a força que há na humildade e na mansidão

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JAN/2016

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Page 1: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

JAN/2016

Page 2: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

A474 Alves, Silvio Dutra A força que há na humildade e mansidão./Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2016. 81p.; 14,8x21cm 1. Teologia. 2. Cristianismo. 3. Virtudes. I. Título.

CDD 232

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Sumário

Introdução................................................................. 4

A Sublimidade da Mansidão e da

Humildade.................................................................

Servos Inúteis........................................................... 23

Humildade > Graça > Força Espiritual 31

"E andes humildemente com o teu Deus."

(Miqueias 6.8) .........................................................

32

“Ele se humilhou" (Filipenses 2.8) 34

Quebrantamento e Contrição 36

Jesus Lava os Pés de Seus Discípulos 45

Lembre-se! ................................................................ 49

A Si Mesmo Se Humilhou 58

Na Grandeza da Sua Humildade Repousa

a Sua Glória...............................................................

60

Nosso Dever de Sermos Humildes 62

Humildade................................................................. 64

Humildade, Modéstia e Simplicidade 66

Humilhar-se Sob a Potente Mão de Deus 70

Humilde Como Uma Criança 77

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Introdução

A boca de Deus, pelos lábios de Jesus Cristo,

tem proferido que o Reino dos céus pertence

aos que são humildes de espírito, e que a terra

será herdada eternamente pelos mansos,

Há portanto, uma força, um poder, implícitos nestas duas virtudes irmãs, que são evidências

daqueles que alcançam o cumprimento das

boas promessas de Deus.

Fazem bem às suas próprias almas todos aqueles que investigam minuciosamente quais são as virtudes aqui referidas por Jesus.

Qual é o caráter das mesmas?

Como são obtidas?

Como se aplicam às nossas vidas?

Procuramos responder estas e outras perguntas neste livro.

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A Sublimidade da Mansidão e da

Humildade

O amor em unidade é um dever.

Cristo ordenou aos Seus discípulos que eles

devem se amar com o mesmo amor com o qual Ele os tem amado.

As características deste amor estão destacadas em I Cor 13 e ali nós podemos ver que não é um

amor, que busca aos seus interesses, que não se

irrita facilmente, que é paciente, benigno, sofredor, longânimo, que não se alegra com a

injustiça, mas com a verdade, enfim é uma amor

sobrenatural que procede da ação da graça do

Espírito Santo em nossas mentes e nos nossos corações.

É um dever imposto à Igreja permanecer neste amor.

Quão difícil é manter o amor fraternal na unidade do Espírito Santo, porque demanda

completa diligência da parte dos cristãos, na sua luta contra a carne, o diabo e o mundo.

Se alguém pretende fazer a vontade de Deus terá obrigatoriamente que renunciar ao que o

mundo lhe oferece, e especialmente àquilo que

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é reprovado, não somente pela Palavra de Deus,

como por uma boa consciência.

Entretanto, mesmo num mundo de trevas mais densas como o nosso, se comparado ao dos dias

de Paulo, Deus continua usando de misericórdia.

Deus é santo e em tudo é perfeito.

Contudo, planejou restaurar pessoas que Ele criou e que se tornaram não apenas imperfeitas,

como também completamente ignorantes de

quem Ele seja.

A razão disto é a grandeza do Seu amor e da Sua

misericórdia.

Este amor e misericórdia de Deus não são meros sentimentos de empatia e compaixão por seres

que se tornaram de nenhum valor para Ele, e

que viviam somente para os seus próprios

prazeres egoístas, indiferentes à Sua Pessoa e vontade, agindo como seus inimigos.

A extensão disto não pode ser avaliada adequadamente por nenhum de nós, senão

somente pelo próprio Senhor, cujo julgamento

e conhecimento do real estado do nosso coração são perfeitos.

Por isso o evangelho é sobretudo o oferecimento deste amor e misericórdia para

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que pecadores possam ser restaurados pela

graça à imagem de Jesus.

Podemos deduzir por nossos sentimentos, imaginações, pensamentos e ações, o quanto

estamos longe da santidade, bondade, amor, misericórdia, justiça e todos os demais atributos

infinitos e perfeitos de Deus, ou seja, de ser

aquilo que Ele é em Sua própria natureza.

Tendo encerrado a todos debaixo da desobediência, Deus revelou qual era o Seu propósito de usar de misericórdia para com

todos, como se vê em Rom 11.32, e demonstrou

fartamente tanto aos anjos quanto aos homens o

quanto é um Deus misericordioso.

Ele demonstrou com isto que não é bom somente para com aqueles que são perfeitos

como Ele, mas para com todos os que desejam

obedecer-Lhe, fazer Sua vontade e viver para

Ele, porque afinal, tem feito isto com os pecadores que se arrependem e se entregam ao

trabalho da graça, para serem aperfeiçoados,

por meio da fé em Jesus.

Por isso o Espírito Santo habita nos cristãos, a saber, para a realização deste trabalho de transformação, para que assim como Cristo é,

eles sejam também.

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Deus não poderia ter exibido a Sua misericórdia e perdão aos anjos eleitos, porque afinal, eles

não caíram para uma perdição eterna como os

anjos não eleitos, e quem é perfeito não necessita de perdão.

No entanto, assim como caíram os anjos não eleitos para uma queda final e eterna, também

cairão os homens não eleitos, apesar de que no

caso destes, foi feito a eles o convite da salvação do evangelho o qual eles rejeitaram

deliberadamente, sendo esta a causa da sua

ruína.

Contudo, não importa, quanto à eleição, o fato de ser pecador, porque através da eficácia da Sua misericórdia e graça, e do Seu perdão, Deus

é poderoso para transformar pecadores em

pessoas perfeitamente santas, porque elas

também aspirarão a tal santidade.

Assim, se por um lado Deus odeia o pecado, por outro, é completamente longânimo para com

todos os pecadores, especialmente nesta

dispensação da graça.

Esta atitude de Deus para com o pecado e para com o pecador se explica pelo fato dEle saber que sem a Sua graça o homem permanece caído

num estado miserável diante da Sua perfeição e

santidade divina.

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E por mais que se esforce para agradá-lo, toda justiça própria do homem, não passa de trapo de

imundície diante de Deus.

Somente a justiça de Cristo, que é atribuída (justificação), e implantada (santificação) pela fé nos pecadores, é a única que pode agradar a

Deus.

Assim, se o pecado, as falhas, as imperfeições que vemos nos outros, ainda nos perturbam

profundamente, a ponto de nos tirar a paz, é porque ainda não fomos transformados à

semelhança de Jesus, de forma a vermos o

pecado da mesma maneira que Ele o vê, a saber,

com profunda misericórdia, especialmente, naqueles que desejam fazer a Sua vontade, mas

que ainda não sabem o modo como se deve

andar na Sua presença.

Grandes avivamentos são demonstrações da graça e misericórdia que Deus está oferecendo a todos os pecadores na presente dispensação.

São também demonstrações do amor de Deus porque o Espírito Santo é derramado

abundantemente, e quando isto sucede, ocorre

simultaneamente o derramamento do amor de Deus em nossos corações, porque Deus é amor.

Avivamentos são demonstrações abundantes da bondade, longanimidade, misericórdia e amor

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de Deus pelos pecadores, porque aprouve a Ele

encerrar a todos na desobediência para usar de

misericórdia para com todos, de maneira que

pudesse exibir aos anjos e aos homens quão grande é a Sua paciência, bondade, amor e

misericórdia, ao mesmo tempo em que

demonstra o Seu juízo sobre aqueles que rejeitam tão grande graça e compaixão.

Tal como Jesus é, somos também chamados a ser neste mundo, seguindo as Suas pegadas de

amor, graça e misericórdia.

Sem isto, o nosso zelo, sem discernimento destas verdades, somente servirá para produzir

feridas em nós mesmos e naqueles que estão ao nosso redor, porque será um zelo sem amor e

misericórdia; um zelo com muita ousadia e

nenhuma moderação, porque temos recebido o

Espírito de ousadia, mas Ele é também Espírito de amor e de moderação.

Lembremos portanto, que Deus detesta o pecado mas pode e quer perdoar qualquer tipo

de pecado, exceto a blasfêmia contra o Espírito

Santo.

Os cristãos não devem mais viver como viviam antes da sua conversão.

Eles foram chamados para viverem em unidade em amor, no poder e instrução do Espírito.

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Então a unidade referida pelo apóstolo é tanto unidade de mente, incluídos aí os pensamentos

e a vontade; quanto de coração.

O homem não pode produzir isto. É fruto da graça de Deus.

Mas não podemos ter isto se não o buscarmos e se não formos diligentes nesta busca.

Os cristãos não devem ter um espírito de oposição porque Cristo veio desfazer todas as

inimizades.

Não há portanto maior inimigo para um cristão do que o orgulho e a paixão, que nos levam a

fazer as coisas em contradição a nossos irmãos.

Quando as fazemos para ostentarmos a nós mesmos, nós destruímos o amor cristão.

Lembremos que sem Cristo nada podemos fazer em relação às coisas celestiais, espirituais e

divinas.

Até mesmo para a nossa obediência a Ele, o nosso coração e vontade devem ser dispostos pelo Seu poder e graça.

É Ele quem efetua em nós o querer e o realizar.

Se o Senhor não nos conduzir ao arrependimento pela Sua bondade,

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permanecemos endurecidos e incapazes de lhe

obedecer, fazendo Sua vontade.

Então, não está em nós, a capacidade para produzir esta vida de Deus.

Isto explica a necessidade de termos um derramar contínuo da graça e do amor do Espírito Santo em nossos corações.

Cristo veio nos humilhar, e então não deve existir entre nós um espírito de orgulho.

Nós temos que ser severos com nossas próprias faltas, e misericordiosos com os julgamentos

que fazemos das faltas dos outros.

Um espírito egoísta destrói o amor cristão.

Por isso não devemos buscar aquilo que seja do nosso próprio interesse sem levar em conta o que é do interesse dos outros.

Nós temos que amar o nosso próximo como a nós mesmos, sabendo que nós, tanto quanto

eles, estávamos destituídos da graça de Jesus,

em completa situação de miséria e debaixo de uma condenação eterna.

Importa fazer valer portanto sobretudo a misericórdia e a humildade em nosso

testemunho de vida.

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Jesus nos deixou o exemplo supremo disto para que seguíssemos os Seus passos.

Se o fizermos somos bem-aventurados e temos a aprovação de Deus.

