a formação da imagem das cidades no estado novo – estudo de imagens oficiais

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  • 7/31/2019 A Formao da Imagem das Cidades no Estado Novo Estudo de Imagens Oficiais

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    Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Santos 29 de agosto a 2 de setembro de 2007

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    A Formao da Imagem das Cidades no Estado Novo Estudo de Imagens Oficiais 1

    Manoela Carrillo Valduga2: docente dos cursos de Hotelaria e Turismo da PontifciaUniversidade Catlica do Rio Grande do Sul.

    Paula Manozzo3: mestranda em Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal doRio Grande do Sul.

    Resumo

    A partir do estudo de imagens oficiais da cidade de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul,durante o perodo histrico conhecido como Estado Novo, buscamos relacionar a formao daimagem das cidades pelo poder pblico e sua ressonncia no turismo. As imagens selecionadaspara tal tiveram duas provenincias: 1) imagens obtidas na publicao oficial Biografia dumacidade, cuja percepo reflete o quanto Porto Alegre, a partir da ao do prefeito Jos Loureiroda Silva, transmitiu uma imagem de cidade urbanizada, portanto, moderna. 2) Cartes-postais de

    pocas diferentes, porm de um mesmo local da capital gacha, o prdio da Prefeitura Velha.Para a construo da imagem turstica, acreditamos que a mesma ocorre de acordo com aconcretizao da imagem da cidade construda por motivos externos ao turismo, decorrendo,assim, do que j est localmente consolidado.

    Palavras-chave

    Estado Novo; Porto Alegre; Imagem; Urbanismo; Imagem Turstica.

    A Formao da Imagem das Cidades no Estado Novo Estudo de Imagens Oficiais

    O processo de construo das imagens das cidades feito, de maneira geral, atravs da

    estruturao dos organismos pblicos, uma vez que os mesmos delegam a alguma de suas

    secretarias a tarefa de construir um conceito para a cidade que, em suma, defina suas

    caractersticas e apresente o que a mesma tem a oferecer queles interessados na localidade.

    Sendo a atividade turstica intrinsecamente ligada com a comunicao, muito devido ao

    que tange ao visual, ou seja, s imagens, em diversas ocasies, a Secretaria de Turismo, ou rgoafim, cabe a responsabilidade por tal ao. Nestes casos, pode ser empregado por este

    responsvel o que Kotler, Haider e Rein (1994) chamam de Marketing de Localidades, uma vez

    que esta cincia da Administrao, cujo objeto de estudo o mercado, pode elencar uma srie de

    1Trabalho apresentado ao NP Comunicao, Turismo e Hospitalidade do VII Encontro dos Ncleos de Pesquisa da Intercom.2 Bacharel em Turismo pela Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul; Graduanda em Cincias Sociaispela Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Mestre em Turismo pela Universidade de Caxias do Sul. E-mail:[email protected] Bacharel em Turismo pela Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul; Especialista em Marketing eMestranda em Planejamento Urbano e Regional, ambos pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E-mail:[email protected].

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    aes a ser tomadas visando uma unidade de pensamento quanto imagem a que a cidade se

    prope divulgar.

    Visto que a propaganda sempre assumiu um papel essencial no processo, sob esta anlise,

    ela qualquer forma impessoal de promoo de idias, bens ou servios, paga por um

    patrocinador identificado (SANTOS, 2005).

    Ogden (2002) coloca em outras palavras:

    o desenvolvimento e execuo de qualquer mensagem de lembrana, informativa oupersuasiva, comunicada a um mercado ou pblico-alvo atravs de um meio no-pessoal(...), sendo que seu benefcio-chave a capacidade de comunicar uma mensagem para umgrande nmero de pessoas ao mesmo tempo.

    Por outro lado, sob um vis social, no se pode negar que a propaganda pode ser utilizadacomo um grandioso instrumento de manipulao (GARCIA, 1982). Esta questo, ento, ser

    analisada neste artigo, tendo como foco a promoo de idias atravs da veiculao de imagens

    efetuada pelo Estado Novo, entre 1937 e 1945, durante o governo de Loureiro da Silva, em Porto

    Alegre.

