a gestÃo democrÁtica como um espaÇo privilegiado · campus de cornélio procópio. a gestÃo...
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A GESTÃO DEMOCRÁTICA COMO UM ESPAÇO PRIVILEGIADO
PARA O DEBATE DEMOCRÁTICO NOS INTERIORES DAS
ESCOLAS PÚBLICAS: UM OLHAR SOBRE O COLÉGIO
ESTADUAL ALBERTO CARAZZAI, DA CIDADE DE CORNÉLIO
PROCÓPIO, PR
Simone Agnoletti Alcova1
Dra. Mara Peixoto Pessôa2
RESUMO
A Educação vem caminhando no cenário da educação brasileira há várias décadas sem os resultados tão almejados pelas políticas públicas. Várias medidas são tomadas, Projetos Político-Pedagógicos são reformulados, a necessidade de melhorar os resultados vem trazendo atualmente alguns textos que discutem essa temática. O artigo trata do resultado de um estudo feito no Colégio Estadual Alberto Carazzai - Ensino Fundamental, Médio e Educação de Jovens e Adultos, localizado na cidade de Cornélio Procópio, Paraná, sobre como a Gestão Democrática para as escolas públicas vem sendo conceituada, para depois em forma de grupos de estudo esclarecer e reivindicar o estabelecido da Gestão Democrática na legislação vigente para que ela possa intervir nos referidos resultados educacionais. Os procedimentos metodológicos utilizados foram: método histórico e estatístico, pesquisa de campo, estudo do caso. O resultado da pesquisa ratificou como a falta de um conceito mais profundo sobre gestão democrática na escola pública afeta diretamente os resultados escolares, pensar a escola pública como espaço para as discussões democráticas partindo de um sólido conceito de educação como apropriação da cultura Esse estudo pretende contribuir como um documento de apoio das discussões sobre como a gestão democrática na escola pública pode auxiliar o sucesso escolar do aluno.
Palavras-chave: Gestão democrática, Conceito, Legislação
INTRODUÇÃO
Muitas propostas de melhoria da Qualidade na Educação são colocadas
à sociedade como: formação de professores, melhores condições educacionais
para os alunos, ensino voltado à realidade, estrutura física adequada, horários
diversificados, e muitas outras, mas os resultados ainda são discretos, sem
realmente modificar o cenário nacional. A tão sonhada Educação de qualidade
parece-nos distante da realidade e muitos alunos continuam longe do sucesso
escolar e principalmente longe de exercer integralmente seu papel de cidadão.
1 Professora participante do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, oferecido pelo
Governo do Estado do Paraná. 2 Professora orientadora da Universidade Estadual do Norte do Paraná – UENP.
Campus de Cornélio Procópio.
Nesse sentido, o presente trabalho busca discutir a relação entre a
gestão democrática na escola pública e em que medida essa gestão se reflete
no fracasso escolar, busca ainda elucidar o papel da escola nessa realidade. É
importante no âmbito da educação pensar o que está levando os alunos a não
obterem sucesso, objetivando que isso modifique o projeto político pedagógico,
bem como a ação dos professores e da escola como um todo. A questão
principal que se coloca como base para essa pesquisa é se a gestão
democrática na escola pública afeta os resultados educacionais. Essa questão
permeou o estudo que se segue.
Para que realmente o aluno tenha acesso, permanência e sucesso na
escola, muitos estudos devem estar à disposição dos educadores, mesmo com
o crescente número de estudos na área, ainda há muito que se investigar, por
isso foi feita a opção de pesquisa de campo, estudo de caso. Foram utilizados
os métodos histórico e estatístico.
A pesquisa em questão se baseou em autores como Czernicz (1999),
Dias (2011), Mendonça(2001), entre Michelon ( 2006), Paro(2002 e 2007) e
entre outros um estudo de caso no Colégio Estadual Alberto Carazzai – Ensino
Fundamental, Médio e EJA, localizado na cidade de Cornélio Procópio, Paraná.
O estudo em uma escola que busca entender melhor a gestão
democrática como espaço privilegiado para o debate democrático nos
interiores das escolas públicas, elencando algumas ações para essa
efetivação, tem o objetivo de poder contribuir para a reflexão das escolas na
implementação do Projeto Político Pedagógico e mesmo na sua prática
cotidiana.