A Igreja de Filipos estava comunicando com as necessidades de Paulo na prisão, mas ele estava lhes lembrando que ainda que dessem todos os

seus bens aos pobres, e ainda que dessem o

corpo deles à fogueira, se eles não vivessem na

unidade do amor de Cristo, em humildade, nada disto lhes aproveitaria.

Os que são de Cristo devem viver como Cristo viveu neste mundo deixando-nos o Seu

exemplo para ser seguido por nós.

Cristo era totalmente manso e humilde de coração, como Ele próprio afirma em Mt 11.29.

Em tudo o que fez nunca estava buscando ser servido, mas servir; nunca estava buscando o que era do Seu interesse, mas buscar e salvar o

que se havia perdido, como vemos em Lc 19.10; e

tão intenso foi o Seu serviço em favor dos

homens, que não tinha sequer onde reclinar a Sua cabeça, e raramente tirava tempo para

descansar.

Ele se gastou completamente por amor aos pecadores, até à morte na cruz.

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Paulo chamou o exemplo de Cristo para alertar os filipenses porque ninguém jamais poderá se

humilhar tanto quanto Cristo se humilhou,

porque Ele não era nenhum homem pecador, mas se fez homem, sendo Deus, exaltado à

destra do Pai, coroado de honra e glória diante

dos serafins, querubins, arcanjos e anjos no céu.

E o que Jesus fez?

Humilhou-se a si mesmo, esvaziando-se e tomando a forma de servo, assumindo a natureza do homem, apesar de ser Deus, como

Paulo afirma nos versos 6 a 8 do segundo

capítulo de Filipenses.

Ele fez isto porque era governado completamente por um sentimento de humildade e não de orgulho.

E é este mesmo sentimento de Cristo que todos os cristãos devem ter, conforme se ordena em

Fp 2.5.

Cristo não considerou uma desonra o fato de ter sido feito menor do que os anjos, ainda que por

um determinado período, a saber, enquanto viveu neste mundo esvaziado da Sua glória

divina, como vemos em Hb 2.9, porque

considerou maior coisa fazer a vontade do Pai

relativamente à salvação dos pecadores.

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Os cristãos têm um serviço para fazer para Deus, que é a continuidade do mesmo serviço de

Cristo, e para tanto eles necessitam ter o mesmo

sentimento de humildade que houve em Cristo Jesus.

Jesus comprovou a Sua humildade através da Sua obediência ao Pai, e é do mesmo modo que

a nossa humildade é comprovada diante de

Deus, a saber, na nossa obediência a Ele.

Jesus se manifestou também para o propósito de nos ensinar qual é o modo correto de se viver

para Deus.

Este modo que ele nos revelou é em completa submissão e serviço, escolhendo fazer a vontade

de Deus, em vez da nossa própria vontade, e gastando-se inteiramente na Sua obra, porque

afinal nos deu vida para que trabalhássemos

para Ele.

Fomos colocados neste mundo para tal propósito, e bem-aventurados são todos aqueles que descobrem e se aplicam a isto.

A humilhação voluntária de Jesus se comprova também no fato de que Ele tem o nome que é

sobre todo o nome, como vemos no nono verso

do segundo capitulo de Filipenses; e por isso, ao

nome de Jesus se dobra e se dobrará todo joelho dos que estão nos céus, na terra e debaixo da

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terra, e toda língua confessa e confessará que

Jesus é Senhor.

Porque Ele sempre foi e será o Senhor de tudo e de todos.

E como se viu Este que é o Senhor, em Seu ministério terreno?

Na forma de servo e em completa humildade.

Servo na verdadeira acepção da palavra, ou seja,

servindo de fato tanto a Deus quanto aos homens criados à Sua imagem e semelhança.

E como devem ser e andarem então os cristãos, os quais não estavam na glória do céu antes de

serem gerados, e que nunca tiveram e jamais

terão a mesma intensidade de glória do Senhor deles?

Caberia se deixarem dominar por qualquer forma de orgulho ou vanglória à vista deste

exemplo supremo?

Jesus viveu suportando pacientemente a maldade dos homens, em grande pobreza a ponto de não ter onde reclinar a cabeça; viveu de

ofertas e sabia o que era a aflição; não viveu em

pompa externa e não buscou nenhuma posição

que o exaltasse sobre os demais homens, buscando fama e honrarias deste mundo.

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Ele não deu somente o Seu serviço aos homens mas sobretudo a Sua própria vida morrendo por

eles na cruz.

Ninguém nunca desceu tanto ou poderá descer tanto em humilhação, quanto nosso Senhor, porque Ele estava na glória do céu quando veio

assumir a nossa humanidade, ao ser gerado com

um corpo humano no ventre de Maria.

Ele passou a ter a natureza humana além da natureza divina na qual Ele subsistia, e consentiu, apesar de sua perfeição gloriosa, em

suportar conviver com pecadores falhos,

impuros, imperfeitos e ignorantes como nós.

Se Ele não tivesse feito isto, jamais poderíamos receber a natureza divina para estar em nós, além da nossa natureza humana.

Para nós, receber a natureza divina é uma grande honra e glória. Mas para Cristo, assumir

a nossa natureza humana, sendo Deus, foi uma

grande humilhação, mas a Palavra nos afirma que Ele não se envergonhou disto, porque não

se envergonha em nos chamar de irmãos, por

ter-se feito semelhante a nós, como lemos em

Hb 2.11 e 11.16.

Em face dos argumentos apresentados quanto à

humilhação de Cristo e da consequente exaltação relativa à recompensa da Sua

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humilhação, e da necessidade de os cristãos

seguirem o Seu exemplo, o apóstolo afirmou em

Fp 2.12 que a consequência lógica e natural de

tudo isto é que todos os cristãos devem desenvolver a sua salvação com temor e tremor;

ou seja, os cristãos devem ter a devida

consideração para com estas verdades, quanto ao que é esperado deles, de maneira que se

tornem semelhantes ao Seu Senhor.

Desenvolver a salvação nada mais é do que se santificar em obediência à vontade de Deus.

Não somos naturalmente humildes.

Ao contrário, somos governados pela carne (natureza terrena pecaminosa).

Por isso é preciso mortificar a carne para que possamos ser governados pelo Espírito Santo, e

assim, crescermos em humildade diante de Deus, para que Ele possa nos transformar

segundo a semelhança de Cristo.

Ao falar de desenvolver a salvação, Paulo falou também no mesmo versículo 12 sobre

obediência voluntária e resultante de uma disciplina consciente em cumprir a Palavra de

Deus, mesmo quando não estamos na presença

dos nossos líderes espirituais.

É necessário ter esta reverência ao Senhor com santo temor e tremor porque é Ele quem opera

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em nós, em relação ao desenvolvimento da

nossa salvação, tanto o querer quanto o efetuar,

não segundo aquilo que seja da nossa vontade,

mas da Sua boa vontade divina, como se vê no verso 13.

Porque a nossa vontade natural quer sempre fazer aquilo que seja do nosso próprio interesse

egoísta, mas a vontade de Deus é santa, perfeita,

boa, agradável, e é esta vontade que o Espírito Santo quer implantar na nossa natureza.

O Espírito Santo não nos foi dado portanto para fazermos o que seja da nossa própria vontade,

mas aquilo que é da vontade de Deus, na

transformação de nossas vidas.

Quando o Espírito luta contra a carne não é para fazer a nossa vontade, mas para aplicar em

nossas vidas a vontade de Deus, como vemos em

Gál 5.17.

Em outras palavras, se não tivermos temor e tremor de Deus e da Sua Palavra, Ele consequentemente não atuará na nossa

vontade e não operará na liberdade do Espírito

para nos dar amadurecimento espiritual.

Então, efetuar, trabalhar, desenvolver a nossa salvação nada mais é do que cooperar com o

Espírito Santo para o nosso amadurecimento espiritual, através do processo de santificação.

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É a graça de Deus que inclina a nossa vontade ao que é bom, e que nos permite executar o bem.

Não há nenhuma força, mérito ou capacidade em nós mesmos, que nos habilite a fazer a obra

de Deus.

Além destas coisas recomendadas, Paulo lhes disse no verso 15 que para se tornarem

irrepreensíveis e sinceros, como imaculados

filhos de Deus, resplandecendo como

luminares no mundo, no meio de um geração corrupta e perversa, deveriam fazer todas as

coisas sem murmurações nem contendas; e

retendo a palavra de Deus, que Paulo chama de

palavra da vida no verso 16, porque é por meio dela que recebemos a vida eterna do Senhor que

se manifesta em nós.

A fé é tanto maior, quanto mais habite ricamente em nós a Palavra de Deus, porque a fé

é gerada pela Palavra, e a vida, pela fé, porque se afirma que o justo viverá pela fé.

Estes três são portanto mutuamente dependentes, e não podem ser separados, a

saber: Palavra, fé e vida eterna.

A simples citação destas verdades não faz com que o nosso espírito se eleve, e sinta o desejo de

louvar o grande nome do Senhor ?

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Não há um mover do Espírito Santo quando aplicamos o nosso coração a meditar nestas

palavras?

Certamente que sim, porque são palavras verdadeiras, e Ele é o Espírito da verdade, que exulta com a verdade, toda vez que nos

aplicamos a ela.

Mais uma vez, como em quase todas as suas epístolas, Paulo afirma no verso 16 do segundo

capítulo de Filipenses, o propósito do esforço dos ministros em aperfeiçoarem os cristãos em

santificação: para que eles possam se gloriar no

dia de Cristo de não terem se esforçado e

trabalhado em vão para Ele, preparando o Seu povo para se apresentarem diante dEle, ao

saírem deste mundo, santos, inculpáveis e

irrepreensíveis.

Por isso, os cristãos não devem viver murmurando, mas, ao contrário, dando graças por tudo a Deus; e também não em contendas,

mas num só espírito, vinculados pelos laços do

amor do Espírito, e eles terão isto se aplicando-

se à prática da Palavra de Deus.

Todavia, ainda que eles viessem a fracassar, Paulo diz nos versos 17 e 18 que estava disposto a

sofrer até mesmo o martírio em benefício da fé

deles, e que continuaria se alegrando e se

regozijando com eles, porque afinal havia ganho

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todos eles para Cristo, e que por isto jamais

desistiria de continuar trabalhando em prol do

aperfeiçoamento deles, motivo pelo qual

também deviam se regozijar juntamente com ele.

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Servos Inúteis

“Assim também vós, depois de haverdes feito

quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos

inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer.” (Lc 17:10).

Este é o veredicto da auto-humilhação dado de

coração pelos servos que haviam

laboriosamente cumprido completamente o seu dever diário.

Este é o propósito da parábola proferida pelo Senhor Jesus para repreender todas as noções

de autoimportância e mérito humano.

