a gaguez

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A Gaguez Trabalho realizado por: ´ngela Enes Pereira Isabel Saraiva Barbosa Universidade Portucalense Porto, Portugal 2 Fevereiro 2008 Perturbaıes da Linguagem - Prof. Dr.“ Margarida Paiva

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Page 1: A gaguez

A Gaguez

Trabalho realizado por: Ângela Enes Pereira Isabel Saraiva Barbosa

Universidade Portucalense Porto, Portugal

2 Fevereiro 2008 Perturbações da Linguagem - Prof. Dr.ª Margarida Paiva

Page 2: A gaguez

�Acredita que mais tarde ou mais cedo alguma coisa verdadeira vai ter de ser feita por ti, mais que apenas manejar

as aparências.�

Streccht, P. (1999) pág. 177

Page 3: A gaguez

Índice

Introdução ....................................................................................................... 4

Causas da gaguez .......................................................................................... 5

Consequências da gaguez .............................................................................. 7

O que podemos fazer? .................................................................................... 9

Gisela era triste sozinha e �diferente� .............................................................. 12

Conclusão ....................................................................................................... 16

Bibliografia ....................................................................................................... 17

Page 4: A gaguez

Introdução

É nas reuniões de família que é dada às crianças a aos adultos, a

oportunidade, a possibilidade de conjuntamente, num �tom� de aprendizagem

ou de brincadeiras, praticar e desenvolver muitas competências de

comunicação, verbais ou não verbais e resolver muitos desafios, muitos

problemas.

É aqui, que de forma privilegiada e única as crianças encontrarão os

seus primeiros modelos, as �referências� para uma inserção na vida social.

Neste trabalho, específico sobre a gaguez iremos demonstrar, sobretudo

a importância do meio familiar como fonte de uma sociabilização mais ou

menos positiva numa criança que sofra desta perturbação da linguagem.

Outros factores como a hereditariedade, a questão psicológica e física

serão abordados, na tentativa de explicar e perceber comportamentos e

sentimentos de uma criança �presa� a algo que a impede de ser livre e

espontânea, na comunicação e na inter-relação com os demais, uma

perturbação da linguagem apelidada de �gaguez� que faz dela alguém

diferente.

Page 5: A gaguez

Causas da gaguez

Não há uma causa específica e nenhuma gaguez é absolutamente igual

à outra, de acordo com vários autores a gaguez dá-se a partir das dificuldades

de articulação normais, comuns a todas as crianças por volta dos três anos de

idade, sendo que a maior parte das crianças atravessa esta fase sem

problemas, mas em algumas esta dificuldade normal pode transformar-se em

gaguez.

As hesitações, as repetições e a demora na emissão das palavras, são

algumas das suas manifestações, bem como, o prolongamento anormal dos

sons. Cientistas alemães revelam ter descoberto que a gaguez permanente é

provocada por uma disfunção no hemisfério esquerdo onde se interligam as

estruturas cerebrais envolvidas no planeamento com a articulação do discurso.

Como foi já foi referido, esta pode ter início entre os dois e os quatro

anos e cerca de metade das crianças em que a gaguez persiste até aos cinco

anos, quando adultos podem ainda gaguejar.

A ocorrência de erros na articulação dos sons da fala, como omissão,

substituição e distorção de fonemas, que não decorram de alterações

neurológicas, mas sim de alterações funcionais, são considerados desvios

anatómicos dos órgãos fonoarticulatórios.

Alguns investigadores, concluem que a gaguez se deve a uma forma

subtil de lesão cerebral, outros ainda consideram-na como um problema

essencialmente psicológico. A hereditariedade também se inclui como uma das

possíveis causas, pois é vulgar esta perturbação da linguagem surgir em

pessoas cujas as famílias tenham casos de gaguez. Por exemplo, avós, pais

ou irmãos, ou manifestar-se até em indivíduos que na fase da aquisição da

linguagem sejam sujeitos ao convívio com pessoas gagas. Daí se poder

concluir, da importância do meio para o surgimento desta perturbação da fala.

Não havendo consenso quanto a uma causa única, a gaguez ou dislalia,

pode ser um distúrbio de base neurológica, no qual o cérebro encontre

dificuldades para controlar os movimentos automáticos da fala espontânea, na

idade infantil. As lesões cerebrais em consequência da hipoxia, prematuridade

Page 6: A gaguez

ou traumatismo craniano, também podem ser consideradas causas, associadas

ou não à herança genética.

