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Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica (8ª turma/GEAEL) 1 Q uando o Governador Planetário encarnou como Jesus de Nazaré, para sua imortal missão sacrificial, outros espíritos, devidamente qualificados, desceram tam‑ bém para auxiliá‑lo e preparar‑lhe os caminhos. Assim, os familiares, os discípulos, os apóstolos... Uma das mais marcantes dessas tarefas coube à Fraterni‑ dade dos essênios, que o amparou desde jovem até os últimos instantes de sua tarefa redentora. João Batista era essênio e, quando desceu para as mar‑ gens do Alto Jordão, vindo do mosteiro do Monte Hermon, na Fenícia, para dar cumprimento à sua tarefa de Precursor do Messias, fê‑lo atendendo ordens que de há muito aguardava, esperando a sua vez. Detentores, há séculos, das tradições de sabedoria her‑ dadas dos antepassados, conservavam os essênios, em seus mosteiros nas montanhas palestinas, fenícias e árabes, arqui‑ vos preciosos e conhecimentos relacionados com o passado da humanidade; e assim como a Fraternidade dos Profetas Brancos, na legendária Atlântida, apoiou os missionários An‑ fion e Antúlio, que ali encarnaram, e a Fraternidade Kobda apoiou os que difundiram as verdades espirituais no Egito e na Mesopotamia, assim, eles, os essênios. apoiaram a Jesus, na Palestina. Conquanto menos numerosos, segundo parecia, seu nú‑ mero entretanto não era conhecido com exatidão e, se muito reduzida era sua influência nas rodas do governo, muito pro‑ funda e ampla era a que exercia no seio do povo humilde, em toda Palestina, onde eram considerados sábios e santos, possuidores de altos poderes espirituais. Viviam afastados do mundo, como anacoretas, em mos‑ teiros e grutas nos alcantilados circunvizinhos, porque discor‑ davam dos rumos que o clero judaico imprimira aos ensina‑ mentos mosaicos dos quais eles, os essênios, eram os herdei‑ ros diretos e possuíam arquivos autênticos e fiéis. Segundo eles, as virtudes e a conduta reta dependiam da continência e do domínio das paixões inferiores. Absti‑ nham‑se do casamento e adotavam crianças órfãs como fi‑ lhos. Viviam em comunidades, desprezando as riquezas, as posições e os bens do mundo. Exigiam a reversão dos bens pessoais à Ordem, por parte dos que desejavam ingressar nela. Vestiam túnicas brancas ou escuras e quando viajavam não carregavam bagagem nem alforjes, roupas ou objetos de uso porque, por todos os lugares por onde andassem, encon‑ trariam acolhimento por parte de membros da Ordem. Esta exigia que em todas as vilas e cidades houvesse um membro da Ordem denominado “o hospitaleiro”, que providenciava a hospedagem dos itinerantes, provendo‑os do necessário. Ha‑ via cidades como por exemplo, Jericó, onde grande parte da população pobre e de classe média era filiada a essa fraterni‑ dade. Os essênios entregavam‑se francamente e com a máxi‑ ma dedicação à prática da caridade ao próximo, mantendo hospitais, abrigos, leprosários etc., assistindo os necessitados Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de Limeira Escola de Aprendizes do Evangelho ‑ 8ª turma 19ª aula: Textos complementares GEAEL Transcrito do livro O Redentor, Edgard Armond Aula 19ª — Entre muitas, a lição que fica: A verdadeira sabedoria está na condição de, pelo muito que possamos conhecer, conseguir avaliar o pouco que atingimos e a pequenez que representamos diante da imensidão universal. O pouco saber nos afasta de Deus, o muito saber Dele nos aproxima. O verdadeiro sábio percebe que nada sabe. — Manual Prático do Espírita A Fraternidade Essênia

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Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica (8ª turma/GEAEL) 1

Quando o Governador Planetário encarnou como Jesus de Nazaré, para sua imortal missão sacrificial, outros espíritos, devidamente qualificados, desceram tam‑

bém para auxiliá‑lo e preparar‑lhe os caminhos. Assim, os familiares, os discípulos, os apóstolos...

Uma das mais marcantes dessas tarefas coube à Fraterni‑dade dos essênios, que o amparou desde jovem até os últimos instantes de sua tarefa redentora.

João Batista era essênio e, quando desceu para as mar‑gens do Alto Jordão, vindo do mosteiro do Monte Hermon, na Fenícia, para dar cumprimento à sua tarefa de Precursor do Messias, fê‑lo atendendo ordens que de há muito aguardava, esperando a sua vez.

Detentores, há séculos, das tradições de sabedoria her‑dadas dos antepassados, conservavam os essênios, em seus mosteiros nas montanhas palestinas, fenícias e árabes, arqui‑vos preciosos e conhecimentos relacionados com o passado da humanidade; e assim como a Fraternidade dos Profetas Brancos, na legendária Atlântida, apoiou os missionários An‑fion e Antúlio, que ali encarnaram, e a Fraternidade Kobda apoiou os que difundiram as verdades espirituais no Egito e na Mesopotamia, assim, eles, os essênios. apoiaram a Jesus, na Palestina.

Conquanto menos numerosos, segundo parecia, seu nú‑mero entretanto não era conhecido com exatidão e, se muito reduzida era sua influência nas rodas do governo, muito pro‑funda e ampla era a que exercia no seio do povo humilde, em toda Palestina, onde eram considerados sábios e santos, possuidores de altos poderes espirituais.

Viviam afastados do mundo, como anacoretas, em mos‑teiros e grutas nos alcantilados circunvizinhos, porque discor‑davam dos rumos que o clero judaico imprimira aos ensina‑mentos mosaicos dos quais eles, os essênios, eram os herdei‑ros diretos e possuíam arquivos autênticos e fiéis.

Segundo eles, as virtudes e a conduta reta dependiam da continência e do domínio das paixões inferiores. Absti‑nham‑se do casamento e adotavam crianças órfãs como fi‑lhos. Viviam em comunidades, desprezando as riquezas, as posições e os bens do mundo. Exigiam a reversão dos bens pessoais à Ordem, por parte dos que desejavam ingressar nela.

Vestiam túnicas brancas ou escuras e quando viajavam não carregavam bagagem nem alforjes, roupas ou objetos de uso porque, por todos os lugares por onde andassem, encon‑trariam acolhimento por parte de membros da Ordem. Esta exigia que em todas as vilas e cidades houvesse um membro da Ordem denominado “o hospitaleiro”, que providenciava a hospedagem dos itinerantes, provendo‑os do necessário. Ha‑via cidades como por exemplo, Jericó, onde grande parte da população pobre e de classe média era filiada a essa fraterni‑dade.

Os essênios entregavam‑se francamente e com a máxi‑ma dedicação à prática da caridade ao próximo, mantendo hospitais, abrigos, leprosários etc., assistindo os necessitados

Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de LimeiraEscola de Aprendizes do Evangelho ‑ 8ª turma

19ª aula: Textos complementaresGEAEL

Transcrito do livro O Redentor, Edgard Armond

Aula 19ª — Entre muitas, a lição que fica:

A verdadeira sabedoria está na condição de, pelo muito que possamos conhecer, conseguir avaliar o pouco que atingimos e a pequenez que representamos diante da imensidão universal. O pouco saber nos afasta de Deus, o muito saber Dele nos aproxima. O verdadeiro sábio percebe que nada sabe. — Manual Prático do Espírita

A Fraternidade Essênia

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2 19ª aula: A fraternidade essênia

em seus próprios lares, adotando crianças, como já dissemos, mantendo orfanatos, no que, pode‑se dizer, agiam como pre‑cursores dos futuros cristãos dos primeiros tempos.

Na comunidade, trabalhavam ativamente em suas res‑pectivas profissões e tinham pautas de trabalho a executar periodicamente, fora ou dentro das organizações da Ordem, em bem do próximo.

Não comiam carne, não tinham vícios e viviam sobria‑mente.

Os que revelavam faculdades psíquicas eram separados para o exercício do intercâmbio com o mundo espiritual e ao exercício da medicina, empreendendo estudos adequados e viajando diariamente por muitos lugares, sob a designação de terapeutas, em cuja qualidade consolavam os famintos, cura‑vam os doentes, espalhando as luzes das verdades espirituais e as práticas do atendimento contra obsessores, como hoje em dia são popularizadas pelo espiritismo.

Entre eles havia uma hierarquia altamente respeitada, baseada no saber, na idade e nas virtudes morais, cuja aquisi‑ção era obrigatória para todos os filiados à Ordem.

