john stuart mill - princípios de economia política - vol ii

Upload: renatovinhato

Post on 06-Apr-2018

225 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    1/559

    OS ECONOMISTAS

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    2/559

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    3/559

    J OHN STUART MILL

    P RINCPIOS DE ECONOMIA P OLTICA

    Com Algumas de suas Aplicaes

    Fi losof ia Social

    Volume II

    Traduo de Luiz Joo Barana

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    4/559

    FundadorVICTOR CIVITA

    (1907 - 1991)

    Editora Nova Cultural Ltda.

    Copyright desta edio 1996, Crculo do Livro Ltda.

    Rua Paes Leme, 524 - 10 andarCEP 05424-010 - So Paulo - SP

    Ttulo original:Principles of Political E conom y

    with some of their Applications to Social Philosophy

    Direitos exclusivos sobre a Apresentao de autoria deRaul Ekerman, Editora Nova Cultural Ltda., So Paulo.

    Direitos exclusivos sobre as tradues deste volume:Crculo do Livro Ltda.

    Impresso e acabamento:DONNELLEY COCHRANE GRFICA E EDITORA BRASIL LTDA.

    DIVISO CRCULO - FONE (55 11) 4191-4633

    ISBN 85-351-0829-7

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    5/559

    LIVRO TERCEIRO1

    As Trocas

    1 Traduzido de Principles of Political Economy with some of their Applications to Social

    Philosophy. Editado com uma Introdu o por Sir W. J . Ash ley [1909]. August us M. Kelly(Bookseller), Nova York, 1965 (reimpresso).

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    6/559

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    7/559

    CAP TULO I

    O Valor

    1. O tema em que agora nos adentraremos ocupa posio toimportante e primordial na Economia Poltica que, no entender dealguns pensadores, seus limites se confundem com os dessa cincia.

    Um eminente autor props dar Economia Poltica o nome de Ca-tallactics, isto , cincia das trocas; outros lhe deram a denomina ode cincia dos valores. Se essas denomina es me tivessem parecidologicamen te corr eta s, deveria ter colocado a exposio das leis elemen-tares do valor no in cio da nossa pesquisa, em vez de adi -la para aterceira parte; alis, a possibilidade de adi -la tanto por si mesmaprova suficiente de que essa viso da natureza da Economia Poltica por demais restr ita. verdade que nos Livros an ter iores n o fugimos

    necessidade de a nt ecipar um a pequena par te da teoria sobre o valor,especialmente quanto ao valor do trabalho e da terra. Contudo, evi-dente que, entre as duas grandes partes da Economia Pol tica aproduo da riqueza e a sua distribuio , a considerao do valors tem a ver com esta ltima, e mesmo assim somente n a medida emque o fator de distribuio a concorrncia, e no o uso ou costume.As condies e as leis da produo seriam as mesmas que so, se asestruturas da sociedade no dependessem da troca, ou n o a compor-ta ssem. Mesmo no at ua l sistema indust rial, no qual a s pr ofisses estominuciosamente subdivididas, e todos os envolvidos na produ o de-pendem, para su a remun erao, do preo de um a m ercadoria especfica,a tr oca no a lei fun dam enta l da distribuio da produo, da mesmaforma como as estradas e os transportes no so as leis essenciais domoviment o, mas apenas um a par te do mecan ismo necess rio para efe-tu -lo. Confundir essas idias parece-me ser n o somente um erro l-gico, mas tambm um erro pr tico. um exemplo de erro excessiva-mente comum em Economia Poltica o de no distinguir entre neces-

    7

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    8/559

    sidades decorrentes da natureza das coisas e aquelas criadas por es-

    truturas sociais erro que, em meu entender, sempre produz doismales opostos: por um lado, faz com que os economistas pol ticos ca-taloguem verdades meramente tempor rias de sua matria entre as

    leis perma nen tes e un iversa is que a regem; por out ro lado, leva mu ita spessoas a considerar erroneamente as leis permanentes da produ o(tais como aquelas nas quais se funda a necessidade de limitar a po-

    pulao) como acidentes tempor rios decorrentes da estrutura atualda sociedade leis que, portanto, no precisariam ser levadas em contapor aqueles que inventassem um novo sistema de estruturas sociais.

    Todavia, em u m est gio social em qu e o sist ema indu st ria l estejatotalmente baseado na compra e venda, pelo fato de cada indivduo

    viver, na maior parte, n o de coisas de cuja produ o participa pes-soalmente, mas de coisas obtidas por meio de dupla troca vendaseguida de compra a questo do valor fundamental. Quase todapesquisa concernente aos interesses econ micos de uma sociedade as-sim constitu da implica alguma teoria sobre o valor; o m nimo erronessa ma tria a car reta erro corr esponden te em t odas a s nossas out ra sconcluses, e qua lquer indefinio ou nebulosidade em nossa conceposobre essa m at ria cria confuso e incert eza em t udo o ma is. Felizmen tenada resta, nas leis sobre o valor, a ser esclarecido por mim ou por

    algum a ut or fut ur o; a t eoria sobre esta m at ria est completa: a nicadificulda de a su pera r a de enunci -la de ta l man eira que se resolvampor antecipao as perplexidades principais que ocorrem em sua apli-cao, e para fazer isso so inevitveis certo grau de detalhes na ex-posio e pacincia considervel da parte do leitor. Entretanto, esteser amplamente recompensado (se j no estiver familiarizado comessas investigaes) pela facilidade e rapidez com que compreender a m aioria da s demais questes da Economia P oltica, se tiver en ten didoem profundidade o assunto em pauta.

    2. Temos que comear pela definio dos termos. Adam Smith,em uma passagem muitas vezes citada, deparou com a mais bviaambig idade em relao ao termo valor o qual, em uma de suasacepes, significa utilidade, e em outra, poder de compra; em suaprpria terminologia, seriam o valor de uso e o valor de troca. Todavia(como observou o sr. De Quincey), ao ilustrar esse duplo significado,

    o prprio Adam Smith caiu em outr a a mbig idade. Segun do ele, coisasque tm o mximo valor de uso muitas vezes t m pouco ou nenhumvalor de troca o que verdade, pois aquilo que pode ser obtido semtrabalho ou sacrifcio no tem preo, por mais til ou necess rio quepossa ser. Mas Smith continua, dizendo que coisas que tm o mximovalor de troca, como um diamante, por exemplo, podem ter pouco ou

    nenhum valor de uso. Isso equivale a empregar o termo uso n o nosentido em que o aborda a Economia Poltica, mas em outra acepo,

    OS ECONOMISTAS

    8

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    9/559

    em que uso (utilidade) se ope a prazer. A Economia Poltica nadatem a ver com a avalia o comparativa de utilidades diferentes no

    julgamento de um filsofo ou de um moralista. A utilidade de umacoisa, em Economia Poltica, significa a capacidade que essa coisa tem

    de sat isfazer a um desejo ou de servir a um a finalidade. Os diam an testm essa capacidade em gra u elevado, e se no a tivessem, no teriampreo algum. O valor de uso, ou, como o denomina o sr. De Quincey,o valor teleolgico o limite extremo do valor de troca. O valor detroca de uma coisa pode ser inferior para qualquer monta nte aoseu va lor de uso; ma s que jam ais possa su pera r o valor de uso, implica

    contradio; isso su pe que as pessoas pa garo, pa ra possu ir uma coisa,mais do que o valor m ximo que elas mesmas lhe do como meio de

    gratificar as suas inclinaes.A palavra valor, quando usada sem adjunto, sempre significa,em Economia Poltica, valor de troca ou, como foi denominado porAdam Smith e seus sucessores exchangeable valu e, expresso que n ema mxima au toridade em Lingstica poder deixar de qualificar comoingls de m qualidade. O sr. De Quincey o substitui pelo termo ex-change value, que inatacvel.

    O valor de t roca precisa ser distingu ido do preo. Os t erm os va lor

    e preo foram usados como sinnimos pelos antigos economistas pol-t icos, e o prpr io Ricar do nem sempre os distingue. Os a ut ores m odern osma is pr ecisos, porm, par a evitar o dispndio in t il de dois bons t erm oscient ficos para um nico conceito, empregaram preo para expressaro valor de uma coisa em rela o ao dinheiro, a quantidade de dinheiropela qual a coisa ser trocada. Por conseguinte, daqui em diante en-tenderemos por preo de uma coisa seu valor em dinheiro; por valor, ouvalor de troca, seu poder geral de compra, isto , o comando ou direitoque a sua posse d sobre bens ou mercadorias comprveis em geral.

    3. Mas aqui deparamos com nova necessidade de explica o.Que se entende por poder ou direito sobre bens ou mercadorias em

    geral? A mesma coisa pode ser trocada por grande quantidade de al-

    gumas mercadorias, e por quantidade muito pequena de outras. Um

    terno de roupa trocado por (ou vale) grande quantidade de po, epor quantidade muito pequena de pedras preciosas. O valor de uma

    coisa, se trocada por algumas mercadorias, pode subir; se trocada por

    outras, pode baixar. Um casaco pode, neste ano, ser trocado por (ou

    valer) menos po do que no ano passado, se a colheita foi m , pormpor ma is vidro ou ferr o, caso se tenha suprimido desses pr odutos algum

    imposto, ou se tiver sido efetuado um aperfeioamento na manufaturados mesm os. Ser que o valor do casa co, nessas circunst ncias , diminuiuou aumentou? impossvel responder; pode-se dizer apenas que elebaixou em relao a uma coisa, e aumentou em rela o a outra. Mash um caso em que ningum hesitaria dizer que tipo de mudana se

    STUART MILL

    9

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    10/559

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    11/559

    por cima da s verdades ma is bvias. Embora essa distino seja muitosimples, ela tem conseqncias com as quais bom um leitor alheioao assunto familiarizar-se perfeitamente desde j . Uma das principais a seguinte. Existe um fenmeno chamado aumento geral de preos.