1- CONCEITUANDO GESTÃO
A Gestão Democrática para a educação nacional está instituída no artigo
206 da Constituição Federal de 1988, que estabelece como princípios para que
o ensino seja ministrado: “VI - gestão democrática do ensino público, na forma
da lei;”(BRASIL,1988,p.35), e no artigo 3º da Lei 9.394 de 20 de dezembro de
1996 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que estabelece como
princípios para que o ensino seja ministrado: “VIII - gestão democrática do
ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de
ensino;”.(BRASIL,1996,p.2)
Nós encontramos o termo “Gestão Democrática” também em
documentos da Secretaria Estadual de Educação, nos Planos de Ação, Metas
de Projetos Político-Pedagógicos nas escolas e também no Plano Decenal de
Educação para Todos e nas propostas do Plano Nacional de Educação.
Os estudos nos mostram que apesar de tardia, a gestão democrática
chega ao Brasil ao final do século XX. Mendonça (2001) argumenta que as
bandeiras empunhadas pela democratização já haviam sido superadas em
países de tradição democrática e no Brasil adaptada a influencia liberal, só
chega para servir a elite.
Devido à tardia implantação da gestão democrática nas escolas públicas
e das condições impostas pela influência liberal, Mendonça (2001) interessou-
se sobre como ela está realmente acontecendo nas escolas e realizou uma
pesquisa em todo o território nacional para levantar dados sobre o tema. É
importante mencionar que Mendonça baseou-se em dois tipos de
levantamentos: um de natureza bibliográfica e outro de natureza empírica com
consultas a instâncias executiva, legislativa e normativa das capitais brasileiras.
Os dados empíricos mostram que a participação é a temática principal da
Gestão Democrática, seguido pelos mecanismos de escolha de diretores,
implantação e funcionamento de colegiados, descentralização e autonomia.
A participação e a convivência entre todos os integrantes da comunidade
escolar, temática principal da gestão democrática, aparece como um
instrumento apenas burocrático. Constatou-se que “Diretores, professores e
funcionários, com prevalência dos primeiros, ainda monopolizam os foros de
participação. A escola pública ainda é vista pelos usuários como propriedade
do governo ou do pessoal que nela trabalha”(2001, p. 87).
Nos processos de provimento do cargo de diretor, pode-se verificar
quatro formas: o provimento por indicação, que fica a cargo da nomeação por
autoridade do Estado; o provimento por concurso, na sua maioria com provas e
títulos; o provimento por eleição, onde a comunidade escolar escolhe seu
diretor através do voto e o provimento através da seleção e eleição, onde os
candidatos a eleição são selecionados através de prova escrita.
Mendonça faz uma crítica muito grande quando ao processo de
provimento por indicação, pois ele é um solo fértil para a troca de favores e o
apadrinhamento, onde a competência profissional é deixada de lado e o
clientelismo político tem na escola um ambiente propício para a manipulação
político partidária. Mendonça também classifica a eleição de diretores como o
processo que chega mais próximo a Gestão Democrática. As eleições para
diretores de escolas tiveram iniciativas antes da promulgação da Constituição
Federal, mas as limitações impostas por alguns sistemas podem desconfigurar
a democracia que deveria estar em destaque nesse processo.
A eleição de diretores é o processo que melhor materializou a luta contra o clientelismo e o autoritarismo na administração da educação. Os argumentos em defesa desse processo giram em torno do caráter democrático e da possibilidade de aquilatar a capacidade de liderança política dos candidatos, abarcando, dessa maneira, uma dimensão da escola que vem ganhando cada vez mais ênfase. (MENDONÇA, 2001, p. 89)
A implantação e funcionamento de colegiados surgiram também antes
da promulgação da Constituição Federal, mas a pesquisa mostrou que seus
objetivos não estão sendo cumpridos como já foi relatado no item participação,
pois “a dominação que ainda exercem os docentes sobre os demais
segmentos”(Mendonça 2001, p.91), ainda é o principal fator que prejudica a
gestão democrática.