    Pouco antes deste perodo da histria brasileira em que a ditadura se fez presente, em

    1935, o Rio Grande do Sul teve seu primeiro inventrio turstico realizado pelo Touring Club do

    Brasil, o primeiro rgo oficial de turismo do estado, por assim dizer. Antes disto, em 1923, amatriz do mesmo rgo fora implantada no Rio de Janeiro, cujo objetivo era organizar, promover

    e vender os atrativos tursticos do estado em questo. (VALDUGA, 2007).

    A Propaganda e o Estado Novo

    A propaganda durante o Estado Novo, pode-se dizer, foi trabalhada em frentes

    diferenciadas, isto , a propaganda poltica efetuada pelo governo federal com o objetivo de

    legitimar o prprio Estado Novo, uma vez que o mesmo se deu atravs de um golpe, e o controle

    dos meios de comunicao do pas, ao esta que visava fiscalizao de todo tipo de

    informao a ser repassada pelos veculos de comunicao do Brasil e, tambm, servir como

    propagador dos ideais do prprio Estado.

    A grande inspirao do governo Vargas para a propaganda poltica efetuada no estado

    brasileiro foi o movimento nazi-fascista que estava ocorrendo na Europa, mais precisamente na

    Itlia, com Mussolini, e na Alemanha, com Hitler. Como comenta Pandolfi (1999), o

    varguismo no se define como fenmeno fascista, mas preciso levar em conta a importncia da

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    inspirao das experincias alem e italiana nesse regime, especialmente no que se refere

    propaganda poltica.

    Os mtodos de comunicao em massa foram o grande aliado dos nazistas para a

    propagao de seus pensamentos ideolgicos.

    O pas foi inundado por panfletos, cartazes vermelhos ornados de cruz gamada, jornaisdistribudos nas ruas, caixas de correios ou lanados por avies. Alto-falantes foramusados para repetir as palavras de ordem ou para fazer ouvir as palavras do lder gravadasem discos. Em meetings organizados por todo o pas, oradores formados pelo partidopopularizaram temas e slogans de fcil assimilao (PANDOLFI, 1999).

    Elementos alusivos emoo estavam contidos nestes discursos e se tornaram marca da

    propaganda nazista, os quais favoreciam o sentimento de unidade.

    Uso de insinuaes indiretas, veladas e ameaadoras; simplificao das idias para atingiras massas incultas; apelo emocional; repeties; promessas de benefcios materiais aopovo (emprego, aumento de salrios, barateamento dos gneros de primeira necessidade);promessas de unificao e fortalecimento nacional (PANDOLFI, 1999).

    Hitler, em seu livro Mein Kampf, reitera sua opinio em relao utilizao destas

    expresses de cunho emocional:

    A arte da propaganda consiste em ser capaz de despertar a imaginao pblica fazendoapelo aos sentimentos, encontrando frmulas psicologicamente apropriadas que chamama ateno das massas e tocam os coraes (GUYOT & RESTELLINI, 1983 apudPANDOLFI, 1999).

    Desta forma, amparado a este modelo, Vargas adota a mesma tcnica no Brasil:

    O jornal getulista A Noite (3-1-1945), comentou que Vargas no se perdia no jogo depalavras. O discurso do chefe era elaborado a partir de tcnicas de linguagem: ele usavaslogans, palavras-chave, frases de efeito e repeties ao se dirigir s massas. Os meios decomunicao reforavam a figura do lder com frases como a generosa e humanitriapoltica social do presidente Vargas; reiteradas e expressivas provas de carinho aopresidente Vargas; a popularidade do presidente Vargas; homenagem de respeito etestemunho de gratido ao presidente Vargas (PANDOLFI, 1999).

