a governanÇa corporativa em consÓrcios intermunicipais pÚblicos de saÚde no rio grande do sul

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  • 7/24/2019 A GOVERNANA CORPORATIVA EM CONSRCIOS INTERMUNICIPAIS PBLICOS DE SADE NO RIO GRANDE DO SUL

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    Revista Eletrnica Gesto & Sade ISSN: 1982-4785Reis HC, Diehl CA. A governana corporativa em consrcios intermunicipais pblicos de sade...

    Revista Eletrnica Gesto & Sade. Vol. 6 (Supl. 3). Junho, 2015 p.2162-97 2162

    A GOVERNANA CORPORATIVA EM CONSRCIOS INTERMUNICIPAISPBLICOS DE SADE NO RIO GRANDE DO SUL

    CORPORATE GOVERNANCE IN PUBLIC HEALTH CONSORTIUMS IN RIOGRANDE DO SUL

    GOBIERNO CORPORATIVO EN CONSORCIOS DE SALUD PBLICA ENRIO GRANDE DO SUL

    Hermes Cardoso Reis1, Carlos Alberto Diehl2

    RESUMO

    O objetivo deste artigo identificar

    elementos de Governana Corporativa

    em consrcios intermunicipais pblicosde sade no Rio Grande do Sul atravs

    de pesquisa documental em sites da

    internet e legislao pertinente. Os

    dados coletados foram comparados com

    as prticas de boa Governana

    Corporativa prescritos pelo IBGC.

    Assim, o procedimento tcnico utilizado

    na investigao documental, tendo

    objetivo descritivo e abordagem

    qualitativa. Os principais resultados

    1 Mestre em Cincias Contbeis pelo Programa de PsGraduao em Cincias Contbeis da UNISINOS. Possuigraduao em Administrao de Empresas pelaUniversidade Federal do Rio Grande do Sul (1999) eEspecializao em Controladoria pela UNISINOS (2010).Atua como docente na Faculdade So Marcos e comoAnalista vinculado Gerncia Administrativa de Projetos daUnidade Acadmica de Pesquisa e Ps Graduao naUNISINOS (Universidade do Vale do Rio dos Sinos). E-mail:[email protected] Engenheiro Qumico (UFRGS - Universidade Federal doRio Grande do Sul, 1993), Mestre em Engenharia deProduo (UFRGS, 1997) e Doutor em Engenharia deProduo pela Universidade Federal de Santa Catarina comdoutorado sanduche pela HEC Montreal (2004/ BolsistaCNPq). professor titular do PPG em Cincias Contbeisda Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Co-autor emcinco livros: Gesto de Custos: Uma Abordagem Integradaentre Contabilidade, Engenharia e Administrao; Compraselementos para o jogo de negociao; Educao Contbil:Tpicos de Ensino e Pesquisa; Bate-bola Contbil(Governana e Accountability em Entidades Desportivas);Governana Corporativa e Criao de Valor e organizador

    do livro Administrao Estratgica - gerenciando acompetitividade organizacional. E-mail:[email protected]

    demonstram a complexidade de relaes

    e normas que caracterizam a GC para os

    CIS. Alm disso, a falta de alinhamento

    frente s recomendaes do IBGC,

    principalmente relacionadas ao

    Conselho de Administrao e Prestao

    de Contas, demonstra fragilidades dos

    CIS perante o princpio da

    transparncia.

    Palavras-chave: Consrcios Pblicos,

    Sade Pblica, Governana

    Corporativa.

    ABSTRACT

    The purpose of this study is to identify

    elements of corporate governance (GC)

    in public health inter-municipal

    consortia (CIS) in the brazilian

    (Bazilian) state of Rio Grande do Sulthrough documentary research on

    websites and relevant legislation. The

    collected data were compared with the

    Code of Good Practices in Corporate

    Governance prescribed by IBGC. This

    research is based on documental

    analysis with descriptive and qualitativeapproach. The main results show the

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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    relations and norms complexity of the

    GC for the CIS. Furthermore, the

    alignment lack with the

    recommendations of IBGC, mainly

    related to the Board of Directors and

    Accountability demonstrates weakness

    principle of transparency of the CIS.

    Keywords: Public Consortia, Public

    Health, Corporate Governance.

    RESUMENEl objetivo de este trabajo es identificar

    los elementos de la gobernanza

    empresarial en consorcios de salud

    pblica en Rio Grande do Sul a travs

    de la investigacin documental en sitios

    de Internet y la legislacin pertinente.

    Los datos recogidos se compararon conlas buenas prcticas establecidas por la

    Gobierno Corporativo IBGC. Por lo

    tanto, el procedimiento tcnico utilizado

    en la investigacin es de tipo

    documental, con el objetivo descriptivo

    y cualitativo. Los principales resultados

    demuestran la complejidad de las

    relaciones y normas que caracterizan a

    la GC para el CIS. Adems, la falta de

    alineacin frente a las recomendaciones

    del IBGC, principalmente relacionados

    con el Consejo de Administracin y

    Rendicin de Cuentas demuestra

    debilidades del CIS al principio de

    transparencia.

    Palabras clave: consorcio pblico,

    salud pblica, gobierno corporativo.

    1

    INTRODUO

    A sade no Brasil prevista na

    Constituio de 1988 como direito

    fundamental do cidado, estando sob

    responsabilidade dos trs entes da

    federao. Aos Municpios, com apoio

    da Unio e do Estado, compete prestar

    servios de atendimento sade dapopulao (BRASIL, 1998). Porm,

    seja por escassez de recursos financeiro,

    estrutural ou humano, a oferta do

    servio sade pblica no suficiente.

    Muitos municpios, por no

    comportarem a estrutura necessria para

    prestar o atendimento devido,encontram nos consrcios

    intermunicipais de sade (CIS) uma

    alternativa regional de organizao e

    prestao de servio pblico

    (RODRIGUES, 2012).

    Os consrcios pblicos esto

    sujeitos aos princpios da gesto pblica

    no Brasil: legalidade, impessoalidade,

    moralidade, publicidade e eficincia,

    conforme estabelece a Constituio

    Federal do Brasil, em seu artigo 37. So

    constitudos para atender a um fim

    especfico consumindo recursos

    pblicos provenientes de arrecadao

    fiscal tributria (Ribeiro; Costa, 2000).

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    Os CIS, tendo por finalidade a sade

    pblica, esto subordinados aos

    princpios, diretrizes e normas que

    regem o Sistema nico de SadeSUS

    (3 pargrafo do artigo 1 da lei

    11.107/2005) e, para Ribeiro e Costa

    (2000), correspondem aos princpios de

    descentralizao e regionalizao da

    oferta de sade pblica.

    Porm, para atender aos

    objetivos a que se prestam, os CIS

    devem conciliar os interesses dos

    municpios e demais atores envolvidos.

    Assim, mecanismos de Governana

    Corporativa podem ser utilizados para

    facilitar a convergncia de interesses e

    monitorar a gesto destas entidades

    (CAVALCANTE; LUCA, 2013). Silva

    (2014) compara a governana da

    regionalizao da sade pblica s

    regras de um jogo de relaes onde

    atuam diferentes atores, pblicos ou

    privados. Para o autor, cada um com

    seus prprios interesses, indivduos ou

    instituies estabelecem elos e redes e

    se organizam conforme convergemobjetivos comuns entre eles.

    Kooiman (1999) observa que

    diferentes abordagens para o termo

    Governana so apresentadas pela

    teoria. Entre elas, destaca que o enfoque

    como mecanismos de regulao e de

    direo de arranjos interativos elemento comum. Da mesma forma, o

    termo Governana Corporativa no

    tem uma nica definio conceitual. Em

    geral, refere-se forma como uma

    organizao estruturada e

    administrada, considerando sua cultura,

    polticas e estratgias e a maneira como

    se relaciona com os seus diversos

    stakeholders(BARRETT, 2002).

    Ainda que Governana

    Corporativa derive do ambiente

    empresarial como instrumento de

    mediao do conflito de agncia

    decorrente da separao entre

    propriedade e controle dos meios de

    produo e riqueza (JENSEN;

    MECKLING, 1976; GONALVES,

    2005), existe um entendimento comum

    de que tambm governos e instituies

    pblicas devem assumir prticas de

    governana (BENEDICTO et al, 2013).

    Silva, Chiecco Filho e Leite (2010)

    recorrem ao princpio da supremacia do

    interesse pblico, o qual postula que

    havendo conflito de interesses o

    interesse pblico deve prevalecer sobre

    o interesse individual, para defender aexistncia de conflito de agncia entre

    governantes e sociedade. Bem como,

    Slomski et al (2010) expem a

    assimetria informacional relacionada ao

    consumo de recursos e servios

    pblicos prestados. Desse modo,

    quando a sociedade entende que oEstado insuficiente em atender aos

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    interesses coletivos, a governana,

    como sistema que dirige e controla as

    organizaes, deve atuar no

    alinhamento de interesses e mitigao

    dos problemas de agncia entre Estado e

    Sociedade (SILVA; CHIECCO FILHO;

    LEITE, 2010).

    Assim, com base em referencial

    terico e atravs de pesquisa

    documental o objetivo deste trabalho

    identificar elementos de governana

    corporativa na constituio, organizao

    e gesto dos consrcios intermunicipais

    pblicos de sade no Rio Grande do

    Sul. Para tanto, os dados coletados

    foram comparados com as prticas de

    boa governana corporativa conforme

    preceituadas pelo Instituto Brasileiro de

    Governana Corporativa IBGC.

