses centros foi aquele em Grime’s Grave, Norfolk, Inglaterra (D). Lá, mineiros neolíticos desciam em poços a uma profundidade de 10 m, com galerias iluminadas. Minas de pederneira similares foram descobertas em outras partes da Inglaterra e em muitas regiões da Europa.

A D

B

C

E f

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pressionada fortemente contra a borda da pederneira a ser esculpida, e pequenas lascas eram removidas no ponto de contato. Na assim chamada técnica núcleo de tartaruga (tortoise-core), a pederneira era antes de tudo modelada até que parecesse uma tartaruga in-vertida. Se golpeada repetidamente em torno da borda, ela renderia uma sucessão de lascas uniformes afiadas que poderiam ser usadas, sem tratamento adicional, como facas des-cascadoras ou para propósitos semelhantes.

Certas pedras siliciosas, tais como a obsidiana e o sílex córneo, demonstram a mesma propriedade útil da fratura concoidal e foram usadas nas regiões onde existiam. O vidro e a cerâmica também fraturam con-coidalmente, e, nos tempos modernos, os aborígines da Austrália têm recebido com prazer garrafas e isoladores descartados pelas linhas telefônicas como matérias-primas.

Outras pedras siliciosas foram utilizadas em regiões onde a pedra rochosa não era acessível, ou quando a disponibilidade de pederneira para lascar era uma desvanta-gem, como na manufatura de ferramentas pesadas, por exemplo, machados para o cor-te de árvores. Rochas ígneas perfeitamente granuladas, como o basalto, eram cortadas rudemente com o auxílio de outras pedras e, então, finalmente modeladas por pulve-rização. Isso pode ser feito com o auxílio de um bloco de rocha áspera, tal como o arenito. Por outro lado, uma mistura de areia e água serviria. Essa técnica também era usa-da pelos egípcios para preparar superfícies planas de pedras para construção. Ela da-ria um acabamento satisfatório, mas alguns machados sobreviventes têm um polimento tão intenso que evidentemente haviam sido mais polidos, talvez com couro e um fino pó de polimento, como barro ou argila absor-vente (fuller’s earth).

As questões de diferença racial nas ha-bilidades físicas e na acuidade mental são delicadas e controversas. É fato, entretanto,

que as realizações do homem paleolítico va-riaram consideravelmente, visto que os arte-fatos sobreviventes demonstram claramente o surgimento de diferentes culturas. Assim, na cultura acheuliana do norte da França, que se originou na África, predominou o uso de ferramentas sobre núcleo, enquan-to na cultura clactoniana-mousteriana, que deve ter chegado na Europa a partir da Ásia, eram favorecidas as ferramentas de lascas. A cultura aurignaciana, que incluía o Cro-Magnon, era caracterizada pelo extenso uso do osso e do chifre. Para o especialista, a forma precisa pela qual uma pederneira é trabalhada ou uma galhada é entalhada pode ser tão reveladora quanto a forma de usar o pincel numa pintura o é para um moderno historiador de arte.

Artes decorativasÀ medida que abordamos períodos

históricos – digamos 25000 a.C. – surgem novos critérios culturais. Inicialmente, as tentativas do homem de produzir ferramen-tas eram estritamente utilitárias, embora o orgulho da habilidade artesanal, evidencia-do por um acabamento mais fino do que a necessidade demandava, logo se tornasse aparente. Então o talento artístico foi pra-ticado como um fim em si mesmo ou, pelo menos, por propósitos místicos em vez de práticos. A chamada estatueta de Vênus, com uns poucos centímetros de altura e muitas vezes esculpida em marfim, tem sido encontrada em sítios tão distantes como Rússia, Itália e França.

Uma manifestação particularmente in-teressante foi a arte rupestre. Ela retrata, de maneira vívida, muitas das atividades e fer-ramentas – especialmente aquelas associadas à caça – que, de outra maneira, seriam uma questão de inferência. Embora os melhores exemplos conhecidos estejam na Europa ocidental, como em Chauvet, Lascaux e Altamira, também têm sido encontrados –

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