a febre que eu posso fingir (em construção)
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isaias de faria
a febre que
posso fingir
poemas
Belo Horizonte
porospoesia
2014
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SE O QUE TENHO É ISSO
Febre
Que finjo
Alvoroço
Que minto
Lúgubre
Que disfarço
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CONTO
Relevo na língua,
Estalactites
No alto da boca, dentes pungentes.
Posso tentar ser monstro,
Namorar teus
Poros dilatados
na Rua
ah, aquelas ruas, de fumaça e neon,
Que a gente adorava passar
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ciclos
vamos lá
perambular
deixar rolar o
estado das coisas
forma
roda
caminho
saliva
vamos lá
deixar os beiços pulsar
trocar de nome
machucar um pouco os pés
correndo na rua escura de pedras
afiadas pedras
mas
vamos lá
para as luzes de outdoors
bem abestalhados
de mãos dadas sem rumo sem rumo sem rumo
vamos lá
ficar de bobeira
madrugada distraída
doidos
nos dois
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pra ficar
ficar
juntos
sem rumo sem rumo sem rumo
madrugada afora
manhã afora
solstício afora
dia afora
semana afora
até que trinta e um
chegue e possamos
pensar na conta de luz
iptu padaria
vamos lá
restante não há
restante desapareceu
no lugar que foi
no lugar que fomos
fomos sim
fomos inconstantes
terrivelmente iguais
e deixemos tudo
para que outros digam e se
repitam:
vamos lá
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Pré-história de teu humor invertido
Troca de refrão
Traje pequeno
Poupa de açaí
Requinte de crueldade
Porque não posso
Te tocar nem um
minutinho sequer?
Você não deixa
Você toda desnaturada
Comigo
Resta-me então
Passar pro outro lado
Pro lado do congelador
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É o quê?
Café com perfume
Pelos pubianos
Retórica capaz
De tocar adiante
Teu
Humor
Fazê-lo ficar mais calorento
brincar
Feito bons amigos
Teremos que por
Em pratos limpos:
É amor ou perdição?
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Radamés
Radamés, o mais rude, dizia estar
Carcomido palas palavras e pelas
Pessoas ao mesmo tempo.
Exatamente porque elas eram
Insuportáveis e inseparáveis
Ao mesmo tempo.
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Verbo
Tentar criar espaços únicos
Nem sempre dá certo
Estranhar é uma sina nessa
Tentativa
E seguimos nisso,
Pensando baixo,
Coçando a cabeça
Oráculos não há
Talvez uma seta,
Uma bússola
Um caminho?
Rumo é um verbo
Bem esquisito
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Tradição
Do alto da torre da igreja
Um alto-falante avisa o fim:
Da cidadezinha partiu.
Quase todos irão à despedida do
Corpo.
Caprichosos vestidos,
Caprichosos ternos,
Bule de café meio sem açúcar
Pra significar o quanto
A vida é diversa em
Gosto.
E os convidados se perguntam:
Tudo é como aquele café no bule?
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nívea
tateio
de olhos fechados
fome
de teus
pés
veias
e
tornozelos
alvos
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síria
gás sarin
até debaixo
das unhas das moças,
moços,
senhoras, senhores,
meninas e meninos.
o relatório da
onu devia dizer:
usa
como se usasse,
uma borracha num
papel escrito a lápis
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para a foto: “casal na chuva” de german lorca
As pernas são borrões
São sombras
Passam
Evaporam
E que materialidade pensar?
Não há
São borrões
Sombras
Cinzaprataclaro
Uma cor que percorre
Contorna
As pernas borrões
As pernas sombras
Os corpos
Os dois
Que sustentam
As pernas borrões
As pernas sombras
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Beirando dos 40
Acabaram de se conhecer e Rolma pergunta:
- Está com sol lá fora?
- De vez em quando.
- Você prefere dia ou noite?
- Noite. E você?
- Noite também.
- E o que gosta de escutar na noite?
- eu gosto...humm... Franz Ferdinand eu gosto. Me faz
sentir mais jovem.
- É? Bem, eu...acho eu a Xuxa me faz sentir mais jovem.
(risos)
- Não, estou falando sério, a música do Ferdinand tem algo
de uma
leveza alegre, algo adolescente, e sabe como é né, já estou
beirando os 40.
- Até parece, baby. Quer uma ótima dica de fonte da
juventude? Pois bem: minha cama.
você vai se sentir uma mocinha de 18 na minha cama.
- Babaca.
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On the road na tela
É só passar um
road movie
Na tv
que
Eu paro
E fico querendo
Partir
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A feirante
Tomates vermelhos lustrosos
Dentro do sutiã
Roubados da feira
E o quitandeiro:
-Não fará falta,
Estão bem melhor
Onde estão
Adocicados
Puramente aconchegados
Até que alguém chegue,
E os devore
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preparada
Não posso desdesejar
Jazz & manjar
Suco de amora na
Tua barriga
Nua,
Pronta, prontinha
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Plenilúnio urbano
No meio da noite
Tem árvores verdinhas no
Outdoor iluminado
Entre prédios de 38 andares
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Letra de música
Estamos passando por um
Momento nada a ver?
