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Programa de Agricultura e Meios de Vidas Sustentáveis Moçambique: 2005 – 2011 Histórias de Mudança Mais Significativas A FACE HUMANA DA MUDANÇA

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Programa de Agriculturae Meios de Vidas Sustentáveis

Moçambique: 2005 – 2011

Histórias de Mudança Mais Significativas

A FACE HUMANA DA MUDANÇA

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Créditos fotográficos: Carlos Dava, Cecília João, Helena Chiquele, Sylvie Desautels, Nélia Taimo, Alberto da Silva.

© 2012, Oxfam Canada

As opiniões expressas nesta pulbicação são da responsabilidade dos autores e não refletem necessáriamente as políticas ou posições oficiais da Oxfam, das organizações de apoio e dos doadores.

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Agradecimentos

A Oxfam Canadá gostaria de reconhecer e expressar o profundo agradecimento às organizações não-governamentais em Moçambique com quem trabalhou ao longo de muitos anos e que foram responsáveis pelas mudanças que ocorreram na vida de tantas pessoas. A dedicação e o compromisso do pessoal e membros das seguintes organizações contribuiram de maneira inestimável para o sucesso do Programa de Agricultura e Meios de Vida Sustentáveis com a Oxfam Canadá:

• AMODER (Associação Moçambicana para o Desenvolvimento Rural)• Fórum Mulher• Magariro (Associação para o Desenvolvimento Comunitário)• OMES (Organização da Mulher Educadora do SIDA)• SAfAIDS (Serviço de Informação e Disseminação sobre o HIV e

SIDA -na África Austral)• UNAC (União Nacional dos Camponeses)• WLSA (Mulher e Lei na África Austral)

A Oxfam Canadá gostaria também de agradecer às autoridades distritais, provínciais e nacionais de Moçambique, à Agência Canadiana de Desenvolvimento Internacional (ACDI), ao Fundo de Justiça Social do Sindicato do Trabalhadores da Indústria Automóvel (CAW-Canadá) e à Oxfam Grã – Bretanha pelo apoio recebido ao longo da vida do Programa (2005-2011).

Acima de tudo, a Oxfam Canadá gostaria de reconhecer e agradecer às comunidades do centro de Moçambique e de Maputo que participaram no programa, e cujas histórias são contadas nesta publicação, a energia e a dedicação com que sempre contribuiram.

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A FACE HUMANA DA MUDANÇA

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Conteúdo

...........................................................................................Introdução ! 3

.....................Programa de Agricultura e Meios de Vida Sustentáveis ! 5

.................................Parceiros de Desenvolvimento em Moçambique ! 7

................................................O que é Mudança Mais Significativa? ! 11

...........................................................A Face Humana da Mudança ! 13

• Fortalecimento de Grupos de Camponeses e de Grupos ................................................................................Comunitários ! 15

• .......................Melhoria das Actividades e Técnicas Productivas ! 22• .....................................................Sensibilização sobre HIV/SIDA! 29• ....Promoção da Participação Pública e da Equidade do Género ! 36

........................................................................Mudança Significativa ! 45

..........................................................................................Conclusão ! 48

MOÇAMBIQUE 2005 - 2011

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Introdução

Moçambique enfrentou grandes desafios nos processos de reabilitação e desenvolvimento após décadas de guerra e desastres naturais. A população, na sua maioria rural, sofreu significantemente com a destruição da economia durante os vários anos de conflito. Os desastres naturais cíclicos, como as cheias e as secas, defraudaram os esforços das comunidades rurais de reconstruir os seus meios de vida depois do fim da guerra em 1992.

Os índices elevados de prevalência do HIV também constituem um desafio para os indivíduos, as famílias e o país como um todo. As mulheres em Moçambique enfrentam barreiras culturais que não só lhes impoêm comportamentos de subordinação e experiências de abuso mas lhes restringem as capacidades de atingir o mais elevado potencial pessoal, social e económico. Mesmo depois de um processo de paz bem sucedido, os esforços intensivos de reabilitação nacional e os investimentos estrangeiros importantes, Moçambique continua a ser um dos países mais pobres do mundo.

A Oxfam Canadá apoia as organizações da sociedade civil Moçambicana no seu trabalho em prol do desenvolvimento desde os anos 70. Em 2005, a Agência Canadiana de Desenvolvimento Internacional concordou em financiar a Oxfam Canadá e os seus parceiros para implementar o Programa de Agricultura e Meios de Vida

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A FACE HUMANA DA MUDANÇA

ALGUNS DADOS SOBRE MOÇAMBIQUE • População: 22,9 milhões (2011)• População abaixo de 14 anos: 45%• População urbana: 38%; taxa de urbanização: 4% ao ano• Taxa de alfabetização: homens 63%; mulheres 37%• Índice de Desenvolvimento Humano: 184º lugar entre 187

países (2011)• Produto Interno Bruto per capita: $898 dólares EUA• Esperança de vida: 50,2 anos • Taxa de mortalidade infantil: 78,95 mortes por 1.000 nascimentos• Taxa de prevalência de HIV/SIDA em adultos: 11,5% (2009)• Pessoas que vivem com HIV SIDA: 1,5 milhões (2009)• Mortes causadas por HIV SIDA: 74.000 (2009)

Fonte: PNUD – Relatório do Desenvolvimento Humano 2011 & CIA The World Factbook 2011

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Sustentáveis (SLAP). A partir daí, começou-se um esforço determinado para criar um modelo de desenvolvimento diferente, distinto da distribuição de bens à pobres comunidades e em consonância com um sistema que apoia as capacidades e forças das organizações e comunidades com novas habilidades, conhecimentos e confiança.

O resultado foi a construção de relações robustas e respeituosas entre a Oxfam Canadá e as organizações parceiras, e entre as organizações Moçambicanas e as comunidades beneficiárias com as quais elas trabalhavam. A confiança, que está no âmago dessas relações, constituiu a fundação da mudança. Esta publicação contêm histórias de indivíduos que demostram o impacto que o maior conhecimento e a nova confiança adquiridos durante o processo tiveram nas suas vidas.