A descentralização, outro tema abordado por Mendonça, traz uma
confusão de conceitos, ligando a centralização ao autoritarismo e a
descentralização à democracia, visto que a descentralização não está
diretamente ligada à Gestão Democrática, assim
Processos descentralizadores não chegam a transferir poder para as escolas ou promover a articulação das bases locais. Os dados empíricos não demonstram a existência de alterações substantivas nas estruturas administrativas reforçadoras da capacidade de ação das escolas. Enquanto as áreas centrais das administrações não abrirem mão do dirigismo, reduzindo a influência excessiva que exercem sobre a escola, os discursos favoráveis à descentralização, à autonomia e à valorização das unidades de ponta dos sistemas, como referência das políticas públicas, continuarão a ser peças de retórica. (2001, p. 92-93)
A autonomia escolar presente na legislação, no regimento escolar e no
projeto político-pedagógico mostra que ela está somente no papel, pois:
Ao contrário, o que se pode verificar pela análise das normas fixadas pelos sistemas de ensino em relação à autonomia escolar é que os documentos são muito parcimoniosos no estabelecimento de mecanismos concretos que caracterizem a faculdade de a escola governar-se por si própria, mas profusos em estabelecer limites que barram a sua autonomia. (MENDONÇA, 2001, p. 93-94)
A Gestão Democrática instituída em nossa Constituição Federal, na Lei
de Diretrizes e Bases da Educação, está longe de ser conquistada nos
interiores das escolas públicas. A conclusão da pesquisa de Mendonça nos
mostra que
a gestão democrática é uma diretriz de política pública de educação disseminada e coordenada pelos sistemas de ensino. [...] as dificuldades e as resistências na implantação de processos de gestão democrática ainda são muitos intensas. [...] de diferentes naturezas. Para alguns, as resistências estão na interferência política sobre a educação. Outros apontam o funcionamento do próprio sistema como um fator limitador da democratização [...]. As resistências dos professores são também consideradas, expressando-se, em geral pelo corporativismo, ao autoritarismo e a formação acadêmica deficiente. Os diretores [...] pela sua compreensão equivocada do processo eleitoral, pela centralização de informações e decisões, pelas atitudes de corporativas. A própria sociedade, [...] é apontada pelas autoridades como resistentes às iniciativas do Estado. (2001, p.94).
Os estudos mostram que a resistência ao implantar a gestão
democrática na escola possui várias origens, assim, para elucidar melhor esta
questão, José Augusto Dias traz alguns conceitos importantes sobre gestão e
lembra que recentemente falava-se em administração escolar. Mas como o
conceito de administração “compreende as atividades de planejamento,
organização, direção, coordenação e controle” (DIAS, 2004, p.216), traz certo
desconforto para a comunidade escolar. O autor coloca que ao utilizar o termo
gestão ele é melhor aceito pela comunidade escolar, pois ao ato de administrar
incorpora-se doses de filosofia e política, percebendo-se a gestão ligada a
democracia.
Assim, a Gestão Democrática bem definida e instituída em nossa
legislação brasileira, bem conceituada por José Augusto Dias, faz com que a
comunidade escolar tenha empatia com o tema, presente em todos os
documentos da escola. Ela necessita ser mais discutida nos sistemas de
ensino, pois a Gestão Democrática já é uma política pública brasileira e será
através de estudos e reflexões coletivas, que ela sairá do papel para
consolidar-se em nossas escolas.
Um dos estudiosos brasileiros sobre Gestão da escola pública é Vitor
Henrique Paro, pesquisador é autor de diversos trabalhos na área educacional
e é um colaborador efetiva nas discussões sobre Gestão Democrática da
atualidade.
De acordo com Paro, a visão da função desempenhada pela escola na
sociedade de hoje não é muito otimista. A escola pública que é responsável em
levar a camada trabalhadora a apropriar-se dos conhecimentos historicamente
acumulados e desenvolver a consciência crítica para que ocorra uma
transformação social em benefício da classe trabalhadora, ainda não existe,
pois infelizmente a escola pública de hoje “é sim reprodutora de certa ideologia
dominante” (2002, p.10). O autor ainda discorre sobre a possibilidade de
transformarmos a escola de hoje em uma escola que concorre para a
transformação social, “precisamos transformar a escola que temos aí. E a
transformação dessa escola passa necessariamente por sua apropriação por
parte das camadas trabalhadoras” (2002, p.10).
A primeira contradição para que a camada trabalhadora aproprie-se da
escola pública é o nosso sistema de ensino é hierárquico, colocando “o poder
nas mãos do diretor” (PARO, 2002, p.11). Esse poder supostamente delegado
pelo estado faz com que o diretor deve cumprir e fazer cumprir todas as
orientações e determinações do estado, transformando a autoridade máxima
do diretor “em mero preposto do Estado” (PARO, 2002, p.11).