    O preo em dinheiro de todas as mercadorias pode subir. Mas n opode haver um aumento geral de valores. Seria uma contradio ter-minolgica. O valor de A s pode aumentar pelo fato de A ser trocadopor uma quantidade maior de B e C, caso em que B e C devem valer

    um a qua nt idade menor de A. No possvel que todas a s coisas su bam ,umas em relao s outras. Se sobe o valor de troca de metade dasmercadorias existentes no mercado, os prprios termos implicam umaqueda do valor de troca da outra metade; e, reciprocamente, a queda

    do valor de troca de metade das mercadorias implica um aumento dovalor de tr oca de out ra meta de. to impossvel coisas t rocada s u ma spelas out ra s ca rem todas de valor de t roca, ou su birem todas, qua n to,de doze corredores, cada um ultrapassar todos os demais, ou, de cem

    rvores, todas elas u ltra passarem em altur a u mas s out ra s. Por ma issimples que seja essa verdade, logo verem os que ela se perdeu de vist a

    em algumas das doutrinas mais conceituadas, defendidas tanto por

    tericos como pelos assim chamados homens da pr tica. E como pri-

    meira amostra podemos citar a grande import ncia dada, na imagi-nao da maioria das pessoas, a um aumento ou queda dos preosgerais. Pelo fato de, quando sobe o preo de qualquer artigo, a cir-cunstncia costumar indicar um aumento de seu valor, quando todosos pr eos au menta m a s pessoas t m a impresso de que todas as coisasaumentaram simultaneamente de valor, e de que todos os donos tor-

    na ra m-se mais r icos. O fat o de os pr eos em dinh eiro de todas as coisassubirem ou descerem, desde que todos subam ou caiam igualmente,

    no tem em si importncia, prescindindo de contratos vigentes. Issono afeta nem os sal rios, nem os lucros, nem a renda de ningu m.Cada um recebe mais dinheiro em um caso, e menos no outro, mas

    nem por isso conseguem compr ar , em relao a a nt es, qua nt idade maiorou menor de todas as mercadorias que se compram com dinheiro. Nofaz nenhuma diferena seno a de usar mais ou menos moedas. Anica coisa que nesse caso muda realmente de valor o dinheiro, eas nicas pessoas que ganham ou perdem so as que tm dinheiro,ou aquelas que tm somas fixas de dinheiro a receber ou a pagar. H uma diferena para benefici rios de anuidades e para credores, deuma forma, e para aqueles que tm de pagar essas anuidades, oudvidas, de form a cont r ria. Em sum a, ocorr e um dist rbio nos cont ra tosem dinheiro fixo, e isso um mal, quer acontea a favor do devedorou a favor do credor. Quanto a transa es futuras, porm, no hdiferena para ningum. Recordemos, port an to (e no fa lta ro ocasiespara chamar a ateno para isso), que um aumento ou uma quedageral de valores uma contradio, e que um aumento ou uma dimi-

    STUART MILL

    11

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    12/559

    nuio gera l de preos no out ra coisa sen o um a a ltera o no valordo dinheiro, constituindo isso um fato totalmente sem import ncia, ano ser enqu an to afeta con tr at os vigentes de recebimen to e pagament ode quant ias fixas de dinh eiro,2 e enquan to ( preciso acrescentar) afeta

    os interesses dos produtores de dinheiro.

    5. Antes de comear a investigao das leis que regem o valore o preo, tenho mais uma observa o a fazer. Devo advertir, de umavez por todas, que os casos que analiso so aqueles em que os valorese os preos so determinados apenas pela concorrncia. Somente namedida em que so por ela determ inados podem ser r eduzidos a a lgumalei enu ncivel. A suposio que os compradores se empenham tanto

    em comprar barato, quanto os vendedores em vender caro. Portanto,os valores e pr eos a os quais se a plicam as nossas concluses so va lorese preos comerciais, preos que so cotados em listas de preos cor-rentes, preos nos mercados atacadistas, nos quais tanto o comprarcomo o vender so uma questo de negcio, em que os compradoresse esforam por conhecer e geralmente conhecem o preo maisbaixo pelo qual se pode comprar um artigo de determinada qualidade,

    e nos quais, portanto, verdadeiro o axioma de que n o pode haver,

    para o mesmo artigo, da mesma qualidade, dois preos diferentes nomesmo mercado. As nossas proposies sero verdadeiras com muitomais ressalvas para os preos no varejo os preos pagos em lojaspor artigos de consumo pessoal. Para tais artigos, muitas vezes h no somente dois, mas muitos preos, em lojas diferentes, ou at namesm a loja, uma vez que o hbito e o acaso atu am , aqu i, ta nt o qua nt ocausas gerais. As compras para uso particular, mesmo quando feitas

    por homens de n egcios, nem sempre so feitas com base em pr incpios

    comerciais: os sentimentos que atuam na opera o de receber a r enda ,e na de gast -la, mu ita s vezes diferem ao ext remo. Seja por indolncia,seja por descuido, ou porque as pessoas consideram chique pagarsem questionar, 3/4 daqueles que podem comprar pagam preos mu itomais altos que o necess rio pelas coisas que consomem, ao passo queos pobres muitas vezes fazem o mesmo por ignor ncia ou por falta dediscernimento, por falta de tempo para procurar e investigar, e nopoucas vezes por coero aberta ou disfarada. Por essas razes, os

    preos n o varejo no obedecem, com t oda a r egular idade que se poderiaesperar, ao das causas que determinam os preos no atacado. Ainfluncia dessas causas sentida, em ltima an lise, nos mercadosvarejistas, constituindo a fonte real de varia es de preos no varejoque so de car ter geral e permanente. Mas no existe uma corres-pondncia r egular ou exat a. Sapat os da m esma qu alidade so vendidos

    OS ECONOMISTAS

    12

    2 As pa lavras r es t an tes da fr ase foram acrescen tadas na 6 ed io (1865).

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    13/559

    em lojas diferentes a preos que diferem consideravelmente, e o preodo couro pode cair, sem que isso fa a com que a classe mais rica decompradores pague menos pelos sapatos que compra. No entanto, o

    preo dos sa pa tos s vezes ca i; e quando isso acontece, a causa sempre

    uma circunstncia geral, como o barateamento do couro; e quando ocouro fica mais barato, mesmo que no aparea nenhuma diferenanas lojas freqentadas por pessoas ricas, o arteso e o trabalhadorgera lmente conseguem seus sa pat os a pr eo ma is baixo, havendo ta m-bm uma reduo visvel nos preos de contrato pelos quais se fazfornecimento de sapatos a um asilo ou a um quartel. Em todo o ra-

    ciocnio sobre p reos, deve-se su bent ender implcita a condio seguint e:que todas as partes envolvidas zelem pelo seu pr prio interesse. A

    falta de at eno a essa s distines t em levado a a plicaes ina dequa dasdos princpios abstratos da Economia Poltica, e com freqncia aindamaior a um descr dito indevido desses princpios, por serem compa-ra dos com fat os diferen tes daqueles aos qua is se aplicam , ou seja, fat os

    diferentes daqueles que se pode com razo esperar que obedeam aesses princpios.

    STUART MILL

    13

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    14/559

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    15/559

    CAP TULO II

    A Procura e a Oferta em sua

    Relao com o Valor

    1. Para que uma coisa tenha algum valor de troca, s o neces-s rias du as condies. A coisa deve ter alguma utilidade, isto (comoj explicamos), deve servir para alguma finalidade, atender a algumdesejo. Ningum pagar um preo, ou se desfar de alguma coisa queserve a algum de seus objetivos, para adquirir uma coisa que noat enda a n enhum a de suas finalidades. Em segundo lugar , a coisa nodeve ter somente alguma utilidade, mas tambm deve haver algumadificuldade para consegui-la. Afirma o sr. De Quincey:3

    Para que algum artigo obtenha aquele tipo de valor que seentende por valor de troca, deve comear por oferecer-se comoum meio para o atendimento de algum objetivo desejvel; emsegundo lugar, mesmo que o artigo possua incontestavelmente

    essa van ta gem prelimina r, nu nca ter um valor de t roca em casosem que ele puder ser obtido gra tuit am ent e e sem esforo sendoque, dessas duas condies que acabo de citar, ambas so neces-s rias como limitaes. Com efeito, com freqncia ocorrer apossibilidade de atingir-se gratuitamente um objetivo desejvel:

    basta voc abaixar-se, e apan ha r a coisa a seus ps; no enta nt o,j que a repetio cont nua desse ato de abaixar-se exige umesforo que custa, logo se constatar que apanhar a coisa vocmesmo no virt ua lmente gra tu ito. Nas vasta s floresta s do Ca-nad s vezes permitido colher gratuitamente morangos sil-vestres vontade: no entanto, to grande o can sao decorrente

    15

    3 Logic of Political E conom y. p. 13.

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    16/559

    da posio de ficar aba ixado, e de um tr aba lho to montono quetodo mu ndo t er prazer se puder pa ssa r logo esse servio a pessoasque recebem para execut -lo.

    Como assinalei no cap tulo precedente, a utilidade de uma coisasegundo a avaliao do comprador o limite extremo de seu valor detroca: disso no pode passar o seu valor; para elevar esse valor at esse ponto, requerem-se circuns tncias peculiar es. Isso bem ilust ra dopelo sr. De Quincey:

    Entre em qualquer loja, compre o primeiro artigo que enxer-gar. O que determina r o preo desse ar tigo? Em noventa e novecasos dentre cem, simplesmente o elemento D dificuldade de

    consegui-lo. O outro elemento, U, isto , a utilidade intr nseca,no ter influncia alguma. Suponhamos que a coisa (medidapelas suas utilidades) valha, para suas finalidades, 10 guinus,de sorte que voc preferiria pagar 10 guin us a perd-la; no en-tanto, se a dificuldade de produzi-la s valer 1 guinu, este sero preo dela. Mas mesmo assim, embora U n o influa, pode-sesupor que esteja ausente? Em absoluto, pois se U tivesse estado

    au sente, segura ment e voc no ter ia compr ado o ar tigo, nem mes-

    mo pelo preo mais baixo. U influi sobre voc, ainda que n oinflua sobre o preo. Por ou t ro lado, no centsimo caso, suporemosque a s circuns tncias sejam inversa s: voc est no lago Superior,em um barco a vapor, navegando para uma regio desabitada,a 800 milhas de dist ncia da civilizao, e sabe que no temnenhuma chance de comprar qualquer artigo de luxo, de pouco

    ou de muito luxo, durante o espa o de dez anos para a frente.Um colega passageiro, de quem voc ter que separar-se antes

    do pr-do-sol tem u ma poten te caixa de ra p com msica ; conhe-cendo por experincia a fora de tal brinquedo sobre seus senti-mentos, a mgica com a qual por vezes ele o acalma em seusmomentos agitados, voc sente desejo intenso de compr -lo. Nahora de partir de Londres voc havia esquecido de compr -lo;agora tem uma ltima chance. Mas o propriet rio, conhecendosua si tuao no menos do que voc, est decidido a jogar como valor in t r nseco desse a rt igo, em sua ava liao individual, par aos seu s objetivos individua is, estican do o mximo possvel a cordado U. Ele no quer saber de D como poder ou fator mitigadorno caso; e ao final, embora por 6 guinus por pea em Londresou P ar is, voc tivesse podido encher u ma car roa com ta is caixas,acaba pr eferindo pagar 60 gu inus a perd-la quan do tiver soadoa ltima batida do relgio, a qual o intima a comprar agora, ouento a perd-la para sempre. Aqui, como no caso anterior, satua um elemento: no caso anterior foi D, agora U. Mas em ltima a n lise, D no esteve ausente, embora no tenh a at ua do.

    OS ECONOMISTAS

    16

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    17/559

    A in rcia de D permitiu a U gerar seu efeito total. Retirando-sea compresso pr tica de D, U salta como gua em uma bombaquando libertada da presso do ar. No entanto evidente queD esta va presente n os seus pensa ment os, ainda que o preo tenha

    sido regulado por out ro fat or: ta n to porqu e U e D t m de coexist irpa ra cria r qua lquer caso de valor de t roca que seja, como porqu e,inegavelmente, voc leva muito em conta esse D, a dificuldadeextrema de obteno (que aqui a mxima possvel, a saber,uma impossibilidade) antes de voc consentir no alto preo deU. O D especial desapareceu, mas substitu do, em seus pen-samentos, por um D ilimitado. Sem dvida, voc se submeteuao extremo a U, como fora reguladora do preo, mas fez isso

    sob o senso da presen a latente de D. Contudo, D est to longede exercer alguma fora positiva, que a ret irada de D como fat orat ua nt e sobre o preo cria, digamos assim, um vcuo total, sendoat ravs desse vcuo que U avana e atinge seu grau mais altoe ltimo.