    A idia de unidade, tal como os regimes totalitrios europeus do momento, era,

    basicamente, o foco de tais aes no Estado Novo:

    Como objetivo mediato o que se visava era reproduzir a subordinao ao Estado e assim,indiretamente, aos interesses do capital por aqueles assumidos. A subordinao deveria seconcretizar atravs da submisso passiva s decises governamentais desmobilizao

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    poltica e da participao efetiva atravs do trabalho mobilizao econmica (...).Paralelamente, o meio fsico ia sendo remodelado de forma a tornar-se unidimensional.As construes, a decorao geral, as denominaes de ruas e logradouros, as placas, tudoera cuidado para que se adequasse s idias divulgadas pela propaganda, tornando-asmais concretas e permanentes e sugerindo a fora e a eficincia onipresente do Estado(GARCIA, 1982).

    Os meios de comunicao do pas, alm de terem de veicular uma grande parte das suas

    notcias relacionadas ao Estado Novo, em matrias enviadas pela prpria Agncia Nacional,

    sofreram grande fiscalizao por parte do Governo.

    Com a Constituio de 1937, a censura prvia aos meios de comunicao foi legalizada

    no Brasil e a imprensa tornou-se, ento, um instrumento do Estado e veculo oficial da ideologia

    do Estado Novo. O DIP, Departamento de Imprensa e Propaganda, rgo este de controle e

    represso de idias e atos, produzia e divulgava o discurso destinado a construir certa imagemdo regime, das instituies e do chefe do governo, identificando-os com o pas e o povo

    (PANDOLFI, 1999).

    Garcia (1982) coloca muito bem como a questo da propaganda se encontrava naquele

    momento: montou-se um sistema de controle em que o estado monopolizava todos os meios de

    produo e difuso das idias.

    Em funo das inmeras atividades legadas ao Departamento de Imprensa e Propaganda,

    o mesmo contava com uma diretoria geral e cinco divises internas, ou seja, Rdio, Cinema e

    Teatro, Imprensa, Divulgao e Turismo. Estas divises seriam responsveis por toda e qualquer

    atividade relacionada a estes temas no que diz respeito mquina propagandista.

    Dentre estas divises internas, a Diviso de Turismo tinha como foco principal fiscalizar

    os servios de turismo interno e os direcionados ao exterior. Foi incentivada a construo de

    hotis, a classificao de agncias e empresas de turismo foi implantada, visando um registro

    padro. Foram promovidos congressos, feiras e exposies, alm de impressa uma revista em

    ingls, a Travel in Brazil. Outros materiais promocionais como folhetos, cartes-postais e

    calendrios tursticos tambm foram produzidos. Palavras e imagens sempre foram utilizadas

    pelo DIP para mostrar a contnua vinda de turistas ao pas, porm sabia-se que o momento vivido

    pelo mundo no encontrava respaldo legtimo nestas aes.

    Souza (2003) comenta o difcil panorama histrico daquele momento, onde a proporo

    mundial da guerra dificultava o turismo internacional, o que fez com que a Diviso de Turismo

    terminasse por ficar reduzida a um escritrio de luxo para visitantes considerados importantes,

    vindos do exterior, como, por exemplo, Walt Disney, Orson Welles, Ed Sullivan, dentre outros.

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    Ao colocarmos nosso foco no Rio Grande do Sul e, mais especificamente, na sua capital,

    pode-se observar que Getlio Vargas teve um grande aliado e, mais do que isto, uma pessoa de

    sua extrema confiana, na implantao de sua poltica em mbito local, ou seja, Jos Loureiro da

    Silva. Prefeito de Porto Alegre, primeiramente, entre 1937 e 1943, Loureiro da Silva deixou

    claro desde o incio de seu mandato a sua afinao com o a ditadura de Getlio Vargas:

    Neste momento excepcional para a histria do Brasil que se constri um Brasil novo nasua grande extenso. Nele existem duas foras que representam a nacionalidade: uma deordem espiritual, que a mais bela, a mais pura das nossas tradies (sic) formadora danossa conscincia, da nossa alma, do nosso esprito e que reside nos dez mandamentos,consistindo a moral brasileira sob o sigma da cruz, e uma outra, da fora, e foraaglutinadora, com um sentido profundamente nacional sem ir aos extremos do fascismo,pois o nacionalismo no fascismo de vez que aquele sintetiza o verdadeiro amor Ptria. Acentuo que o militar nada mais do que um civil com farda, na misso dedisciplinar a conscincia nacional, tornando-se fora agregadora da nacionalidade.(CORREIO DO POVO, 1937, apud BRAGA, 2002).