A segunda contradição é que o diretor deve
deter uma competência técnica e um conhecimento dos princípios e métodos necessários a uma moderna e adequada administração dos recursos da escola, mas por outro lado, sua falta de autonomia em relação aos escalões superiores e a precariedade das condições concretas em que se desenvolvem as atividades no interior da escola tornam uma quimera a utilização dos belos métodos e técnicas adquiridos (pelo menos supostamente) em sua formação de administrador escolar, já que o problema da escola pública no país não é, na verdade, o da administração de recursos, mas o da falta de recursos. (PARO. 2002, P. 11).
Paro, ainda acrescenta que se o diretor não tem autonomia, a escola
torna-se uma escola sem autonomia, assim seu usuário, o filho da camada
trabalhadora, fica privado, sem apropriar-se do conhecimento historicamente
acumulado e da consciência crítica para a transformação da sociedade atual.
Por isso faz-se necessário buscar a construção da autoridade da escola
pública.
Para iniciar essa construção o diretor deve ter consciência que o poder
outorgado pelo estado não existe. A partir dessa constatação, ele deve distribuir
as responsabilidades para que a escola realmente ganhe poder, pois na
medida em que a participação de toda a comunidade escola -professores,
funcionários, pais alunos - estiverem unidos pelo bem da escola, os escalões
superiores serão pressionados a desenvolver políticas públicas para torná-la
uma escola dos interesses da camada trabalhadora.
Paro(2002), também se remete a “utopia e uma escola participativa”,
com a participação vem a autonomia, e também a organização para a escola
constituir-se como um instrumento de pressão junto ao Estado, para que sejam
propiciadas condições de funcionamento dessa autonomia.
Para a educação realizar a função social de socialização e apropriação
do conhecimento historicamente acumulado pela sociedade, a escola deve
organizar-se pela realização de objetivos numa dupla dimensão: a individual e
a social. A dimensão individual, refere-se a apropriação do conhecimento
necessário ao autodesenvolvimento do educando, ou seja dar-lhes condições
para desenvolver seu bem-estar pessoal e utilizar os bens sociais e culturais
disponibilizados pela sociedade. Paro utiliza um termo de Ortega y Gasset de
1963, que é o “viver bem”. Paro acrescenta que
A dimensão social liga-se a formação do cidadão tendo em vista sua contribuição para a sociedade, de modo que sua atuação concorra para a construção de uma ordem social mais adequada à realização do “viver bem” de todos, ou seja, para a realização da liberdade como construção social.(2007, p. 17)
À medida que compreendemos a democracia no sentido mais elevado,
na conciliação para a construção da liberdade como construção social,
podemos afirmar que a dimensão social dos objetivos da escola, se resume na
educação para a democracia. Infelizmente Paro afirma que, os objetivos das
escolas públicas em geral, estão longe das dimensões individual e social,
muitas vezes até contraditórias a elas, onde a escola parece renunciar ao viver
bem, no cotidiano da escola, “fazendo com que o tempo de aprendizado se
apresente penoso para seus educandos, desarticulado de qualquer ligação
com o prazer.” (2007, p.17).
Pode-se observar que a atuação da escola na dimensão social está
distante da realidade e dos problemas sociais, quando o currículo é
essencialmente informativo e ignora a formação ética dos alunos, deixando que
a família seja a única responsável por essa formação, e ao mesmo tempo não
leva em consideração o desenvolvimento da tecnologia e da mídia que são
outros meios de transmitir informação, função antes delegada somente a
escola.
2- O SIGNIFICADO DE GESTÃO DEMOCRÁTICA PARA A COMUNIDADE DO COLÉGIO ESTADUAL ALBERTO CARAZZAI: limitações e possibilidades
Considerando estudos sobre gestão democrática, o Colégio Estadual
Alberto Carazzai - Ensino Fundamental, Médio e Educação de Jovens e
Adultos, localizado na cidade de Cornélio Procópio, Paraná, que funciona no
período matutino o Ensino Fundamental anos iniciais com 50 alunos e no
período noturno a Educação de Jovens e Adultos com 150 alunos, foi escolhido
como locus para a pesquisa desse trabalho.
Na escola estudada, primeiro foi aplicado um questionário aos
professores, funcionários e equipe pedagógica e depois realizado um Grupo de
Estudos com professores, funcionários, equipe pedagógica e diretores das
escolas da rede municipal de ensino, num total de 40 horas com 4 encontros
de 8h, aos sábados e 8h de leitura e estudo do material, aprovado pela direção
com parceria com a Secretaria Municipal de Educação, para certificação, desse
trabalho.
