a heraldica - descubra suas raízes medievais

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  • A Herldica Descubra suas razes medievais

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  • Claudio Campacci

    3

    A Herldica

    Descubra suas razes medievais

    Claudio Campacci

    Primeira Edio - 2013

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    4

    Sumrio

    - Prefcio - Herldica o que ?

    - Regras da Herldica

    - Significado das cores nos escudos

    - Significado dos principais smbolos herldicos

    - Surgimento dos primeiros sobrenomes ocidentais

    - Principais Ttulos de Nobreza

    - A Nobreza Brasileira no perodo imperial

    - A perseguio dos judeus na pennsula Ibrica

    - Os principais sobrenomes que os Cristos-Novos adotaram

    - A Revoluo Industrial do Sculo XIX e os principais ramos imigratrios europeus que vieram para o Brasil

    - Bibliografia e Referncias.

  • Claudio Campacci

    5

    Prefcio

    Herldica um tema pouqussimo conhecido

    entre os brasileiros. Raramente os professores

    de Histria comentam sobre o assunto. No sei

    dizer exatamente o motivo de isso acontecer, mas a falta

    de literatura no mercado pode ser um bom indcio. Eu

    tenho feito pesquisas sobre as origens, histria e o braso

    de milhares de sobrenomes, durante um perodo de mais

    de dez anos. Tenho visto muitas publicaes sobre o

    assunto em Portugal, Espanha, Frana, Itlia e Reino

    Unido.

    As pessoas no Brasil do grande valor ao significado dos

    seus prenomes e de maneira estranha muitos ignoram os

    sobrenomes. Muitos nem sabem que existe um braso de

    famlia, em que muitas vezes seus ancestrais travaram

    guerras para conquistar o direito de us-lo.

    Certamente eu escrevi uma obra direta e simples de se

    entender. Que nossas futuras geraes saibam mais

    sobre essa parte da Histria.

    Tenham uma tima leitura, so meus votos.

    A

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    6

    Herldica, o que ?

    e um modo geral as pessoas do extrema

    ateno ao significado dos seus prenomes e

    do pouca ateno a origem e a histria do

    seu sobrenome. Seu

    sobrenome diz muito mais

    sobre voc que seu prenome.

    Vemos nas livrarias e bancas

    de jornal diversos livros e

    brochuras sobre o assunto,

    mas concernente aos

    sobrenomes, h poucas obras disponveis. Mesmo na

    internet no h muita matria gratuita sobre o assunto.

    Vendo essa necessidade resolvi copilar mais de dez anos

    de pesquisas que eu realizei sobre o assunto e criar uma

    obra direta e fcil de entender.

    Voltemos no tempo e vivenciemos as fervorosas batalhas

    entre os reinos europeus da Idade Mdia. No auge das

    batalhas, viver ou morrer dependia muito em se distinguir

    D

  • Claudio Campacci

    7

    quem era seu aliado ou seu inimigo. Mas era algo muito

    difcil, pois os cavaleiros estavam vestidos por armaduras

    que eram muito parecidas. Era muito comum o fogo

    amigo, isto , um aliado matar o outro.

    Guerras sempre existiram e os guerreiros estiveram

    presentes, quer nas pequenas vilas do interior, quer

    formando a guarda de reis e senhores feudais. Na idade

    mdia, os guerreiros usavam uma espcie de capa de

    metal, as armaduras, para lhes proteger, bem como um

    capacete ou elmo tambm de metal. Desta forma,

    tornavam-se irreconhecveis e isto poderia gerar ataque

    por parte de seus prprios companheiros de batalha.

    Surgiu assim a necessidade de identificar suas armaduras

    e tambm seus escudos.

    O modo usual de identificao era a pintura nos escudos

    ou armaduras. Tais pinturas representavam as atividades

    exercidas pelo grupo de onde eram originrios os

    guerreiros. A presena de plantas ou animais os

    identificava como agricultores ou criadores de gado, por

    exemplo. O animal mais utilizado indubitavelmente era o

    leo, pois simbolizava poder e fora da famlia.

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    8

    Mas medida que a populao crescia, surgiu uma nova

    dificuldade. Os moradores de um mesmo feudo exerciam

    atividades semelhantes e tinham suas armaduras com

    pinturas idnticas. Foi ento necessrio estabelecer

    bases para o direito de uso de determinados escudos. As

    famlias mandavam esculpir um modelo do escudo,

    geralmente em madeira pintada com as mesmas cores

    das pinturas das armaduras. Tais modelos eram dispostos

    nas casas dos membros daquela famlia.

    Nos casos em que havia grande disputa pelo direito de

    uso de determinado escudo, at lutas foram registradas

    pela histria. Em muitos casos, os smbolos foram

    distribudos entre os chefes de famlias locais, ficando

    estabelecido que a unidade entre eles permanecesse

    representada na cor de fundo. Desta forma, um

    sobrenome pode ser representado por uma planta tpica

    da regio, por um animal domesticado pela famlia ou por

    um animal feroz vencido por um dos vares.

    Posteriormente estes escudos passaram a ser gravados

    nos "livros de famlia", obra realizada por aqueles que

    ficaram conhecidos como heraldistas, ou especialistas na

    arte da herldica. Apesar de todas as disputas para terem

  • Claudio Campacci

    9

    este ou aquele smbolo, muitas famlias acabaram por

    utilizar o mesmo braso sem terem nenhum lao entre

    elas. Nas famlias de origem italiana tem se notado isso,

    muitas deles tm por braso um leo dourado com o

    escudo de fundo vermelho.

    Com o passar do tempo, os cavaleiros criaram o costume

    de decorar seu escudo e sua tnica com um distintivo

    nico, assim ele se

    diferenciava dos seus

    inimigos e eram

    reconhecidos pelos

    seus aliados. Com o

    tempo as famlias da

    nobreza resolveram

    criar smbolos que as

    representassem. Surge assim a Herldica.

    A Herldica a cincia e a arte de descrever os brases

    de armas ou escudos.

    O termo Herldica deriva dos termos originais latinos

    heraldos ou arauto. A palavra Heraldo vem, segundo

    alguns pesquisadores, do germnico her, heer ou hold,

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

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    que quer dizer devotado, outros creditam que vem da raiz

    har do alemo haren, que significa gritar ou chamar.

    Essa arte que nasceu primariamente para atender a

    nobres e cavaleiros, expandiu-se com o surgimento dos

    reinos e cidades na Europa, onde cidados importantes,

    especialmente comerciantes, recebiam a sua cota de

    armas.

    Praticamente todas as famlias de origem europia

    ocidental tm o seu braso registrado nos antigos livros

    de armas.

    Braso ou Armas, em ingls o termo coat of arms, teve

    inicio como citado acima na Idade Mdia, especialmente

    no perodo das Cruzadas Terra Santa, quando houve

    uma disseminao mais ampla. O Braso significa o

    conjunto de insgnias hereditrias compostas de figuras e

    atributos determinados, concedidos por prncipes, reis e

    rainhas em recompensa por servios prestados pelo

    cavaleiro ou pessoa de destaque.

    A idia de usar smbolos remonta ao antigo Egito e tinha

    motivao religiosa. Na Idade Mdia os primeiros

    registros sobre o uso da herldica eram os religiosos

  • Claudio Campacci

    11

    catlicos que gravavam no tmulo ou s vezes numa

    capela construda devido doao de algum nobre.

    O uso inicial desses smbolos estampados nos escudos e

    tnicas no somente servia para distinguir a qual exrcito

    o cavaleiro servia, mas tambm para facilitar a contagem

    dos mortos em batalhas.

    Os smbolos como sinais de honra e nobreza de uma

    famlia, que passavam de pais para filhos, comearam a

    ser empregados nas armarias dos cavaleiros em meados

    do sculo X. Sua regularizao e determinao de regras

    para criao e uso foram sendo aperfeioadas com o

    passar dos sculos. Porm as regras finais para

    concesso de armas ou brases e os termos prprios da

    Herldica forma estabelecidos no final do sculo XV. O

    perodo de apogeu das concesses de armas foi durante

    as Cruzadas na Idade Mdia, devido ao pice da figura

    dos Cavaleiros, do romantismo na arte, da exaltao da

    famlia e principalmente da nobreza.

    Posteriormente os smbolos e cores foram usados em

    torneios de Justa, que foram muito populares na poca.

    Como as armas eram passadas de pais para filhos, com o

    passar dos anos se formou uma nobreza com escudo de

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

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    armas que raras vezes representavam feitos de guerras,

    conquistas ou herosmo. Os descendentes se

    beneficiavam dos feitos de seus ancestrais. Tambm se

    criaram as armas de ordens militares e religiosas, como

    os Cavaleiros da Ordem de Cristo. Nos ltimos tempos de

    concesses de armas, elas eram quase que

    exclusivamente outorgadas a polticos pertencentes ao

    crculo de amizades da corte.

    Os heraldos tinham a funo de anunciar publicamente os

    nomes dos concorrentes em torneios, levar declaraes

    de guerra ou acordos de paz, contar e anunciar o nmero

    de mortos em batalhas, alm disso, eles tinham que

    desenhar e criar os brases ou armas dos cavaleiros ou

    nobres a quem serviam, proclamar casamentos, dirigir

    solenidades e determinar a colocao de insgnias e

    legendas nos tmulos dos nobres. Eram homens

    importantes, oficiais de guerra e cerimnias cvicas,

    conservando-se esta atividade at meados do sculo VIII

    na poca de Carlos Magno. Pela sua importncia social e

    poltica, o termo heraldo foi substitudo pela designao

    Rei de Armas, e estes eram sempre escolhidos entre os

    heraldos mais antigos.

  • Claudio Campacci

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    O Rei Carlos VIII foi quem criou o ofcio de Mestre de

    Armas, figura que tinha funo oficial de regulamentar a

    criao e uso de brases. Nas pompas fnebres os

    Mestres de Armas trajavam-se com grande luxo, levando

    sempre em suas mos um basto de nogueira que

    simbolizava a importncia do seu cargo no reino.

    Ao ato de desenhar ou criar um braso de armas d-se o

    nome de brasonar. Os heraldistas como eram chamados

    os heraldos especializados em desenhar os brases

    tinham que seguir uma srie de regras.

    A primeira coisa que descrita num escudo o esmalte

    (cor) do campo (fundo), depois determinar qual figura ou

    detalhe herldico ser usado. Estes detalhes so postos

    numa determinada posio no escudo e costumam ser

    descritas de cima para baixo e da direita (dextra) para

    esquerda (sinistra). Na verdade, a dextra (do latim dextra,

    -, direita) refere-se ao lado esquerdo do escudo, e a

    sinistra (do latim sinistra, -, esquerda) ao lado direito.