No primeiro ano da iniciação, os aprendizes eram proi‑bidos de praticar suas regras na vida exterior, no lar ou na sociedade a que pertenciam; ao fim desse primeiro ano co‑meçavam a tomar parte em alguns atos coletivos, exceto as refeições em comum, às quais só poderiam comparecer dois anos mais tarde, após darem garantias seguras sobre a pu‑reza e a retidão de suas ações, seu espírito de tolerância e sua castidade probatória. No ato da aceitação assumiam o compromisso de servir a Deus, observar a justiça entre os ho‑mens e jamais prejudicar o próximo sob qualquer pretexto; apoiar firmemente os que observavam as leis e de agir sem‑pre com boa fé e bondade, sobretudo em relação aos depen‑dentes e servos, “porque o poder” diziam eles, “vem somente de Deus”. Ao desempenharem qualquer cargo de autoridade, deviam exercê‑lo sem arrogância e orgulho e jamais tentar distinguir‑se dos outros pela ostentação de riqueza, ornamen‑tos e vestuários; amar a verdade e jamais criticar ou acusar alguém, mesmo sob ameaça de morte.

Para julgar uma transgressão grave exigiam a reunião de, pelo menos, cem membros adultos, porque a condenação im‑plicava na eliminação das fileiras da Ordem, à qual o faltoso só podia volver após duras e longas expiações e purificações físicas e morais.

Na hierarquia espiritual, após o nome de Deus, o de Moi‑sés era o que merecia maior veneração.

No terreno filosófico ensinavam que o corpo orgânico era destrutível e a matéria transformável e perecível, enquanto as almas eram individuais, imortais e indestrutíveis, por serem parcelas infinitesimais do Deus Criador e uniam‑se aos cor‑pos como prisioneiras, por meio de uma substância fluídica, oriunda da vida universal, que constituía a vida do próprio ser (perispírito).

Após a morte, as almas piedosas habitariam esferas fe‑lizes, enquanto as ímpias eram relegadas a regiões infernais.

Como se vê, difundiam ensinamentos concordantes com a tradição espiritual que vinha de milênios e em muito pouco

diferiam daquilo que se ensina hoje nas comunidades espiri‑tualistas.

É sabido que João Batista era essênio, como essênio eram José de Arimatéia, Nicodemo, a família de Jesus e inúmeros outros que na vida do Mestre desempenharam papéis rele‑vantes, como também o próprio Jesus que conviveu com essa seita, freqüentando assiduamente seus mosteiros, enterrados nas montanhas palestinas. onde sempre encontrava ambiente espiritualizado e puro, apto a lhe fornecer as energias de que carecia nos primeiros tempos da preparação para o desempe‑nho de sua transcendente missão.

Mas observe‑se que os evangelistas e os apóstolos em geral, como também Jesus, Ele mesmo que, freqüentemen‑te, se referia a escribas e fariseus, todos guardaram silêncio a respeito dos essênios, não somente sobre fatos, episódios, circunstâncias quaisquer em que estivessem presentes, parti‑cipando, mas nem mesmo sobre a existência deles; mas isso se explica porque, sabendo que a comunidade dos essênios me‑recia a hostilidade do clero judaico, que a considerava heréti‑ca e rebelde, queriam evitar que sobre ela se desencadeassem maiores perseguições.

Após a morte no Calvário e no decorrer das primeiras décadas, além do trabalho dos apóstolos, foi em grande parte com base nos mosteiros essênios, nas suas organizações as‑sistenciais e no concurso diário e ininterrupto dos terapeutas, que o cristianismo se difundiu mais rapidamente na Pales‑tina; e, enquanto cooperaram nessa difusão, a comunidade essênia foi se integrando no cristianismo, extinguindo grada‑tivamente suas próprias atividades, o que se completou com o extermínio da nação judaica no ano 117 a.D.

Assim como haviam apoiado anteriormente os nazare‑nos e os ebionitas,1 a última atitude pública tomada pelos essênios teve lugar no ano 105, reconhecendo o profeta Elxai, como chefe. Depois, correndo o tempo, veio a elevação do su‑posto messias Bar Cocheba, a revolta geral contra os romanos e a exterminação do povo judaico em toda a Palestina e em outras províncias romanas.

Os documentos contendo suas tradições religiosas, ela‑boradas desde início, ainda ao tempo de Moisés, e conserva‑dos por seu discípulo Essen, ao declarar‑se a revolta final do povo judeu, foram escondidos em grutas e lugares secretos das montanhas, alguns deles estando sendo agora descober‑tos nesses lugares, junto ao Mar Morto.2

1 Significa pobre, desvalido. (O redentor).Ebionita: Seita judaico‑cristã que perdurou do século I ao IV e que professava a conservação da circuncisão e da celebração aos sábados, no cristianismo. (O Sublime Peregrino).2 Alguns destes comentários têm base em obras citadas ao fim do livro, na bibliografia, sobretudo em Regla o qual, a seu turno, obteve informações, em parte, de essênios, que ainda existiam na Asia Menor, no século passado; em parte em Fiávio Josefo, o historiador judeu agregado ao Estado Maior de Tiro Vespasiano, que assistiu a destruição de Jerusalém no ano 70; nascido 4 anos após a morte de Jesus, este autor assegura que a influência maior dos essênios era no norte da Palestina e nas imediações do Mar Morto. Além destas fontes pode‑se ainda citar Filon de Alexandria, contemporâneo dos acontecimentos, e Justus de Tiberiades todos judeus respeitados e reputados autores.

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Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica (8ª turma/GEAEL) 3

O que Ele queria saber, só os essênios lho podiam ensinar.

Os evangelhos guardam um silêncio absoluto sobre os fatos e os gestos de Jesus antes do seu encontro com João Batista, pelo qual, segundo eles, e Cristo de certo modo tomou posse do seu ministério. Logo depois, ele aparece na Galiléia com uma doutrina assente, a segurança dum profeta e a cons‑ciência dum Messias. Mas é evidente que este início ousado e premeditado deveria ter sido precedido por um longo desen‑volvimento e por uma verdadeira iniciação. E não é menos certo que esta iniciação deveria ter‑se realizado na única as‑sociação, que então conserva em Israel as verdadeiras tradi‑ções e o gênero de vida dos profetas. Isto não pode oferecer a menor duvida àqueles que, elevando‑se acima da superstição da letra e da mania maquinal do documento, ousam descobrir o encadeamento das coisas pelo espírito delas. Isto ressalta não só da íntima conformidade entre a doutrina de Jesus e a dos essênios, mas também do próprio silêncio guardado por Cristo e pelos seus acerca desta seita. Por que motivo Ele, que ataca com uma liberdade sem igual todos os partidos religio‑sos do seu tempo, não nomeia jamais os essênios? Por que razão também nem os apóstolos nem os envangelistas falam deles? Evidentemente porque consideram os essênios como sendo dos seus, porque estão ligados a eles pelo juramento dos Mistérios, e porque a seita se fundiu com a dos cristãos.

Na época de Jesus a ordem dos essênios constituía o úl‑timo resto dessas confrarias de profetas organizadas por Sa‑muel. O despotismo dos senhores da Palestina, a inveja dum sacerdócio ambicioso e servil tinha‑os repelido para o retiro e o silêncio

Eles não lutavam já como os seus predecessores, conten‑tando‑se em manter a tradição. Tinham dois centros princi‑pais: um no Egito, nas margens do lago de Méride; o outro na Palestina, em Engada, à beira do mar Morto. Esse nome de essênios, que tinham adotado, vinha da palavra siríaca as-saya: médicos; em grego: therapeutés, porque o seu mister confessado era o de curar as doenças físicas e morais. “Eles estudavam com grande aplicação, diz Josefo, certos escritos de medicina, que tratam das virtudes ocultas das plantas e dos minerais.”1

Alguns possuíam o dom de profecia, como esse Mena‑ém que tinha predito a Herodes que reinaria. “Eles servem a Deus, diz Filão, com uma grande piedade, não lhe oferecendo vítimas, mas santificando o seu espírito. Fogem das cidades e aplicam‑se à arte da paz. Nem um só escravo existe entre eles, sendo todos livres e trabalhando uns para os outros.”2 As regras da ordem eram severas. Para entrar nela, era preciso fazer um ano de noviciado. Caso fossem dadas provas bastan‑tes de temperança, a pessoa era admitida às abluções, sem contudo entrar em relações com os mestres da ordem. Para

1 Josefo, Guerra dos Judeus, II etc. antiguidades, XIII, 5‑9 XVIII, 1‑5.2 Filão, Da Vida Contemplativa.

ser recebido na confraria, ainda eram necessários dois novos anos de provas. Juravam “por juramentos terríveis” observar os deveres da ordem e nada trair dos seus segredos.

Somente então é que tomavam parte nos repastos co‑muns, que se celebravam com uma grande solenidade e cons‑tituíam o culto íntimo dos essênios. Estes consideravam como sagrado o vestuário que usavam nestas refeições e tiravam‑no antes de começar o trabalho. Tais ágapes fraternais, forma primitiva da ceia instituída por Jesus, começavam e acaba‑vam pela oração.