2.1- QUESTIONÁRIOS AOS PROFESSORES, FUNCIONÁRIOS E EQUIPE
PEDAGÓGICA
A primeira etapa dessa pesquisa foi coletar dados por meio de
questionários, com questões fechadas e abertas, com o objetivo de verificar
como é conceituada a gestão democrática no interior da escola pesquisada.
Ao elaborar o questionário para coletar dados para o referido estudo,
verificou-se que deveriam ser inseridas questões a cerca da proposta abordada
neste documento.
Foram entrevistados 26 profissionais entre professores, funcionários e
integrantes da equipe pedagógica. As questões fechadas do questionário
diagnóstico sobre o conceito de gestão democrática aplicado encontram-se a
seguir no decorrer do texto e cada questão contém o percentual de
entrevistados que assinalou determinada opção, relativo ao total de 26
participantes, as questões abertas são apresentadas em cada questão, mas
não mensuradas, contudo, suas respostas auxiliaram na conclusão desse
trabalho.
A questão de número um versa sobre: Você consegue definir o que é
Gestão Democrática na Escola? A análise dos dados do questionário
aplicado foi essencial para a constatação do conceito de gestão democrática na
escola pública.
Considerando alguns dados apresentados, na comunidade escolar do
Colégio Estadual Alberto Carazzai, pode-se perceber que 92% dos
entrevistados responderam que conseguem definir o que é Gestão
Democrática na Escola, e 8% responderam que não conseguem elaborar essa
definição.
Na questão dois foi pedido, escreva em algumas palavras, qual seu
entendimento sobre Gestão Democrática na Escola? (Questão Aberta). Foi
inserido o seguinte texto:
A Gestão Democrática para a educação nacional está instituída no artigo 206 da Constituição Federal de 1988, que estabelece como princípios para que o ensino seja ministrado: “VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei;”(BRASIL,1988,p.35), e no artigo 3º da Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que estabelece como princípios para que o ensino seja ministrado: “VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino;”.(BRASIL,1996,p.2).
Observando as citações acima, a Gestão Democrática na Escola
está legalmente amparada na lei. Assim o que você percebe nos interiores
das escolas públicas que prejudica ou auxilia a efetivação da referida
gestão na escola? (Questão Aberta)
A prática democrática só acontece quando está presente nas ações
concretas da comunidade escolar. As pessoas que se dizem democratas
devem ter atitudes democráticas, abrir a discussão para a comunidade e a
escola, não é uma atitude democrática, “pois a democracia não se concede, se
realiza” (PARO, 2002 p.19).
Para iniciar um debate democrático na escola é preciso realizar um
diagnóstico minucioso e crítico da realidade, considerar os interesses
contraditórios que estão presentes nas relações dos espaços escolares; com
esse estudo em mãos, coordenar as discussões que deverão acontecer para a
construção de uma verdadeira democracia, será mais fácil.
A terceira pergunta: Conselho Escolar, a APMF, os Grêmios
Estudantis e outras formas de organização de classes, contribuem para a
Gestão Democrática na Escola? Justifique (Questão Aberta), está
apresentada no gráfico a seguir (Fig. 1), e mostra que 85% dos entrevistados
consideram que o Conselho Escolar, a APMF, os Grêmios Estudantis e outras
formas de organização de classes, contribuem para a Gestão Democrática na
Escola e 15% não acreditam nesta contribuição.
Figura 1 – Resultados da pesquisa referente a questão 3.
A questão de número quatro, Estar participando de ações para
arrecadar fundos para a escola é uma das principais formas de participar
da Gestão Democrática na Escola? Justifique? (Questão Aberta), busca
levantar dados sobre resquícios do conceito de gestão democrática no
panorama paranaense no Governo de Jaime Lerner (1995-2002) onde o termo
Gestão Democrática, teve seu início focado na participação da comunidade
escolar, através de promoções e arrecadação de fundos para que as escolas
tenham maior autonomia financeira e administrativa. Czernisz, mostra em seu
artigo “Gestão Democrática da escola: algumas reflexões”(1999):
[...] as escolas têm entendido a gestão democrática como parcerias, onde a divisão de responsabilidades entre escola e comunidade, em forma de desconcentração de tarefas, ganha terreno. A comunidade externa tem assumido cada vez mais o ônus deixado pelo Estado, através de assunção de tarefas como consertos do espaço físico, promoções variadas para arrecadação de fundos, pagamento de taxas às Associações de Pais e Mestres - APMs, para que possam assim subsidiar a compra de materiais de consumo, o pagamento de professores contratados para trabalhar com música e computação, por exemplo, ou até mesmo, a contratação de seguranças para as escolas.(1999, p. 2)
E o resultado onde 27% responderam que SIM e 69% responderam
NÃO, enquanto 4% não quiseram responder, mostra que esse conceito ainda
paira sobre a escola pesquisada. (Fig 2)
Figura 2 – Resultados da pesquisa referente a questão 4.