    A razo disso acontecer o fato da descrio se referir ao

    ponto de vista do portador do escudo, e no do seu

    observador. Embora a palavra escudo seja comumente

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

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    utilizada para se referir ao braso de armas no seu todo, o

    escudo apenas um dos elementos que compem um

    braso de armas. Numa descrio completa, o escudo

    pode ser acompanhado por outros elementos, como

    suportes, coronis, listis com motes (ou lemas).

    Regras da Herldica

    Escudo e Lisonja

    O foco da Herldica o braso ou cota de armas, cujo

    elemento central o escudo. O formato do escudo

    empregado numa cota de armas pouco relevante, visto

    que no decorrer dos sculos elas evoluram e foram

    sendo aperfeioadas pelos heraldistas.

    Tradicionalmente, as mulheres no iam guerra, elas no

    carregavam escudos, em vez disso, as cotas de armas

    femininas eram ostentadas numa lisonja, que um

    losango apoiado num de seus ngulos agudos. H

    algumas excees que so no formato oval, como na

    Esccia. O clero no combatente tambm fez uso da

    lisonja e de escudos ovais.

  • Claudio Campacci

    15

    Parties do escudo

    O campo de um escudo, na Herldica pode ser dividio em

    mais de um esmalte, e da mesma forma em vrias figuras

    ou smbolos. Muitas cotas de armas consistem

    simplesmente de uma diviso do escudos em dois

    constrastantes. A linha que divide os escudo em

    partices pode ser reta ou seguir outros padres como:

    serrilhados, ondulados, dentados, etc. As variaes de

    pintura seguem certos padres de esmaltes. As parties

    mais comuns resultam num escudo:

    1. Cortado (dividido na horizontal)

    2. Partido (dividido na vertical) 3. Fendido (dividido

    diagonalmente a partir do canto direito)

    4. Talhado (dividido diagonalmente a partir do canto esquerdo)

    5. Franchado (fendido e talhado) 6. Esquartelado (cortado e

    partido) 7. em Asna (dividido por um "V"

    invertido) 8. Terciado (dividido em trs

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

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    partes). Pode ser: 1. Em pala (trs partes verticais) 2. Em faixa (trs partes horizontais) 3. Em banda (trs partes, a do meio diagonal a

    partir do canto esquerdo) 4. Em barra (trs partes, a do meio diagonal a

    partir do canto direito) 5. Em mantel (como duas cortinas que se

    abrem da parte superior central da partio)

    Peas ou Honrarias

    Nos primrdios da Herldica, formas retilneas muito

    simples e com trao grosso eram pintadas nos escudos.

    Estas eram facilmente reconhecidas distncia e

    lembradas. E elas eram o propsito principal do

    nascimento da Herldica: Identificao. As peas ou

    honrarias de um escudo, so formas geomtricas, no

    interior deste, que se utilizam para indicar uma honraria

    recebida pelo seu detentor.

    O escudo tradicionalmente dividido em nove partes ou

    zonas, com vista descrio da localizao das peas no

    seu campo

  • Claudio Campacci

    17

    Conforme os escudos mais complexos passaram a ser

    usados, estas formas mais simples foram separadas

    numa categoria parte, as peas ou honrarias. Existem

    peas de primeira ordem (chamadas tambm de

    honrarias) e segunda ordem (ordinrias).

    Embora esta classificao no seja unnime, algumas

    normalmente so classificadas como de primeira ordem:

    De 1 ordem

    Faixa - Armadura e cinturo do Cavaleiro. Tem de largura um tero da do campo (fundo do escudo).

    Pala - Lana do Cavaleiro. Tem de largura um tero da do campo (fundo do escudo).

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

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    Banda - Correia ou cinturo do Cavaleiro. A pea oposta da banda, a barra ou contrabanda (diagonal da esquerda para a direita), pode significar correia, ou "desonra". Tem de largura um tero da do campo (fundo do escudo).

    Cruz - Espada do Cavaleiro; concedida aos que j tinham participado em combates, tendo a sua espada ficada manchada de sangue. Cada uma das suas peas, tem de largura a quarta parte do bordo superior do escudo.

    Aspa - Estandarte do Cavaleiro; tambm designada por Soter (ou Sautor), Cruz de Santo Andr ou Cruz de Boronha ou Borgonhona.

    Entre as que normalmente so classificadas como de

    seguda ordem:

    De 2 ordem

    Cabria ou Asna. Botas e esporas do Cavaleiro. A pea semelhante a um esquadro, com um ngulo inferior a 45.

  • Claudio Campacci

    19

    Chefe. Tem de largura um tero da do campo (fundo do escudo).

    Bordura ou bordadura. Proteo, favor e recompensa; concedida aos que j tinham participado em combates, tendo a sua roupa ficado manchada de sangue. A sua rea equivale a um sexto da largura do campo.

    Perla. Pea com dupla interpretao: Santssima Trindade; ou as trs devoes do cavaleiro: a sua dama, o seu Rei e o seu Deus.

    Flanco direito.

    Flanco esquerdo.

    Ponta ou contrachefe. Tem de largura um tero da do campo (fundo do escudo).

    Canto. Equivale nona parte do escudo.

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    20

    Elmo e Timbre

    A palavra timbre usada para se referir

    a toda uma categoria de adornos

    herldicos. O timpre jaz no topo de um

    elmo que, por sua vez, se apia sobre

    a parte mais importante do escudo.

    O timbre modernos evoluiu da figura

    tridimensional colocada sobre os elmos

    dos cavaleiros como meios adicionais de identificao.

    O timbre geralmente encontrado num virol e algumas

    vezes dentro de um coronel. Timbres-coronis geralmente

    so mais simples do que os coronis de nobreza.

    Quando o elmo e o timbre so ostentados, costumam ser

    acompanhados de um lambrequim. Originalmente,

    tratava-se de um tecido usado sobre o fundo do capacete

    como proteo parcial contra o aquecimento provocado

    pelo sol. Hoje sua forma de uma capa estilizada

    pendendo do elmo. O lambrequim por vezes ilustrado

    com as bordas rasgadas, como se houvesse sofrido dano

  • Claudio Campacci

    21

    em combate, embora as bordas de muitos seja decorada

    vontade do brasonador.

    Abaixo explicaes mais detalhadas sobre os termos virol,

    coronel, coroa e lambrequim.

    O virol um termo que, em Herldica, designa uma pea

    de tecido, colocada sobre o elmo e coroa. feita de duas

    cordas entrelaadas, com o mesmo esmalte e paquife, e

    do escudo, representando o metal e a cor principal.

    Servira para manter o paquife no seu lugar.

    Designa-se por coroa, a pea que

    se encontra por cima do elmo, num

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

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    braso, ou cota de armas. Cada uma destas peas indica

    o grau de nobreza, a realeza, as armas militares, e os

    murais ou domiclios

    Num braso de realeza, designa-se por coroa a pea que

    se encontra representada. Nos restantes graus de

    nobreza, desde o Duque at o Baro, a coroa passa a

    chamar-se de coronel.

    Na herldica o lambrequim uma representao de um

    manto, uma capa, folhagens e plumagens, desenhadas

    acima e ao redor do elmo de

    um braso. Corretamente,

    cada um dos ramos do

    lambrequim herldico

    chamado paquife. No entanto,

    os dois termos so muitas

    vezes usados, indistintivamente. Normalmente o

  • Claudio Campacci

    23

    lambrequim inclui as duas cores principais do braso (o

    metal principal e o esmalte principal).

    Os lambrequins herldicos pretendem representar os

    mantos de linho, que eram usados para proteger o elmo,

    dos cavaleiros, do calor, do frio e dos golpes de espada.

    Com o tempo, depois de serem, vrias vezes atingidos

    por golpes de espada, os mantos ficavam recortados, com

    pedaos de tecido pendentes, semelhantes a folhagens.

    Motes

    O mote, lema ou divisa armorial pe a frase ou conjunto

    de palavras que descreve a motivao ou inteno da

    pessoa ou corporao detentora das armas. Motes podem

    ser modificados a vontade e no so parte integrante do

    patrimnio herldico. Eles podem ser encontrados

    tipicamente em um pergaminho sob o escudo e recebem

    o nome de listel.

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    24

    Suportes e outras insgnias

    Suportes so figuras de

    humanos ou animais, ou

    raramente de objetos

    inanimados, quase sempre

    colocados de cada lado de uma

    cota de armas, como se a

    estivessem suportando. Em

    muitas tradies, o uso de

    suportes passou a seguir padres estritos, que o

    limitavam a certas classes sociais. No continente europeu,

    costuma haver menos restries ao uso de suportes. No

    Reino Unido, apenas os pares do reino, uns poucos

    baronetes, os membros snior de ordens de cavalaria e

    algumas corporaes tm o direito de usar suportes.

    Estes frequentemente tm um significado local ou uma

    ligao histrica com o detentor da cota de armas.

    Se o detentor das armas tiver o ttulo de baro, cavaleiro

    hereditrio ou maior, ele pode ostentar um coronel de

    nobreza em seu escudo. Outra adio que pode ser feita

    a uma cota de armas a insgnia de um baronete ou de

  • Claudio Campacci

    25

    uma ordem de cavalaria. Esta geralmente representada

    por um colar ou faixa similar ao redor do escudo. Quando

    as armas do cavaleiro e de sua esposa so mostradas

    numa nica apresentao, a insgnia de cavalaria cerca

    apenas as armas do marido, e as da esposa so

    costumeiramente cercadas to-somente por uma

    guirlanda ornamental de folhas, sem significado herldico,

    to-somente pelo equilbrio esttico.

    Diferenciao e Brisuras

    Como as armas passam de pais para filhos, e a maioria

    dos casais tm mais de um filho, necessrio distinguir

    as armas dos irmos e outros familiares das armas

    originais, passadas de primognito a primognito.

    Brisura (do francs, brisure ou briser, que significa

    romper ou quebrantar), em Herldica toda modificao

    introduzida no braso ou cota de armas de uma famlia

    para distinguir as armas que dela procedem. O

    primognito de uma famlia nobre tem direito de levar as

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

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    armas simples, puras e planas de seus antecessores.