Quando um servo tem lavrado ou apascentado o rebanho, seu senhor não lhe diz: "Sente-se e eu vou esperar por você, porque eu estou

profundamente em débito contigo." Não, seu

senhor lhe pede para preparar a refeição da

noite e esperar por ele. Seus serviços são devidos e, assim, o seu senhor não o elogia como

se ele fosse uma maravilha ou um herói. Ele só

está fazendo o seu dever se ele persevera desde

a luz da manhã até o por do sol, e nem por isso espera ter seu trabalho realizado para ser

admirado ou recompensado com pagamento

extra e humildes agradecimentos. Nem

devemos nos orgulhar de nossos serviços, mas confessar que somos servos inúteis.

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Quando eu estive muito doente no sul da França e profundamente deprimido em espírito, que eu

mal sabia como conviver com uma daquelas

pessoas maliciosas que comumente assombram todos os homens públicos e,

especialmente, ministros, me enviaram

anonimamente uma carta aberta dirigida a "Esse servo inútil, C.H. Spurgeon".

Esta carta continha folhetos dirigidos pelos inimigos do Senhor Jesus, com passagens

marcadas e sublinhadas - com notas aplicativas

a mim. Quantos Rabsaqués* existem, nestes

dias, que têm escrito a mim! Normalmente eu os leio com a paciência. Eu não procuro por

isenção de julgamento a partir desta

contrariedade, nem costumo sentir que seja

difícil de suportar, mas na hora em que meu espírito estava deprimido e eu estava com uma

dor terrível, esta carta injuriosa me feriu

rapidamente. Virei-me na minha cama e me perguntei – eu sou, então, um servo inútil? Eu

sofria muito e não podia levantar a minha

cabeça ou encontrar descanso.

Revi minha vida e vi suas fraquezas e imperfeições, mas não sabia como colocar meu

caso até que este texto de Lucas 17.10 veio para meu alívio e respondeu como um veredicto ao

meu coração ferido. Eu disse a mim mesmo: "Eu

espero que eu não seja um servo inútil, no

sentido em que esta pessoa tem a intenção de

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25

me chamar assim, mas eu sou seguramente isto

em outro sentido." Eu me lancei ao meu Senhor

e Mestre, mais uma vez com um senso mais

profundo do significado do texto do que eu tinha antes - Seu sacrifício expiatório me reviveu e em

humilde fé eu encontrei descanso. A propósito,

eu me pergunto se qualquer ser humano deveria encontrar prazer na tentativa de infligir

dor àqueles que estão doentes e deprimidos,

mas ainda existem pessoas que se deleitam em

fazê-lo. Certamente, se não há espíritos malignos abaixo, há alguns lá em cima e os

servos do Senhor Jesus receberão as provas

dolorosas da sua atividade!

Nosso texto é para nos repreender se pensamos que fizemos o suficiente, que suportamos a

fadiga e o calor do dia por um longo tempo. Se concluirmos que temos realizado um bom e útil

trabalho e que devemos ser convidados para ir

para casa para descansar, o texto nos repreende. Se sentimos uma cobiça incomum por conforto

e desejo que o Senhor nos dê alguma

recompensa presente e marcante para o que

temos feito, o texto nos envergonha. Isto é próprio de um espírito orgulhoso, inservível, e

deve ser abatido com uma mão firme.

Em primeiro lugar, de que forma podemos ser úteis para Deus? Elifaz disse muito bem:

"Porventura, será o homem de algum proveito a

Deus? Antes, o sábio é só útil a si mesmo. Ou tem

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26

o Todo-Poderoso interesse em que sejas justo

ou algum lucro em que faças perfeitos os teus

caminhos?”, Jó 22.2,3. Se temos dado a Deus de

nossa substância, é Ele nosso devedor? De que forma é que se enriquece Aquele a quem

pertence toda a prata e todo o ouro? Se nós

colocamos as nossas vidas com a devoção dos mártires e missionários por causa dele, o que é

isto para Ele, cuja Glória enche os céus e a terra?

Como podemos sonhar em colocar o Eterno em

dívida conosco? Como pode um homem colocar no seu Criador uma obrigação para com ele?

Que não cometamos tal blasfêmia!

Queridos irmãos e irmãs, devemos lembrar que qualquer serviço que temos sido capazes de

prestar tem sido uma questão de dívida. Espero

que nossa moralidade não tenha caído tão baixo que nos leve a dar o crédito a nós mesmos para

o pagamento de nossas dívidas! Eu não acho os

homens no mundo dos negócios orgulhando-se e dizendo: "Eu paguei mil libras esta manhã para

o fulano!" “Bem, você deu isto a ele?" "Oh, não,

era tudo devido a ele!" É isto alguma grande

coisa? Já chegamos a um estado de tão baixa moral espiritual que pensamos que temos feito

um grande negócio quando damos a Deus o que

lhe é devido? "É Ele que nos fez, e não nós a nós

mesmos." Jesus Cristo nos resgatou, "não nós mesmos", pois somos "comprados por preço".

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27

Também entramos em aliança com Ele e nos entregamos a Ele voluntariamente. Não fomos

batizados em seu nome e na sua morte? O que

quer que possamos fazer é apenas o que Ele tem o direito de reclamar de nossas mãos por causa

da nossa criação, redenção e professada entrega

a ele. Quando temos perseverado no árduo trabalho de arar até que nenhum campo seja

deixado sem ser arado, quando fizermos o

agradável trabalho de alimentar as ovelhas e

quando tivermos terminado, preparando a mesa de comunhão para o nosso Senhor -

quando tivermos feito tudo que deveríamos ter

feito – fizemos nada além do nosso dever! Por

que se gloriar, então, ou chorar por uma recompensa, ou buscar um agradecimento?

Muito acima de tudo isto, há a triste reflexão de que, infelizmente, em tudo o que fizemos, temos

sido inúteis por sermos imperfeitos.

Quanto a mim, sou obrigado a dizer com verdade solene que eu não estou contente com

qualquer coisa que eu já tenha feito. O que quer que a Graça tem feito por mim eu reconheço

com profunda gratidão, mas conquanto não

tenha feito nada de mim mesmo, peço perdão

por isso. Peço a Deus que perdoe minhas orações, pois elas estavam cheias de culpa. Rogo

a Ele para perdoar até esta confissão, pois não é

tão simples como deveria ser. Peço-lhe para

lavar minhas lágrimas e limpar minhas

Page 28: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

28

devoções e batizar-me num verdadeiro

sepultamento com meu Salvador para que eu

possa esquecer completamente de mim e

somente me lembrar dele. Ah, Senhor, Tu sabes o quanto estamos aquém da humildade que

devemos sentir. Perdoe-nos esta coisa. Somos,

todos nós, servos inúteis, e se o Senhor fosse nos julgar pela Lei, certamente deveríamos ser

lançados fora.

Uma vez mais, não podemos nos congratular afinal, mesmo que tenhamos tido sucesso na

obra de nosso Senhor, pois por tudo o que temos

feito estamos em débito com a graça abundante do Senhor. Se tivéssemos feito todo o nosso

dever, não poderíamos ter feito coisa alguma, se

Sua Graça não nos permitisse fazê-lo! Se o nosso

zelo não conhece pausa, é Ele que mantém o fogo aceso! Se as nossas lágrimas são de

arrependimento, é Ele que atinge a rocha e

busca as águas a partir dela! Se há alguma virtude, se há algum louvor, se há fé, se há

qualquer fervor, se há alguma semelhança com

Cristo, somos feitura dele, criados para Ele e,

portanto, não devemos dar a nós mesmos, a mínima partícula de louvor!

O que lhe damos vem de ti mesmo, grande Deus! Portanto, os melhores de nós são ainda servos

inúteis! Se tivermos um motivo especial para

arrependimento por causa de algum erro

evidente, devemos ser sábios e nos

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29

apresentarmos ao Senhor com um espírito

humilde e confessar a culpa e, então, continuar

a fazer o trabalho de cada dia com um espírito

laborioso e esperançoso. Sempre que você estiver angustiado por não conseguir fazer o que

deveria; sempre que perceber a imperfeição de

seu próprio serviço e se condenar por isso, a melhor coisa é fazer algo mais na força do

Senhor. Se você não tiver servido Jesus bem até

agora, vá e faça melhor!

Se você cometer um erro, não diga a todo mundo e não diga que nunca irá tentar

novamente, mas faça duas coisas boas para compensar a falha. Diga: "Meu amado Senhor e

Mestre não deve ter mais um perdedor em mim.

Eu não vou me preocupar tanto sobre o passado

como alterar o presente e despertar para o futuro." Irmãos e irmãs, tentem ser mais úteis e

peçam mais Graça. O negócio do servo não é

esconder-se num canto do campo e chorar, mas sair para arar. Você não deve balir com as

ovelhas, mas alimentá-las e assim provar o seu

amor a Jesus. Você não deve ficar na cabeceira

da mesa e dizer: "Eu não aprontarei a mesa para o meu Mestre, assim como eu poderia ter

desejado." Não! Vá e prepare melhor!

Tenha coragem, você não está servindo um mestre severo e, embora você se chame muito

adequadamente de servo inútil, tenha bom

ânimo, porque um veredicto mais suave deve

Page 30: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

30

ser pronunciado sobre você antes do tempo.

Você não é o seu próprio juiz, seja para o bem ou

mal, outro juiz está à porta e quando Ele vier, Ele

vai pensar melhor de você do que a sua auto-humilhação permite que você pense de si

mesmo. Ele vai te julgar pela regra da Graça e

não pela Lei e Ele porá um fim em tudo o que procede de um espírito legalista e que paira

sobre você com asas de vampiro.

* emissário da Síria para intimidar com palavras o povo judeu nos dias do rei Ezequias.

Extraído de um texto de Charles Haddon Spurgeon, em domínio público, traduzido e

adaptado pelo Pr Silvio Dutra. (2ª parte do sermão de nº 1541)

Page 31: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

31

Humildade > Graça > Força Espiritual

“Bem-aventurados os humildes de espírito,

porque deles é o reino dos céus.” (Mateus 5.3)

Sejamos humildes e deixemos de lado toda a

vanglória, orgulho e ira, pois temos o dever de

sermos misericordiosos, à vista da grande

misericórdia que temos recebido da parte de

Deus.

“Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai.” (Lc 6.36)

Precisamos ser fortalecidos pela graça de Jesus para que possamos cumprir este mandamento,

e sermos achados naquela condição de alma e

espírito que lhe agradam.

Page 32: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

32

"E andes humildemente com o teu Deus."