    Embora inicialmente constitudo

    visando realidade empresarial, o

    IBGC defende que seu cdigo de

    prticas de governana atende a

    organizaes diversas. Em sua 4

    edio, percebe-se a preocupao em

    estender os conceitos de governanatambm s entidades estatais

    (MATIAS-PEREIRA, 2010). Boas

    prticas de governana so conceitos

    que tm sido amplamente utilizados

    para expressar valores comuns gesto

    pblica em diferentes naes, ainda

    assim, aspectos polticos, culturais einstitucionais locais moldam a viso de

    governana no mbito das naes

    (JRGENSEN; SRENSEN, 2012).

    Campanrio et al (2014) sustentam que

    os cdigos de boas prticas em GC

    adaptam-se a diferentes contextos

    organizacionais, sejam de interesse

    amplo ou restrito, pblico ou privado,

    pois so balizados em princpios

    simples, claros e objetivos. Por esta

    razo, so amplamente aceitos.

    Governana em sade no s

    deve tornar vivel a atividade mdica,

    permitindo o tratamento da populao e

    combate s endemias e epidemias. Ao

    proporcionar acesso qualidade de vida

    proporciona tambm transformao

    social. Populao em boas condies de

    sade tem maiores possibilidades de

    contribuir positivamente para o

    desenvolvimento socioeconmico.

    Assim, a governana quando entendida

    e conscientemente construda, pode

    estabelecer novos paradigmas de

    relacionamento (entre entes pblicos,

    privados e sociedade) e eficincia a

    serem perseguidos impelindo odesenvolvimento social (BJRKMAN,

    2005).

    Este artigo compe-se de cinco

    sees. Alm desta introduo, na

    segunda seo apresenta-se a

    fundamentao terica atinente ao tema

    pesquisado. Na terceira seo sodescritos os processos metodolgicos

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    utilizados na pesquisa. A quarta seo

    traz as evidncias e resultados

    encontrados. E na quinta seo

    consideraes finais so apresentadas.

    Ao final, relacionam-se as referncias

    utilizadas.

    2 REFERENCIAL TERICO

    2.1 Governana

    Governana como conceito

    tratada sob abordagens diversas em

    diferentes disciplinas das Cincias

    Sociais e o significado do termo

    depende do nvel e segmento de

    sociedade que se est avaliando

    (KOOIMAN, 1999). Porm, dentre

    estas abordagens alguns elementos so

    comuns: regras e qualidades de

    sistemas; cooperao para aprimorar a

    legitimidade e eficcia; novos

    processos, arranjos e mtodos. Estes

    elementos compem arranjos

    interativos, em que participam tanto

    agentes pblicos quanto agentes

    privados e as instituies onde esteselementos acontecem (KOOIMAN,

    1999). Para Moslein e Riesenhuber

    (2009), a pesquisa sobre Governana

    tem suas origens nas Cincias Sociais,

    Polticas e na Economia. Refere-se a um

    campo de pesquisa que se preocupa com

    os mecanismos de regulao e dedireo, bem como s estruturas

    institucionais. E cujo foco est na

    coordenao de aes e

    comportamentos, sejam hierrquicos ou

    no, e os efeitos potenciais de tal

    coordenao.

    A Governana como teoria tem-

    se desdobrado em diferentes

    perspectivas. Desde, especificamente, s

    questes de governo dos estados

    nacionais e relaes internacionais

    relacionadas autoridade, poder,

    controle e polticas pblicas (presentes

    nas discusses propostas pelo Banco

    Mundial nas dcadas de 1980 e 1990),

    at, de forma mais abrangente, aos

    diferentes modos de coordenao das

    aes individuais ou formas bsicas de

    ordem social e arranjos econmicos

    (Mayntz, 2003). Amos (2010) relaciona

    o termo governana a aspectos

    tcnicos: tratam-se de instrumentos e

    modos, procedimentos e atores, alm de

    suas constelaes e formas de

    cooperao (AMOS, 2010, p.23) e

    apresenta governana como diferentes

    mecanismos empregados para conferirordem populao de atores, por

    adaptao, negociao, comando e

    obedincia (MAYNTZ, apud AMOS,

    2010, p.25).

    Gonalves (2005) demonstra

    preocupao quanto ao uso

    indiscriminado do termo governana econcorda que seu significado depende

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    do contexto em que utilizado. Destaca,

    o uso da expresso Governana

    Corporativa na rea de Administrao

    de Empresas, tambm difundida como

    sistema pelo qual as organizaes so

    dirigidas, monitoradas e incentivadas,

    envolvendo os relacionamentos entre

    proprietrios, conselho de

    administrao, diretoria e rgos de

    controle pelo Instituto Brasileiro de

    Governana Corporativa (IBGC, 2009,

    p19). Kissler e Heidemann (2006)

    apresentam o conceito de Governana

    Pblica, como estruturao das

    relaes entre o Estado e suas

    instituies nos nveis federal, estadual

    e municipal, por um lado, e as

    organizaes privadas, atores da

    sociedade civil (coletivos e individuais),

    por outro (KISSLER; HEIDEMANN,

    2006).

    Assim, apresentam-se a

    Governana Corporativa e a

    Governana Pblica no intuito de

    contextualizar o ambiente de debate

    sobre o qual desenvolveu-se o Cdigodas Melhores Prticas de Governana

    Corporativa do IBGC.

    2.2 Governana Corporativa

    Os estudos de Berle e Means

    (1968), na dcada de 1930, sobre a

    separao entre propriedade e controle um dos marcos conceituais do tema

    Governana Corporativa. A partir da

    separao da funo de controle, antes

    responsabilidade dos proprietrios, e

    das diferentes configuraes societrias,

    de mais concentrada a mais difusa,

    surgem os conflitos de interesses

    decorrentes da relao entre principal,

    proprietrio do capital, e agente,

    controlador da propriedade, que

    caracterizam o conflito de agncia

    (JENSEN; MECKLING, 1976). Este

    conflito ocorre quando o agente,

    contratado para gerenciar a empresa no

    intuito de maximizar a riqueza do

    proprietrio, prioriza seus prprios

    interesses em detrimento dos interesses

    do principal.

    A assimetria informacional

    outra desordem decorrente desta relao

    e ocorre pelo fato de o agente ter mais

    acesso aos negcios e, portanto, possuir

    mais informaes sobre a empresa que o

    prprio principal. Desta forma, a Teoria

    de Agncia de Jensen e Meckling

    (1976) demonstra a necessidade de se

    estabelecerem controles burocrticosque cobam a preponderncia dos

    interesses do agente sobre os objetivos

    do principal e minimizem a assimetria

    de informaes.

    Alm do conflito de interesses,

    Silveira (2010) acrescenta outras duas

    abordagens para a GC: as limitaestcnicas dos tomadores de deciso,

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    referente s limitaes da centralizao

    em uma nica pessoa sem

    conhecimentos especficos para tomada

    de decises; e os vieses cognitivos, nos

    quais as decises sofrem interferncias

    de caractersticas pessoais. Assim, a

    Governana Corporativa visa

    estabelecer no s mecanismos para

    garantir aos proprietrios a proteo dos

    seus investimentos frente atuao

    gerencial do agente (SHLEIFER E

    VISHNY, 1997), como tambm de

    atitudes expropriadoras dos

    controladores (LA PORTA et. al.,

    2000).

    Gillian (2006) apresenta a GC

    sob dois enfoques, o interno e o externo

    s empresas. A viso interna refere-se

    ao conflito principal agente e o foco

    recai sobre a atuao da gesto,

    principalmente sobre decises quanto a

    investimentos e origem dos recursos.

    Nesse enfoque, o autor relaciona como

    mecanismos de governana interna: 1)

    O Conselho de Administrao, 2)

    Incentivos aos gestores, 3) Estrutura decapital, 4) Negociao com partes

    relacionadas, e 5) Sistema de controle

    Interno. Alm disso, enfatiza o papel do

    conselho de administrao de fiscalizar

    e aconselhar a gesto com base nas

    informaes disponibilizadas pelo

    controle interno. Sob o enfoque externoGC diz respeito disponibilizao de

    informaes atravs de mecanismos de

    transparncia (disclosure) e prestao

    de contas (accountability) visando

    mitigar a assimetria informacional entre

    gesto e investidores informando aos

    acionistas dos principais fatos ocorridos

    (GILLIAN, 2006).

    2.3 Governana Pblica

    Em 1998, em seu Discurso

    sobre a Virtude, na sesso de

    encerramento da reunio pblica anual

    da Academia Francesa de Letras

    (Acadmie franaise), Jean-Franois

    Revel recorre aos filsofos iluministas e

    recorda o princpio da inseparabilidade

    entre virtude pessoal e virtude poltica,

    onde a moralidade poltica extenso

    da moralidade individual. E chama

    ateno para esse momento, ento fim

    de sculo vinte, onde o que prevalece

    o interesse dos governantes e no o

    interesse dos governados. Onde h uma

    realidade mundial em que chamam a

    ateno aqueles polticos e atores

    sociais que cumprem com seus deveres,pois a regra geral so a corrupo e

    sistemas de governo viciados,

    responsveis pelas mazelas econmicas,

    humanitrias e subdesenvolvimento.

    Produtos da falta de virtudes polticas

    que desviam o estado de sua finalidade

    que, em ltima instncia o BemComum (REVEL, 1998).

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    Revista Eletrnica Gesto & Sade. Vol. 6 (Supl. 3). Junho, 2015 p.2162-97 2169

    Neste mesmo ano, Bresser-

    Pereira (1998) expe o crescente

    interesse pela proteo ao patrimnio

    pblico, principalmente da segunda

    metade do sculo 20 em diante, frente

    ganncia e de indivduos e grupos

    poderosos. Segundo o autor, depois de

    definidos os direitos civis (sculo 18) e

    os direitos sociais (sculo 19), passaram

    a ser definidos os direitos pblicos.

