a gestÃo de resÍduos sÓlidos em contextos...

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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO TRÓPICO ÚMIDO MESTRADO EM PLANEJAMENTO DO DESENVOLVIMENTO LÚCIA DE FÁTIMA ALMEIDA A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS EM CONTEXTOS INTRAORGANIZACIONAIS: um estudo a partir da UFPA Belém 2011

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0

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAR NCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZNICOS

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL DO TRPICO MIDO

MESTRADO EM PLANEJAMENTO DO DESENVOLVIMENTO

LCIA DE FTIMA ALMEIDA

A GESTO DE RESDUOS SLIDOS EM CONTEXTOS INTRAORGANIZACIONAIS:

um estudo a partir da UFPA

Belm 2011

1

LCIA DE FTIMA ALMEIDA

A GESTO DE RESDUOS SLIDOS EM CONTEXTOS INTRAORGANIZACIONAIS: um estudo a partir da UFPA

Dissertao apresentada para obteno do grau de Mestre em Planejamento do Desenvolvimento Sustentvel, Ncleo de Altos Estudos Amaznicos, Universidade Federal do Par. Orientador: Prof. Dr. Durbens Martins Nascimento Co-Orientador: Prof. Dr. Milton Cordeiro Farias Filho

Belm 2011

2

Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

363.728 A447g Almeida, Lcia de Ftima

A Gesto de resduos slidos em contextos intraorganiza- cionais: um estudo a partir da UFPA (2009-2011) / Lcia de Ftima Almeida; Orientador Durbens Martins Nascimento. Belm: 2011.

155 f.: il.; 30 cm

Inclui bibliografia

Dissertao (Mestrado) Universidade Federal do Par,

Ncleo de Altos Estudos Amaznicos, Programa de Ps

Graduao em Planejamento do Desenvolvimento Sustentvel

do Trpico mido. Belm, 2011.

1. Coleta seletiva de lixo. 2. Lixo eliminao aspectos

ambientais. 3. Educao ambiental. I. Nascimento, Durbens Martins, Orientador. II. Ttulo.

3

LCIA DE FTIMA ALMEIDA

A GESTO DE RESDUOS SLIDOS EM CONTEXTOS INTRAORGANIZACIONAIS: um estudo a partir da UFPA

Dissertao apresentada para obteno do grau de Mestre em Planejamento do Desenvolvimento Sustentvel, Ncleo de Altos Estudos Amaznicos, Universidade Federal do Par.

Data de aprovao: /_ /_

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Durbens Martins Nascimento Orientador Doutor em Planejamento do Desenvolvimento Socioambiental NAEA/UFPA Universidade Federal do Par/NAEA

Dr. Milton Cordeiro Farias Filho Co-Orientador Doutor em Planejamento do Desenvolvimento Socioambiental NAEA/UFPA Universidade Federal do Par PPGCP/UFPA

Profa. Dra. Lgia T. L. Simonian Membro Interno Doutora em Antropologia City University of New York Universidade Federal do Par/NAEA

Prof. Dr. Carlos Alexandre Leo Bordalo Membro Externo Doutor em Planejamento do Desenvolvimento Socioambiental NAEA/UFPA Universidade Federal do Par/PPGEO

4

minha filha. Razo pela qual sobrevivi A todos os catadores e catadoras do Brasil que diariamente buscam, nas

nossas sobras, o seu o po de cada dia.

5

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais meus primeiros educadores que, apesar do pouco estudo, me

incentivaram e me estimularam a estudar e a entrar em uma universidade que, no

por acaso, a Universidade Federal do Par (UFPA) e que, tambm, o local onde

iniciei minhas atividades profissionais.

dona Ruth (in memorian) minha eterna amiga que no se cansava de repetir,

incentivando-me at os seus ltimos dias com a frase: Voc vai conseguir, minha

filha.

UFPA, organizao pela qual visto a camisa e que, por meio do Ncleo de Altos

Estudos Amaznicos (NAEA), me proporcionou ampliar os meus horizontes para

muito mais alm.

Pr-Reitoria de Gesto de Pessoal (PROGEP) por fomentar a formao de quadro

de pessoal desta Instituio Federal de Ensino Superior (IFES).

Aos professores e professoras do NAEA que ministraram aulas na turma do 2

Semestre de 2009, em especial ao Prof. Dr. Mrio Miguel Amin Garcia Herreros que,

ao apagar das luzes, despertou meu interesse para a Administrao Pblica, e

Prof Dr Nrvia Ravena por suas valiosas sugestes na banca de qualificao.

Ao Prof. Dr. Durbens Martins Nascimento, meu orientador, por acreditar que eu seria

capaz de chegar at aqui. Agradeo a ele tambm pelos momentos de

esclarecimento recheados de profundo conhecimento cientfico, inspirao e esprito

de solidariedade com suas colegas de instituio.

Ao Prof. Milton Farias Filho, coorientador deste trabalho, pessoa fantstica que no

mede esforos para estimular em seus alunos a aquisio do conhecimento e que

no negou, em nenhum momento, ateno e apoio.

6

Agradeo de todo o corao, aos professores Dra. Lgia T. L. Simonian e Carlos

Alexandre Leo Bordalo que gentilmente aceitaram fazer parte da Banca

Examinadora desta dissertao.

Fao um agradecimento especial para as pessoas que, de alguma forma, ajudaram

a construir este trabalho: s professoras da UFPA, Darcy Flexa di Paolo, Janana

Geel de Pontes Vieira, Ludetana Arajo e Marilena Loureiro que deram o apoio nos

momentos cruciais. Plita Gonalves do Lixo.com, Jacimara Guerra Machado

da A3P e ao Comit Interministerial para Incluso Social e Econmica dos

Catadores de Materiais Reutilizveis e Reciclveis (CIISC). Agradeo tambm ao

Felipe Marques pelas transcries das entrevistas, ao Thiago Souza pela sua

pacincia na normatizao e Prof Elza Elarrat pela competente reviso do texto.

s colegas da primeira Turma dos Tcnicos que muito me auxiliaram em busca do

conhecimento cientfico atravs dos estudos em grupo, das exposies dos

seminrios e de seus projetos, contribuindo para quebrar alguns paradigmas. Em

especial Aninha, Cludia e Nazar, pela amizade desde o processo de

seleo.

A todos os colegas do antigo Departamento de Biologia do Centro de Cincias

Biolgicas (CCB), meu primeiro local de trabalho na UFPA, onde fiz amigos que, at

hoje, considero como parte da minha famlia. Um especial agradecimento Ana

Leo (in memorian) e Concita (in memorian) que, com toda a certeza, torceram

por mim. Prof Clara Ferreira de Mello, Prof Ana Maria Cristina Mendes,

Herodes Almeida, Llian Loureiro e Maria Diva Lhamas pelos muitos momentos

de uma amizade que s me fizeram crescer.

Minha eterna gratido e sinceros agradecimentos aos gestores e aos colegas da

Prefeitura da UFPA, meu atual local de trabalho, pela oportunidade de crescimento

profissional, moral e espiritual, principalmente nas pessoas do ex e do atual Prefeito,

Marcus Vincius Menezes e Alemar Rodrigues Jr. e ao ex e ao atual diretor de

Infraestrutura, Osmar Machado e Reinaldo de Souza, e aos Coordenadores de

Servios Urbanos (CSU) Jaqueline Sarmento e de Meio Ambiente, Adnilson Igor M.

da Silva pela amizade e apoio incondicionais.

7

Ao Pedro da Conceio Rosa (in memorian) que continua demonstrando sua

amizade e carinho em um plano maior.

Comisso da Coleta Seletiva Solidria da UFPA pelo apoio e trabalho em prol de

uma Administrao Pblica mais sustentvel.

No poderia deixar de agradecer a todos, tcnicos, docentes e bolsistas que

estiveram ou que esto direta ou indiretamente envolvidos com o Programa Coleta

Seletiva Solidria, em especial Carolina Monteiro, ao Fredson Puga Pinto, ao

Gabriel Hiromite, ao Jaime Lessa, Liana Machado, Prof Maria de Valdivia Norat,

e ao Pedro Caetano. Sem o trabalho que desenvolvem no seria possvel a

realizao desta dissertao.

E, por fim, agradeo a todas as pessoas que concederam alguns minutos do seu

tempo, por ocasio das entrevistas, contribuindo, assim, na construo de mais uma

produo acadmica para esta que uma das maiores e mais importante Instituio

de Ensino Superior do Trpico mido.

8

Tudo interligado

Alexander Von Humboldt (HELFERICH, 2005)

9

RESUMO

Esta dissertao centra esforos em responder seguinte pergunta: Como se deu o processo de implantao do Programa Coleta Seletiva Solidria na Universidade Federal do Par? O referido programa foi institudo pelo Decreto Federal n 5.940 do dia 25 de outubro de 2006 e visa destinao do material reciclvel produzido nos rgos pblicos federais da administrao direta e indireta s associaes e cooperativas de catadores. Esta ao, apesar de restries quanto a sua destinao, vem contribuir com a diminuio da pobreza e o impacto ambiental em reas naturais. O objetivo desta pesquisa conhecer e analisar o processo de implantao do Programa Coleta Seletiva Solidria na UFPA. Teve o apoio das bases tericas do Neoinstitucionalismo em Hall e Taylor e comparaes das abordagens tericas de Olson e Ostrom sobre a Teoria Comportamental da Ao Coletiva na produo de um Bem Pblico. A metodologia utilizada foi de carter descritivo e qualitativo. A teoria conduziu ao trabalho de campo para as tcnicas de observao, entrevistas semiestruturadas e pesquisa documental. Foram realizadas 25 entrevistas com tcnicos da Prefeitura da Cidade Universitria da UFPA, diretores e coordenadores de Unidades Acadmicas alm de funcionrios dos servios gerais. Como resultado, foi constatada a necessidade de um trabalho de interao dentro das prprias Unidades Acadmica, destas entre si e, paralelamente, com a Administrao Superior. Em Ostrom, encontrou-se o apoio ao direcionamento terico em razo de sua concepo de uso comum e as decises coletivas de cooperao baseadas na reciprocidade e confiana entre as pessoas. Ela acrescenta elementos Teoria da Ao Coletiva de Olson e mostra que trabalhos em busca do bem comum so possveis desde que haja regras nas quais todos esto sujeitos aos benefcios das externalidades advindas. Com as abordagens institucionais e de ao coletiva apresentadas, este estudo pretende contribuir com a aplicao da Gesto Ambiental na Administrao Pblica. Os resultados alcanados podem levar prtica da Coleta Seletiva Solidria da UFPA, incentivando os gestores do interior do Estado a engajarem-se ao programa.