Este transtorno na comunicação pode estar associado a um atraso geral

do desenvolvimento e a deficits cognitivos. Por outro lado, e não de menos

importância, surge-nos a deficiência auditiva, pode surgir como causa de maior

ou menor gravidade no desenvolvimento da linguagem, sendo também

pertinente o momento em que esta deficiência surja, ou seja, diagnosticada e

com que intensidade.

É facto, que a surdez adquirida após o processo inicial da aprendizagem

da linguagem oral causa menos transtorno sobre o desenvolvimento da fala,

aquisição de vocabulário e estrutura linguística, do que uma surdez adquirida

na fase pré-verbal.

Relativamente, ao desenvolvimento afectivo e social, podemos afirmar

que são factores fundamentais que estão associados a todos os anteriormente

enumerados, é fundamental o indivíduo estar inserido num meio ambiente de

harmonia de afectos e estímulos (a começar pelo familiar), pois a gaguez anda

sem dúvida associada a situação de pressão social, a acontecimentos

geradores de stress e ansiedade, principalmente os que exigem comunicação.

Quando a afectividade é pobre existem traumas de infância associados,

certamente que a criança sofrerá de uma profunda e dolorosa insegurança

emocional, que poderá acompanhá-la, até à fase adulta e até acentuar o seu

problema de gaguez.

Page 7: A gaguez

Consequências da gaguez

A gaguez ou dislalia, é uma dificuldade em falar, em comunicar, esta

perturbação da comunicação afecta o bem-estar bio psicossocial do indivíduo.

As consequências desta perturbação são várias e podem surgir

associados a comportamentos motores, tais como, o piscar de olhos, tiques,

tremores dos lábios ou da face, extensões bruscas da cabeça, movimentos

respiratórios irregulares, ou até fechar os pulsos no acto de fala, estes sinais

são muito visíveis e podem afectar psicologicamente a criança ou o indivíduo,

inibindo até o seu convívio social.

O rendimento escolar, laboral e social intensifica-se de forma negativa,

em situações de grande pressão social, ou seja, sempre que existam ou surjam

acontecimentos com um elevado nível de stress ou ansiedade, esta

perturbação da fala será também ela intensificada.

Como já vimos anteriormente, o rendimento escolar de uma criança

gaga estará em risco, pois esta perturbação irá certamente comprometer o

processo de ensino-aprendizagem, gerando dificuldades e consequentemente

o insucesso escolar, senão devidamente acompanhado.

A criança que tropeça nas sílabas, como já foi referido, apresentando

dificuldade em verbalizar certas palavras, prejudicando a fluidez do seu

discurso, levará à interferência no seu rendimento escolar, o que poderá

acentuar o seu problema de gaguez, pois é na escola que existem o maiores e

mais frequentes momentos de interacção com os demais alunos e educador

(es). A criança é mais solicitada a responder, em situação de sala de aula ou

outra, estará mais exposta, mais vulnerável. A criança poderá sentir-se

pressionada e a gaguez tornar-se-á então mais evidente, podendo até ser alvo

da chacota dos demais.

O sentimento de insegurança surge e, a criança com medo de falar irá

gaguejar mais, comprometendo, assim, a sua auto-estima. O sono perturbado

e a enurese surgem, a onicofagia (roer as unhas desenfreadamente)

manifesta-se e qualquer situação tensa, aumentará estes sintomas

conjuntamente com a gaguez. O isolamento surge muitas vezes neste contexto

e nesta fase da vida.

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Se a gaguez persistir na fase adulta, irá certamente comprometer os

seus relacionamentos sociais e profissionais quer qualitativamente, quer

quantitativamente.

Constata-se que muitos gagos apresentam percepções e sentimentos

negativos relacionados com a gaguez e com eles mesmo, a vergonha, a

frustração, a culpa, a baixa auto-estima e, o sentimento de inutilidade são

alguns exemplos com os quais eles se debatem diariamente e contra os quais

lutam numa sobrevivência desigual.