    Esse caso, no qual o valor inteiram ent e r egulado pelas neces-sidades ou desejos do comprador, o caso de monoplio estrito e ab-soluto, em que, pelo fato de o artigo desejado s poder ser obtido deuma pessoa, esta pode cobrar qualquer preo, abaixo daquele pontoem que no ha veria nen hu m compra dor. Mas nem mesmo o monopliocompleto tem necessariamente como conseqncia qu e o va lor seja for -ado at esse limite ltimo, conforme veremos ao estudarmos a lei querege o valor, na medida em que este, depende do outro elemento, a

    dificuldade de obteno.

    2. A dificuldade de obteno que det erm ina o valor n o sempredo mesmo tipo. Por vezes ela consiste em uma limitao absoluta daofert a . H coisas cu ja quan tida de ma terialment e impossvel aument ara lm de deter minados limites rest ritos. Tais so os vinh os qu e s podemser produzidos em circunstncias especiais de solo, clima e exposiodas uvas a o sol. Tais so ta mbm escultur as a nt igas, pint ur as de mes-tres antigos, livros ou moedas raros, ou outras peas de antiqu rio.Entre eles podem tambm ser contadas casas, bem como terreno paraconstruo em uma cidade de exten so definida (como Veneza, ou qu a l-quer cidade fortificada, onde as fortifica es so necess r ias para asegurana), os locais ma is desejveis em qualquer cidade, casas e par-ques particularmente favorecidos por beleza natural, em lugares em

    que essa vant agem incomu m. Em poten cial, ta mbm t oda e qua lquerterra uma mercadoria desse gnero, podendo isso acontecer pratica-mente em regies totalmente ocupadas e cultivadas.

    Mas h outra categoria (abarcando a maior parte de todas ascoisas que so compradas e vendidas), em que o obst culo para con-

    STUART MILL

    17

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    18/559

    segui-las consiste apenas no trabalho e nas despesas que a produ oda mercadoria requer. Sem determinado trabalho e despesas no seconsegue t er ta is coisas, ma s, se a lgum est iver disposto a su bmet er-sea esse trabalho e a essa despesa, no precisa haver limite para mul-

    tiplicar o produto. Se houvesse trabalhadores e m quina s em nmerosuficiente poder-se-ia produzir algodo, l ou linho em milhares de jardas para cada jarda atualmente manufaturada. Sem dvida, comisso se atingiria um limite em que um aumento ulterior seria inexe-

    qvel pela incapacidade da t err a de forn ecer ma is mat ria-prima . En -tretanto, no h necessidade, para qualquer finalidade da EconomiaPoltica, de considerar um tempo em que esse limite ideal poderiatornar-se um limite pr tico.

    H um terceiro caso, que est entre os dois anteriores, que maiscomplexo e que no momento apenas indicarei, mas cuja importncia emEconomia Poltica extremamente grande. H produtos que podem sermultiplicados em extenso indefinida, aplicando trabalho e gastos, masno por um montante fixo de trabalho e gastos. A determinado custo sse pode produzir uma quantidade limitada de modo que se houver ne-

    cessidade de mais, o custo de produo ser maior. Nessa categoria en-quadra-se a produo agr cola, como temos repetido muitas vezes, e tam-bm, em geral, todos os produtos na tu ra is da ter ra ; e dessa peculiaridadedecorrem conseqncias muito importan tes, uma das qua is a necessidadede limitar a populao, e outra, o pagamento de renda da terra.

    3. Sendo essas as tr s cat egorias n as qua is se tm de enquadra r em uma ou em outra todas as coisas compradas e vendidas,examin -las-emos pela ordem . Trat ar emos pr imeiro das coisas absolu-tamente limitadas em quantidade, tais como esculturas ou pinturas

    antigas.

    Quanto a essas coisas, costuma-se dizer que seu valor depende

    da r ar idade; ma s a expresso no suficientem ent e definida pa ra servirao nosso escopo. Outros dizem, com pouco mais de preciso, que seuvalor depende da procura e da oferta. Mas mesmo essa afirma o de-manda muita explicao para que se possa dizer que ela exprime cla-ramente a relao entre o valor de uma coisa e as causas das quaistal valor decorre como efeito.

    A oferta de um artigo uma expresso inteligvel: significa aquantidade oferecida venda, a quantidade que pode ser obtida, emdeterminado tempo e lugar, por aqueles que desejam compr -la. Masque se ent ende por procur a? No o simples desejo em r elao ao a r t igo.Um mendigo pode desejar um diamante, mas seu desejo, por maior

    que seja , no ter nenh um a influncia sobre o preo. Por isso, os a utorestm dado um significado mais restrito procura, definindo-a comosendo o desejo de possu ir, associado ao poder de compra . Par a d istin guir

    ent re procur a n essa acepo tcn ica e procur a que sin nimo de desejo,

    OS ECONOMISTAS

    18

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    19/559

    denominam a primeira de procura efetiva.4 Dada essa explicao, cos-tu ma -se supor que no rest a n enh uma out ra dificulda de, e que o valordepende da razo entre a procura efetiva, assim definida, e a oferta.

    Contudo, essas palavras no satisfazem a ningum que exija

    idias claras, com expresso inteiramente precisa. Alis, sempre terque conter certa confuso uma expresso to inapropriada como a derazo ent re du as coisas que no t m a mesma denominao. Que r azopode haver entre quantidade e desejo, ou mesmo desejo associado com

    poder? Uma ra zo ent re pr ocura e ofert a s inteligvel se por pr ocuraent endermos a quan tidade procur ada , e se a r azo que se qu er exprimir a que existe ent re a qua nt idade procur ada e a quan tidade em oferta .Mas tambm aqui, a quantidade procurada n o uma quantidade

    fixa, mesmo no mesmo tempo e lugar; ela varia conforme o valor: sea coisa for barata, a procura por ela costuma ser maior do que quando

    ela cara. Por isso, em parte a procura depende do valor. Mas ante-riormente estabelecemos que o valor depende da procura. Como sair

    dessa contradio? Como resolver esse paradoxo, de duas coisas quedependem uma da outra?

    Se bem que a soluo dessas dificuldades seja bastante bvia,as d ificulda des em si mesm as n o so ima gin rias; e se lhes dou t an taimportncia, porque estou certo de que elas de uma forma ou deoutra acossam todo pesquisador de mat ria que no as encarou aber-ta mente e no as per cebeu com clareza. In discut ivelment e, a verda deirasoluo deve ter sido dada muitas vezes, embora n o consiga citarningum que a tenha dado antes de mim, se excetuarmos o pensadoreminen tem ent e claro e o expositor hbil que J . B. Say. No obstan teisso, teria imaginado que essa solu o deveria ser familiar a todos oseconomist as polticos, se os escritos de v rios deles no evidenciassemcerta falta de clareza sobre o assunto e se o exemplo do sr. De Quincey

    no provasse que possvel ser dotado de grande talento intelectual eestar profundamente familiarizado com o assunto em questo, e ao mesmotempo no reconhecer por inteiro e negar implicitamente essa solu o.

    4. Significando, com o termo procura, a quantidade procuradae tendo em mente que esta no uma quantidade fixa, mas em geralvaria de acordo com o valor, suponhamos que a procura, em determi-

    na do moment o, supere a ofert a, isto , h pessoas dispostas a compr ar ,ao valor do mercado, uma quantidade superior que oferecida venda. Do lado dos compradores surge a concorr ncia, e o valor sobe:mas quanto? mesma razo da falta (podem supor alguns): se a de-

    STUART MILL

    19

    4 Ad am Sm it h , qu e in t r od uziu a exp res so procura efetiva, empregou-a para designar aprocura daqueles que esto dispostos e so capazes de pagar pela mercadoria o que elechama de preo natural, isto , aquele preo que possibilita em car ter permanente aproduo e a comercializao da mesma . Ver seu captulo sobre o preo nat ura l e o preode mercado (Livro Primeiro. Cap. 7).

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    20/559

    manda excede a oferta em 1/3, o valor sobe 1/3. De maneira alguma!

    Pois, qua ndo o valor sobe 1/3, a dem an da ainda pode exceder a ofert a;

    mesmo quando o valor aumenta, pode haver maior quantidade de de-

    manda do que deveria haver; e continuaria a concorrncia entre os

    compradores. Se o artigo for de primeira necessidade de maneiraque, antes de renunciarem a ele, as pessoas est o dispostas a pagarpor ele qualquer preo uma falta de 1/3 pode dobrar, triplicar ouqua dru plicar o preo.5 Ou ento, ao contr rio, a concorrncia pode ces-sar antes mesmo de o valor ter subido na mesma propor o que afalt a. Um a subida inferior a 1/3 pode fazer com qu e o ar tigo ult ra passe

    as possibilidades ou as inclina es dos compradores para comprar aqua nt idade toda. Em que pont o, ent o, h de parar a su bida do preo?

    Naquele ponto, qualquer que ele seja, em que a procura se torna igual oferta: quando se atingir aquele preo que elimina da procura o teroextr a, ou faz surgir ma is vendedores, suficientes para at end-lo. Qu ando,de um desses modos, ou por uma combina o dos dois, a procura igualara oferta e no a ultrapassar , neste ponto o valor deixar de subir.

    O caso inverso igualmente simples. Em vez de uma procuraa lm da oferta , suponh am os u ma oferta que supere a procur a. Aqui aconcorrncia ser entre os vendedores: a quantidade extra s pode

    encont ra r mercado suscita ndo um a procur a adiciona l igual a essa m es-ma quantidade. Isso ocorre barateando a mercadoria; o valor cai e faz

    com que o artigo fique ao alcance de mais clientes, ou ent o induzaqueles que j era m consumidores a fazerem compr as ma iores. A quedade valor exigida para restabelecer a igualdade difere conforme o caso.

    Os tipos de coisa em que essa queda costuma atingir o m ximo estonas duas extremidades da escala: artigos absolutamente necess rios,ou aqueles artigos de luxo especiais, cujo gosto est limitado a uma

    classe pouco numerosa. No caso dos alimentos, uma vez que aquelesque j tm o suficiente no procuram mais em razo do baixo preo,seno que antes gastam em outras coisas o que economizam em ali-mentos, o aumento de consumo ocasionado pelo baixo preo absorve,como demonstra a experincia, apenas pequena parte da oferta extragerada por uma colheita abundante,6 e a queda praticamente cessa

    apenas quando os agricultores retiram seu trigo e o retm, na expec-tativa de obterem um preo melhor, ou ento pelas operaes de es-

    peculadores que compram trigo quando o preo baixo e o estocam

    OS ECONOMISTAS

    20

    5 "Neste pa s, o preo do trigo subiu de 100 a 200% a mais, quando a deficincia mximacomputa da da s safras n o chegou a esta r m ais do que entr e 1/6 e 1/3 abaixo de um a m dia,e quando tal deficincia foi aliviada por fornecimentos vindos do exterior. Se houvesse umadeficincia das colheitas no montante de 1/3, sem que tivesse havido alguma sobra de umano anterior, e sem que tivesse havido nenhuma chance de a situa o ser aliviada porfornecimento por importao, o preo poderia quintu plicar , sextuplicar , ou at decuplicar." TOOKE. History of Prices. v. I, p. 13-15.