    Contudo, os filhos posteriores devem modific-las,

    alterando sua simplicidade para lev-las sem injria ao

    herdeiro. A prtica denominada brisurar os brases. E

    de se notar que o herdeiro que j leva os brases

    brisurados deve continuar com esta brisura enquanto

    seus irmos tm que adicionar outras e assim vo se

    Significado das cores nos escudos

    s Esmaltes so as cores usadas na herldica,

    embora haja certos padres, chamados peles,

    e representaes de figuras em suas cores

    naturais, ou da sua cor (distintas das cores

    representveis), que tambm so tratados como

    esmaltes. Como a herldica , em sua essncia, um

    sistema de identificao, a conveno herldica mais

    importante a regra da contrariedade das cores em prol

    do contraste e da visibilidade, metais (que geralmente so

    O

  • Claudio Campacci

    27

    esmaltes mais claros) nunca devem ser postos sobre

    metais, e cores (que geralmente so esmaltes mais

    escuros) nunca devem ser postos sobre cores. Quando

    uma figura sobrepe uma parte do fundo do escudo, a

    regra no se aplica. H tambm outras excees

    sendo a mais famosa a das armas do Reino de

    Jerusalm, que consistem numa cruz de ouro em fundo

    prata

    Os nomes usados na brasonaria lusfona para as cores e

    metais provm principalmente do francs. Os mais

    comuns so Jalde ou Or (ouro ou amarelo), Argente

    (prata, branco ou cinza claro), Blau ou Azure (azul), Gules

    (vermelho), Sable (preto), Sinopla, Sinople ou Vert (verde)

    e Purpure (prpura). Outras cores so utilizadas

    ocasionalmente, normalmente para finalidades especiais.

    Certos padres chamados peles podem aparecer num

    braso, e so (de modo um tanto arbitrrio) classificados

    como esmaltes. As duas peles comuns so o Arminho e o

    Veiro. O Arminho representa a pelagem hibernal do

    arminho (branca com a cauda preta). O veiro representa

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    28

    um tipo de esquilo que tem o dorso azulado e o ventre

    branco. Costuradas lado a lado, formam um padro

    alternado de formas azuis e brancas.

    Figuras herldicas podem ser representadas em suas

    cores naturais. Muitos objetos da natureza, como plantas

    e animais, so descritos como de sua cor neste caso.

    Figuras de sua prpria cor so muito freqentes como

    timbres e suportes. O abuso do esmalte de sua cor visto

    como uma prtica viciosa e decadente.

    Na representao dos brases de armas so utilizados

    dois tipos de metais, o ouro (amarelo) e a prata (branco

    ou cinza claro), e cinco tipos de esmaltes ou cores,

    vermelho, azul, verde, prpura e negro. Os desenhos que

    representam o corpo humano podem usar suas cores

    naturais, esse termo conhecido com carnao.

    O termo esmalte teve sua origem segundo alguns

    pesquisadores no hebraico hasmal, outros atribuem ao

    latim esmaltium, que se refere ao preparo de verniz vtreo

    com grande aderncia, que era usado para evitar a

    oxidao de certos metais, especialmente o ferro.

  • Claudio Campacci

    29

    O metal ouro ou Amarelo pode receber outros nomes,

    em determinadas circunstncias: nos escudos dos reis

    passa a ser chamado de sol; nos brases da nobreza em

    geral chamado de topzio. Aqueles que tm este metal

    no seu escudo estavam obrigados, na idade mdia, a

    fazer bem aos pobres e a defender seus senhores,

    lutando por eles at o final das suas foras.

    O metal prata, Branco ou Cinza, quando presente nas

    armas dos soberanos, recebe o nome de lua. A prata est

    associada com a inocncia e pureza, e aqueles que a

    tinham em seu braso estavam obrigados a defender as

    donzelas e a amparar os rfos.

    O metal vermelho conhecido tambm como goles ou

    gules, recebendo este nome nas armarias da nobreza

    geral. Quando presente nos escudos dos prncipes passa

    a ser chamado de marte, enquanto nos brases dos

    nobres titulados chamado de rubi. Este esmalte

    associado com o valor e a intrepidez e obrigava os seus

    portadores a socorrer os injustiados e oprimidos.

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    30

    O metal azul chama-se jpiter quando aplicado s armas

    reais, safira nas armas dos nobres titulados ou

    simplesmente azul nos escudos da nobreza em geral.

    Este esmalte significa nobreza, majestade, serenidade e

    os seus portadores estavam obrigados a fomentar a

    agricultura e tambm a socorrer os servidores despedidos

    injustamente ou que se encontrassem sem remunerao.

    O metal verde conhecido na herldica como sinople,

    quando aplicado s armas da nobreza em geral. Para os

    prncipes e reis passa a ser chamado de Vnus, enquanto

    para a nobreza titulada referenciado como esmeralda.

    Um braso que continha este esmalte obrigava o seu

    portador a socorrer os lavradores em geral, assim como

    aos rfos e pobres oprimidos.

    O metal prpuro significa dignidade, poder e soberania,

    e aqueles que a usavam em sua cota de armas deveria

    proteger os eclesisticos e religiosos.

  • Claudio Campacci

    31

    O metal preto tambm chamado de sable nas armarias

    em geral, mudando o seu nome para saturno nas armas

    reais e para diamante nas armas da nobreza titulada. O

    sable est associado a cincia, a modstia e a aflio.

    Aqueles que apresentavam esse esmalte em seus

    brases estavam obrigados socorrer as vivas, os rfos

    e todas as pessoas dedicadas s letras.

    Significado dos principais smbolos herldicos

    m Herldica as figuras de um escudo designam

    todas as imagens que se encontram dentro

    deste. As figuras mais frequentes so a cruz,

    com suas vrias variaes. Os animais mais comum so

    o leo e a guia, tambm so usados o alce, o javali, a

    abelha e peixes. Usam-se tambm figuras mitolgicas

    como drages, unicrnios e grifos. Usam-se tambm

    muitas plantas, especialmente a flor-de-lis e a rosa, alm

    de rvores.

    E

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    32

    Flores

    Flor-de-lis Rosa

    Flor-de-lis

    A flor-de-lis uma figura herldica muito associada

    monarquia francesa, particularmente, ligada com o Rei da

    Frana. Ela permanece extra-oficialmente um smbolo da

    Frana, assim como a guia napolenica. Mas no tem

    sido usada oficialmente desde o fim da monarquia. A flor-

    de-lis smbolo de poder e soberania, assim como de

    pureza de corpo e alma, candura e felicidade. A palavra

    lis, de fato, um galicismo que significa lrio ou ris, mas

    tambm pode ser uma contrao de "Louis", do francs,

    Lus, primeiro prncipe a utilizar o smbolo (ficando assim

    "fleur-de-Louis", ou "flor de Lus"). Assim, a representao

    desta flor, e seu simbolismo, o que os elementos

    herldicos querem transmitir, quando a empregam sob as

  • Claudio Campacci

    33

    mais diversas formas. uma das quatro figuras mais

    populares em brasonaria, juntamente com a guia, a cruz

    e o leo.

    Figuras geomtricas

    Besante

    Losango

    Besante

    Os besantes ou dinheiros, cujo significado herldico o

    de resgate pago pela libertao do cavaleiro que os

    ostentar no seu escudo. No um smbolo dos mais

    honrados para um Cavaleiro.

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    34

    Animais e seres mitolgicos

    Leo guia Drago Grifo

    Co Unicrnio Peixe

    Aves

    Tambm denominada habitantes do ar. O smbolo de ave

    mais usada por sua maior antiguidade, por sua

    importncia e por sua fora a guia. Excluindo a guia

    que em geral se esmalta em sable (negro), o restante das

    aves usam sua cor original.

  • Claudio Campacci

    35

    guia. Das mais comuns e antigas

    figuras na herldica. Pinta-se sempre de frente, com suas asas estendidas e levantadas, e sua calda esticada. A cabea tem que situ-la altura do chefe do escudo, e sua calda na ponta. Se esmalta de um nico tom, de

    maneira geral de negro, tambm admite outros esmaltes e variantes. smbolo de bravura e audcia.

    Bicfala. Tambm denominada,

    desdobrada ou imperial. Se pinta igual a anterior. Por suas duas cabeas representam o Oriente e o Ocidente. smbolo de generosidade, magnanimidade e bravura de esprito.

    Corvo. Pinta-se de sable (negro) ao

    natural, parado, de perfil, e mirando ao lado destro. smbolo de esprito audaz e animado para arriscar-se em defender a seus benfeitores.

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    36

    Gara. Pinta-se de vrias maneiras, sempre adestrada e normalmente de sua cor. smbolo de prudncia em prevenir

    os perigos.

    Galo. Admite pint-lo de vrias maneiras, sempre ao natural e adestrado. smbolo de vigilncia e tenacidade na peleja. Procedente dos remotos Galos, os franceses os adotaram como insgnia nacional.

    Pomba. Pinta-se algumas vezes parada e

    outras voando, sempre ao natural e adestrada. Sua simbologia est na fidelidade e no amor. Tambm smbolo da Santsima Trindade.

  • Claudio Campacci

    37

    Pelicano. Pinta-se sempre de frente, com as asas estendidas, com a cabea um pouco destra, o pescoo arqueado y picando as penas, do que sai sangue. o smbolo dum senhor beneficente e piedoso com seus vassalos.

    Cisne. Se pinta parado e adestrado.

    Simboliza ao antigo fidalgo sem mancha, que possui gloriosas virtudes.

    Grifo

    O grifo (griffin, griffon ou gryphon, em

    ingls, griffon em francs, grifone em

    italiano, Greif em alemo) um animal

    lendrio com corpo e patas traseiras de

    leo; cabea, asas e patas dianteiras de

    guia; e orelhas pontudas. Como o leo foi

    tradicionalmente considerado o rei dos animais e a guia

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    38

    a rainha das aves, o grifo era considerado uma criatura

    especialmente poderosa e majestosa. O nome do animal

    deriva do latim medieval gryphus, derivado por um erro

    ortogrfico comum do latim clssico grypus, do grego

    gryps, grypos, "curvo, de nariz aquilino", em referncia ao

    bico. Alguns sugerem, porm, que a palavra grega tem

    origem semita e est relacionada ao hebraico kherub,

    "querubim" e ao acadiano karibu, um boi alado e colossal.

    Na Antiguidade, era um smbolo de poder divino e um

    guardio de tesouros. Segundo os gregos, vigiavam

    tesouros no pas dos Hiperbreos e a cratera de Dioniso,

    cheia de vinho at a boca. Serviam tambm para puxar os

    carros voadores de Apolo e de Nmesis. Segundo

    Herdoto, um certo Aristeas de Proconeso, possudo por

    Apolo, foi levado a visitar a terra dos Issedones, para

    alm da qual viviam os Arimspios, um povo de um olho

    s que vivia em constante guerra com os grifos "que

    guardavam o ouro". Na Idade Mdia, por participar da

    terra e do cu, era considerado smbolo das duas

    naturezas, divina e humana, do Cristo e evocava a dupla

    qualidade de fora e sabedoria. Segundo o autor irlands

  • Claudio Campacci

    39

    do sculo IX Stephen Scotus, os grifos so mongamos e

    se um parceiro morre, o outro continuar solitrio para o

    resto da vida, o que faz do grifo tambm um emblema do

    casamento cristo ideal. Para Hildegarda de Bingen,

    monja do sculo XII, a me grifo procura uma caverna

    com uma entrada estreita, mas muito espao no interior,

    protegida dos elementos e ali pe trs ovos, sobre os

    quais monta guarda. Segundo Stephen, o Frade,

    acreditava-se que uma garra de grifo tinha propriedades

    medicinais e que suas penas podiam restaurar a viso

    dos cegos. Clices feitos de garras de grifo (na realidade,

    chifres de antlope) e ovos de grifos (na realidade, de

    avestruz) eram muito valorizados nas cortes medievais

    europias.

