a farsa da interdisciplinaridade
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O popular (Goiânia), 14 mai. 2014TRANSCRIPT
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22/5/2014 A farsa da interdisciplinaridade - Opinio - Opinio - O Popular
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PAULO HENRIQUE FARIANUNES
OPINIO13/05/2014
A farsa da interdisciplinaridade
Milton Santos (1926-2001), um dos maiores nomes da geografia no
Brasil, graduou-se em direito. Antes de se dedicar compreenso da
complicada dinmica espacial, esse pensador baiano esteve envolvido
com o sisudo mundo das leis. Alm de muitas outras honrarias e do
reconhecimento de sua obra fora do Brasil, foi laureado em 1994 com o
Prmio Vautrin Lud uma espcie de Nobel da geografia.
Outro brasileiro cuja obra reconhecida internacionalmente e, muito
possivelmente, mais estudado fora do que em sua terra natal o
mdico pernambucano Josu de Castro (1908-1973), no Brasil de hoje,
qui, um notrio annimo ou conforme o subttulo de um livro do
jornalista Vandeck Santiago um gnio silenciado. Conquanto
graduado em medicina, ele mais lembrado como cientista social,
gegrafo ou diplomata. Importante nome na histria da Organizao das
Naes Unidas para Alimentao e Agricultura (FAO), seus trabalhos
Geografia da Fome (1946) e Geopoltica da Fome (1951) parte de uma
vasta obra ainda so importantes referncias. Esse nordestino
tambm se notabilizou por ter sido indicado trs vezes ao Prmio Nobel:
de Medicina (1954) e da Paz (1963 e 1970). Mais recentemente, seu
nome voltou cena no livro-homenagem Destruio em Massa:
Geopoltica da Fome, escrito pelo socilogo suo Jean Ziegler (Cortez,
2013).
Outro mdico que tem um papel importante nas cincias humanas o
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22/5/2014 A farsa da interdisciplinaridade - Opinio - Opinio - O Popular
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lusitano Jaime Corteso (1884-1960). Seus estudos sobre o Tratado de
Madri so leitura obrigatria para todo aquele que se dispe a estudar
em profundidade a formao do territrio brasileiro. Ministrou cursos
sobre a histria da cartografia e histria da formao territorial do Brasil
no Instituto Rio Branco. Historiadores, internacionalistas, gegrafos e
cientistas sociais e polticos ainda hoje reconhecem a relevncia de
seus estudos.
As reas do conhecimento mencionadas acima tambm aplaudem outro
corpo estranho, o linguista norte-americano Noam Chomsky. Embora
originrio de outra esfera acadmica, bem possvel que esse professor
do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) seja lembrado, no
futuro, mais por sua produo bibliogrfica voltada para a poltica e as
relaes internacionais. Muitos livros desse cido crtico da poltica
externa norte-americana foram traduzidos e publicados no Brasil.
O engenheiro mecnico e aeroespacial Michael E. Porter mais uma
figura sui generis no meio acadmico. Vindo das cincias exatas, fez
seu doutorado em economia em Harvard. Professor desta universidade,
tornou-se um cone para a economia e a administrao no tocante a
questes ligadas a estratgia e competitividade.
Todas as personalidades citadas acima tm em comum uma formao
que no se limita a uma rea especfica do conhecimento e certamente
qualquer universidade brasileira gostaria de t-las em seu corpo
docente. Ser mesmo? Infelizmente o bom senso nem sempre impera
nas polticas educacionais.
Nos ltimos anos, as palavras interdisplinaridade, multidisciplinaridade e
transdisciplinaridade foram incorporadas ao discurso das instituies de
ensino superior. frequente a realizao de atividades e a elaborao
de relatrios para demonstrar ao MEC que a formao de nossos
estudantes inter-multi-trans. Entretanto, nota-se um comportamento
institucional com tendncia esquizofrenia: a interdisciplinaridade , ao
mesmo tempo, defendida e refutada. difcil determinar se isso ocorre
por culpa do MEC, das instituies educacionais ou dos prprios
professores. O engenheiro Michael Porter dificilmente preencheria os
requisitos exigidos em muitos editais para ingresso em universidades
pblicas no Brasil. E o mesmo vale para todos os grandes crebros
acima. Quase como regra, a seleo para docentes privilegia a
formao vertical (graduao, mestrado e doutorado em uma nica
rea).
Nas escolas privadas percebe-se o mesmo problema. Cita-se aqui a
PUC Gois, instituio qual o autor deste texto vinculado. Em 2013,
vrios professores no puderam participar de uma seleo interna
porque tm ttulos em reas distintas. Curiosamente, ao ingressar na
PUC goiana, a mesma exigncia no lhes foi imposta.
difcil imaginar... professor Milton Santos, lamentamos informar-lhe
mas seu currculo o impede de dar aulas no departamento de geografia,
pois sua graduao em direito. Josu de Castro impedido de
participar de uma banca avaliadora de uma tese de doutorado em
sociologia sobre o Fome Zero, ou Noam Chomsky declarado
incapacitado para avaliar uma dissertao de mestrado sobre terrorismo.
A interdisciplinaridade uma farsa? Uma palavra a constar apenas
formalmente nos planos de desenvolvimento institucional e nos projetos
pedaggicos das universidades brasileiras? Talvez no seja coerente
apontar uma concluso sem fazer uma anlise mais acurada da prxis
adotada em todo o Pas, mas o leitor envolvido no meio educacional
(professor, pesquisador ou estudante) j deve estar formulando algumas
hipteses ao terminar a leitura deste pargrafo.
Fim versus forma. A poltica educacional no Brasil fracassa ao atingir
os seus propsitos. O objetivo se tornou menos importante do que os
requisitos formais definidos por burocratas ou autoridades intelectuais
que receiam perder seu nicho de poder. E assim la nave va. O MEC
pode afirmar orgulhoso que milhes concluram o ensino mdio ou
superior, mas pesquisas mostram um exrcito de diplomados
analfabetos funcionais.
Lamentavelmente, a mesma confuso entre fim e forma encontrada no
recrutamento dos professores. A to apregoada formao interdisciplinar
, no fim das contas, desestimulada na prtica.
Paulo Henrique Faria Nunes, doutor, professor de Direito