    6 Ver Took e, bem com o o Report do Comit Agr cola de 1821.

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    21/559

    pa ra coloc -lo venda qua ndo a n ecessidade ma is urgente. Seja qu ea procura e a oferta se igualem por efeito de um aumento da procura

    resu lta do do baixo preo , seja que isso acontea pela r etira da deum a par te da oferta , em am bos os casos a pr ocur a e a oferta se igua lam.

    Vemos, pois, que o conceito de razo, entre procura e oferta, novem a propsito, nada tem a ver com a questo; a analogia matem ticaapropriada a de uma equao? A procura e a oferta, a quantidade emprocura e a quantidade em oferta tendem a igualar-se. Se em algum

    momento forem desiguais, a concorrncia se encarrega de igual-las, e amaneira como se faz isso por meio de um ajuste do valor. Se a procuracresce, aumenta o valor; se a procura decresce, baixa o valor; por outro

    lado, se a oferta cai, o valor aumenta, e se a oferta aumenta, o valor cai.

    A subida ou a queda continua, at que a procura e a oferta se igualemnovamente entre si: e o valor que um artigo ter em qualquer mercadono out ro seno o valor que, naquele mercado, dado por uma procuraexatamente suficiente para atender a oferta existente ou esperada.

    Essa , pois, a lei do valor, com respeito a todos os artigos nosuscet veis de serem publicados vontade. Sem dvida, tais artigosso excees. H outra lei para aquela categoria muito mais vasta decoisas que podem ser multiplicadas indefinidamente. Apesar disso,

    necess rio conceituar claramente e reter com firmeza a teoria dessecaso excepcional. Primeiramente, constatar-se- que ela ajuda muitoa torn ar inteligvel o caso mais comum; segundo, o princpio que regea exceo mais amplo e abarca mais casos do que primeira vistase poderia supor.

    5. So poucos os produtos cuja oferta limitada por naturezae necessariam ent e. Mas essa limita o pode ocorrer com qualquer ar-

    tigo, em virt ude de algum a rt ifcio. Qualquer mercadoria pode ser objetode monoplio: como o ch , neste pa s, at 1834, o fumo, na Frana , opio, na ndia britnica, atualmente [1848]. Costuma-se supor que arbitr rio o preo de uma mercadoria monopolizada, dependendo davontade do monopolista, e sendo limitado apenas (como no caso do sr.

    De Quincey, relativo caixa de msica nas selvas da Amrica) pelaavaliao extrema que o comprador faz do valor da mercadoria paraele mesmo. Isso verdade em um sentido, e no entanto no constituiexceo regra segundo a qual o valor depende da ofert a e da pr ocur a.O monopolista pode fixar o valor t o alto quanto quiser, desde queseja abaixo daquilo que o consumidor ou no poderia pagar ou nopagaria; mas ele s pode fazer isso limitando a oferta. A CompanhiaHolandesa das ndias Orientais conseguiu preo de monoplio para aproduo das ilhas produtoras de especiarias, mas para isso foi obri-gada, em estaes favorveis, a destru ir par te da safra . Se ela tivessecontinuado a vender tudo o que produzia, teria sido obrigada a for arum mercado, diminuindo o preo, baixando-o talvez tanto, que teria

    STUART MILL

    21

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    22/559

    recebido, pela quantidade maior, um retorno total menor do que pela

    quantidade inferior efetivamente vendida: pelo menos a Companhia

    mostrou que assim pensava, destruindo o excedente. Mesmo no lago

    Superior, o mascate do sr. De Quincey n o poderia ter vendido sua

    caixa de rap por 60 guinus se possu sse duas caixas musicais e de-sejasse vender ambas. Supondo que o preo de custo de cada umadelas fosse de 6 guin us, ele teria aceito 70 guinus pelas duas, depreferncia a 60 guinus por uma s; ou seja, embora seu monopliofosse o mais cerrado possvel, teria vendido as caixas a 35 guinuscada uma, apesar de 60 guin us no ultrapassarem a avaliao queo comprador faz do artigo, para suas finalidades pessoais. Portanto, o

    valor de monoplio no depende de nenhum princpio especial, seno

    que apenas uma variante do caso comum de procura e oferta.Por outro lado, embora sejam poucas as mercadorias cuja ofertano em cada momento e para sempre suscet vel de aumento, tem-porariamente isso pode ocorrer com qualquer mercadoria, e, em se

    tr at an do de algum as delas, esse o caso ha bitual. Os produ tos agr colas,por exemplo, no podem aum entar em quan tidade antes da safra sub-seqente; com efeito, a ma ior qu an t idade de tr igo que se pode conseguirs vezes durante um ano inteiro que est pela frente, apenas a

    quantidade de trigo j existente no mundo. Durante esse intervalo, otrigo praticamente como coisas cuja quantidade no h condies deaumentar. No caso da maior parte das mercadorias, requer-se certo

    tempo para aumentar sua quantidade, e se a procura crescer, neste

    caso, at que a oferta consiga ajustar-se procur a, o valor au ment ar ao ponto de ajustar a procura oferta.

    H out ro caso exatam ent e inverso a esse. Existem a lgun s ar tigoscuja oferta pode ser aumentada indefinidamente, mas no pode serdiminu da r apidamente. H coisas t o du rveis, que a qu an tida de exis-tente sempre muito grande em confronto com a produ o anual. Oouro, bem como os metais de maior durao, so coisas desse gnero,o mesmo acontecendo com as casas. A oferta de tais coisas pode ser

    redu zida de repent e destr uindo-as , ma s o dono s poderia t er int eressenisso se detivesse o monoplio do respectivo artigo e tivesse condiesde compensa r-se da destru io de uma parte, mediante o aumento devalor do remanescente. Por isso, o valor de tais coisas pode continuar

    por muito tempo to baixo, ou seja, pode ser to reduzido o excedentede sua oferta ou o decrscimo de sua procura, que se interrompa aproduo u lter ior , j que a diminu io da ofert a, em virtude do desgast e, um processo to lento, que se requer longo tempo para restabelecero valor original, mesmo suspendendo totalmente a produo. Duranteesse intervalo, o valor ser regulado exclusivamen te pela ofert a e pelaprocura, subindo de maneira muito gradual, medida que o estoqueexistente se esgota, at que haja novamente um valor compensador,e a produo retome seu curso.

    OS ECONOMISTAS

    22

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    23/559

    Finalmente, h mercadorias que, embora sua quantidade possaaumentar ou diminuir muito, at em extenso ilimitada, tm valorque nunca depender de outra coisa seno da procura e da oferta.Esse , em particular, o caso da mo-de-obra, de cujo valor tratamos

    copiosamente no Livro anterior e, alm disso, h muitos casos emque constataremos ser necess rio invocar esse princpio para resolverproblema s difceis r elacionados com o va lor de t roca. Da remos exemplosespecficos disso ao tratarmos dos Valores Internacionais, isto , dascondies de intercmbio de coisas produzidas em pa ses diferentes,ou par a falar de modo ma is geral, em lugar es distan tes. No podem os,porm, adentrar-nos em tais questes antes de termos examinado ocaso de mercadorias cuja quan tidade se pode au ment ar indefinidament e

    e vont ade, e an tes de ha verm os determina do qua l a lei diferenteda lei da procura e da oferta que regula os valores permanentesou mdios dessas mercadorias. o que faremos no captulo seguinte.

    STUART MILL

    23

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    24/559

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    25/559

    CAP TULO III

    O Custo da Produ o e m s u aRelao com o Valor

    1. Quando a produo de um artigo resulta do trabalho e dosgast os feitos, seja o ar t igo suscet vel de mu ltiplicao ilimita da ou no,h um valor m nimo que r epresenta a condio essencial para que eleseja permanentemente produzido. O valor, em qualquer momento de-

    terminado, o resultado da oferta e da procura, sendo isso semprenecess rio par a criar um mercado par a a oferta existente. Ent reta nt o,se tal valor no for suficiente para compensar o custo da produ o, e,a lm disso, para assegurar o lucro normal que se espera, no se con-tinuar a produzir a mercadoria. Os donos de capital n o cont inuar o

    permanentemente a produzi-la com perda. Nem sequer continuaro aproduzi-la com um lucro infer ior quele do qua l tm condies de viver.As pessoas cujo capital j estiver empatado no negcio, e que n opuderem liberar com facilidade esse capital, continuar o por tempoconsidervel a operar sem lucro, sabendo-se de casos em que conti-nuaram a operar mesmo com perda, aguardando tempos melhores.

    Mas no o faro indefinidamente, ou quando nada h que indiqueprobabilidade de as coisas melhorarem. No se investir cap ita l novoem um negcio, se no houver uma esperana , no somente de algumlucro, mas de um lucro to grande (levando-se em conta o grau emque se pode optar livremen te pela ap licao, sob out ros aspectos) quan too que se pode esperar em qualquer outra aplica o, naquele momentoe lugar. Quando evidente ser impossvel conseguir tal lucro, se aspessoas no retira m efetivam ent e seu capita l j empa ta do, pelo menosse abstm de rep-lo, quando estiver consumido. Por isso, podemosdenomina r o cus to de produo, jun ta men te com o lucro norma l, preoou valor necessrio de todas as coisas produzidas com m o-de-obra e

    25

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    26/559

    cap ita l. Ningum pr oduz de boa vonta de se a perspectiva for de perda .Toda pessoa que age assim, age baseada em c lculos errneos, quecorrigir to logo puder.

    Quando uma mercadoria puder ser produzida n o apenas por

    mo-de-obra e capital, mas tambm por esses dois fatores em quanti-dade indefinida, esse valor necess r io o m nimo com o qual os pro-dutores se contentaro tambm, no caso de a concorrncia serlivre e ativa, o m ximo que podem esperar. Se o valor da mercadoria tal que pague o custo da produ o no somente com a taxa de lucrocostumeira, mas com uma taxa de lucro mais elevada, o capital entra

    na corrida para partilhar desse ganho extra, e, fazendo aumentar a

    oferta desse artigo, acaba reduzindo o valor do mesmo. Isso n o uma

    simples suposio ou conjectura, mas um fato conhecido daqueles queesto familiarizados com operaes comerciais. Toda vez que se apre-senta um a n ova linh a de comrcio, que oferea u ma esperan a de lucrosfora do comum, e toda vez que se acredita que um com rcio ou ma-nu fat ur a esta belecida proporcionar um lucro superior ao usual, certoque dentro em pouco haver uma produo ou importao to grandeda mercadoria, que no s acabar o lucro extr a, ma s geralment e esteacaba ficando aqum desta ma rca, fazendo o valor dela ba ixar de form a

    to excessiva quanto havia subido anteriormente isto, at que oexcesso de oferta seja corrigido por uma suspenso tota l ou par cial daproduo ulterior. Como j indiquei,7 essas variaes da quantidadeproduzida no pressupem ou requerem que alguma pessoa mude deprofisso. Aqueles cujo negcio prospera a um ent am sua produo apr o-veitando em m aior esca la o crdito de que dispem, ao passo que aqu elesque no esto conseguindo o lucro normal restringem suas operaes,e (em terminologia manufatureira) trabalham com capacidade ociosa.

    dessa maneira que com segurana e rapidez se opera a igualiza otalvez no dos lucros, mas ao menos das expectativas de lucro, emocupaes diferentes.