Na análise da questão 5, Sobre os estudos do PPP da escola, você
verificou se o conceito de Gestão Democrática está claro para que ele
possa ser implementado na escola? Justifique? (Questão aberta). O
resultado foi preocupante, pois 42 % dos entrevistados verificou o referido
conceito no PPP da escola, 42% não verificou esse conceito e 16% não
responderam a questão. Algumas justificativas mostraram que o Projeto
Político Pedagógico não estava sendo estudado o suficiente para essa
compreensão, para elucidar melhor essa questão ela está apresentada no
gráfico a seguir (Fig 3):
Figura 3 – Resultados da pesquisa referente a questão 5.
A Gestão Democrática instituída em nossa Constituição Federal, na Lei
de Diretrizes e Bases da Educação, está longe de ser conquistada nos
interiores das escolas públicas. A conclusão da pesquisa de Mendonça nos
mostra que:
a gestão democrática é uma diretriz de política pública de educação disseminada e coordenada pelos sistemas de ensino. [...] as dificuldades e as resistências na implantação de processos de gestão democrática ainda são muitos intensas. [...] de diferentes naturezas. Para alguns, as resistências estão na interferência política sobre a educação. Outros apontam o funcionamento do próprio sistema como um fator limitador da democratização [...]. As resistências dos professores são também consideradas, expressando-se, em geral pelo corporativismo, ao autoritarismo e a formação acadêmica deficiente. Os diretores [...] pela sua compreensão equivocada do processo eleitoral, pela centralização de informações e decisões, pelas atitudes de corporativas. A própria sociedade, [...] é apontada pelas autoridades como resistentes às iniciativas do Estado. (MENDONÇA, 2001, p.94).
Observando ainda alguns resultados do questionário pode-se perceber
nos resultados da questão 6: A função social da escola e o papel da
estrutura didática exercem influência na construção da Gestão
Democrática na escola? Por quê? (Questão aberta), onde 65% dos
entrevistados concordam e 35% não concordarem sobre essa influência na
Gestão Democrática que essa discussão deve ser retomada com urgência em
nossas escolas, o papel estratégico da estrutura didática e administrativa na
realização das funções da escola, que “condicionam a prática escolar e a
efetiva realização dos objetivos” (PARO, 2007, p.29), onde a prática escolar
está deixando a desejar, quando o objetivo é a emancipação intelectual e
cultural dos alunos, dessa forma os objetivos não estão sendo cumpridos,
estagnando ainda mais a camada trabalhadora. Quando esses condicionantes
estiverem dispostos de modo coerente, poderemos dizer que a escola está
realmente comprometida com a liberdade e com formação de sujeitos
históricos.
Também na questão 7: A estrutura organizacional da escola se
relaciona com a qualidade da educação escolar e com a democratização
das relações no interior da escola? O resultado 65% dos entrevistados
concordam com essa relação e 35% não concordam, mostra que esta estrutura
não está bem definida para ser relacionada a Gestão Democrática.
Segundo Paro, à estrutura administrativa, também deve passar por
transformações urgentes, desde a forma da organização do poder e da
autoridade nos interiores das escolas, fortalecendo os órgãos colegiados, aos
processos eletivos para escolha dos dirigentes escolares, para que as eleições
sejam legitimadas, até o envolvimento da comunidade externa à escola,
mostrando a necessidade da escola neste envolvimento, para fazer-se
educativa.