    Direitos que garantam que a

    propriedade do Estado no seja

    apoderada e explorada por poucos, mas

    que o patrimnio pblico seja de fato

    pblico e para todos os cidados.

    Assim, Bresser-Pereira (1998) defende

    que a partir da definio dos direitos

    pblicos percebe-se a necessidade de

    avanar a democracia para tornar-se

    mais participativa e substituir a

    administrao pblica burocrtica por

    uma administrao pblica gerencial

    aperfeioando o controle do patrimnio

    pblico.

    Para Secchi (2009), a

    Administrao Pblica Gerencial, comomodelo de gesto de administrao

    pblica nos nveis nacional, estadual e

    municipal, uma das foras

    impulsionadoras da Governana Pblica

    ao demandar estruturas de regulao e

    controle das interaes entre Estado e

    Cidados (ou entre governo e mercado,comunidade, sociedade, redes). Neste

    sentido, para Bresser-Pereira (2005), o

    desafio da governana proporcionar

    na prestao dos servios pblicos a

    mesma eficincia econmica presente

    na iniciativa privada, porm, sem que

    percam seu carcter pblico. Dessa

    maneira, entende-se que governana

    pblica a forma como o Estado

    dispe de seu poder e sua autoridade

    para controlar e gerir recursos,

    entendida como capacidade tcnica,

    financeira e gerencial de implementar

    efetivamente polticas pblicas

    consoantes com as demandas da

    sociedade(Mendes, 2008, p. 6).

    Governana Pblica deve prever

    instituies, normas e regras que

    estabeleam a atuao dos atores

    polticos e a gesto do aparato Estatal.

    Mecanismos formais e valores

    institucionais, quais sejam, a

    transparncia, a gesto, a legalidade e a

    responsabilidade, incentivam e

    conduzem o comportamento destes

    atores (Mendes, 2008).

    2.4 Governana Corporativa x

    Governana pblica

    O Relatrio 2008 World Public

    Sector Report, People Matter: Civic

    Engagement in Public Governance

    referente ao engajamento cvico na

    governana pblica, percebe oposioentre "governana corporativa" e

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    "governana pblicaenquanto atendem

    a fins estritos ou amplos. A governana

    corporativa visa a maximizar lucro

    monetrio, enquanto governana

    pblica visa a maximizar o bem-estar

    pblico. Em contraste com a

    governana corporativa, o Relatrio

    defende que instituies e processos de

    governana pblica devem visar

    sistematicamente melhoria plena e

    equitativa do bem-estar pblico.

    (UNITED NATIONS, 2008, p. 9).

    Para Mendes (2008), o conceito

    de Governana Corporativa orbita em

    torno das relaes e conflitos entre

    agente e principal e seus objetivos. E,

    portanto, Governana Corporativa em

    uma organizao decorre da definio

    de quem so seus stakeholders e quais

    seus objetivos. Nas empresas privadas,

    no s os proprietrios (vistos como

    principal) e os funcionrios (entendidos

    como agentes), mas outros stakeholders

    (consumidores, fornecedores e mais

    diversos setores da sociedade) so

    impactados pelas atividades desta.Porm, quando se trata de bens e

    servios pblicos, estes so

    praticamente indivisveis. Custos e

    benefcios existem independentemente

    de quem os usufrui e de quem paga por

    eles (OSTROM; OSTROM, 1971).

    Assim, Mendes (2008) entende que pormais difusos que sejam osstakeholders,

    O principal ltimo sempre o cidado,

    entretanto, entre ele e o burocrata existe

    um enorme e complexo emaranhado de

    relaes. (Mendes, 2008, p.9).

    Porm, para Matias-Pereira

    (2010), embora atuem com focos

    especficos, a governana para as

    organizaes pblicas e privadas tem

    semelhanas expressivas. As definies

    de responsabilidades e poder, a qual

    Mendes (2008) refere-se como

    complexo emaranhado de relaes,

    so reguladas (e impactadas por suas

    limitaes) por instrumentos normativos

    e contratos tanto quanto na iniciativa

    privada. Enquanto Bresser-Pereira

    (1998) denuncia o comportamento

    rent-seeking como meio de

    apropriao viciosa do patrimnio

    pblico, La Porta et al (2000) abordam a

    expropriao do patrimnio dos

    acionistas, seja intencional ou por m

    gesto. Ambas situaes de separao

    entre propriedade e controle. Assim,

    seja para fins pblicos ou privados, a

    governana se estabelece sobre osprincpios de transparncia, equidade,

    cumprimento das leis, prestao de

    contas e conduta tica (MATIAS-

    PEREIRA, 2010, p. 111).

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    2.5 IBGC - Instituto Brasileiro de

    Governana Corporativa -

    Cdigo das melhores prticas de

    governana corporativa

    De acordo com Aguilera e

    Cuervo-Cazurra (2009), o primeiro

    cdigo de boa governana surgiu nos

    Estados Unidos em 1978.

    Aproximadamente dez anos depois

    outros cdigos vieram, Hong Kong,

    1989, Irlanda, 1991 e o influente

    Relatrio Cadbury no Reino Unido em

    1992. A partir deste relatrio e do

    debate gerado, cdigos de boa

    governana rapidamente alastraram-se

    por outros pases. Instituies

    transnacionais, tais como o Banco

    Mundial e a Organizao para a

    Cooperao e Desenvolvimento

    Econmico (OCDE) promoveram a

    ideia de boa governana como condio

    para o desenvolvimento dos pases e

    incentivaram as suas naes membro ao

    desenvolvimento e adoo de cdigos

    de boas prticas no s para as

    estruturas estatais (como forma decontrole da corrupo e promoo da

    eficincia), mas tambm para as

    empresas, principalmente de capital

    aberto. Assim, em meados de 2008, 64

    pases tinham emitido 196 cdigos

    distintos de boa governana.

    (AGUILERA; CUERVO-CAZURRA,2009).

    O'Shea (2005) identifica dentre

    as recomendaes da maioria deste

    cdigos as seguintes prticas de

    governana:

    1) um Conselho Administrativo

    consistente, composto por conselheiros

    executivos e no executivos e inclusive,

    no executivos independentes;

    2) uma clara diviso de

    responsabilidades entre o presidente e o

    diretor executivo;

    3) informaes oportunas e de

    qualidade para o conselho

    administrativo;

    4) procedimentos formais e

    transparentes para a nomeao de novos

    diretores;

    5) relatrios financeiros equilibrados e

    compreensveis; e

    6) a manuteno de um sistema

    funcional de controle interno.

    (OSHEA, 2005, p. 34).

    Desta forma, Campanrio et al

    (2014) sustentam que os cdigos de

    boas prticas em Governana

    Corporativa adaptam-se a diferentescontextos organizacionais, sejam de

    interesse amplo ou restrito, pblico ou

    privado, pois so balizados em

    princpios simples, claros e objetivos.

    Por esta razo, so amplamente aceitos.

    Neste sentido, embora inicialmente

    constitudo visando realidadeempresarial, o IBGC defende que seu

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    cdigo de prticas de governana atende

    organizaes diversas. Para Matias-

    Pereira (2010), considerando os

    princpios bsicos defendidos em sua 4

    edio do cdigo de melhores prticas,

    percebe-se a preocupao do IBGC em

    estender os conceitos de governana

    tambm s entidades estatais.

    O IBGC sustenta os princpios

    de Governana Corporativa conforme

    relacionados e definidos no quadro 1:

    Quadro 1 -Princpios de Governana Corporativa conforme IBGC

    Transparncia Mais do que a obrigao de informar o desejo de disponibilizar para as

    partes interessadas as informaes que sejam de seu interesse e no apenas

    aquelas impostas por disposies de leis ou regulamentos. A adequada

    transparncia resulta em um clima de confiana, tanto internamente quanto nas

    relaes da empresa com terceiros. No deve restringir-se ao desempenhoeconmico-financeiro, contemplando tambm os demais fatores (inclusive

    intangveis) que norteiam a ao gerencial e que conduzem criao de valor.

    Fonte: IBGC (2009).

    Assim, prticas identificadas

    como aquelas que melhor refletem estes

    princpios

    constituem-se em

    recomendaes, compondo o cdigo do

    IBGC de boas prticas de Governana

    Corporativa, para os elementos a seguir:

    1- Propriedade (Scios); 2-

    Conselho de Administrao; 3- Gesto;

    4- Auditoria Independente; 5-

    Conselho Fiscal.

    Este cdigo recomenda a

    promoo da transparncia dos atos da

    administrao, a responsabilizao dos

    dirigentes, o equilbrio entre poder

    poltico e propriedade e na

    representao dos scios, participao

    de conselheiros externos, estruturas de

    controle interno e externo (conselho

    fiscal e auditorias) protegendo os

    interesses dos scios na proporo de

    seu patrimnio. Tambm sugere a

    definio clara de papis e

    Equidade Caracteriza-se pelo tratamento justo de todos os scios e demais partes

    interessadas (stakeholders). Atitudes ou polticas discriminatrias, sob

    qualquer pretexto, so totalmente inaceitveis.

    Prestao de Contas

    (accountability)

    Os agentes de governana devem prestar contas de sua atuao, assumindo

    integralmente as consequncias de seus atos e omisses.Responsabilidade

    Corporativa

    Os agentes de governana devem zelar pela sustentabilidade das organizaes,

    visando sua longevidade, incorporando consideraes de ordem social e

    ambiental na definio dos negcios e operaes.

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    responsabilidades, de regras para

    manifestao em caso de conflito de

    interesses e a proclamao de valores

    que promovam tanto o respeito s leis

    quanto conduta tica no exerccio de

    autoridade e nos diferentes

    relacionamentos entre todos os

    stakeholders (IBGC, 2009).