Palavras-chave: Coleta Seletiva Solidria. Prticas Administrativas. Administrao Pblica. Neoinstitucionalismo. Ao Coletiva.

10

ABSTRACT

This dissertation focuses on answering the following question: How did the process of implementing the Selective Collection Solidarity Program at the Federal University of Para. The program was established by Decree No. 5940 of 25th October 2006 and aims at the destination of recyclable material produced in the federal government agencies of the administration direct and indirect to associations and cooperatives of collectors. This action, despite restrictions on their disposal, contributes to poverty alleviation and environmental impact in natural areas. The objective of this research is to understand and analyze the process of implementing the Joint Selective Collection Program at UFPA. It is based on the Neo-institutionalism of Hall and Taylor and comparisons of theoretical approaches of Olson and Ostrom on the Behavioral Theory of Collective Action in the production of a Public Good. The methodology used was descriptive and qualitative. The theory led to fieldwork for the observation techniques, semi-structured interviews and documentary research. 25 interviews were conducted with staff members of the University Council of UFPA, directors and coordinators of Academic Units as well as general service staff members. As a result, was found the need of a interaction work within their own Academic Units, these together and, at the same time with the Senior Management. In Ostrom, was found the support to the theoretical direction because your conception of common use and collective decision of cooperation based on

reciprocity and trust between people. She adds elements to the Olson s Behavioral Theory of Collective Action and show that works in search of the common good are possible if exist rules that everyone are subjected to the benefits of arising externalities. With institutional approaches of the collective action presented, this study intends to contribute with the application of Environmental Management in Public Administration. The achieved results can lead to the practice of Selective Collection Solidarity of UFPA encouraging managers in the interior of state to engage in program.

Keywords: Selective Collection Solidarity. Administrative Practices. Public Administration. Neo-institutionalism. Collective Action.

11

LISTA DE ILUSTRAES

Quadro 01 Total de municpios brasileiros que dispem da Coleta Seletiva

distribudos em 18 Estados da Federao .................................. 28 Quadro 02 Unidades e nmero total de participantes do Bate-Papo Ambiental que ocorreu nos meses de abril, maio e junho de 2009 .............................................................................................. 50 Quadro 03 Mostra as pessoas envolvidas na pesquisa de acordo com seus locais de lotao representados pelos Grupos A e B e as justificativas para os critrios de seleo adotados ...................... 53 Quadro 04 Resumo do percurso metodolgico ............................................. 61 Quadro 05 Contingente populacional da UFPA ........................................... 64 Quadro 06 Distribuio dos 29 Locais de Entrega Voluntria (LEVs) na Cidade Universitria .................................................................... 68

Figura 01 Cartazes da Coleta Seletiva Solidria da UFPA elaborados pela Oficina de Criao da Faculdade de Comunicao (ICL) ..... 73

Fotografia 01 Prefeito da Cidade Universitria e representante da cooperativa CONCAVES na inaugurao da Coleta Seletiva Solidria da UFPA Semana do Meio Ambiente de 2009............ 74

Grfico 01 Total de dados fornecidos pela primeira cooperativa sorteada (CONCAVES) mostrando o total de material arrecadado nos Anos de 2006, 2009 e 2010 .......................................................... 75

Quadro 07 As Unidades Acadmicas escolhidas para a coleta de dados. Desta, apenas o IEMCI no participou da pesquisa .................... 77

Quadro 08 Nmero de participantes dos Cursos de Capacitao realizados pela Prefeitura ............................................................................. 80

Quadro 09 Nmero de participantes que assistiram apresentao da A3P e dos institutos que acataram ao convite da Prefeitura ............. 80

Fotografia 02 Conjunto de coletores para separao de materiais reciclveis ..................................................................................... 96

Fotografia 03 Copos e xcaras permanentes ................................................... 96 Grfico 02 Dados que mostram a evoluo de adeso dos setores da UFPA

Coleta Seletiva Solidria, nos anos de 2006, 2007 e 2008 ........ 99 Fotografia 04 Iniciativas que evidenciam a preocupao em adotar medidas

e procedimentos administrativos em consonncia com a legislao ambiental vigente ......................................................... 115

Fotografia 05 Caixas de papelo para a separao do papel em uma sala .... 115 Quadro 10 Nmero de prdios e de servidores mencionados pelos

coordenadores de CPGA por ocasio das entrevistas, por Unidades Acadmicas ................................................................ 116

12

LISTA DE SIGLAS

3R Reduo, Reutilizao e Reciclagem

A3P Agenda Ambiental na Administrao Pblica

AI Administrao Intermediria

AID Anlise Institucional e Desenvolvimento

ASCOM Assessoria de Comunicao

CBO Cdigo Brasileiro de Ocupaes

CIISC Comit Interministerial de Incluso Social e Econmica dos Catadores

de Materiais Reciclveis

CMA Coordenao de Meio Ambiente

CMMAD Comisso Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento

CNBB Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil

CNUMAD Conferncia das Naes Unidas para o Meio Ambiente e

Desenvolvimento

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

CONCAVES Cooperativa de Catadores de Materiais Reciclveis

CPGA Coordenao de Planejamento Gesto e Avaliao

CSU Coordenao de Servios Urbanos

FSM Frum Social Mundial

GEAAM Grupo de Estudos em Educao, Cultura e Meio Ambiente

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

ICB Instituto de Cincias Biolgicas ICED

Instituto de Cincias da Educao

ICEN Instituto de Cincias Exatas e Naturais

ICS Institutos de Cincias da Sade

ICSA Instituto de Cincias Sociais Aplicadas

IDS Indicadores de Desenvolvimento Sustentvel

IEMCI Instituto de Educao Matemtica e Cientfica

IFCH Instituto de Filosofia e Cincias Humanas

IFES Instituio Federal de Ensino Superior

IG Instituto de Geocincias

ILC Instituto de Letras e Comunicao

13

ITEC Instituto de Tecnologia

LEV Local de Entrega Voluntria

MARE Ministrio de Estado da Administrao Federal e Reforma do Estado

MC Ministrio das Cidades

MDS Ministrio de Desenvolvimento Social e Combate Fome

MMA Ministrio do Meio Ambiente

MNCMR Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Reciclveis

NAEA Ncleo de Altos Estudos Amaznicos

NCADR Ncleo de Cincias Agrrias e Desenvolvimento Rural

NPADC Ncleo Pedaggico de Apoio ao Desenvolvimento Cientfico

ONG Organizao no Governamental

ONU Organizao das Naes Unidas

PCU Prefeitura da Cidade Universitria

PDI Plano de Desenvolvimento Institucional

PNEA Programa Nacional de Educao Ambiental

PNRS Poltica Nacional de Resduos Slidos

PNS Pesquisa Nacional de Saneamento Bsico

PPA Plano Plurianual

PPGDSTU Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento Sustentvel do

Trpico mido

PROPLAN Pr-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento

RMB Regio Metropolitana de Belm

SESAN Secretaria de Saneamento

SINAES Sistema Nacional de Avaliao do Ensino Superior

TCC Trabalho de Concluso de Curso

UA Unidades Acadmicas

UEFS Universidade Estadual de Feira de Santana

UFPA Universidade Federal do Par

14

SUMRIO

1 INTRODUO .......................................................................................... 16

1.1 A PARTICIPAO DA SOCIEDADE NAS POLTICAS AMBIENTAIS:

OS CATADORES DE MATERIAIS RECICLVEIS ORGANIZADOS .......

21

1.2 A COLETA SELETIVA: DAS PRIMEIRAS INICIATIVAS COLETA

SELETIVA SOLIDRIA E A POLTICA NACIONAL DE RESDUOS

1.3

SLIDOS (PNRS) .....................................................................................

CONSTRUINDO ALIANAS: AS INSTITUIES FEDERAIS DE

23

ENSINO SUPERIOR (IFES) COMO ELOS DE UMA CORRENTE

SOLIDRIA SUSTENTVEL .....................................................................

29

2

A TEORIA INSTITUCIONAL E A LGICA DA AO COLETIVA ..........

34

2.1 A ADMINISTRAO PBLICA BRASILEIRA E AS POLTICAS

AMBIENTAIS .............................................................................................

34

2.2 A LGICA E A CONVERGNCIA NECESSRIA PARA O ESTUDO DA

GESTO DE RESDUOS SLIDOS NA UFPA .........................................

37

3

PROCEDIMENTOS METODOLGICOS ..................................................

49

3.1 NATUREZA DA PESQUISA ...................................................................... 49

3.2 PLANO AMOSTRAL .................................................................................. 51

3.2.1 A populao e o universo da pesquisa.................................................. 51

3.2.2 A amostra e os envolvidos na pesquisa ................................................ 52

3.3 TCNICAS DE COLETA DE DADOS ........................................................ 52

3.3.1 A observao ........................................................................................... 54

3.3.2 A pesquisa documental........................................................................... 55

3.3.3 As entrevistas .......................................................................................... 58

3.4 MTODO DE ANLISE, TRATAMENTO E INTERPRETAO DOS

DADOS ...................................................................................................... 61

4

A GESTO DOS RESDUOS SLIDOS EM CONTEXTOS

INTRAORGANIZACIONAIS: UM ESTUDO A PARTIR DA UFPA ...........

62

15

4.1 A UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAR: UMA BREVE

CONTEXTUALIZAO COM UM ENFOQUE NOS RESDUOS

RECICLVEIS ........................................................................................... 63

4.1.1 O processo de implantao da Coleta Seletiva Solidria na UFPA .... 65

4.1.2 As atividades educativa de suporte a sensibilizao para a

implantao da Coleta Seletiva Solidria da UFPA .............................. 71

4.1.3 Os principais resultados alcanados .................................................... 73

4.2 INDIVDUOS, ATORES E AGENTES ENVOLVIDOS NA PROMOO

DE UM BEM COLETIVO: UMA ANLISE A PARTIR DE SUAS

PERSPECTIVAS E EXPECTATIVAS........................................................ 76

4.2.1 Conhecimento sobre o objeto de pesquisa .......................................... 77

4.2.2 Responsabilidade no exerccio da funo ............................................ 83

4.2.3 Engajamento e/ou participao.............................................................. 104

4.3 O DESAFIO DE INTEGRAO DAS UNIDADES ACADMICAS PARA

A CONSTRUO DE UM BEM COMUM: A COLETA SELETIVA

SOLIDRIA ............................................................................................... 113

5

CONSIDERAES FINAIS ......................................................................