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Programa de Agricultura e Meiosde Vida Sustentáveis

Em 2005, a Oxfam Canadá e as organizações não-governamentais Moçambicanas acima mencionadas embarcaram juntas numa jornada que duraria seis anos. O programa SLAP foi um programa multi-sectorial, com sete parceiros, implementado em quatro distritos do centro de Moçambique: Tambara, Guro, Mutarara e Moatize. Estes distritos, localizados ao longo do Vale do rio Zambeze, são extremamente vulneráveis aos desastres naturais, principalmente cheias e secas. Algumas comunidades são isoladas, especialmente na época das chuvas, o que reduz consideravelmente as oportunidades de mercado. Estes distritos também detêm taxas de prevalência de HIV/SIDA alarmantes e são áreas aonde a subordinação social e cultural da mulher está profundamente enraizada.

É neste contexto que o SLAP procurou melhorar os meios de vida das comunidades rurais, construindo o capital humano e social e encorajando a cidadania activa. As quatro principais áreas de intervenção do programa incluíam:

i. Fortalecimento de Grupos de Camponeses e Grupos Comunitários;

ii. Melhoria das Actividades e Técnicas Productivas; iii. Sensibilização sobre HIV/SIDA; iv. Promoção da Participação Pública e da Equidade do Género.

A filosofia de desenvolvimento da Oxfam Canadá está c e n t r a d a n o a p o i o à s organizações e comunidades locais para identificar as suas vulnerabilidades e a procurar soluções sustentáveis que tomem em conta e valorizem o s p o n t o s f o r t e s d a s comunidades. O programa procurou melhorar o capital humano e social através da a q u i s i ç ã o d e n o v o s c o n h e c i m e n t o s , d o

desenvolvimento de habilidades, e do aumento da auto-confiança dos grupos comunitários na determinação das suas agendas de desenvolvimento. 5

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A FACE HUMANA DA MUDANÇA

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A Oxfam Canadá apoiou as organizações parceiras locais, e estas, por sua vez, apoiaram os grupos comunitários locais através da capacitação e “mentoring”.

O programa ajudou a criar a resiliência dos participantes através do aumento das suas habilidades para enfrentar os desafios relacionados com a igualdade de género, o desenvolvimento institucional, a produção agrícola e a pecuária, a geração de renda, o crédito e a poupança, a transmissão do HIV e os desastres naturais.

A sociedade civil Moçambicana está a crescer e a fortificar-se e cada vez mais representa as prioridades, as capacidades e as aspirações do povo Moçambicano. A Oxfam Canadá trabalhou com as seguintes organizações da sociedade civil na implementaçao do Programa:

• União Nacional dos Camponeses (UNAC), • Magariro (Associação para o Desenvolvimento Comunitário), • Organização da Mulher Educadora do SIDA (OMES), • Mulher e Lei na África Austral (WLSA), • Fórum Mulher (FM), • Associação Moçambicana para o Desenvolvimento Rural

(AMODER), e • Serviço de Informação e Disseminação sobre o HIV e SIDA na África

Austral (SAfAIDS).

Durante a vida do programa, as organizações parceiras trabalharam com centenas de grupos locais e associações nos quatro distritos de Guro, Tambara, Moatize e Mutarara, alcançando directamente mais de 2.100 membros, homens (45%) e mulheres (55%) rurais.

As organizações que trabalham em prol dos direitos da mulher levaram a cabo campanhas na província de Maputo e pelo país fora para a implementação da Lei da Família e a criação da Lei sobre a Violência Doméstica. Treinaram activistas e agentes da Polícia para trabalhar na prevênção, no apoio às vitimas e no seguimento legal dos casos de violência doméstica.

Foi graças à visão, compromisso e trabalho árduo dessas organizações e das comunidades com as quais elas trabalharam que foram alcançadas mudanças sustentáveis nas vidas das pessoas. O propósito desta publicação é de realçar e celebrar algumas dessas mudanças mais significantes.

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Parceiros Moçambicanos de Desenvolvimento

UNAC (União Nacional de Camponeses)

A UNAC foi fundada em 1994 e é uma união nacional de camponeses, cooperativas e associações independentes. A União é composta por cerca de 86.000 membros e mais de 2.200 associações de camponeses, organizados em 83 distritos, sete uniões e quatro núcleos provínciais.

A missão da UNAC é de aumentar a capacidade das camponesas e dos camponeses para trabalharem juntos e construirem uma sociedade mais justa, próspera e unida.

A UNAC trabalha para fortalecer as organizações de camponeses; melhorar a productividade e mercados agricolas; influenciar o diálogo politico no que concerne as questões que afectam o sector agrícola familiar; lidar com os impactos do HIV e da degradação ambientais nos meios de vida e promover a inclusão de mulheres e jovens no movimento camponês.

Através do seu ecritório nacional, a UNAC tem influenciado reformas legislativas e participado em vários fora e eventos para aumentar o seu conhecimento sobre a agricultura sustentável e agir nos assuntos importantes para os camponêses do sector familiar. A UNAC é membro da Via Campesina – o maior movimento camponês e produtor artesanal de alimentos do mundo.

Magariro (Associação para o Desenvolvimemnto Comunitário)

A Magariro foi fundada em 2001, e é uma organização de desenvolvimento comunitário baseada na Província de Manica. A Magariro capacita pessoas e grupos desfavorecidos pa ra advoga rem pe lo seu p róp r i o desenvolvimento.

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PARCEIROS MOÇAMBICANOS DE DESENVOLVIMENTO

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A Magariro procura melhorar o acesso e a qualidade da educação básica no nível primário e da alfabetização de adultos; melhorar as opções de meios de vida; aumentar a participação das comunidades rurais marginalizadas nos processos de governação; mitigar o impacto do HIV/SIDA e dos desastres naturais nas famílais afectadas; e fortalecer a sociedade civil Moçambicana, através da capacitação nas áreas do desenvolvimento organizacional e da governação. A Magariro também presta serviços de resposta a nível local em situações de desastres naturais.

No programa SLAP, a Magariro focou as suas actividades em círculos locais de influência, grupos de criação de animais, bancos de sementes, grupos de poupança e crédito e comités locais de gestão de calamidades naturais, através do seu escritório baseado em Tambara.