A importância que o gago atribui a determinada circunstância, situação

ou cenário potência a frequência da gaguez, daí que muitas vezes como forma

de se protegerem evitem socialmente estar em situação de destaque ou

protagonismo. Recorrendo inteligentemente muitas vezes a cenas

camuflatórias, exemplo disso é o uso de vocábulos sinónimos.

Este possível insucesso poderá numa fase adulta comprometer, por sua

vez a escolha e até a promoção profissional. Sentimentos de frustração e de

baixa auto-estima, ou a vivência de experiências traumatizantes poderão

produzir alterações profundas nos comportamentos sociais, levando mesmo a

grande isolamento.

É facto que muitos indivíduos, na tentativa de evitar gagueja, e do

esforço excessivo que é protagonizado quer mentalmente, quer fisicamente,

nesse sentido desencadeia vários sintomas contrários, que leva a uma fala

repleta de falhas de ritmo, pausas silenciosas, frases incompletas, alterações

na sincronização entre a respiração e a produção da fala.

A dislalia ou gaguez está assim, associada à crispação ao nível dos

lábios, da língua, da laringe e até do peito. As manifestações tais como,

palidez, transpiração excessiva, rubor intenso e tremores são frequentemente e

deverão ser tratados logo que possível, dado que no caso de uma criança terá

mais possibilidade de se curar do que um adolescente ou até mesmo um

adulto.

Page 9: A gaguez

O que podemos fazer?

A dislalia ou gaguez traz instabilidade, turbulência, irritabilidade, falta de

confiança em si e nas suas potencialidades.

A ansiedade está muito presente e os distúrbios somáticos a ele

associados também.

A questão é o que oferecer a este ser �hiper-emotivo�?

As investigações afirmam que aproximadamente 80% dos gagos

recuperam espontaneamente antes dos dezasseis anos de idade. No entanto,

os restantes 20% podem receber um acompanhamento psicológico se o

necessitarem para conhecerem alguns métodos de controlo da gaguez ou para

trabalharem algum aspecto emocional que esteja associado a esta

perturbação, tais como já referimos anteriormente (baixa auto-estima,

dificuldades de sociabilização, perturbações comportamentais, entre outras).

Há quem defenda que esta perturbação da fala, pode ser tratada em

escolas especializadas com métodos especializados extraídos da psicologia

comportamental (behaviorismo) e da psicologia das profundidades. Por outro

lado é também amplamente defendido, que a aplicação da Terapia da Fala e

suas técnicas melhora substancialmente as manifestações da fala do indivíduo;

tais como (o canto, representações teatrais) estas terapias terão um alto valor

curativo e de libertação de tensões a todos os níveis.

A prática de exercícios respiratórios, é outra recomendação efectiva

(treinos respiratórios lentos e controlados e combinados com movimentos

coordenados.

O diagnóstico e a intervenção fonoaudiológicas são fundamentais para o

sucesso terapêutico, visto que a criança apresenta condições mais favoráveis

para a aprendizagem de novas competências, entre elas, a fluência,

nomeadamente nos anos pré-escolares.

A participação dos familiares e professores é fundamental nesta fase da

vida da criança, pois ela imitará os modelos de fala a que estiver exposta, daí a

importância destes intervenientes na gaguez infantil, para além da terapia

fonoaudiológica. A Intervenção Precoce neste domínio adquire um contorno

fundamental porque em alguns casos, resultados positivos são frequentes num

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período curto de tempo, que de outra forma, se negligenciada na idade pré-

escolar poderá tornar-se numa gaguez persistente.

Então podemos dizer, que o trabalho integrado com a família é

fundamental, visto esta ter o principal papel de interlocução com a criança no

acto de comunicar.

Assim sendo neste microsistema íntimo e próximo da criança, a fala

tornar-se-á tanto mais fluente, se quem interage com ela, tiver uma postura

facilitadora ou não. O trabalho conjunto do terapeuta com a família poderá

propiciar resultados mais positivos, sendo que, haverá trabalho de continuidade

da fluência do discurso, trabalhado e adquirido na terapia para o lar. Ou seja, é

fundamental que sejam dadas orientações específicas aos familiares que vivam

com a criança, para que possam ter e transmitir um modelo de fala, o mais

adequado possível à fluência trabalhada pelo técnico.

É por isso fundamental, que saibam �como fazer� e �o que fazer� perante

um quadro de gaguez.