120

REFERNCIAS.................................................................................................... 126

APNDICE(S) ...................................................................................................... 134

ANEXO(S)............................................................................................................ 143

16

1 INTRODUO

As interaes Estado-Sociedade Civil vm crescendo a cada ano. Isto pode

indicar um aumento da cidadania, permitindo aos entes pblicos identificar os

problemas e ao mesmo tempo formular, implementar e avaliar resultados. Por outro

lado, as organizaes pblicas parecem vislumbrar nessa parceria a oportunidade

de sustentar a participao do cidado na coisa pblica, atendendo s demandas

sociais. Com esta nova forma de pensar, por meio de uma abordagem gerencial,

torna-se possvel a criao de programas com a participao da sociedade civil.

Nesta direo, o Decreto Federal n 5.940 de 25 de outubro de 2006 (Anexo

A), que institui o Programa Coleta Seletiva Solidria, veio ao encontro de antigas

reivindicaes do segmento dos catadores de materiais reciclveis. Essa classe

marginalizada que era, h bem pouco tempo, tratada como mendigos e no como

trabalhadores1 tem na destinao dos materiais reciclveis pelos rgos pblicos

uma fonte de renda e trabalho.

O Programa Coleta Seletiva Solidria visa destinao de todo o material

reciclvel produzido nos rgos pblicos federais da administrao direta e indireta,

nos 5.565 municpios brasileiros (BRASIL, 2008), s associaes e cooperativas de

catadores de todo o pas. Esta ao, apesar de restries quanto a sua destinao2,

vem contribuir com a diminuio da pobreza e o impacto ambiental em reas

naturais.

O programa resultado das demandas desses trabalhadores que, nos anos

de 1990, iniciaram o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Reciclveis

(MNCMR). Neste programa, os rgos pblicos federais funcionam como elo entre o

Estado e os catadores. Seus gestores tm assim um papel fundamental na

execuo das diretrizes e na implantao e continuidade do programa.

O imperativo da fora de lei e do prazo de 90 dias a partir da data de

publicao estabelecido no Artigo 7 para a implantao da lei, no foram suficientes

para que em muitos rgo o decreto fosse cumprido. Sabe-se que o seu no

1 A atividade dos catadores foi elevada ao estatuto de profisso, oficializado na Classificao Brasileira de Ocupaes (CBO) com o nmero 5192-05 (BRASIL, 2010d, p. 65).

2 O Decreto beneficia somente s associaes e cooperativas de catadores devidamente regularizados.

17

cumprimento possui vrias razes. No entanto, sabe-se tambm que para ser

implementado requer uma srie de procedimentos administrativos, interesse dos

gestores e recursos humanos capacitados e comprometidos.

Em outubro de 2011, o referido documento completou cinco anos de sua

assinatura. Como motivar e ampliar a participao dos rgos pblicos federais?

Fazer parte da agenda e do planejamento estratgico parece ser um caminho para

viabilizar um compromisso social e ambiental nas instituies. Priorizando tais

polticas, por meio de sua incluso no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI)

da Universidade Federal do Par (UFPA), o programa seria fortalecido e teria

soluo de continuidade.

Por sua natureza, vem possibilitar a construo de uma nova cultura

institucional inserida em um novo modelo de gesto de resduos para os rgos

pblicos federais, baseado nos princpios dos 3R (Reduo, Reutilizao e

Reciclagem) como estabelece o Comit Interministerial de Incluso Social dos

Catadores de Materiais Reciclveis (CIISC) e a Agenda Ambiental da Administrao

Pblica (A3P)3 (BRASIL, 2007c).

Importante ressaltar a existncia de um farto arcabouo legal com o objetivo

de aderir s polticas ambientais, por parte da administrao pblica federal. A

Constituio Federal de 19884, a Instruo Normativa n 06 de 03/11/1995 do ento

Ministrio de Estado da Administrao Federal e Reforma do Estado (MARE) e a

A3P (BRASIL, 2007c), so alguns exemplos desta afirmativa, em que a questo da

destinao social dos resduos comparece.

3 A3P um projeto que se iniciou no Ministrio do Meio Ambiente (MMA) em 1999, e possui um papel estratgico na reviso dos padres de produo e consumo e na adoo de novos referenciais em busca da sustentabilidade socioambiental, no mbito da administrao pblica. Segue uma explicao para a forma de escrita: "Pouco antes de lanarmos a cartilha da Agenda Ambiental na Administrao Pblica, em 2001, precisvamos de um ttulo mais curto e que "pegasse" mais. Por sugesto do ento Secretrio de Desenvolvimento Sustentvel do MMA, Patrus Ananias, decidimos fazer uma votao interna (entre os funcionrios do MMA) e assim apresentamos algumas variveis do tipo: ( )3AP, ( )AAAP, ( ) A3(subscrito)P e ( ) outros - faa a sua sugesto. No final, o resultado da votao deu A3(subscrito)P ou A3P. Depois partimos para fabricar a logomarca e todos acharam que no seria preciso porque as composies das letras j eram fortes e boas. Assim decidimos apenas a cor - em azul. Pronto. Estava chancelada e devidamente registrada a marca da A3(subscrito)P.". Depoimento dado via e-email por Jacimara Guerra Machado, idealizadora da A3P, que atualmente Coordenadora de Meio Ambiente da Cmara dos Deputados Federais em Braslia DF (MACHADO, 2010).

4 A nova Constituio Brasileira de 1988 possui um captulo destinado ao meio ambiente, alm de

inmeros outros dispositivos que tratam dessa questo. Alm disso, ela acabou por induzir a insero de polticas ambientais nas constituies estaduais e nas leis orgnicas dos municpios elaboradas em 1989 (BRASIL, 1999b).

18

Apesar de este ser um estudo que parte de um ambiente organizacional cuja

finalidade maior o ensino, pesquisa e extenso por se tratar de uma Instituio

Federal de Ensino Superior (IFES) no ter como foco as atividades acadmicas.

Esta pesquisa tem interesse em poder identificar a responsabilidade no exerccio da

funo dos gestores pblicos, que aqui esto representados pelos diretores das

Unidades Acadmicas (UA) e da Prefeitura da Cidade Universitria (PCU), na

conduo de suas atividades administrativas para a implantao de polticas

ambientais.

Entretanto, vale ressaltar aqui que existe uma variedade de trabalhos

acadmicos que propem diretrizes e aes para uma universidade sustentvel,

enfatizando as bases para se alcanar tal objetivo. No entanto, como mostram

alguns destes trabalhos, tais linhas de ao passam necessariamente por sua

estrutura organizacional, pelo planejamento institucional, pela gesto operacional e,

logicamente, pela formao acadmica, como revela Oliveira (2009). Isso retrata a

ampliao das possibilidades de interao acadmico-administrativa e

interdisciplinar deste estudo.

Este trabalho tem como objeto de pesquisa a Coleta Seletiva Solidria na

UFPA5. Visa analisar como se deu o processo de implantao, enfocando aspectos

dos procedimentos administrativos. Assim, vislumbra-se a possibilidade de anlise

da eficcia de tal poltica na instituio, para atender s necessidades pleiteadas

pela categoria dos catadores com relao poltica em questo.

A implantao de tal poltica na UFPA constitui um avano para a criao de

uma nova cultura institucional. O exerccio dos conceitos da solidariedade e da

cidadania atravs da correta destinao dos resduos pode ser capaz de levar aos

seus servidores adoo de novos hbitos e valores. um grande desafio que

implica diminuir as desigualdades sociais e que est literalmente nas mos de

507.770 servidores pblicos federais em todo o Brasil (BRASIL, 2010c, p. 49).

Esse esforo coletivo de destinar resduos reciclveis ou materiais

reciclveis pode resultar em incluso social com gerao de renda s associaes

e cooperativas de catadores e, consequentemente, na diminuio da situao de

5 Quando aparecer no texto deste trabalho a denominao Coleta Seletiva Solidria estar se referindo ao programa. Quando aparecer coleta seletiva, estar se referindo ao tipo de coleta de dentro do sistema de gesto de resduos slidos.

19

extrema pobreza que assola essa populao. J para os servidores da UFPA, esse

gesto pode significar a aquisio de um bem coletivo, envolvendo um sentimento de

pertencer a uma organizao que est em dia com o seu compromisso com a

sociedade.

Portanto, conhecer sobre o que pensa uma parcela da comunidade

universitria por meio dos dirigentes da Administrao Intermediria (AI) da UFPA

representada pelos diretores, coordenadores e dos funcionrios dos servios gerais

dos institutos justifica-se como proposta de pesquisa para a sua melhoria e

consolidao. Sendo assim, pretende-se conhecer o processo de implantao do

Programa Coleta Seletiva Solidria na UFPA, objetivo principal deste estudo.

A partir da espera-se obter subsdios, por intermdio da descrio do

ambiente institucional e da teoria da ao coletiva, para contribuir na motivao e

ampliao da participao da comunidade universitria, na implantao desta forma

inovadora de gesto de resduos, uma vez que inclui social e economicamente os

catadores. Alm disso, vislumbra-se, tambm, poder adicionar novos elementos

Gesto Ambiental na Administrao Pblica.

Para tanto, espera-se obter um perfil dos agentes responsveis pela

implantao do novo modelo de gesto de resduos na UFPA; conhecer as

principais estratgias adotadas pelos executores da Coleta Seletiva Solidaria desde

o diagnstico at a implantao; identificar os procedimentos administrativos

tomados pelos gestores da PCU e das UA para fortalecer o processo de separao

dos materiais e analisar o envolvimento dos gestores no processo aps a

implantao da Coleta Seletiva Solidria.