AMODER (Associação Moçambicana para o Desenvolvimento Rural)

A AMODER foi criada em Setembro de 1993 e em 1999 foi licenciada pelo Banco

de Moçambique para proporcionar crédito para o desenvolvimento rural. A AMODER tem oito escritórios em sete províncias. As principais áreas de intervenção da AMODER incluem a provisão de crédito para a comercialização e o processamento de produtos agrícolas, insumos agrícolas, equipamentos e bens de consumo, transporte, assim como crédito para actividades pesqueiras, incluindo a comercialização e o processamento de mariscos. Direccionando assistência financeira para os empresários, que apoiam as actividades de camponeses e pescadores, a AMODER proporciona mercados operacionais às comunidades rurais e renda melhorada para satisfazer as suas necessidades básicas.

OMES (Organização da Mulher Educadora do SIDA)

OMES foi estabelecida em 1994 na Província de Manica e é uma organização comunitária cujos 125 membros e activistas são predominantemente

mulheres envolvidas em assuntos relacionados com a actividade sexual comercial. O mandato da OMES é o de educar as mulheres trabalhadoras de sexo e os seus clientes, incluindo camionistas, assim como a comunidade em geral sobre o HIV/SIDA. A OMES também trabalha para mitigar os impactos do HIV através do aconselhamento, programas de cuidados domiciliários e actividades de geração de

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rendimento alternativo para as trabalhadoras de sexo. A OMES teve um papel importante no apoio dos outros parceiros da Oxfam Canadá para integrar a sensibiliazação do HIV no seu trabalho.

SAfAIDS (Serviço de Informação e Disseminação sobre o HIV e SIDA na África Austral)

Estabelecida em 1994, a SAfAIDS é uma organização não lucrativa com escritórios no Zimbabwe, Zambia, e Mozambique. Em Angola, Botswana, Lesotho, Malawi, Namibia, e Tanzania a SAfAIDS opera através de parceiros locais.

A SAfAIDS almeja promover respostas de desenvolvimento éticas e eficazes à pandemia do HIV/SIDA, at ravés da gestão, desenvolvimento de capacidades, advocacia, análise política e pesquisa na região austral da África. As suas principais actividades incluem o desenvolvimento de capacidades; produção de informação; recolha e disseminação; desenvolvimento de parcerias e redes, e promoção de diálogo.

Em Moçambique a SAfAIDS trabalha desde 2008 com organizações não-governamentais, especialmente os parceiros da Oxfam Canadá no âmbito do Programa de Agricultura e Meios de Vida Sustentáveis, fortalecendo-as para lidar com desafios do HIV/SIDA.

WLSA (Mulher e Lei na África Austral)

A WLSA foi fundada na região da África Austral em 1989, e em Moçambique em 1990. A missão da WLSA é de contribuir para o bem-estar da mulher, no seio das suas famílias e na sociedade, através de pesquisa e formação assim como de advocacia para reforma de leis e políticas.

Entre as várias iniciativas da WLSA, contam-se as formações e acompanhamento da polícia sobre os direitos humanos da mulher e da criança vítimas de violência. Através dos seus programas de pesquisa e de advocacia, a WLSA contribuiu de maneira importante para a reforma da Lei da Família e a criação da Lei sobre a Violência Doméstica em Moçambique. 9

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PARCEIROS MOÇAMBICANOS DE DESENVOLVIMENTO

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Fórum Mulher

O Fórum Mulher foi fundado em 1993. É uma rede de 84 organizações locais, nationais e internacionais que trabalham na área da igualdade de género e defendem os direitos humanos das mulheres. Tem como meta a transformação

dos princípios e práticas culturais e sociais que subordinam a mulher, desafiando a hierarquia e as relações de poder entre as mulheres e os homens. O Fórum tem uma perspectiva feminista, serve de mediadora entre a sociedade e o Estado no que diz respeito às políticas do governo e ajuda a fortalecer as organizações que trabalham na área dos direitos das mulheres.

O Fórum Mulher tem assumido uma função vital e alcançado reformas significativas na legislação e políticas públicas em Moçambique, particularmente na nova Lei da Família de 2005 e na introdução da Lei sobre a Violência Doméstica em 2009. O Fórum Mulher esteve na vanguarda de vários processos de reforma tais como o processo de consulta da estratégia nacional de combate à pobreza (Plano de Ação para a Reducão da Pobreza - PARP), assegurando que os direitos da mulher e a perspectiva de género fossem reflectidos nas políticas e planos do governo.

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O que é “Mudança Mais Significativa”?

A técnica da Mudança Mais Significativa (MMS) é uma forma participativa de monitoramento e avaliacão. É participativa porque vários intervenientes relevantes ao projecto estão envolvidos não só na tomada de decisão sobre os tipos e âmbito das mudanças que devem ser registadas mas também na análise dos dados. É uma forma de monitoramento que acontece ao longo do ciclo do programa e produz informações que ajudam os vários actores a gerir o programa. Contribui para avaliação do programa porque gera dados qualitativos sobre o impacto e resultados que podem ser usados para avaliar o desempenho do programa como um todo.

Esta técnica procura saber os pontos de vista dos beneficiários e outros intervenientes relevantes; algo significativo sobre o programa e como este impactou nas suas vidas. Um traço importante e único da MMS é a possibilidade de recolher informações sobre as mudanças que não são esperadas ou difíceis de detectarr e ao mesmo tempo a oportunidade aberta aos beneficiários de identificar as mudanças que têm ou tiveram mais significado para eles.

O processo envolve a recolha de histórias sobre “MMS” junto aos beneficiários e a seleção s i s t e m á t i c a d a s “ m a i s significativas” dessas histórias por painéis formados por intevenientes relevantes ou pelo pessoal das organizações que enquadram as acções. Depois de identificar o domínio de mudança a ser monitorado, as h i s t ó r i a s d e m u d a n ç a significativa são recolhidas junto

das pessoas directamente envolvidas, tais como beneficiários, partipantes ou pessoal de terreno. As histórias são posteriorimente analisadas e as mais significativas são selecionadas. As histórias selecionadas são então verificadas através de visitas aos locais ondem os eventos ocorreram.