    Um dos aspectos mais significativos da administrao de Loureiro da Silva foi,

    sem dvida, a remodelao de Porto Alegre. A modernizao da capital gacha foi um dos focos

    mais presentes do seu governo, cumprindo risca a cartilha de Getlio Vargas (Braga, 2002),

    ou seja, levar o pas ao progresso e modernidade, muito atravs de grandes obras arquitetnicas

    e remodelaes urbansticas. O apreo s formas urbanas desde sempre foi explicitado pelo ento

    prefeito da cidade: Sou um bacharel urbanista, adoro ver riscos de cidades projetadas.

    Especialmente da minha cidade, que tanto amo (DE GRANDI, 2002).

    Teria sido o Urbanismo um Instrumento de Propaganda no Governo de Loureiro da Silva?

    Loureiro da Silva era conhecido como o tocador de obras. Levando isto em

    considerao, possvel perguntar-se se estas intervenes na capital, ou num mbito maior, a

    questo do urbanismo, foi utilizada como instrumento de propaganda do governo Loureiro da

    Silva. Braga (2002) comenta:

    A cidade de Porto Alegre deveria corresponder ao projeto de nao que se desejava. JosLoureiro no poupou esforos em fazer a cidade um espelho do iderio estado-novista.Podemos entender que a importncia das construes urbanas teria um significadosimblico muito importante no que diz respeito composio arquitetnica de cunhoautoritrio. O perodo era discricionrio, de inspirao nazi-fascista. Assim, os espaosabertos e a amplitude passariam a fazer parte do conjunto de obras que surgem durante a

    administrao de Loureiro. A vida urbana, como desejo cada vez maior, e o aumento dapopulao porto-alegrense sobrevinda do campo, justificam a intensificao dos anseiosde um novo modus vivendi.

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    A vertilicalizao dos prdios, dando uma idia de amplitude, foi outro destaque no

    governo de Loureiro da Silva. A reiterao do seu carter ideolgico, ou seja, a promoo de

    seus ideais demonstrados atravs da questo urbanstica, poderia novamente ser levantada.

    Outra caracterstica que se evidenciou durante a fase Loureiro da Silva foi averticalizao da cidade de forma intensificada. Esta verticalizao j acontecia durante adcada de 30, mas nos anos 40 se acentuou e legou para as dcadas posteriores acontinuidade desse processo em que a cidade passa a ser dominada pelo desenho dosarranha-cus. O Centro, como irradiador dos projetos modernizadores, atestava agrandiosidade de alguns prdios, que naquele momento no eram contemplados porpoucos andares. A idia era de que quanto mais alto pudesse ser o prdio, mais modernoseria a cidade. Surgiram, assim, durante os anos 40, edifcios como o Sulacap e o Unio,ambos na Avenida Borges de Medeiros, que passou a ser tambm a Avenida queconcentraria a maior parte dos espiges que passavam a fazer parte da paisagem(BRAGA, 2002).

    Fig.1. Avenida Borges de Medeiros, 1940. Uma srie de arranha-cus j presentes.

    A idia da amplitude era ainda perseguida atravs da construo de grandes avenidas,

    expandindo Porto Alegre para as regies perimetrais, a exemplo da Avenida Farrapos, fazendo aligao do Centro com o acesso a Canoas. Ou, a remodelao das j existentes como o

    alargamento e obras de melhoramentos das Avenidas Joo Pessoa, Azenha, Protsio Alves,

    Borges de Medeiros, dentre outras.

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    Fig.3. Cartaz comemorativo (2 lugar) ao Bicentenrio de Porto Alegre.