Para isso, fez-se necessrio levantar as seguintes questes:

Quais entraves institucionais so verificados na dinmica da implantao da

Coleta Seletiva Solidria? Que incentivos so oferecidos aos gestores para a

construo de um novo modelo de gesto de resduos na UFPA? E quais os

resultados da implantao de um novo modelo de gesto de resduos slidos na

UFPA? Tais questes foram naturalmente formuladas a partir de dois pressupostos

que resultaram de fatos extrados de acontecimentos que suscitaram o objeto da

pesquisa:

a) Entraves institucionais traduzidos por dificuldades administrativas que se

referem ausncia de instrumentos jurdicos e operacionais advindos da falta de

pessoal qualificado para o exerccio de atividades especficas no Programa podem

20

vir a ser um dos motivos para o baixo envolvimento da comunidade no processo de

implantao da Coleta Seletiva Solidria na UFPA;

b) A falta de incentivos financeiros para as campanhas permanentes e

compra de equipamentos para a separao dos materiais gera pouca motivao

maioria dos gestores, e aos servidores de uma maneira geral a agirem de forma a

cooperar na separao dos materiais reciclveis. Mas, paralelo a isso, existem focos

de um movimento contrrio ao descrito acima que, dentre outras motivaes,

parecem ser incentivados pelo sentimento de pertencer UFPA;

c) A implantao do novo modelo de gesto de resduos na UFPA, por meio

do Programa Coleta Seletiva Solidria ainda no atingiu um patamar traduzido por

resultados mais significativos que, no entanto podem ser ampliados se houver o

interesse por parte dos tomadores de deciso em criarem mecanismos que dem

sustentao ao programa.

Finalmente, que os resultados deste trabalho, possam gerar uma reflexo

principalmente nos gestores pblicos. Que outras iniciativas mais especficas

venham a incentivar o engajamento da sociedade como parceira das cooperativas

de catadores como est previsto no Programa Coleta Seletiva Solidria.

No segundo captulo, abordam-se os conceitos que embasam esta pesquisa,

focalizando os fundamentos tericos que serviram de pano de fundo. No captulo

seguinte, encontram-se as abordagens e procedimentos metodolgicos com as

descries das etapas da pesquisa.

A seguir, no quarto captulo, esto as anlises das observaes da pesquisa

documental e dos contedos obtidos nas entrevistas. Esto tambm as discusses

dos resultados desta pesquisa. A partir das falas dos atores envolvidos, busca-se

analisar o processo de implantao da Coleta Seletiva Solidria na UFPA.

E, concluindo, so apresentadas, no quinto captulo, as principais limitaes

terico-metodolgicas e sugestes para outros estudos. Fazem-se as consideraes

a respeito dos resultados encontrados bem como algumas propostas que sugerem

novos caminhos para a conduo do processo.

21

1.1 A PARTICIPAO DA SOCIEDADE NAS POLTICAS AMBIENTAIS: OS

CATADORES DE MATERIAIS RECICLVEIS ORGANIZADOS

O crescimento da demanda em torno da efetivao de direitos passa a ser

vivenciado nos anos de 1980, quando o Estado comea a compartilhar esta

responsabilidade com a sociedade civil. Deste modo, as polticas pblicas deixam de

ser caracterizadas pela subordinao do indivduo e organizaes ao Estado, para o

serem pela coordenao de aes privadas e estatais sob a orientao do Estado

(ESTIGARA, 2007). uma inovao.

Assim sendo, o Estado no o nico responsvel pela formulao e

execuo das polticas na esfera pblica. Estigara (2007) refora que o

desenvolvimento sustentvel, fortemente evidenciado, uma vez que a demanda de

uma cooperao ocorre em nvel global. Esta concepo de polticas pblicas,

permeada pelos conceitos de Democracia Participativa ou Dialgica, Cooperao,

Solidariedade abrangida pela Agenda 21, a partir dos vrios atores por ela eleitos

para o fomento e a promoo do desenvolvimento sustentvel.

Para Jacobi (2006), a preocupao com o desenvolvimento sustentvel

representa a possibilidade de garantir mudanas sociopolticas que no

comprometam os sistemas ecolgicos e sociais nos quais se sustentam as

comunidades. Tal modelo coloca a questo dos alcances e limites das aes,

reduo dos impactos, dos danos na vida urbana cotidiana e as respostas baseadas

em solues que rompem um crculo vicioso do modus operandi e destacam

iniciativas que promovem um circulo virtuoso na gesto de polticas pblicas.

Entre as vrias formas de parcerias, este trabalho enfatiza a poltica pblica

de gesto integrada e compartilhada de resduos slidos, destacando o programa

implementado pelo governo federal que beneficia os catadores de todos os

municpios brasileiros. Tal poltica mostra-se como um desafio e ao mesmo tempo

como uma maneira inovadora de gesto por estar baseada no trip cooperao,

solidariedade e participao.

A criao dos fruns Lixo e Cidadania uma inovao institucional. Eles

operaram contribuindo para novas formas de gesto de resduos slidos nos mbito

nacional, estadual e municipal, incorporando os princpios fundamentais dos Direitos

Humanos e da Agenda 21. Para uma atuao mais ampla, foi criado em 1998 o

22

Frum Nacional Lixo & Cidadania, formado por organizaes governamentais, e no

governamentais (ONG), entidades tcnicas e religiosas.

O Frum Nacional Lixo & Cidadania atua em reas relacionadas gesto do

lixo urbano e na rea social. Os objetivos so a erradicao do trabalho infanto-

juvenil nos lixes, propiciando a incluso social com cidadania, a gerao de renda

para as famlias dos catadores, prioritariamente na coleta seletiva, e a mudana

radical da destinao final de lixo, acabando definitivamente com os lixes no Brasil

(FUNDO DAS NAES UNIDAS PARA A INFNCIA UNICEF, 2001).

A constituio do Comit Interministerial para a Incluso Social dos Catadores

de Materiais Reciclveis (CIISC),6 a assinatura dos Decretos 5.940 de 25 de outubro

de 2006 (BRASIL, 2006) e 6.087 de 20 de abril de 2007 (BRASIL, 2007a), da Lei n

11.445 de 10 de maro de 2007 (BRASIL, 2007b), mais recentemente, da Lei n

12.305 de 2 de agosto de 2010 (BRASIL, 2010b) e do Decreto 7.404 de 23 de

dezembro de 2010 (BRASIL, 2010a) so exemplos de formalizao de polticas

pblicas que tm o desafio de contribuir para a incluso social e econmica das

classes menos favorecidas.

O CIISC foi criado em 11 de setembro de 2003 para a articulao e apoio

entre os rgos federais e as organizaes de catadores em todos os estados da

federao. Visa, sobretudo, emancipao socioeconmica desses trabalhadores.

coordenado pelo Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome (MDS)

e Ministrio das Cidades (MC). formado por 15 rgos do governo federal, por

parceiros do Programa Fome Zero e por Organizaes No-Governamentais e

entidades do setor da reciclagem.

V-se, portanto, uma sociedade passando de atitudes passivas, exigindo

compartilhar com o Estado e outros atores na promoo das polticas pblicas, o

que prprio da Democracia Participativa ou Dialgica.

6

De acordo com as respostas aos questionamentos feitos ao CIISC por intermdio de e-mail recebido em 02/09/2011 a denominao do comit passou a ser Comit Interministerial para a Incluso Social e Econmica dos Catadores de Materiais Reutilizveis e Reciclveis, mantendo a mesma sigla CIISC. Tal alterao foi feita atravs do Decreto 7.405/10. Foi informado tambm que o CIISC teve suas atribuies ampliadas principalmente no que se refere regulamentao do Programa Pr-Catador e ao apoio da incluso dos catadores na implementao da Poltica Nacional de Resduos Slidos PNRS (BRASIL, 2010a, 2010b).

23

1.2 A COLETA SELETIVA: DAS PRIMEIRAS INICIATIVAS COLETA SELETIVA

SOLIDRIA E A POLTICA NACIONAL DE RESDUOS SLIDOS (PNRS)

So cada vez maiores os problemas gerados pela grande produo dos

resduos slidos urbanos no Brasil, decorrentes do crescimento populacional e da

crescente urbanizao e industrializao nas cidades. De acordo com Gonalves

(2003), a produo dos resduos inexorvel, no entanto, podemos reduzir sua

produo reutilizando sempre que possvel os materiais reciclveis.

As administraes pblicas nas cidades brasileiras enfrentam dificuldades no

quesito gerenciamento dos resduos slidos urbanos descartados pela populao.

Este fato agrava-se com o aumento da populao nos centros urbanos, associado a

uma produo e consumo crescente de resduos que hoje chegam a patamares

insustentveis.

Esta assertiva encontra respaldo em Besen (2006), quando se referem ao

crescimento da populao associado intensa urbanizao e expanso do

consumo de novas tecnologias acarretando a produo de imensas quantidades de

resduos.

Como afirma Viveiros (2006), aes municipais que buscam resolv-los

encontram uma srie de obstculos, dentre eles, a insuficincia de recursos

financeiros. Na esfera tcnica, a alegao gira em torno da relao custo/benefcio

das alternativas existentes para a minimizao, destinao final e tratamento dos

resduos, da sua adaptao e adequao realidade local, e da formao

profissional no quadro do funcionalismo pblico. No campo poltico, alm do assunto

no ser priorizado pelas administraes, a questo agrava-se pela presso exercida

por parte das empresas de limpeza pblica.

A resoluo de tais problemas no passa por solues isoladas e sim por um

gerenciamento integrado desses resduos, em que se inclua a Coleta Seletiva.

Vilhena (1999, p. 6) define Coleta Seletiva como um sistema de recolhimento de

24

materiais reciclveis,7 tais como papis, plsticos, vidros, metais e orgnicos,

previamente separados na fonte geradora.

A Coleta Seletiva de materiais que podem ser reaproveitveis ou reciclveis,

deixando, portanto, de ir para os aterros, apontada unanimemente como um pilar

importante na gesto adequada dos resduos slidos urbanos. No entanto, ela

ameaada pela sua fraqueza institucional, enquanto poltica pblica, que se reflete

no seu ndice de sustentabilidade apenas mdio (VIVEIROS, 2006).

A Coleta Seletiva no Brasil surgiu primeiramente, de forma sistemtica, no

Municpio de Niteri, no bairro So Francisco, em 1985 (CALDERONI, 2003a).

Voltada para as questes ambientais e sociais, com a gerao de emprego, no se

inseria numa perspectiva de gesto integrada de resduos, quela poca. Sendo

mais tarde levada para Curitiba, Porto Alegre e outras cidades.

