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INTERNATIONALI NEGOTIA DIRETORIA ACADÊMICA ÁREA HISTÓRICA GABRIEL RIBEIRO COUTINHO MOREIRA A GUERRA DA COREIA TEATRO DE OPERAÇÕES COREANO MODELO INTERNACIONAL DO BRASIL BRASÍLIA - DF 2017

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INTERNATIONALI NEGOTIA

DIRETORIA ACADÊMICA

ÁREA HISTÓRICA

GABRIEL RIBEIRO COUTINHO MOREIRA

A GUERRA DA COREIA

TEATRO DE OPERAÇÕES COREANO

MODELO INTERNACIONAL DO BRASIL

BRASÍLIA - DF

2017

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GABRIEL RIBEIRO COUTINHO MOREIRA

A GUERRA DA COREIA

TEATRO DE OPERAÇÕES COREANO

BRASÍLIA - DF

2017

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A Isabela Albuquerque, cujo amor e

sensibilidade são indeléveis a um mundo

perdido e inebriado em conflitos.

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CARTA DO SECRETARIADO

Prezados delegados,

Durante as sessões desta Conferência, os senhores deixarão de lado a realidade plácida

dos comitês de paz e negociação capitaneados pela diplomacia para serem submetidos à rotina

e às dificuldades de Comandantes Militares. Estarão adentrando a realidade dos sentimentos,

tensões e desafios que revolucionários, generais e líderes civis enfrentaram em momentos de

calamidade moral.

A Guerra da Coreia foi o primeiro embate internacional de grandes escalas

engendrado após a Segunda Guerra Mundial. Ela marcou o início de uma série de conflitos

políticos e ideológicos que permearam o século XX e que fizeram parte da disputa bipolar

pela hegemonia mundial.

Nesse sentido, desafio-os a fazer valer essa experiência única! Estudem pelo guia,

filmes ou por artigos e publicações que mostrem, mesmo que de forma geral, parte da

realidade da missão que se põe ao alcance dos senhores. Assumam seus papéis e engajem-se

na luta! Tomem as decisões que vários em seus lugares não tiveram a coragem (talvez mesmo

a capacidade) de tomar e enfrentem com obstinação os desafios que se opõem contra todos no

ano de 1950! O mundo olha para vocês agora! Alea jacta est!

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“Conquistaremos porque precisamos conquistar!”

(General Gerbhard Von Blücher, comandante

das forças prussianas em Waterloo.)

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RESUMO

Este artigo visa estruturar uma análise concisa sobre o estopim e o cenário da Guerra

da Coreia, com recorte temporal definido entre o dia 25 de junho e 30 julho de 1950. Para

execução de tal estudo, são utilizadas as resoluções do Conselho de Segurança das Nações

Unidas, assim como bibliografia historiográfica que trata do conflito e seus antecedentes. O

artigo analisa acontecimentos que antecedem o conflito referido, contextualizando-o no

recorte temático-temporal delimitado e guardando ressalvas quanto à divisão territorial do

paralelo 38, o término da Segunda Guerra Mundial e a conceituação e desencadear da Guerra

Fria. Por fim, buscar-se-á na análise a pontuação dos movimentos militares para construção

do teatro de operações.

Palavras Chave: Guerra da Coreia, resoluções do Conselho de Segurança, Paralelo 38,

Segunda Guerra Mundial, Guerra Fria e teatro de operações.

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ABSTRACT

This article aims at structuring a concise analysis of the fuse and scenario of the

Korean War, with a definite time cut between June 25 and July 30, 1950. In order to carry out

such a study, the resolutions of the United Nations Security Council United as well as a

historiographical bibliography on the conflict and its antecedents. This article will analyze

events that precede the above mentioned conflict, contextualizing it in the delimited thematic-

temporal clipping and keeping in mind the territorial division of the 38th parallel. Of World

War II and the conceptualization and unleashing of the Cold War. Finally, the analysis of the

score of the military movements for the construction of theater of operations will be sought in

the analysis.

Keywords: Korean War, Security Council resolutions, Parallel 38, World War II, Cold

War and theater of operations.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 8

2 ANTECEDENTES ...................................................................................................... 9

2.1 Império Coreano, subjugação japonesa e pós- Segunda Guerra Mundial ............ 9

2.2 Reflexões Historiográficas .................................................................................. 11

2.3 Guerra Fria .......................................................................................................... 12

3 TEATRO DE OPERAÇÕES COREANO ................................................................. 17

CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 20

REFERÊNCIAS............................................................................................................ 21

APÊNDICE I - POSICIONAMENTO DE BLOCOS .................................................. 23

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1 INTRODUÇÃO

A Guerra da Coreia é tida como um fenômeno consequente ao processo de

descolonização e de bipolarização do cenário político internacional durante o pós-Segunda

Guerra Mundial. Trata-se de um dos conflitos originados de antagonismos internos de alguma

forma influenciados pela pressão de interesses estrangeiros divergentes, que tanto

caracterizaram a segunda metade do século XX (HOBSBAWM, 1995). O caráter especial

deste embate travado na Península Coreana se dá pelo fato de ter sido o primeiro do gênero

em meio à crescente bipolaridade observado no sudeste asiático.

Para melhor entendimento do eixo temático aqui delimitado e suas implicações, é de

extrema importância compreender o papel que a Guerra da Coreia exerceu na reconfiguração

da política internacional, assim como na remodelação das próprias estratégias de execução

dos conflitos. A contextualização de acontecimentos históricos como esse e suas implicações

tornam mais claro e coeso o entendimento de políticas nacionais e internacionais adotadas até

mesmo na atualidade.

Nesse sentido, a primeira parte do trabalho se ocupará em apontar e esclarecer os

principais acontecimentos que culminaram na construção do panorama ideológico e político-

militar em que se configurou o início das hostilidades entre o norte e o sul da Coreia. Serão

ressalvados, nesta etapa, os antecedentes da divisão territorial entre zonas de influência

estadunidense e soviética e as consequências da deflagração da Guerra na Península Coreana,

tal como seu lugar de destaque no desenrolar da Guerra Fria e no desencadear dos eventos que

viriam a compor o "pequeno século XX" (HOBSBAWM, 1995).

Em seguida, este guia tratará do panorama militar em que se inseriu a Guerra das

Coreias com intuito de destinar sentido às políticas adotadas de modo que seja construído o

Quadro de Movimentações militares até o dia 7 de julho de 1950. Fazendo tal explanação, o

contexto de atuação dos comandantes militares possibilitará ao leitor um melhor entendimento

sobre as estratégias traçadas pelos encarregados dos combates na região.

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2 ANTECEDENTES

2.1 Império Coreano, subjugação japonesa e pós- Segunda Guerra Mundial

A história da Península Coreana, mesmo antes da Guerra Fria, foi marcada por

enfrentamentos internos entre lideranças políticas peninsulares e pela disputa entre nações

estrangeiras pela hegemonia territorial. Durante séculos, a Coreia esteve inclusa na esfera de

influência chinesa, até que a anexação direta ao Império Chinês foi executada no ano de 1637.

Somente em meados do ano de 1895 – após a Primeira Guerra Sino-Japonesa – que os

coreanos, já altamente influenciados pela cultura e religiosidade chinesas (PRATT, 1999),

tornariam-se politicamente independentes.

Tendo o Império Coreano surgido em fins do século XIX, a estabilidade e a

perpetuação política do novo estado estavam ameaçadas. A corrida imperialista – que tão bem

configurou a condução das políticas governamentais dos estados beligerantes de fins do

século (HOBSBAWM, 2016), sobretudo europeus – submeteu o nascente governo imperial ao

antagonismo dos interesses comerciais e marítimos do Império Russo em oposição aos do

expansionismo territorial do Império Japonês.