(Miqueias 6.8)

Nos dias desta exortação do profeta o povo de

Israel estava tentando apaziguar-se com Deus

meramente pela apresentação de sacrifícios no

templo.

Com isto, pensavam que ele poderia fazer vistas

grossas para os seus pecados.

Eles julgavam que pelo simples fato de serem descendentes de Abraão, e de ter Deus feito uma

aliança com eles, que isto era suficiente para se

sentirem seguros quanto ao favor de Deus em

relação a eles, que lhes garantiria um viver em vitória neste mundo.

O mesmo sucede com a Igreja de Cristo, quando os cristãos se sentem seguros pelo fato de terem

sido justificados e regenerados quando se

converteram, e não se ocupam mais com o assunto da santificação de suas vidas, por uma

sincera prática da Palavra de Deus.

Faríamos bem em deixar sempre soar em nossos ouvidos a indagação do profeta que foi

dirigida aos israelitas: “O que o Senhor pede de ti?”, e a conclusão da resposta encontra-se no

título do nosso texto. Esta mesma inquirição foi

Page 33: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

33

dirigida por Moisés a eles em seus dias: “Agora,

pois, ó Israel, que é que o Senhor requer de

ti?” (Deut 10.12).

O que o Senhor requer dos cristãos?

Devemos responder com sinceridade a esta pergunta para nós mesmos.

Deus requer a fé, a justiça a misericórdia, o amor, porque é por cumprir os seus

mandamentos que provamos que o amamos de

fato.

Vãs serão todas as obras que fizermos em seu nome, caso não sejam acompanhadas por este

esvaziamento do nosso ego, que comprova que andamos em humildade perante ele, para que

possamos ser guiados à prática da sua Palavra

pela instrução, direção e poder do Espírito

Santo.

Page 34: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

34

“Ele se humilhou" (Filipenses 2.8)

Jesus é o grande mestre da humildade de

coração. Precisamos aprender diariamente

dele. Veja o Mestre tomando uma toalha e

lavando os pés dos seus discípulos! Seguidor de

Cristo, tu não te humilhas? Veja-o como o Servo dos servos e, certamente, tu não podes

permanecer orgulhoso! Não é esta a sentença

do compêndio de sua biografia: "Ele humilhou-

se"? Ele não estava na Terra, sempre tirando primeiro um manto de honra e depois outro, até

que fosse preso nu à cruz, e ali ele não se

esvaziou do seu ser mais íntimo, derramando o

seu sangue da vida, dando-se por todos nós, até que eles o colocassem num túmulo

emprestado?

Quão baixo o nosso querido Redentor desceu! Como, então, podemos nos orgulhar?

Coloquem-se ao pé da cruz, e contem as gotas vermelhas pelas quais foram limpos, vejam a

coroa de espinhos; fixem os ombros açoitados,

ainda jorrando com sulcos avermelhados;

vejam as mãos e os pés dados ao ferro bruto, e sendo alvo de zombaria e escárnio; contemplem

a amargura, e as dores e os espasmos de dor

interior, mostrando-se na sua estrutura

exterior; e ouçam o grito emocionado: "Meu Deus, meu Deus, por que me desamparaste?" E

se você não cair prostrado no chão diante dessa

Page 35: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

35

cruz, você nunca a viu: se você não for

humilhado na presença de Jesus, você não o

conhece.

Você estava tão perdido que nada poderia salvá-lo, mas somente o sacrifício do Deus unigênito. Pense nisso, e assim como Jesus se humilhou

por você, curve-se com humildade aos seus pés.

O senso do maravilhoso amor de Cristo por nós

tem uma tendência maior para nos humilhar do que consciência da nossa própria culpa. Que o

Senhor possa nos trazer na contemplação do

Calvário, então a nossa posição não será mais a

do homem pomposo cheio de orgulho, mas tomaremos a posição humilde de alguém que

ama muito, porque foi muito perdoado. O

orgulho não pode viver sob a cruz. Vamos sentar

e aprender a nossa lição, e, em seguida, nos levantemos e a coloquemos em prática.

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.

Page 36: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

36

Quebrantamento e Contrição

Deveríamos dar uma atenção especial a este

assunto uma vez que Deus afirma em Sua

Palavra que em relação aos que têm o coração

quebrantado e contrito, Ele habita, vivifica,

salva, está perto, valoriza, e contempla.

Salmo 34.18 Perto está o Senhor dos que têm o

coração quebrantado, e salva os contritos de espírito.

Salmo 51.17 O sacrifício aceitável a Deus é o espírito quebrantado; ao coração quebrantado e

contrito não desprezarás, ó Deus.

Isaías 57.15 Porque assim diz o Alto e o Excelso, que habita na eternidade e cujo nome é santo: Num alto e santo lugar habito, e também com o

contrito e humilde de espírito, para vivificar o

espírito dos humildes, e para vivificar o coração

dos contritos.

Isaías 66.2 A minha mão fez todas essas coisas, e assim todas elas vieram a existir, diz o Senhor;

mas eis para quem olharei: para o humilde e

contrito de espírito, que treme da minha

palavra.

O sofrimento não tem o propósito de ser algo em vão nas nossas vidas, do ponto de vista de Deus,

Page 37: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

37

pois tem determinado principalmente que

através dele sejamos transformados segundo a

Sua vontade e Palavra, para que Ele seja

glorificado. A paciência na tribulação, no sofrimento que ela produz, é de grande valor

para Deus, e também para nós, porque é por

meio disto que aprendemos a ser pacientes e perseverantes nas coisas do Senhor, ensinando-

nos a amar com o mesmo amor de Deus, que é

sofredor, isto é, longânimo em sofrer em razão

do pecado que há no mundo.

Uma visão correta da aflição é completamente

necessária para um comportamento verdadeiramente cristão sob elas.

Carregar a cruz voluntariamente faz com que ela se torne leve, mas carregá-la com a mente

perturbada por inquietações à busca de

respostas fora de Deus para aquilo que se esteja experimentando, quando estas provas vêm da

Sua parte, somente serve para aumentar o peso

da cruz que carregamos.

Ter um espírito contrito e quebrantado na aflição é algo muito apropriado para acalmar as agitações do coração, e nos fazer pacientes

debaixo dela.

Como Deus tem afirmado que que é com o coração quebrantado e contrito que Ele trabalha

e dá sua especial atenção, então importa

Page 38: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

38

sabermos que Ele mesmo há de providenciar os

meios para este quebrantamento e contrição, já

que naturalmente não somos isto, senão altivos

e autoconfiantes além da medida que convém.

Por isso Jesus nos deixou um legado de aflição no mundo, para o propósito mesmo de sermos

aperfeiçoados por Deus em santidade.

Cruzes nos são trazidas no curso de nossas vidas para que as carreguemos, com o alvo de nos

quebrantarem.

Importa carregarmos pacientemente estas cruzes e ver a mão de Deus nisto, porque,

efetivamente, não há nenhuma aflição aqui

embaixo que não tenha sido ligada ou permitida

no céu.

A Palavra ensina que tanto o dia da prosperidade

quanto o da adversidade procedem da parte de Deus, “que fez assim este como aquele para que

o homem nada descubra do que há de vir depois

dele.”, isto é, para que ninguém saiba o que lhe reserva o futuro, e assim vivam dependendo

inteiramente de Deus, confiando suas almas ao

fiel Criador na prática do bem, enquanto

caminham neste mundo.

A adversidade e a nossa vontade não se

harmonizam porque nossa alma não acha

Page 39: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

39

sossego enquanto debaixo das situações que a

afligem.

Então necessitamos do poder da graça divina para nos sustentar sobretudo nas adversidades

para as quais não há em nós qualquer poder ou habilidade para superá-las. Mas, na renúncia à

nossa própria vontade, ficamos abertos à

vontade de Deus, e este é o bom serviço que as

tribulações podem nos prestar; de maneira que o apóstolo Paulo afirma que importa entrarmos

no reino dos céus por meio de muitas

tribulações, e o apóstolo Tiago que deveríamos

tê-las por motivo de grande alegria.

A humildade e a mansidão de espírito nos qualificam para o relacionamento e a

comunhão amigável com Deus por meio de

Cristo. O orgulho fez de Deus nosso inimigo.

Nossa felicidade e futuro aqui dependem do nosso relacionamento amigável no céu.

Assim a humildade é um dever que agrada a Deus, e o orgulho um pecado que agrada ao

diabo. Por isso Deus exige de nós que sejamos

humildes, especialmente debaixo da aflição. “Cingi-vos todos de humildade...” (I Pe 5.5).

O humilde e manso de coração terá paz e descanso em sua alma e mente, enquanto o

orgulhoso terá a aflição reinando em ambas.

Page 40: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

40

O subjugar de nossas paixões é mais valioso do que ter todo o mundo debaixo da nossa vontade.

O trabalho de carregar a cruz deve ser em cada dia, em todos os dia da vida, porque se

removermos a cruz, a vontade própria prevalecerá.

Portanto, é melhor ter um espírito humilde e quebrantado do que ter a cruz removida.

Se alguém não tomar voluntariamente a sua cruz a cada dia, não poderá fazer a obra de Deus

de modo constante e agradável a Ele, porque o ego se levantará e se oporá àquilo que for da Sua

vontade.

Quão perigoso é para aqueles que estão envolvidos na seara do Senhor desejarem que a

cruz seja removida. Quando aspiram por total

falta de problemas, de oposições, de perseguições, de dificuldades, e começam a se

encantar de novo com a alegria puramente

mundana, eles constatarão que a infidelidade a Deus terá invadido os seus corações, e que já não

amam tanto a Sua obra e vontade quanto antes.

Por isso não se pode lançar a mão do arado e olhar para trás. Envolver-se na guerra do Senhor

exige que seja considerado o custo relativo à

necessidade de consagração e renúncia à própria vontade.

Page 41: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

41

Ninguém será um apóstolo como Paulo enquanto não estiver crucificado para o mundo

e o mundo crucificado para ele.

O levar no corpo o morrer de Jesus é o que gera a verdadeira vida eterna. Se o grão de trigo não morrer ele ficará só. Não há frutificação na

lavoura de Deus sem este morrer operado pela

cruz. É neste sentido que o estar apegado à vida

nos leva a perdê-la, e o perdê-la por amor de Cristo, a achá-la.

Muito desta mortificação da carne, desta auto negação está exatamente em se seguir à

exortação do apóstolo Pedro em sua primeira

epístola, na qual exorta todos à submissão de uns para com os outros e particularmente às

linhas de autoridade estabelecidas por Deus: os

servos a seus senhores, as esposas aos esposos,

os filhos aos pais, os cidadãos às autoridades, as ovelhas aos pastores, os jovens aos anciãos.