Mas, a Coleta Seletiva com o envolvimento de organizaes pblicas, s

surgiu no Brasil, conforme Viveiros (2006), de uma experincia pioneira na cidade de

So Paulo, no incio da dcada de 1990, com o programa de reciclagem na gesto

de Luiza Herundina (1989-1992). Estudos dessa e de outras iniciativas j extintas e

em andamento revelaram uma srie de entraves que dificultaram a viabilizao, a

continuidade e o bom andamento dos projetos.

Autores como Neder (1998), Grimberg e Blauth (1998), baseados em

experincias de So Paulo (SP), Santos (SP), Curitiba (PR), Porto Alegre (RS) e

Florianpolis (SC), fazem uma srie de advertncias com relao implantao de

projetos de Coleta Seletiva, em Viveiros (2006).

Como aparece em Viveiros (2006), Neder (1998), por exemplo, faz trs

recomendaes. A primeira para que antes de tudo, haja um estudo sobre o

custo/benefcio do projeto de Coleta Seletiva. Para tanto, sugere que seja realizado

um estudo de viabilidade econmica. A segunda que deva ser feita uma anlise de

mercado, para que os materiais reciclveis sejam vendidos. A terceira

recomendao que sejam desenvolvidas aes educativas para a populao.

Grimberg e Blauth (1998) tambm sugerem um estudo detalhado e um planejamento

prvio sobre a destinao dos materiais reciclveis antes de se iniciar a separao.

7 Estes materiais sero levados para a reciclagem pelas indstrias recicladoras, onde voltaro ao incio do ciclo produtivo. De acordo com Sebatai Calderoni (GONALVES, 2003), o Japo o pas lder em reciclagem no mundo.

25

Sobre a terceira recomendao, Neder (1998) comenta que,

determinados locais so totalmente inapropriados para a implantao de projeto de coleta seletiva [...] ou por sua distncia do mercado consumidor, ou dada a escala que o projeto venha atingir, ou pelo custo de implantao diante da arrecadao municipal etc (p. 181).

Vieira (2004), em seu estudo sobre o fenmeno da reciclagem no municpio

de Belm, Estado do Par, afirma que a compreenso do funcionamento deste

sistema torna-se necessria no mbito das cidades, pois pode influenciar questes

sociais, econmicas, ambientais, polticas e sanitrias.

Com a Conferncia das Naes Unidas para o Meio Ambiente e

Desenvolvimento (CNUMAD), ou ECO 92, a Coleta Seletiva ganhou repercusso

nacional, onde esteve presente em vrios momentos durante o evento. Desde ento,

a fora das polticas pblicas e das parcerias no contexto do desenvolvimento e

incluso social vem mudando a vida dos catadores de materiais reciclveis.

Com o advento da Lei Federal que institui a Coleta Seletiva Solidria

(BRASIL, 2006) e, com a aprovao da PNRS surge a possibilidade de apoio nos

trs nveis de governo. Esse apoio refere-se elaborao de projetos de gesto

participativa e democrtica para gerar oportunidade de trabalho e renda em

benefcio das associaes e cooperativas de catadores de materiais reciclveis. Tais

projetos devero possuir o componente educativo para trabalhar a conscientizao

da populao na separao dos materiais destinados s cooperativas e na

organizao dos catadores informais das ruas e dos lixes em associaes e

cooperativas de catadores.

As medidas nele contidas devero ser atendidas a fim de viabilizar a coleta

dos materiais reciclveis com destinao s associaes e cooperativas de

catadores. Sabe-se que em alguns rgos tais medidas no esto sendo atendidas,

a no ser parcialmente.

Cerca de 507.770 servidores pblicos federais ativos (BRASIL, 2010c, p. 49)

em mais de 10.000 prdios pblicos, presentes em torno de 1.400 municpios dos

5.565 devem destinar os diversos tipos de materiais reciclveis (jornais,

envelopes, revistas, materiais de reformas e de construo, plstico e outros

materiais inservveis), gerados no dia a dia das reparties pblicas, para as

organizaes de catadores do seu municpio.

26

Em 2000, a Pesquisa Nacional de Saneamento Bsico (PNSB) realizada pelo

Instituto de Geografia e Estatstica (IBGE), apontou para 24.340 catadores no Brasil.

No Par, de acordo com Martins (2007), ainda no existe um levantamento oficial do

nmero de catadores. No entanto, segundo o mesmo autor, a Critas do Brasil8

iniciou uma pesquisa9 na qual, somente em Belm chegou a estimar a existncia de

cerca de 1.000 catadores, em Bragana 150, Paragominas 100, Abaetetuba 60 e

Igarap-Miri 70. Estes nmeros demonstram a importncia do engajamento dos

rgos pblicos federais, estaduais e municipais abrindo espao para as inovaes

tcnicas, administrativas e de participao da sociedade na gesto de resduos

slidos.

Para o cumprimento da lei que institui a separao dos materiais reciclveis

nos rgos pblicos federais, com destinao aos catadores, se faz necessrio o

cumprimento de procedimentos administrativos que envolvem entre outros, a

tomada de deciso. Para tanto, o interesse do gestor pblico e a existncia de

recursos humanos com um certo grau de envolvimento devem ser considerados.

Alm da razo central desta pesquisa que a de poder conhecer o processo

de implantao do Programa Coleta Seletiva Solidria na UFPA, os resultados

podero contribuir na motivao para a ampliao da implantao desta forma

inovadora de gesto de resduos, uma vez que inclui social e economicamente os

catadores. Com as abordagens institucionais e de ao coletiva, este estudo

pretende contribuir com a Gesto Ambiental na Administrao Pblica.

Os resultados podem vir a estimular a prtica da Coleta Seletiva Solidria a

outros campi da UFPA. Caso isso ocorra, estaro sendo beneficiadas as

cooperativas e associaes de catadores dos municpios nos quais a UFPA est

inserida. Poder tambm servir de incentivo aos gestores do interior do Estado a

engajarem-se como parceiros deste programa como est previsto no Programa

Coleta Seletiva Solidria.

8 A Critas Brasileira faz parte da Rede Critas Internationalis, rede da Igreja Catlica de atuao social composta por 162 organizaes presentes em 200 pases e territrios, com sede em Roma. Organismo da Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) (CRITAS BRASILEIRAS, 2010).

9 Ainda segundo Martins (2007), a pesquisa encontrava-se em fase de elaborao e a inteno da

Critas era estender para todo o Estado.

27

Por sua natureza integradora, vem possibilitar a construo de uma nova

cultura institucional inserida em um novo modelo de gesto de resduos para os

rgos pblicos nos trs nveis de governo, baseado nos princpios dos 3R

REDUO, REUTILIZAO e RECICLAGEM como estabelece o CIISC e a

Agenda Ambiental da Administrao Pblica (A3P).

No entanto, Gonalves (2003) revela que parte dos materiais reciclveis

desperdiada pela inexistncia de regras para o tratamento de cerca de 150 mil

toneladas de resduos slidos produzidos diariamente nos 5.654 municpios

brasileiros, segundo Pesquisa de Informaes Municipais (IBGE, 2008). Destes,

apenas 405, em 2008, realizavam a coleta seletiva10.

Porm, apenas nas capitais brasileiras, 26% de todo o resduo slido

depositado de forma inadequada em lixes; das cidades com mais de 50.000

habitantes, 73% depositam seus dejetos em lixes (FUNDO DAS NAES

UNIDAS PARA A INFNCIA UNICEF, 2001). Nestes locais, a presena de

catadores de lixo vivendo em condies subumanas uma das principais

caractersticas.

Agora, com a recente aprovao da PNRS por meio da Lei n 12.305, de 2 de

agosto de 2010 (BRASIL, 2010b), a Coleta Seletiva ganha fora de lei e, como tal,

ter de ser instituda pelas prefeituras municipais de todas as cidades brasileiras. O

Quadro 01 mostra a distribuio dos programas de Coleta Seletiva em 451

municpios brasileiros.

10

Dados de acordo com os Indicadores de Desenvolvimento Sustentvel (IDS) obtidos pelo IBGE (BRASIL, 2010c) atravs de Pesquisa Nacional de Saneamento Bsico.

28

Quadro 01 Total de municpios brasileiros que dispem da Coleta Seletiva distribudos em

18 Estados da Federao.

ESTADOS N de municpios

Rondnia 1 Paraba 1 Pernambuco 9 Bahia 2 Cear 2 Rio Grande do Norte 2 Alagoas 1 Minas Gerais 37 Esprito Santo 7 Rio de Janeiro 14 So Paulo 82 Paran 73 Santa Catarina 1 Rio Grande do Sul 138 Mato Grosso do Sul 5 Mato Grasso 1 Gois 2 Distrito Federal 1 TOTAL 451

Fonte: Elaborado pela autora a partir de Gonalves (2003).

A PNRS prev, dentre outros, a proibio da criao de novos lixes, nos

quais os resduos so jogados a cu aberto, a criao por parte das prefeituras

municipais de aterros sanitrios ambientalmente adequados, onde s podero ser

depositados os resduos slidos sem qualquer possibilidade de reaproveitamento ou

compostagem. Tambm ser proibida a catao de qualquer tipo de material, morar

ou criar animais em aterros sanitrios. Probe-se tambm a importao de resduos.

Com 58 artigos, a PNRS possui carter inovador ao apresentar em seu texto

a logstica reversa, que significa a obrigatoriedade por parte de fabricantes,

importadores, distribuidores e vendedores a realizarem o recolhimento de

embalagens usadas11.

Outra novidade a responsabilidade compartilhada a qual envolve no

apenas o poder pblico nas trs esferas, mas as empresas e a sociedade como um

todo. Nesta responsabilidade foram includas as cooperativas que sero

incentivadas pelo poder pblico.

11 Foram includos nesse sistema, agrotxicos, pilhas e baterias, pneus, leos lubrificantes

e eletrodomsticos.

29

Em 2003, atendendo s antigas demandas dos catadores, o governo federal

criou o CIISC, coordenado pelos Ministrios de Desenvolvimento Social e Combate

Fome (MDS) e das Cidades (MC), para articular as aes dos rgos pblicos

federais e viabilizar apoio s organizaes de catadores em todo o pas, visando

emancipao social e financeira desses trabalhadores (BRASIL, [200-?]).