A questão 8: As discussões políticas sobre democracia, ideologia,
contradições, etc., que pautam a gestão democrática, estão acontecendo
nos interiores das escolas estaduais do Paraná? Justifique. Mostra que
58% dos entrevistados concordam que essas discussões acontecem nos
interiores das escolas estaduais do Paraná, 23% não concordam e 19% não
quiseram responder, observando esses dados é possível se remeter ao
segundo ponto que Vitor Paro coloca em seu livro “Gestão Escolar,
Democracia e Qualidade de Ensino”(2007), que é a relevância social da
educação para a democracia como função da escola pública, não deve ser
vista sob a ótica de formar cidadãos defensores de seus direitos de
consumidor, discurso estereotipados da formação para a cidadania, e sim “pela
participação ativa dos cidadãos na vida pública, considerando não apenas
como “titulares de direitos”, mas também como “criadores de novos direitos, é
preciso que a educação se preocupe em dotá-los de capacidades
culturais”(PARO, 2007, p.25), para que a escola pública seja realmente
formadora democratas. Paro cita três elementos exposto por Benevides para
melhor compreensão da educação para a democracia:
1. a formação intelectual e a informação – da antiguidade clássica aos nossos dias, trata-se do desenvolvimento da capacidade de conhecer para melhor escolher. Para formar o cidadão é preciso começar por informá-lo e introduzi-lo às diferentes áreas do conhecimento, inclusive através da literatura e das artes em geral. A falta ou insuficiência da informação reforça as desigualdades, fomenta injustiças e pode levar a uma verdadeira segregação. No Brasil, aqueles que não têm acesso ao ensino, à informação e às diversas expressões da cultura Lato sensu são, justamente, os mais marginalizados e “excluídos”.
2. a formação moral, vinculada a uma didática dos valores republicanos e democráticos, que não se aprendem intelectualmente apenas,mas sobretudo pela consciência ética, que é formada tanto de sentimentos quando de razão; é a conquista de corações e mentes.
3. a educação do comportamento, desde a escola primária, no sentido de enraizar hábitos de tolerância diante do diferente ou divergente, assim como o aprendizado da cooperação ativa e da subordinação de interesse pessoal ou de grupo ao interesse geral, ao bem comum. (BENEVIDES, 1998, p 167-168, apud,
PARO, 2007, p. 25-26).
Os dados analisados nos questionários respondidos pelos professores,
funcionários e equipe pedagógica do Colégio Estadual Alberto Carazzai,
mostram claramente que a gestão democrática é vista mais nas relações entre
professores e funcionários nos momentos de planejamento das ações da
escola e decisões sobre gastos públicos e investimentos de verbas recebidas,
onde as instâncias colegiadas devem participar ativamente.
2.2- GRUPO DE ESTUDOS COM PROFESSORES, FUNCIONÁRIOS,
EQUIPE PEDAGÓGICA E DIRETORES DAS ESCOLAS DA REDE MUNICIPAL
DE ENSINO
O Grupo de Estudos com professores, funcionários, equipe pedagógica
e diretores das escolas da rede municipal de ensino, num total de 40 horas
com 4 encontros de 8h, aos sábados e 8h de leitura e estudo do material,
aprovado pela direção com parceria com a Secretaria Municipal de Educação,
para certificação.
Fez-se necessário iniciar com a apresentação do Projeto de Intervenção
Pedagógica na Escola, intitulado: “A gestão democrática como um
espaço privilegiado para o debate democrático nos interiores das escolas
públicas: Um olhar sobre o Colégio Estadual Alberto Carazzai, da cidade
de Cornélio Procópio, PR”.
No Brasil temos uma história repleta de dificuldades na busca pela
democracia. É na superação dessas dificuldades que devemos iniciar essa
busca. A escola é um espaço riquíssimo de aprendizagem, é através do
conhecimento que poderemos chegar a tão sonhada Gestão Democrática.
As discussões se iniciaram com o foco voltado a participação, primeiro
pilar da Gestão Democrática, onde foi verificado que estar presente não
significa participar, e que ações para que a efetiva participação aconteça,
devem ser implantadas imediatamente nas escolas onde essas as referidas
ações ainda não acontecem.
O compromisso é o segundo pilar da Gestão Democrática, esse tema foi
discutido e o grupo concluiu que participar é diferente de se comprometer.
Outro ponto muito importante apontado nas discussões é o "papel do
diretor", pois ele é o principal articulador da Gestão Democrática.
O grupo apontou o ponto central das discussões sobre Gestão
Democrática, o aluno. Percebendo que todos os esforços devem culminar na
promoção ao conhecimento, a cidadania, ao trabalho e a cultura, e tudo isso
deve estar descrito no PPP e nos documentos oficiais da escola, para que
possa ser executado por todos.