    Por conseguinte, como norma geral, h a tendncia de as coisasserem trocadas umas pelas outras a valores tais que possibilitam a

    cada produtor r epor o cus to da pr oduo com o lucro norma l; em out ra spa lavra s, a valores qu e proporciona ro a t odos os pr odutores a mesm ataxa de lucro para o que gastaram. Mas, para que o lucro possa ser

    igual quando igual o gasto, isto , o custo de produo, em mdiaas coisas devem poder ser trocveis umas pelas outras razo de seucusto de produo: coisas cujo custo de produ o for o mesmo devemter o mesm o valor, pois somen te a ssim um gas to igua l dar um retornoigual. Se um arr endat rio, com um capital igual a 1 000 alqueires detr igo, puder produzir 1 200 a lqueires, com um lucro de 20%, qua lquer

    OS ECONOMISTAS

    26

    7 Ver v. I, p. 338.

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    27/559

    ou tr a coisa que pu der ser pr oduzida a o mesm o tempo com u m ca pital

    de 1 000 a lqueires deve va ler, isto , deve ter um valor de troca de1 200 alqueires, do contr r io o produtor estaria ganhando ou maisou menos do que 20%.

    Adam Smith e Ricardo denominaram esse valor de uma coisa,que proporciona l a seu cust o de produo, valor n at ura l (ou seu pr eonatural). Com isso queriam dizer o ponto em torno do qual o valor

    oscila, e para o qual tende sempre a voltar o valor central, para oqual, como se expressa Adam Smith, o valor de mercado de uma coisa

    est constantemente tendendo, sendo que qualquer desvio em rela oa esse valor central apenas um a irregularidade tempor ria, a qual,no momento em que ocorrer, aciona for as que tendem a corrigi-la.

    Em uma mdia de anos suficiente para possibilitar que as oscila espa ra um dos lados da linha cent ra l sejam compen sadas pelas oscilaespara o outro lado, o valor de mercado concorda com o valor natural,

    mas mu ito ra ro que coincida exatam ent e com ele em a lgum m omen toespecfico. O mar em toda parte tende a um n vel nico, mas nuncaest a um n vel exato; sua su perfcie const an temen te encrespada porondas, e muitas vezes agitada por tempestades. Basta que nenhum

    pont o, ao menos em alto-ma r, tenh a perm an ent ement e n vel mais alto

    que out ro. Cada lugar ora apr esenta n vel mais elevado, ora n vel ma isbaixo; mas o oceano como tal conserva seu n vel.

    2. A influncia latente que faz com que os valores das coisasa longo prazo concordem com o custo de produ o a variao que,se assim no fora , ocorr eria na ofert a da mer cadoria . A ofert a au men -ta ria se a coisa cont inua sse a ser vendida a cima da ra zo de seu custode produo, e diminuiria se ca sse abaixo dessa razo. Mas nem porisso devemos supor seja necess rio que a oferta diminua ou aumenteefetivamente. Suponhamos que o custo de produo de uma coisa sejabara teado por a lgum a inveno mecnica, ou a um ent e por u m imposto.Em pouco tempo, se n o imediatamente, o valor da coisa cairia, noprimeiro caso, e aumentaria no segundo e assim seria porque, seassim no fora, a oferta, no primeiro caso, aumentaria at o preocair, e no segundo caso diminuiria at o preo subir. Por esse motivo,e devido ao conceito er rneo de que o valor depende da proporo entrea procura e a oferta, muitos supem que essa proporo deve mudartoda vez que houver qua lquer altera o no valor da mercadoria; e queo va lor no pode cair em r azo de uma diminu io do cust o de produo,a menos que a oferta aumente permanentemente, nem aumentar, a

    menos que a oferta diminua permanentemente. Mas a realidade n o esta: no h necessidade que ocorra uma alterao efetiva da oferta,e quan do esta existir, a a lterao, se permanente, no a cau sa, masa conseqncia da mudana de valor. Certamente, se a oferta no

    pudesse aumenta r , nenhum a diminuio do cust o de produ o ha veria

    STUART MILL

    27

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    28/559

    de fazer baixar o valor; mas n o h necessidade alguma de que devaocorrer esse aumento da oferta. Muitas vezes basta a simples possi-

    bilidade: os comerciantes tm conscincia do que aconteceria, e suaconcorrncia m tua os faz antecipar o resultado baixando o preo. Se

    haver ou no oferta permanente maior da mercadoria depois de ba-ratear a produo da mesma, depende de uma quest o bem diferen te,a saber, se, com o valor reduzido, haver necessidade de uma quan-tidade maior. muito comum haver necessidade de uma quantidademaior, mas no necessariam ente.

    Uma pessoa, diz o sr. De Quincey,8 compra um artigo deaplicabilidade instantnea a suas prprias finalidades com ta nt omais prontido e em tanto mais quantidades quando calhar deser mais barato. Se os len os de seda ca rem para a metade dopreo, talvez compre o triplo; mas n o comprar mais motoresa va por pelo fa to de o pr eo deles baixar. Sua dema nda ou procur ade motores a vapor quase sempre predeterminada pelas cir-cunstncias de sua situao. Na medida em que a pessoa n oconsidera sequer o custo como um todo, o que leva em conside-

    rao muito mais o custo de manufatura desse motor do queo cus to na compr a do mesmo. En tr eta nt o, h mu itos ar tigos par aos quais o mercado absoluta e simplesmente limitado por umsistema preexistente, ao qual tais artigos est o vinculados, comopartes ou membros subordinados. Haveria porventura maneira

    de forar uma venda mais abundante dos indicadores ou mos-tradores de relgios, s porque essas peas especficas baixaramde preo, con tinuan do-se a vender peas int ernas em menor quan -tidade? Seria possvel aumentar a venda de adegas para vinhosem aumentar a venda de vinho? Ou ent o, seria porventura

    possvel comercializar ma is ferra ment as par a const ru tores de na -vios estando a construo naval estacion ria? (...) Oferea-se auma cidade de 3 mil habitantes um estoque de carros fnebres,e se ver que nem os preos m ais baixos t ent ar o essa cidade acomprar mais do que um. Oferea-se um estoque de iates, cujocusto principal est em tripul -los, abastec-los de alimentos erepar -los, e se ver que a simples diminu io do preo de compr ano tentar ningum a comprar efetivamente o produto a no

    ser que se tr at e de pessoa cujos hbitos e pr openses j o tinha man teriorm ent e induzido a fazer t al aqu isio. Assim acontece tam-bm com a indument ria profissional para bispos, advogados,estudantes de Oxford.

    No entanto, ningum duvida de que o preo e o valor de todas essas

    OS ECONOMISTAS

    28

    8 Logic of Political E conom y. p. 230-231.

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    29/559

    coisas event ua lment e baixar iam em decorr ncia de a lgum a diminu iode seu custo de produo, e baixariam devido ao medo que se tem denovos concorrentes, e de um aumento da oferta, se bem que o grande

    risco ao qual um novo concorrente se exporia, em se tratando de um

    ar tigo no suscet vel de ter um aumento considervel de seu mercado,possibilita sse aos comer cian tes est abelecidos man ter em seu s pr eos or i-gina is por m uit o ma is tempo do que o poderiam fazer, caso se tr at asse

    de um artigo que oferecesse mais est mulo concorrncia.Invert am os a gora o caso, e suponha mos que o custo de produo

    aumente, como, por exemplo, pela imposio de um tributo sobre amercadoria. O valor aumentaria, e provavelmente, de imediato. Dimi-

    nu iria a ofert a? Somen te se o aumen to do valor fizesse com que d imi-

    nu sse a procura. Apareceria logo se esse efeito seguiria ou n o; nocaso positivo, o valor diminuiria um pouco, devido ao excesso de oferta,a t que se redu zisse a pr oduo, quan do ent o au menta ria novament e.H mu itos a rt igos nos qua is se requer u m au ment o bem considervelde preo para reduzir substancialmente a procura: em particular, ar-tigos de primeira necessidade, tais como o alimento habitual do povo

    na Inglaterra, o po de trigo; provavelmente, ao atual preo de custo,se consome mais ou menos tanto po de trigo quanto se consumiria

    se o preo fosse cons ideravelment e ma is baixo, manten do-se ina ltera daa populao atual. No entanto, sobretudo em tais coisas que o preobaixo ou alto popularmente confundido com escassez. O alimentopode subir de preo por efeito de escassez, como depois de uma m colheita; contudo, o preo alto (por exemplo) que efeito da taxao,ou de leis do trigo, nada tem a ver, absolutamente, com a oferta in-

    suficiente; tais causas n o fazem diminuir mu ito a qua nt idade de ali-mento em um pa s; so outras coisas, mais do que os alimentos, quetm sua quantidade reduzida por tais causas, j que, pelo fato deaqueles que pagam mais pelo alimento n o terem tanto para gastarde outra forma, a produ o de outras coisas se restringe aos limitesde uma procura menor.

    , pois, estritamente correto dizer que o valor de coisas cujaquantidade no se pode aumentar vontade no depende (a no seracidentalmente, e durante o tempo necess rio para a produo ajus-tar-se) da procura e da oferta; pelo contr r io a procura e a ofertaque dependem do valor. Existe uma procur a de determ inada qua nt idade

    da mercadoria ao seu valor natural ou de custo, sendo a ela que a

    ofert a pr ocur a a jus ta r-se a longo prazo. Qua ndo em qua lquer moment o

    a oferta no consegue ajustar-se a essa procura, isso ocorre ou porefeito de c lculos malfeitos, ou por efeito de uma mudan a ocorridaem alguns dos elementos do problema: ou no valor natural isto ,no cust o de pr odu o , ou na procur a, devido a um a altera o havidano gosto do pblico, ou no nmero ou na riqueza dos consumidores.Tais cau sas pertu rbadoras tm m uita pr obabilidade de ocorr er, e qua n-

    STUART MILL

    29

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    30/559

    do ocorre efetivamente alguma delas, o valor de mercado do artigo

    deixa de coincidir com o valor natural. Continua de p a lei real daprocura e da oferta, a equaliza o ou equilbrio entre as duas: se fornecess rio um valor diferent e do valor n at ur al par a igualar a procur a

    oferta, o valor de mercado ser diferente do valor natural, mas so-mente por algum tempo, j que a tendncia permanente da oferta ajustar-se procura que, por experincia, se constata existir para amercadoria, quando vendida por seu valor natural. Se a oferta for ou

    superior ou inferior a essa procura, isso ocorre acidentalmente, pro-

    porcionando uma taxa de lucro ou superior ou inferior normal isso, porm, no poder continuar por muito tempo em regime de con-corrncia livre e intensa.

    guisa de recapitulao: a procura e a oferta comandam o valorde todas as coisas cuja quantidade no comporta aumento indefinido salvagua rda do o princpio de que, mesmo pa ra essa s coisas , se foremproduzidas com t ra balho, h um valor m nimo, determ ina do pelo custode produo. Ao contr rio, em todas as coisas cuja quantidade podeser aumentada indefinidamente a procura e a oferta determinam ape-

    nas as perturbaes do valor, durante um per odo de tempo que n opode superar a durao do tempo necess rio para alterar a oferta.Embora, nesse caso, a procura e a oferta regulem dessa forma as os-

    cilaes do valor, elas mesmas obedecem a uma for a superior, quefaz com que o valor tenda em direo ao custo de produo foraesta que manteria esse valor igual ao custo de produo, se continua-mente no surgissem novas influncias perturbadoras para fazer ovalor desviar novam ent e do custo de produo. Para prosseguirmos namesma met fora , a procur a e a oferta sempre buscam a vidam ente u mequilbrio; mas a condio de equilbrio estvel ocorre efetivamentequando as coisas so trocadas umas pelas outras com base em seucusto de produo, ou, na expresso que temos utilizado, quando ovalor das coisas o seu valor natural.