    Fig.4 e 5. Juventude desfilando na Av. Borges de Medeiros. Comemorao ao Bicentenrio de PortoAlegre, 1940.

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    Fig.6. Presidente Getlio Vargas na inaugurao da Av. Farrapos, durante as comemoraes ao

    Bicentenrio de Porto Alegre, 1940.

    Fig.7. Presidente Getlio Vargas inaugura a Exposio de Administrao e Urbanismo doGoverno do Estado e Prefeitura. Comemoraes ao Bicentenrio de Porto Alegre, 1940.

    As fotos oficiais da cidade anteriormente apresentadas preocupavam-se em mostrar os

    feitos urbansticos, como a verticalizao das construes, a abertura de vias e o caminho que

    Porto Alegre seguia, ou seja, o da modernizao. A opo pela busca do desenvolvimento

    significava a cpia de um modelo norte-americano de crescimento econmico e, de certa forma,

    retirava as caractersticas provincianas das localidades terceiro-mundistas.

    No imaginrio social, que corresponde a representaes coletivas da sociedade global,

    sem necessariamente representar o que se poderia chamar de verdade social (PESAVENTO,

    1996), est presente o desejo, o sonho e quem sabe a utopia de uma poca, que vislumbrava o

    devirdo mundo urbano em detrimento ao mundo rural.

    Para o turismo, tal feito pode significar a consolidao de uma imagem moderna ao

    destino. Na figura 3, por exemplo, o cartaz convida os visitantes a conhecerem uma cidade

    marcada pela sua relao com o lago, mas com clara aluso modernizao, apresentandodiversos prdios de vrias alturas ao fundo de um monumento.

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    Estas imagens nos mostram como esta celebrao pode ter sido utilizada como

    propaganda ideolgica, mostrando as realizaes de Loureiro da Silva como sua marca na

    cidade.

    Um Olhar sobre o Carto-postal como Instrumento de Propaganda

    Um dos instrumentos mais utilizados na atividade turstica para a promoo de

    localidades o carto-postal. No Brasil, o primeiro deles, chamado na poca de bilhete postal,

    foi autorizado pelo Ministro da Agricultura, Comrcio e Obras Pblicas, Manuel Buarque de

    Macedo, em 1880. Bem recebido pelos brasileiros, quatro anos depois, em 1884, o carto-postal

    representava 41% das coletas de correspondncias particulares no pas.

    Em 1891 foi lanado o primeiro carto-postal impresso com a imagem colhida da

    fotografia, e no do desenho, por Dominique Piazza, de Marselha, alavancando sua utilizao.

    Outro impulso reconhecido foi a ao dos correios de todos os pases, que consentiram que esta

    imagem ocupasse todo o campo de uma das faces, enquanto que a reservada antes para o

    endereo seria dividida em duas partes: uma, a ele dedicada, outra, mensagem (BERGER,

    1983).

    Atualmente, o carto-postal um grande artefato de cultura utilizado especialmente pelos

    turistas ou por colecionadores, fs de paisagens urbanas. Construdo para memorizar um lugar, o

    objetivo do carto-postal a paisagem contida nele e seus contornos. Muito mais perto da

    histria do que do discurso, os cartes-postais transformam a paisagem de uma maneira

    fotognica, convertendo-a em uma arqueologia de lugares comuns, simbolizando e integrando-a

    em uma memria coletiva (MANGIERI, 1989).

    Levando em considerao o fato de haver, nacionalmente, uma Diviso de Turismo

    ligada ao DIP, e tendo a atividade turstica um grande vis de propagador de idias e imagens,

    atravs de meios como o carto-postal, ao pensarmos Porto Alegre, percebe-se que o governoLoureiro da Silva pouco utilizou este instrumento para efetuar a propaganda da cidade, apesar

    dos engenheiros-urbanistas Ubatuba de Faria e Pereira Paiva (1938), no documento entregue ao

    prefeito Loureiro da Silva, chamado Contribuio ao estudo da urbanizao de Porto Alegre, j

    terem mencionado o turismo como uma promissora atividade para Porto Alegre.