Era ali que tinham a primeira interpretação os livros sa‑grados de Moisés e dos profetas. Mas, tanto na explicação dos textos como na iniciação, havia três sentidos e três graus e muito poucos chegavam ao grau superior. Tudo isto se as‑semelha extraordinariamente à organizacão dos pitagóricos,3 sendo certo que ela existia aproximadamente a mesma nos antigos profetas, porque se encontra por toda parte onde a iniciação tenha existido.

Acrescentemos que os essênios professavam o dogma es‑sencial da doutrina órfica e pitagórica, o da preexistência da alma, conseqüência e razão da sua imortalidade... “A alma, diziam eles, descida do mais sutil éter e atraída ao corpo por um certo encanto natural, nele habita como numa prisão; li‑berta dos laços do corpo como duma longa escravidão, ela alegremente voa” (Josefo, A. J. II,8).

Entre os essênios, os irmãos propriamente ditos viviam em comunidade de bens e no celibato, em lugares retirados, cavando a terra, educando algumas vezes crianças estran‑geiras. Quanto aos essênios casados, esses constituíam uma espécie de ordem terceira, filiados e submetidos à outra. Si‑lenciosos, doces e graves, viam‑nos aqui e além cultivar as artes da paz. Tecelões, carpinteiros, vinhateiros ou jardineiros, nunca armeiros ou comerciantes. Espalhados por pequenos grupos por toda a Palestina, pelo Egito, e até ao monte Ho‑rebe, eles davam‑se entre si a mais absoluta hospilitalidade. Assim, nós vemos Jesus e os discípulos viajar de cidade em cidade e de província em província, sempre certo de encontrar um albergue.

“Os essênios, diz Josefo, eram duma moralidade exem‑plar; esforçavam‑se por reprimir toda a paixão e todo o mo‑vimento de cólera; sempre benevolentes nas suas relações, pacifícos, de boa fé. A sua palavra valia mais do que um ju‑ramento: assim na vida ordinária o juramento era por eles considerado supérfluo e como um perjúrio. Suportavam com uma admirável força de alma e com o sorriso nos lábios as mais cruéis torturas, de preferência a violar o menor preceito religioso”.3 Pontos comuns entre os essênios e os pitagóricos: A oração ao levantar do sol: os vestuários de linho; os ágapes fraternais; o noviciado dum ano; os três graus da iniciação; a organização da ordem e a comunidade dos bens administrados por curadores; a lei do silêncio; o juramento dos Mistérios; a divisão do ensino em três partes: 1) Ciência dos princípios universais, ou teogonia, a que Filão chama a lógica; 2) a física ou a cosmogonia; 3) a moral, isto é, tudo que trata do homem, ciência à qual se consagravam especialmente os terapeutas.

Os essênios

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4 19ª aula: A fraternidade essênia

Indiferentes à pompa exterior do culto de Jerusalém, repelidos pela dureza saducéia, pelo orgulho farisaico, pelo pedantismo e pela secura da sinagoga, Jesus foi atraído para os essênios por uma afinidade natural.4 A morte prematura de José deixou inteiramente livre o filho de Maria, tornado homem. Seus irmãos puderam continuar o ofício do pai e sus‑tentar a casa enquanto sua mãe o deixava partir em segredo para Engada. Acolhido como um irmão, saudado como um eleito, ele devia adquirir rapidamente um invencível ascen‑dente sobre os seus próprios mestres, por causa das suas fa‑culdades superiores, da sua caridade ardente e de qualquer coisa de divino espalhado sobre o seu ser, recebendo, porém, deles o que só os essênios podiam dar‑lhe: a tradição esotérica dos profetas e, por ela, a sua própria orientação histórica e religiosa.

Jesus compreendeu o abismo que separava a doutrina judaica oficial da antiga sabedoria dos iniciados, verdadeira mãe das religiões, mas sempre perseguida por Satã, isto é, pelo espírito do Mal, pelo espírito do egoísmo, de ódio e de negação, unido ao poder político absoluto e à impostura sa‑cerdotal. Aprendeu que o Gênesis encerrava, sob o selo do seu simbolismo, uma teogonia e uma cosmogonia tão afastadas do seu sentido literal como a mais profunda ciência o está da mais infantil das fábulas.

Contemplou os dias de Eloim, ou a criação eterna pela emanação dos elementos e a formação dos mundos; a origem das almas flutuantes e o seu regresso a Deus pelas existências progressivas ou as gerações de Adão. E a grandeza do pensa‑mento de Moisés, que tinha querido preparar a unidade reli‑giosa das nações, criando o culto do Deus único e encarnando esta idéia num povo, chocou‑o grandemente.

Revelaram‑lhe depois do Verbo divino, já ensinada por Crixna na Índia, pelos sacerdotes de Osíris no Egito, por Or‑feu e Pitágoras na Grécia, e conhecida pelos profetas com o nome de Mistério do Filho do Homem e do Filho de Deus. Segundo essa doutrina, a mais alta manifestação de Deus é o homem, que, por sua constituição, sua forma, seus órgãos e sua inteligência, é a imagem do Ser Universal, do qual pos‑sui as faculdades. Mas na evolução terrestre da humanidade, Deus existe como que esparso, fracionado e mutilado, na mul‑tiplicidade dos homens e da imperfeição humana.

A dentro dela ele sofre, busca‑se, ele luta; ele que é o filho do homem. O Homem perfeito, o Homem‑Tipo, que é o pensamento mais profundo de Deus, vive oculto no infinito abismo do seu desejo e do seu poder. Todavia, em certas épo‑cas, quando se trata de arrancar a humanidade a um abismo de perdição, de alevantar para a erguer mais alto, um Eleito identifica‑se com a divindade, atrair pela Força, pela Sabedo‑ria e pelo Amor, e de novo se manifesta aos homens. Então esta, pela virtude e o sopro do Espírito, existe inteiramente presente nele; o Filho do Homem torna‑se o Filho de Deus e o seu verbo vivo. Em outros tempos e noutros povos, houvera já filhos de Deus; mas desde Moisés que nenhum tinha apare‑4 Pontos comuns entre a doutrina dos essênios e a de Jesus: O amor do próximo considerado como o primeiro dever; a proibição de jurar para atestar a verdade; o ódio à mentira; a humildade; a instituição da ceia imitada dos ágapes frater‑nais dos essênios, mas com um sentido novo, o do sacrifício.

cido em Israel. Todos os profetas esperavam esse Messias. Os videntes diziam até que desta vez ele se chamaria o filho da Mulher, da Isis celeste, da luz divina que é a esposa de Deus, porque nele a luz do Amor brilharia acima de todas as outras, com um resplendor fulgurante ainda desconhecido na terra.

Estas coisas ocultas que o patriarca dos essênios desvela‑va ao moço galileu sobre as praias desertas do mar Morto, na solidão de Engada, figuravam‑se‑lhe a um tempo maravilho‑sas e conhecidas. Foi com uma emoção singular que ele ouviu o chefe da ordem mostrar‑lhe e comentar essas palavras que se lêem ainda hoje no livro de Enoque: “Desde o princípio, o Filho do Homem, existia no mistério. O Eterno guardava‑o à beira do seu poder e manifestava‑o aos seus eleitos... Mas os reis ficarão aterrados e prostrarão sua face contra a terra e tomá‑los‑á o espanto quando virem o fllho da mulher assen‑tado sobre o trono da sua glória... Então o Eleito chamará todas as forças do céu, todos os santos do alto e o poder de Deus. Então os Querubins, os Serafins, os Ofinins , todos os anjos da força, todos os anjos do Senhor, isto é, do Eleito e da outra força, que servem sobre a terra e ao de cima das águas, levantarão suas vozes.’’5

Ao escutar estas revelações, as palavras dos profetas, cem vezes relidas e meditadas, flamejaram aos olhos do Nazareno com clarões novos, profundos e terríveis, como relâmpagos na noite. Quem era, pois, este Eleito e quando surgiria em Israel?

Jesus passou bastante anos com os essênios. Submeteu‑se à doutrina, estudou com eles os segredos da natureza, exerci‑tou‑se na terapêutica oculta e para desenvolver o seu espírito dominou inteiramente os sentidos. Nenhum dia se passava sem que ele meditasse sobre os destinos da humanidade e não interrogasse a si mesmo. Foi uma noite memorável para a ordem dos essênios e para o seu novo adepto aquela em que ele recebeu, no mais profundo segredo, a iniciação superior do quarto grau, aquela que não se concedia senão no caso especial duma missão profética, desejada pelo irmão e con‑firmada pelos Anciãos. Reuniam‑se numa gruta, talhada no interior da montanha, grande como uma vasta sala, tendo um altar e cadeiras de pedra. O chefe da ordem presidia, acom‑panhado de alguns Anciãos. A revezes, duas ou três essênias, profetisas iniciadas, eram também admitidas à cerimônia misteriosa. Empunhando fachos e palmas, saudavam o novo iniciado vestido de linho branco, como o “Esposo e o Rei” que elas haviam pressentido e que viam talvez pela última vez! Em seguida, o chefe da ordem, ordinariamente um velho centenário (Josefo diz que os essênios viviam muitos anos), apresentava‑lhe o cálice de ouro, símbolo da iniciação supre‑ma, que encerrava o vinho da vinha do Senhor, símbolo da inspiração divina. Alguns diziam que Moisés com os setenta bebera dele. Outros faziam‑no remontar até Abraão, que re‑cebeu de Melquisódeque essa mesma iniciação, sob as formas do pão e do vinho.6 Nunca o Ancião apresentava a taça senão

5 Livro de Enoque — Capítulos XLVIII e LXI. Essa passagem demonstra que a doutrina do verbo e da Trindade, que se encontra no evangelho de João, existia em Israel muito tempo antes de Jesus e saía do fundo do profetismo esotérico. No livro de Enoque, o Senhor dos espíritos representa o Pai: o Eleito o Filho: e a outra força, o Espirito santo.6 Genesis, XIV, 18 seg.