Toda esta submissão de coração somente será possível caso se tenha humildade. Estas duas

atitudes estão ligadas inseparavelmente por

Deus, assim como Ele ligou o arrependimento à fé.

A seu tempo, Deus exaltará o que se humilha. Ele elevará aquele que se humilhou debaixo da sua

potente mão, no tempo que Ele tiver

determinado. Então o caminho para a elevação é

Page 42: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

42

se humilhar. É neste sentido que o maior de

todos é o que mais serve.

Afligir o nosso espírito especialmente nas aflições, e não somente nelas, é o nosso dever,

mas o elevá-lo é trabalho exclusivo de Deus. E todo aquele que a si mesmo tentar se exaltar

será humilhado por Deus. Mas todo o que se

humilhar será exaltado (Mt 23.12).

O recusar-se a se humilhar é portanto recusar o único caminho para a verdadeira exaltação.

É interessante observar que a exaltação é geralmente proporcional ao nível da

humilhação. Ninguém se humilhou ou poderá

se humilhar mais do que Cristo porque Ele se

rebaixou, se esvaziou se humilhou sendo Deus, e sendo homem perfeito, sem pecado, e

portanto ninguém poderá ser mais exaltado do

que Ele, e por isso recebeu um nome que é sobre

todo nome.

Este feliz evento da exaltação acontecerá no tempo próprio. No tempo próprio nós

colheremos se não desfalecermos. Mas há

aquela raiz de orgulho que está no coração de

todos os homens que vivem na terra, que deve ser mortificada antes que eles possam ser

considerados aptos para o céu, e por isso Deus os

levará a circunstâncias humilhantes com vistas

a atingir o referido fim. Foi por isso que Deus

Page 43: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

43

conduziu o povo de Israel naqueles quarenta

anos no deserto, para os humilhar, provar e

saber o que estava no coração deles.

o coração é naturalmente hábil para se revoltar contra estas circunstâncias humilhantes, e por conseguinte a mão poderosa do Senhor as traz e

as mantém lá. O homem redobra suas forças

naturais para fugir da dificuldade levantando a

sua cabeça, e murmura por causa das suas aflições, e poucos dizem que confiam que o seu

Criador por fim os abençoará.

Há muitas imperfeições naturais e morais em nós. Nossos corpos e nossas almas, em todas as

suas faculdades, estão em um estado de imperfeição. O orgulho de toda a glória está

manchado; e é uma vergonha para nós não nos

humilharmos em tudo o que se refere a nós, e

tentarmos nos apresentar a Deus como pessoas que não têm do que ser perdoadas e lavadas. É

certo que no caso dos crentes o Espírito fez uma

grande obra de regeneração e iniciou o processo

de santificação, mas enquanto permanecem no mundo há muitas corrupções que remanescem

na carne, e das quais devem se humilhar, se

arrepender, e abandonar (II Crôn 7.14).

Uma das maiores provas da nossa humilhação é exatamente a de se submeter, de se render à vontade de Deus debaixo das nossas aflições,

porque é exatamente nestas horas que o velho

Page 44: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

44

homem mais se levanta em seu orgulho e

procura resistir com todas as suas forças

procurando o modo de se livrar das coisas que o

afligem sem contar com o fato de que é somente se submetendo ao Senhor que é possível ser

livrado das aflições que Ele mesmo determinou

para nos provar.

Então permita que as circunstâncias

humilhantes tornem o seu espírito humilde, e assim você será útil nas mãos de Deus e será

poupado de muitas aflições, porque elas têm em

sua maioria exatamente este grande propósito

de nos humilhar. E se somos achados humildes, então é nesta condição que o Senhor nos

exaltará pois não haverá o risco de que sejamos

vencidos pelo orgulho.

Page 45: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

45

Jesus Lava os Pés de Seus Discípulos

“Aproximou-se, pois, de Simão Pedro, que lhe disse: Senhor, tu lavas-me os pés a mim?” (João

13.6)

Jesus tirou seu manto superior e se cingiu com

uma toalha e começou a lavar os pés dos seus discípulos.

Jesus lavou todos os crentes, uma vez por todas, com o Seu precioso sangue. Esse é um assunto

do passado – uma coisa pela qual bendizemos a

Deus por toda a eternidade. Estamos limpos, através do sangue de Jesus. Mas aqui temos um

outro tipo de lavagem - não de todo o homem,

mas de apenas os pés. Não com sangue, mas

com água.

Será que nosso Senhor faz algo desse tipo agora? Ele faz algo tão humilhante para si mesmo e ao

mesmo tempo tão necessário para nós?

Nós respondemos: Sim, ele faz.

É nesse sentido que Jesus lava os pés do Seu povo: quando coloca longe de nós cada dia as

nossas fraquezas e pecados.

Você tem que admitir que tem caído novamente nos mesmos pecados pelos quais a Graça lhe foi

Page 46: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

46

fornecida há muito tempo. E ainda Jesus Cristo

terá muita paciência com você! Ele vai ouvir a

sua confissão do pecado e dirá: "Eu vou limpá-lo."

Ele aplicará novamente o sangue da aspersão - Ele falará de paz à sua consciência e removerá

toda impureza. Oh, é um grande ato de amor

eterno quando Cristo, uma vez por todas absolve o pecador, e o tira de debaixo do domínio da lei e

o coloca na família de Deus! Mas quão grande

longanimidade e paciência há quando o

Salvador suporta a nossa insensatez diária. Dia a dia e hora a hora Ele remove o pecado constante

da criança que erra, mas que ainda ama!

Secar uma enxurrada de pecados é algo maravilhoso - mas suportar o pingar constante

de pecados diários - isto é Divino, de fato!

Jesus faz com que nossas obras sejam aceitáveis. Estas podem ser comparadas aos pés da alma. É pelos pés que um homem expressa sua atividade

- a caminhada de um cristão - com isto

queremos nos referir às boas obras que o cristão

realiza para o seu Mestre. Nossas obras – nosso ensino pregação, orações, esmolas,

pensamentos e ações não carregam qualquer

mérito ou perfeição em si mesmas, mas Cristo

não é injusto para se esquecer do nosso trabalho de fé e de amor, mas faz com que seu Pai seja

glorificado por darmos muito fruto.

Page 47: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

47

Ele lava as nossas obras, de modo que sejam aceitáveis.

Você não teve escolha nas manifestações de Cristo em seu pior estado - Ele lhe colocou

debaixo do Seu cuidado.

O Senhor Jesus ama o seu povo de tal forma, que a cada dia Ele está lavando seus pés! Ele sente

sua mais profunda tristeza. Sua menor

necessidade Ele atende. Seu maior pecado Ele

perdoa. Ele ainda é o seu servo, bem como o seu amigo – e ainda toma a bacia e usa a toalha.

Agora, Deus nunca castiga seu povo por causa de qualquer pecado neles, a fim de puni-los por

seus pecados - Ele puniu Cristo de uma vez para

sempre no lugar deles. Mas agora, se pecamos, não deveríamos todos os dias ir diante de nosso

Pai celeste e confessar o pecado e reconhecer a

iniquidade? A Graça Divina de Deus no coração

iria nos ensinar que deve ser assim.

Supondo que esta ofensa contra o meu Pai não é imediatamente lavada e afastada pelo poder

purificador do Senhor Jesus - qual será a

consequência disso? Por que deveria ficar sob a

escravidão do mau hábito? Se eu não estiver lavado, eu devo muito em breve ter necessidade

de sentir a vara da correção e certamente vou tê-

la.

Page 48: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

48

Mas oh, amados, se o Senhor Jesus Cristo, dia a dia virá a mim e lavar-me-á destas corrupções

contra o meu Pai - devo então, em grande

medida, escapar da vara! Vou sentir um santo amor por meu Pai! Vou andar na luz de Seu

rosto! Devo ter alegria e paz através da fé e vou

correr a carreira cristã, não somente como salvo, mas desfrutando presentemente da paz

em Deus através de Jesus Cristo, meu Senhor!

Citações de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio

Dutra.

Page 49: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

49

Lembre-se!

"Lembrar-te-ás de que foste servo na terra do

Egito e de que o Senhor, teu Deus, te remiu;"

(Deuteronômio 15.5)

Em uma autobiografia de William Jay, lemos

que em uma ocasião ele foi chamado para ver o

famoso Sr. John Newton, em Olney, e ele

observou que sobre a mesa em que estava

acostumado a compor seus sermões, ele havia escrito em grandes letras as seguintes palavras:

"Lembre-se que você era um escravo na terra do

Egito, e o Senhor teu Deus te resgatou".

O Sr. Newton viveu e agiu sob a influência da memória dos comandos deste texto, como foi observado naquela manhã em sua conversa

com o Sr. Jay. "Senhor", disse Newton, "Eu estou

contente em vê-lo, pois acabei de receber uma

carta do Sr fulano de tal, residente em Bath, e você talvez possa me ajudar na resposta a ele.

Mr. Jay respondeu que o homem era uma pessoa

horrível, tinha sido um ouvinte do Evangelho,

mas tornou-se um líder em todos os vícios. "Mas, senhor", disse Newton, "ele escreve muito

penitentemente? Talvez uma mudança possa

ter ocorrido a ele." "Bem", disse Jay, "Eu só posso

dizer que, se alguma vez ele se converteu, então eu não devo perder a esperança sobre qualquer

pessoa." "E eu", disse Newton, "nunca tenho

Page 50: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

50

perdido a esperança de ninguém desde que eu

me converti."

Então, você vê, como ele pensava deste pobre pecador em Bath, ele estava se lembrando que

ele, também, foi um escravo na terra do Egito e que o Senhor seu Deus o tinha resgatado. E por

que não deveria a mesma redenção chegar até

este transgressor notório e salvá-lo? A memória

de sua própria mudança graciosa de coração e de vida deu-lhe ternura no trato com os que

erram e esperança em relação à sua

restauração. Que tal efeito bom seja produzido

em nossas mentes - não somos todos chamados a ser anunciadores do Evangelho, mas em

qualquer capacidade de um santo, um efeito

benéfico santificador será produzido sobre uma

mente sã, lembrando que somos escravos, mas que o Senhor nosso Deus nos redimiu. Que o

Espírito Santo, a esta hora, traga a maravilhosa

graça de Deus à nossa lembrança!

Quanto ao fato particular da redenção de Israel

do Egito, deveriam ter muito cuidado para que fosse lembrada. O mês em que saíram foi

estabelecido como o primeiro do ano (Êxodo

12.12). Uma injunção especial foi criada com o

propósito de que a libertação pudesse ser comemorada no dia da Páscoa, para que não se

esquecesse o cordeiro imolado e a aspersão do

sangue que foram apresentados para a

libertação deles.

