a filosofia da linguagem de stuart mill

3
Teorias filosóficas da linguagem Docente: Felipe Amaral Discente: Rogério Gonçalves Graças. Matrícula: 140051040 Prática pedagógica Texto dissertativo 2 (15/06/2016) No decurso de dois séculos após a publicação do Ensaio sobre o entedimento humano (1690) de Locke, predominou em parte da filosofia a propensão a restringir a lógica e a semântica à psicologia. Porém, isto trouxe muitos problemas. Sujeitar as presumidas leis objetivas da razão à vicissitude das reflexões psicológicas traz resultados que alguns filósofos não estavam predispostos a assumir. O grande anti-psicologista que conhecemos é Frege, que dedicou grande parte de sua obra à incumbência de determinar os eixos e pilares racionais da ciência da lógica e uma teoria do significado compatível com ela. Entretanto, antes dele, o inglês Stuart Mill havia já dedicado esforços no sentido de transgredir o idealismo subjetivista, no qual a filosofia estava imersa havia mais de dois séculos. Isso se evidenciou de maneira categórica em sua teoria do significado. John Stuart Mill, filósofo britânico do século XIX, empreendeu, no desenvolvimento de sua filosofia da linguagem, a tentativa de traçar uma conexão objetiva entre as palavras e os objetos do mundo. Com esse intuito, introduziu categorias de significação como agentes da relação semântica existente entre os nomes e as coisas, instituindo assim um empreendimento conotativo. Dentro do esquema psicologista de John Locke, filósofo inglês nascido no século XVII, a relação entre as palavras e os objetos do mundo se dá pela mediação de elementos de ordem subjetiva, as ideias. Assim, o significado próprio e imediato de uma palavra é a ideia que os falantes possuem sobre essa mesma palavra. Dessa forma, o significado linguístico é uma representação mental, a saber, psicológica. Mill embebeu-se dessa teoria, porém acabou por discordar dessa hipótese. No entanto, ao tentar refutar e abandonar este psicologismo, ele se deparou com uma questão: o que, dentro do possível novo esquema objetivista e realista, cumprirá o papel exercido anteriormente pelas entidades psíquicas, à maneira lockeana? Ou seja: se a mediação entre as palavras e as coisas era elucidada pela função efetuada pela idéia, mas nega-se agora que a ideia executa este papel, o que é, então, responsável pela mediação entre palavra e objeto? Pois, se o psicologismo é descartado, outros predicamentos devem se delegar pela incumbência que era atribuída às instâncias subjetivas. Por conseguinte, o próprio Stuart Mill, ao seu modo, resolveu esta questão. Fez isso inserindo ordens semânticas como encarregadas pela ligação de significação existente entre os nomes e as coisas. Segundo ele, a categoria capaz de estabelecer essa relação semântica primordial é a categoria da conotação. Dessa forma, os nomes não exprimem propriamente aquilo que denotam, mas traduzem determinados atributos que conotam. A propriedade dessas qualidades, por parte dos objetos do mundo, fará com eles sejam denotados pelo nome.

Upload: leonardo-ramsey

Post on 08-Jul-2016

25 views

Category:

Documents


6 download

DESCRIPTION

Diálogo entre a teoria do significado de Locke e Mill

TRANSCRIPT

Page 1: A filosofia da linguagem de Stuart Mill

Teorias filosóficas da linguagem

Docente: Felipe Amaral

Discente: Rogério Gonçalves Graças. Matrícula: 140051040

Prática pedagógica

Texto dissertativo 2 (15/06/2016)

No decurso de dois séculos após a publicação do Ensaio sobre o entedimento humano (1690)de Locke, predominou em parte da filosofia a propensão a restringir a lógica e a semântica àpsicologia.

Porém, isto trouxe muitos problemas. Sujeitar as presumidas leis objetivas da razão àvicissitude das reflexões psicológicas traz resultados que alguns filósofos não estavam predispostosa assumir.