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Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica (8ª turma/GEAEL) 5Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica (8ª turma/GEAEL) 5

a um homem no qual tivesse reconhecido com certeza os si‑nais duma missão profética. Mas esta missão, ninguém lha podia definir: ele devia por si mesmo encontrá‑la, visto que tal era a lei dos iniciados: nada pelo exterior, tudo pelo interior. Doravante era livre, senhor das suas ações, liberto da ordem, ele próprio hierofante, entregue ao vento do Espírito, que po‑dia arremessá‑lo ao abismo ou elevá‑lo aos cimos, superior à zona das tormentas e das vertigens.

Quando, após os cânticos, as orações, as palavras sacra‑mentais do Ancião, o Nazareno tomava o cálice, um clarão lívido da aurora, deslizando por uma anfractuosidade da montanha, pousou num tremor sobre os fachos, amarelecen‑

do as compridas túnicas brancas das moças essênias. E elas estremeceram quando ele poisou sobre o pálido galileu. En‑tão o seu belo rosto foi envolvido por uma grande tristeza. O seu olhar, perdido no vago, dirigir‑se‑ia aos doentes de Siloé, e, acaso, no fundo dessa grande dor sempre presente ao seu espírito, entreveria ele já o seu destino?

Os Grandes Iniciados (Jesus)Édouard Shuré

Martin Claret

(continua na próxima aula ‑ O Precursor)

Há uma hora determinada, todos os dias, para nos unir‑mos em pensamento com fraternidades superiores: 22 horas.

Vivemos, os grupos da Aliança e nós, nesses grupos, às vezes muitos dias ou meses sem nos vermos. E, no entanto, devemos estar sempre unidos para que a Aliança seja efeti‑vamente um instrumento a serviço de Jesus na Terra. Sem união, dificilmente venceremos a barreira da ignorância e do erro que se opõe à disseminação do Evangelho.

Por isso, esse encontro das 22 horas, todos os dias, as‑sume importância vital. É o nosso ponto de união, o nosso apoio. É nessa hora que formamos um feixe e deixamos de ser varas isoladas, um feixe inquebrantável.

Unindo‑nos em pensamento com as fraternidades e di‑rigindo nossas vibrações para a Casa de Bezerra, no Espaço, estamos atingindo três objetivos:

1º) A caridade da vibração coletiva pelo Bem Universal.2º) A fraternidade que deve nos unir em espírito.3º) O reforço espiritual de que tanto necessitamos, pois,

desde que nos integramos às fraternidades, entramos numa corrente de harmonia que transfere benefícios para todos.

As vibrações coletivas pelo Bem Universal, todos os dias, às 22 horas, dirigidas à Casa de Bezerra, no Espaço, unem dezenas de milhares de espíritos encarnados e desencarna‑dos. É a maior corrente de amor de que dispõe atualmente o Plano Espiritual Superior para promover o socorro eficiente a irmãos desesperados de todo o planeta nesta difícil hora de transição.

Não devemos, portanto, nos esquecer de fazer diariamen‑te, às 22 horas, as vibrações pelo Bem Universal. Elas são uma das nossas tarefas em prol da regeneração da Terra; se delas descuidarmos, responderemos por essa omissão perante os nossos maiores da Espiritualidade.

Essa vibração, segundo circunstâncias de momento, tan‑to pode resumir‑se em um pensamento, uma prece, como em

um ato mental mais perfeito e completo dirigido a necessita‑dos em geral, como solidariedade humana ou conforto moral, concentrando esse impulso de caridade na Casa de Bezerra no Espaço, como um poderoso potencial de fluidos e energias a dirigir no sentido das mais urgentes necessidades do momen‑to, a qualquer ponto do nosso planeta.

Vibrações das 22 horas (individuais e coletivas)Horário: diariamente às 22 horas.Roteiro:

a) Abertura ‑ Alguns minutos antes das 22 horas com leitura

de pequeno trecho de O Evangelho Segundo o Espiritismo.

b) Prece das Fraternidades.

c) VIBRAÇÃO PELO BEM UNIVERSAL (às 22 horas).

d) Vibrações gerais, variando segundo os dias da semana:

Domingo ‑ Para os lares da Terra, amigos e familiares.

Segunda ‑ Para os enfermos e moribundos.

Terça ‑ Para crianças e velhos desamparados.

Quarta ‑ Para os suicidas.

Quinta ‑ Para a paz entre os homens e pelos espíritos com

tarefas evangélicas.

Sexta ‑ Para encarcerados e perturbados em geral.

Sábado ‑ Para a iluminação dos espíritos das trevas e do

umbral e pelo vale dos suicidas.

e) Pela Aliança Espírita Evangélica e seus elevados ideais.

Pelo Centro ou Grupo do qual fazemos parte, seus dirigen‑

tes, trabalhadores e assistidos.

Observações:1) Dependendo do lugar em que nos encontramos no mo‑

mento, resumiremos as vibrações ao item ‘c’.2) Nas casas espíritas estas vibrações devem se realizar

no intervalo dos trabalhos que coincidam com esta hora.

Vibrações das 22 horasA Vibração pelo Bem Universal

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6 19ª aula: A fraternidade essênia

Antes que se possa compreender e apreciar adequada mente a história e o relato real do nascimento e da vida do Mestre Jesus, é preciso ter uma idéia das antigas orga nizações e escolas que contribuíram para a preparação de Sua vinda.

Nos últimos cem anos muitas anotações de escrituras sagra‑das foram descobertas, relativamente à Fraternidade Essênia e às atividades desta organização na Palestina logo antes da vida de Jesus e durante a mesma. Muitas dessas anotações confir‑maram as referências feitas aos essênios por eminentes histo‑riadores como Filo e Josefo, e explicaram muitas referências misteriosas encontradas nas escrituras sagradas dos hebreus e traduzidas para a Bíblia Cristã.

A possível relação entre a Fraternidade Essênia e as primei‑ras atividades cristãs não só despertou o interesse de centenas de eminentes clérigos e autoridades bíblicas, mas também fez com que uma pergunta fosse feita por milhares de estudantes da literatura mística: “Por que a história dos essênios foi excluída do conhecimento geral?”

A resposta é que aqueles que conheciam sua história dese‑jaram manter a Fraternidade Essênia envolta em mis tério para evitar que seu trabalho e seus ensinamentos fossem publica‑mente discutidos e eventualmente escar necidos pelos estudantes ou professores do cristianismo ortodoxo que se dedicaram com tanto afinco a fazer do Cristo e do cristianismo um mistério ainda maior.

Em primeiro lugar, talvez seja suficiente dizer, neste breve esboço da organização dos essênios, que eles eram um ramo da iluminada fraternidade da Grande Loja Branca, que nasceu no Egito nos anos que precederam Akhenaton, Faraó do Egito e grande fundador da primei ra religião monoteísta, o qual apoiou e encorajou a exis tência de uma fraternidade secreta voltada ao ensino das verdades místicas da vida.

As diversas escolas místicas do Egito, que se uniram no que constituiu a Grande Fraternidade Branca, toma ram diferentes nomes em diferentes partes do mundo, de acordo com o idioma de cada nação e com as peculiari dades do pensamento religioso e espiritual do povo em geral. Verificamos que, em Alexandria, os membros da Fraternidade adotaram o nome de essênios. Os cientistas têm feito consideráveis especulações quanto à origem deste termo e seu real significado. Foram apresentadas tantas especulações insatisfatórias quanto à sua raiz que ainda per‑sistem muitas dúvidas na mente da maioria das autoridades quanto a este aspecto. A palavra deriva real mente da palavra egípcia Kashai, que significa “secreto”. Existe uma palavra judia que tem um som semelhante, chsahi, que significa “secreto” ou “silente”; esta palavra foi naturalmente traduzida para essaios ou “Essênio”, com o significado de “secreto” ou “místico”. O próprio Josefo descobriu que os símbolos egípcios para luz e verdade são representados pela palavra choshen, que tem o correspondente grego “Essen”. Foram encontradas referências

históricas segundo as quais os sacerdotes dos antigos templos de Éfeso tinham o nome de essênios. Um ramo da organização estabelecido pelos gregos tra duziu a palavra Essênio derivada do termo sírio asaya, que significa “médico”, para o termo grego therapeates, com o mesmo significado.