    Conforme Campanrio et al

    (2014), estas prticas recomendadas

    pelo Instituto Brasileiro de Governana

    Corporativa (IBGC, 2009) foram

    elaboradas considerando ainda os

    princpios e as boas prticas de

    Governana Corporativa da OECD.

    Princpios estes que serviram de base

    tambm para as proposies da

    Comisso de Valores Mobilirios

    (CVM) e para a International Finance

    Corporation (IFC), pois, de domnio

    universal, so reconhecidos como

    referncia internacional.

    2.6 Consrcios Intermunicipais de

    Sade

    Para bem prestar os serviosindispensveis sociedade, a gesto

    pblica consiste na execuo organizada

    de uma srie de atividades-meio e

    atividades-fim dos rgos e entidades

    que integram a administrao Pblica

    (CHAVES, 2011). A sade prevista na

    Constituio Federal de 1988 como umdireito fundamental do cidado sob

    responsabilidade dos trs entes da

    federao. Compete aos Municpios,

    com apoio da Unio e do Estado, prestar

    servios de atendimento sade da

    populao (BRASIL, 1998). No

    entanto, muitos municpios no

    comportam a estrutura necessria para

    prestar o atendimento devido. Seja por

    escassez de recursos financeiro,

    estrutural ou humano, a oferta do

    servio pblico de sade insuficiente.

    Dessa maneira, apresentam-se os

    consrcios municipais de sade como

    uma alternativa regional de organizao

    e prestao de servio pblico

    (RODRIGUES, 2012).

    O consrcio pblico uma

    estrutura associativa entre diferentes

    entes federativos com intuito de

    concentrar e coordenar esforos na

    consecuo de objetivos e interesses

    comuns (Silva, 2008). De acordo com

    Prates (2012), cerca de 80% dos

    municpios brasileiros fazem parte de

    algum tipo de consrcio para prestao

    de servios pblicos. O autor destacaque a obteno de escalas no acesso e

    uso de recursos financeiros, materiais e

    humanos, que dificilmente atingiriam

    sozinhos, o principal benefcio para os

    municpios que compem os consrcios

    pblicos. Assim como Negrini (2009)

    tambm j havia defendido oconsorciamento para conjugao de

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    recursos, bens e pessoal, para a gesto e

    ou prestao de determinados servios

    pblicos, principalmente por municpios

    pouco populosos. O autor vincula o

    instituto dos consrcios pblicos ao

    Federalismo de Cooperao, modelo de

    federao na qual, embora autnomos,

    os entes federados necessitam de

    conduo integrada de polticas

    pblicas.

    Almeida (1958) defende que os

    consrcios intermunicipais esto

    legalmente previstos no Brasil desde o

    regime constitucional de 1891 ao

    interpretar o artigo 60 da Carta

    Constituio do Estado de So Paulo

    daquele ano, onde diz As

    municipalidades podero associar-se

    para a realizao de quaisquer

    melhoramentos que julguem de comum

    interesse (SO PAULO, 1891).

    Porm, Negrini (2009) aponta registros

    de atividades de consrcios municipais,

    no estado de So Paulo, a partir da

    dcada de 1930. O termo consrcio

    incorporado Constituio Federalsomente com a Emenda Constitucional

    19/98 que inclui o artigo 241 na

    Constituio de 1988 (BRASIL, 1998).

    Mas, somente com a regulamentao da

    Lei N 11.107, de 6 de abril de 2005,

    conhecida como Lei dos Consrcios

    Pblicos, atravs do Decreto n 6.017,de 17 de janeiro de 2007, que se

    admite um regime jurdico consorcial

    no Brasil (SILVA, 2008).

    Ribeiro e Costa (2000) noticiam

    que os primeiros Consrcios

    Intermunicipais de Sade (CIS) no

    Brasil, surgiram na dcada de 1980. A

    partir destas experincias, foram

    extrados subsdios para sua

    normatizao promovendo a

    constituio dos CIS como alternativa

    organizacional para os municpios na

    atuao da rea da sade. Neste sentido,

    mesmo antes da regulamentao da Lei

    n 11.107, de 6 de abril de 2005,

    (BRASIL, 2007-decreto 6.017)

    conhecida como lei dos consrcios

    pblicos, o artigo 10 da lei 8.080 de

    1990, lei que regulamento o SUS no

    pas,prev que os municpios podero

    constituir consrcios para desenvolver

    em conjunto as aes e os servios de

    sade que lhes correspondam

    (BRASIL, 1990).

    Os CIS so apresentados pelo O

    Ministrio da Sade como uma

    associao entre municpios para arealizao de atividades conjuntas

    referentes promoo, proteo e

    recuperao da sade de suas

    populaes (BRASIL, 1997, p. 8). E

    destaca os consrcios como reforo na

    gesto municipal no mbito do SUS

    conforme previsto pela Constituio de1988. Assim, com a promulgao da Lei

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    n 11.107/2005, conforme artigo 1 3

    , os CIS so subordinados ao SUS,

    devendo respeitar suas diretrizes e

    normas (BRASIL, 2005).

    3 METODOLOGIA

    3.1 Classificao metodolgica

    bsica

    O objetivo deste trabalho

    identificar elementos de governana

    corporativa na constituio, organizao

    e gesto dos consrcios intermunicipais

    pblicos de sade no Rio Grande do

    Sul. Para tanto, os dados coletados

    foram comparados com as prticas de

    boa governana corporativa, conforme

    preceituadas pelo Instituto Brasileiro de

    Governana CorporativaIBGC.

    Assim, realizou-se pesquisa

    qualitativa descritiva de natureza

    aplicada, pois procurou-se evidenciar

    caractersticas do objeto de anlise

    comparando-as com a teoria (GIL,

    2008). A investigao ocorreu com base

    em anlise documental a partir de

    informaes e documentos

    disponibilizados na internet (GRAY,

    2012).

    3.2 Fluxo da pesquisa

    O fluxo do desenvolvimento da

    pesquisa representado na figura

    1:

    Referencial Terico

    Governana

    Cdigo de Boas

    Prticas IBGC

    Anlise

    Arcabouo Legal

    Normativo

    Alinhamento

    Conceitual

    Anlise

    Documentao

    Disponvel

    Identificao

    dos

    Elementos

    Representao

    Conceitual

    Figura 1-Fluxo da pesquisaFonte: elaborado pelos autores

    Com o intuito de se identificar

    elementos que caracterizam prticas de

    Governana Corporativa nos CIS,

    inicialmente constituiu-se referencial

    terico para validar o cdigo proposto

    pelo IBGC como referncia de prticas

    de Governana Corporativa para este

    objeto de estudo.

    Aps, procedeu-se a anlise do

    arcabouo legal e normativo que regula

    a atividade dos CIS. Como produto,

    props-se a representao conceitual

    dos elementos de Governana dos CIS.

    A partir deste modelo conceitual os

    elementos foram elencados. Assim,

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    estabeleceu-se a matriz de identificao

    dos elementos de GC dos CIS.

    Com base nesta matriz,

    procedeu-se a anlise da documentao

    disponvel, em meio eletrnico,

    divulgada em sites da internet. A partir

    destas anlises, os elementos foram

    identificados, relacionados, organizados

    e descritos de forma qualitativa.

    Foram analisados dados de 13

    Consrcios Intermunicipais de Sade

    estabelecidos no Rio Grande do Sul,

    conforme relacionados no Cadastro

    Nacional de Estabelecimentos de Sade

    (CNES) do Ministrio da Sade,

    disponvel no site

    http://cnes.datasus.gov.br (menu:

    Relatrios/Naturezas) e localizados com

    base nos critrios:

    Estado: Rio Grande do Sul.

    Municpio: no selecionado (todos).

    Natureza da organizao: 01-

    administrao direta da sade (ms, ses e

    sms);

    03-administrao

    indireta - autarquias;

    04-administrao

    indireta - fundao

    pblica;

    05-administrao

    indireta - empresa

    pblica;

    06-administrao

    indireta - organizao

    social pblica.

    Dos estabelecimentos

    relacionados foram selecionados

    aqueles que contm o termo

    Consrcio combinado com

    Intermunicipal e Pblico, conforme

    relacionados na Tabela 1:

    http://cnes.datasus.gov.br/http://cnes.datasus.gov.br/http://cnes.datasus.gov.br/
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    Tabela 1Consrcios Intermunicipais de Sade no estado do RS

    CNES Nome Fantasia Razo Social Data de Abertura Municpios

    2260492 CISA Consrcio Intermunicipal de Sade do Noroeste do Estado do Rio

    Grande do Sul20/10/1997 36

    3359042 COFRON Consrcio Pblico Fronteira Noroeste 09/03/1994 25

    3407624 CP AMLINORTE Consrcio Pblico da Associao dos Municpios do Litoral Norte 18/03/1999 24

    3746356 CI/JACUI Consorcio Intermunicipal do Vale do Jacu 30/03/2004 12

    3996999 CI/CENTROConsorcio Intermunicipal da Regio Centro do Estado do Rio Grande

    do Sul08/04/1994 32

    5519608 CONSISA-VRT Consorcio Intermunicipal de Sade do Vale do Rio Taquari 14/02/2005 29

    5554217 CISVALE Consorcio Intermunicipal de Servios Vale do Rio Pardo 20/10/2005 14

    624376

    CONSIM Consorcio de Sade Inter-Municipal 03/05/2006 16

    631088

    CIRAU Consorcio Intermunicipal do Mdio Alto Uruguai 09/04/1998 NI

    648924

    COMAJA Consorcio de Desenvolvimento Intermunicipal dos Municpios do 16/12/1999 29

    656034

    CIS-CAI Consorcio Intermunicipal do Vale do Rio Ca (Cis-Ca) 27/10/2005 22

    694464

    CI - CENTRO SUL Consorcio Intermunicipal - CI - Centro Sul 30/03/2006 MI

    722590

    CISGA Consorcio Intermunicipal de Desenvolvimento Sustentvel da Serra 29/09/2011 10

    NI = No Informado

    Fonte: http://cnes.datasus.gov.br

    Assim, os dados coletados foram

    obtidos em sites oficiais dos CIS

    relacionados na tabela 3 e outros sites

    localizados atravs de busca

    (www.google.com.br) pelo nome

    fantasia e ou razo social dos CIS.