Tais aes devem ser parte integrante de projetos que devero possuir um

forte componente educativo para trabalhar a conscientizao da comunidade

universitria. A Educao para a Sustentabilidade vem estimular uma mudana de

valores, de prticas e de atitudes e, portanto, a sua participao permanente na

campanha. Ser um instrumento importante para a separao dos materiais

destinados s cooperativas e na organizao dos catadores informais das ruas e

dos lixes em associaes e cooperativas de catadores o xito da pesquisa.

Tal forma de educao constitui-se nesta pesquisa em fator-chave para a

viabilizao do sistema de coleta seletiva, quando est apoiada em Dias (2004),

Sachs (2008) e Veiga (2008), sobretudo quando cita Amartya Sen (2000). Neste

contexto, tais projetos sero promissores para a incluso social, seu objetivo

principal.

1.3 CONSTRUINDO ALIANAS: AS INSTITUIES FEDERAIS DE ENSINO

SUPERIOR (IFES) COMO ELOS DE UMA CORRENTE SOLIDRIA

SUSTENTVEL

Conceitos e prticas de desenvolvimento acrescidos dos qualificativos local,

integrado e sustentvel voltaram cena no Brasil (FISCHER, 2002, p. 1). Para

compor essa nova ordem social, os rgos pblicos federais da administrao direta

e indireta so chamados a possibilitar a participao da sociedade no processo de

tomada de deciso, em diversos aspectos das organizaes.

Em Di Pietro (1999), aparece que a responsabilidade de fazer funcionar o

Estado foi atribuda aos entes pblicos (p. 422), em que so definidos como

conjunto de rgos e de pessoas jurdicas aos quais a lei atribui o exerccio da

funo administrativa do Estado (p. 423). Sobre o conceito de Administrao

Pblica, Meireles (2007) participa da mesma opinio. Para ele, todos os rgos do

30

Estado devem estar estruturados para a realizao de seus servios visando

satisfao das demandas sociais.

Como se afirmou anteriormente, a gesto ambiental em instituies pblicas

vem sendo gradativamente incrementada pelos gestores pblicos detentores de uma

viso ampliada e de um esprito inovador. Muitas vezes, tal insero inicia-se pela

gesto dos resduos slidos, principalmente com a implantao da coleta seletiva.

Algumas universidades brasileiras j vm desenvolvendo estudos sobre resduos

slidos gerados na prpria instituio e, em algumas delas, com a implantao da

Coleta Seletiva como o caso da Universidade Estadual de Feira de Santana

(UEFS), instituio considerada como referncia nesse estudo.

Com a instituio da Coleta Seletiva Solidria, esse nmero s tende a

aumentar, aumentando tambm a responsabilidade dessas instituies em criarem

programas voltados para a pesquisa e extenso.

Desta forma, as Instituies Federais de Ensino Superior (IFES), em um total

de 59 universidades distribudas nas cinco regies brasileiras (informao verbal)12,

desempenham nos dias de hoje um importante papel no funcionamento e

desenvolvimento do Estado. Estando referendado em todas as instncias

superiores, resta o cumprimento das determinaes do programa Coleta Seletiva

Solidria por parte dos gestores das IFES, em particular, imbudos dos princpios

que norteiam a Administrao Pblica para que os avanos esperados venham a

acontecer.

As caractersticas da gesto pblica e a atuao administrativa conferida s

IFES esto subordinadas aos princpios que regem a Administrao Pblica

Brasileira, como est no artigo 37 da Constituio de 1988, em que determina que a

A administrao pblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Unio, dos

Estados, do Distrito Federal e dos Municpios obedecer aos princpios da

legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidades e eficincia (BRASIL, 1999a).

Vale ressaltar que o princpio da eficincia foi introduzido no artigo 37 da

Constituio de 1888 por meio da Emenda Constitucional 19/89 para propiciar ao

administrador pblico, melhores resultados com poucos recursos, segundo Silva

(2001).

12 Nair Rbia N. Baptista - Assessora de Comunicao - Secretaria de Educao Superior

- Ministrio da Educao. Por telefone em 12/05/2011.

31

De acordo com Rua (2004), esses princpios resultam do fato de que o

servio pblico possui um forte compromisso para com a sociedade democrtica.

Esse compromisso avanou para alm conferindo ao prprio Estado e s

organizaes que o compem, onde a ideia de que existem para servir sociedade,

para atender s necessidades e demandas dos cidados. A autora complementa,

colocando o cidado como detentor de direitos fundamentais que justificam a prpria

existncia do Estado e de suas organizaes.

Pode-se concluir, a partir das anlises de Meireles (2007) e de Di Pietro

(1999), que a funo da administrao pblica atender todas as pessoas que

habitam o territrio brasileiro, indistintamente. Neste contexto, a nova cidadania a

estabelecida caracterizada pelo direito aliado capacidade de participar da

formulao e execuo das leis, interferindo, assim, na gesto governamental.

Nesse particular, o gestor pblico reveste-se de um papel estratgico na promoo

da mudana dos padres e de produo, sobretudo no que se refere ao presente

estudo, quanto insero de critrios socioambientais.

A legislao que envolve a implantao da Coleta Seletiva Solidria inserida

neste cenrio, no que concerne ao caso da Universidade Federal do Par (UFPA).

Na gama de atividades que envolveram seu planejamento, outras decises

precisaram ser tomadas e conduzidas distantes da arena de formulao que deu

origem poltica. Para tanto, de suma importncia que se tenha um conhecimento

prvio dos problemas que demandaram as polticas macro para que sejam evitadas

concepes errneas, como afirma Rua (2004).

Nesse sentido, normas administrativas vm recomendando, determinando e

instituindo prticas visando adoo de polticas ambientais que levem em

considerao o trip bsico da sustentabilidade, preconizado no Relatrio de

Brundtland13. Tais polticas encontram-se desde a aquisio de bens e de materiais

de consumo implantao de uma coleta de resduos de maneira seletiva.

13

Foi como ficou conhecido o Relatrio Nosso Futuro Comum, produzido em 1987 pela Comisso Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) da Organizao das Naes Unidas (ONU). Teve como uma de suas principais recomendaes a realizao de uma conferncia mundial para direcionar os assuntos ambientais o que culminou com a Rio-92. Nesse relatrio foi cunhada a clssica definio de desenvolvimento sustentvel: o desenvolvimento que atende s necessidades das geraes atuais sem comprometer a capacidade de as futuras geraes terem suas prprias necessidades atendidas. O documento ficou conhecido pelo nome de Relatrio

32

Na UFPA, o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI)

o principal documento orientativo da atual administrao e, na sua concepo, traduz o sentimento e a percepo dos principais desafios do momento presente [...] Ele traa os caminhos que orientaro a Administrao Superior e os demais dirigentes da Instituio na persecuo das metas delineadas, auxiliando a tomada de decises, referenciando a avaliao e contribuindo para que as prioridades eleitas sejam perseguidas e contempladas. Em sntese, buscada a elevao do nvel de desempenho da UFPA, em face dos seus compromissos sociais mais significativos (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAR, 2003, p. 22).

Com relao aos atos administrativos governamentais como os determinados

no Decreto 5.940, de 25 de outubro de 2006, qualquer deciso na gesto pblica

requer a participao dos grupos de interesse na sociedade. Ele envolve e integra

aspectos ambientais, sociais, econmicos e institucionais. resultado de uma

parceria entre o Governo Federal, instituies da sociedade civil e os catadores.

Representa uma importante referncia de combate pobreza e se insere em uma

poltica mais abrangente de responsabilidade socioambiental. Tal iniciativa tem o

alcance e a complexidade que marca da gesto de resduos slidos, pois pontua a

gerao de emprego e renda e aspectos importantes sobre questes de cidadania.

No entanto, para que uma lei saia do papel e seja cumprida torna-se

necessrio o poder de deciso da administrao superior e, em seguida, do

empenho do setor ou setores responsveis pela execuo.

Tais proposies envolvendo o servidor pblico, na condio de gestor sobre

decises de implantar polticas pblicas, encontram respaldo em Rua (1999, p. 248)

que argumenta ser a deciso um amontoado de intenes sobre a soluo de um

problema, expressas na forma de determinaes legais. No entanto, a deciso no

garante que a demanda que deu origem ao processo seja efetivamente atendida

(RUA, 1999, p. 249).

pela socializao das normas institucionais que os indivduos so levados a

desempenhar papis especficos e internalizar as normas associadas a esses

papis, sendo esse o modo pelo qual se concebe a influncia das instituies sobre

o comportamento. Poderamos designar essa concepo como dimenso

normativa do impacto das instituies (HALL; TAYLOR, 2003).

Brundtland, j que a Comisso era presidida por Gro Harlem Brundtland, ento primeira-ministra da Noruega.

33

Rua (1999, p. 246) esclarece que as decises estruturantes so aquelas que

estabelecem os rumos bsicos das polticas em geral e proporcionam o contexto

para as decises incrementais. Continuando, completa: estas envolvem anlises

mais detalhadas de alternativas especficas que dizem respeito s aes

necessrias para que uma poltica saia do papel e funcione efetivamente.

Para compor essa nova ordem social, os rgos pblicos federais da

administrao direta e indireta so chamados a possibilitar a participao da

sociedade no processo de tomada de deciso, em diversos aspectos das

organizaes. Nesta pesquisa, fazem parte deste contexto as cooperativas de

materiais reciclveis contempladas por meio de edital, os funcionrios da empresa

terceirizada e da comunidade universitria, situada na pessoa dos dirigentes e

tcnicos da Prefeitura o das Unidades Acadmicas da UFPA.

O carter obrigatrio do decreto, no que tange destinao do material

reciclvel produzido pelos rgos pblicos s cooperativas, dever se reverter no

apenas de implementao de polticas ambientais. Os gestores e demais servidores

pblicos, por sua vez, imbudos do seu papel na administrao pblica e da

abordagem institucionalista, devem para fazer cumprir as determinaes

governamentais que, segundo Hall e Taylor (2003, p. 198), fornecem modelos

morais e cognitivos que permitem a interpretao e a ao.

Tal abordagem institucionalista tambm pode ser entendida quando no h

empenho ou vontade por parte do gestor, ou em situao em que h pouca ou

nenhuma atividade desenvolvida com relao implementao de polticas

ambientais. Essa situao pode ser explicada pelo que Hall e Taylor denominaram

de ausncia de arranjos institucionais, como foi anteriormente mencionado.