    Na herldica medieval, o grifo foi um smbolo

    particularmente freqente. De acordo com o Tractatus de

    armis de John de Bado Aureo (final do sculo XIV), "Um

    grifo levado nas armas significa que o primeiro a us-lo foi

    um homem forte e combativo, no qual se encontravam

    duas naturezas e qualidades distintas, a da guia e a do

    leo." Alm disso, devido antiga tradio segundo a qual

    os cavalos tm horror aos grifos, acreditava-se que pintar

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    40

    um grifo no escudo serviria para assustar os cavalos do

    inimigo. Na herldica, um grifo sem asas, mas com

    grandes espinhos chamado de grifo macho, o que

    pressupe que apenas as fmeas eram aladas.

    Leo

    o smbolo mais usado na herldica.

    O Leo, o "rei dos animais", com sua

    reputao de fora, de bravura, de

    nobreza, to conforme com o ideal

    medieval, podia apenas seduzir aqueles

    que queriam escolher sua armaduras. E,

    de fato, o leo e o seu alterego, o

    leopardo, pululam, sobretudo na zona anglo-normanda O

    leo classificado como uma figura herldica natural,

    mas se encontra freqentemente como representando

    uma figura herldica imaginria, em particular na quimera

    ou no grifo, ou em forma hbrida com a guia, sua mais

    poderosa concorrente herldica.

  • Claudio Campacci

    41

    As vrias posies que atualmente existem na herldica

    so fruto da imaginao de heraldistas, resultante da

    necessidade cada vez maior de diferenciao. No

    entanto, apenas poucos dessas posies eram

    aparentemente conhecidas pelos arautos medievais. Uma

    distino comumente feita (especialmente entre os

    heraldista franceses), embora possa ser de importncia

    limitada, a distino de lees caminhantes como

    leopardos. A seguinte tabela sumariza as principais

    atitudes de lees na herldica:

    Atitude (termo

    original)

    Atitude (em

    portugus) Exemplo Descrio

    Rampant Rampante ou de combate

    Um "leo rampante" representado em p

    ereto de perfil, com as patas dianteiras

    levantadas. A posio das patas traseiras

    varia de acordo com os costumes locais: o leo pode estar em

    ambas as patas traseiras afastadas, ou em apenas sobre uma, com a outra tambm

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    42

    levantada para o ataque; a palavra

    rampant frequentemente

    omitida, especialmente nos brases mais

    antigos, pois esta a posio mais usual de

    um quadrpede carnvoro.

    a posio mais usada.

    Passant Passante

    Um "leo passante" est caminhando, com

    a pata direita levantada e todas as

    demais no cho.[

    Nota: Um leo assim representado pode ser

    chamado de "leopardo".

    Statant

    Um "leo statant" fica na posio parada, com todas as quatro

    patas no cho, geralmente com as

    patas dianteiras unidas. Esta postura

    mais frequente em timbres do que na figuras do escudo.

  • Claudio Campacci

    43

    Salient Saliente

    Um "leo saliente" fica na posio de salto, com ambas patas traseiras unidas no

    cho, e ambas patas dianteiras unidas no

    ar. Esta uma posio muito rara para um

    leo, mas tambm utilizado de outros animais herldicos.

    Sejant Sentado

    Um "leo sejant" fica na posio sentada,

    com as patas dianteiras no cho.

    Sejant erect

    Sentado ereto

    Um "leo sejant erect" fica na posio

    sentada, mas com seu corpo ereto e suas

    patas dianteiras erguidas na posio

    "rampant" (esta posio algumas vezes denominada "sejant-rampant").

    Couchant Deitado

    Um "leo couchant" fica na posio

    deitada, mas com a cabea levantada.

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    44

    Dormant Adormecido

    Um "leo dormant" fica na posio deitada,

    com olhos fechados e cabea abaixada sobre as patas

    dianteiras, como se estivesse dormindo. Raro ser utilizado.

    Astronomia

    Lua Estrela

    Peles

    Arminho Veiro

  • Claudio Campacci

    45

    Arminho

    Em herldica, arminho uma das duas peles usadas em

    brases. Representa a pele

    do arminho. No inverno o

    arminho possui uma

    pelagem branca com a

    cauda negra; o arminho

    herldico composto por um

    nmero de peles cosidas,

    formando assim um padro de marcas sables em argent.

    O arminho (Mustela erminea) um carnvoro musteldeo

    de pequeno porte pertencente ao grupo das doninhas

    (Mustela spp.). A espcie ocupa todas as florestas

    temperadas, rticas e sub-rticas da Europa, sia e

    Amrica do Norte. H 38 sub-espcies de arminho,

    classificadas de acordo com a distribuio geogrfica. O

    arminho no corre de momento qualquer risco de

    extino, mas algumas populaes esto ameaadas

    sobretudo por perda de habitat. O tempo de vida desses

    animais de 7 a 10 anos, tendo casos de arminhos que

    chegaram a viver 14 anos, embora sejam muito raros.

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    46

    Veiro

    Em herldica, veiro uma das duas peles usadas em

    brases. Veiro representa pele de esquilo, uma pele de

    grande valor na Idade Mdia. O esquilo em questo era

    de cor variada: cinzento-azulado nas costas e branco por

    baixo, sendo utilizado para confeccionar mantos. Era

    cosido alternando as partes escuras com as partes claras,

    o que resultava num padro cinzento-azulado e branco-

    acinzentado, que, quando transposto para herldica,

    tornou-se azul e branco alternadamente. A espcie exata

    de esquilo nunca foi claramente identificada. O nome

    veiro, vem do latim: "de variis coloribus": de cor variada,

    donde passou ao francs: vair, ao espanhol: vero e ao

    portugus: veiro.

  • Claudio Campacci

    47

    Arquitetura

    Torre Castelo Coluna/Pilar

    Castelo

    Os castelos tiveram uma importncia muito grande nos

    tempos medievais, pois eram poderosos baluartes de

    defesa e residncia de imperadores e reis. No seu interior

    reuniam-se os exrcitos, camponeses e vassalos, alm

    dos rebanhos e toda produo da terra, que ficava a salvo

    da cobia dos inimigos. Esses castelos tinham meios

    prprios de subsistncia, visto que muitas vezes eram

    assediados e cercados por longo tempo.

    A figura do castelo, por tais condies e por seu

    simbolismo, muito empregada na herldica, obedecendo

    a determinados critrios para seu desenho. Uma regra

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    48

    geral, nem sempre observada na prtica, estabelece a

    composio entre metais e esmaltes: se o castelo for

    desenhado com um esmalte (cor), as suas portas devem

    ser de metal; quando o castelo desenhado em ouro, as

    aberturas (portas e janelas) devero ser representadas

    em vermelho; se o castelo for de prata, as aberturas

    devem ser representadas em preto.

    O castelo no deve ser confundido com a torre. O seu

    desenho deve apresentar-se rigorosamente em um s

    bloco, com uma porta e duas janelas, o todo sobreposto

    por trs torres, geralmente com a do meio maior que as

    das laterais.

    A presena do castelo em um braso de armas significa

    que o seu portador participou com destaque em tomadas

    de assalto, ou despojos conquistados. Quando

    representado de portas abertas indica sucesso na defesa

    ou tomada.

    Tanto nos brases portugueses quanto nos espanhis o

    castelo representa, muitas vezes, aliana com a casa real

    de Castela. Nos brases portugueses concedidos na

    segunda dinastia, os castelos so alusivos a feitos de

    armas praticados no ataque ou defesa de praas de

  • Claudio Campacci

    49

    guerra do norte da frica e outras conquistas. Os castelos

    sobre ondas representam feitos ligados a praas

    martimas. Finalmente, se o castelo por representado em

    prata sobre um campo de azul, pode-se afirmar que o seu

    possuidor era pessoa de grande virtude.

    Torre

    A torre tem seu desenho prprio, no devendo ser

    confundida com um castelo. A palavra provm do latim

    "turre". uma pea que se apresenta isolada e, conforme

    o seu desenho, tem sua significao. A torre parte de

    destaque do castelo e geralmente representada com

    uma porta e duas janelas. A torre mais alta ou de maior

    proeminncia do castelo chamada de torre de

    homenagem; quando aparece com trs torres

    sobrepostas se diz donjonada; quando podem ser

    notadas as janelas, esclarecida; quando aparece o teto,

    coberta; quando tem a porta com grade e pontas na parte

    inferior, gradeada; quando a torre vem com chamas nas

    janelas e sobre as ameias ou seteiras se diz ardente. A

    torre apresenta o seu corpo na forma arredondada. J o

    torreo constitui uma derivao da torre original, pois a

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    50

    forma do seu corpo quadrada ou retangular, com uma

    porta e quatro ameias

    Ser humano

    Mo Cabea

    Militar e religioso

    Cavaleiro Santo

  • Claudio Campacci

    51

    Cruz

    Cruz latina Cruz florenciada

    Na herldica, a aplicao da cruz muito ampla. Isto

    decorre principalmente da enorme quantidade de

    formatos que a ela so dados na confeco dos brases.

    Alm disto, h um vasto uso na herldica religiosa,

    tumular e na confeco de condecoraes, bandeiras e

    insgnias. A correta definio de cruz a de uma figura

    formada por uma pala e uma faixa cruzadas, mas sem

    continuidade entre elas.

    Um dos formatos mais primitivos da cruz foi usado pelos

    gregos e pelos egpcios h 5 mil anos e tinha a forma de

    um "T" encimado por um anel, smbolo de divindade, e

    que se chamava Cruz de Ankl. A primeira vez que a cruz

    foi oficializada como smbolo, neste caso de f, aconteceu

    no reinado de Constantino. Isto ocorreu devido ao

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    52

    imperador ter sido, surpreendentemente, vencedor da

    batalha contra Mexncio. Da por diante, na vanguarda do

    exrcito Constantino, o Grande, sempre era conduzido

    por um estandarte composto por uma cruz com a legenda

    "IN HOC SIGNO VINCES" (com este sinal vencers). O

    uso da cruz como elemento de braso de armas nasceu

    com as cruzadas. As grandes ordens de Cavalaria como

    So Joo, dos Templrios, de Calatrava, de Malta e

    outras escolheram a cruz como seu smbolo. Os duques

    de Saboya trazem em seu escudo uma cruz branca como

    lembrana de terem socorrido a Rhodes contra os turcos.