    4 MODELO PROPOSTO

    Resgatando os princpios bsicos

    de GC, preceituados pelo IBGC,

    verifica-se que o seu alcance vai alm

    da organizao, pois referem-se, alm

    dos scios, a demais partes interessadas

    (stakeholders), ordem social e

    ambiental (IBGC, 2009). Mendes

    (2008) ressalta que GC somente se

    aplica a uma organizao se

    identificados seus objetivos e quem so

    seus stakeholders. Negrini (2009)

    explica que o consrcio pblico, embora

    eventualmente sujeito s normas

    reservadas aos entes privados, sujeito

    ao regime de direito pblico sob a

    prerrogativa de que o interesse geral

    deve prevalecer perante o interesse

    particular. E, conforme Art. 37 da

    Constituio Federal (BRASIL, 1988),

    deve, acima de tudo, obedincia aos

    princpios de legalidade,

    impessoalidade, moralidade,

    publicidade e eficincia. Portanto, sendo

    estes princpios basilares Governana

    dos entes pblicos brasileiros, deve-se,

    antes de mais nada, perquirir na Lei as

    previses de quem so os stakeholders,

    os objetivos a que se prestam, bem

    como as autorizaes e limitaes

    concernentes aos CIS.

    http://www.google.com.br/http://www.google.com.br/http://www.google.com.br/http://www.google.com.br/
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    Assim, a proposio do modelo

    construda principalmente com base

    na legislao especfica dos consrcios

    pblicos, lei 11.107/2005 e decreto

    6.017/2007, que a regulamenta. As

    demais leis e normas analisadas esto

    referenciadas conforme sua origem.

    PRINCPIOS:

    Alm dos princpios prprios da

    administrao dos entes pblico, j

    mencionados, em acordo com o 3

    pargrafo do artigo 1 da lei

    11.107/2005, por sua atuao na rea da

    sade, os CIS tambm devem atender

    aos princpios, diretrizes e normas que

    regem o Sistema nico de Sade

    SUS. Assim, devem observar as

    diretrizes de Gesto Compartilhada;

    Descentralizao; e Controle Social. E

    obedincia aos princpios da

    Universalidade; Equidade;

    Integralidade; Hierarquizao e

    Regionalidade; Descentralizao e

    Comando nico; Participao Popular; e

    Resolubilidade (BRASIL, 2000).

    PROPRIEDADE:

    O CIS associao pblica sem

    fins econmicos, constituda

    exclusivamente por entes da Federao.

    O consrcio constitudo mediante

    aprovao prvia de protocolo de

    intenes pelos municpios ento

    convertido em contrato;

    - a assembleia geral instncia mxima

    do CIS, a composio de votos por ente

    associado e quantidade de votos para as

    deliberaes devem estar expressas no

    protocolo de intenes;

    - os municpios associados somente

    repassaro recursos previstos por

    contrato de rateio;

    - nenhum ente obrigado a se associar

    ou permanecer associado ao consrcio.

    Porm, a sada se dar mediante ato

    formal em assembleia geral. A reverso

    ou retrocesso dos bens destinados ao

    consrcio a um ente quando de sua

    retirada s obrigatria se

    expressamente previsto no contrato do

    CIS. Porm, as obrigaes contradas

    entre consrcio e consorciado no se

    encerram com a sua retirada.

    A lei no determina a

    composio dos votos em assembleia ou

    quanto cada ente deve participar em

    valores para a constituio e

    funcionamento do CIS. Mas, determinaque estas condies estejam presentes

    no Estatuto.

    CONSELHO DE

    ADMINISTRAO:

    A legislao especfica no

    prev a obrigatoriedade de constituirConselho de Administrao. Mas, prev

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    a possibilidade de participao de

    representantes da Sociedade Civil em

    rgos colegiados dos CIS.

    A lei 8.080/1990, diz, em seu

    artigo 10, que consrcios podem ser

    constitudos pelos municpios para que

    estes desenvolvam em conjunto as

    aes e os servios que lhes

    correspondam. Assim, considerando o

    princpio da direo nica, esto

    subordinados aos municpios, e devendo

    constar em estatuto como se d a

    administrao do mesmo. (BRASIL,

    1990).

    As definies estratgias so

    anteriores aos CIS, cabendo a estes gerir

    e operacionalizar as polticas pblicas

    previstas pela Unio conforme

    discutidas e deliberadas pelos

    Conselhos de Sade (de representao

    paritria, 50% prestadores de servios e

    trabalhadores da sade e 50% do

    Estado) e pactuadas nas Comisses

    Intergestores. (BRASIL, 2006;

    TEIXEIRA, 2007; BRASIL, 2011).

    O decreto n 7.508, de 28 dejunho de 2011, em seu artigo 15 diz

    que o processo de planejamento da

    sade ser ascendente e integrado, do

    nvel local at o federal (BRASIL,

    2011), ressaltando o papel dos

    Conselhos de Sade nas discusses da

    sade local para definio das polticasde sade de acordo com a

    disponibilidade de recursos financeiros

    (BRASIL, 2011).

    GESTO:

    A atuao do CIS est restrita

    aos territrios dos municpios

    consorciados. A determinao dos

    servios pblicos transferidos aos CIS

    deve ser regulada por Contrato de

    Programa onde sero definidas as

    obrigaes de cada parte na prestao

    dos servios. O contrato de programa

    no pode permitir quele que prestar o

    servio as atividades de planejamento,

    regulao e fiscalizao destes servios

    por ele mesmo prestado. E ainda,

    procedimentos que garantam a

    transparncia da gesto econmica e

    financeira devem ser previstos no

    contrato de programa.

    O representante legal do CIS

    deve ser obrigatoriamente Chefe do

    Poder Executivo de ente consorciado,

    portanto Prefeito de um dos municpios

    integrante do CIS. As regras para sua

    eleio e mandato devem ser previstasno contrato. A organizao do CIS,

    descrio e funcionamento de seus

    rgos constitutivos so previstos por

    estatuto.

    De acordo com o artigo 31 da

    Constituio Federal previsto controle

    interno para os Municpios pelo poderexecutivo. O CIS, como entes da

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    administrao indireta, esto sujeitos a

    estes sistemas de controle. Porm, no

    existe impedimento para terem esta

    estrutura prpria de controle interno.

    Os CIS devem dar conhecimento

    dos seus atos prestando contas das

    receitas, despesas e provises, conforme

    oramento prprio aprovado em

    assembleia. E cada municpio associado

    tambm deve prever em plano

    plurianual e oramento autorizados por

    lei municipal os repasses aos CIS

    respeitando a lei complementar

    101/2000, conhecida como lei de

    responsabilidade fiscal. Conforme

    artigo 48, devem ser amplamente

    divulgados, inclusive pela internet, e

    artigo 49, ficar disposio para

    consulta e avaliao pelos cidados e

    instituies da sociedade (BRASIL,

    2000).

    O Tribunal de Contas da Unio,

    em sua Instruo Normativa n 28, de 5

    de maio de 1999, determina a

    divulgao em pgina especfica os

    municpios e, tambm, rgos eentidades que respondem pela gesto ou

    acompanhamento de convnios devem

    divulgar.

    AUDITORIA INDEPENDENTE

    Da mesma forma que os

    municpios, os CIS e seusrepresentantes legais esto sujeitos

    fiscalizao e controle externo pelo

    Tribunal de Contas do Estado do Rio

    Grande do Sul, devendo obedecer a

    legislao na execuo das receitas e

    despesas. Os municpios e entes da

    administrao indireta (incluem-se os

    CIS) devem enviar ao TCU relatrios

    quadrimestrais ou semestrais (conforme

    nmero de habitantes), referente

    gesto fiscal e execuo oramentria.

    (LC Federal 101/2000; BOLETIM

    479/2014). A lei complementar

    141/2012, tambm prev as normas de

    fiscalizao, avaliao e controle das

    despesas com sade atravs do Tribunal

    de Contas e Conselhos de Sade. Desta

    forma, regulamentaes referentes

    controle externo e auditorias

    independem dos CIS.

    Os CIS tambm devem prestar

    contas da execuo da poltica de sade

    local para os Conselhos de Sade dos

    municpios, incluindo os aspectos

    econmicos e financeiros conforme

    artigo 1 2 da lei 8.142/1990 que

    regula o controle social do SUS atravsdas conferncias e conselhos de sade.

    Outra forma de controle externo

    a atuao do Ministrio Pblico, a

    quem cabe garantir o atendimento aos

    direitos assegurados pela Constituio

    Federal (artigo 2 lei complementar n

    75, de 20 de maio de 1993).

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    CONSELHO FISCAL

    A legislao omissa quanto

    constituio ou no de Conselho Fiscal

    para os CIS, apenas admite que rgos

    colegiados podem ser compostos,

    inclusive com participao de

    representantes da sociedade civil. A

    fiscalizao prevista externa, ocorre

    aps a divulgao dos atos dos CIS,

    estando mais relacionada ao item

    Auditoria Independente.