Page 51: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

51

A Palavra do Senhor ordenou, dizendo: "E este dia vos será por memória, e vocês devem mantê-

lo numa festa para o Senhor pelas vossas

gerações, por estatuto perpétuo." Eles foram intimados, também, a instruírem seus filhos

sobre isso, de modo que, além de um cerimonial

havia também uma tradição oral a ser passada de pai para filho (Deuteronômio 6.20,21).

Sua lei dos Dez Mandamentos começou com um lembrete deste notável fato -"Eu sou o Senhor,

teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da

servidão: não terás outros deuses diante de

mim."

Agora, Amados, se o judeu foi tão cuidadosamente instruído a lembrar-se da sua

libertação do Egito, não deveríamos, também,

tomar cuidado em relação a nós mesmos de

maneira a nunca esquecermos a nossa ainda maior redenção através do sangue precioso de

Cristo, pelo qual fomos libertados do jugo e da

escravidão do pecado?

Veja como Paulo, em Efésios 2.11-13, nos fala que fomos chamados pela graça desde os confins da terra - “2.11 Portanto, lembrai-vos de que,

outrora, vós, gentios na carne, chamados

incircuncisão por aqueles que se intitulam

circuncisos, na carne, por mãos humanas, 2.12 naquele tempo, estáveis sem Cristo,

separados da comunidade de Israel e estranhos

Page 52: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

52

às alianças da promessa, não tendo esperança e

sem Deus no mundo. 2.13 Mas, agora, em Cristo

Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes

aproximados pelo sangue de Cristo. "

Ele coloca o mesmo pensamento em outras palavras, em Romanos 6.17,18, onde diz: "

6.17 Mas graças a Deus porque, outrora,

escravos do pecado, contudo, viestes a obedecer

de coração à forma de doutrina a que fostes entregues; 6.18 e, uma vez libertados do

pecado, fostes feitos servos da justiça." Paulo

queria nos lembrar de nossa redenção. E Deus, o

Espírito Santo, que falou por Paulo queria nos lembrar!

Em primeiro lugar, vamos considerar nossa escravidão. Foi extrema como a escravidão dos

filhos de Israel no Egito. Há muitos pontos nos

quais um paralelo pode ser traçado. Vamos indicá-los em poucas palavras. Em primeiro

lugar, quando estávamos não regenerados e

vendidos sob o pecado, fomos escravizados por

um grande poder contra o qual não podíamos lutar. Teria sido de nenhuma utilidade para os

israelitas iniciaram uma insurreição contra o

Faraó, ele estava muito firmemente

estabelecido no trono e seus soldados, de longe, eram fortes demais para as pobres e fracas

tribos de Israel.

Page 53: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

53

A Queda no pecado nos deixou também "sem força". A Lei, com toda a sua força, é

"enfraquecida pela carne." Infelizmente, o

homem não tem um coração voltado para a liberdade espiritual, caso contrário, o Senhor

iria dar-lhe poder. Assim, aquele que está

acostumado a fazer o mal não pode aprender a fazer o bem, sem a ajuda da força divina! Irmãos

e irmãs, os grilhões que aprisionam o espírito do

homem carnal são muito mais fortes para que

possa se livrar deles. Ele pode tentar fazê-lo, como em momentos de reflexão alguns homens

o fazem, mas, infelizmente, logo ficará cansado

da luta pela liberdade e se resignará à sua prisão.

Se o homem tivesse sido capaz de operar sua própria redenção, nunca teria descido do Céu o

Divino Redentor, mas porque a escravidão era muito terrível para o homem libertar-se, então,

o Filho eterno de Deus, veio aqui para que

pudesse salvar o Seu povo dos seus pecados.

E, bendito seja Deus, o paralelo com a história da

libertação de Israel funciona mais, no seu caso, porque também, Deus ouviu os seus gemidos e

lembrou da sua aliança (Êxodo 2.24). Tudo isso

enquanto o nosso inimigo visava à nossa

destruição! Quando Satanás tem homens sob o seu poder, trabalha por todos os meios para

destruí-los totalmente, pois nada menos do que

isso vai satisfazê-lo, e disso o faraó nos dias de

Moisés era uma simples figura! E, assim como

Page 54: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

54

Israel no Egito, estávamos nas mãos de um

poder que não nos deixaria ir. E ouvi uma voz por

Moisés que disse ao Faraó: "Assim diz o Senhor:

deixa ir o meu povo ir", mas a resposta do Faraó foi: "Eu não conheço o Senhor, nem tampouco

deixarei ir Israel." E tal era a linguagem das

nossas corrupções! Essa língua do diabo, que tinha o domínio sobre nós. "Eu não vou deixar

você ir", disse o Príncipe das Trevas.

Eu gostaria de ajudá-lo ainda mais a lembrar dessa escravidão. Não pode ser difícil para

alguns de vocês fazer isso, pois vocês vieram do

Egito recentemente. Alguns de vocês foram libertados, agora, nesses últimos 20 anos,

alguns talvez nesses 50 anos! Mas não pode ser

difícil para você se lembrar o que deve estar tão

indelevelmente marcado em você.

Ah, glória a Deus, somos livres! Não mais carregamos cadeias em nossas almas, mas nós

ainda carregamos as cicatrizes antigas sobre

nós. Às vezes, o velho temperamento reaparece,

ou as antigas concupiscências. Trechos de músicas mundanas, lembranças de antigas

paixões e eu não sei o que, além disso, são

cicatrizes que nos fazem lembrar que fomos

escravos no Egito!

Precisamos lembrar por estas cicatrizes que fomos redimidos e saímos da escravidão no

Egito. Isto foi uma intervenção divina. "O Senhor

Page 55: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

55

teu Deus te resgatou". E foi experimentado

pessoalmente. Era uma questão de consciência

clara de sua própria alma. Você era um escravo,

você sabia e sentia - o Senhor teu Deus te resgatou e você sabe disso e sente isso também!

"Você era um servo, e o Senhor teu Deus te

resgatou". Não pode haver nenhuma dúvida sobre isso! O próprio Satanás não poderia fazer

alguns de nós duvidar! As cadeias eram tão reais

e a liberdade tão preciosa!

Devemos, naturalmente, concluir, que se um cristão mantiver sempre em mente o seu antigo

estado, isto iria torná-lo humilde. Você foi pregar e Deus tem abençoado a conversão de

muitos, você se sente contente? "Lembra-te de

que foste escravo na terra do Egito, e o Senhor

teu Deus te resgatou".

No próximo lugar, seja grato. Se você não tem todas as misericórdias temporais que você

deseja, mas se recebeu a mais escolhida de

todas as misericórdias, a liberdade através de

Jesus Cristo, portanto, seja alegre, feliz e agradecido. Lembre-se que você era um escravo

e se você tem, senão pouco dos bens deste

mundo, seja grato pela grande bênção espiritual

que recebeu em ser libertado do jugo mortificante.

Seja grato, e seja paciente, também. Se você está sofrendo ou doente, ou se, por vezes, seu

Page 56: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

56

espírito é abatido, ou, se é pobre e desprezado,

mas diga para si mesmo: "Por que eu deveria

reclamar? Minha porção pode parecer difícil,

mas não é nada em comparação com o que teria sido se eu tivesse ficado preso na terra do Egito!

Graças a Deus eu não sou mais escravo de meus

pecados.”

Em seguida, seja esperançoso. "Ainda não se

manifestou o que havemos de ser." Você era um escravo, mas a Divina Graça, lhe livrou! Quem

sabe o que o Senhor ainda pode fazer de você?

Existe alguma coisa que Ele não pode, e não vai

fazer por aquele a quem Ele já redimiu pelo Seu sangue? Ele te libertou do pecado! Oh, então, ele

irá preservá-lo de cair e lhe fará perseverar até o

fim. "Porque, se nós, quando inimigos, fomos

reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos

salvos pela sua vida." Você está assim

esperançoso?

John Newton persistiu na pregação, mesmo

quando ele era realmente incapaz disso, pois ele disse: "O quê? Será que um velho africano

blasfemo deixaria de pregar Jesus Cristo

enquanto há fôlego em seu corpo? Não, nunca!"

Ele sentiu que deveria continuar a dar testemunho, porque o nosso texto sempre

esteve diante dele, "Lembra-te de que foste

escravo na terra do Egito, e o Senhor teu Deus te

resgatou".

Page 57: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

57

Lembre-se que você foi um escravo, o cheiro do forno de tijolo está em cima de você agora, meu

irmão, minha irmã, você ainda não limpou todo

o barro de suas mãos com o qual fez um trabalho em tijolos. Então não se tornem egoístas, sem

amor, cruéis, mas em todas as coisas, amem o

próximo como a si mesmos e assim provem que amam o Senhor Seu Deus com todo o coração.

Deus os abençoe. Amém.

Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio

Dutra.

Page 58: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

58

A Si Mesmo Se Humilhou

"a si mesmo se humilhou, tornando-se

obediente até à morte e morte de cruz."

(Filipenses 2.8)

Coloque-se ao pé da cruz e conte as gotas de

sangue por meio das quais você foi purificado.

Veja a coroa de espinhos e os ombros de nosso Senhor ainda feridos e jorrando o fluxo

vermelho de seu sangue.

Contemple as mãos e os pés de nosso Senhor cravados pelo ferro áspero, bem como todo o

seu Ser desprezado e escarnecido.

Veja a angústia, o sofrimento e as dores intensas da agonia íntima do Senhor revelando-se em

sua aparência exterior.

Ouça o deprimente clamor: “Deus meu, Deus

meu, por que me desamparaste?” (Mt 27.46)

Se você não está humilhado na presença de Jesus, ainda não O conhece. Você estava tão

perdido, que nada poderia salvá-lo, exceto o

sacrifício do unigênito Filho de Deus.

Page 59: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

59

Visto que Jesus se humilhou por causa de você, prostre-se em humildade aos pés dEle.

Uma compreensão do admirável amor de Cristo possui mais tendência de humilhar-nos do que

a compreensão de nossa própria culpa.

O orgulho não pode subsistir debaixo da cruz.

Assentemo-nos ali e aprendamos nossa lição.

Depois, levantemo-nos e a coloquemos em

prática.

Por Charles H. Spurgeon

Page 60: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

60

Na Grandeza da Sua Humildade Repousa

a Sua Glória

Ninguém poderia ter se humilhado mais do

que Jesus Cristo.

Nem de muito, e de muito longe mesmo, poderia fazê-lo.