    OS ECONOMISTAS

    30

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    31/559

    CAP TULO IV

    An l ise l t ima do Custo de Produ o

    1. Os elemen tos qu e compem o cust o de pr odu o fora m a pre-sentados n a primeira part e desta pesquisa.9 Constatamos que o prin-

    cipal deles, e to primordial a ponto de ser praticamente o nico, amo-de-obra. O que a produo de uma coisa custa a seu produtor, ou sua srie de produtores, a mo-de-obra despendida em produzi-la.Se considerarmos como produtor o capitalista que efetua os adianta-

    mentos, a palavra mo-de-obra est em lugar da palavra sal rios o que o produto lhe custa so os sal rios que ele tem de pagar. Semdvida, primeira vista isso parece ser apenas uma parte de seugasto, pois ele n o somente pagou sal rios aos trabalhadores, masainda lhes forneceu ferramentas, mat rias-primas e talvez tambmconstrues. Mas acontece que essas ferramentas, mat rias-primas econstrues fora m produzidas por mo-de-obra e capit a l, e o valor deles,como o do artigo para cuja produ o servem, depende do custo deproduo, que por sua vez pode ser decomposto em mo-de-obra. Ocusto de produo de tecido fino de l preta no consiste totalmentenos sal rios dos teceles, e so apen as estes qu e o fabr ican te do tecidopaga diretamente. Consiste tambm nos sal rios de fiandeiros e car-dadores de l , e podemos dizer, dos pastores, sendo que tudo isso o

    fabricante de roupas pagou no preo do fio. Consiste tambm nos sa-l r ios de const ru tores e oleiros, que ele reembolsou n o pr eo de cont ra tode implantao de sua fbrica. Em par te consiste t am bm nos sal riosdos fabricantes das m quinas, nos dos fundidores do ferro e nos dosmineiros. E a estes se devem acrescentar os sal rios dos transporta-dores que transportaram quaisquer objetos e utens lios de produo

    31

    9 Ver v. I . Livro P r imeiro. Cap . I I, 1.

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    32/559

    ao local em que tinham de ser utilizados, e o pr prio produto ao localem que este deve ser vendido.

    Por isso, o valor das mercadorias depende principalmente (logo

    veremos se depende somente disto) da qua nt idade de tr abalho requerida

    para sua produo, incluindo no conceito de produo o do transporteao mercado.

    Ao calcularmos, diz Ricardo,10 o valor de troca de meias, porexemplo, constat ar emos que seu valor, em compa ra o com out ra scoisas, depende da quantidade total de trabalho necess rio par amanufatur -las e comercializ -las. Primeiro, h o trabalho ne-cess rio para lavrar a terra na qual se cultiva o algodo bruto;segundo, o trabalho de levar o algodo ao local em que as meiassero manufaturadas, o que inclui parte do trabalho feito paraconst ru ir o navio no qua l o algodo tr an sport ado, e que cobradono frete das mercadorias; terceiro, o trabalho do fiandeiro e do

    tecelo; quarto, parte do trabalho do engenheiro, do ferreiro edo carpinteiro, que levantaram as constru es e instalaram asmquinas com as quais se fazem as meias; quinto, o trabalho dovarejista e de muitos outros, que suprfluo detalhar mais. Asoma conjun ta desses v rios tipos de tra balho determina a quan -tidade de outras coisas pelas quais essas meias podem ser tro-

    cada s, enqu an to o mesmo preo de v rias quan tidades de trabalhoexecut ada s nessa s out ra s coisas determina r igua lmente a porodelas que ser dada em troca pelas meias. Para convencer-nos de que esse o fundamento real do valorde tr oca, suponh am os que se faa a lgum aperfeioam ent o no sen-t ido de economizar mo-de-obra , em qu alquer um dos v r ios pr o-cessos pelos quais o algodo bru to deve passa r a nt es de as m eiasmanufaturadas serem levadas ao mercado para serem trocadaspor outras coisas, e observemos os efeitos que seguiro. Se paracultivar o algodo bruto se precisasse de menos pessoas, ou sena na vegao se precisasse de men os m ar inheiros, ou men os cons -trutores para construir o navio em que o algodo chegasse atns, se menos pessoas tivessem sido empregadas em levantar asconstrues e as mquina s, ou ento se estas, um a vez inst alada s,fossem mais eficientes, as meias inevitavelmente baixariam de

    valor e equivaleriam a uma quantidade menor de outras coisas.Baixaria m de valor porqu e seria n ecess ria uma qua nt idade me-nor de mo-de-obra para sua produo, e por isso poderiam sertrocadas por uma quantidade menor daquelas coisas nas quais

    no se tivesse reduzido mo-de-obra."A economia na utilizao da mo-de-obra nunca deixa de re-

    OS ECONOMISTAS

    32

    10 Principles of Political Economy and Taxation . Cap. I, seo 3.

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    33/559

    duzir o valor relat ivo de um a mer cadoria , quer a economia ocorr a

    na mo-de-obra necess r ia para manufaturar a pr pria merca-doria, quer se faa na mo-de-obra necess ria para a forma odo capital por meio do qual ela produzida. Nos dois casos, o

    preo das meias cairia, seja porque foram empregadas menospessoas na fun o de descorador, fiandeiro e tecelo, pessoas di-retamente necess rias para a manufatura delas, seja porque seempregaram menos pessoas na funo de marinheiro, transpor-tador, engenheiro e ferreiro, pessoas envolvidas de forma mais

    indireta na ma nu fat ur a das meias. No primeiro caso, toda a eco-

    nomia de mo-de-obra recairia sobre as meias, pois essa parteda mo-de-obra se limitou exclusivam ente s m eias ; no segundo,

    soment e uma par te recairia nas m eias, pois o resta nt e aplicadoa t odas a quelas mercadorias pa ra a pr oduo das qu ais servira mas construes, as mquinas e o transporte."

    2. O leitor deve ter observado que Ricardo se exprime como sea quantidade de mo-de-obra necess ria par a pr oduzir uma mercadoriae comercializ -la fosse a nica coisa de qu e depende o valor da mesm a.Mas j que o cust o de pr oduo pa ra o cap ita list a n o a mo-de-obra,mas os sal rios, e j que os sal rios podem ser maiores ou menores,sendo igual o contingente de m o-de-obra, pareceria que o valor doprodut o no pode ser determ inado unicam ent e pela qua nt idade de mo-de-obra, ma s pela qua nt idade de mo-de-obra jun to com a rem un era o,e que os valores em parte devem depender dos sal rios.

    A fim de decidir esse ponto, tem-se de considerar que o valor um termo relativo que o valor de uma mercadoria n o uma de-nominao para designar uma qualidade inerente e real da prpriacoisa, mas significa a quantidade de outras coisas que se pode obter

    em troca dessa mercadoria. O valor de uma coisa sempre deve ser

    entendido em relao a algum a out ra coisa, ou a coisas em gera l. Ora ,a relao de uma coisa com outr a no pode ser alterada por nenhumacau sa que afete a a mbas da mesma form a. Um au ment o ou diminu iodos sal rios gerais um fato que afeta da mesma forma todas asmercadorias, e por isso tal fato no constitui razo para que mude aproporo de valor entre essas mercadorias. Supor que sal rios altosacarretem valores altos o mesmo que supor que possa haver valoresaltos de modo geral. Ora, isso uma contradio de termos: o altovalor de algumas coisas sin nimo de valor baixo de outras. O erroprovm de no se aten ta r pa ra os valores, mas soment e para os preos.Embora no exist a o que se cha ma de au men to gera l de valores, existeum au mento geral de preos. No moment o em qu e tivermos um a idiaclar a do conceito de valores, perceberemos que sa l r ios a ltos ou ba ixosno podem t er n ada a ver com eles; e no ent an to um a opinio popula re muito difundida que sal rios altos acarretam preos altos. Somente

    STUART MILL

    33

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    34/559

    quando chegarmos teoria do dinheiro ser possvel enxergar plena-mente todo o erro envolvido nessa proposio no momento, bastanos dizer que, se ela for verdadeira, n o pode haver o que se chamade aumento real de sal rios, pois, se os sal rios no pudessem subir

    sem um aumento proporcional do preo de tudo, no poderiam emabsoluto aumentar, para qualquer finalidade significativa. Isso certa-mente uma suficiente reductio ad absurdum , e mostra a impressio-nante insensatez das proposies que podem transformar-se e setransformam realmente em doutrinas acreditadas de economia po-ltica popular, mantendo-se como tais por muito tempo. Importa re-cordar outrossim que preos a ltos gerais, mesmo na suposio de exis-tirem, no podem ter utilidade alguma para um produtor ou comer-

    ciante, considerados como tais, pois, se aumentarem seus retornos emdinheiro, au ment am no mesmo grau todas as sua s despesas. No existemaneira de os capitalistas se compensarem pelo alto custo da m o-de-obra a gindo sobre os valores ou preos. No h possibilida de de impedirque o alto custo da m o-de-obra tenha seus efeitos na reduo doslucros. Se os trabalhadores realmente recebem mais, isto , recebema produo de ma is tra balho, para o lucro tem de sobrar um a percen-tagem menor. No h como escapar dessa lei da distribuio, pois ela

    se baseia em uma lei aritm tica. O mecanismo da troca e do preopode esconder essa lei aos n ossos olhos, mas impoten te para a lter -la.