A técnica MMS foi introduzida no SLAP no úitimo ano da sua implementação. Depois de cinco anos de implementação do programa, muitas experiências foram adquiridas e lições aprendidas. Algumas delas foram documentadas em estudos de casos, pesquisas, relatórios, revisões e avaliações, mas uma grande parte está para ser 11

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MUDANÇA MAIS SIGNIFICATIVA

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documentada sobretudo no que diz respeito ao impacto do programa na vida das pessoas.

Em Julho de 2010, um seminário de dois dias sobre a MMS foi organizado com o propósito de formar o staff da Oxfam Canadá e alguns dos parceiros, selecionados na base das suas habilidades técnicas para recolher e documentar o impacto do SLAP em formato de história. Além do staff da Oxfam Canadá e pessoal das organizações parceiras, uma consultora local também foi formada no mesmo seminário.

Depois da formação, a consultora organizou uma formação semelhante para os parceiros no campo. A consultora acompanhou em seguida os parceiros no processo de recolha de histórias de mudança mais significativa; estes parceiros continuaram depois o processo de forma independente. O pessoal da Oxfam Canadá que participou na formação também teve a oportunidade de fazer uso das novas habilidades através da recolha de algumas histórias de mudança e um certo número delas fazem parte desta publicação.

As histórias recolhidas foram analisadas pelos parceiros e em seguida teve lugar a selecção das histórias mais pertinentes a incluir nesta brochura. Cada história foi reconfirmada pela pessoa que a contou e que deu a sua autorização para que uma foto sua fosse também incluída nesta brochura. Para respeitar a privacidade das pessoas mencionadas nas três histórias sobre o HIV, os seus nomes foram omitidos e substituídos por outro, fictícios. As histórias selecionadas foram resumidas, tentando preservar cuidadosamente a essência da mensagem das pessoas que as contaram.

Expressamos os nossos mais sinceros agradecimentos a todas as mulheres e homens que tão generosamente partilharam conosco pedaços das suas vidas. Esta publicação é delas e deles!

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A Face Humana da Mudança

Introdução:

O Programa de Agricultura e Meios de Vida Sustentáveis foi implementado nas províncias de Manica e Tete, na região central de Moçambique, e no âmbito nacional através de actividades de advocacia implementadas por dois dos sete parceiros.

Na Província de Manica, o programa concentrou-se nos distritos de Tambara e Guro.

Tambara é um d is t r i to que ficou relativamente isolado devido à guerra que perdurou entre 1980 e 1992. Além deste facto, o districto, que é extenso geográficamente mas pobre em termos de infra-estruturas, é constantemente fustigado por cheias e secas. Este cenário levou as pessoas de Tambara a

tornarem-se bastante dependentes da ajuda externa e muito passivas em relação à definição do seu próprio destino. Também limitou os serviços disponíveis, particularmente em termos de extensão agrícola e pecuária. As normas culturais e tradicionais são igualmente fortes neste distrito, contribuindo para enraizar a subordinação da mulher e aumentar a sua vulnerabilidade à infecção pelo HIV. A UNAC e a Magariro trabalharam com as comunidades rurais em Tambara não só para melhorar os seus meios de vida agrícolas e a participação nos processos locais de governação mas também para aumentar o conhecimento sobre o impacto das normas culturais e tradicionais sobre os direitos das mulheres e a vulnerabilidade ao HIV.

Guro é um distrito frequentemente afectado por secas que prejudicam a subsistência d o s c a m p o n e s e s , q u e d e p e n d e m predominantemente da chuva para a colheita de excedentes. Este distrito está localizdoe numa importante via de transporte que liga o norte e o sul de Moçambique. Esta via é usada

por muitos camionistas provenientes de países vizinhos; um facto que estimula o mercado do sexo. Por conseguinte, o distrito tem um grande índice de prevalência de infecções relacionadas com o HIV. A OMES está presente neste distrito e leva a cabo um trabalho extensivo de sensibilização com os grupos considerados “de risco” assim como com a população em geral.13

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A FACE HUMANA DA MUDANÇA

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Na Província de Tete, o programa concentrou-se nos distritos de Mutarara e de Moatize.

O distrito de Mutarara possui um clima seco e árido, impróprio para a agricultura, e é constantemente afectado por desastres naturais, como secas e cheias. Devido à sua situação geográfica, ao longo do Rio Zambeze, muitos camponeses aproveitam dos períodos

em que o nível da água baixa para praticar a agricultura. Contudo, qualquer aumento nos níveis de água, tanto natural como causado pela gestão de barragens, pode ter um impacto nos meios de vida dos camponeses. A UNAC trabalhou com grupos de camponeses em Mutarara para fortalecer a resiliência aos desastres naturais e, em parcerias com a OMES, para aumentar a consciência sobre os riscos de infecção pelo HIV.

Moatize é um distrito na fronteira de Moçambique com o Malawi e constitui uma das mais importantes rotas de transporte entre este país e a costa. Esta situação geográfica e o tráfego de transportes terrestres aumentam os riscos de infecção pelo HIV, cuja prevalência no Malawi continua a apresentar

níveis de alarmante. Moatize sofre de secas como a maior parte da região do Centro. A UNAC trabalhou neste distrito para melhorar os meios de vida dos camponeses sobretudo fazendo a disseminação de conhecimentos sobre técnicas agrícolas sustentáveis.

As histórias que apresentamos a segir foram recolhidas nos distritos de Tambara, Guro, Mutarara e Moatize e na Província de Maputo, aonde as organizações pareceiras est iveram presentes cr iando conhecimento e aumentando as habilidades e a confiança das comunidades e individuos para suscitar as mudanças que estas histórias descrevem.

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Fortalecimento de Grupos de Camponesese Grupos comunitários

Calisto Micajo Candeeiro

“Com planificação, tudo na vida sai positivo.”Distrito de Tambara, Província de Manica, Novembro de 2010

O Senhor Calisto vive em Buzua, uma área isolada de Tambara. Ele é camponês e possui uma pequena “machamba” (área preparada para cultivo). Ele participou em várias discussões sobre o desenvolvimento do distrito através do Fórum Local. O Fórum Local é uma estrutura que faz parte do processo de descentralização implementado pelo governo. Este processo reúne as organizações da sociedade civil para definirem as prioridades locais e decidirem da atribuição dos fundos das comunidades para solucionar os seus próprios problemas.