Há, assim, vários objectivos a trabalhar com a família, destacando-se em

primeiro lugar a compreensão e sensibilização desta problemática junto dela.

Por outro lado, há que fazer a distinção entre as �disfluências� comuns e as

�disfluências� que levam à gaguez. A identificação de factores causadores da

interrupção da fala da criança e como minimizá-los; a valorização da qualidade

das interacções diárias com a criança revela-se primordial. Não menos

importante, é saber operacionalizar modelos de comunicação que facilitem os

actos de fala (fala mais lenta, fácil e relaxada, aumentar o tempo das pausas

nas conversações, promover momentos de silêncio para escutar).

A criança deverá seguir �o novo� modelo de fala, de forma natural, quer

na terapia, quer no seu lar, o que levará progressivamente a sentir maior

segurança, nesta uniformização de métodos.

Nesta intervenção, a família deve ser alertada, instruída para que haja

uma efectiva diminuição do facto �ansiedade�, devendo esta aprender como

contornar as chamadas palavras �problemáticas�, evitando a sua pronunciação,

aprender a falar mais pausadamente, e também exercícios respiratórios

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favoráveis ao relaxamento. Esta não deverá dizer à criança para não ter medo

de falar, para ficar calma ou para respirar antes de falar, pois tais conselhos só

servirão para agudizar a sua ansiedade. Deve também, estar atenta na criação

e manutenção de rotinas, ou seja, nos horários para comer, para dormir, para ir

para a escola, pois podem parecer questões de menor importância, mas que

na realidade assumem grande relevância, se pensarmos que alterações de

rotinas podem criar ou aumentar o estado de ansiedade numa criança gaga.

Neste âmbito é de todo relevante evitar discutir na frente dela e deve-se

valorizar o que ela diz, �ouvindo-a� realmente e dando-lhe a devida atenção e

paciência. Esta atitude positiva, melhorará a auto-estima da criança, deve-se

por isso elogiá-la sempre que possível. Deve-se transformar os momentos de

diálogo com a criança em momentos agradáveis, fazendo uso sempre que

desejável do reforço positivo.

O sucesso da aquisição de novas competências dependem também da

complexidade crescente dos actos de fala a praticar, pois assim, serão

facilitadores no desenvolvimento deste processo.

É primente, ajudar a criança a munir-se de estratégias de defesa perante

factores e situações que contribuam para a sua �disfluência�. Levar a criança

progressivamente a desvalorizar esta situação, aumentando-lhe competências

de discurso de forma adaptativa a diversas situações de comunicação, nos

seus actos de fala, é prioritário.

Claro que o relacionamento positivo entre estes intervenientes, será

fonte de uma sociabilização efectiva e facilitada, quer no seu presente, quer no

seu futuro.

Page 12: A gaguez

Gisela �era triste, sozinha e diferente�

As crianças têm uma visão do mundo muito particular, mais genuína e

muitas vezes as decisões que tomam relativamente ao seu comportamento,

têm por base a forma como se vêm, quer na relação que mantêm com os

outros quer relativamente à forma como acreditam que são vistas.

É muito importante para elas acreditarem e sentirem que são

especialmente queridas, e que têm valor, sobretudo no seu meio familiar. A

comunicação é por excelência o meio de vínculo que serve uma criança e que

a ajuda na sua integração e sociabilização, não só no seu microsistema como

noutras relações de âmbito mais lato.

A Gisela uma menina que sentiu necessidade de pedir apoio à médica

de família porque gaguejava e sobretudo porque se sentia privada de alegria,

num penoso processo de gaguez que surgiu aos quatro anos e se foi

acentuando com o passar do tempo. �A gaguez é mais do que tudo um sintoma

que traduz um conflito intrapsíquico, o qual sem ser exprimido fica no fundo da

garganta com as palavras que não conseguem sair�. Através desta afirmação,

a psicanalista Nicole Fabre, demonstra bem o quanto a expressão de um

problema inconsciente e recalcado pode penalizar a vida de um ser sensível,

como o é, especialmente uma criança.

A Gisela tem todo um microsistema que favorece o surgimento e a

permanência desta perturbação da linguagem, visto que, existem vários

factores associados em seu redor tidos como causadores. Nomeadamente, o

factor biológico e hereditário da gaguez do pai e do irmão, e o factor

psicológico, na sua relação afectiva com a mãe.