    Muitas famlias da nobreza europia trazem a cruz em

    seus escudos, como lembrana de terem tomado parte

    nas cruzadas. Os contingentes das cruzadas de

    diferentes pases distinguiam-se no uso da cruz; os

    escoceses usavam a Cruz de Santo Andr; os ingleses,

    uma cruz de ouro; os alemes, de negro, os italianos, de

    azul e os espanhis de vermelho. Eduardo III da

    Inglaterra, reivindicando a Coroa da Frana, adotou a cruz

    vermelha para seu exrcito em 1335 e a Frana, para

    evitar confuso, ficou com o branco. Enfim, ainda hoje a

    Cruz Vermelha de So Jorge caracteriza a Inglaterra,

  • Claudio Campacci

    53

    assim como, depois de outra mudana, a cruz branca

    caracteriza a Itlia. Portugal ficou caracterizado pela cruz

    azul que o conde de So Henrique trouxe para a Terra

    Santa. Na herldica portuguesa, desde 1459, encontra-se

    a cruz em muitos brases. Quanto a herldica brasileira,

    muitas famlias apresentam a cruz sob vrias formas.

    Entre os bares, encontra-se, por exemplo, a cruz nos

    sobrenomes Abadia, Alegrete, Catumbi, Guarulhos e

    Saquarema, entre outros.

    Tipo de Cruz Descrio Imagem

    Cruz herldica

    A cruz herldica simples apresenta braos de mesmo comprimento, acompanhando

    as propores do escudo.

    Cruz em trevo

    Com as extremidades dos braos em forma de trevo.

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    54

    Cruz recruzada

    Cada um dos braos da cruz barrado.

    Cruz de Jerusalm

    Foi a insgnia do Reino latino de Jerusalm, que existiu por cerca

    de duzentos anos aps a Primeira Cruzada. As quatro

    cruzetas nos cantos simbolizariam ou os quatro Evangelhos ou as quatro

    direes nas quais a Palavra de Cristo se espalhou, a partir de Jerusalm. Ou as cinco cruzes

    podem simbolizar as cinco chagas de Cristo durante a Paixo. O smbolo pode ser

    visto no filme Cruzada (Kingdom of Heaven, em

    ingls), de 2005.

    Cruz florenciada

    As extremidades dos braos tm forma semelhante flor-de-

    lis.

    Cruz bifurcada (fourche)

    Com as extremidades em forma de garfo.

  • Claudio Campacci

    55

    Cruz de Malta

    Seus braos estreitam na direo do centro e so

    chanfrados nas extremidades. Tambm conhecida como Cruz

    de So Joo.

    Cruz ancorada (moline)

    Suas extremidades so divididas e as pontas resultantes

    so curvadas.

    Cruz patonce Intermediria entre a cruz ptea e a florenciada. Algumas fontes

    a chamam de Cruz floreada.

    Cruz Ptea

    Seus braos estreitam na direo do centro, mas no apresentam extremidades

    chanfradas.

    Cruz bordonada (pomme)

    Com as extremidades em forma de bordo.

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    56

    Cruz potenteia

    Suas extremidades so barradas.

    Quadrtica Uma cruz com um quadrado no

    ponto de intercesso. Pouco usada na herldica.

    Cruz romnica de consagrao

    Tripla e entrelaada.

    Cruz oca

    Tambm conhecida como Gammadia, uma Cruz Grega com a parte central dos braos removida. Gamadia vem da

    aparncia de quatro letras gama do alfabeto grego agrupadas.

    Cruz de Santo Andr (decussata)

    A cruz decussata, conhecida tambm pelos nomes de sautor ou cruz de Santo Andr, um smbolo herldico na forma de

    cruz diagonal ou na letra X. Segundo a tradio crist, o

    apstolo Andr foi martirizado em uma cruz desta forma. Este smbolo tambm est presente em vrias bandeiras, brases e

  • Claudio Campacci

    57

    selos como nas bandeiras da Esccia e Jamaica.

    Ankh

    Tambm conhecida como cruz ansata, era na escrita

    hieroglfica egpcia o smbolo da vida. Conhecido tambm como

    smbolo da vida eterna. Os egpcios a usavam para indicar

    a vida aps a morte. altamente ligada cultura

    asetiana (Aset kA) simbolizando vampirismo.

    Surgimento dos primeiros

    sobrenomes ocidentais

    proximadamente at 800AD o povo europeu

    usava apenas um nome para identificar cada

    indivduo. Isto ainda acontece entre alguns

    povos primitivos da atualidade. medida que a populao

    crescia, tornou-se complicado viver numa aldeia em que

    talvez um tero da populao tivesse o mesmo primeiro

    A

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    58

    nome e muitas vezes a mesma profisso, visto que a

    maioria eram agricultores.

    Os sobrenomes (tambm chamados de segundo nome ou

    apelido) surgiram com o objetivo de melhor identificar os

    indivduos.

    Imagine se no houvesse sobrenomes, e voc tivesse

    que achar na cidade de So Paulo um homem de nome

    Joo, casado com Maria, filho de Jos e Aparecida e que

    trabalha como pedreiro. Seria praticamente impossvel!

    Mesmo com o uso do sobrenome encontramos diversas

    pessoas com o mesmo nome.

    Uma pesquisa realizada no incio dos anos 80 pelo PIS

    (Programa de Integrao Social), chegou-se ao dez

    nomes mais utilizados no Brasil, por ordem decrescente:

    Jos dos Santos, Jos Carlos da Silva, Joo Batista da

    Silva, Jos Francisco da Silva, Maria Jos da Silva, Jos

    Ferreira da Silva, Jos da Silva e, finalmente, Maria

    Aparecida da Silva.

    As seis principais fontes para o segundo nome foram:

    ocupao (profisso), localizao (chamados

    toponmicos), caracterstica pessoal, nobreza e o nome do

  • Claudio Campacci

    59

    pai (os chamados patronmicos). Citaremos alguns

    exemplos para melhor esclarecer:

    Ocupao: Zimmermann, (alemo) significa Carpinteiro;

    Schumacher (alemo) significa sapateiro; Taylor (ingls)

    significa alfaiate; Maurer (alemo) significa pedreiro;

    Schafer (alemo) significa tosqueador de ovelhas; Fisher

    (ingls) significa pescador; Oliveira (portugus) plantador

    ou comerciante de azeitonas ou azeite; Pereira

    (portugus) plantador ou comerciante de peras.

    Toponmico: Roberto Carlos Braga, cantor e compositor

    brasileiro. Braga uma cidade portuguesa. Outros

    exemplos: Lisboa, Coimbra, Milanesi, Padovani, Lombardi

    e Modenesi. Os sobrenomes Oliveira, Pereira, Silva,

    Nogueira entre outros se pode referir a lugares que havia

    muitas rvores ou plantas de nosso nome, assim sendo,

    sobrenomes de origem toponmica.

    Caracterstica Pessoal (Alcunha): Delgado sobrenome

    originrio de uma famlia espanhola de pessoas magras.

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    60

    Outros exemplos: Leito, Coelho, Salgado, Passarinho,

    Leite, Valente, Branco e Goulart.

    Patronmico: Inmeros seriam os exemplos a serem

    citados. Ficaremos apenas com o Fernandes de origem

    portuguesa, que significava "filho de Fernando".

    Inicialmente os primeiros a utilizar este sobrenome eram

    conhecidos como Fulano Filius Quondam Fernandus ou

    seja Fulano filho do senhor Fernando, j a segunda

    gerao, ou seja, os netos do senhor Fernando utilizavam

    o nome do av como sobrenome Outros exemplos: Paoli,

    Rodrigues, Paula, Afonso, Veras e Lopes. A maioria dos

    sobrenomes escandinavos patronmica.

    Religiosa: A maioria dos sobrenomes de origem religiosa

    no possui braso, visto que os filhos bastardos no

    tinham pai legal, as mes acabavam por acrescentar um

    nome em devoo a algum santo catlico ou smbolo

    religioso, as pessoas achavam que isso poderia trazer

    proteo e sorte. Alguns exemplos: Santos, Cruz,

    Sacramento, Neves, Jesus e Nascimento.

  • Claudio Campacci

    61

    Nobreza: So sobrenomes em que o patriarca que iniciou

    a linhagem tinha algum ttulo de nobreza. Baroni (italiano)

    o patriarca era um Baro; Marques (portugus e

    espanhol) o patriarca era um Marqus; Duque (portugus)

    o patriarca era um Duque.

    Observe-se, entretanto que, para se chegar origem do

    sobrenome, necessrio remontar a primeira pessoa que

    o utilizou e identificar claramente a lngua falada na poca

    e local onde tal pessoa residia.

    Principais Ttulos de Nobreza

    tiliza-se este substantivo

    para denominar um

    conjunto de indivduos

    que gozam, devido transmisso

    legal hereditria, de privilgios

    polticos e direitos superiores aos

    da maioria da populao. O princpio de tudo est nas

    U

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    62

    sociedades primitivas, quando os homens mais fortes e

    hbeis tornavam-se chefes de tribos ou cls.

    Frequentemente havia um corpo de indivduos que o

    apoiava e que adquiria prestgio em virtude do poder do

    chefe. Mais tarde essa casta especial transmitia aos seus

    descendentes os privilgios de que gozava. Em fase mais

    avanada da histria, a riqueza ou a influncia poltica

    muitas vezes permitia aos homens ganhar o estado de

    nobreza. Nas naes da moderna Europa, a nobreza teve

    origem na aristocracia feudal. A partir do sculo XI os

    nobres tomaram os nomes de seus domnios territoriais,

    de seus castelos ou de povoaes sob seu domnio. Da a

    partcula "de", para os franceses e portugueses, di para

    os italianos, del para os espanhis e "Von ou Van" para

    os povos germnicos.

    A Segunda Nobreza

    A aristocracia ou segunda nobreza definida como

    abaixo da grande nobreza. Nos sculos VIII XI dividia-se

    em ricos-homens, fidalgos, cavaleiros e escudeiros.

  • Claudio Campacci

    63

    Ricos-homens: os senhores mais poderosos, pois

    reuniam a fidalguia de nascimento, a autoridade e

    prestgio de cargos pblicos mais elevados.

    Fidalgos: nobres de raa, mas no revestidos de

    magistratura civil ou militar

    Cavaleiro: todos que eram admitidos confraria militar

    medieval da cavalaria e tambm homens livres que

    podiam custear por si cavalos e armas e ir guerra,

    recebendo, por isso, certos privilgios.