O Senhor Calisto explicou-nos o que é um Fórum Local e qual é o seu papel:

“Em 2006, o governo começou a entrar zona por zona para informar as comunidades que deveriam constituir Fóros nas Localidades. Nós não sabíamos bem o que era isso, até pensàmos que era apenas para discutir sobre a fome pois tinha havido uma grande seca e havia fome naquele ano.

“Eu fui eleito membro deste Fórum e um mês depois fui escolhido para presidente do mesmo Fórum. Depois fui escolhido para ser membro do Fórum Local do Posto Administrativo e mais tarde do Conselho Consultivo do Distrito.

“Logo depois, nós membros do Fórum fomos chamados pela Magariro para sermos formados. Tivemos vários encontros de formação. Aprendemos muita coisa. Trabalhávamos muito em grupo. Discutimos a nossa visão do distrito; aprendemos a fazer levantamento de necessidadesnas comunidades; aprendemos a fazer projectos; a fazer planos de actividades e a monitorar as actividades.15

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1. GRUPOS DE CAMPONESES E GRUPOS COMUNITÁRIOS

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“Aprendemos sobre o fundo comunitário de 7 milhões de meticais (cerca de CAD$ 265,000) que o governo estava a dar para todos os distritos. Aprendemos o objectivo deste fundo; como conseguir este fundo e como seleccionar quem deveria receber assistência.

“Todas essas formações que recebi e que o Fórum Local recebeu fizeram muita diferença. Eu vejo como desenvolvi a minha consciência. Aprendi muitas coisas que nunca sonhei na minha vida. Aprendi a desenhar projectos; a fazer planos.

“Antes, eu só entrava na machamba e trabalhava sem fazer plano nenhum. Aprendi a planificar e a monitorar as minhas actividades e por isso tudo na minha vida está a sair positivo: consegui obter gado e uma charrua; melhorei a minha casa - coisas que nunca pensei conseguir... Mas foi graças a ter aprendido a planificar para alcançar os meus objectivos.

“A existência dos Fóros Locais também fez diferença nas comunidades. Antes, a população não tinha palavra; só assistia quando o governo chegava para abrir uma escola ou inaugurar um furo de água. Agora não. A população é consultada sobre o local aonde construir a escola ou instalar o furo de água. A população já se sente livre de falar; não tem medo de participar.”

Gilberto Moisés Canheze

“Despindo o casaco de chefe!” Distrito de Tambara, Província de Manica, Novembro de 2010

Gilberto Canheze foi nomeado administrator do distrito de Tambara em 2008. Gilberto disse-nos que apesar de apenas só ter dois anos na liderança no distrito, ele pode falar-nos das mudanças provocadas pela intervenção da Magariro. (Associação para o Desenvolvimeto Comunitário).

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“A Magariro promoveu muitas iniciativas boas como o Banco Agrário, o Banco de Animais, o Grupo de Poupanças - e tudo contribuiu para que a fome não assolasse o distrito como em outros anos. Mas para mim a coisa mais importante é que a Magariro é uma organização que tem uma abordagem participativa; muita aberta ao diálogo e à discussão.

“Um exemplo que me marcou foi um encontro de “Chamada de Ideias” que eles promoveram em Setembro com membros do governo local, membros da comunidade, ONGs e empresas públicas e privadas com o objectivo de encontrar caminhos para o desenvolvimento do distrito.

“Para mim, o encontro de “Chamada de Ideias” foi importante porque vi duas coisas novas. Primeiro, foi uma reunião onde as pessoas não fizeram só pedidos, como era a norma, mas ao contrário identificaram opções para atingir o desenvolvimento do distrito. Segundo, foi uma uma oportunidade de me despir do papel de chefe e discutir em pé de igualdade com todas as pessoas e não dar ordens.

“Senti o compromisso de todos e senti-me mais leve, visto que analisar os problemas, encontrar soluções e tomar decisões em conjunto reduz o risco de tomar decisões erradas que podem prejudicar a vida de milhares de pessoas. Claro que falta agora verificar o que vai ser implementado de tudo o que foi falado, mas a realização de um encontro desta natureza aqui já foi um grande passo em direcção ao desenvolvimento.”

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1. GRUPOS DE CAMPONESES E GRUPOS COMUNITÁRIOS

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Dinis Maqui

“Agora sou PESSOA!” Distrito de Guro, Província de Manica, Novembro de 2010

O Senhor Dinis Maqui é o presidente e agente comunitário da associação “Kumuda” (Despertar – em Nyungue). Ele contou-nos como a vida dele mudou desde que se tornou membro de uma associação.

“Eu sou Dinis Maqui. Tenho 37 anos; tenho 8 filhos e estudei ate à 4ª classe. Sou camponês; o meu pai era camponês e a familia sempre foi camponesa.

“Conheci a UNAC quando fui convidado para participar numa assembleia. Depois de ver como as pessoas discutiam problemas, achei que seria bom criar uma associação aqui na zona para discutir os problemas que nos afectam, a nós os camponeses.

“Participei em muitas visitas de troca de experiência em Tete, Chimoio, Nampula, Tambara, Gondola e Sussudenga, onde aprendi como se faz adubo orgânico e como evitar a erosão; sobre pecuária básica e como se formam e funcionam as Uniões Distritais de Camponeses.

“O uso do adubo fez aumentar a minha produção de cebola. Agora produzo mais quantidades e cebolas maiores e assim consigo bons preços nos mercados. Com o dinheiro que obtive, consegui melhorar a minha casa que agora é de tijolo queimado e tem cobertura de chapa de zinco. Antes era de tijolo cru com cobertura de capim.

“A diferença que vejo em mim, antes e depois destas trocas de experiencia, é que agora sou uma pessoa que tem conhecimentos e beneficia do acompanhamento da UNAC. Antes não tinha conhecimentos e fazia as coisas sózinho, só da minha cabeça.

“Antes eu trabalhava a terra sózinho. Agora tenho duas pessoas permanentes e contrato pelo menos 6 pessoas temporárias para me ajudarem na machamba que agora tem 4 hectares. Só para ver: em

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2000 eu tinha apenas 0,5 hectare e não tinha muita coragem para aumentar a área. Com os conhecimentos que obtive da UNAC, ganhei força para aumentar a área de produção. A minha vida melhorou tanto que as pessoas começaram a falar que eu tinha ido ao curandeiro. Eles não sabem que este curandeiro é a UNAC!