O grande anti-psicologista que conhecemos é Frege, que dedicou grande parte de sua obra àincumbência de determinar os eixos e pilares racionais da ciência da lógica e uma teoria dosignificado compatível com ela. Entretanto, antes dele, o inglês Stuart Mill havia já dedicadoesforços no sentido de transgredir o idealismo subjetivista, no qual a filosofia estava imersa haviamais de dois séculos. Isso se evidenciou de maneira categórica em sua teoria do significado.

John Stuart Mill, filósofo britânico do século XIX, empreendeu, no desenvolvimento de suafilosofia da linguagem, a tentativa de traçar uma conexão objetiva entre as palavras e os objetos domundo. Com esse intuito, introduziu categorias de significação como agentes da relação semânticaexistente entre os nomes e as coisas, instituindo assim um empreendimento conotativo.

Dentro do esquema psicologista de John Locke, filósofo inglês nascido no século XVII, arelação entre as palavras e os objetos do mundo se dá pela mediação de elementos de ordemsubjetiva, as ideias. Assim, o significado próprio e imediato de uma palavra é a ideia que os falantespossuem sobre essa mesma palavra. Dessa forma, o significado linguístico é uma representaçãomental, a saber, psicológica.

Mill embebeu-se dessa teoria, porém acabou por discordar dessa hipótese.

No entanto, ao tentar refutar e abandonar este psicologismo, ele se deparou com uma questão:o que, dentro do possível novo esquema objetivista e realista, cumprirá o papel exercidoanteriormente pelas entidades psíquicas, à maneira lockeana? Ou seja: se a mediação entre aspalavras e as coisas era elucidada pela função efetuada pela idéia, mas nega-se agora que a ideiaexecuta este papel, o que é, então, responsável pela mediação entre palavra e objeto? Pois, se opsicologismo é descartado, outros predicamentos devem se delegar pela incumbência que eraatribuída às instâncias subjetivas.

Por conseguinte, o próprio Stuart Mill, ao seu modo, resolveu esta questão. Fez isso inserindoordens semânticas como encarregadas pela ligação de significação existente entre os nomes e ascoisas. Segundo ele, a categoria capaz de estabelecer essa relação semântica primordial é acategoria da conotação. Dessa forma, os nomes não exprimem propriamente aquilo que denotam,mas traduzem determinados atributos que conotam. A propriedade dessas qualidades, por parte dosobjetos do mundo, fará com eles sejam denotados pelo nome.

Page 2: A filosofia da linguagem de Stuart Mill

Denotação é o elo de significação que interliga o nome com a 'coisa' nomeada. Porém, paraMill, ela não constitui propriamente o significado das palavras. A conotação, por sua vez, é arelação semântica que o nome ratifica com as propriedades, os conteúdos informativos que apalavra traz consigo e que possibilitam que os sujeitos consigam identificar no mundo objetos porela nomeados.

Por exemplo: somos orientados a assumir, pela força do hábito, que a expressão “ser humano”significa uma miríade de indivíduos que denominamos seres humanos. Contudo, dirá Mill, essesindivíduos somente são nomeados pela expressão “ser humano” porque dispõem de uma série deatributos compartilhados que determinam a ‘humanidade’. Desse modo, segundo a semântica deMill, essas propriedades são conotadas pela expressão “ser humano”, abarcando nisso suasignificação. Ou seja: “ser humano” não significa Paulo, Maria, Joana, etc. “Ser humano” significa,em última instância, a racionalidade, corporeidade, uma certa forma que denominamos ‘humana’, emais uma série de propriedades e determinações que caracterizam a humanidade.

Por um lado, a denotação é o objeto ao qual a palavra se refere. A conotação, por outro lado,constitui as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos apartir delas os objetos denotados. As palavras possuem significados não porque fomentam nosujeito uma certa ideia ou imagem mental que é conectada a objetos do mundo. As palavras têmsignificado porque transportam consigo dados objetivos, teores descritivos sobre os objetos quependem sobre seu campo semântico. Assim, de acordo com este ponto de vista, a significaçãomesma do nome é sua conotação e não propriamente sua denotação.