    3. Embora, porm, os sal rios em geral sejam eles altos oubaixos no afetem os valores, se os sal rios forem mais altos emuma ocupao do que em outra, ou se subirem e ca rem permanente-mente em uma ocupao, sem que isso ocorra em outras, essas desi-gualdades atuam realmente sobre os valores. As causas que fazem os

    sa l rios variarem de um emprego para outro j foram consideradasem captulo anterior. Quando os sal rios de uma ocupao superamperman entemente a taxa m dia, o valor da coisa produzida superar ,no mesmo grau, o padro determinado pela simples quantidade demo-de-obra. Por exemplo, coisas fabricadas por m o-de-obra qualifi-cada so trocadas pelo produto de uma quantidade muito maior demo-de-obra no qualificada isso un icam ent e porque a mo-de-obrano pr imeiro caso ma is bem pa ga. Se, am plian do a edu cao, o nmerode trabalhadores qualificados aumentasse ao ponto de diminuir a di-

    ferena entr e seus sal r ios e os da mo-de-obra comum, t oda s a s coisasproduzidas por mo-de-obra qualificada baixariam de valor, compara-das com coisas produzidas por mo-de-obra comum, e portanto se po-deria dizer que estas ltimas aumentariam de valor. Observamos an-ter iorm ent e que a dificu ldade de passa r de uma cat egoria de ocupaespara uma categoria muito superior at agora tem feito com que ossa l rios de todas as categorias de trabalhadores que est o separadasentre si por alguma barreira muito marcante dependam, mais do que

    OS ECONOMISTAS

    34

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    35/559

    se poderia supor, do aumento da popula o de cada categoria consi-derada em separado, e que as desigualdades na remunera o da mo-de-obra so muito maiores do que as que poderiam existir, caso seconseguisse fazer com que a concorr ncia da populao trabalhadora

    em geral influ sse de maneira pr tica em cada ocupa o especfica.Disso segue que os sal rios em ocupaes diferentes no sobem oudescem simultaneamente, seno que so quase independentes entresi, por curto tempo e s vezes at por longos per odos. Todas essasdisparidades evidentemente alteram os custos relativos de produode mercadorias diferentes, e portanto estar o bem presentes no valornatural ou mdio dessas mercadorias.

    V-se, portanto, que a mxima estabelecida por alguns dos me-

    lhores economistas polticos, de que os sal rios no entram no valor, expressa com latitude maior do que o garantido pela verdade, oumaior do que aquilo que eles mesmos pretendem afirmar. Os sal riosrealmente entram no valor. Os salrios relativos da mo-de-obra ne-cess ria par a produzir mer cadorias diferent es afeta m o valor das mes-mas, tan to quan to as quantidades relativas de mo-de-obra. verdadeque os sal rios absolutos pagos no tm efeito sobre os valores; masnem a quantidade absoluta de mo-de-obra tem tal efeito. Se esta

    variasse simu ltan eamen te e de ma neira igual em todas a s mercadorias,os valores no seriam afetados. Se, por exemplo, se aumentasse a efi-cincia geral de toda a m o-de-obra, de sorte que todas as coisas, semexceo, pudessem ser produzidas na mesma quantidade que antes,mas com um contingente menor de mo-de-obra, nos valores das mer-cadorias no apareceria vest gio algum dessa reduo geral do custode produo. Qualquer mudana que pudesse ocorrer nelas represen-ta ria a pena s os grau s desiguais em que o apr imora ment o afeta ria coisas

    diferentes, e consistiria em baratear aquelas mercadorias em que a

    economia de mo-de-obra tivesse atingido o m ximo, ao passo que au -mentariam efetivamente de valor aquelas nas quais tivesse havido,

    sim, alguma economia de m o-de-obra, mas menor. A rigor, portanto,os sa l rios da mo-de-obra tm t an to a ver com o valor qu an to a qua n-tidade de mo-de-obra; e nem Ricardo nem ningu m mais negou essefato. Ao considerarmos, porm, as causas das variaes de valor, aquantidade de mo-de-obra a coisa mais importante, pois quandoesta varia, isso ocorre geralmente em uma nica mercadoria ou emalgumas delas ao mesmo tempo, enquanto as varia es de sal rios(excetu adas a s flut ua es passa geira s) costuma m ser gera is, no ten doefeito considervel sobre o valor.

    4. Isso quanto mo-de-obra, ou aos sal rios, como um doselement os que determ inam o cust o da pr oduo. Entr etant o, na a n liseque fizemos no Livro Primeiro, dos requisitos da produo, vimos queh outro elemento que o compe, a lm da mo-de-obra. Existe tambm

    STUART MILL

    35

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    36/559

    o capital; e por ser este o resultado da absteno, a produo, ou seja,seu valor, deve ser suficiente para remunerar n o somente toda amo-de-obra requerida, mas tambm a absteno de todas as pessoasque adiantaram a remunerao das diversas categorias de trabalha-

    dores. O retorno da absteno do capitalista o lucro. E o lucro, comoj vimos, no exclusivamente o que sobra ao capitalista depois delhe serem compensados os gastos que teve, seno que constitui, namaioria dos casos, uma parte n o pouco importante do prprio gasto.O fiandeiro de linho, cujas despesas consistem em parte na compra

    do linho e das mquinas, teve que pagar, no preo do linho e dasmquina s, no somen te os sa l rios da mo-de-obra que cultivou o linhoe fez as mquinas, mas ta mbm os lucros do cultivador , do pr epa ra dor,

    do mineiro, do fundidor de ferro e do fabricante de m quinas. Por suavez, todos esses lucros, juntamente com os do pr pr io fian deiro, foramadiantados pelo tecelo, no preo do material que processa, o fio delinho, e juntamente com isso tambm os lucros de uma nova srie defabricantes de mquinas, e dos mineiros e oper rios met al rgicos quelhes forn eceram sua ma tria-prima met lica. Todos esses a dian ta men -tos constit uem pa rt e do custo de produo do tecido de linho. Por isso,os lucros, tanto quanto os sal rios, fazem parte do custo de produo

    que determina o valor do produto.Todavia, o valor, por ser pu ra men te r elat ivo, no pode dependerdo lucro absoluto da mesma forma como no pode depender dossa l rios absolutos mas apenas dos lucros relativos. Lucros geraisaltos no podem, tanto como no o podem sal rios gerais altos, seruma causa de valores altos, pois valores gerais altos so um absurdoe uma contradio. Na medida em que os lucros entram no custo deproduo de todas as coisas indistintamente, no podem afeta r o valorde nenh um a delas. Os lucros s podem exercer algum a influncia sobreo valor se entrarem em grau maior no custo de produ o de algumascoisas do que no de outras.

    Por exemplo, constatamos haver causas que fazem com que seja

    necess ria uma taxa permanentemente mais alta de lucro em certasocupaes do que em outras. Deve haver uma compensa o pelo riscoe pelo trabalho maior, e pela natureza mais desagrad vel. Isso s possvel vendendo-se a mer cadoria a um valor acima do devido quan-tidade de mo-de-obra necess ria para su a produo. Se a plvora nopudesse ser trocada por outras coisas a uma razo ou taxa superior da mo-de-obra exigida, desde o in cio at o fim, para produzi-la,ningum instalaria uma f br ica de plvora. Os aougueiros certa ment econst ituem um a cat egoria m ais prspera que os padeiros, e no par ecemestar expostos a riscos maiores, pois no se nota que entrem com maisfreqncia em falncia. Parecem, pois, obter lucros maiores, o que spode provir do fato de ser mais restrita a concorr ncia gerada pelanatureza desagradvel da profisso, e, at certo ponto, pela impopu-

    OS ECONOMISTAS

    36

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    37/559

    laridade de sua ocupao. Ora, esse lucro ma ior implica venderem suamercadoria a um valor mais alto que o devido a sua mo-de-obra e aseu gasto. Todas as desigualdades de lucro que so necess rias e per-manentes esto representadas nos valores relativos das mercadorias.

    5. No entanto, os lucros podem entrar em maior escala nascondies de produo de um a m ercadoria do que na s de out ra , mesmoque no haja diferena na taxa de lucro das duas ocupa es. Umamercadoria pode ter de dar lucro durante um per odo de tempo maislongo que a outra. O exemplo que costuma ilustrar esse caso o dovinho. Suponhamos uma quantidade de vinho e uma quantidade de

    tecido feitas por qua nt ita tivos igua is de mo-de-obra, sendo essa mo-

    de-obra paga mesma taxa salarial. O tecido no melhora pelo fatode ser conservado, ao passo que com o vinho isso acontece. Suponham osque o vinh o, para at ingir a qua lidade desejada , tenha de ser gua rda do

    por cinco anos. O produtor ou comerciante n o o guardar se, ao fimdos cinco anos, no conseguir vend-lo por tanto mais do que o tecidoqua nt o represen ta o lucro de cinco an os a cumu lados a jur os compostos.

    O vinho e o tecido foram fabricados com o mesmo gasto original. Aqui

    tem os, pois, um caso em que os valores n at ur ais, de duas mer cadoria s,

    em relao um ao outro, no so regulados apenas pelo seu custo deproduo, mas pelo seu custo de produ o mais alguma coisa a noser que, em virtude da generalidade da expresso, incluamos o lucroque o comerciante de vinhos deixa de ter durante os cinco anos no

    custo de produo do vinho, considerando isso como uma espcie degasto adicional, alm dos outros adiantamentos que fez, gasto estepelo qual, ao final, tem de ser indenizado.

    Todas as mercadorias fabricadas com mquinas assemelham-se,ao menos aproximadamente, ao vinho do exemplo anterior. Em com-

    parao com coisas feitas int eira men te por m o-de-obra d iret a , os lucrosent ra m em m aior escala n o cus to de produo delas. Suponha mos du asmer cadorias, A e B, cada um a delas exigindo um an o pa ra sua pr oduo,mediant e um capita l que, nest a ocasio, designaremos como dinheiro,supondo ser este de 1 000 libras. A mercadoria A feita inteiramentepor mo-de-obra direta , sendo o tota l de 1 000 libras gast o direta men teem sal rios. A mer cadoria B feita por mo-de-obra hu ma na , cust an do500 libras, e uma mquina custando 500 libras, sendo que a m quinase desgasta com o uso de um ano. As duas mercadorias ter o exata-mente o mesmo valor o qual, se computado em dinheiro, e se oslucros forem de 20% ao ano, ser de 1 200 libras. Ora, dessas 1 200libras, no caso de A, somen te 200 ou seja , 1/6 so lucros, enquan tono caso da mer cadoria B h no somen te a s 200 libras , ma s 500 libras(o preo da mquina), que consistem nos lucros do fabricante da m -quina o que, se supusermos que tambm a produo da mquinalevou um ano, tambm representa 1/6. Assim sendo, no caso da mer-

    STUART MILL

    37

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    38/559

    cadoria A, apenas 1/6 do retorno total lucro, ao passo que na B ocomponente lucro compreende no somente 1/6 do total, mas ainda1/6 adicional de uma grande parte.