    Escudeiros: eram nobres ou no, que tinham por dever

    seguir, cada um, o seu cavaleiro, ajudando-o a vestir as

    armas e combatendo na retaguarda dele. A idade que se

    passava a escudeiro era a de 14 anos. Antes disso os

    jovens nobres costumavam servir como pagens ou

    "donzis" nos paos dos grandes senhores.

    A grande nobreza

    Imperador nominalmente um monarca e governante de

    um imprio ou qualquer outro estado imperial.

    Imperadores so geralmente reconhecidos como

    superiores aos reis em honra. Seu posto pode ser obtido

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    64

    por hereditariedade, ou por fora, como num golpe de

    estado. No caso de haver uma imperatriz reinante, seu

    marido no recebe ttulo de imperador, sendo chamado

    simplesmente de consorte. O ttulo de imperador pode ter

    outras designaes, em alemo Kaiser, nas cultura

    eslavas, especialmente na Rssia o termo usado Czar,

    ambos derivam do ttulo romano Csar.

    Atualmente o nico pas que possui um imperador como

    chefe de estado o Japo.

    Rei um chefe de Estado que pode ou no, dependendo

    do estilo de governo de uma nao, o exerccio de

    poderes monrquicos sobre um territrio, normalmente

    chamado de reinos. Um rei o segundo maior ttulo

    soberano, a seguir ao de Imperador. O equivalente

    feminino do Rei a Rainha embora o termo "rainha" pode

    referir-se a uma monarca de seu prprio direito, a uma

    rainha reinante, ou esposa de um rei, uma rainha

    consorte. O marido de uma rainha reinante , por vezes,

    tratado como rei consorte, mas mais comumente

    denominado de prncipe consorte. Muitas vezes, o rei no

  • Claudio Campacci

    65

    tinha s uma funo poltica mas, ao mesmo tempo, uma

    religiosa, atuando como sumo sacerdote ou divino rei.

    Prncipe a denominao dada ao chefe de estado de

    um principado (Prncipe reinante) ou a um membro de

    uma famlia reinante. Atualmente existem trs principados

    independentes: Andorra, Mnaco e Liechtenstein. Na

    maioria das monarquias o ttulo de prncipe dado a

    todos os filhos de um chefe de estado. Em algumas

    monarquias o ttulo prncipe as vezes concedido a

    nobres no pertencentes diretamente famlia real. Nas

    monarquias de Portugal e Espanha contudo, o ttulo de

    prncipe s dado aos herdeiros do trono, recebendo os

    restantes filhos do monarca o ttulo de Infante.

    O termo foi usado pela primeira vez pelo imperador Otvio

    Augusto em 27 A.C. e vem do Latim "principis",

    "princeps", que significa o primeiro cidado do estado, e

    era atrbuido anteriormente ao chefe do senado romano

    como principes senatus.

    Duque um ttulo que se refere ao chefe de estado de

    um Ducado. Pode ser tambm um ttulo nobilirquico

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    66

    integrado ou no numa casa real. um ttulo hereditrio,

    mas pode ser tambm atribudo a uma pessoa, neste

    caso normalmente a um filho do monarca reinante ou a

    uma pessoa cujos servios o monarca queira recompesar.

    A origem da palavra "duque" vem ou do grego bizantino

    douka, ou do latim duce, que significa chefe. Para

    outros, a origem da palavra est no substantivo latino

    dux, que significa "o que conduz", usado no Imprio

    Romano como comandante militar. A mulher de um duque

    ou a chefe de um ducado chama-se "duquesa". Os

    duques recebiam dos reis o tratamento de primos, com

    todas as dignidades e honrarias inerentes. Na Idade

    Mdia, o ttulo foi primeiro institudo entre os monarcas

    germnicos, a designar os regentes de provncias logo

    acima dos Condes, figurando no mais alto ranque da

    hierarquia nobilirquica. Havia, no entanto, variaes em

    seu significado entre os diversos feudos e reinos, sendo

    mesmo usado por prncipes. Esse hbito foi perpetrado

    por algumas monarquias, que ainda hoje intitulam seus

    prncipes mais importantes especialmente o herdeiro

    aparente com algum ttulo de duque, como nas

  • Claudio Campacci

    67

    nobrezas britnica, belga, dinamarquesa, espanhola,

    holandesa e sueca.

    Marqus um ttulo nobilirquico da nobreza europia,

    que foi utilizado em outras monarquias originrias do

    mundo ocidental, como o Imprio do Brasil no sculo XIX.

    O ttulo vem do germnica Markgraf, possui variantes em

    diversas culturas da Europa. Na hierarquia o termo

    marqus foi introduzido pelo imperador Carlos Magno. Os

    territrios do imprio que coincidiam com a fronteira eram

    denominados "marcas", e o responsvel pela defesa e

    administrao dessas "marcas" era o margrave. Muito

    depois, ainda no Sacro Imprio Romano-Germnico

    fundado por Carlos Magno, esses territrios de fronteira

    comearam a ser cedidos aos principais condes,

    passando esses ento a marqueses, responsveis pelos

    marquesados. A partir do sculo XV, o ttulo passou a no

    mais ser necessariamente relacionado a jurisdio ou a

    soberania de um territrio ou a alguma funo pblica,

    somente como grau de nobreza. Dependendo do de cada

    nao monarquica, comumente um ttulo hereditrio,

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    68

    que todavia no costuma ter a possibilidade de honras de

    grandeza.

    Conde vem do latim comes, comitis, que significa

    companheiro um ttulo nobilirquico existente em muitas

    monarquias. Inicialmente, na Idade Mdia, era o senhor

    feudal, dono de um ou mais castelos e de terras

    denominadas Condado, mas posteriormente, a partir do

    sculo XIV, o ttulo foi utilizado apenas como grau de

    nobreza. Alguns pesquisadores afirmam que inicialmente

    era um ttulo militar do Imprio Romano do Ocidente,

    associado autoridade militar e civil, do cnsul, que, mais

    tarde, passou aos brbaros germnicos especialmente,

    assim designando seus principais colaboradores e seus

    representantes. A partir do sculo XIV, como a sociedade

    passou a organizar-se em pases, os nobres que

    moravam em castelos foram pouco a pouco mudando-se

    para as cidades, mudando-se para palacetes urbanos,

    formando cortes de nobres. No sculo XVII, os Condes

    praticavam ofcios elitistas e alguns desses nobres detm

    propriedade rurais. Sendo que, na sua maioria,

    descendem da nobreza antiga.

  • Claudio Campacci

    69

    Visconde um ttulo nobilirquico de categoria superior

    de Baro e inferior de Conde. Vem do latim

    "vicecomes" (viceconde). Dado principalmente aos filhos

    caulas dos condes e sua descendncia

    Baro um ttulo nobilirquico existente na maioria das

    monarquias. Os bares pertencem a nobreza do estado, e

    portando, fazem parte da elite, tendo propriedades rurais,

    ocupando cargos polticos e por vezes descendem da

    nobreza antiga, tendo s vezes uma formao cultural

    elevada. Hoje, se sabe, foi ttulo criado pelo Imperador

    Adriano para premiar soldados e administradores que se

    destacavam em suas atribuies, mas que no tinham

    direito a se assentar na alta nobreza em Roma. Com o

    incio da Idade Mdia e o incio do sistema Feudal, houve

    toda uma mudana na sociedade nobilirquica. Baro se

    refere a homem, varo, pessoa poderosa pela posio ou

    riqueza.

    Baronete (Baronet) o mais baixo ttulo de nobreza

    hereditrio britnica. inferior ao de Baro (Baron) e

    superior ao de Cavaleiro (Knight). Usa-se comumente o

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    70

    prefixo Sir seguido do primeiro nome, para homens e

    Lady seguido do ltimo nome, para mulheres.

    Cavaleiro tambm um ttulo

    nobilirquico dado aos fidalgos

    vassalos do rei que, juntamente

    com os homens de armas que os

    senhores das terras eram

    obrigados a apresentar como

    lanas, os escudeiros e cavaleiros

    nobres, os cavaleiros das ordens

    religiosas e dos concelhos que

    tambm eram conhecidos por

    cavaleiros-vilos constituam a Cavalaria. Na Idade

    Mdia, especialmente na poca das Cruzadas, com a

    instituio da Cavalaria o cavaleiro ficou intimamente

    ligado a um cdigo de conduta e honra, que definia no

    s a arte da guerra, mas tambm envolvendo o

    comportamento social.

    Nomeao de um Cavaleiro

  • Claudio Campacci

    71

    A Nobreza Brasileira

    no perodo Imperial

    Nobreza Brasileira compreende os detentores

    dos ttulos nobilirquicos agraciados agraciados

    durante o Imprio

    do Brasil no sculo XIX,

    sendo que alguns dos

    nobres brasileiros tinham

    ascendncia na nobreza

    portuguesa. Sua formao

    inicial teve como base os

    ttulos de nobreza de

    Portugal, sendo constituda

    dos principais ttulos de

    nobreza. Hierarquicamente,

    os membros da elite do pas

    que detivessem ttulos nobilirquicos, encontravam-se

    acima da elite no pertencente a nobreza, pois tal ttulo

    A

    Foto do sculo XIX da famlia imperial brasileira

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    72

    servia como forma de ostentao de poder poltico e/ou

    origem familiar ilustre.

    Ao transferir-se para o Brasil, em 1808, Dom Joo VI deu

    incio a nobreza brasileira, distribuindo ttulos de nobreza,

    tendo, at 1821, tendo agraciado 28 marqueses, 8

    condes, 16 viscondes e 21 bares, quatro deles

    brasileiros natos: baronesa de So Salvador de Campos,

    baro de Santo Amaro, baro de So Joo Marcos e

    baro de Goinia. Em seus primeiros oito anos no Brasil

    Dom Joo VI outorgou mais ttulos de nobreza do que em

    todos os trezentos anos anteriores da histria da

    monarquia portuguesa, fato que no teve continuidade,

    pois nos outros anos da poca imperial brasileira, apenas

    uma vez ao ano que o Imperador do Brasil agraciava

    membros da nobiliaquia com ttulos nobilirquicos.

    Para alm desses ttulos nobilirquicos, a nobreza era

    formada por um grande nmero de aristocratas menores,

    que compunham a corte brasileira exercendo, no mais

    das vezes, diferentes funes: camareiros-mores,

    mordomos-mores, capites-mores, fidalgos, damas-de-

  • Claudio Campacci

    73

    honra, veadores etc. Pessoas que recebessem

    condecoraes das imperiais ordens honorficas tambm

    eram includas, em diferentes graus, nobreza.

    O ttulo nobilirquico no dava nenhum privilgio especial

    ao agraciado, alm do status perante a sociedade. Os

    filhos de nobres, entretanto, tinham o direito de entrar na

    Marinha diretamente no posto de aspirante, no Exrcito

    como cadete; um privilgio concedido tambm aos filhos

    de oficiais da Guarda Nacional. Os ttulos nobilirquicos

    serviam como ostentao de poder poltico e status entre

    a elite, notadamente os grandes proprietrios rurais.