Sendo forçado a conceder parte dos territórios anexados após a Primeira Guerra Sino-

Japonesa (a Península de Liaodong) aos russos, o governo japonês manteve-se atento à

expansão russa no Extremo Oriente. O intervencionismo nipônico em oposição ao

imperialismo russo veio no ano de 1904, com o ataque marítimo à esquadra imperial aportada

em Port Arthur, marcando o início da Guerra Russo-Japonesa 1– que viria, após seu término, a

consolidar a hegemonia japonesa no Pacífico (KISSINGER, 2011).

Uma das consequências diretas da vitória japonesa na guerra pode ser observada na

transformação do Império Coreano em um protetorado nipônico, em 1905, marcando o início

de um processo de anexação japonês que viria a ser concluído com a ocupação militar do

território em 1910, marcando assim o fim da Coreia como Estado Soberano. Não tendo

adversários continentais em condições políticas e industriais de se oporem ao Japão, o

governo imperial japonês instaurou uma política expansionista na Oceania e Sudeste Asiático

que só veio a ser efetivamente contestada em meados do ano de 1942 (JORDAN, 2012).

1 A Guerra Russo-Japonesa juntamente das Três Guerras Sino-Japonesas foram alguns dos conflitos

travados no sudeste asiático visando à hegemonia sobre a região. Tais embates foram consequências diretas da

Corrida Imperialista que o mundo assistiu em fins do século XIX (HOBSBAWM, 2016).

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Observam-se ainda durante a Segunda Guerra Mundial os principais antecedentes da

Guerra da Coreia. Foi em 1943, durante a Conferência do Cairo2, que os três maiores

adversários do Japão no período (Reino Unido, Estados Unidos e China) fizeram-se

representar e afirmaram, em meio aos pontos elucidados na Declaração do Cairo, que “a

Coreia se tornaria livre e independente após a guerra” .

Essa decisão foi referendada e deliberada também na Conferência de Yalta, em que na

delimitação das Zonas de Influência - áreas de interesses geopolíticos nacionais - dos aliados

vitoriosos da Segunda Guerra Mundial parte da Península Coreana passaria para a órbita

soviética, em detrimento da entrada da URSS no combate contra o Japão

As decisões tomadas pelos países vitoriosos nas Conferências que permearam o fim da

Segunda Guerra Mundial foram vitais para a reconfiguração da política internacional, tendo

consequências diretas nos variados acontecimentos que viriam a integrar e a conceituar a

Guerra Fria.

A própria execução da invasão da Coreia por forças soviéticas, em 1945, pelo norte da

Península, à medida que a investida militar estadunidense irrompia pelo sul objetivando a

expulsão dos japoneses, acabou por contribuir diretamente para a delimitação das Zonas de

Influência. Temendo uma violação soviética das diretrizes territoriais estabelecidas pelas

Conferências de Yalta e Potsdam, as forças militares norte-americanas asseguraram a

ocupação efetiva da capital coreana de Seul e a manutenção de uma linha de defesa que

assegurasse dois portos na Península, além de um território por onde fosse possível infringir

uma resposta militar rápida às eventuais ameaças do Exército Vermelho.

Tal linha de contingência foi traçada sobre o Paralelo 383, sendo este o palco central

das disputas políticas e militares que configuraram o Teatro de Operações Coreano em 1950 e

que se estende até a atualidade. A URSS acabou por ser permissiva com a divisão instaurada

pelo governo estadunidense devido ao fato de não querer ameaçar seu projeto de anexação

territorial no Leste Europeu, sobretudo no caso dos países Bálticos e da Polônia, territórios

estes assegurados aos soviéticos na Conferência de Yalta.

Com a rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial (1945), formou-se uma junta

soviético-americana de governança política e militar, sob protestos do povo coreano contra a

2 As Conferências do Cairo (1943), de Yalta e de Potsdam (1945) fizeram parte de uma série de

reuniões efetuadas pelos chefes-de-estado aliados visando à adoção de políticas que conduziriam a Guerra e

tratassem de perspectivas para o futuro. Estas reuniões foram vitais para a divisão das Zonas de Influência e a

reformulação da Ordem Internacional pós-Segunda Guerra Mundial. 3 O Paralelo 38 é uma delimitação geográfica e cartográfica que foi adotada por soviéticos e

estadunidenses como marco de delimitação fronteiriça entre os territórios coreanos submetidos às respectivas

influências.

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administração estrangeira do território. Em 1949, foi concluído o processo de formação

governamental dos estados estruturados sob a influência dos EUA e da URSS e foram

retiradas as tropas ocupacionais de ambos os países. Desta feita, a Coreia estava novamente

governamentalmente independente, mas territorialmente dividida e politicamente

fragmentada.

No norte, liderada pelo Partido Comunista de Kim Il-Sung, surgia a República

Democrática Popular da Coreia. E no sul, a República da Coreia, tendo como presidente

Syghman Rhee. Imbuídos de notável caráter nacionalista, ambos os governantes divididos

pelo paralelo 38 visavam à reunificação das Coreias por meio de perspectivas diferenciadas

atreladas aos seus respectivos sistemas de governo, fazendo da fronteira entre ambos os países

uma delimitação cada vez mais frágil e militarmente instável.

O alinhamento político que essas nascentes governanças adotavam tanto quanto à

manutenção de relações exteriores amistosas e colaboracionistas com seus antigos ocupantes

acabou por formar alianças que seriam fundamentais para o estopim das hostilidades. Essa

coalizão internacional baseada em fatores político-econômicos e ideológicos que delineava de

forma cada vez mais evidente a bipolaridade entre ambas as Coreias e seus aliados

evidenciava na comunidade internacional uma realidade de ameaça, de insegurança e de

tensão entre as nações diferente daquela vivenciada no período entre guerras mundiais.

Deste modo, o papel que a Guerra da Coreia exerce na reconfiguração internacional no

pós-2ª Guerra Mundial tem condição sine qua non. Ela não é somente resultada de uma

imbricada cadeia de acontecimentos correlatos e movimentações políticas como também em

suas particularidades apresenta o diferencial que os agentes da última conflagração mundial

acabaram construindo e de maneiras distintas fomentando o enfrentamento indireto - meio

pertinente de se fazer valer as intenções políticas e militares em meio a um medo concebível

de um enfrentamento nuclear. A Guerra das Coreias inicia um “período” indispensável a

qualquer conjectura que venha a ser traçada sobre o século XX: a Guerra Fria.

2.2 Reflexões Historiográficas

Antes de se iniciar a explanação sobre a referida temática, cabe aqui refletir sobre um

ponto vital para a formação deste trabalho: o período histórico. Ressalta-se que a História não

é uma mera "ciência sobre o passado" e que o ofício histórico não é estático, resumido pelo

pontual estudo de acontecimentos delineados cronologicamente (BLOCH, 2001). Cada

assunto abordado, cada fonte reunida e estudada e cada recorte temporal estabelecido

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subentendem um conjunto de razões e ações inseparáveis do historiador e do tempo histórico

em que se insere.

O agente histórico, neste sentido, ao mesmo tempo em que faz a História, a todo o

momento, direta e indiretamente, é influenciado por ela (KOSELLECK, 2015). Observa-se

essa influência na própria delimitação temporal e temática que o historiador deve instituir para

construção de sua pesquisa. A tal recorte, base do fazer historiográfico, nomeia-se período

histórico (LE GOFF, 2014).

Ademais, cabe ressaltar que nenhum evento para a historiografia é isolado da

temporalidade histórica em que se insere. A perspectiva da longa duração de Braudel (1969)

aborda a escrita da história a partir da concepção de que os acontecimentos são originados de

uma interligação de contextos distintos, e que a escrita historiográfica deve analisar a

temática proposta fazendo uma análise contextual das conjunturas que a circundam.