Os registros Rosacruzes dizem claramente que a palavra original pretendia descrever uma fraternidade secreta e que, embora a maioria de seus membros se tornassem médicos e curadores, a organização era devotada a mui tas outras práticas humanitárias além da arte de curar, e que nem todos os seus membros eram médicos.

A expansão da organização para muitas terras próxi mas ao Egito foi lenta e natural, acompanhando o des pertar da consciência do povo; e então vemos que a Fra ternidade Essênia tornou‑se um ramo definido da Grande Fraternidade Branca, representando as atividades exter nas dessa Fraternidade, que era, principalmente, uma es cola de aprendizado e instrução. Assim, por vários sécu los antes do advento da Era Cristã, a Fraternidade Es sênia, um grupo de trabalhadores ativos, man‑teve dois centros principais, sendo um no Egito, às margens do Lago Moeris, onde o grande Mestre Moth‑El, o Ilustre, nasceu em sua primeira encarnação conhecida, foi edu cado, preparado para sua grande missão e estabeleceu a lei e o princípio do batismo como passo espiritual no processo da iniciação. O outro centro importante da Fraternidade Essênia foi estabelecido pri‑meiro na Pales tina, em Engaddi, perto do Mar Morto.

Ao examinar os registros Rosacruzes referentes aos essê‑nios, encontrei milhares de anotações a respeito des ses dois ramos, das quais selecionei as declarações que se seguem, por te‑las considerado as mais interessantes e mais definidas, com relação à vida de Jesus.

O ramo da Palestina teve de enfrentar o despotismo dos governantes do país e o ciúme da classe sacerdotal. Estas con‑dições forçaram os essênios da Palestina a manter um silêncio e uma solidão maiores do que costuma vam guardar no Egito. Antes de se mudarem de suas pe quenas construções e do recin‑to sagrado em Engaddi pa ra as antigas edificações no Monte Carmel, sua principal ocupação, aparentemente, era a tradução de manuscritos antigos e a preservação de tradições e registros que cons tituíam a base de seus ensinamentos.

Consta dos registros que, ao chegar o momento de se trans‑ferirem de Engaddi para o Monte Carmel, o maior problema foi o transporte secreto desses manuscritos e registros. Felizmente para nós, eles conseguiram preser var os manuscritos mais raros que já foram retirados do Egito, e de outras formas preservaram as histórias e ensi namentos antigos e tradicionais. E daí que derivamos a maior parte de nosso conhecimento dos essênios e da Grande Fraternidade Branca. Uma descrição do seu mo do de viver, e daquilo em que acreditavam e que ensina vam, constitui, sem qualquer dúvida, uma história de profundo interesse para

O mistério dos essênios

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Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica (8ª turma/GEAEL) 7

todos os estudantes modernos do misticismo e da literatura sacra.Todos os essênios do Egito e da Palestina, ou os Therapeuti,

como eram chamados em outras terras, ti nham de ser descen‑dentes arianos de sangue puro. Este ponto é muito importante com relação aos fatos que serão revelados sobre o nascimento e a vida do Mestre Jesus. Os essênios também estudavam os tex‑tos do Avesta e aderiam aos princípios neles contidos, os quais davam grande importância a um corpo saudável e uma mente poderosa. Antes que qualquer ariano apto pudesse se tornar um Adepto da Fraternidade Essênia, tinha de ser preparado, durante a infância, por certos professores e instrutores; crescia com um corpo sadio, e devia ser ca paz de exercer certos poderes mentais em condições de teste. Todo candidato adulto a quem se permitia parti lhar da refeição diária no prédio da Fraternidade era de signado para uma missão definida em sua existência, por ocasião de sua iniciação, e essa missão devia ser cumprida a despeito de quaisquer obstáculos e tentações, ainda que com o sacrifício da própria vida. Alguns decidiam ser médicos ou curadores, outros decidiam ser artesãos, professores, missio‑nários, tradutores, escribas, e assim por diante. Todos os bens materiais que possuíssem ao tempo de sua iniciação tinham de ser doados ao fundo comum, do qual todos podiam retirar apenas, o que lhes fosse necessário. A vida simples que levavam, livre de qualquer gratificação nos prazeres comuns à população em geral, só tornava necessário fazer uso desse fundo co mum em raras ocasiões.

Imediatamente após a iniciação, cada membro passava a usar uma veste branca composta de uma só peça de pano, e só usava sandálias quando o clima ou as circuns tâncias assim o exigissem. Sua roupagem era tão distinta e peculiar que eles eram conhecidos entre o povo como os Irmãos de Branco. O termo Essênio não era popular mente conhecido, e só os enten‑didos o empregavam. Isto explica a falta de referências aos essê‑nios na maioria das histórias populares ou dos escritos da época.

Eles viviam em construções bem cuidadas, geralmente num local fechado e bem protegido, formando uma co munidade. Todos os seus assuntos eram regulados por uma comissão ou conselho de juízes ou conselheiros, em número de cem, que se reuniam uma vez por semana para regulamentar as ativida‑des das organizações e ouvir os relatórios dos trabalhadores do campo. Todas as discor dâncias, todas as queixas, todas as provas e tribulações eram ouvidas por este conselho, e um dos regulamentos indica que os essênios eram sempre cuidadosos ao ex pressarem opiniões a respeito uns dos outros ou de pes soas estranhas à organização, e que não criticavam a vida e os assun‑tos das pessoas que tentavam reformar ou auxi liar. Também aderiam estritamente a uma de suas leis: “Não julgues, para não seres julgado.”

É possível apresentar aqui os artigos de fé dos essênios, tais como estão registrados em documentos anti gos e secretos. Embora esses artigos de fé sejam apresen tados de forma ligei‑ramente diferente nos vários ramos da organização essênia, estão indubitavelmente baseados nos artigos de fé adotados pela Grande Fraternidade Branca, ao tempo em que foi estabelecida a organização essênia.

Número Um: Deus é princípio; Seus atributos só se mani‑festam através da matéria, ao homem exterior. Deus não é uma pessoa, nem se revela ao homem exterior em qualquer forma de nuvem ou glória. (Note a semelhança deste artigo com a declaração de João (4:24): “Deus é Espírito, e os que O adoram têm de adorá‑lo em espírito e verdade.”)Número Dois: O poder ou a glória do domínio de Deus não aumenta nem diminui segundo a crença ou descrença do homem; e Deus não põe de parte Suas leis para agradar a humanidade.Número Três: O ego no homem é de Deus, uno com Deus, sendo conseqüentemente imortal e eterno.Número Quatro: As formas do homem e da mulher são manifestações da verdade de Deus, mas Deus não está mani‑festo na forma do homem ou da mulher como um ser.Número Cinco: O corpo do homem é um templo no qual habita a alma, por cujas janelas vemos as criações e evolu‑ções de Deus.Número Seis: Por ocasião da transição ou separação do corpo e da alma, a alma entra naquele estado secreto em que nenhuma das condições da terra tem qualquer encanto, mas a brisa suave e o grande poder do Espírito Santo oferecem conforto e consolo para os extenuados ou ansiosos que estão à espera de novas atividades. Aque les, entretanto, que fra‑cassam em utilizar as bênçãos e dons de Deus, que seguem os ditames do tentador, dos falsos profetas e das ardilosas doutrinas dos iníquos, permanecem no seio da terra até que sejam libertos dos poderes aprisionadores do materialismo, purificados e enviados ao reino secreto. (Isto explica o antigo termo místico “preso à terra”, com referência àqueles que ain da ficam escravizados a tentações materiais por algum tempo após a transição.)Número Sete: Guardar o dia santo da semana, para que a alma possa comungar em espírito e ascender e en trar em contato com Deus, descansando de todos os la bores e usan‑do de bom discernimento em todas as ações.Número Oito: Manter silêncio nas disputas, fechar os olhos diante do mal, e fechar os ouvidos aos blasfemado res. (Isto equivale ao original da lei oriental, “não falar o mal, não ver o mal e não ouvir o mal”).Número Nove: Preservar as doutrinas sagradas contra os profanos, jamais falar delas àqueles que não estejam prepa‑rados ou qualificados para compreendê‑las, e estar sempre pronto a revelar ao mundo o conhecimento que possa capa‑citar o homem a elevar‑se a maiores alturas.Número Dez: Permanecer fiel às amizades e a todas as relações fraternas, até a morte; em qualquer circunstan cia ligada à confiança, nunca abusar do poder ou do pri vilégio recebido; e em todas as relações humanas, ser be névolo e capaz de perdoar, mesmo aos inimigos da fé.