    Muitos dos nobilitados, entretanto, eram descendentes

    diretos da nobreza portuguesa especialmente as famlias

    chegadas nos primeiros sculos da colonizao nos

    estados da Bahia, Pernambuco, Sergipe, So Paulo e

    mais intensamente no Rio de Janeiro. Entre 1831 a 1840

    sob a Regncia Trina Provisria no houve nomeao

    alguma a ttulos e honrarias.

    A partir do Segundo Imprio, sob o imperador Dom Pedro

    II e o advento do ciclo comercial do caf, foram os

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    74

    grandes cafeicultores que passaram a colecionar tais

    ttulos, na sua maioria recebiam apenas ttulos de baro,

    ficando conhecidos como os bares do caf. O baronato

    acabava por ser uma espcie de legitimao de poder

    local, muito aos moldes dos coronis da extinta Guarda

    Nacional, fazendo-os intermedirios entre o povo e o

    Governo.

    Vale ressaltar que muitos bares apoiaram o golpe

    republicano de 1889, principalmente aps a abolio da

    escravatura em 1888 assinada pela princesa Isabel,

    sendo dois dos principais focos dessa insurgncia Itu e

    Sorocaba no estado de So Paulo. Durante este perodo

    a famlia imperial procurou amainar os sentimentos

    republicanos com uma ampla distribuio de ttulos,

    principalmente entre importantes lderes polticos nas

    provncias e descendentes de nobres, foram 114 no ano

    de 1888 e 123 em 1889.

    Repblica

    Com a proclamao da Repblica em 15.11.1889

    extinguiram-se os foros de nobreza brasileiros. Tambm,

  • Claudio Campacci

    75

    ficou proibida, sob pena de acusao de alta traio e a

    suspenso de direitos polticos, a aceitao de foros de

    nobreza e condecoraes estrangeiras sem a devida

    permisso do Estado. Por respeito e tradio,

    especialmente aos nobres de maior destaque, foi

    permitido uso de seus ttulos mesmo durante o regime

    republicano; exemplo notrio o baro do Rio Branco.

    Maior represso sofreu o grupo de ativistas monarquistas,

    que precisaram manter o diretrio monrquico de maneira

    no-oficial. O ncleo da famlia imperal que havia sido

    exilada na Europa tambm no pde retornar ao Brasil

    em 1921, quando foi autorizado o seu retorno, no governo

    do presidente Epitcio Pessoa.

    O processo de escolha

    Os ttulos nobilirquicos no eram hereditrios, mas

    mesmo assim, os candidatos no poderiam apresentar

    em sua genealogia nenhum dos impedimentos da poca:

    Bastardia : os direitos e o estatuto legal dos bastardos foi

    variado em diversas culturas, em diversas pocas. Estes

    geralmente no tinham direito herana dos pais ou das

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    76

    mes, mas frequentemente recebiam doaes ou honras

    dos pais ou irmos legtimos, ou os testamentos dos pais

    podiam determinar uma herana especfica. Na maioria

    dos casos dava impedimento a recebimento de ttulos de

    nobreza. Tambm as acusaes de bastardia serviam

    para retirar rivais do caminho das sucesses ou heranas

    dos pais. Por exemplo Isabel de Castela, Espanha usou

    esta arma para afastar Joana de Castela do trono

    castelhano e Filipe I de Portugal argumentou a

    ilegitimidade Dom Antnio, Prior de Crato.

    Lesa Majestade: O crime de lesa-majestade foi definido

    dentro das Ordenaes Filipinas e abrangia variadas

    situaes. Os condenados eram punidos com execuo

    pblica por meio de tortura, seus bens se tornariam

    propriedade da Coroa e sua famlia condenada a infamia.

    As Ordenaes Filipinas elaborada por Filipe I da

    Espanha em 1595, serviu de base do direito portugus at

    o sculo XIX, e muitos termos tiveram vigncia no Brasil

    at o advento do Cdigo Civil de 1916. Texto original do

    sculo XIX da Lesa Majestade: "Lesa-majestade quer

    dizer traio cometida contra a pessoa do Rei, ou seu

  • Claudio Campacci

    77

    Real Estado, que he to grave e abominvel crime, e que

    os antigos Sabedores tanto estranharo, que o

    comparvo lepra; porque assi como esta enfermidade

    enche todo o corpo, sem nunca mais se poder curar, e

    empece ainda aos descendentes de quem a tem, e aos

    que com elle converso, polo que he apartado da

    communicao da gente: assi o erro da traio condena o

    que a commette, e empece e infama os que de sua linha

    descendem, posto que no tenham culpa".

    Ofcio mecnico: Era um dos impedimentos para receber

    ttulos nobilirquicos no Brasil e em Portugal durante o

    Imprio. Discriminava pessoas que trabalhavam (ou

    haviam trabalhado) com as mos ou exerciam ofcios

    mecnicos como: sapateiro, ferreiro, latoeiro, marceneiro,

    carpinteiro, etc, atividades consideradas inferiores.

    Sangue infecto: era a caracterstica dada aos judeus,

    mouros, africanos e seus descendentes. Esta prtica

    denominao surgiu em Portugal e Espanha no final da

    Idade Mdia e servia para discriminar estas populaes,

    sendo utilizada como motivo para proibir seu acesso a

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    78

    cargos pblicos e religiosos e ttulos honorficos. Os

    interessados nestes cargos eram investigados pelos

    menos at a quarta gerao. Esta prtica foi tambm

    adotada no Brasil, em relao aos ttulos de nobreza.

    Aqueles que recebiam os ttulos de nobreza no Imprio

    eram cuidadosamente escolhidos por um conjunto de atos

    prestados e ascendncia nobre familiar, alm disso, a

    maioria dos galardoados tinham de pagar uma vultosa

    quantia pela honraria nobilirquica, mesmo se para seus

    filhos perpetuarem os ttulos. Isso no inclui os ltimos

    dois anos do Segundo Imprio sob a regncia de Dom

    Pedro II, quando a Coroa brasileira, desesperada em

    funo dos rumores de golpe de Estado por parte dos

    republicanos, passou a distribuir mais ttulos

    nobilirquicos, a alguns cidados da elite do pas

    pertencentes a oligarquia, mas que no tinham

    ascendncia na nobreza. Para ser nobre, segundo a

    tabela de 02.04.1860, custava, em contos de ris

    Duque: 2:450$000

    Marqus: 2:020$000

  • Claudio Campacci

    79

    Conde: 1:575$000

    Visconde: 1:025$000

    Baro: 750$000

    Alm desses valores, havia os seguintes custos:

    Papis para a petio: 366$000

    Registro do braso: 170$000

    Uma lista dos possveis

    agraciados era elaborada

    ministrio do Imprio, com

    sugestes de seus colegas, dos

    presidentes das provncias e de

    outras pessoas influentes. As

    listas eram enviadas aprovao

    do Imperador, sendo

    apresentadas, dois perodos ao

    ano: 2 de dezembro, aniversrio

    do Imperador; 14 ou 25 de

    maro, respectivamente, aniversrio da Imperatriz e

    aniversrio do juramento da Constituio.

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    80

    O alto custo um dos motivos pelos quais os baronatos

    geralmente restringiam-se a uma pessoa, ou porque, no

    caso de haver mais de um nobre com o mesmo ttulo,

    raramente eram da mesma famlia. Outra razo pela

    brevidade dos ttulos porque tal sistema nobilirquico

    no durou mais do que trs geraes, sendo logo

    derrubado pela proclamao da Repblica em

    15.11.1889.

    Alguns nobres brasileiros, recebiam a distino "com

    grandeza", que os autorizava a usar em seu braso de

    armas a coroa do ttulo imediatamente superior por

    exemplo, um baro poderia usar em seu braso a coroa

    de visconde. Tambm, um "grande do Imprio" desfrutava

    de outros privilgios e precedncias que o ttulo

    imediatamente superior gozava. A grandeza foi conferida

    a 135 bares, que usavam a coroa de visconde em seus

    brases, e a 146 viscondes, que usavam a coroa de

    conde.

  • Claudio Campacci

    81

    Registros de nobreza

    Os registros eram feitos nos livros do antigo Cartrio de

    Nobreza e Fidalguia. Porm, possvel encontrar vrios

    registros com erros e contradies, variando desde

    brases imprecisos a datas e nomes errados, denotando

    a falta de intimidade brasileira com tal sistema

    nobilirquico, herdado da nobreza portuguesa. Em 1848

    desapareceram misteriosamente todos os documentos do

    Cartrio de Nobreza e Fidalguia, que altura era de

    responsabilidade de Possidnio da Fonseca Costa, ento

    o rei de Armas Principal, fato que dificulta em muito o

    registro de ttulos nobilirquicos concedidos durante o

    Primeiro Reinado sob Dom Pedro I. Lus Aleixo

    Boulanger, seu sucessor, buscou reaver parte dessa

    documentao, produzindo um nico livro com parte da

    primeira gerao da nobreza brasileira.

    No total, ao longo dos dois reinados, foram criados 1211

    ttulos de nobreza: 3 ducados, 47 marquesados, 51

    condados, 235 viscondados e 875 baronatos. O nmero

    total de agraciados, contudo, foi menor com cerca de 980

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    82

    pessoas, pois muitos receberam mais de um ttulo. Esses

    nmeros no so totalmente precisos, pois h dvidas

    sobre a validade e mesmo a existncia de alguns ttulos.

    Muito dessa dvida se deve perda

    A perseguio dos judeus

    na pennsula Ibrica

    ntes de listar os sobrenomes que os judeus

    adotaram, importante esclarecer o que so os

    Cristos-Novos e porque muitos foram

    perseguidos e at mortos na Inquisio catlica

    portuguesa e espanhola.

    A

  • Claudio Campacci

    83

    Num perodo em que o poder papal e religioso catlico

    confundia-se com o poder real, o Papa Gregrio IX, em 20

    de abril de 1233 editou duas bulas que marcam o incio da

    Inquisio, instituio da Igreja Catlica Romana que

    perseguiu, torturou e matou vrios de seus inimigos, ou

    quem ela entendesse como inimigo, acusando-os de

    hereges, por vrios sculos. A bula "Licet ad

    capiendos", a qual verdadeiramente marca o incio da

    Inquisio, era dirigida aos inquisidores, e era do seguinte

    teor:

    "Onde quer que os ocorra pregar, vs estais facultados,

    se os pecadores persistem em defender a heresia apesar

    das advertncias, a privar-los para sempre de seus

    benefcios espirituais e proceder contra eles e todos os

    outros, sem apelao, solicitando em caso necessrio a

    ajuda das autoridades seculares e vencendo sua

    oposio, se isto for necessrio, por meio de censuras

    eclesisticas inapelveis"

    No mesmo ano, foi nomeado inquisidor da regio de

    "Pays de la Loire", Robert el Bougre, que com saques e

    execues em massa, logo aps dois anos foi promovido

    a responsvel pela inquisio em toda a Frana. Em

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    84

    1252, o Papa Inocncio IV editou a bula "Ad extirpanda",

    a qual instituiu o Tribunal da Inquisio e autorizava o uso

    da tortura. O poder secular era obrigado a contribuir com

    a atividade do tribunal da igreja.