34

2 A TEORIA INSTITUCIONAL E A LGICA DA AO COLETIVA

O desenvolvimento deste captulo traz uma significativa influncia de Esteves

(2009). Tal influncia se deve abordagem dada pela autora aos aspectos

referentes s Prticas Administrativas nas Organizaes com relao s Teorias da

Reforma Administrativa do Estado Brasileiro, enfatizada, dentre outros, por Lus

Carlos Bresser-Pereira.

A contextualizao da Gesto Pblica com relao implantao de aspectos

ambientais, com nfase aos resduos slidos, tambm ser abordada neste captulo.

Apresenta tambm, como base, a transversalidade do referido tema com a Teoria

Neoinstitucionalista descrita por Hall e Taylor (2003). Por fim, faz uma exposio

analtica das abordagens tericas da Ao Coletiva de Mancur Olson para a

produo de um Bem Pblico e da teoria desenvolvida por Elinor Ostrom, em razo

de sua concepo de uso comum e as decises coletivas de cooperao e

confiana.

2.1 A ADMINISTRAO PBLICA BRASILEIRA E AS POLTICAS AMBIENTAIS

A preocupao com o meio ambiente est presente na agenda pblica

brasileira desde a dcada iniciada em 1960. No entanto, foi com certo retardo que as

polticas ambientais proativas, prticas administrativas de natureza sustentveis ou

ainda, a gesto ambiental, foram implementadas no Brasil (ESTEVES, 2009).

Tal retardo foi em virtude do processo de reestruturao administrativa pelo

qual o pas passava com vistas a tornar a administrao pblica mais eficaz e

eficiente em suas aes. Como resultado, foi adotada uma estrutura de Estado

Mnimo em resposta a baixa taxa de crescimento econmico, elevadas taxas de

desemprego e inflao que caracterizou a dcada iniciada em 1980 (BRESSER-

PEREIRA, 1997a).

O Estado passava da administrao burocrtica para uma nova viso

administrativa denominada Administrao Pblica Gerencial, que tinha como

princpio bsico, a aproximao entre Estado e o cidado resgatando assim, a

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legitimidade dos rgos pblicos perante a sociedade como instncia responsvel

pela manuteno do bem-estar social e pelo desenvolvimento autossustentado do

pas (BRESSER-PEREIRA, 1997a; 1997b).

No entanto, foi a partir da Agenda 21, originada da Conferncia das Naes

Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), Rio 92 ou Eco-92

celebrada no Rio de Janeiro em 1992, atendendo ao Captulo 4 que aconselha os

pases estabelecerem programas voltados observncia de padres de produo e

consumo que o Brasil elaborou, com a participao da sociedade civil, a Agenda

21 Brasileira. Isto se d em 2004 quando efetivamente so inseridos ao Plano

Plurianual (PPA) 2004/2007 os princpios do desenvolvimento sustentvel,

notadamente, da proteo ambiental, justia social e eficincia econmica e polticas

ambientais, aos procedimentos administrativos do Estado, aumentando assim a

gerncia pela reforma administrativa ou governana (ESTEVES, 2009).

A governana assumida pelo Estado aqui entendida, de acordo com o

conceito de Bresser-Pereira (1997a, p. 7), como sendo a capacidade financeira e

administrativa que o governo deve ter para transformar em realidade as decises

que toma lhe confere uma transversalidade em que a sociedade chamada a

compartilhar dos desafios referentes governabilidade do Estado. Nesse particular,

Bresser-Pereira (1997a, p. 7), define como a capacidade poltica do governo para

intermediar interesses, garantir a legitimidade e governar.

No contexto global, Duarte e Cadernartori (2008, p. 7612) colocam que a nova

Administrao Pblica abandona o seu papel de simples executor, passando a ter

mais autonomia atravs de acordos e atos unilaterais com diversos grupos sociais.

Neste modelo gerencial de Estado, ao contrrio do anterior, os modelos

transcendem aos propostos por Hegel e Max Weber, uma vez que d um salto de

qualidade governabilidade. Passa e existir um efetivo controle e participao sobre

as atividades do Estado o que parece ser um avano no regime de democracia

representativa e desta para uma democracia participativa.

Bresser-Pereira (2005) assevera que o Estado instituio fundamental para

o desenvolvimento nacional. No entanto, condiciona esse desenvolvimento quando

ele capaz de estimular o investimento em capital fsico e humano, e o progresso

tcnico e cientfico, mas pode ser um empecilho se, ao invs disso, suas instituies

estabelecerem o privilgio e favorecerem a captura do patrimnio pblico. o

Estado forte, em um contexto democrtico, segundo o mesmo autor.

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Costa (2008), analisando a reforma do aparelho de Estado no governo

Fernando Henrique Cardoso e demais reformas at agora, comenta que elas

dependem muito da capacidade do Estado de extrair recursos da sociedade e da

implantao de polticas, com um sistema aberto e inclusivo que permite a vigncia

de controle social efetivo agenda positiva para o Estado Brasileiro.

Desse modo, a administrao pblica exerce um papel estratgico na

promoo da mudana dos padres de consumo e de produo, sobretudo no que

se refere insero de critrios socioambientais em suas atividades administrativas.

O gestor pblico, de acordo com os parmetros legais, reveste-se assim no papel de

agente fomentador do fortalecimento das polticas pblicas para o desenvolvimento

local e regional, sobretudo no que se refere ao objeto deste estudo em particular.

Na responsabilidade de administrar os negcios do governo, o gestor pblico

exerce atividade politicamente neutra normalmente vinculada lei ou norma

tcnica e de conduta hierarquizada. No cumprimento de tarefas, implica estar

revestido dos seguintes parmetros bsicos: na traduo da misso, no

planejamento e controle, na administrao de recursos humanos, materiais,

tecnolgicos e financeiros; insero de cada unidade organizacional no foco da

organizao; e tomada de deciso diante de conflitos internos e externos

(MAXIMIANO, 2000).

Tal abertura na forma de gerenciar para a sustentabilidade no mbito do

Estado propiciou o surgimento da Agenda Ambiental na Administrao Pblica,

conhecida por A3P14. A A3P um projeto que teve incio em 1999 no Ministrio do

Meio Ambiente (MMA), e possui um papel estratgico na reviso dos padres de

produo e consumo e na adoo de novos referenciais em busca da

sustentabilidade socioambiental, no mbito da administrao pblica (BRASIL,

2007c).

A gesto ambiental em instituies pblicas vem sendo gradativamente

incrementada medida que seus gestores tomam conhecimento de sua importncia

e passam a adotar a insero de critrios socioambientais, como os preconizados

pela A3P. Geralmente, como revelou o referencial terico deste estudo, tal insero

14 Que de acordo com Jacimara Guerra, no sigla, uma logomarca, como foi registrado no 1

captulo deste trabalho.

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inicia-se pela gesto dos resduos slidos, principalmente com a implantao da

coleta seletiva.

Desta forma, estando referendado em todas as instncias superiores, resta o

cumprimento das determinaes do programa Coleta Seletiva Solidria por parte

dos gestores das IFES, em particular, imbudos dos princpios administrativos.

O desenvolvimento social e econmico de um pas est diretamente ligado ao

desempenho do Estado frente s inevitveis transformaes polticas que vm

ocorrendo no canrio mundial. Pases como o Brasil vm ganhando destaque,

provavelmente em decorrncia de um modelo de gesto mais autnomo,

transparente e inovador que est sendo adotado.

2.2 A LGICA E A CONVERGNCIA NECESSRIA PARA O ESTUDO DA

GESTO DE RESDUOS SLIDOS NA UFPA

Os estudos organizacionais tiveram sua gnese a partir de anlises variadas

decorrentes das mudanas que vinham ocorrendo desde o surgimento do

capitalismo industrial, depois da segunda metade do sculo XIX. Tericos clssicos

como Comte, Weber, Durkheim, dentre outros, buscavam explicaes para

mudanas organizacionais na sociedade daquela poca quando o processo de

industrializao era refletido no mbito do trabalho, nas relaes sociais, na

economia e na poltica (FARIAS FILHO, 2003).

Tolbert e Zucker (1998), na abordagem funcionalista, definem organizao

como um sistema que se torna eficaz quando suas metas so atingidas de forma

explcita por meio da tomada de deciso racional. Como esta pesquisa configura-se

no entendimento de um processo que se encontra em fase de consolidao, julgou-

se pertinente esse breve intrito.

Este estudo fundamenta-se nas bases tericas do neoinstitucionalismo uma

vez que surge para tentar explicar as relaes sociais inerentes ao processo de

implementao de polticas socioambientais. O neoinstitucional o prprio

institucionalismo tentando dar conta de novos desafios impostos pela interao entre

sociedade e organizaes.

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Andrews (2005) refora que as abordagens tericas do neoinstitucionalismo

tm influenciado as cincias polticas na atualidade, sobretudo nos estudos sobre

polticas pblicas. A linha terica central dessa orientao a de que as instituies

afetam o comportamento de atores sociais.

Na obra que d nfase s explicaes por mecanismos para os fenmenos

sociais de difcil entendimento, Elster (1994) define instituio como um mecanismo

de imposio de regras que governam o comportamento de grupos bem definidos de

indivduos termo que ele usa tambm quando se refere aos tomadores de deciso,

firmas ou governos por meio de sanes externas e formais.

Segundo Hall e Taylor (2003), o neoinstitucionalismo surgiu no momento em

que perspectivas comportamentais ou behavioristas, que foram importantes nos

anos de 1960 e 1970, tornaram-se insuficientes para explicar certos acontecimentos

mais recentes percebidos nas organizaes. Em decorrncia disso, variadas

discusses resultaram em novos mtodos e diferentes anlises.

Assim como no estudo de Esteves (2009), foi utilizado aqui a terminologia

Teoria Institucional15 uma vez que so complementares, sem contudo diminuir a

importncia dos desdobramentos tericos do neoinstitucionalismo.

Hall e Taylor (2003) propuseram uma classificao baseada em trs correntes

de pensamento ou mtodos de anlise: o institucionalismo histrico, o

institucionalismo da escolha racional e o institucionalismo sociolgico. O presente

estudo converge para a corrente da escolha racional, uma vez que procura dar

solues aos fenmenos institucionais pela via das instituies, valendo-se de

mecanismos que exeram controle sobre a atividade e obedincia de seus agentes.