Todos os departamentos da organização eram supervi‑sionados por administradores encarregados das coisas mate‑riais entregues ao fundo comum por cada membro. Este fundo comum era chamado de fundo dos pobres, sendo usado para aliviar os sofrimentos dos desfavoreci dos em todas as terras. Isto

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8 19ª aula: A fraternidade essênia

nos faz recordar o que disse Mateus (19:21): “Vai vender teus bens e dá aos pobres, e sê meu seguidor.”

Abrigos para o cuidado de pobres e doentes foram esta‑belecidos pelos essênios em várias comunidades, especialmente em períodos de fome ou epidemias. Esses locais eram chama‑dos Bethsaida. Foi deste tipo de traba lho que se originaram os abrigos e hospitais que se torna ram comuns séculos mais tarde. Uma equipe especial de pessoas ligadas a esses locais passou a ser conhecida pelo nome de Hospitaleiros. Nisto encontramos a origem de outro ramo da Fraternidade, o qual tornou‑se, mais tarde, uma organização mais ou menos separada. Os essênios também estabeleceram albergues em várias comunidades e na entrada da maioria das cidades havia um lugar chamado de Portão, onde os estranhos ou aqueles que neces sitavam de ali‑mento ou orientação recebiam cuidados temporários. Recentes descobertas em Jerusalém revela ram a existência de um Portão conhecido como Portão Essênio.

Os essênios não gostavam de viver em cidades e se es tabeleceram em comunidades de pequenas aldeias, fora dos limites ou muros de quase todas as cidades das re giões onde existiram. Nessas comunidades, cada membro tinha sua pequena casa com quintal, e os solteiros mora vam numa casa comunitária. O casamento não era proibi do entre os essênios, ao contrário do que geralmente se acredita, mas seus ideais relati‑vos ao matrimônio eram muito elevados, e apenas os nubentes bem harmonizados e cuja união fosse aprovada pelos grandes oficiais podiam se casar.

As mulheres podiam associar‑se à Fraternidade e em poucas oportunidades tinham permissão para entrar nos graus iniciais do trabalho. Isto ocorria não porque os essênios acreditassem que as mulheres fossem inferiores aos homens em capacidade mental ou espiritual, mas porque o ramo Essênio da Grande Fraternidade Branca era uma organização estritamente masculi‑na, destinada a realizar um trabalho próprio de homens em cada co munidade. Entretanto, mães, irmãs e filhas dos membros de cada comunidade essênia tinham permissão para participar da comunidade e tornarem‑se membros asso ciados. As mulheres solteiras, e que não desejavam se casar, freqüentemente ado‑tavam crianças órfãs e, desta forma, realizavam um trabalho humanitário para a orga nização.

Ao considerarmos seus assuntos mais privativos, ve mos que os essênios não tinham criados, pois a servidão era con‑siderada contrária à lei; cada casa tinha de ser cuidada pelos seus moradores. Algumas regras e regula mentos registrados em documentos Rosacruzes levam a crer que as idéias essênias, no que se refere a servidores e à servidão eram bastante fanáticas, comparadas com o nosso moderno ponto de vista. Devemos lembrar que, ao tempo em que essas regras foram adotadas, a maioria dos serviçais de qualquer casa rica, ou os servidores de reis e potentados de qualquer espécie, eram como escravos, e, naturalmente, para os essênios todo homem e mulher era um ser livre, sendo a escravidão e a servitude de qual quer tipo abso‑lutamente proibidas. Em cada comunida de, todos participavam de qualquer trabalho referente à comunidade como um todo, e todos tinham sua cota de tarefas humildes a serem executadas. Os novos iniciados tinham de trabalhar nos campos e, em certas

ocasiões, serviam às mesas comunitárias, na cozinha e às mesas dos albergues.

Assim como ocorreu com outros ramos da Grande Fraternidade Branca, os essênios nunca fizeram contratos ou acordos que exigissem juramentos ou qualquer forma de docu‑mento escrito. A respeito deles, tomou‑se de conhecimento geral que sua palavra valia tanto quanto qualquer acordo ou contrato por escrito. Eles possuíam regras e regulamentos que regiam suas vidas, os quais eram bem conhecidos de todos aqueles com quem tinham contato; os mais altos potentados da terra sabiam que os essênios não podiam se prender a quaisquer juramentos, mas eram extremamente responsáveis quando empenhavam sua palavra numa promessa. O próprio Josefo, ao escrever sobre os essênios, em 146 a.C., infor mou que eles tinham sido isentados da necessidade de jurar lealdade a Herodes. E mais que certo que eles se negariam a fazer qualquer promessa em nome de Deus, pois, para eles, como para os judeus que deles herdaram a idéia, o nome de Deus só podia ser mencionado de ma neira sagrada nos templos e, em outras ocasiões, o nome de Deus não podia ser pronunciado. Se houvesse uma discórdia com estranhos, os essênios pagavam qualquer preço que lhes fosse exigido e faziam os sacrifícios que fossem necessários para evitar discussões ou relaciona mentos estremecidos. Por esta razão, os essênios eram bem considerados pelos fariseus e outras seitas da Pales tina, embora essas outras seitas criticassem severamente as práticas religiosas dos essênios.

Falando de juramentos, entretanto, tenho permissão para apresentar aqui o juramento oficial prestado pelos iniciados, o qual era o único juramento admissível. Era feito em nome da honra do iniciado, ao entrar ele no grau final de iniciação, que poderíamos chamar de quar to grau de seu progresso na organi‑zação. O juramento era o seguinte:

Prometo, na presença de meus superiores e dos Ir mãos da Ordem, sempre praticar a humildade diante de Deus e mos‑trar justiça a todos os homens; não causar mal a qualquer criatura viva, por minha própria vontade ou a mando de outros; a sempre abominar o mal, e pres tar auxilio com retidão e justiça; devotar fidelidade a to dos os homens, particularmente àqueles que sejam meus superiores em sabedoria; e, ao ser colocado em posição de autoridade, jamais abusarei dos privilégios ou do poder que me for tem‑porariamente outorgado, nem tenta rei humilhar outros pela exibição mundana de minha capacidade mental ou física; a verdade sempre terá a minha veneração e me esquivarei dos que se comprazem na falsidade; manterei as mãos limpas de qualquer furto, e manterei a alma livre da contaminação do lucro mate rial; dominarei minhas paixões, e jamais me entregarei à ira ou a qualquer demonstração exterior de emoções malévolas; jamais revelarei as doutrinas secretas de nos sa Fraternidade, mesmo com o risco da própria vida, a não ser àqueles que forem dignos; jamais comunicarei essas doutrinas de outra forma que não seja a forma em que foram por mim recebidas; nada acrescentarei ou subtrairei dos ensinamentos, e sempre tentarei preservá ‑los em sua prístina pureza, e defenderei a integridade dos livros e registros de

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nossa Ordem, os nomes dos Mestres, Legisladores e de meus superiores.

Após ter o iniciado alcançado o que poderíamos cha mar de quarto grau e ter feito este juramento, era ele admitido à mesa comunal para participar da única refei ção simbólica do dia, quando a meditação e a contempla ção, assim como a discussão dos problemas do trabalho, formavam uma parte do período em questão.

É interessante notar que toda a alimentação dos essênios era preparada de acordo com regras e regulamentos contidos nos documentos antigos, de modo científico porém simples; embora fossem usadas verduras e muitas formas de alimentos crus... Nunca ocorria qualquer forma de excesso no comer ou banquetes e, certamente, as regras da modera ção em todas as coisas também eram aplicadas ao comer e beber; por isto não havia embriagues nem gula.

Os essênios raramente participavam de discussões pú blicas, e nunca participavam de discussões sobre religião ou política. Geralmente se mantinham calados enquan to os outros falavam, e o silêncio era, aparentemente, o seu lema. Eram bem treinados no uso da voz e entoação de encantamentos, e conheciam tão bem o valor dos sons vocálicos que, através de treinamento, adquiriam uma voz suave, mesmo em conversações comuns. Por este motivo, eram conhecidos como os homens de fala suave.

É muito natural que os essênios tivessem adquirido não só uma personalidade magnética, mas também um corpo sadio, roupas limpas e hábitos salutares, mas também que tivessem desenvolvido auras tão belas que em muitas ocasiões se tor‑navam visíveis aos profanos, o que confundia principalmente os judeus, que desconhe ciam o desenvolvimento da natureza mística, muito em bora suas tradições e sua religião contivessem muitas leis místicas maravilhosas que eles não aplicavam de maneira prática.

Todos os essênios costumavam lavar as mãos e os pés ao entrarem em suas casas ou na casa de outras pessoas, e também purificavam os pés e as mãos antes de qualquer cerimônia e de cada prece diária. Em seus lares indivi duais, eles passavam longo tempo diante do altar em seu sanctum, ou estudando manuscritos e livros raros, os quais circulavam entre eles de acordo com seu grau de progresso. Eram especialmente bem versados em astrologia, astronomia elementar, história natural, geometria, química elementar e alquimia, religião comparada, misti cismo e leis naturais.