    Quanto maior for a percentagem do capital total consistente em

    mquinas, ou em construes, ou em m at eriais, ou em qua lquer out racoisa que se tem de fornecer antes de a m o-de-obra direta comeara operar, tanto maior a escala em que os lucros entrar o no custo deproduo. igua lmente verdadeiro embora no t o bvio primeiravista que maior durabilidade da poro de capital consistente emmquinas ou construes tem exatamente o mesmo efeito que umaquantia maior de capital. Assim como h pouco supusemos um casoextremo, de uma mquina inteiramente desgastada com um ano de

    uso, suponhamos agora o caso oposto e ainda mais extremo de umamquina que dur e para sempre, e que no exija consertos. Nesse caso,que to adequado par a fins ilust ra t ivos como se fosse u m caso possvel, suprfluo que o fabr ican te seja inden izado pelas 500 libras qu e pa goupela mquina, pois ele sempr e possu i a pr pria mquina, que vale 500libras; no entanto, tem direito a um lucro sobre a m quina, como an-teriormente. Por conseguinte, a mercadoria B, que no caso anterior

    supostamente foi vendida por 1 200 libras sendo que, desta soma,

    1 000 eram para repor o capital, e 200 representavam lucro agorapode ser vendida por 700, das quais 500 so para repor sal rios, e200 representam lucro sobre o capital total. O lucro, portanto, entra

    no valor de B razo de 200 libras para 700 libras representando 2/7do tota l, ou seja, 28 4/7%, ao passo que no caso da mercadoria A, como

    an tes, ele ent ra a penas na r azo de 1/6, ou seja , 16 2/3%. Nat uralm ente,o caso meramente ideal, pois no h mquina ou qualquer outrocapital fixo que dure para sempre; mas quanto mais dur vel for amquina, tanto mais ela se aproximar desse caso ideal, e em escalata nt o maior o lucro far part e do retorno. Se, por exemplo, uma mquinavalendo 500 libra s perder 1/5 de seu valor em cada an o de uso, tem-se

    que acrescent ar 100 libra s a o retorno para compensa r essa perda , e o

    preo da mer cadoria ser de 800 libras . Port an to, o lucro entr ar nessepreo razo de 200 para 800 libras, isto , 1/4, o que ainda umapercentagem muito superior a 1/6, isto , 200 para 1 200 libras, comono caso da mercadoria A.

    Da desigualdade de percentagem em que, em ocupa es diferen-tes, os lucros entram nos adiantamentos feitos pelo capitalista, e por-

    tanto nos retornos exigidos por ele, seguem duas conseqncias comrelao ao valor. Uma delas que o valor das mercadorias na trocano est somente em funo da quantidade de m o-de-obra exigidapara produzi-las nem mesmo se deixarmos margem para as taxasdesiguais s qua is so perma nent ement e remun erados tipos diferent esde mo-de-obra. J ilustramos isso com o exemplo do vinho, e agorao exemplificaremos mais com o caso de mercadorias fabricadas com

    OS ECONOMISTAS

    38

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    39/559

    mquinas . Suponham os, como an tes, um ar tigo A, feito por mo-de-obradireta valendo 1 000 libras. Mas em vez de B, feito por m o-de-obradireta valendo 500 libras e por uma m quina valendo 500 libras, su-ponhamos C, feito por mo-de-obra direta no valor de 500 libras, com

    o auxlio de uma mquina que foi produzida por outra m o-de-obradireta valendo outras 500 libras, sendo que a mquina leva um anopara ser fabricada e desgasta-se com um ano de uso; os lucros s o,como antes, de 20%. Os a rt igos A e C so feitos por qua nt idades igua isde mo-de-obra , pa ga mesm a t axa : o ar tigo A custa, em mo-de-obradireta, 1 000 libras, e o artigo C somente 500 libras de m o-de-obradireta, mas que chegam a 1 000 libras, devido mo-de-obra gastana construo da mquina. Se a mo-de-obra, ou sua remunerao,

    fosse o nico componente do cust o de produo, esses dois ar t igos teria mo mesm o valor de tr oca ent re si. Mas ser realment e assim? Cert ament eno. Tendo a fabrica o da mquina levado um ano, com um gasto de500 libras e sendo os lucros 20%, o preo natural da mquina de600 libras, representando um adicional de 100 libras, que t m de seradiantadas pelo fabricante do artigo C, alm de todas as suas outrasdespesas, e tm de ser compensadas com um lucro de 20%. Eis porque o artigo A ser vendido por 1 200 libras e o artigo C no poder

    ser permanentemente vendido por menos de 1 320 libras.A segunda conseqncia que t odo aum ent o ou queda dos lucrosem geral tem efeito sobre os valores. No, certamente, por faz-losaumentar ou diminuir em geral (o que, como dissemos tantas vezes,

    uma cont radio e um a impossibilidade), mas a ltera ndo a proporoem que os valores das coisas so afetados pelas diferenas de per odosde tempo dura nt e os qua is o lucro devido. Quando du as coisas , emboramanufaturadas por quantidade igual de m o-de-obra, tm valor desi-gual pelo fat o de um a delas dever da r lucro dur an te u m per odo maislongo de anos ou meses, essa diferena de valor ser maior quando oslucros so maiores, e ser menor quando os lucros so menores. Ovinho, que tem de dar lucro de cinco anos mais que o tecido, ultra-

    passar o valor deste ltimo de m uito ma is, se os lucros forem de 40%,do que se forem de apenas 20%. As mercadorias A e C, as quais,

    embora feitas por qua nt ita tivos iguais de mo-de-obra , foram vendida spor 1 200 e 1 320 libras respectivamente uma diferena de 10% ter iam s ido vendidas por 1 100 e 1 155 libra s respectivam ent e umadiferena de apenas 5% se os lucros tivessem sido apena s a m eta de.

    Infere-se disso que mesm o um a umen to gera l de sal rios, quan doenvolve um au men to real no custo da m o-de-obra, influencia em cert ograu os valores. No os afeta da maneira popularmente suposta, ele-vando-os universalmente. Mas um aumento do custo da mo-de-obrafaz os lucros baixarem, e por isso faz baixar o valor natural das coisas

    nas quais os lucros entram em uma propor o superior mdia, eeleva o valor natural das coisas nas quais os lucros entram em uma

    STUART MILL

    39

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    40/559

    proporo inferior mdia. Todas as mercadorias em cuja produoas mquina s ent ra m em gran de escala, sobretu do se estas forem mu itodurveis, sofrem baixa em seu valor relativo quando os lucros caem ou, o que equivalente, out ra s coisas pa ssam a ter valor ma ior em

    relao a elas. Essa verda de por vezes expressa com u ma linguagemque mais plausvel do que correta, isto , dizendo que um aumentode sal rio faz subir o valor de coisas feitas por m o-de-obra, em com-parao com aquelas fabr icadas com mquina s. Acontece que as coisasfabr icadas com m quinas , como qua isquer out ra s coisas, so feitas pormo-de-obra, isto , a mo-de-obra que fabrica as pr prias mquinas;a nica diferena que os lucros entram em escala um pouco maiorna produo de coisas em que se utilizam m quinas, se bem que o

    item pr incipal de despesas cont inue a ser mo-de-obra. , pois, melhoratribuir esse efeito queda dos lucros do que elevao dos sal rios,sobret udo porqu e essa ltima expresso extremamente ambgua, su-gerindo a idia de um aumento da remunerao real do trabalhador,em vez da de um aumento da nica coisa que aqui interessa, a saber,o custo da mo-de-obra para o empregador da mesma.

    6. Alm dos elementos naturais e necess rios que entram no

    custo de produo a mo-de-obra e os lucros h outros que soartificiais e casuais, como, por exemplo, um imposto. A taxa sobre omalte faz parte do custo de produ o desse artigo, tanto quanto ossa l rios dos trabalhadores. As despesas que a lei impe, bem comoaquelas impostas pela natureza das coisas, t m de ser reembolsadascom o lucro normal que sai do valor do produto, caso contr rio no secontinuar a pr oduzir t ais a rt igos. Mas a influncia da tributa o sobreo valor est sujeita s mesmas condies que a influncia dos sal riose dos lucros. No a taxao geral, mas a taxao diferenciada queproduz esse efeito. Se todos os produtos fossem taxados de maneira a

    retirar uma percentagem igual de todos os lucros, os valores relativos

    das mercadorias no sofreriam alterao. Se somente se taxassem al-gumas mercadorias, o valor delas aumentaria, e caso se deixasse de

    ta xar apena s a lgum as, o valor delas baixar ia. Se a m etade delas fosse

    taxada e o resto no o fosse, o valor da primeira metade subiria emrelao ao da segunda metade, e o valor da segunda metade baixariaem relao ao da primeira. Isso seria necess rio a fim de igualar aexpectativa de lucro em todas as ocupaes, sem o que as ocupaes ouempregos taxados seriam ao final se no imediatamente abando-nados. Mas a taxao geral, quando imposta igualmente a todas as mer-cadorias, e quando no perturba as relaes recprocas existentes entreos diversos produtos, no pode produzir efeito algum sobre os valores.

    At aqu i supu semos que todos os objetos e ut ens lios que en tr amno custo de produo das mercadorias so coisas cujo valor dependede seu prprio custo de produo. Contudo, algumas delas podem per-

    OS ECONOMISTAS

    40

  • 8/2/2019 John Stuart Mill - Princpios de Economia Poltica - Vol II

    41/559

    tencer quela categoria de coisas cuja quantidade no pode ser au-mentada vontade, e que, portanto, determina um valor de escassez,se a procura ultrapassar determinado montante. As matrias-primasde muitos dos artigos de ornamenta o manufaturados na It lia so

    as substncias denomina das rosso (vermelho), giallo (amarelo) e verdeantico, as quais, como se afirma ignoro se com razo ou no ,provm exclusivamente da destruio de colunas antigas e de outrasestrut ur as orn ament ais, um a vez que esto esgota das a s pedreiras da squais originalmente se cortava esta pedra, ou ent o se esqueceu sualocalizao.11 Um material de tal natureza, se for objeto de grandeprocura, necessariamente ter um valor de escassez; ora, esse valorentra no custo de produo, e conseqentemente no valor do artigo

    acabado. Parece aproximar-se o tempo em que as peles mais valiosastambm estaro sob a influncia de um valor de escassez do material.At agora, o nmero decrescente dos animais que produzem tais peles,nas florestas da Sibria e nas costas do mar dos Esquims, tem influ dosobre o valor somente por meio da mo-de-obra maior que se tornounecessria para assegurar determinada quan tidade do ar tigo, j que, semdvida, empregando-se muita mo-de-obra, talvez se poderia ainda con-tinuar a conseguir o artigo em maior abundncia, por m ais a lgum tempo.

    Entretanto, o caso em que o valor de escassez opera mais quetudo no sentido de aumentar o custo de produ o o de agentes na-tu ra is. En quan to no se tornarem posse de ningu m, e enqua nt o parautiliz -los basta apanh -los, no entram no custo de produo, a noser na m edida da m o-de-obra que pode ser necess r ia para prepar -lospara o uso. Mesmo quando so posse de algum, no possuem valor(como j vimos) pelo simples fato de sua apropria o, mas somenteem virtu de da escassez, isto , da limitao da ofert a . Mas igualmente

    certo que os agentes naturais muitas vezes t m valor de escassez.Suponhamos uma queda-dgua, em uma localidade em que a neces-sidade de moinhos maior do que a for a hidrulica necess r ia paraacion -los. O uso da queda-dgua ter ento um valor de escassez,suficient e ou par a fazer a deman da baixar ao nvel da oferta, ou parapagar a criao de uma ener gia ar t ificial, a vapor ou ou t ra , de eficinciaigual da fora hidrulica.

    Se um agente natural for propriedade perptu a de a lgum, e se

    tal agente for utilizvel apenas para produtos resultantes de sua uti-lizao cont inua da, a ma neira comu m de au ferir benefcio da proprie-dade do mesmo por m eio de um equivalente a nu al, pago pela pessoaque o utiliza e resultante dos rendimentos da utiliza o do mesmo.Esse equivalente sempre poderia ser denominado e geralmente ren da . Por isso, a qu esto concern ent e influncia que a apr opriao

    STUART MILL

    41

    11 Penso que