    Nos processos da inquisio a denncia era prova de

    culpabilidade, cabendo ao acusado a prova de sua

    inocncia. O acusado era mantido incomunicvel;

    ningum, a no serem os agentes da Inquisio, tinha

    permisso de falar com ele; nenhum parente podia visit-

    lo. Geralmente ficava acorrentado. O acusado era o

    responsvel pelo custeio de sua priso. O julgamento era

    secreto e particular, e o acusado tinha de jurar nunca

    revelar qualquer fato a respeito dele no caso de ser solto.

    Nenhuma testemunha era apresentada contra ele,

    nenhuma lhe era nomeada; os inquisidores afirmavam

    que tal procedimento era necessrio para proteger seus

    informantes. A tortura s era aplicada depois que uma

    maioria do tribunal a votava sob pretexto de que o crime

    tornara-se provvel, embora no certo, pelas provas.

    Muitas vezes a tortura era decretada e adiada na

    esperana de que o medo levasse confisso. A

    confisso podia dar direito a uma penalidade mais leve e

  • Claudio Campacci

    85

    se fosse condenado morte apesar de confesso, o

    sentenciado podia "beneficiar-se" com a absolvio de um

    padre para salv-lo do inferno.

    A tortura tambm podia ser aplicada para que o acusado

    indicasse nomes de companheiros de heresia. As

    testemunhas que se contradiziam podiam ser torturadas

    para descobrir qual delas estava dizendo a verdade. No

    havia limites de idade para a tortura, meninas de 13 anos

    e mulheres de 80 anos eram sujeitas tortura. As penas

    impostas pela inquisio iam desde simples censuras

    (leves ou humilhantes), passando pela recluso carcerria

    (temporria ou perptua) e trabalhos forados nas

    galeras, at a excomunho do preso para que fosse

    entregue s autoridades seculares e levado fogueira.

    Castigos esses normalmente acompanhados de

    flagelao do condenado e confiscao de seus bens em

    favor da igreja. Podia haver privao de herana at da

    terceira gerao de descendentes do condenado.

    Obrigao de participar de cruzadas tambm foi pena

    durante o sculo XIII. Na priso perptua, considerada um

    gesto de misericrdia, o condenado sobrevivia a po e

    gua e ficava incomunicvel. Nem o processo nem a pena

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    86

    suspendiam-se com a morte, pois a inquisio mandava

    "queimar os restos mortais do herege e levar as cinzas ao

    vento", confiscando as propriedades dos herdeiros. Havia

    tambm, muito comum na inquisio portuguesa e na

    espanhola, a execuo em efgie, onde era queimada a

    imagem do condenado, quando este fugia e no era

    encontrado. Livros tambm eram levados fogueira.

    Entre esses inimigos os judeus eram o principal alvo.

    At fins do sculo XV os judeus portugueses viveram em

    relativa paz social, apesar de vrios perodos de comoo

    onde a minoria judaica pde sentir o peso da opresso da

    Igreja Catlica. Foi no perodo entre 1450 e 1480 que

    houve maior estabilidade comunitria, quando ento

    alcanaram significativas projees no reino portugus,

    como ministro de Estado, mdicos, advogados,

    procuradores, mercadores, financistas, intelectuais e

    gegrafos. Aps esta fase, comeam os trs sculos de

    grandes perseguies e sofrimentos que os conduziram a

    trs diferentes caminhos: manter-se no judasmo e assim

    serem condenados pela Inquisio, muitas vezes a pena

    de morte numa fogueira, fugirem para estados mais

    liberais como os Pases Baixos e Inglaterra ou que a

  • Claudio Campacci

    87

    maioria optou em se converterem como Cristos-Novos,

    isto , serem batizados como novos Catlicos.

    Aps 1480 as relaes judaico-crists deterioram-se

    rapidamente, agravadas pela chegada de

    aproximadamente 60.000 fugitivos judeus perseguidos

    pela Inquisio espanhola e expulsos da Espanha em

    31.03.1492 pelos Reis Fernando e Isabel, pelo fato de se

    converterem ao catolicismo

    Dom Joo II (imagem), influenciado por judeus

    importantes na Corte,

    acolhe-os, mas impe-lhes o

    pagamento de oito ducados

    de ouro, quantia deveras

    elevada para a poca, para

    permanecerem em terras

    lusitanas (os que no

    podiam pagar este valor

    viam metade dos seus bens

    confiscados para a Coroa). Pretendia-se a fixao de

    operrios especializados, que faltavam em Portugal.

    Falecido Dom Joo II, sucede-lhe seu filho Dom Manuel I,

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    88

    monarca que se revelou tolerante para com os judeus que

    no podiam pagar. Em Portugal a situao se agrava com

    o contrato de casamento entre Dom Manuel I e Isabel,

    princesa espanhola filha dos reis catlicos. A influncia do

    inquisidor geral Torquemada, orientador espiritual da

    princesa, determina a obrigatoriedade da clusula de

    expulso dos judeus de Portugal, como j o eram na

    Espanha.

    Neste perodo, algumas leis portuguesas, apesar de

    discrimin-los. Objetivavam assimilar esta parte do povo;

    o filho de judeu que se convertesse ao catolicismo tinha

    desde logo o direito de receber sua parte da herana,

    supondo-se falecidos os pais, para este efeito. Era

    proibido ao judeu deserdar seu filho por mudanas de

    crena.

    Em 1496, no Ms de dezembro, estando Dom Manuel I

    em Muge, expediu-se o dito de expulso dos judeus,

    dando-se o prazo de 10 meses, sob pena de morte e

    confisco de todos os seus bens, para a sada definitiva do

    pas. Este dito obrigou os judeus a vender suas

  • Claudio Campacci

    89

    propriedades e negcios muito abaixo do preo de

    mercado e muitos casos nem receberam o valor pedido.

    Por determinao real, todos os portos portugueses,

    exceto o de Lisboa, foram fechados para a emigrao

    judaica. A secreta deciso oficial de no deix-los partir,

    mesmos expulsos, e a no existncia de navios

    disponveis e mantimentos necessrios s viagens

    ocasionou grande concentrao de hebreus nesta praa.

    Em abril de 1497, expediram-se ordens para que se

    tomassem os filhos menores de quatorze anos dos judeus

    que, converso ao catolicismo, houvessem optado pelo

    desterro. E que as crianas judias fossem distribudas

    pelas cidades e aldeias, para que se criassem e se

    educassem no seio de famlias catlicas.

    Quando a notcia deste decreto transpirou entre o povo

    banido, o terror grassou por todos os pontos do pas.

    Gritos de mes, de cujos braos arrancavam os filhos;

    gemidos e desespero de pas e irmos; reaes e lutas

    dos mais fortes e audaciosos; lgrimas e inteis splicas

    dos mais fracos e tmidos convertiam o reino portugus no

    cenrio de um drama diablico. Muitos pais, no delrio da

    resistncia, preferiam matar os filhos e, logo aps,

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    90

    suicidar-se a entreg-los aos oficiais do rei. No decurso

    desta perseguio, os judeus conheceram a dura sorte

    que os esperava. Queriam compeli-los a qualquer custo,

    aceitao do batismo catlico.

    Em outubro de 1497, aglomeravam-se em Lisboa, mais

    de vinte mil judeus, quando ento se celebrou a mais

    desumana manifestao de opresso e violncia. Uma

    macabra festa onde a comunidade portuguesa,

    encabeada por padres e protegida por oficiais rgios,

    caiu sobre homens, mulheres e velhos judeus e, depois

    de batizar violentamente os jovens judeus, passaram a

    batizar adultos e velhos. Os que resistiam eram

    golpeados e arrastados pelos cabelos pia batismal.

    Oprimidos, humilhados, expulsos, espoliados, violentados,

    sem direito a qualquer justia terrestre, alquebrados pela

    fome, pelos maus tratos, com suas mentes j no limites

    da loucura, suas almas despedaadas, postos entre a

    possibilidade da morte a que a lei os condenava se no

    sassem de Portugal e os obstculos levantados pelo

    legislador para que sua sada do pas se tornasse

    impossvel, estes infelizes curvavam a cabea e

    submeteram-se ao batismo catlico.

  • Claudio Campacci

    91

    O sacrifcio estava consumado. Os batizados, agora no

    mais judeus e sim cristos novos, continuaram expostos

    malevolncia popular que no tardaria a acus-los da

    criminosa atitude de voltar, no segredo de seus lares,

    prtica do Judasmo. Tal clima desencadeou em 15 de

    abril de 1506, o morticnio de milhares de judeus no

    pogrom de Lisboa. No Domingo seguinte, ao meio-dia,

    celebrados os ofcios examinavam o povo a suposta

    Maravilha, isto , o aparecimento de uma estranha luz,

    contra cuja autenticidade recrescia suspeita no esprito de

    muitos espectadores. Achavam-se entre estes um cristo-

    novo, ao qual escaparam da boca manifestaes

    imprudentes de incredulidade acerca do milagre. A

    indignao dos crentes, excitadas, provavelmente pelos

    autores da burla, comunicou-se multido. O miservel

    blasfemador arrastado para o adro, assassinado e

    queimado o seu cadver. Seguiu-se um longo drama de

    anarquia. Os cristos-novos que andavam pelas ruas,

    desprevenidos, eram mortos ou feridos, e arrastados para

    as fogueiras que rapidamente se tinham armado, tanto no

    Rossio como nas Ribeiras do Tejo. Nesta praa foram

    queimadas, nesta tarde, cerca de trezentas pessoas.

  • A Herldica Descubra suas razes medievais

    92

    Alguns, porm, ao longo de todas as perseguies,

    conseguem fugir e assim, judeus portugueses fundam, em

    1593, as primeiras comunidades de Amsterdam, nos

    Pases-Baixos.

    Gaspar de Lemos, o judeu, tambm conhecido como

    Gaspar da Gama (por ter

    sido adotado por Vasco da

    Gama, nas ndias) ou

    Gaspar das ndias, capito-

    mor de Pedro lvares

    Cabral, do navio que levava

    os mantimentos da

    expedio que descobriu o

    Brasil em 1500, era

    homem que