Os que eram médicos, na organização, evidentemente des‑pertavam a curiosidade dos povos da Palestina acostu mados aos métodos de cura daquela terra, os quais in cluíam sortilégios, encantamentos pronunciados com voz aguda, a recitação de fórmulas misteriosas, instrumentos grosseiros e o uso de drogas poderosas. Os essênios, por sua vez, falavam suavemente com os pacientes e usavam certos sons vocálicos sem qualquer evidência de represen tarem uma fórmula, e, freqüentemente, faziam as maio res curas pela simples aposição de mãos ou instruindo o paciente a retirar‑se para o silêncio do lar e dormir, en quanto a cura era conduzida metafisicamente.

Todos os Irmãos essênios e as mulheres a eles associa das

prometiam educar seus filhos de acordo com os en sinamentos e princípios que constituíam a base da cren ça essênia, e a criar cada filho dentro do escopo da orga nização até o décimo segun‑do ano de vida, quando a criança era aceita condicionalmente até completar vinte e um anos, época em que os varões eram admitidos ao primeiro grau, atingindo o quarto grau por volta dos trinta e quatro anos. As mulheres eram admitidas como membros associados aos vinte e um anos, e permaneciam nessa categoria pelo resto de suas vidas, se provassem ser dignas por seu modo de viver.

Apenas ocasionalmente um Essênio recebia permissão para falar publicamente ou fazer milagres em público, e mesmo assim não com fins de demonstração, mas apenas como prestação de um serviço. Aqueles dentre os essênios que tinham passado pelo maior número de encarna ções e por isto eram mais evoluídos, eram escolhidos co mo líderes e, dentre eles, um era escolhido em cada ciclo para sair pelo mundo e organizar o trabalho essênio em uma nova terra.

Os essênios esperavam ansiosamente pela vinda de um grande Salvador que nasceria dentro da organização, e seria a reencarnação do maior de seus líderes do passado. Através de seu conhecimento altamente desenvolvido e do contato íntimo com o Cósmico, eles estavam bem informados sobre os aconte‑cimentos futuros; a literatura da Fraternidade Essênia e a litera‑tura de muitos países contêm referências à existência de profetas entre os essênios. Maném, por exemplo, foi um de seus profetas, famoso por profetizar que Herodes se tornaria rei.

Ao que parece, havia um regulamento ou lei não escri ta, entre os essênios, segundo a qual nenhum membro deveria se dedicar a qualquer tarefa diária que fosse des trutiva, mas, sem‑pre construtiva. Assim, verificamos que a lista de essênios pro‑eminentes inclui tecelões, carpin teiros, viticultores, jardineiros, mercadores, e os que con tribuíam para o bem‑estar do público. Nunca existiu na organização o armeiro, o açougueiro ou aquele que se dedicasse a qualquer prática ou negócio ligado à destrui‑ção do menor ser vivo.

Deve estar claro aos leitores que a Fraternidade Essê nia pareceria ter sido uma das seitas da Palestina e que, portanto, deveria ser classificada como tal pelos judeus e pelas autoridades governamentais. É por isto que fre qüentemente encontramos, em registros recentemente descobertos, referências aos essênios como uma das sei tas da Palestina. Seria natural, para os judeus, considerar os essênios como organização religiosa ao invés de fraternal ou mística, e, sem dúvida, como uma organização con‑trária às práticas e doutrinas judaicas. Em tais condi ções, nada mais natural que os essênios estabelecessem seus lares em certas comunidades onde viviam seus iguais, onde poderiam encontrar o companheirismo que viesse fortalecer seus interesses.

Os essênios não eram judeus por nascimento, raça ou religião e freqüentemente foram chamados Gentios em muitos escritos sagrados, inclusive na Bíblia Cristã.

A Vida Mística de JesusOrdem Rosacruz ‑ Amorc

Grande Loja do Brasil

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10 19ª aula: A fraternidade essênia

As virtudes (I)Ney Pietro Peres — Manual Prático do EspíritaGEAEL

AS VIRTUDES

Qual a mais meritória de todas as virtudes?— Todas as virtudes têm o seu mérito, porque todas são indícios de progresso no caminho do bem. Há virtudes sempre que há resistência voluntária ao arrastamento das más tendências; mas a sublimidade da virtude consiste no sacrifício do interesse pessoal para o bem do próximo, sem segunda intenção. A mais meritória é aquela que se baseia na caridade mais desinteressada.

Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Livro Terceiro. Capítulo XII. Perfeição moral. Pergunta 893.

Até parece que, em nossos dias, não se usa mais a pala‑vra “virtude”. Pouco se comenta, de um modo geral, sobre as virtudes dos homens, antes admiradas e respeitadas, hoje de exemplos tão raros.

A impressão que guardamos dos comentários feitos a respeito das virtudes vem possivelmente das educadoras re‑ligiosas, na nossa infância, quando pareciam ser qualidades apenas das criaturas santas e angelicais, distantes das nossas próprias possibilidades. Querer ser virtuoso, quando criança, era a imagem do garoto obediente, bem comportado, que não falava nome feio, que não brincava espontaneamente; era a fi‑gurinha aureolada, introspectiva, coisa ridícula para as crian‑ças de hoje.

Quem atualmente valoriza as qualidades virtuosas e as procura incentivar?

Bem poucos, podemos dizer; é coisa de antigamente, das cidades pequenas, das famílias tradicionais, já não compatí‑vel com os padrões sociais das cidades que muito cresceram, onde poucos se conhecem e todos levam as suas vidas des‑preocupados com a retidão de caráter, a seriedade profissio‑nal, a honestidade, a fidelidade conjugal, a boa educação de princípios.

Virtude, no entanto, não é algo tão distante assim do nos‑so modo de ser. Os dicionários assim a definem: “Disposição firme e constante para a prática do bem”.1

“Há virtude toda vez que há resistência voluntária ao arrastamento das más tendências”, nos afirmam os instruto‑res espirituais. Então, não é assim tão afastada das nossas possibilidades, mesmo que estejamos desacostumados a falar desses valores, ou mais ainda, de cultivá‑los em nós mesmos e no nosso meio.

Temos, nas virtudes, aqueles padrões de comportamento que um dia chegaremos a vivenciar espontaneamente, sem que para isso nos custe algum esforço. Reagiremos de modo natural, por hábito, com bons sentimentos, sem dificuldades.

1 Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 1ª edição.

É preciso compreender que a atitude virtuosa deve es‑tar despida do interesse pessoal, ou das intenções ocultas; praticar o bem pelo próprio bem. Dizem‑nos os amigos da Espiritualidade: “O sublime da virtude consiste no sacrifício do interesse pessoal para o bem do próximo, sem intenção oculta”. (O Livro dos Espíritos. Pergunta 893.) E a maior qua‑lidade que a virtude pode ter é a de ser praticada com a mais desinteressada caridade, o que lhe confere grandioso mérito.

Características Básicas das Virtudes

Propondo‑nos à realização progressiva do nosso auto— aprimoramento, vamos juntos estudar as características bási‑cas das virtudes, isto é, procuremos conhecer seus principais aspectos, o que muito facilitará a sua prática no nosso rela‑cionamento com as pessoas de todas as áreas sociais a que pertençamos.

O Espírito Verdade, no Evangelho Segundo o Espiritis-mo, de Allan Kardec (Capítulo VI. Item 8. “O Cristo Consola‑dor”), fala‑nos do “devotamento” e da “abnegação”, afirmando que a sabedoria humana reside nessas duas palavras.

Diz‑nos: “Adotai por divisa estas duas virtudes: devota‑mento e abnegação, e sereis fortes, porque elas resumem to‑dos os deveres imposto pela caridade e humildade”.

“Devotamento” é dedicação, afeição com religiosidade, com sentimento de amor profundo, a uma causa ou a cria‑turas.

“Abnegação” é desinteresse, desprendimento, renúncia, sacrifício voluntário do que há de egoístico nos desejos e tendências naturais do homem em proveito de uma pessoa, causa ou idéia. (Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Novo Dicionário da Lingua Portuguesa, 1ª ed.).

Em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec (Capítulo XII. “Perfeição moral ‑ Das paixões”), a pergunta 912 indaga:

Qual o meio mais eficaz de se combater a predomi-nância da natureza corpórea? O que entendemos ser a predominância da própria natureza animal do homem, a manifestação dos seus desejos, dos interesses pessoais, das paixões desenfreadas, do egoísmo humano.

A essa pergunta, os instrutores da equipe espiritual da Codificação responderam apenas:

— Praticar a abnegação.