Porque ninguém poderia abandonar a posição tão elevada de Deus Altíssimo, entronizado

acima dos querubins e serafins, na glória

excelsa do terceiro céu, criação das Suas mãos, e criador e governante de tudo o que há no

universo e além dele.

Deixar tudo isto e se fazer a si mesmo homem, para servir aos homens e carregar sobre Si os

pecados de todos eles, numa morte terrível de cruz.

Quem pode humilhar-se mais a si mesmo em tão grande nível?

Por isso o Seu Nome, deve ser elevado acima de todo nome, e deve ser adorado e servido por

amor, de coração, por toda a eternidade.

Jamais nos gloriemos portanto em nós mesmos, ou nos feitos dos homens, senão

Page 61: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

61

exclusivamente no Senhor Jesus Cristo, que é

digno de toda a honra e de toda a glória.

“Flp 2:5 Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus,

Flp 2:6 pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus;

Flp 2:7 antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança

de homens; e, reconhecido em figura humana,

Flp 2:8 a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.

Flp 2:9 Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima

de todo nome,

Flp 2:10 para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra,

Flp 2:11 e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.”

Page 62: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

62

Nosso Dever de Sermos Humildes

“Filho do homem, em que a madeira da videira

é melhor do que o galho de qualquer árvore da

floresta?” (Ez. 15:2 NVI)

Estas palavras são para humilhação do povo de

Deus; chamam-lhes a videira de Deus, mas qual

deles, por natureza, é mais do que os outros?

Eles, pela bondade divina, tornaram-se frutíferos, pois foram plantados em boa terra; o Senhor os cultivou nas paredes do Santuário e

eles produziram frutos para Sua glória; mas, o

que são sem seu Deus?

O que são, sem a contínua influência do Espírito Santo, gerando neles fecundidade?

Ó cristão, aprende a rechaçar o orgulho, vendo que não tens motivo para ele!

Não importa quem sejas, nada tens que te faça orgulhoso.

Quanto mais tens, mais deves a Deus, e não deves te orgulhar daquilo que te torna devedor.

Considera a tua origem, olha para o que eras. Considera o que terias sido, não fosse a graça

Page 63: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

63

divina. Olha para ti mesmo como és agora.

Porventura tua consciência não te acusa?

Não estão diante de ti tuas muitas perambulações, dizendo-te que és indigno de

ser chamado Seu filho?

E se Ele alguma coisa te faz, não foste ensinado por isso que é a graça que te torna diferente?

Ó cristão, terias sido um grande pecador, não tivesse Deus te tornado diferente.

Ó tu, fortalecido pela verdade, terias sido fortalecido pela mentira, não fosse a graça de

Deus sobre ti.

Portanto, não te orgulhes, pois embora tenhas muito — amplo domínio da graça, nunca tiveste nada para chamar de teu, exceto pecado e

miséria.

Ó estranha obsessão, que tu, que tudo tens tomado de empréstimo, penses em exaltar-te;

pobre pensionista dependente da generosidade do Salvador, cuja vida se esvai sem a refrescante

corrente de vida procedente de Jesus, e ainda

assim cheio de orgulho!

Quanta vergonha para ti, ó coração insensato! Por Charles Haddon Spurgeon

Page 64: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

64

Humildade

Um senso de nossa própria pequenez deve

decorrer do fato da corrupção do nosso coração,

do fato de sermos pecadores.

E ainda que convertidos a Deus, vê-se em nós em nossa jornada terrena, os restos desta

corrupção.

Isto em si mesmo, é um motivo bastante forte para que sejamos humildes, e para que não se encontre em nós qualquer tipo de elevação,

porque as nossas melhores obras, e a nossa

própria santidade, é imperfeita, pois sempre

carrega algum tipo de mancha de orgulho ou qualquer outro pecado.

Quanto à consciência de nossa pequenez em razão do pecado, não precisamos

necessariamente nos comparar com Deus, pois

que todas as criaturas que habitam o céu não têm qualquer tipo de pecado, inclusive os santos

que lá estão.

Nisto temos um bom motivo para nos mantermos humildes com uma consciência da

nossa pequenez comparativa.

A humildade tende a prevenir um comportamento de justiça própria.

Page 65: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

65

Aquele que está debaixo da influência de um espírito humilde, se ele entrou em uma falta,

como todos estão sujeitos a cair em algum

momento, ou se em qualquer coisa ele prejudicou outros, ou desonrou o seu nome e

caráter, estará disposto a reconhecer a sua falta.

Não será difícil para ele ser trazido a uma consciência da sua falta, nem testemunhar o

reconhecimento do seu erro.

Ele será humilhado intimamente por isto, e pronto a mostrar a sua humildade da maneira

pela qual o apóstolo Tiago aponta, quando ele diz

em Tg 5.16: “Confessai, pois, os vossos pecados

uns aos outros”.

É o orgulho que faz com que os homens sejam tão endurecidos para confessarem os seus

pecados, porque consideram que isto será

vergonhoso para eles, mas na verdade o que está

em foco é que estão preocupados com a estima da sua própria honra. E ficam assim, privados da

mais elevada honra, já que Deus dá graça a quem

se humilha.

Page 66: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

66

Humildade, Modéstia e Simplicidade

Um texto que poderia ser pensado

relativamente ao título seria o de Mateus 5.3, vertido muitas vezes como “bem aventurados os humildes de espírito...”, mas, a palavra grega no

original é ptochoi, que significa pobre,

conforme também empregada em várias outras passagens do Novo Testamento. Pobre, no

sentido de reconhecer-se desprovido da glória

de Deus, e completamente necessitado do ouro

refinado da graça de Jesus, para ser enriquecido espiritualmente.

Todavia, como tal condição conduz necessariamente a nos tornar humildes diante

de Deus, pode-se dizer que a expressão

traduzida como humildes de espírito é correta. A humildade é a condição requerida por Deus

para que possa nos exaltar, sem o perigo de nos

tornarmos arrogantes e orgulhosos.

Quando conscientes da nossa real condição, e desprovidos da graça de Jesus, estamos

preparados para receber os dons de Deus sem o perigo de deixar de Lhe atribuir toda a honra,

louvor e glória.

Temos o exemplo supremo e insuperável de humilhação na própria pessoa de Jesus Cristo,

que sendo o Criador e soberano sobre tudo e

Page 67: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

67

todos, rebaixou-se a ponto de se fazer homem,

gerado segundo a carne no ventre de Maria,

sem ter sequer onde reclinar a cabeça. Foi

perseguido e escarnecido, rejeitado e crucificado; e tudo isso para efetuar a obra da

nossa salvação.

De igual modo, todos os que Lhe pertencem são chamados a compartilhar da Sua humilhação e

sofrimento, carregando cotidiana e pacientemente a cruz que lhes está designada

por Deus, como sendo a porção deles neste

mundo, pois importa que em tudo sejam

conformados ao seu Salvador e Senhor.

Além disso, em nosso caso, a auto-humilhação possui o efeito benéfico de nos colocar no nosso

devido lugar de criaturas dependentes de Deus,

pois somos dados naturalmente à

autoexaltação, por causa do pecado que opera em nossa natureza terrena.

A humildade é uma virtude comparativa, ou seja, ela se manifesta quanto ao que sentimos

em relação a outros. Geralmente, por um

engano do pecado, somos levados a pensar que somos mais qualificados do que os nossos

semelhantes. Todavia, deveríamos nos

comparar sempre com Cristo, para vermos qual

é de fato a nossa real condição.

Page 68: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

68

Assim, somos exortados a considerar os outros superiores a nós mesmos, para que não

incorramos neste grave pecado de soberba e

presunção.

Lembremos sempre, que foi por causa da exaltação que Satanás e os anjos que o seguiram,

que caíram do seu estado original se

transformando em demônios; inimigos de Deus

e da verdade.

Assim, Deus sempre rebaixará aqueles que se exaltarem, seja para a perdição eterna, como no

caso do diabo e os demônios; como no caso dos

homens que morrem resistindo a Cristo; ou

seja, para correção, no caso de crentes que se permitem deixar-se dominar por este pecado de

autoexaltação.

Não é lícito que louvemos a nós mesmos, nem devemos andar à procura do louvor dos

homens, senão somente do de Deus. Não é correto quem a si mesmo se glorifica, senão a

quem Deus glorifica.

De modo que se a intenção do nosso coração é a de subir acima das estrelas, e estabelecer um

trono acima de Deus, é certo que seremos derrubados para as profundezas, tal como o

Senhor fizera com Satanás.

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69

Aos pecadores arruinados que foram salvos por exclusiva graça e misericórdia, não cabe um

melhor lugar do que os joelhos dobrados, com o

rosto no pó, diante da sublime majestade do seu Salvador e Senhor.

Por que Deus se agrada tanto da nossa humildade?

Porque Ele é Deus verdadeiro e se agrada da verdade. O que se reconhece humilde testifica

da verdade da sua condição pessoal. É isto o que convém a toda e qualquer pessoa, por maior que

seja a sua força, inteligência ou riqueza.

“Jeremias 9.23 Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas;

Jeremias 9.24 mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em entender, e em me conhecer, que eu sou o Senhor, que faço misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o Senhor.”

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70

Humilhar-se Sob a Potente Mão de Deus

1Pe 5:6 Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa

mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno,

vos exalte,

Mesmo quando afligido debaixo da potente

mão do Senhor, é sempre nEle e não em outros,

que o Seu povo deve buscar auxílio e socorro,

como podemos ver no capítulo 30 de Isaías.

Judá estava debaixo da ameaça da invasão dos assírios, que haviam se engrandecido contra o

Senhor, e intentavam levar Judá para o cativeiro,

coisa que Deus não lhes ordenara, e que Judá

conheceria caso tivesse buscado o Senhor.

Mas em vez disso, foram se aliançar com o Egito para defendê-los dos assírios, como se vê em II

Rs 18.21.

Da Assíria que Judá tanto estava temendo o Senhor disse através do profeta:

“Com a voz do Senhor será desfeita em pedaços a Assíria, quando ele a ferir com a vara.” (Is

30.31).

Page 71: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

71

Os assírios destruíam as nações dominadas, e temos afirmado repetidas vezes que Judá jamais

poderia ser destruída, não por causa da justiça

dos judeus, mas por causa do propósito determinado de Deus de trazer a salvação ao

mundo por meio dos judeus, porque seria deles

que procederia o Messias.

Mas quando filhos rebeldes darão ouvidos e

praticarão as coisas ordenadas por seus pais? De igual modo Judá não daria ouvidos ao Senhor e

não O buscariam porque eram filhos rebeldes, e

por isso um remanescente dele deveria ser

purificado no cativeiro em Babilônia.