    CONDUTA E CONFLITO DE

    INTERESSES

    No existe previso legal da

    necessidade dos CIS, como entes da

    administrao indireta dos municpios,

    de estabelecer um cdigo de conduta

    prprio. Porm, no caso dos municpios

    possurem cdigo de conduta, a

    exemplo da alta administrao federal e

    Cdigo de Conduta da Alta

    Administrao e Cdigo de tica dos

    Servidores Pblicos Civis do Poder

    Executivo Estadual (decreto n 45.746,

    de 14 de julho de 2008), osadministradores e servidores dos CIS

    esto sujeitos a estes cdigos. A lei

    8112/1990 estabelece o regime

    disciplinar para os servidores pblicos,

    com destaque para os artigos 116,

    deveres, e 117, proibies. E a lei

    8.429/1992 define as sanes para atosde improbidade para qualquer agente

    que tenha algum tipo de vnculo com

    entidades relacionadas ao poder

    pblico.

    Alm disso, a conduta de entes e

    servidores pblicos e o relacionamento

    entre estes e destes com outros entes da

    sociedade regulamentada por

    legislao especfica. A lei

    11.107/2005 e decreto 6.017/2007 citam

    esta legislao ao indicar o que deve ser

    previsto em termos de instrumentos de

    constituio dos CIS e regulao do

    relacionamento entre as partes

    interessadas, seja por aquisio e

    fornecimento de bens e servios ou

    convnios de cooperao e formas de

    contratao e remunerao de

    dirigentes, representantes e

    funcionrios.

    4.1 Representao do Modelo

    Retomando o conceito de GC

    como o sistema pelo qual as

    organizaes so dirigidas, monitoradas

    e incentivadas (IBGC, 2009, p. 19),

    entende-se que as prticas GC secaracterizam pela manifestao de

    princpios em orientaes de como

    conduzir, mediar e regular o

    relacionamento das partes interessadas

    na consecuo de seus objetivos atravs

    da organizao (seja maximizao do

    valor patrimnio privado ou amaximizao do bem-estar pblico),

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    preservando e otimizando seu valor e

    promovendo sua perenidade.

    Assim, tem-se que os CIS, como

    entes da administrao pblica e por seu

    objetivo de atendimento sade

    pblica, so guiados pelos princpios da

    administrao pblica e pelos princpios

    do SUS. Estes princpios esto

    convertidos em normas e regras

    presentes nas Normas de Finanas

    Pblicas, Marco Legal dos Consrcios

    Pblicos e Marco Legal do SUS. Ou

    seja, todo arcabouo legal normativo

    que regula a constituio, gesto e

    operao dos CIS, bem como a relao

    entre partes interessadas, transparncia

    e formas de controle. Alm disso, na

    execuo de seus objetivos

    institucionais, o CIS segue as polticas

    de sade pblica conforme as diretrizes

    de Gesto Compartilhada,

    Descentralizao e Controle Social.

    Partindo deste entendimento,

    propem-se a representao dos

    elementos de GC identificados para os

    CIS da seguinte forma:

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    Marco Legal do SUSMarco Legal dos Consrcios PblicosNormas de finanas pblicas

    CIS

    Assembleia Geral

    (Municpios)

    Conselho Administrativo(Conselho de Prefeitos)

    Presidente do CIS(Prefeito MunicipalRepresentante legal)

    Estrutura Executiva Operacional

    Municpios Associados Orgos ConsultivosExternos

    Polticas Pblicas em Sade:- Ministrio da Sade

    - Secretaria Estadual da Sade- Coordenadorias Regionais de Sade

    Princpios daAdministrao Pblica

    Princpios do Sistemanico

    De Sade

    Conselhos de SadeSecretarias de SadeAssociaes

    RepresentativasControle Externo

    Prefeituras MunicipaisTCE / RSMPRSJustica Estadual/Federal

    Orgos ConsultivosInternos

    Conselho FiscalCmaras Setoriais

    Controle Interno

    Auditoria Interna

    Instrumentos Internos

    EstatutoRegimentoContratos

    Pblico beneficiado

    Controle Social

    Diretrizes SUS:Gesto CompartilhadaDescentralizaoControle Social

    Figura 2-Representao Governana Corporativa nos CIS:Fonte: elaborado pelos autores com base na legislao e referencial terico consultado

    As polticas pblicas de sade

    so disseminadas de forma ampla peloMinistrio da Sade e implementadas

    de forma pactuada entre os entes

    federativos atravs de comisses tri-

    partites (unio, estado e municpios) e

    bi-partites (estados e municpios).

    Foram antes definidas a partir das

    demandas apuradas e proposiesdiscutidas pelos conselhos e

    conferncias de sade, desde as

    instncias locais at as maisabrangentes, sempre com representao

    paritria governo e sociedade. Uma vez

    implantadas, so avaliadas e discutidas

    e novas propostas apresentadas, em

    ciclo contnuo. Sua gesto e execuo

    ocorre nos trs nveis, conforme

    pactuadas. Ficam assim, caracterizadasas Diretrizes do SUS, onde os CIS

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    respondem pelas instncias locais e

    eventualmente regionais, seja atuando

    na gesto, contratao, e at prestao

    dos servios de sade. Ou seja,

    estabelecendo fruns de discusso,

    fornecendo recursos e ou capacitao

    tcnica, e ou conforme objetivos

    estabelecidos em contrato entre os

    municpios associados. Para capacitar

    sua atuao, podem estabelecer rgos

    consultivos internos, como as cmaras

    setoriais e tambm contam com rgos

    consultivos externos, podendo em

    qualquer um destes, abrir espao para a

    participao da sociedade.

    O monitoramento da atuao dos

    CIS caracterizada pelo controle

    externo conforme previso legal,

    exercido pelo prprios municpios,

    Tribunal de Contas e Ministrio Pblico

    do Rio Grande do Sul e tambm, pelos

    tribunais de justia estadual e federal

    quando acionados. Internamente,

    somente se verificou a previso da

    funo controle, que, porm, no foi

    evidenciada. O controle social secumpre atravs dos Conselhos de

    Sade. Mas, tambm pode ser exercido

    pela sociedade com base nos dados que

    obrigatoriamente devem ser divulgados.

    Porm, esta prerrogativa da sociedade

    resta prejudicada pela qualidade e

    dificuldade de entendimento na forma

    de divulgao dos dados, conforme j

    apurado por Marengo e Diehl, (2011)

    faltando com o princpio de

    transparncia.

    5 ANLISE DOS DADOS E

    RESULTADOS

    A partir do estudo do arcabouo

    legal e normativo que regula a atividade dos

    CIS, foram analisados os aspectos legais

    relacionados constituio e funcionamento dos

    CIS relacionando-as s praticas de GC

    preceituadas pelo IBGC. Com isso estabeleceu-

    se o modelo de GC para os CIS, deste modelo,

    foram extrados os elementos de GC que se

    objetivou identificar atravs da anlise

    documental.

    5.1 Anlise dos dados frente s prticas de

    Governana Corporativa

    As evidncias coletadas foram

    relacionadas aos elementos de GC e comparadascom as prticas de GC com as quais se

    identificam, conforme o Quadro 2:

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    Quadro 2Elementos de GC dos CIS

    Elementos de Governana Fontes das Evidncias Prticas de GC Identificadas

    Princpios: Site dos CIS, portal transparncia,

    regulamentos e contratos, Atas de

    assembleia e reunies.

    Divulgao de informaes;

    Regulao das relaes de trabalho;

    Contratos, regulamentos e normas;Declarao de valores.

    Assembleia Geral Estatuto e Atas. Propriedade.

    Conselho Administrativo Estatuto e Atas. Conselho de Administrao.

    Composio da Diretoria Estatuto, divulgao em site e

    notcias.

    Gesto.

    Atribuio de

    responsabilidades

    Estatuto, divulgao em site,

    regimento interno, atas de

    nomeao e notcias.

    Gesto.

    Elementos de Governana Fontes das Evidncias Prticas de GC Identificadas

    Estrutura Executiva

    operacional

    Estatuto, regimento interno, ata de

    assembleia e divulgao em site.

    Gesto.

    rgos consultivos externos Site dos CIS, notcias. Auditoria independente.

    Controle Externo Site TCE, site prefeituras,

    correspondncias oficiais.

    Auditoria independente.

    rgos consultivos internos Estatuto, regimento interno, ata de

    assembleia e reunies e

    divulgao em site.

    Gesto;

    Conselho de Administrao;

    Conduta e conflito de interesses.

    Controle Interno Estatuto, regimento interno, site

    CIS.

    Gesto;

    Conselho Fiscal.

    Instrumentos constitutivos Site CIS, protocolo de intenes,

    contrato, estatuto, site Prefeituras.

    Propriedade.

    Instrumentos contratuais e de

    regulao de relacionamentos

    Normas Gerais, Regulamentos,

    Regime dos servidores, normas

    para credenciamento.

    Propriedade;

    Gesto;

    Conduta e conflito de interesses.

    Controle Social Site CIS, portal da transparncia,

    Oramento do exerccio, Balano

    do exerccio.

    Transparncia;

    Prestao de contas;

    Responsabilizao.

    Fonte: pesquisa documental

    5.2 Resultados

    Definidos os elementos quecaracterizam a GC para os CIS, a partir

    da pesquisa documental, procedeu-se a

    identificao destes elementos nos CIS

    e a anlise qualitativa da aplicao dasprticas de GC nos CIS em comparao

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    com as melhores prticas conforme

    preceituadas pelo IBGC.

    Para a identificao dos

    elementos, estes foram organizados em

    tabela e as evidncias foram

    relacionadas para cada CIS. Neste

    momento, apenas se relacionaram

    evidncias de que o elemento existe

    conforme o modelo proposto, porm

    sem nenhum julgamento de valor

    quanto sua aderncia ao cdigo de

    melhores prticas do IBGC. Assim,

    conforme identificada uma ou mais

    evidncias para cada elemento por CIS,

    foram atribudos os valores 1 para o

    elemento identificado e 0 para o

    elemento no identificado, resultando

    assim, na tabela 2:

    Desta forma, a tabela 2 demostra

    que todos os elementos foram

    identificados. Interessante observar que

    o elemento mais evidente Controle

    Externo, identificado no site

    (http://dados.tce.rs.gov.br/dados/auxiliar

    /orgaos_municipais_auditados_rs.html)

    do Tribunal de Contas do Estado do Rio

    Grande do Sul em consulta referente aos

    rgos municipais por este auditados.