Assim, a conexão entre os 'nomes' e as 'coisas' pode se designar exclusivamente por efeito dopeso semântico que a palavra possui, não sendo necessária a correlação da palavra a nenhuma ideiaou representação mental para que ela tenha significado. Sabemos o significado da palavra “carro”não porque somos aptos a imaginar (ou seja, conceber uma imagem mental) um carro. Até porque apalavra “carro”, quando usada em sentido geral, denota todos os carros, carros dos mais distintosmodelos, cores e tamanhos. Sabemos, pois, o significado da palavra “carro” porque dominamos oscritérios que a palavra “carro” determina para que algo possa ser por ela nomeado. Sabemos,portanto, quais as propriedades que a palavra carro conota. Para Mill, nisto é expressada asignificação das palavras: em sua conotação.

Page 3: A filosofia da linguagem de Stuart Mill

Plano de aula

TemaO diálogo entre as teorias lockeana e milliana acerca do significado.

ObjetivosTem-se por objetivo introduzir o tema aos alunos. Levando-se em conta o fato de os

estudantes não possuírem uma iniciação anterior ao assunto, ele será exposto de maneira simples,didática e concisa. A introdução à filosofia da linguagem em questão busca possibilitar aosestudantes um salto qualitativo em suas concepções sobre os 'nomes', tidos por eles – presume-se -como atributos absolutamente triviais. Objetiva-se, assim, iniciá-los à reflexão sobre a matériaatravés de um exercício de metalinguagem, incitando-os a questionarem esse suposto caráterordinário deste segmento do discurso, concepção comumente compartilhada entre os jovens.

ConteúdoO conteúdo tratado corresponderá aos escritos de Locke sobre a linguagem, em especial

dos capítulos I e II do livro III da obra Ensaio sobre o entendimento humano. Quanto a Mill, ter-se-á por referência, do mesmo modo, seus escritos sobre a linguagem, localizados no Livro I da obraSistema de lógica dedutiva e indutiva.

Para Locke, o significado das palavras é a ideia incitada por essas mesmas palavras.Desse modo, o significado é a ideia. O significado de 'mesa' é a própria ideia de 'mesa', porexemplo. O significado de 'virtude' é, do mesmo modo, a ideia de' virtude', e assim sucessivamente.Conclui-se, portanto, que o conteúdo semântico das palavras é mental, a saber, psicológico: dá-se deacordo com a competência intelectiva de atribuir a acepção das palavras por meio de ideias acercadelas. O sentido dos termos de uma frase é, portanto, subjetivo.

Para Mill, os nomes (palavras que se referem a um objeto quaisquer) não exprimempropriamente aquilo que denotam, mas traduzem determinados atributos que conotam (denotam umobjeto e implicam um atributo desse mesmo objeto). A propriedade dessas qualidades, por parte dosobjetos do mundo, faz com eles sejam denotados pelo nome.

MetodologiaAula expositiva, com participação direta dos alunos. Como o conteúdo a ser ministrado

exige certa capacidade de abstração, será usada como estratégia uma inversão didática no trato damatéria: ao invés de apresentar as reflexões para depois oferecer exemplos que comprovem averacidade de seu conteúdo, os exemplos serão dados inicialmente, como introdução ao exercíciode problematização do tema. Progressivamente, através de arquétipos simples, se esforçará, emconjunto com os estudantes, em impelir o raciocínio para um sentido mais geral, abstrato,demonstrando finalmente as concepções filosóficas do autor em questão.

BibliografiaLOCKE, John. Livro III do Ensaio sobre o entendimento humano.MILL, J.S. ''Dos nomes''. Livro I, Capítulo II de Sistema de lógica dedutiva e indutiva.