Assim sendo, conceitua-se aqui a Guerra Fria como um período histórico em que se

abrange os acontecimentos políticos configurados desde as Conferências de Yalta e Potsdam

(1945) até a Queda da União Soviética (1991). Configura-se tal delimitação como uma

realidade abrangente, imbuída dos seus próprios valores e significados que podem ser

observados com maior ou menor facilidade em eventos incluídos no período, como a Guerra

da Coreia.

2.3 Guerra Fria

Nesse sentido, a história desse período histórico foi reunida sob um padrão

internacional peculiar: o embate indireto entre as superpotências (URSS e EUA) que

emergiram vitoriosas da Segunda Guerra Mundial (HOBSBAWM, 2008). Tal peculiaridade

identifica-se na seguinte citação:

Os Estados Unidos e a União Soviética terminaram a Segunda Guerra Mundial

como aliados. Sua atuação conjunta contra o eixo foi decisiva para livrar a Europa

da presença nazista. Rapidamente, entretanto, as relações entre ambos se

deterioraram de tal forma que, após 1947, os especialistas começaram a falar em

Guerra Fria, ou seja, um confronto indireto entre as superpotências (VICENTINO,

DORIGO, 2010, p. 692).

Divergindo de forma incisiva de seus então aliados estadunidenses ainda durante as

Conferências de Paz, o contato com os soviéticos apresentou dificuldades diplomáticas cujas

razões foram inicialmente interpretadas como desinteresse por parte do premiê soviético

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Joseph Stálin, mas que se evidenciariam na intransigência da URSS em aceitar compactuar

com adversários em potencial, mais preocupados com a formação de valores que na verdade

obscureceriam suas verdadeiras intenções por trás de uma política supostamente pacifista

(KISSINGER, 2011). Nesse sentido, os Estados Unidos viam seus interesses em remodelar a

nova ordem mundial ameaçados ao mesmo tempo que se deparavam com a necessidade de

implementar um plano que lidasse com a política soviética, desconfiada e reservada quanto às

verdadeiras intenções ocidentais (PECEQUILO, 2003).

O início da Guerra Fria deu-se a partir da conscientização de ambos os lados de que

suas visões para o novo ordenamento mundial eram completamente opostas. Partindo de uma

percepção estadunidense, as origens da Guerra Fria podem ser observadas no temor dos

tomadores de decisão norte-americanos de que o capitalismo e o liberalismo mundiais

estivessem ameaçados pela situação de fragilidade financeira e estrutural em que se

enquadrava a comunidade internacional após o conflito mundial (HOBSBAWM, 1995). Essa

interpretação refletia a preocupação dos planejadores estadunidenses que esperavam enfrentar

uma nova Grande Depressão no pós-guerra, devido ao fato de que a Europa se encontrava em

ruínas e os antigos expoentes do capitalismo mundial (Reino Unido, França e até mesmo

Alemanha) esforçavam-se para lidar com as reconstruções de seus estados, além das

ingerências de suas antigas posses coloniais.

Em se tratando da União Soviética, a preocupação e os esforços governamentais

estavam apontados para o sentido inverso: os Estados Unidos da América teriam saído

fortalecidos da 2a Guerra Mundial e a condição estratégica em que se inseriram levaria à

destruição da URSS (HOBSBAWM, 1995). A guerra foi especialmente onerosa aos

soviéticos em termos econômicos e sociais por terem sido forçados a lidar com o grosso das

forças nazistas durante os anos após a Operação Barbarossa4. Cerca de 9 dos 12 milhões de

militares do Exército Vermelho tiveram de ser desmobilizados logo após a Guerra para que a

URSS retomasse o crescimento econômico e social. Neste sentido, a principal ambição

externa dos líderes soviéticos esteve voltada para a salvaguarda de suas extensões fronteiriças

e da afirmação da União Soviética como líder do comunismo mundial (HOBSBAWM, 1995).

Após a delimitação das Zonas de Influência nas Conferências de Paz do pós-Guerra

Mundial, União Soviética e Estados Unidos da América assumiram papéis de liderança

avessos que nortearam toda a Guerra Fria. Guardando desconfianças dos Ocidentais desde a

4 Plano de invasão nazista ao território soviético executado no ano de 1941. JORDAN, David, História

da Segunda Guerra Mundial, Mr.Books, Rio de Janeiro, 2012.

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invasão alemã em 1941, as medidas políticas adotadas pelos soviéticos durante o governo de

Stálin foram orientadas para a manutenção da integridade territorial da URSS e a formação de

estados tampão - países criados ou mantidos por forças externas em regiões próximas à

fronteira - que orbitassem na esfera de influência soviética. Esta empreitada de reconstrução e

manutenção política do país se deu por meio da ocupação militar e de programas de

reparações de guerra (SARAIVA, 2008).

Foi justamente em contraposição às políticas soviéticas que foi guiado o

posicionamento externo estadunidense durante a primeira década que sucedeu a Segunda

Guerra Mundial. As medidas adotadas pela URSS foram interpretadas pelos tomadores de

decisão norte-americanos como um projeto expansionista que poderia questionar a

superioridade dos Estados Unidos da América no Ocidente (SARAIVA, 2008). Sendo assim,

a política internacional dos EUA durante este primeiro momento da Guerra Fria evidenciava-

se na Doutrina Truman, fundamentada na frase do então presidente norte-americano:

No presente momento da história mundial quase toda nação precisa escolher entre

modos alternativos de vida. Frequentemente, a escolha não é livre. O primeiro modo

de vida é baseado na vontade da maioria, e se distingue pelas instituições livres,

governo representativo, eleições livres, garantia da liberdade individual, liberdade de

discurso e religião e a liberdade da opressão política. O segundo modo de vida é

baseado na vontade forçosamente imposta de uma minoria sobre a maioria. Ele

reside no terror e na opressão! Creio que a política dos Estados Unidos deve ser a de

apoiar os povos livres que resistem às tentativas de subjugação por minorias

armadas ou por pressões de fora (HOBSBAWM, ERIC, 1995, p. 226).

Depreende-se dessas palavras o compromisso expresso dos Estados Unidos em se

prontificar a contrapor o regime soviético e a de proteger o liberalismo internacional. Com o

risco cada vez maior do irromper de revoluções sociais nos países arruinados pelas

consequências da guerra, quase sempre associadas pelos norte-americanos como insurgências

comunistas fomentadas pelos soviéticos, a formação de quadros de conflitos com intervenção

direta das forças estadunidenses formava-se no imaginário dos estadistas norte-americanos

como algo possível, senão muito provável.

Todavia, apesar da retórica apocalíptica e da afirmativa presidencial, as medidas

governamentais tinham, de alguma maneira e em algum momento, de passar pelo aval da

opinião pública da sociedade norte-americana, sumariamente contrária a qualquer outra

intervenção militar externa (KISSINGER, 2011). Desse embate entre interesses

governamentais e sociedade, o posicionamento externo estadunidense acabou sendo guiado

pela análise política de George Kennan - diplomata norte-americano especializado na história

da Rússia - sobre a URSS, em que o socialismo seria derrotado por conta de suas contradições

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internas e que caberia aos Estados Unidos da América minar e impedir o expansionismo

soviético até sua profética ruína. Desta realidade, a Doutrina Truman incorporou a política de

contenção, que seria o pilar fundamental do posicionamento externo norte-americano durante

toda a Guerra Fria (PECEQUILO, 2003).

A busca soviética pelo rompimento do monopólio nuclear estadunidense (concretizada

em 1949), o fortalecimento do controle sob a Zona de Influência e a adoção de políticas

visando a sua expansão contrastavam com as ações norte-americanas (PECEQUILO, 2003).

Sendo guiado pelo plano de contenção soviética, os Estados Unidos da América concentraram

seus esforços diplomáticos na formação de coalizões internacionais e na concessão de apoio

financeiro a aliados ou a estados próximos à zona de influência da URSS (KISSINGER,

2011).