    Por outro lado, o elemento menos

    evidenciado foi controle interno, pois

    somente foi encontrada a previso da

    atividade de Controle Interno no

    regimento do CONCISA-VRT e de

    Controladoria no COMAJA. Porm, no

    foram encontradas evidncias da

    realizao nem produto destas

    atividades nestes CIS. Ainda assim,

    foram considerados identificados, pois

    foram propostos e aprovados em

    assembleia nestes CIS.

    Tabela 2: Elementos de GC identificados por CIS:

    Fonte: dados da pesquisa

    http://dados.tce.rs.gov.br/dados/auxiliar/orgaos_municipais_auditados_rs.htmlhttp://dados.tce.rs.gov.br/dados/auxiliar/orgaos_municipais_auditados_rs.htmlhttp://dados.tce.rs.gov.br/dados/auxiliar/orgaos_municipais_auditados_rs.htmlhttp://dados.tce.rs.gov.br/dados/auxiliar/orgaos_municipais_auditados_rs.htmlhttp://dados.tce.rs.gov.br/dados/auxiliar/orgaos_municipais_auditados_rs.htmlhttp://dados.tce.rs.gov.br/dados/auxiliar/orgaos_municipais_auditados_rs.html
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    Outro ponto que chama ateno

    referente rgos consultivos

    externos, uma vez que se propem

    uma participao mais abrangente de

    atores tanto do poder pblico quanto de

    representao da sociedade nestas

    instituies. Assim, somente foram

    consideradas evidncias registros que

    comprovem interao com estes atores.

    Como por exemplo, participao em

    eventos da Associao Gacha dos

    Consrcios Pblicos AGCONP e

    registro de participao em congresso

    pela CONSISA-VRT.

    Com relao aos CIS,

    destacaram-se por ter menos elementos

    identificados o CIRAU e o CP

    AMLINORTE, com 4 e 5 elementos

    respectivamente e com mais elementos

    o CONCISA-VRT, com 12 elementos e

    o CISA, CI/Centro e CISGA, com 10

    elementos cada. Ainda assim, o fato de

    terem estes elementos de GC

    identificados, no significa que esto

    em acordo com o cdigo de boasprticas de GC preceituadas pelo IBGC,

    conforme anlise a seguir.

    PROPRIEDADE:

    Verificou-se como prtica

    unnime para constituio e

    manuteno dos CIS que cada enteassociado participa com recursos em

    razo proporcional populao do

    municpio conforme apurado pelo

    IBGE. Independentemente desta

    participao, os votos em Assembleia

    so singulares para cada municpio.

    Para o IBGC, o direito de voto deve

    equivaler proporo propriedade de

    cada scio. Ou seja, uma ao igual e

    um voto, proporcionando equilbrio

    entre o poder poltico e direito

    econmico.

    Outra prtica observada diz

    respeito destinao de bens quando da

    retirada de um scio e ou extino do

    CIS. Associados que se retirarem

    espontaneamente somente participaro

    da reverso de bens quando da extino

    do CIS. Porm, os bens sero revertidos

    para entidades beneficentes, cabendo

    aos associados somente a possibilidade

    de escolha da diviso e destinao dos

    bens.

    CONSELHO DE

    ADMINISTRAO:Verificou-se que todos os CIS

    constituram conselhos para deliberao

    dos assuntos estratgicos dos CIS e

    conduo das suas atividades. Previstos

    em estatuto, aparecem como Conselho

    de Administrao ou, tambm como

    Conselho de Prefeitos. Portanto, soconstitudos pelos prprios prefeitos,

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    sendo que o presidente eleito do

    Conselho assume a representao do

    CIS. No existe, portanto, padro na

    constituio e nomenclatura para os

    Conselhos, o COFRON, por exemplo,

    traz em seu estatuto, Conselho de

    Prefeitos e Conselho Administrativo.

    Neste caso, o Conselho de Prefeitos, na

    verdade o nome dado Assembleia

    Geral, obrigatria por lei. Conforme

    Negrini (2009), a organizao interna

    de livre escolha pelos CIS desde que

    no contrariem o contrato de

    constituio e estejam devidamente

    explicitados em Estatuto. O autor sugere

    a importncia de representao popular

    em atendimento ao princpio

    democrtico e participativo. Bem como

    o IBGC defende a participao de

    conselheiros externos e representao

    equilibrada entre os interessados.

    Porm, nos CIS, a participao externa

    foi verificada em outras instncias,

    como comits e cmaras setoriais, com

    a participao de especialistas e

    representantes da sociedade.

    GESTO:

    Os CIS contam com um cargo

    executivo remunerado em sua estrutura.

    Seja com o nome de Diretor Executivo

    ou Secretrio Executivo, este cargo

    ocupado em geral por funcionrioindicado (Cargo em Comisso). Mas,

    em alguns casos, ocupado por servidor

    concursado do prprio CIS ou cedido

    por Prefeitura associada. O CISA, em

    sua Resoluo no. 010/2013 estabelece

    que cargos em comisso so exclusivos

    para funes de direo, chefia ou

    assessoramento e divulga em seu site

    seu quadro funcional informando nome

    e o cargo que ocupa. As funes de

    chefia nos CIS normalmente so

    indicaes do conselho ou mesmo do

    presidente. Assim, esta funo

    anloga de diretor-presidente prevista

    pelo IBGC, sendo responsvel pela

    execuo dos processos operacionais e

    financeiros conforme as diretrizes

    estabelecidas pelo Conselho

    Administrativo.

    Para o Cdigo do IBGC este

    tpico abrange ainda Controles

    Internos, pratica no evidenciada nos

    CIS, conforme resultados apresentados,

    Transparncia e Relatrios. Com

    relao a estes dois itens, verificou-se

    que grande parte dos CIS divulga seus

    relatrios ou disponibiliza acesso aPortal de Transparncia. Porm, em sua

    maioria, as informaes so defasadas,

    os links no do acesso informao,

    no so de fcil navegao e os

    relatrios somente atendem exigncia

    legal, mas, no so explicativos ou

    elucidativos. Restringem-se ainformaes financeiras, no permitindo

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    o entendimento das atividades

    realizadas e sua efetividade.

    AUDITORIA INDEPENDENTE

    No foram evidenciados

    processos formais de auditoria externa.

    Porm, os CIS, como entes da

    administrao pblica, esto sujeitos ao

    controle externo, tanto em relao ao

    atendimento s politicas pblicas de

    sade (conselhos de sade, secretarias

    municipais e estaduais de sade) quanto

    pela aplicao dos recursos pblicos.

    Evidncias destas formas de controle

    externo so a atuao do Ministrio

    Pblico, a quem cabe garantir o

    atendimento aos direitos assegurados

    pela Constituio Federal (artigo 2 lei

    complementar n 75, de 20 de maio de

    1993), e do Tribunal de Contas do

    Estado. Tal ao pode ser verificada

    atravs de notificao expedida

    (2012_Ofcio Circular N 029_CISA)

    onde o MPRS recomenda ao CISA

    (Consrcio Intermunicipal de Sade do

    Noroeste do Estado do Rio Grande doSul) que oriente aos profissionais

    credenciados quanto negativa ou

    cobrana para emisso de atestado ou

    outros documentos referentes a

    atendimentos de sade. E apuraes de

    contas verificadas nositedo TCU.

    CONSELHO FISCAL

    Verificou-se, que todos os CIS

    analisados preveem Conselho Fiscal em

    sua organizao, com reunies regulares

    e objetivo de fiscalizar os atos da

    administrao, o cumprimento das

    obrigaes legais e a prestao dos

    servios. O COFRON prev a

    possiblidade de composio temporria

    de conselho para fiscalizao. Mas, em

    geral, aparecem como componente fixo

    na estrutura organizacional dos CIS. Os

    conselhos, em sua maioria, so

    constitudos por prefeitos, e alguns

    casos com participao de outros entes

    representativos, como o caso do

    CONSISAVRT, onde participam

    representante da associao de

    municpios e do Conselho Regional de

    Sade.

    CONDUTA E CONFLITO DE

    INTERESSES

    Especificamente aos CIS, no

    foram encontradas evidncias de

    prticas referentes ao estabelecimentode cdigos de conduta ou definio de

    polticas para coibir e combater atos

    ilcitos, lesivos e ou conflitos de

    interesse. Somente foram identificadas

    prticas relacionadas s obrigaes

    legais referentes descrio de funes,

    atividades e responsabilidades,

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    formalizao de transaes e operaes

    por meios de contratos e convnios.

    6 CONSIDERAES FINAIS

    O estudo teve como objetivo

    identificar elementos de governana

    corporativa na constituio, organizao

    e gesto dos consrcios intermunicipais

    pblicos de sade no Rio Grande do

    Sul. Os dados coletados atravs de

    pesquisa documental foram comparados

    com as prticas de boa governana

    corporativa conforme preceituadas pelo

    Instituto Brasileiro de Governana

    Corporativa IBGC. No foi

    evidenciada a existncia de um modelo

    formal de Governana para os CIS.

    Porm, com base nas anlises realizadas

    foi possvel propor uma representao

    grfica da Governana Corporativa para

    os CIS e ento identificar os elementos

    de GC para estas organizaes.