Somente filhos que honram a seus pais e que lhes obedecem, buscam tomar conselho com

eles, mas esta não era a condição dos judeus,

que não buscavam conselho do Senhor, mas

fazendo aliança com outros sem a instrução do Espírito Santo, e assim acrescentavam pecado

sobre pecado (Is 30.1).

Eles fizeram de faraó o deus deles, esperando que seria a força do Egito que os livraria da

Assíria (v. 2,3).

Os oficiais de Judá, que haviam descido ao Egito, seriam envergonhados porque o próprio Egito

seria subjugado pela Assíria, e assim em nada

poderiam ser ajudados.

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72

Em Is 30.6 o Egito é chamado de a Besta do Sul, porque é um auxílio vão, um poder que não pode

ajudar os judeus. Assim como o Anticristo é

também chamado de Besta, porque é como um animal feroz irracional que não poderá auxiliar

Israel na aliança que farão com ele nos últimos

dias, para serem livrados da ameaça árabe.

Em vez de ajudá-los o próprio Anticristo se

voltará contra eles e destruirá a muitos por via de perseguição.

O Egito havia feito grandes promessas aos judeus por troca de um grande tesouro que eles

deveriam lhe dar, mas como de nada lhes

aproveitaria, Deus chamou o Egito de Gabarola, isto é, de contador de grandes feitos, mas que

nada poderia fazer (v. 7).

Deus ordenou que esta profecia ficasse registrada conforme a encontramos em Isaías

30, porque era Seu intento que isto ficasse como testemunho para o futuro e para sempre, não

para registrar a fraqueza do Egito, mas que os

judeus eram de fato um povo rebelde, filhos

mentirosos, filhos que não queriam ouvir a lei do Senhor, como se afirma no verso 9.

Eles rejeitavam a mensagem dos profetas que Deus lhes enviava, porque queriam ouvir coisas

aprazíveis e ilusões e não a verdade (v. 10).

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73

Não somente deixavam de dar ouvidos aos mensageiros de Deus, como os rejeitavam,

pedindo-lhes que se afastassem deles, para que

o Santo de Israel deixasse de estar entre eles, para terem liberdade para viverem no pecado,

sem terem suas consciências confrontadas e

aferroadas pela verdade (v. 11).

É importante que se frise que tudo isto estava

ocorrendo em pleno período em que o rei Ezequias estava se esforçando para empreender

uma reforma religiosa em Judá, para trazer o

povo de volta aos caminhos do Senhor.

Mas Deus sabia que toda a honra que Lhe estava sendo tributada, era da boca para fora, porque não era nEle que estava o coração do povo, senão

no pecado.

Porventura, não é esta a condição de muitos na igreja de Cristo?

Por isso o Senhor os chama ao arrependimento, nas cartas dirigidas às sete Igrejas no livro de Apocalipse, com exceção de Esmirna e

Filadélfia.

Deus não olha a aparência do culto que Lhe prestamos, porque conhece o que está no nosso

coração.

Ele sabia o que havia no coração dos judeus, apesar de gostarem de comparecerem aos seus

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74

átrios, oferecerem ofertas e sacrifícios,

jejuarem e orarem, como veremos nos capítulos

seguintes, mas foram repreendidos pelo Senhor

por causa das más obras das suas ações.

Eles não se submeteram debaixo da potente mão de Deus, não se arrependeram dos seus

pecados, e se dedicavam à simples apresentação

de um culto externo que não provinha do

profundo de seus corações.

Eles ficaram acomodados à dureza produzida pelo pecado, e não consideravam em sua

carnalidade que o que Deus requer é que

estejamos em íntima comunhão espiritual com

Ele.

Então o juízo sobre eles soou nos versos 12 a 17 para os ímpios de Judá que rejeitaram a

chamada ao arrependimento. Mas ao exercer o

juízo Deus não deixaria de esperar, isto é, de ser

longânimo para usar de misericórdia para com o Seu povo, porque determinou em Seu

conselho eterno que poria ainda a Judá como

glória sobre toda a Terra. E faria isto com todos

aqueles que esperam por Ele (v. 18) e os faria habitar em Sião, em Jerusalém, e os consolaria

porque haviam chorado por seus pecados e

pelas aflições que sofreram reconhecendo que

lhes sobrevieram por causa dos seus pecados.

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75

Deus se compadeceria deles e ouvira o seu clamor e lhes responderia, embora lhes tivesse

dado o pão de angústia e água de aperto, e em

vez disso, lhes daria agora guias que poderiam ser reconhecidos por eles, como enviados por

Ele, porque lhes abriria os seus olhos para

discernir que eram mestres da verdade; e ouvidos para poderem ouvir a palavra de

instrução quanto ao caminho que deveriam

seguir, quando se desviassem para a direita ou

para a esquerda, deixando de andar no caminho estreito e reto da verdade (v. 20, 21).

Quando eles se convertessem eles jogariam fora os seus ídolos de prata e de ouro (v. 22).

Nos versos 23 a 26 são feitas promessas de bênçãos para os que se convertessem em Judá.

E nos versos 27 a 33 é descrita a alegria do povo de Deus por ter Ele tomado vingança contra os

Seus inimigos que os oprimiam.

É exatamente isto que sucede com os crentes de todas as épocas, inclusive na dispensação

presente da graça, uma vez que quando nos

sujeitamos aos juízos corretivos e

disciplinadores do Senhor, com mansidão em nossos corações, com quebrantamento de

espírito e verdadeiro arrependimento,

aguardando com paciência pela demonstração

da Sua misericórdia, o efeito sempre é este de

Page 76: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

76

sermos livrados dos poderes espirituais que nos

oprimiam e de podermos assim louvar o nome

do Senhor e servi-lo na liberdade do espírito,

com gratidão e alegria em nossos corações, porque a Sua graça é quem opera tudo isto em

todos aqueles que caminham humildemente

com Ele.

Page 77: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

77

Humilde Como Uma Criança

"1 Naquela hora chegaram-se a Jesus os

discípulos e perguntaram: Quem é o maior no

reino dos céus?

2 Jesus, chamando uma criança, colocou-a no meio deles,

3 e disse: Em verdade vos digo que se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças,

de modo algum entrareis no reino dos céus.

4 Portanto, quem se tornar humilde como esta criança, esse é o maior no reino dos céus.

5 E qualquer que receber em meu nome uma criança tal como esta, a mim me recebe.”

O ensino básico desta passagem é que a

medida de grandeza do reino dos céus é

proporcional ao tamanho da humildade, ou seja,

quanto maior for a humildade da pessoa, maior será a sua grandeza no reino.

E esta humildade é a de espírito, a pobreza de espírito citada por nosso Senhor nas bem-

aventuranças, que conduz a todas as demais

virtudes essenciais daqueles que pertencem ao reino, a saber: mansidão ou submissão;

contrição; pacificação; fome e sede de justiça;

Page 78: A Força que Há na Humildade e na Mansidão

78

misericórdia; pureza de coração; ser perseguido

por amor à justiça.

Portanto, em quem estas características forem achadas em grande grau, tanto maior será a sua

grandeza no reino dos céus.

Por isso nosso Senhor se valeu da ilustração de uma criança para nos ajudar a entender esta

verdade, porque estas características,

especialmente a da humildade, se encontram

naturalmente em crianças, pois não aspiram a fama, poder, posições elevadas, honrarias e

tudo o mais a que o pecado conduz em nossa

vida adulta.

Além disso, se permitem ser ensinadas e creem nas coisas que lhes são ensinadas. Cristo deve nos ensinar, e se não formos como as crianças,

jamais poderemos ser Seus discípulos.

Então a humildade aqui referida nada tem a ver em não se adquirir conhecimento ou bens, mas

com o modo como usamos todas estas coisas, especialmente as relativas ao reino espiritual,

quanto a não nos deixarmos dominar por nada

que não seja celestial, espiritual e divino, e que

não tenhamos em relação a todas as coisas, quer terrenas ou celestiais, sentimentos de orgulho,

cobiça egoísta, arrogância, ou qualquer outro

que nos incompatibilize a viver no amor devido

a Deus e ao próximo.

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79

Logo, a aspiração de ser grande no reino dos céus é legítima, todavia, deve ser movida pelos

motivos corretos; pois isto tem a ver com servir

a outros com amor e humildade e a não ser servido, conforme o exemplo que nos foi

deixado pelo próprio Senhor em seu ministério

terreno.

Deste modo, nosso Senhor vislumbrou nos Seus

discípulos um sentimento de busca de grandeza pela superação de uns aos outros, e pôs a

verdade relativa à grandeza do reino, quando

apontou para a necessidade de conversão, antes

de tudo, para que se pudesse ter a aspiração de ser grande no reino, porque é necessário que

primeiro se nasça de novo do Espírito, e uma vez

transformado, esta transformação deve

prosseguir em graus, pelo processo da santificação, que em sendo real e efetivo em

nossas vidas convertidas, há de nos tornar cada

vez mais humildes, conforme é do propósito de Deus.

Agora, aplicando este ensino do Senhor, de modo prático, na vida da Igreja, podemos

observar que aqueles que são menos notáveis

nos trabalhos de culto da mesma, são

exatamente as crianças.

Isto não significa que não sejam alvo dos nossos cuidados, mas é notório que as expectativas

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80

quanto ao que deve acontecer no culto, não é

colocada geralmente, nelas.

Todavia, nosso Senhor está dizendo que Ele as repara, e que o que elas são é muito importante

para Ele.

Não somente isto, indica-nos que devemos nos esforçar para sermos como elas. Desprovidos de

aspirações de grandezas terrenas, baseadas no

culto da autoglorificação, e por nos sentirmos

superiores aos demais.

Estar quieto e sossegado diante do Senhor, dependente da Sua palavra de ordem, sem

questionar o Seu mover e as Suas ordens, e

prontos a obedecer-Lhe, confiando

inteiramente nEle, é algo precioso e que indica de certo modo a medida da nossa grandeza no

reino.

Não é o que é elevado para os homens que é necessariamente elevado e digno diante de

Deus, porque tem escolhido as coisas desprezíveis e as que não são para confundir as

sábias e aniquilar as que são.

“26 Porque, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem

muitos os poderosos, nem muitos os nobres que

são chamados.

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81

27 as Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus

escolheu as coisas fracas deste mundo para

confundir as fortes;

28 E Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar

as que são;

29 Para que nenhuma carne se glorie perante ele.

30 Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção;

31 Para que, como está escrito: Aquele que se gloria glorie-se no Senhor.” (I Cor 1.26-31)