Após analise de todas as contribuições, verificou-se que o trabalho de
intervenção pedagógica na escola deve sim buscar ressignificação dos
processos pedagógicos, onde a meta é a participação da comunidade escolar
na construção da Gestão Democrática.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho de pesquisa possibilitou a confirmação da hipótese de que o
conceito de gestão democrática instituído nos interiores das escolas públicas
afetam diretamente os resultados escolares, pois a maioria dos entrevistados
mostrou que a gestão democrática na escola é conceituada de forma
superficial, podendo estar presente nos Projetos Políticos Pedagógicos, mas
não fazendo parte das práticas, excluindo os filhos das classes mais populares
do direito a educação.
Quando falamos de gestão democrática, nos é colocado que tais
questões “fogem” da nossa responsabilidade da escola, os argumentos são: as
políticas públicas não favorecem a referida gestão, pois sufoca a escola com
questões burocráticas sem termos tempo de planejar nossas próprias ações,
como compensar os próprios alunos pela dívida que as políticas públicas para
a educação têm com ele pelo seu insucesso escolar; como e onde buscar
metodologias que supram essas necessidades tão emergentes e pouco
consideradas pelas referidas políticas públicas.
Verificou-se que o aluno não é convidado a discutir questões sobre o
processo ensino/aprendizagem, e os professores não percebem que sistema
de ensino é responsável em organiza-se para que o processo
ensino/aprendizagem aconteça e não acreditam que as políticas públicas
educacionais possam garantir o aprendizado nas escolas públicas brasileiras.
A comunidade quando é chamada, atende ao convite e participa das
ações da escola, mas devido ao conceito superficial de gestão democrática
existente no interior da escola, essa participação é para somente informar o
rendimento escolar do aluno. Questões sobre construção do Projeto Político
Pedagógico, Proposta Pedagógica, Regimento Escolar, Conselho de Classe,
Reuniões Pedagógicas e muitos outros assuntos pedagógicos são colocados
de forma simples para cumprir a legislação. Construir um Plano Municipal de
Educação com o envolvimento de todos não é sequer citado, discutir a função
social da escola torna-se difícil até nas reuniões restritas aos professores,
funcionários e equipe pedagógica da escola, pois falta um conceito sólido sobre
educação como apropriação da cultura.
Esses elementos devem ser urgentemente considerados na organização
de políticas públicas para a educação. Só assim teremos uma educação de
qualidade para todos, assim cada escola poderá realizar integralmente a
função social.
Felizmente, o investimento do Governo do Estado do Paraná, com o
Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, que proporciona a troca de
informações e conhecimentos com as Instituições de Ensino Superior – IES,
oferece oportunidade de formação continuada a distância, com os Grupos de
Trabalho em Rede, e o Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola, com a
oportunidade de pesquisar e estudar essas temáticas conseguindo reverter
esse quadro de desolação e descrença pela Educação.
Estudando e dando contribuição com pesquisas e depoimentos valiosos
para a implementação de Políticas Públicas que levem em consideração as
questões sobre gestão democrática, poderemos melhorar os índices que
encontramos e a implementação do Projeto Político Pedagógico das escolas,
traz essas discussões para os interiores das escolas, fazendo que todo o
coletivo escolar organize-se para construir uma educação de qualidade para o
cidadão pleno de seus direitos e deveres para assim pronto para transformar a
sociedade de hoje em uma sociedade justa para todos.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1998. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 – Estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional. CZERNISZ, Eliane Cleide da Silva. “Gestão democrática” da escola: algumas reflexões. Maringá: UEM, 1999. DIAS, José Augusto, et al. Educação básica: políticas, legislação e gestão: leituras.São Paulo: Cengage Learning, 2011.
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MARTINS, Rosilda Barón. Escola cidadã do Paraná: análise de seus avanços e retrocessos. Campinas, 1997. (Tese de Doutorado da UNICAMP). MENDONÇA, Erasto Fortes. Estado Patrimonial e Gestão Democrática do Ensino Público no Brasil. Educação & Sociedade: Revista Quadrimestral de Ciência da Educação, Campinas, 2001, nº75, p.84 a 94. MICHELON, Edimor Antonio; ROSA, Marcia Sabina & ZANARDINI, Isaura Monica Souza. Uma análise das políticas de gestão escolar no Paraná e no Brasil entre os anos de 1980 e 2006. Cascavel: UNIOESTE, 2006.
MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org). Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade. 25 ed. Petrópolis: Vozes, 2007;
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