    A partir dos itens analisados,

    pode se destacar a falta de convergncia

    com o princpio da transparncia, pela

    ausncia de dados tempestivos edificuldade de entendimento das

    informaes divulgadas. Percepo que

    vai ao encontro de Marengo e Diehl

    (2011) em relao ao acesso a

    informaes em sites dos municpios

    gachos onde verificam a dificuldade na

    compreenso das informaes, quandodivulgadas. E, muito aqum da

    recomendao do IBGC quanto aos

    relatrios peridicos, prtica

    amplamente adotada por empresas

    privadas e listadas em bolsa, para

    participao de seus atos s partes

    relacionadas e interessadas.

    Outro item que chama ateno

    a prtica adotada pelo CIS em relao

    ao voto singular em assembleia

    independentemente de porte econmico

    ou populacional dos municpios,

    contrria recomendao do IBGC de

    equilbrio entre poder poltico e

    econmico. Porm, para Teixeira

    (2007), h formao de consrcios

    heterogneos justamente quando o

    municpio mais rico deseja reduzir o

    gasto em sade, e o municpio mais

    pobre deseja increment-lo

    (TEIXEIRA, 2007, p. 17). Neste caso, o

    voto proporcional acentua a assimetria

    de interesses entre os associados.

    Interessante observar a nfase

    apresentada pelo cdigo do IBGC para

    o Conselho de Administrao perante o

    modelo adotado pelo CIS. Emborasejam instituies de amplo interesse

    pblico, o Conselho de Administrao

    composto exclusivamente por prefeitos

    dos municpios associados. Para o

    IBGC, como recomendao,

    apresentado como instituto fundamental

    para a gesto estratgica e principalcomponente do sistema de governana,

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    pois retratado como conexo entre a

    propriedade e a gesto. No CIS equivale

    justamente ao elo entre a gesto e a

    execuo das polticas pblicas, porm,

    sem a devida representao das demais

    partes interessadas.

    Outro ponto a destacar a

    complexidade da normatizao e

    regulao da administrao pblica pela

    profuso de leis, normas operacionais,

    notas tcnicas, pareceres, nos trs nveis

    da federao e diferentes rgos que os

    compem. Matias-Pereira (2010)

    observa a dificuldade imposta por esta

    complexidade na implementao de

    planos, programas e projetos mesmo

    havendo recursos financeiros

    disponveis para sua realizao,

    impactando na capacidade de resposta

    s demandas da sociedade.

    Por fim, o modelo apresentado

    como produto da anlise dos dados

    coletados est em acordo com a

    proposta do TCU em que a governana

    no setor pblico pode ser observada sob

    quatro perspectivas, quais sejamperspectiva da Sociedade e Estado, pela

    definio de princpios e regras;

    perspectiva dos entes federativos,

    esferas de poder e desdobramento das

    polticas pblicas; perspectiva dos

    rgos e entidades e o papel que

    cumprem na realizao das polticaspblicas; e, por fim, perspectiva das

    atividades intraorganizacionais onde os

    recursos so aplicados, dirigidos,

    controlados e avaliados para a

    consecuo dos resultados esperados s

    partes interessadas. Para o TCU, a

    melhoria da governana nos entes

    pblicos pressuposto bsico para a

    promoo do desenvolvimento poltico,

    econmico e social do pas (BRASIL,

    2014). E assim, com este estudo,

    espera-se ter contribudo demonstrando

    os elementos que devem ser

    considerados para que se componha um

    modelo de Governana para os

    Consrcios Intermunicipais de Sade

    como entes promotores das polticas de

    sade pblica no Estado do Rio Grande

    do Sul.

    Por fim, dada as limitaes de

    acesso a dados disponibilizados na

    internet, sugere-se a observao in loco

    da organizao e modus operandi dos

    CIS em relao aos conceitos e

    recomendaes de prticas de

    Governana Corporativa.

    REFERNCIAS

    1.AGUILERA, R. V.; CUERVO-CAZURRA, A. Codes of GoodGovernance. Corporate Governance:An International Review, v. 17, n. 3,

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    N. Governana corporativa: umaanlise da aplicabilidade dos seusconceitos na administrao pblica.Organizaes Rurais &Agroindustriais, v. 15, n. 2, p. 286300, 2013.

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    pblico. Revista do Servio Pblico,v. 56, n. 3, p. 277294, 2005.

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    Sade. A sade no Brasil: histriado Sistema nico de Sade,

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    Braslia, 2011.

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    10._______. Decreto n 6.017, de17 de janeiro de 2007. Regulamenta

    a Lei no 11.107, de 6 de abril de2005, que dispe sobre normasgerais de contratao de consrcios

    pblicos. Dirio Oficial da Unio,Braslia, DF, 18, jan. 2007.

    11._______. Decreto n 7.508, de28 de junho de 2011. Regulamenta aLei no 8.080, de 19 de setembro de1990, para dispor sobre aorganizao do Sistema nico deSade - SUS, o planejamento dasade, a assistncia sade e aarticulao interfederativa, e doutras providncias. Dirio Oficialda Unio, Braslia, DF, 29, jun.2011.

    12._______. Emenda constitucional

    n 19, de 04 de junho de 1998.Modifica o regime e dispe sobreprincpios e normas daAdministrao Pblica, servidores eagentes polticos, controle dedespesas e finanas pblicas ecusteio de atividades a cargo doDistrito Federal, e d outras

    providncias. Dirio Oficial daUnio, Braslia, DF, 05, jun. 1998.

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    Revista Eletrnica Gesto & Sade. Vol. 6 (Supl. 3). Junho, 2015 p.2162-97 2193

    13._______. Lei n. 8.080, de 19 desetembro de 1990. Dispe sobre ascondies para a promoo,

    proteo e recuperao da sade, aorganizao e o funcionamento dos

    servios correspondentes e d outrasprovidncias. Dirio Oficial daUnio, Braslia, DF, 20 set. 1990a.

    14._______. Lei n 8.142, de 28 dedezembro de 1990. Dispe sobre a

    participao da comunidade nagesto do Sistema nico de Sade(SUS) e sobre as transfernciasintergovernamentais de recursos

    financeiros na rea da sade e doutras providncias. Dirio Oficialda Unio, Braslia, DF, 31 dez.1990b.

    15._______. Lei n 8.112, de 11 dedezembro de 1990. Dispe sobre oregime jurdico dos servidores

    pblicos civis da Unio, dasautarquias e das fundaes pblicasfederais. Dirio Oficial da Unio,Braslia, DF, 19 abr. 1991.

    16._______. Lei n 8.429, de 2 dejunho de 1992. Dispe sobre assanes aplicveis aos agentes

    pblicos nos casos deenriquecimento ilcito no exercciode mandato, cargo, emprego ou

    funo na administrao pblicadireta, indireta ou fundacional e doutras providncias. Dirio Oficialda Unio, Braslia, DF, 03 jun.1992.

    17._______. Lei n. 11.107, de 6 deabril de 2005. Dispe sobre normasgerais de contratao de consrcios

    pblicos e d outras providncias.

    Dirio Oficial da Unio, Braslia,DF, 07 abr. de 2005.

    18._______. Lei complementar n75, de 20 de maio de 1993. Dispesobre a organizao, as atribuies e

    o estatuto do Ministrio Pblico daUnio. Dirio Oficial da Unio,Braslia, DF, 21 mai. 1993.

    19._______. Lei complementar n101, de 4 de maio de 2000.Estabelece normas de finanas

    pblicas voltadas para aresponsabilidade na gesto fiscal ed outras providncias. Dirio

    Oficial da Unio, Braslia, DF, 05mai. 2000.

    20._______. Lei complementar n141, de 13 de janeiro de 2012.Regulamenta o 3o do art. 198 daConstituio Federal para disporsobre os valores mnimos a seremaplicados anualmente pela Unio,Estados, Distrito Federal eMunicpios em aes e servios

    pblicos de sade; estabelece oscritrios de rateio dos recursos detransferncias para a sade e asnormas de fiscalizao, avaliao econtrole das despesas com sade nas3 (trs) esferas de governo; revogadispositivos das Leis nos 8.080, de19 de setembro de 1990, e 8.689, de27 de julho de 1993; e d outras

    providncias. Dirio Oficial daUnio, Braslia, DF, 16 jan. 2012.

    21._______. Ministrio da Sade.Entendendo o SUS. Braslia, 2006.28p. Cartilha do Ministrio daSade sobre o Sistema nico deSade para jornalistas e demais

    profissionais de comunicao quetrabalham na cobertura de temas que

    envolvem a sade pblica no Brasil.

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    Revista Eletrnica Gesto & Sade. Vol. 6 (Supl. 3). Junho, 2015 p.2162-97 2194

    22._______. Ministrio da Sade. Oconsrcio e a gesto municipal emsade. Braslia, 1997. 32p.

    23._______. Ministrio da Sade.Secretaria Executiva. Sistema nicode Sade (SUS): princpios econquistas. Braslia, 2000. 44p.

    24._______. Tribunal de Contas daUnio. Instruo normativa n 28, de5 de maio de 1999. Estabeleceregras para a implementao da

    homepage Contas Pblicas, de quetrata a Lei n 9.755/98. DirioOficial da Unio, Braslia, DF, 10mai. 1999.

    25._______. Tribunal de Contas daUnio. Secretaria de Planejamento,Governana e Gesto. GovernanaPblica: referencial bsico degovernana aplicvel a rgos eentidades da administrao pblica eaes indutoras de melhoria.Braslia, 2014.

    26.BRESSER-PEREIRA, L. C.Gesto do setor pblico: estratgia eestrutura para um novo Estado. In:BRESSER-PEREIRA, L. C.;SPINK, P. Reforma do Estado e

    administrao pblica gerencial.p.2138, 1998.

    27.________, L.C. Construo doEstado e Administrao P