Tais políticas formaram as diretrizes pelas quais fizeram-se representar URSS e EUA

na obtenção de espaços políticos, econômicos e ideológicos no enfrentamento pela hegemonia

internacional (SARAIVA, 2008). No lado capitalista, essas políticas eram evidenciadas no

Plano Marshall e na formação da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), ao

passo em que no lado comunista eram observadas a crescente militarização da Europa

Oriental e a criação da aliança militar do Pacto de Varsóvia (SARAIVA, 2008).

Essa proximidade cada vez mais estreita e belicosa entre medidas governamentais

beligerantes e a adoção de diretrizes políticas de contenção de poderes rivais permeou,

sobretudo, o primeiro dos quatro períodos históricos que Paulo Roberto de Almeida (2008)

define para avaliar as etapas da Guerra Fria. Segundo o autor, esse primeiro momento seria a

parte “quente” do período e compreenderia os acontecimentos identificados entre 1947 e

1955, tendo como característica fundamental o acirramento das tensões entre Estados Unidos

e União Soviética.

Encobrindo todo esse crescente antagonismo global durante a década subsequente à 2a

Guerra Mundial estava um medo originado dos momentos finais do conflito: a guerra nuclear

(HOBSBAWN, 1995). A ascensão de Eisenhower à presidência dos Estados Unidos da

América marcou uma adaptação ao plano de contenção adotado pelo então presidente Harry

Truman: o “Novo Olhar”. Devido aos esforços congressistas em diminuir o orçamento militar

norte-americano em fins da década de 50, Eisenhower adicionou à política de contenção uma

postura mais intransigente representada pela ameaça nuclear (KISSINGER, 2011). Sendo o

monopólio nuclear estadunidense rompido ainda na década de 1940 pelos soviéticos, tal

política fomentava a tensão deste primeiro momento da Guerra Fria (ALMEIDA, 2002), dado

exposto na seguinte citação:

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Nenhum estadista americano estava preparado para fazer o tipo de ameaça ou

pressão às quais a psicologia de Stálin teria requerido. Os líderes americanos não

haviam ainda arcado com a realidade de que quanto mais tempo fosse dado a Stálin

para criar estados de um só partido na Europa do Leste, mais difícil se tornaria fazê-

lo mudar de curso. Ao final da guerra, o público americano estava cansado de guerra

e confrontação, e queria acima de tudo trazer os garotos para casa. Não estava

preparado para ameaçar mais intervenções. A unanimidade em resistir a maiores

avanços comunistas era igualada pela unanimidade em não correr mais riscos

militares (KISSINGER, 1994, p. 436)

Assim sendo, o fim da guerra assistiu à deterioração das relações entre ambos os

vitoriosos a partir, sobretudo, de duas razões: o antagonismo político-ideológico e o

nascimento da ordem bipolar. Afetados pelo medo constante de uma guerra nuclear entre

EUA e URSS, nessa relação dificultosa e entre ambos os estados estruturou-se um panorama

político que conduziria a política mundial durante quase meio século (KISSINGER, 2011).

Guiado por uma linearidade de conflitos indiretos que fundamentariam o “Pequeno Século

XX”5 e pelo medo constante de uma deflagração mundial, a Guerra Fria desponta como um

período histórico fundamental para o entendimento da contemporaneidade e dos problemas

que acercam a sociedade internacional e marcam a realidade de políticas nacionais até a

atualidade.

5 “O Pequeno Século XX” é um conceito baseado na ideia de que a humanidade assistiu ao

‘encurtamento do tempo’ durante esse período por conta de suscetíveis guerras e conflitos permeados pelo medo

corrente de um apocalipse nuclear ( HOBSBAWM, 1995).

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3 TEATRO DE OPERAÇÕES COREANO

Inserindo-se a Guerra da Coreia dentro dos vários episódios que compõem a Guerra

Fria, cabe agora retomar a situação de divisão e acirramento político na Península Coreana

para a formação do Teatro de Operações Coreano no ano de 1950. A tensão sobre o Paralelo

38 chegou ao ápice entre as Repúblicas Coreanas e as hostilidades iniciam-se em 25 de junho

de 1950.

Até os dias de hoje, historiadores, políticos e intelectuais divergem quanto ao primeiro

país a iniciar as ofensivas, mas é fato que as forças norte-coreanas atacaram em massa as

posições sul-coreanas ao longo do Paralelo 38. Os planos operacionais dos dirigentes militares

norte-coreanos de unificação da Coreia foram apresentados pelo líder Kim Il-Sung, ainda em

1948, ao premiê soviético Josef Stálin, mas foram inicialmente rejeitados devido à

preocupação soviética de acabar transgredindo a Zona de Influência norte-americana e de

ameaçar suas pretensões no Leste Europeu.

O surgimento da República Popular da China e a adoção de um comunismo

internacionalista por parte dos dirigentes do Partido Comunista Chinês, no entanto,

ameaçavam questionar a proeminência soviética no controle do socialismo internacional. A

política externa de Mao Tsé-Tung estava orientada para o apoio de movimentos

revolucionários e da afirmação do governo chinês como estado soberano.

No caso da Coreia do Norte, o plano de unificação de Kim Il-Sung recebeu positiva

recepção por parte dos comunistas chineses, fazendo com que o governo chinês enviasse ao

comando militar norte-coreano entre 50 e 70 mil combatentes de ascendência coreana que

lutaram pelo Exército de Libertação Popular (ELP) durante a Revolução Chinesa

(KISSINGER, 2011). Munidos dos seus próprios equipamentos, o apoio militar chinês antes

da deflagração do conflito foi fundamental para o planejamento militar norte-coreano, que já

contava com oficiais treinados por militares soviéticos e com vasto equipamento cedido

durante a desocupação soviética da península.

Em 25 de junho, sob o pretexto de retaliação às supostas incursões sul-coreana ao da

região fronteiriça, cerca de 200.000 militares norte-coreanos irrompem pela fronteira em

direção a Seul. Estimadas em 100.000 combatentes espaçados ao longo do paralelo 38, as

tropas sul-coreanas foram forçadas a recuar para o sul da península ante a pressão da ofensiva

norte-coreana. No mesmo dia, o Conselho de Segurança aprovava a resolução 82 (1950),

condenando as hostilidades deflagradas contra a Coreia do Sul.

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O sucesso do ataque das tropas do norte levou o presidente sul-coreano Syngman Rhee

a ordenar, em 27 de junho, a evacuação da capital em direção a Pusan. Em sessão especial do

Conselho de Segurança das Nações Unidas, os Estados Unidos da América conseguem

aprovar a condenação do ataque e o envio de uma força expedicionária em contraposição ao

avanço norte-coreano. Imediatamente à aprovação, o Congresso norte-americano aprova a

declaração de guerra à Coreia do Norte.

Ainda no dia 27 de junho, o presidente Harry Truman autorizou elementos da 7ª Força

Naval a bombardearem alvos inimigos na Península Coreana e a darem suporte às forças

continentais sul-coreanas, muitas destas em debandada ou em posições de resistência às

investidas norte-coreanas. Todavia, altamente influenciadas pela participação dos comunistas

chineses no desencadear dos conflitos, as tropas coreanas adicionaram a guerrilha rural como

uma inovação tenaz nas estratégias militares.

Fugindo às expectativas dos comunistas, a entrada dos EUA surpreendeu a todos os

observadores políticos e militares envolvidos com a Guerra da Coreia. Não se supunha que os

Estados Unidos atuariam de forma tão intervencionista, mesmo que em uma região cooptada

por sua Zona de Influência, dada a política de contenção adotada pelo governo Truman. No

entanto, estudos contemporâneos supõem que a ameaça soviética na Europa e as

transformações políticas observadas na China tornavam impossível a não incidência de

medidas norte-americanas combativas à expansão do comunismo (KISSINGER, 2011).