Ana Maria Martinez, afirma que �o desenvolvimento da linguagem é

melhor nas meninas, pois elas começam a falar mais cedo�, no caso da Gisela

apesar de ter iniciado a fala correctamente o meio envolvente desta menina,

resultou de forma negativa para o seu desenvolvimento linguístico, acabando

por desencadear uma gaguez que persistiu.

Gisela sente-se desigual e só. O castigo, o bater, o ralhar contribuíram

fortemente para a sua insegurança, provavelmente começou a gaguejar com

medo da sua enurese nocturna, que por si só, já é factor que se não

controlada, é geradora de stress. Numa situação tensa, o medo aumenta, o

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sono é perturbado e a enurese surge, no caso da Gisela também como

experiência negativa e traumática provocada pelo comportamento negativo da

mãe que lhe reforça a insegurança, batendo-lhe.

Gisela, não foi aceite no seu meio familiar, nomeadamente pela mãe,

visto que esta não lhe proporcionou um ambiente positivo e acertivo para as

suas necessidades aquando da sua primeira infância.

Constata-se que Gisela só começa a gaguejar por volta dos 3/4 anos,

aquilo que poderia ter sido uma dificuldade normal neste processo de

aprendizagem dos actos de fala, se transformou numa gaguez persistente.

Gisela não só teve �enurese� nocturna, como fez controle de esfíncteres

muito tardiamente, a sua relação afectiva com a mãe é geradora de

desequilíbrio, stress, angústia, ansiedade e acentua as suas dificuldades.

Podemos afirmar que esta mãe, não só motivou a gaguez da filha, como

a acentuou desenvolvendo problemas do foro psicológico na mesma.

Mesmo não havendo consenso quanto a uma única causa na gaguez, e

sabendo que Gisela tem um potencial hereditário desta perturbação através do

pai e do irmão que devemos considerar importante e também potenciador no

aparecimento de sua gaguez, o comportamento da mãe é certamente o grande

impulsionador para que esta menina seja triste, só e �diferente�.

A própria Mãe assume que o facto da filha gaguejar tem como principal

causa a violência continuada que lhe infringiu. Gisela desenvolveu, assim,

sentimentos de baixa auto-estima, culpa, inferioridade, ansiedade, descontrole

nas suas necessidades biológicas primárias, e impotência perante a sua

qualidade de vida física e psíquica. Na Lei de Protecção de Crianças e Jovens

em Risco, Lei n.º 147/99 de 1 de Outubro, artigo 1.º, lê-se que �considera-se

que a criança ou jovem está em perigo quando se encontra, designadamente,

numa das seguintes situações: - está abandonada ou vive entregue a si própria

� sofre maus tratos físicos ou psíquicos�. Neste caso, claramente, Gisela, está

sujeita de forma directa a comportamentos que afectam o seu equilíbrio

emocional. É visível que o seio familiar é fonte de uma desarmonia onde a

agressividade é constante e as exigências à pequena Gisela, são exageradas,

provocando-lhe desadaptação, pressão e stress.

Page 14: A gaguez

É notório que estando sujeita a uma afectividade pobre, esta menina

desencadeia e acentua os seus problemas de comunicação, e sofrendo de

insegurança emocional grave, a gaguez manifesta-se.

Reiterando a ideia de que a mãe teve um papel determinante na

actuação da filha, é a afirmação de que Gisela gaguejava mais em casa do que

com os amigos. O que poderia inibir um convívio social (a sua gaguez), foi

invertido, ou seja, que Gisela desenvolve maior insegurança junto da mãe, por

isso gagueja mais em casa.

O meio familiar não proporcionou a Gisela a crença de que era uma

criança desejada, nem lhe facultou o sentimento de auto-estima e auto-

confiança para crescer de forma saudável, quer fisicamente, quer

psiquicamente. Daí ter também resultado uma situação de asma e ansiedade,

apenas controlada pela medicação. Provavelmente, a própria ansiedade,

opressão, angústia e tensão interna a que foi sendo sujeita lhe desencadeou as

suas dificuldades na respiração (asma).

O respeito pelo seu ser foi dilacerado, e a responsabilidade de contribuir

para a resolução de um problema (enurese nocturna) foi ultrajada, resultando

numa situação hostil.