    Nossa cidade est fadada a ser um grande centro de turismo. Temos uma naturezabelssima. Precisamos ajuntar-lhe a obra do homem. Precisamos dar-lhe um carter

    grandioso de acordo com o vertiginoso progresso de nossa capital. Assim atrairemosturistas.

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    Ainda no mesmo estudo, Ubatuba de Faria e Pereira Paiva (1938), tcnicos da prefeitura

    que trabalharam com o Engenheiro Arnaldo Gladosch na elaborao do Plano Diretor de 1938,

    colocam que o Plano Diretor para Porto Alegre dever dar um carter monumental cidade de

    acordo com o seu progresso e com o fim de atrair os turistas.

    Porm, pode-se perceber, a partir do acesso a diversos postais da poca, que seus

    antecessores, especialmente Jos Montaury, Otvio Rocha e Alberto Bins, que governaram Porto

    Alegre entre 1897 e 1937, fizeram um melhor uso de cartes-postais como um instrumento de

    propaganda das imagens da cidade, ou mesmo das suas intervenes na capital Gacha. Por

    outro lado, deve-se levar em conta a dificuldade em localizar materiais do perodo histrico

    evidenciado neste artigo, uma poca que insiste em permanecer enclausurada e obscurecida pelas

    dificuldades inerentes s suas particularidades: o prprio Estado Novo (BRAGA, 2002).

    A Prefeitura Velha em Carto-postal

    Os dois cartes-postais abaixo colocados, ambos com imagens da Prefeitura Velha em

    dois momentos histricos distintos, podem servir como exemplo de resgate histrico,

    evidenciando no somente a arquitetura em si, mas todo o modus vivendis daquela poca.

    Fig.16.Prefeitura Velha, 1915.

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    Fig.17. Prefeitura Velha, 1938-1942. Administrao Loureiro da Silva.

    Ao analisarmos as figuras 16 e 17, de imediato possvel perceber a modernidade atravs

    do tempo. Podemos iniciar a comparao verificando o ngulo pelo qual as fotos foram tiradas.

    Na Figura 16, o fotgrafo est no mesmo plano em que se encontra o prdio, ou seja, no h a

    existncia de edificaes verticais nas proximidades. Na figura 17, por sua vez, percebe-se que o

    fotgrafo encontrava-se em algum edifcio cuja verticalizao do mesmo j fazia parte da

    paisagem urbana, bem como conforme visto no decorrer deste artigo. Atrs da prefeitura, esquerda, tambm se percebe um prdio com diversos andares.

    Na continuao, podemos analisar, ainda de uma maneira relativa, o entorno do prdio.

    Na figura 16, por estar em um plano mais fechado, no possvel verificar um grande

    movimento nos arredores da prefeitura, porm somente se faz aluso a transeuntes. J na figura

    17, percebe-se uma nova cidade, com intenso movimento no somente de pedestres, mas

    tambm de veculos, indicando um maior desenvolvimento de atividades nesta regio, bem como

    o aumento da urbanizao.O Estado Novo, em Porto Alegre, significou a consolidao da imagem da cidade como

    uma cidade moderna, de acordo com os preceitos desenvolvimentistas da poca, como pode ser

    verificado na comparao de um carto postal da cidade, exemplificado na sede da Prefeitura,

    em diferentes tempos. A imagem que as cidades formam, ou autoformam, significadas por seus

    moradores, certamente interferiro na cidade que os outros vero.

    Nesta breve anlise da formao da imagem da cidade de Porto Alegre no Estado Novo

    no avanamos no tempo, tampouco abordamos a relevncia que o planejamento da(s)imagem(ns) ou imaginrios dos locais alcanaram no fenmeno turstico. Fica a idia de que, a

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    partir do Estado Novo, a capital do Rio Grande do Sul consolida-se como uma cidade urbana,

    rumando ao que autoridades chamavam de desenvolvimento.

    Referncias Bibliogrficas:

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