O institucionalismo da escolha racional surgiu por ocasio dos estudos de

comportamento dos legisladores do Congresso dos Estados Unidos, nos anos de

1970. Ainda segundo as explicaes dadas por Hall e Taylor (2003), para os tericos

da escolha racional, era intrigante a estabilidade nas decises tomadas e passaram

a formular proposies para estudar o que era pra eles, uma anomalia. Trata-se de

um enfoque calculador clssico, segundo os autores, para explicar a influncia das

instituies sobre a ao individual.

15 So estudos decorrentes de mudanas ideolgicas e estruturais que vinham ocorrendo desde

o surgimento do Capitalismo Industrial, o qual trouxe transformaes sociais, polticas e econmicas. Tanto o institucionalismo quanto o neo-institucionalismo no admitem um modelo de organizao baseado em concepes racionalistas.

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Essa corrente terica busca explicar, pela via da racionalidade. Utiliza como

ponto central, o modelo do indivduo que age pela maximizao dos seus ganhos e

satisfao dos seus interesses onde a participao, neste caso, passa a ser

racional. Mancur Olson um dos principais representantes dessa corrente.

Para contrapor as interpretaes dominantes quanto ao comportamento

coletivo na dcada iniciada em 1950, Olson (1999) formulou uma tese na qual

explicava a disjuno entre a racionalidade individual e a coletiva. O seu argumento

era de que, quando indivduos de um grupo grande so racionais e que visam aos

seus prprios interesses, dificilmente conseguem agir voluntariamente com o

objetivo comum para solues cooperativas.

O estudo da ao coletiva investiga, assim, fatores que motivam grupos de

indivduos a coordenarem suas atividades para a melhoria do bem estar coletivo.

Para Olson (1999), as explicaes at ento formuladas pela Escola de

Chicago16 eram superficiais e insuficientes para explicar as motivaes que

levavam a aes coletivas. Ele no admitia que tais motivaes fossem resultantes

de percepes. Ao contrrio, no seu entendimento as pessoas eram movidas pela

racionalidade.

A discusso de valores socioambientais que tocam o objeto desta pesquisa e

que esto sendo, de alguma forma, internalizados aos procedimentos

administrativos na UFPA, interfere diretamente no modo de agir dos agentes

institucionais, como foi mencionado anteriormente. A ao coletiva para a separao

e posterior destinao dos materiais reciclveis s cooperativas de catadores e,

induz a produo de um Bem Pblico A Coleta Seletiva Solidria na UFPA e, como

conseqncia desta ao em todos os rgos pblicos, em um nvel macro, a ao

coletiva no Brasil.

Assim, a ao coletiva assume uma maior complexidade quando ocorre no

mbito do Estado onde seus dirigentes e servidores deveriam estar imbudos dos

16 Centro de produo intelectual nos Estados Unidos pioneiro nos estudos da teoria da

ao coletiva, detendo essa prevalncia por longo perodo (do final do sculo XIX at meados dos anos de 1960, no sculo XX). Segundo Gohn (2004 apud MELO JNIOR, 2007), os estudos no eram homogneos nem lineares atuando em pelo menos cinco linhas de pesquisa com um ncleo aglutinador comum: teoria da ao social e coletiva e com relao a tentativa de compreenso dos comportamentos coletivos.

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mesmo objetivo: o bem-estar da sociedade. Partindo-se deste raciocnio, percebe-se

a constituio de vrias aes coletivas que partem de interesses individuais.

Mas nem sempre os interesses dos indivduos resultam em uma ao

coletiva. Olson (1999) afirma que, a menos que o nmero de indivduos num grupo

seja muito pequeno, ou at mesmo que haja algum tipo de coero ou algum

incentivo espacial, isso poder influenciar para que os indivduos atuem

coletivamente.

Nesta direo, Olson (1999) diz ser praticamente impossvel alcanar

solues cooperativas, uma vez que cada indivduo racional e age priorizando seu

prprio interesse ao invs de agir de acordo com o interesse coletivo.

Nesta clssica formulao de Olson (1999), as solues cooperativas

assumem a condio de bem pblico, em que os benefcios ocorrem

automaticamente para todos os indivduos indistintamente. O resultado para o grupo

depende da ao de cada indivduo.

Ao contrrio dos bens privados, essa proposio diz que, no consumo do bem

pblico puro existe a condio da no exclusividade e da no rivalidade, podendo

dois consumidores, por exemplo, usufrurem ao mesmo tempo o mesmo bem sem

custos adicionais desse bem ao outro consumidor. O resultado para o grupo

depende da ao de cada indivduo.

A condio de bem pblico puro pode ser compreendida quando se observa a

questo da Coleta Seletiva Solidria, pois gera benefcios comuns na medida em

que existem ganhos sociais, ambientais e institucionais. A no participao

individual no acarretar na reduo dos benefcios disponveis para o coletivo.

Calderoni (2003b) refora essa assertiva quando afirma que a reciclagem

um bem pblico porque propicia a todos a oportunidade de viver em um ambiente

mais saudvel. Todos dela podem se beneficiar, inclusive aqueles que para ela no

contriburam [...] (p. 56). Ele se refere na sua afirmativa s externalidades positivas

que a separao dos resduos produz e ao carona, comportamento que ser

explicado adiante.

O quadro proposto na Lgica da Ao Coletiva de Olson (1999) pode

contribuir nas respostas s questes desta pesquisa. Olson (1999) afirma ser

praticamente impossvel ocorrer ao coletiva visto que o comportamento do ser

humano semelhante ao de um carona ou free-rider. Tal comportamento o

mais racional, do ponto de vista individual, j que na maior parte das aes coletivas

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os atores so muitos e variados, de tal forma que a no-participao de um ator,

isolado, no ser percebida pelo conjunto.

Este comportamento se caracteriza no indivduo que se beneficia do bem

coletivo sem assumir os custos de contribuir para alcan-lo, pois, na concepo de

Olson (1999), todo indivduo racional e egosta. Este indivduo sempre maximizar

seu lucro e minimizar seu custo.

No caso da implantao de polticas ambientais, em especial a que tenha

como foco, por exemplo, a separao de resduos antes de sua destinao final, a

tendncia, diria Olson (1999), que cada indivduo, acreditando que sua ao no

ser percebida pelos outros atores, no venha a colaborar, prejudicando assim o

esforo coletivo de separao para destinao correta. Com a Coleta Seletiva

Solidria, os materiais reciclveis separados tm como destino as cooperativas dos

catadores que em seguida comercializam com as indstrias. Caso isso no venha a

ocorrer, todo esse material ir compor as reas naturais j degradadas nos centros

urbanos, os chamados lixes.

A articulao para a ao coletiva, neste caso, tem um custo a fim de

estimular a comunidade universitria a participar do esforo coletivo para dar um

destino melhor aos resduos produzidos por cada um dos atores, ou seja, a

destinao para os catadores. A informao e divulgao geram custos, de acordo

com Olson (1999), mas com estratgias que utilizem a tecnologia da informao eles

ficam reduzidos. Segundo Nassar (2001), a coordenao para o planejamento das

aes uma consequncia natural do processo.

Outro ponto considerado por Olson (1999) o tamanho do grupo. Ao estudar

grupos de vrios tamanhos, observou que grupos pequenos apresentavam mais

eficincia e viabilidade para a ao coletiva que os grupos grandes. Ele os

denominou de grupos privilgios e desses grupos que provm o bem coletivo.

Para ilustrar os grupos privilgios, Nassar (2001) cita o caso da criao de

uma associao de moradores de um bairro residencial cujo objetivo elevar a

qualidade de vida em vrios aspectos. A maioria adere mesmo sabendo dos custos

altos e da possibilidade dos caronas. Aps alguns meses, todos percebem as

melhorias, e que estas superaram os custos adicionais, inclusive os caronas. Logo,

quase todos eles tambm entram na associao.

Diz Olson (1999) que a maioria das aes praticadas por um grupo de

indivduos ou em nome dele se d atravs de uma organizao. Esta assertiva de

42

Olson para lembrar que, como este estudo sobre o que aconteceu em uma

universidade, tem-se que ter em mente o seu propsito maior que o do ensino, da

pesquisa e da extenso. O enfrentamento de problemas como a gesto de resduos

slidos j vem sendo incorporado neste trip, mas talvez o que falte a

incorporao de uma estrutura dentro da organizao que d conta do planejamento

das aes articuladas.

Mesmo que, nesta pesquisa, o interesse em jogo no seja o econmico

interesse que originou tal teoria ele se aplica perfeitamente neste estudo, uma vez

que contribui para a compreenso dos problemas que envolvem a gesto dos

resduos slidos na UFPA.

importante ter-se a noo, nesta discusso, de que Olson (1999), em sua

teoria da Ao Coletiva, nega a viso amplamente difundida pelas cincias sociais

de que grupos de indivduos com interesses comuns possam promover tais

interesses. Para ele, isso no acontece mesmo quando ocorrem situaes em que

h consenso dentro do grupo a respeito do bem comum que se deseja e das formas

de obteno deste. Para ele tambm, isso se deve a um comportamento

caracterstico do ser humano que se assemelha ao carona ou free-rider.

Mas, como ser descrito adiante, outras correntes tericas vm

demonstrando que existe a possibilidade de grupos com interesses comuns possam

traar estratgias para viabilizar tais aes, mesmo com a presena dos

oportunistas.

A principal etapa da Coleta Seletiva Solidria, que trata da separao dos

materiais reciclveis na fonte geradora, exemplifica bem a presena do carona ou

free rider no processo de gesto dos resduos slidos. Ele um elemento que

compartilha dos bens coletivos promovidos pelo esforo de outras pessoas, sem

colaborar com os resultados.

Segundo Olson (1999), do ponto de vista individual, tal comportamento

racional, uma vez que na maior parte das aes coletivas os atores so muitos e

variados o que propicia a no-participao de uma pessoa, pois sua deciso no

seria percebida pelo conjunto. Ele afirma que o comportamento racional o de no

participar dos esforos coletivos e de se beneficiar do esforo dos outros. Mas,

quando esse comportamento percebido pelos demais, todos os outros tendem a

agir dessa forma. Essa uma das fortes razes sustentadas pela sua teoria, para

que a ao coletiva nunca seja colocada em prtica.

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Neste estudo em particular, a ao coletiva reside na separao dos materiais

reciclveis dos outros resduos pela comunidade universitria. Mas a tendncia,

segundo a teoria de Ol