Todavia, as forças americanas ainda precisaram de tempo para serem efetivamente

organizadas e enquadradas no conflito. Em 28 de junho, tropas norte-coreanas avançam sobre

Seul e tomam de assalto a capital sul-coreana no mesmo dia. Em poucas semanas, o governo

sul-coreano controlaria meramente 10% do seu território original, isolados nas cercanias de

Pusan, no sudeste do país.

Esse panorama estratégico estender-se-ia até o mês de agosto. Até lá, unidades das

Nações Unidas em apoio às forças sul-coreanas lutavam desesperadamente com o intuito de

assegurar a última zona defensiva Aliada na Península Coreana. Com cerca de 200

quilômetros de extensão, o perímetro de Pusan seria a cabeça de ponte pela qual as forças das

Nações Unidas, sobretudo estadunidenses, esforçaram-se para conter e expulsar os norte-

coreanos da Coreia do Sul.

Tendo sido aprovadas no início e fim de julho as resoluções 84 e 85 pelo Conselho de

Segurança da ONU, as forças aliadas, sob a liderança do veterano e herói da 2a Guerra

Mundial, general Douglas MacArthur, preparavam as defesas para um ataque em meados de

agosto que lançaria as principais forças norte-coreanas na tentativa de tomar o porto da região

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de Pusan. O Teatro de Operações Coreano, neste momento, apresenta um quadro de

movimentações decisivas na conquista da hegemonia política coreana.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Avaliando os argumentos descritos anteriormente, entende-se que a Guerra das

Coreias foi fruto de uma intensa transformação política pela qual regiões submetidas ao

controle dos principais combatentes da 2a Guerra Mundial tiveram de passar. O surgimento

da ordem bipolar acabou substituindo o poder dos antes vastos e poderosos impérios,

pressionando os estados abarcados por suas Zonas de Influência a seguirem suas diretrizes

políticas.

A necessidade de se reformar a Ordem Mundial estava ameaçada pelo antagonismo

ideológico e político cada vez mais evidente entre os blocos da União Soviética e dos Estados

Unidos da América. As políticas de contenção instauradas inicialmente pela diplomacia

estadunidense foram postas cada vez mais de lado, à medida que o medo da expansão do

socialismo ou da influência soviética crescia na opinião pública e nas mentalidades políticas

que assumiriam o governo norte-americano.

Em termos militares, o tamanho investimento de capital humano e financeiro poucos

anos após o findar do maior conflito que a humanidade testemunhara até então era espantoso.

As forças militares coreanas adotaram as mesmas políticas de Guerra Total - uso de todas as

condições políticas, econômicas, populacionais e militares como forma de vencer um conflito

- que marcaram tão vivamente os quadros operacionais durante o desenrolar das hostilidades

nos teatros de guerra do Pacífico e da Europa.

O panorama político e militar que se apresentou em meados do mês de agosto de 1950

na Península Coreana sinalizava a clara representação de um contexto que ultrapassava a mera

divisão entre sul e norte-coreanos pautados em regimes política e ideologicamente opostos.

Tratou-se de mais um acontecimento histórico que não esteve isolado de uma cadeia de

eventos e contextos anteriores, mas que se apresentou, mesmo que com suas especificidades,

como o primeiro embate de uma nova ordem que surgia. Portanto, a Guerra da Coreia pode

ser analisada como um evento cujas origens estão nos interesses e tensões originados de uma

realidade maior; de uma disputa que conduziria as relações internacionais por quase meio

século e que até hoje deixa suas marcas na realidade coreana.

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HOBSBAWM, Eric, Era dos Extremos. O breve século XX 1914-1991, 20a edição,

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APÊNDICE I - POSICIONAMENTO DE BLOCOS

Neste comitê, os delegados não representarão países, mas sim personagens – que

possuem cargos e funções diferentes. Apesar disso, é importante notar que todos podem

opinar igualmente acerca de tópicos políticos e militares, e, por mais que as decisões caiba a

pessoas diferentes (e possam ser vetadas pelo presidente), recomenda-se fortemente que os

senhores tomem ação apenas quando houver consenso geral entre o comitê.

Gabinete das forças anticomunistas

Douglas MacArthur

Membro de uma linhagem de oficiais do exército americano e herói da Força

Expedicionária Estadunidense na Primeira Guerra, Douglas MacArthur foi Comandante das

Forças Aliadas no Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial e em 1950 atuava como

governador militar durante a ocupação do Japão.

Despontando-se como um dos quatro únicos generais americanos a receberem cinco

estrelas na patente, foi designado pelo presidente Truman Comandante das forças norte-

americanas na Guerra da Coreia até 1951. Seu papel é auxiliar os presidentes Syngman Rhee

e Harry Truman nas formações.

Clovis E. Beyers

General americano que ganhou destaque na sua atuação na Segunda Guerra Mundial,

ainda no rank de Major, como chefe de gabinete subordinado ao general Eichelberger nas

campanhas da Papua, Nova Guiné e das Filipinas, onde conquistou diversas condecorações.

Após o fim da guerra participou da ocupação do Japão até a aposentadoria de

Eichenberger, retornando aos Estados Unidos e recebendo a patente de general. Em 51,

substitui o Gen. Edward Almond como comandante direto do X (Décimo) corpo do exército

americano, então atuando na Coreia, onde funcionava subordinado ao oitavo exército, porém

gozando de relações especiais mais diretas para com o comando-geral.

Choe Young-hee

Iniciou sua carreira como tenente engenheiro do exército japonês durante a ocupação

da Coreia na Segunda Guerra. Após a guerra, integrou o exército coreano como capitão,

rapidamente subindo pelos escalões do exército. Quando foi deflagrada a Guerra da Coreia,

integrou a primeira divisão, sendo posteriormente colocado no comando da Oitava divisão.

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Ficou conhecido por seu estilo colaborativo de liderança, onde preferia organizar suas

tropas de forma a colocar todo seu poder de fogo em ação simultaneamente do que incentivar

a competição entre as divisões, o que era comum na estratégia militar de então. Além de sua

atuação em ações de neutralização de guerrilhas com baixíssimos efeitos colaterais junto aos

civis. Seu papel no comitê é formar o comando das tropas sul-coreanas e auxiliar o presidente

Syngman na elaboração da estratégia de resistência.

Harry S. Truman

Veterano da Primeira Guerra. Atuou como senador no entre guerras formando a base

de apoio ao governo Roosevelt e as políticas do New Deal. Foi selecionado pelas lideranças

do Partido Democrata para concorrer para vice-presidente no quarto mandato de Roosevelt,

sendo eleito em 1945.

Sua vice-presidência viu um afastamento de Roosevelt, mas isso chegou ao fim com a

morte do presidente em abril de 1945 e sua sucessão por Truman. O seu governo foi marcado

pelo fim da Guerra, o fim do desenvolvimento da bomba atômica e a transição geopolítica do

pós-guerra. Sendo lembrado pela implantação do Plano Marshall e o estabelecimento da

doutrina Truman. No seu segundo mandato chefiou a ação estado-unidense na Guerra da

Coreia. Sua função é chefiar ações militares encabeçadas pelos EUA e formular a estratégia

comum das tropas de apoio a Coreia do Sul.

Syngman Rhee

Proveniente de uma família tradicional coreana, Syngman teve uma ampla carreira

política na Coreia, participando ativamente de movimentos de independência tanto no país

quanto nos EUA e atuando como presidente provisório no período do entre guerras. Depois do

fim da Segunda Guerra, alçou o poder aproveitando a política personalista dos EUA no

período. Chefiou o estabelecimento da coreia como Estado independente e foi seu primeiro

presidente. No início da guerra, o seu governo foi a princípio sobrepujado pelos norte-

coreanos, sendo uma contra ofensiva somente possível após a intervenção autorizada pela

ONU no conflito e o reforço das tropas sul-coreanas pela coalizão internacional. Seu papel

portanto é elaborar em conjunto com a coalizão a estratégia militar para virar a maré da guerra

e conquistar a vitória.