Resumindo

Desse apanhado, podemos enumerar de modo simples, como meio para a nossa aferição individual, as características fundamentais das virtudes, como consistindo no seguinte:

a) Disposição firme e constante para a prática do bem;

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Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica (8ª turma/GEAEL) 11

b) Prática da resistência voluntária ao arrastamento das más tendências;

c) Sacrifício voluntário do interesse pessoal, renunciando pelo bem do próximo — abnegação;

d) Prática da caridade desinteressada, empregada com discernimento para o proveito real dos que dela necessitam;

e) Dedicação com sentimento de amor profundo e des‑prendimento — devotamento;

f) Fazer o bem por impulso espontâneo, natural, por há‑bito, sem, esforço ou dificuldade.

Nos capítulos seguintes procuraremos entrar em deta‑lhes, especificando as características principais das virtudes mais comuns que almejamos exercitar.

HUMILDADE, MODÉSTIA, SOBRIEDADE

Os males deste mundo estão na razão das necessidades arti‑ficiais que criais para vós mesmo.Aquele que sabe limitar os seus desejos, e ver sem cobiça o que está fora das suas possibilidades, poupa‑se a muitos aborrecimentos nesta vida. O mais rico é aquele que tem menos necessidades.

Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Livro Quarto. Capítulo 1. “Penas e gozos terrenos”. Parte da resposta à pergunta 926.)

Como cultivar em nós a simplicidade de coração e a hu‑mildade de espírito?

Como transformar o orgulho que tanto predomina em todas as nossas atitudes?

Vejamos como podemos ser verdadeiramente humildes:

a) Quando estivermos nos dando muito valor, pelo que possu‑ímos financeiramente, pela posição social à qual chegamos, pelo cargo que ocupamos, ou pelo conhecimento adquirido, no elevado conceito que possamos fazer de nós mesmos, meditemos seriamente, com urgência, no falso rumo em que nos achamos e esforcemo‑nos em refrear os ímpetos de revolta, de inconformação, as exaltações de ânimo, os melindres, as queixas, indicativos de nosso engano;

b) Aplicando o princípio de que a verdadeira sabedoria está na condição de, pelo muito que possamos conhecer, con‑seguir avaliar o pouco que atingimos e a pequenez que re‑presentamos diante da imensidão universal. O pouco saber nos afasta de Deus, o muito saber Dele nos aproxima. O verdadeiro sábio percebe que nada sabe;

c) Aceitando com respeito e igualdade as opiniões, idéias, pen‑samentos e convicções dos que conosco convivendo contra‑riem nossas certezas, procurando entender que anteriormen‑te às palavras por eles pronunciadas, incontáveis experiên‑cias marcaram‑lhes o espírito, não raro dolorosamente;

d) Ouvindo com paciência e atenção, sem deixar perturbar nossas emoções de revide, todas as vezes que formos por alguém criticados;

e) Vigiando o nosso entusiasmo, nos planos a serem concre‑tizados, para não resvalarmos nos prejudiciais destaques que a nossa pessoa sempre almeja, confundindo‑se nas ma‑nifestações de vaidade;

f) Evitando o menosprezo a quem quer que seja, por maiores que sejam as razões a nosso favor, para não faltarmos com o importante dever de caridade, que precisa revestir todas as nossas ações;

g) Sendo submissos às ordens recebidas nos deveres assu‑midos, mesmo que contrárias aos nossos pontos de vista, como treinamento necessário de renúncia aos nossos ca‑prichos;

h) Procurando sempre o lado simples e belo de todas as coi‑sas, independente das aparências enganosas que possam agradar aos nossos sentidos físicos;

i) Valorizando todas as oportunidades de exercer as funções mais modestas e desempenhar os afazeres mais singelos, silenciando com toda a força as possíveis inconformações, pois quem quiser ser o maior, seja o melhor servo dentre todos;

j) Verificando que pobreza de espírito não é desmazelo, nem aparência esfarrapada, ou até falsa modéstia, é condição íntima de reconhecimento da nossa parca evolução, sem que para isso chamemos a atenção da nossa inferioridade pela maneira de vestir, de falar ou de se referir a nós mes‑mos;

l) Resistindo de todos os modos possíveis aos nossos impul‑sos de insubordinação e ódio quando formos injustiçados, caluniados. humilhados, menosprezados, machucados ou ofendidos por quaisquer pessoas. Reconheçamos que so‑mente Deus pode julgar nossos atos e, se temos nosso cora‑ção puro, Ele nos recompensará;

m) Evitando de qualquer maneira a ostentação ou mesmo a espera do reconhecimento, por outrem, das boas obras que estejamos conduzindo. Fazer o bem destruindo aos poucos os altares e monumentos, erguidos ou referidos à vaidade, é também combate ao orgulho humano.

Em poucas palavras, resumimos. Ser humilde é ser:

1º Despretensioso;2º Conformado;3º Resignado;4º Simples;5º Submisso;6º Respeitoso;7º Reservado;8º Comedido;9º Moderado;10º Sóbrio.

Esse é o decálogo do homem humilde, que precisamos guardar para comfronto diário com as nossas manifestações interiores.

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12 19ª aula: A fraternidade essênia

Transcrito do livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec

1. Os espíritos sempre disseram: “A forma nada significa, o pen‑samento é tudo. Orai segundo vossa crença e da maneira que mais vos sensibilize, pois um bom pensamento vale mais do que muitas palavras que não vêm do coração”.

Os espíritos não prescrevem um modelo definitivo de prece; quando o fazem, é com a finalidade de firmar as idéias, e principal‑mente para chamar a atenção sobre determinados pontos da dou‑trina espírita. Fazem‑no, também, com o objetivo de ajudar quem não se sente capaz de expor suas idéias, pois há pessoas que acham que não oraram realmente se não conseguiram expressar seus pen‑samentos.

A coletânea de preces reunidas neste capítulo constitui uma se‑leção feita entre as que foram ditadas pelos espíritos em diferentes circunstâncias. Eles podem ter ditado outras, com outras palavras, adequadas a determinadas idéias ou a casos especiais, mas a forma pouco importa se o pensamento é essencialmente o mesmo. O obje‑tivo da prece é elevar nossa alma a Deus; palavras diferentes utili‑zadas entre uma forma ou outra de orar não devem fazer a menor diferença para aqueles que Nele crêem, e muito menos entre os adep‑tos do espiritismo, pois Deus acolhe todas, desde que sejam sinceras.

Não se deve, portanto, considerar esta coletânea um modelo ab‑soluto, mas sim um apanhado das várias instruções transmitidas pelos espíritos. É uma aplicação dos princípios da moral evangélica desenvolvida neste livro, um complemento dos seus ensinamentos sobre os deveres em relação a Deus e ao próximo, em que são lembrados todos os princípios da doutrina.

O espiritismo reconhece como boas as preces de todos os cultos quando são ditas de coração e não da boca para fora. Ele não impõe nem reprova nenhuma. Segundo a doutrina espiríta, Deus é infinitamente bom para não dar ouvidos à voz que suplica, ou que Lhe entoa louvores, só porque o faz de um modo e não de outro. Todo aquele que condenar as preces que não fazem parte de seu formulário, provará que desconhece a grandeza de Deus. Pensar que Deus Se limita a uma fórmula, é atribuir‑Lhe a peque‑nez e as paixões da humanidade.

Segundo São Paulo (Veja capítulo XXVII, número 16, desta obra), uma condição essencial da prece é que ela seja inteligível, ou melhor, bem compreendida, para que possa tocar‑nos a alma. Não basta, porém, que seja dita numa língua compreendida por quem ora: há preces em linguagem popular que não dizem à nossa mente muito mais do que se fossem expressas numa língua desconhecida, e que, por isso mesmo, não chegam ao coração. As raras idéias que elas encerram são muitas vezes sufocadas pelo excesso de palavras e pelo misticismo da linguagem.

Os principais atributos da prece são a clareza, a simplicidade e a precisão, sem frases inúteis nem adjetivos excessivos, que não passam de enfeites de brilho enganoso. Cada palavra deve ter sua exata importância, despertar uma idéia, fazer nossa alma vibrar. Em resumo, deve nos fazer refletir. Só nessas condições a prece pode atingir seu objetivo; caso contrário, não passa de tagarelice. Observai, também, com que ar distraído e desconcentrado as preces são ditas na maioria das vezes. Vêem‑se lábios que se movimentam, mas, pela expressão do rosto e pelo próprio tom de voz, percebe‑se que se trata de um gesto automático, puramente exterior, ao qual a alma permanece indiferente.

As preces reunidas nesta coletânea estão divididas em cinco categorias: preces universais, preces por si mesmo, preces pelos vivos, preces pelos mortos, e preces pelos doentes e obsediados.

Com o intuito de chamar a atenção de modo mais particular sobre o objetivo de cada prece, e de fazer com que sua importância seja melhor entendida, todas elas são precedidas de uma instrução, de uma espécie de exposição de motivos, sob o título de preparação.

Cada palavra deve ter sua exata importância, despertar uma idéia, fazer nossa alma vibrar.

Instruções dos espírItos