“De tudo que vi e aprendi nas trocas de experiencia a coisa mais importante para mim foi descobrir que eu sou uma pessoa! Descobri isso quando fui participar na Assembleia da UNAC em Maputo. Eu nunca tinha ido à capital do país, foi a primeira vez. Nem o meu pai chegou a ir a Maputo!

“Quando me vi junto com 110 pessoas discutindo os problemas do país, dei-me conta que nós, camponeses, temos muito peso neste país; afinal a nossa opinião conta muito. Antes, eu não me achava pessoa, me achava um camponês, assim meio marginal, vivendo aqui nas margens do rio Luenha. Hoje não. Eu sei para que serve um Presidente, os Ministros, os Deputados. São, coisas que aprendi em Chimoio. Aprendi que nós temos o direito de ser ouvidos. Aprendi mesmo que sou pessoa não só porque tenho documentos, mas porque tenho voz!”

Maria Deniasse

“Dinheiro certo em casa” Distrito de Guro, Província de Manica, Novembro de 2010

Maria Deniasse é uma jovem camponesa, membro da Associação de Camponeses de Sanga. Ela contou-nos o que mudou sua vida ao participar na associação:

“Chamo-me Maria Deniasse, tenho 26 anos, sou camponesa, Cursei até 9ª classe. Sou casada, tenho 2 filhos pequenos. Junto com o meu marido temos 4 machambas. Plantamos milho, mapira, feijão-nhemba, abóbora, gergelim, amendoim, feijão jugo, feijão boer, mandioca, couve, cebola, tomate e cenoura. Costumo 19

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1. GRUPOS DE CAMPONESES E GRUPOS COMUNITÁRIOS

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vender amendoim, gergelim, mandioca e hortaliças no mercado de Guro.

“Conheci a Associação de Camponeses de Sanga através da minha avó que era membro da associação desde 1999. Eu cresci vendo as coisas boas que a associação fazia; via que os membros tinham boa produção e assim decidi entrar para a associação em 2004 porque também queria ter boa produção.

“Quando entrei para a associação, os membros escolheram-me como agente comunitária. Como agente comunitária participei em formações e visitas de troca de experiências em Zimbabwe, Chimoio e Maputo.

“Nestas visitas, aprendi muitas coisas, tais como fazer adubo orgânico, doce de papaia e, papas para crianças; o que é o associativismo; como se faz a secagem de produtos; como fazer represas e como formar associações.

“Gostei muito de participar nestas formações pois aprendi muitas coisas. Nestes encontros, todas as associacões eram encorajadas a formar grupos de alfabetização de adultos. Como eu tinha terminado a 9ª classe, os membros escolheram-me para participar na formação de alfabetizadores de adultos sob ao auspícios dos Serviços de Educação.

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“Após participar nest curso consegui ter um contrato com os serviços de Educação e passei a receber um subsídio mensal de 550 Meticais. A minha vida melhorou bastante, pois com o dinheiro que recebo todos os meses compro roupas e coisas básicas para a casa. O dinheiro que consigo com a venda dos produtos da machamba invisto-o em bens para melhorar a nossa vida. Até agora conseguimos comprar 2 bois e 3 cabritos.

“A segunda coisa que aprendi na associação e melhorou a minha vida foi o cultivo de feijão boer. Antes eu não plantava pois não tinha sementes, Depois que entrei na associação, passei a ter sementes e aprendi a plantar. O feijão boer dá bom dinheiro.

“A terceira coisa que aprendi na associação e que ajudou a melhorar a minha vida foi cultivar utilizando a técnica de composto e adubo orgânico. A minha produção aumentou. Antes tirava uma carrada de boi cheia de milho, agora saem 3 carradas na mesma machamba.

“O que mais fez diferença na minha vida foi tornar-me alfabetizadora com contrato com os serviços de Educacao. A partir de então, pude contar com dinheiro regular em casa para comprar coisas básicas e roupa para as crianças. Esse dinheiro fez muita diferença. Posso fazer planos para investir o dinheiro que vamos conseguir com a venda de produtos na época da colheita. Antes, eu não contava com nenhum dinheiro regular em casa, dependia única e exclusivamente da venda da colheita. E quando a colheita não saía bem ficàvamos muito mal!”

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Melhoria das Actividades e Técnicas Productivas

Azélia Bengala

“Banco Agrário de Nhacafula mitiga a fome”Distrito de Tambara, Província de Manica, Agosto de 2010

A criação do banco agrário em Nhacafula representou o fim da época anual de fome para a família de Azélia Bengala e para a sua comunidade. A Azélia nunca tinha estado numa sala de aulas; perdia muito tempo à procura de comida e tinha pouco tempo para cuidar de si e da sua família.

Em 2006, a Azélia participou numa reunião do Fórum Local de Nhacafula que tinha assistência da Magariro (Associação para o Desenvolvimento Comunitário). Nesta reunião, falaram da criação de uma estrutura que trataria de realizar actividades para mitigar a fome – o Banco Agrário. O Banco teria a tarefa de comprar e armazenar cereais e vender na época da fome a preços justos para os camponeses.

A Azélia foi escolhida pelo fórum para fazer parte dum grupo de 13 pessoas que fariam parte deste Banco. Segundo a Azélia, a sua grande motivação era de pôr fim à procura de comida para a sua família, que lhe exigia muito tempo e um grande esforço físico.

A Magariro apoiou a formação do novo banco agrário e formou os membros para gerirem o banco. A Azélia que não sabia ler e escrever tornou-se a tesoureira graças às aulas de alfabetização proporcionadas pela Magariro...

Ainda em 2006, o banco agrário comprou o primeiro milho e armazenou-o. A armazenagem exigia registo de dados. A Azélia sentiu-se constrangida pelo facto de não saber ler e escrever. Como sempre os facilitadores da Magariro aconselhavam a todos de participarem no programa de alfabetização. A Azélia decidiu então aderir para poder também passar a registar os dados.