Matthew Ridgway

Com uma prolífica carreira militar no entre guerras e uma atuação como general

durante a Segunda Guerra Mundial como general no comando de unidades de paraquedistas

na campanha da Itália e da Normandia, tendo papel importante na invasão aliada da Alemanha

no fronte ocidental, consolidou sua influência após a guerra servindo como adido militar na

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ONU. Integrou o comando do oitavo exército, mobilizado na Coreia do Sul após a morte do

comandante anterior.

Quando tomou o controle do oitavo exército americano, ele estava em posição de

desvantagem frente ao contra-ataque encabeçado pela entrada chinesa na guerra. Seu objetivo

é coordenar as forças da coalizão junto ao comando dos EUA, ONU e Coreia do Sul para

reorganizar a ofensiva e recuperar a iniciativa sobre o norte.

Clement Attle

Sucedeu a Winston Churchill como primeiro-ministro Britânico após a derrota

dos conservadores para o Partido Trabalhista nas eleições de maio de 1945. Enquanto

Churchill se notabilizou pela condução durante a II Guerra, coube a Attlee levar um Estado

falido pelo esforço de guerra à prosperidade econômica. Foi o grande construtor do Estado

Britânico após o conflito, ao instituir as bases do Estado do bem-estar social no Reino Unido e

liderar o processo de descolonização do Império Britânico.

Foi o articulador do envio de tropas inglesas para compor a coalizão da ONU para a

intervenção na Guerra da Coreia e portanto como comandante do exército britânico deve

elaborar junto às outras partes a política e as linhas de ação da coalizão durante a ação na

Coreia.

Thomas Brodie

Alcançou sucesso na sua participação no Exército britânico durante Segunda Guerra,

comandando batalhões que combateram nas então colônias britânicas, conquistando a patente

de Major do Exército. Durante a guerra da Coreia foi promovido a brigadeiro e comandou

uma brigada de infantaria britânica durante a atuação da coalizão da ONU na Coreia. Seu

objetivo é auxiliar o primeiro-ministro Attle na formulação das linhas de atuação britânicas no

conflito, assim como da coalizão como um todo.

Basil Aubrey Coad

Conhecido oficial do exército britânico, conquistou o comando de diversas divisões

durante a Segunda Guerra, participando ativamente da campanha da Normandia e na invasão

aliada da Alemanha. Comandou uma brigada estacionada em Hong Kong imediatamente após

a Guerra. Um ano após sua chegada na Ásia a deflagração da Guerra da Coreia e a decisão do

governo britânico de enviar tropas para o conflito fez Coad assumir o comando de uma das

brigadas de infantaria envolvidas no conflito. Seu papel é auxiliar a organização da atuação

britânico no conflito junto ao primeiro-ministro Attle.

Kriengkrai Attanantna

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Comandante do vigésimo primeiro regimento de infantaria das forças tailandesas, foi o

responsável por coordenar a participação, feita a pedido da ONU, da Tailândia na Guerra da

Coreia. Seu papel é integrar o comando da coalizão e elaborar de forma conjunta suas

estratégias.

Mark W. Clark

Proveniente de uma família de tradição militar, teve uma ampla participação na

campanha do norte da África e da Itália durante a segunda guerra mundial. Participou da

ocupação aliada na Áustria, onde teve contato diplomático com forças comunistas, e assumiu

em 1952 o posto de comandante supremo das forças da ONU na Coreia. Seu papel é

coordenar as estratégias da coalizão junto a seus líderes e garantir a eficiência das ações

tomadas.

Louis St. Laurent

Primeiro-ministro canadense a partir de 1948, integrou o governo desde a Segunda

Guerra. Como primeiro-ministro supervisionou a expansão do papel internacional do Canadá

na nova ordem geopolítica e teve forte influência no estabelecimento da OTAN. Sob seu

governo, o Canadá contribuiu com o terceiro maior número de tropas para a Guerra da Coreia.

Seu objetivo no comitê é agir como comandante executivo das forças canadenses e definir

suas linhas de atuação junto às outras lideranças da coalizão.

Paik Sun-yup

Primeiro general de quatro estrelas da Coreia do Sul, participou das forças armadas da

Manchúria durante a Segunda Guerra, sendo integrado de volta ao exército coreano após o

fim da Segunda Guerra. Comandou o primeiro regimento de infantaria sul-coreano. Seu papel

é integrar as forças da coalizão e auxiliar o presidente Syngman a elaborar a estratégia sul-

coreana.

Chung Il-kwon

General do exército sul-coreano, foi colocado no comando das forças da Coreia do Sul

como um todo durante a Guerra, responsável por agrupar o exército coreano e organizar suas

ações em colaboração com o comando da ONU.

Walton Walker

Tenente-general americano que serviu nas duas grandes guerras, foi o encarregado da

reação inicial estado-unidense a invasão da Coreia do Sul, comandando o oitavo exército

desde os momentos iniciais do conflito. Seu papel é coordenar com Macarthur e outros líderes

a estratégia geral da coalizão, assim como as forças americanas.

Shin Sung-mo

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Político e militar Sul coreano, teve ampla participação na vida política da península e

na luta pela sua independência. Durante a Guerra da Coreia, atuou como primeiro-ministro e

ministro da defesa do governo sul-coreano. Seu papel é auxiliar o presidente Syngman em

elaborar política e militarmente a estratégia do país durante o conflito.

Son Won-il

Vice-almirante da marinha sul coreana, foi o primeiro chefe de operações navais do

país e é considerado um dos fundadores da marinha. Atuou como chefe do Estado Maior da

marinha durante a guerra. Seu papel é organizar e coordenar a estratégia da marinha sul-

coreana com os demais membros da coalizão, auxiliando o presidente Syngman e seus

colegas.

Dean Rusk

Político, diplomata e burocrata influente no governo americano do pós-guerra,

ingressou no Departamento de Estado em fevereiro de 1945 para trabalhar no escritório de

Assuntos das Nações Unidas. No mesmo ano, sugeriu dividir a península da Coreia numa

esfera de influência soviética e outra americana, pelo paralelo 38. Foi feito secretário de

Estado adjunto para Assuntos do Extremo Oriente em 1950 e desempenhou um papel

influente na decisão dos Estados Unidos se envolverem na Guerra da Coreia. Seu papel é

auxiliar as autoridades estadunidenses e coordenar os esforços da coalizão em sua esfera

política.

Lee Hyung Koon

Major general do exército sul coreano, foi o responsável pelo comando da segunda

divisão do exército sul-coreano. Sua divisão é fundamental na constituição do exército da

Coreia do Sul. Seu papel é auxiliar o presidente Syngman e elaborar em conjunto com a

coalizão a estratégia das forças sul-coreanos no conflito.

David Dwight Eisenhower

General cinco estrelas do exército estado-unidense e político de renome, atuou como

comandante supremo das forças americanas na Europa durante a Segunda Guerra. Serviu

como chefe do Estado maior do exército após a guerra e foi escolhido para ser o primeiro

comandante supremo das forças militares da OTAN durante o período da Guerra da Coreia.

Seu papel nessa função é coordenar a estratégia da OTAN e da coalizão da ONU no conflito

em parceria com os líderes dessas organizações.

Edward Almond

General que iniciou sua carreira de destaque comandando uma divisão na segunda

guerra na campanha da Itália e participando com destaque da ocupação americana do Japão

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após o fim da Guerra. Tendo ganhado a confiança do Gen. Macarthur, foi colocado no

Comando do X (Décimo) corpo de exército, responsável pelo contra-ataque anfíbio inicial as

forças norte-coreanas. Seu papel é articular junto a Mcarthur e os demais membros militares

da coalizão a execução e planejamento das ações durante o conflito.

Oliver P. Smith

Ganhou destaque no front do Pacífico durante a segunda guerra, se firmando como um

especialista em guerra anfíbia e comandando operações dos “marines” na invasão do Japão.