A paixão vai pra rua
Dançar
Enquanto aqui
Pouca pasta de dente
Sobrou pra você
Mas meu raio que o parta ficou
E vamos indo
Esperando muito mais
Esperando muito mais
Pro dia variar
Vamos dançar
Tocar a fossa daqui
Encontrar a grande corrente marítima
Esperando muito mais
Esperando muito mais
Com hálito de peixe
Pela rua
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Pra variar
Vamos dançar
Tocar a fossa daqui
E seguir
Seguir
Esperando muito mais
Muito mais
Vamos pra rua dançar
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Despatriarcado
Monturo.
Alerta vermelho.
Não chegue perto.
Ou
Chegue
Se achegue
Se infecte.
A pátria do povo
A terrível pátria do
povo brasileiro
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Desejo
Pedra no
Sapato
Parece com
A letra
Que
Eu quero ser
![Page 24: A febre que eu posso fingir (em construção)](https://reader036.vdocuments.com.br/reader036/viewer/2022081422/55ab6d291a28abc67a8b4855/html5/thumbnails/24.jpg)
O bem e o mal aqui é igual
Aroma
entre teus Peitos
alvos
fervorosos
fazem
as horas rudes sumirem
![Page 25: A febre que eu posso fingir (em construção)](https://reader036.vdocuments.com.br/reader036/viewer/2022081422/55ab6d291a28abc67a8b4855/html5/thumbnails/25.jpg)
SANGUE & SUOR EM 2013
Pelas ruas
Podem passar
Também
bagunceiros
baderneiros
adoráveis vândalos
ali entre
pedra pau
traquéia
e
sob
o mesmo céu
pulsa
crivado de gosto e desgosto:
tiros de borracha
gás lacrimogêneo
coquetel molotov
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ENCONTRO
Menina,
Me espera na
Saída
![Page 27: A febre que eu posso fingir (em construção)](https://reader036.vdocuments.com.br/reader036/viewer/2022081422/55ab6d291a28abc67a8b4855/html5/thumbnails/27.jpg)
O FALO E A FOME
Arranca meu coro
Mulher
Se assanhe em cima de mim
Meu falo mais que
Torre de Paris
A madrugada trompete está
Aí e tenho que
Raptar o raio
Que a parta
Logo que o coito termine
Mas arranque meu couro
Rápido, mulher,
Com tua volúpia
Estou a ponto de bala de canhão,
Sabe?
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A flecha de fogo audaz
Pronta prontinha vê tua fenda
E corre come
Triangulo peludo de cabeça pra baixo
Engole tudo
![Page 29: A febre que eu posso fingir (em construção)](https://reader036.vdocuments.com.br/reader036/viewer/2022081422/55ab6d291a28abc67a8b4855/html5/thumbnails/29.jpg)
Sugue mais e mais
Os poros
Do meu céu da boca
![Page 30: A febre que eu posso fingir (em construção)](https://reader036.vdocuments.com.br/reader036/viewer/2022081422/55ab6d291a28abc67a8b4855/html5/thumbnails/30.jpg)
Tua boca
Um peixe ornamental
Num
pequeno aquário
Parece tua boca
Indecifrável
Parece uma
Sinfonia do Tchaikovsky
![Page 31: A febre que eu posso fingir (em construção)](https://reader036.vdocuments.com.br/reader036/viewer/2022081422/55ab6d291a28abc67a8b4855/html5/thumbnails/31.jpg)
Soneto do tempo presente(inacabado)
Não posso escapar de tua boca
Miraculosa e cheia de odes.
Acabo perdendo-me alí
Em algas e salivas elétricas.
Fugir pra que dessa alegria e dor?
Hemingway não fugiria, estou certo?
Da abissal bocarra em nossa direção
multicolorida multifacetada multimorte
![Page 32: A febre que eu posso fingir (em construção)](https://reader036.vdocuments.com.br/reader036/viewer/2022081422/55ab6d291a28abc67a8b4855/html5/thumbnails/32.jpg)
Batatas e sinfonia
Na cozinha, batatas cozinham.
Lá fora, uma tenra tarde chuvosa.
Na sala, calmo e fascinado,
descubro mais uma sinfonia do
Tchaikovsky
![Page 33: A febre que eu posso fingir (em construção)](https://reader036.vdocuments.com.br/reader036/viewer/2022081422/55ab6d291a28abc67a8b4855/html5/thumbnails/33.jpg)
Paideia
No escudo,
Uma imagem de pássaro
Na lança que volta,
O sangue do outro
O guerreiro grego
Segue.