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No final de 2006, na altura de fome, o banco vendeu milho aos seus associados e à comunidade em geral. Pela primeira vez a Azélia não teve que procurar comida, como fazia antes, por vezes longe da sua residência, e passou a ter tempo para cuidar da família e de si mesma. A Azélia disse-nos que essa mudança a fez suspirar de alívio.

Em 2009, através do rendimento adquirido das receitas do banco agrário, a Azélia aumentou as áreas de cultivo e em 2010 conseguir obter um excedente para vender ao banco agrário e a outras pessoas. Também utilizou parte das receitas recebidas para iniciar outro negócio: comprar e revender peixe. Ela compra peixe do rio Zambeze em Nhacolo e revende-o em Nhacafula.

Alberto Bunai

“Animais saudáveis, segurança alimentar melhorada!” Serviços de Actividades Económicas Distrito de Tambara, Província de Manica, Novembro de 2011.

Alberto Bunai, delegado dos Serviços de Veterinária, contou-nos como a guerra limitou os serviços veterinários disponíveis no distrito e como a intervênção da Magariro (Associação para o Desenvolvimento Comunitário) melhorou o conhecimeto local sobre a pecuária básica e por conseguinte os meios de vida das comunidades rurais.

“A maioria das famílias criam animais mas geralmente eles não recebiam nenhuma assistência veterinária. Bastava deixar os animais a vaguear; eles encontrariam alimentação e água por si sós. Se os animais ficavam doentes não recebiam tratamento. Só uma pequena parte deles sobrevivia.

“No ano 2000, os Serviços de Agro-pecuária voltaram a funcionar no distrito e éramos apenas 2 técnicos (hoje somos 3) para cobrir todo o distrito. Na altura das campanhas de vacinação dos animais precisávamos pedir reforço aos técnicos da Província pois não tínhamos pessoal suficiente. Mesmo assim

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2. MELHORIA DAS ACTIVIDADE E TÉCNICAS PRODUCTIVAS

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conseguiamos pouca cobertura pois o distrito é grande e os técnicos não podiam ficar por muito tempo.

“Em 2005, o governo adoptou uma nova estratégia: a de identificar membros da comunidade e capacitá-los com noções básicas de maneio animal. Nesta mesma altura, para nossa grande sorte, apareceu a Magariro que tinha esse mesmo plano. Foi um casamento perfeito!

“Junto com a Magariro , formàmos 36 promotores veterinários, entre os quais 6 mulheres. Foi uma iniciativa revolucionária porque na cultura tradicional desta zona, a mulher apenas tem um papel na criação e tratamento de galinhas. Os promotores foramformados em maneio sanitário de grandes animais. Aprenderam a construir currais melhorados e a identificar, prevenir e tratar as doenças mais comuns.

“O acréscimo deste 36 promotores veterinários representou uma grande progresso para nós. Aumentou muito a nossa capacidade de cobertura no distrito. Para os camponeses também fez diferença: agora têm animais saudáveis para vender. Portanto, a segurança alimentar das famílias melhorou.

“Hoje, a morte de animais por doenças diminuiu bastante. Este ano, o efectivo de caprinos diminuiu mas não foi por morte mas devido ao aumento das vendas. Como não houve boa colheita por causa da seca, os camponeses estão a vender os animais para comprar comida. Para nós isto é muito positivo pois mostra que conseguimos melhorar a segurança alimentar dos camponeses, ajudando-os a tratar dos seus animais.

“Com a estratégia de capacitar membros da comunidade conseguimos dar boa cobertura a todo o distrito. Conseguimos manter a proximidade com os criadores; recebemos informação do que está a passar em cada zona, e eles são capazes de pedir ajuda quando precisam.

“Hoje em dia consigo entender a aflição de um criador quando um dos seus animais está doente. Ele sabe que aquele animal é dinheiro; tem valor e por isso não pode perdê–lo. Assim, ele trata dos seus animais de forma a que não adoeçam. Uma grande diferença em relação ao que acontecia no passado.”

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Hoje, a morte de animais por doenças diminuiu bastante. Este ano, o efectivo de caprinos diminuiu mas não foi por morte mas devido ao aumento das vendas.

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Chico Inácio

“Alcançando o sonho da casa melhorada”Distrito de Mutarara, Província de Tete, Novembro de 2010

“Sou um camponês de 40 anos, casado, com 4 filhos. Como tantos outros camponeses de Mutarara, sempre pratiquei agricultura, plantando milho e hortaliças. Vendia as hortaliças à gente que vinha procurá-las na machamba. Conseguia algum dinheiro com isso, mas não era muito. Nos meses em que não havia produção, eu não tinha outra fonte de rendimento.

“Em 2006, o facilitador da UNAC veio conversar comigo e convenceu-me a formar uma associação com outros camponeses. Eu fiquei convencido porque ele disse-me que uma das vantagens de participar numa associação era a oportunidade que todos teriam de aprender novas coisas.

“Assim, em 2007 formamos a associação “Mphabvu Ndi Muinji” que na língua Sena significa “A união faz a força”. Por ser membro da associação, em 2008 participei numa formação e troca de experiência promovida pela UNAC com uma associação na Província de Tete. Aprendi como fazer a comercialização de produtos e compreendi que vender produtos agricolas fora de época era uma oportunidade de fazer bom negócio. Foi ali também que aprendi formas de conservar os produtos hortícolas frescos para poder vendê-los mais tarde.

“Quando voltei para casa, contei à minha mulher que sempre foi boa negociante. Vimos que na época em que não havia hortaliças em Mutarara poderíamos comprar tomate, repolho e alface em outros lugares e revendê-los mais tarde. Ela foi a Cinjare, uma localidade perto de Mutarara onde há boa produção de tomate e viu que poderíamos comprar tomate e revendê-lo a bom preço em Mutarara. “Depois de fazer mais pesquisa, entendemos que nos meses em que há falta de hortaliças em Cinjare, poderíamos comprar tomate no distrito de Gorongoza, na Província de Sofala, e revender aqui em Mutarara.25

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2. MELHORIA DAS ACTIVIDADE E TÉCNICAS PRODUCTIVAS

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“Eu contactei o hospital rural e eles disseram-me que poderiam comprar as hortaliças pois sempre precisam delas para fazer a comida para os doentes.