Foi alocado para ser o comandante da primeira divisão dos “marines” na guerra da Coréia,

Seu papel é auxiliar as forças da coalizão na elaboração de suas estratégias e controle de

operações anfíbias.

Omar Bradley

Último general de cinco estrelas do exército estado-unidense, tendo participado

ativamente das campanhas da África e do fronte ocidental na Segunda Guerra, comandou

diretamente três corpos de exército durante esse período. Destacou-se por comandar o maior

contingente de soldados da guerra. Em 1950, é indicado para assumir a presidência do comitê

militar da OTAN. Sendo fundamental na estratégia da organização e do governo dos EUA

durante a guerra, seu papel é cooperar com o presidente Truman e os outros membros para a

criação de uma estratégia efetiva.

Shin Hyun-Jun

General sul-coreano escalado para comandar os fuzileiros navais coreanos durante a

guerra, foi o responsável pela fundação do corpo militar dentro da marinha coreana e agiu

como seu comandante durante sua carreira militar. Seu papel é coordenar as ações anfíbias e

marítimas das forças da coalizão em conjunto com os outros membros, assim como a

estratégia geral da ONU.

Paik In-Yeop

General comandante do décimo sétimo regimento independente do exército sul-

coreano, é um dos principais comandantes das forças da Coreia do Sul durante a guerra. Seu

objetivo é organizar a estratégia sul-coreana em conjunto com o presidente Syngman e a

atuação dessa estratégia dentro da coalizão da ONU.

Arthur Dewey Struble

Almirante americano envolvido na supervisão das operações na Normandia na

Segunda Guerra, atuando também na defesa das Filipinas, foi delegado como comandante da

Sétima Frota no início da Guerra da Coreia, agindo depois como adido naval e militar dos

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EUA na ONU. Seu papel é elaborar as ações militares dos EUA e da coalizão, assim como

seu suporte pelas frotas navais.

George Stratemeyer

Tenente General da Força Aérea Americana durante a Guerra da Coreia, ganhou

reconhecimento por atuar como comandante da força aérea no fronte chinês durante a

Segunda Guerra. Foi alocado após a guerra no comando da Força Aérea do extremo oriente,

fornecendo as tropas na guerra da coreia o apoio aéreo essencial. Seu papel é organizar a

estratégia americano junto a seus outros componentes e elaborar o apoio aéreo às tropas.

Arthur W. Radford

Almirante e aviador naval americano, foi um ilustre oficial das FFAA estado-

unidenses em ambas as Guerras Mundiais, comandando diversas forças tarefas na campanha

do Pacífico. Agiu como uma das figuras-chave na discussão sobre o papel militar dos EUA no

pós-guerra, servindo como comandante da frota do Pacífico. Tinha bastante preocupação com

a questão asiática e agiu para se informar quanto aos problemas sociopolíticos da região

durante o exercício de suas funções, sendo também firme opositor da alternativa de guerra

nuclear.

Na guerra, serviu como comandante direto da sétima frota estado-unidense, sob o

comando direto do Gen. Macarthur. Seu papel é a coordenação das ações da frota com o

objetivo de apoiar e suplantar as ações de infantaria da coalizão, participando da formulação

das estratégias gerais para o conflito.

William B. Kean

General americano, foi chefe de gabinete do Segundo corpo do exército na campanha

da África, e posteriormente do primeiro exército americano na Europa. Foi um dos principais

articuladores da operação Overlord e da invasão da Normandia no dia D. Na Guerra da

Coreia, foi designado como comandante da vigésima quinta divisão de infantaria. Seu papel

no comitê é ajudar na formulação e execução da estratégia da coalizão da ONU para assegurar

a vitória.

Gabinete das forças comunistas

Josef Stalin

Vindo da Geórgia, Stalin esteve altamente envolvido com a tomada do poder

promovida pelos Bolcheviques no contexto da revolução socialista ocorrida em 1917. Suas

primeiras experiências como líder militar ocorreram durante a Guerra Civil Russa (1918-

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1921). Na Segunda Guerra Mundial, Stalin já havia assumido o posto como comandante da

União Soviética e liderou o país no conflito.

Com a intenção de não perder influência imprimida sobre a parte norte da península

coreana após a ocupação na Segunda Guerra Mundial, Stálin ordenou que fossem deixados

equipamentos militares como tanques, caminhões, artilharia e armas, os quais deram uma boa

vantagem ao exército que viria a se formar. Seu papel é ajudar Kim Il-Sung a se portar como

um líder comunista e dar suporte as movimentações das tropas soviéticas.

Kim Il-Sung

O líder norte-coreano tinha um passado de luta anti-imperialista, se interessando pelos

ideais comunistas no final da década de 20. Juntou-se ao Partido Comunista Chinês em 1931 e

fez parte de guerrilhas contra a dominação japonesa na região. Durante a segunda guerra, ele

chegou a obter o posto de major no exército soviético. Ao final da guerra, Kim Il-Sung voltou

a Pyongyang após 26 anos de exílio.

Tendo sido colocado como líder norte coreano com o apoio dos soviéticos, Kim Il-

Sung tratou logo de criar e estabelecer o Exército Popular da Coreia. Equipamentos foram

cedidos pelo Exército Soviético e Kim utilizou-se do conhecimento adquirido nos anos de

guerrilha, além da ajuda de conselheiros soviéticos que treinaram os primeiros generais norte

coreanos. Seu papel é liderar as ações das tropas norte coreanas, coordenando também a

macro movimentação.

Mao Tsé-Tung

O grande líder da República Popular da China começou a se envolver com as questões

revolucionárias ainda muito cedo, na Revolução Xinhai em 1912. Conheceu os ideais

comunistas neste mesmo período e fundou o Partido Comunista da China em 1922. Mao

também criou o exército vermelho chinês, o qual alternou momentos de cooperação e

confronto com o Kuomitang, movimento de direita que governou a China no começo do

século XX.

Mao conseguiu ganhar a guerra civil em 1949 e fundou a República Popular da China.

Seu modo de administração comunista teve uma série de particularidades que o levou a ser

reconhecido como Maoísmo. Seu papel no gabinete é aconselhar o líder coreano de acordo

com sua experiência militar, assim como liderar os movimentos das forças chinesas no

combate.

Nikita Khrushchev

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Khrushchev subiu cada degrau na hierarquia no Partido Comunista Soviético.

Começou sendo eleito para o soviete de sua região e foi ascendendo dentro da parte

bolchevique, não sendo um grande líder político ou um gênio militar, mas um

importantíssimo comissário político.

Durante a Segunda Guerra, Khrushchev foi um importante personagem do exército

vermelho como comissário político, realizando a comunicação entre Stalin e os generais do

Front. Seu papel é aconselhar Stalin sobre o papel das tropas soviéticas, assim como no

gabinete como um todo.

Peng Dehuai

Militar comunista chinês, foi o grande responsável por muitas das vitórias dos

comunistas durante a Guerra Civil Chinesa. Começou sua carreira em patentes muito baixas e

foi subindo postos durante a guerra civil. Durante a guerra Sino-Japonesa, consegui amarrar o

acordo de paz com o Kuomitang e assumiu o comando das operações no noroeste chinês após

1945.

Peng Dehuai tinha um cargo de três estrelas no Exército de Libertação Popular e era

um dos maiores apoiadores a intervenção chinesa dentro da Guerra da Coreia. Seu papel no

gabinete é estar ao lado de Mao Tsé-Tung para incentivar uma maior participação dos

chineses no conflito.

Zhu De

Militar chinês, Zhu De teve uma educação voltada para a formação militar desde cedo.

Durante a guerra civil chinesa, serviu no quarto regimento do Exército Vermelho Chinês e

assumiu o posto de chefe do exército durante a guerra Sino-Japonesa (1939-1945).