O acompanhamento psicológico para esta menina é fundamental, quer

para um controle da ansiedade, quer para minimizar as consequências

advindas da mesma. O terapeuta certamente que terá um papel

importantíssimo na sua vida, como promotor de uma auto-confiança perdida,

reforçando aquilo que Gisela sabe fazer de melhor, provavelmente nas

situações de fala, reforçar aquilo que diz e não a forma como o diz,

provavelmente associará outras técnicas (canto, recitação) por exemplo,

levando-a a realizar experiências positivas que lhe devolvam a alegria perdida,

e a confiança na sua capacidade de comunicar.

Aparentemente Gisela teve um desenvolvimento normal, mas pode de

alguma forma ter uma predisposição que influencie a parte neurológica,

motivada negativamente, como já referimos pelo ambiente familiar.

As terapias de relaxamento, também poderão ser um contributo positivo

para que a Gisela tenha desempenhos cada vez mais positivos e encontre na

sua caminhada sentimentos de aceitação dela própria e que a ajudem a

superar esta dificuldade no acto de falar.

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A intervenção terapêutica na família seria, certamente, algo de muito

positivo, no desenvolvimento psicossocial, seria mais produtivo e efectivo.

Ensinar �o que fazer� e sobretudo �como fazer� para além do desbloquear de

emoções negativas da mãe, parece-nos algo de fundamental em todo este

processo.

Um processo que se quer de �ajuda mútua� na resolução de problemas

afectivos, claro que devidamente acompanhados, por especialistas e técnicos

com capacidade de orientação e intervenção funcional. Educar para uma

melhor interacção social, em primeiro lugar no seio familiar.

Todos os indivíduos anseiam por compreensão, aceitação e apreço

como seres humanos especiais, estas serão qualidades que de uma forma

encorajadora ajudará certamente a mudar �representações� negativas de si

próprios e dos outros, levando a sentimentos de pertença e a interacção sociais

positivas e desejáveis.

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Conclusão

�Foi com amor e felicidade que ele foi mais educado�

John Denver

A partilha da felicidade entre adultos e crianças é aprender conceitos

como harmonia, cooperação, responsabilidade partilhada, respeito mútuo e

amor, na vida e nas suas relações. E ter a certeza de que aquilo que fazemos e

o modo como o fazemos determinam a nossa qualidade de vida. A história da

Gisela e da criança canadiana retratam-no bem. Gisela é uma menina sofrida

pelo ambiente familiar negativo e a criança canadiana que apesar de também

sofrer de gaguez era feliz porque a sua família e os seus amigos, eram o seu

suporte, o seu apoio e a sua perturbação da linguagem era facilmente

ultrapassável.

A forma como se cuida de quem se ama é determinante na resolução de

problemas físicos, psíquicos ou sociais.

�Um pouco de imperfeição não é assim tão mau

Um pouco de imperfeição não nos deve pôr tristes� (�)

(�) �Um pouco de imperfeição no sítio perfeito

pode fazer com que este mundo não tão perfeito

seja mais fácil de enfrentar

mais de nós poderíamos caminhar na direcção certa

se aprendêssemos a viver com um pouco de imperfeição� (�)

Kathy Schinski

Page 17: A gaguez

Bibliografia

Correia, Luís de Miranda (1999). �Alunos com Necessidades Educativas

Especiais nas Classes Regulares�. Porto. Porto Editora

Correia, Luís de Miranda (2003). �Inclusão e Necessidades Educativas

Especiais�. Porto. Porto Editora

Silveira, Marina e Rodrigues Almeida (2005). �Caminhos para a Inclusão

Humana�. Edições Asa

Ministério do Trabalho e da Solidariedade (1999) �Guia de Legislação e

Recursos sobre Trabalho Infantil�.

Nelsen, Jane. (2002). �Disciplina Positiva�. Mc Graw Hill.

Strecht, Pedro (1999). �Precisa de ti� Perturbações psicossociais em

crianças e adolescentes. Lisboa: Assírio e Alvim

Artigos de pesquisa na Internet:

www.gagowebsite.com

www.paginasterra.com.br

www.cercifaf.org.pt

www.seegnal.pt

Material de apoio facultado pela Professora.