Em 1949, Zhu De manteve o posto de comandante do exército, porém agora

renomeado como Exército de Libertação Popular. Seu papel no gabinete é cuidar da parte

logística relacionada a atuação ou não de tropas chinesas, assim como embutir sua experiência

militar na tomada de decisão do gabinete.

Georgi Malenkov

Malenkov foi um político soviético extremamente influente. Começou sua carreira

como voluntário no exército vermelho durante a Guerra Civil Russa. Após a consolidação

bolchevique, Malenkov ficou encarregado da burocracia do Partido Comunista,

principalmente cuidando dos arquivos de associados do partido.

Na segunda guerra, Malenkov era responsável por supervisionar a produção de

aeronaves militares assim como o desenvolvimento de armas nucleares. O papel de Georgi

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Malenkov está relacionado ao auxílio da inteligência de guerra, principalmente o bom uso dos

equipamentos militares.

Kim Chaek

Comandante das tropas norte coreanas na fronteira entre as duas Coreias, Kim Chaek

era um dos homens de confiança de Kim Il-Sung. Lutou ao seu lado na resistência contra a

dominação japonesa na Coreia, ainda em 1927. Antes da explosão da guerra, era Ministro da

indústria e membro do comitê central do Partido do Trabalho da Coreia, mantendo o cargo de

general do Exército Popular da Coreia. Seu papel no gabinete é coordenar e liderar as forças

de suporte ao front, mantendo controle sobre os territórios conquistados.

Choe Yong-gon

Comandante supremo do Exército Popular da Coreia até 4 de julho de 1950. Mesmo

tendo rebaixado de posto um pouco antes da invasão, Choi Yong-gon era na prática o

comandante de campo mais antigo do exército norte-coreano. Seu papel no gabinete é

coordenar as ações conjuntas de todas as tropas militares, especialmente os batalhões norte-

coreanos, usando toda a experiência de ter liderado guerrilhas anti-japonesas.

Pak Hon-yong

Grande militante da independência coreana desde 1919, foi um dos fundadores do

Partido Comunista Coreano. Em 1948, tentou organizar uma junção entre o norte e o sul, na

qual não obteve sucesso e acabou se juntando a lado comunista do país, no qual obteve o

cargo de Vice-presidente do Partido dos Trabalhadores da Coreia. Seu papel no gabinete é

tentar organizar algum tipo de comunicação com os sul coreanos, ao mesmo tempo que tenta

a vitória dos norte coreanos.

Deng Hua

Militar chinês do Exército de Libertação Popular, era um dos mais importantes

generais desse período. Está logo abaixo de Peng Dehuai em ordem de comando das tropas

chinesas, portanto seu papel dentro do gabinete é delimitar a ação das tropas de seu país

juntamente com o líder do destacamento e planejar as áreas de atuação dentro da Guerra da

Coreia.

Zhou Enlai

Primeiro ministro da República Popular da China, Zhou Enlai era um hábil diplomata,

tanto que acumulava também o cargo de ministro das relações exteriores. Durante a Segunda

Guerra, trabalhou na articulação de generais, propaganda política e estratégia militar. Seu

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papel no gabinete é traçar a estratégia de precaução contra possíveis retomadas de território

por parte dos sul-coreanos e aliados, além de se preocupar com a defesa chinesa.

Kim Ung

General norte-coreano, recebeu treinamento militar em academias chinesas na década

de 30 e serviu no 18º grupamento do exército chinês durante a Guerra Sino-Japonesa como

comandante de divisão. No momento da invasão, Kim Ung tem um cargo de 3 estrelas no

Exército Popular da Coreia, tendo sob seu comando o primeiro corpo do exército. Seu papel é

explorar as táticas de atuação do seu esquadrão em conjunto com a estratégia definida para as

tropas norte-coreanas.

Kim Mu Chong

Assim como Kim Ung, Kim Mu Chong é general do Exército Popular da Coreia.

Juntou-se ao Partido Comunista Chinês quando jovem e lutou na Guerra Sino-Japonesa. Ao

retornar a Coreia, ganhou o posto de general devido a sua experiência nas batalhas que já

havia travado. Defendia uma maior participação da China no conflito e seu papel no gabinete

é compor o corpo de generais norte-coreanos, na formação do plano ofensivo.

Lee Kwon Mu

Comandante da 4ª divisão de tropas terrestres do Exército Popular da Coreia. Os

registros dizem que Lee Kwon Mu lutou pelo Exército Comunista Chinês contra o Exército

Nacionalista Chinês e o Imperial Japonês, além de ter sido tenente do Exército Soviético

durante a Segunda Guerra. É homem de confiança de Kim Il-Sung e assumiu a quarta divisão

com o posto de Major General. Foi um dos comandantes da ofensiva norte-coreana em Seul e

seu papel no gabinete é repassar a visão de campo para os outros tomadores de decisão,

refinando as ações dos norte-coreanos.

Song Shilum

General chinês de destaque no exército, Song Shilum estudou na academia militar

Whampoa e participou da Grande Marcha. Após importantes campanhas durante a guerra

civil chinesa, ganhou notoriedade e se tornou o comandante do 9º grupamento do Exército de

Libertação Popular. Seu papel no gabinete é traçar a estratégia de ofensiva juntamente dos

outros generais chineses.

Hong Xuezhi

Integrante de alta patente no Exército de Libertação Popular, Hong Xuezhi era

integrante do Partido Comunista Chinês desde 1929. Participou da Longa Marcha e a

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Ofensiva dos Cem Regimentos durante a guerra civil ocorrida na China. Em relação a forças

chinesa, Hong Xuezhi não tinha um papel de comandante militar, mas sim de diretor de

logística. Sua função no gabinete é coordenar a disponibilidade de material para as tropas

chinesas.

Nam Il

General norte-coreano muito experiente, era o chefe de gabinete do Exército Popular

da Coreia. Recebeu educação militar em uma academia soviética e foi chefe de gabinete de

uma divisão do exército soviético durante a Segunda Guerra, tendo participação em grandes

batalhas como a de Stalingrado. Retornou à Coreia ao fim da guerra e serviu ainda como

ministro de relações exteriores. Seu papel é assessorar diretamente Kim Il Sung, o líder norte-

coreano.

Ham Xianchu

General chinês considerado por muitos o melhor comandante de campo de seu período

no Exército de Libertação Popular, conseguiu subir dentro do exército durante várias batalhas

da Guerra Civil Chinesa e da Guerra Sino-Japonesa. Era conhecido como “Comandante

Tornado” por movimentar seus comandados de maneira rápida e impetuosa. Era o

comandante do 40º grupamento chinês quando a guerra explodiu. Seu papel no gabinete é

compor o corpo de oficiais chineses e traçar a estratégia de apoio aos norte-coreanos.

Kang Kon

General norte-coreano, era o grande comandante da primeira ofensiva norte-coreana.

Teve grande envolvimento em guerrilhas que lutaram contra a dominação japonesa na

península coreana e chegou a servir na 88º brigada independente do Exército soviético

durante a Segunda Guerra Mundial. Era amigo pessoal de Kim Il-Sung, os quais se

conheceram quando lutaram juntos na Manchúria contra os japoneses. Como comandante da

ofensiva, seu papel no gabinete é liderar a tomada de ações no front.

Pang Ho san

Um dos importantes comandantes do quinto corpo do Exército Popular da Coreia,

Pang Ho san compõe o corpo de integrantes de alta patente dos norte-coreanos que tem como

função coordenar as ações dos soldados comunistas, especialmente os que estão ativos no

quinto corpo do exército.

Bang Ho-san

General de brigada norte-coreano, é o comandante da sexta divisão de infantaria do

Exército Popular da Coreia. Essa divisão participou da batalha de Kaesong-Munsan, a qual foi

parte da Operação Pokpoong, a ofensiva contra os sul-coreanos. Seu papel no gabinete é

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compor o centro de operações dos generais norte-coreanos, ajudando a traçar a estratégia

ofensiva.