“Decidimos que a minha esposa é que iria viajar pois ela sabe fazer melhor negócios que eu. Além do que as mulheres sabem fazer mais poupanças nas viagens pois fazem sacrifícios que os homens muitas vezes não fazem, como por exemplo dormem nos mercados; não compram refrescos. Eu fiquei encarregado de trabalhar na nossa machamba e cuidar dos produtos em casa.

“Assim, começamos com o negócio de venda e revenda de tomate, alface e repolho, do qual temos obtido muito dinheiro. Foi com o dinheiro da comercialização destes produtos que conseguimos melhorar a nossa casa. A nossa casa era feita de blocos precarios e tinha cobertura de colmo. Conseguimos melhora-la com blocos queimados e cobertura de zinco e, mais tarde, conseguimos ligar-nos ao sistema de electricidade, que pagamos todos os meses.

“Com o que aprendi naquela troca de experiência, hoje sou capaz de garantir que o dinheiro entre em nossa casa todos os meses. Quando não vendemos produtos da nossa machamba no mercado e para o hospital revendemos os produtos que a minha esposa compra.”

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Uma das vantagens de participar numa associação era a oportunidade que todos teriam de aprender novas coisas.

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Estevão Quene e Maria Helena Abrão

“Estamos Em Cima!!” Distrito de Mutarara, Província de Tete, Novembro de 2010

“Tenho isto aqui. Isto significa o quê? Que melhorei de vida não é?”, diz contente e orgulhoso o Senhor Estevão, mostrando um telemóve. “Eu também tinha um....mas roubaram”, diz Maria Helena, rindo...

O casal começou a contar a sua história e, diferentemente da maioria dos casais nas zonas rurais onde apenas o marido fala, ambos falavam animadamente. Como muitos outros casais de Mutarara, Estevão e Maria Helena conheceram-se num campo de refugiados do Malawi em 1988.

“Em 1992, Moçambique assinou o Acordo de Paz e em 1995 voltàmos para Mutarara e começàmos a trabalhar na machamba do Estevão, plantando milho, mapira e amendoim. Vendíamos alguma coisa mas não era muito, pois guardávamos a maior parte para nosso consumo.

“Em 2003, os Serviços Distritais de Agricultura chamaram-me e disseram que o Gabinete de Promoção do Vale do Zambeze estava à procura de grupos de camponeses de 10 pessoas a quem daria apoio. Assim formàmos um grupo de 10 pessoas nesta zona, a que demos o nome de “Zaonene” que significa “Venha Ver”. No entanto, o apoio prometido nunca veio mas mesmo assim continuàmos associados. Em 2005 cultivàvamos 3 hectares. Adicionalmente às terras da associação, também trabalhàvamos na nossa terra com 5 hectares.

“Em 2005, recebemos uma visita da UNAC de Tete que nos explicou as vantagens de nos associar à UNAC. Disseram que não nos dariam coisas, mas nos dariam ideias, exemplos que poderiam ajudar a melhorar a nossa produção. Como queríamos ouvir estas ideias, decidimos juntar-nos à UNAC.

“Participàmos em visitas de troca de experiências e aprendemos muitas coisas: a fazer adubo orgânico utilizando fezes de animais, 27

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2. MELHORIA DAS ACTIVIDADE E TÉCNICAS PRODUCTIVAS

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a usar minhocas como adubo, a fazer agricultura de conservação cobrindo o solo com capim, e a plantar usando composto. Nunca tínhamos ouvido falar disso, de fazer estrume de animais ou cobrir o solo com capim. Antes só queimávamos o solo como faz a maioria dos camponeses.

“A UNAC foi importante para nós, tanto para a associacão e como para os individuos, pois além de nos dar ideias, deu-nos força e coragem. Ao visitar outras associações que tiveram sucesso, ganhàmos coragem para fazer mais esforços na certeza de que também um dia estaríamos “em cima”.

“Hoje produzimos muito, tanto em termos de número de culturas como em termos de produção. Plantamos milho, gergelim, feijão boer, feijão manteiga, fei jão nhemba, batata reno, cebola, alho, alface, repolho e quiabo.

“Conseguimos muito dinheiro com gergelim, hortaliças e alho e nem precisamos de sair de casa para vender. As pessoas já nos conhecem e chegam até aqui para comprar os nossos produtos. “Com o dinheiro que conseguimos compramos animais. Temos 32 ovelhas, 10 cabritos, 3 porcos, 10 galinhas e 4 patos. Não tínhamos nenhum animal antes de nos afiliarmos à UNAC. Também conseguimos pagar a escola secundária para um filho que está a estudar na cidade da Beira.

“A nossa vida mudou muito desde 2005: comíamos mal, não tinhamos roupa, não tinhamos dinheiro. Hoje temos roupa, temos comida, temos uma rádio, compràmos mobília, compràmos uma bicicleta. ...e o telemóvel claro......estamos “em cima”! Os olhos da Maria Helena brilham ao falar que estão “em cima”.

“Além disso temos dinheiro para contratar pessoas para ajudar na machamba e se Deus quiser vamos conseguir melhorar a nossa casa com o dinheiro das nossas próximas colheitas. O resultado é que nossa vida melhorou. A nossa situação é muito diferente de 25 anos atrás quando estávamos no campo de refugiados. Nem podíamos sonhar que um dia teríamos uma vida assim.”

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Sensibilização sobre HIV/SIDA

Beriati Cancheca Calongoro Lundu

“É possível mudar as tradições” Posto Administrativo de Nhacafula, Distrito de Tambara, Província de Manica, Novembro de 2010

O Senhor Beriati é um régulo - uma posição importante e muito respeitada dentro da estrutura tradicional em Tambara e que é adquirida através da hereditariedade.

Ele faz parte dos líderes tradicionais que encorajaram a mudança da prática do Kupita Kufa (rito de purificação de viúvas). Na prática do “Kupita Kufa”, após a morte do marido, a viúva (ou as viúvas no caso de casamento poligâmico) devem ter relações sexuais com o irmão mais velho do marido para evitar que ela e outros membros da família adoeçam. Após o ritual, o cunhado passa a ser responsável pela viúva, os filhos e os bens que eram do irmão. Esta prática tornou-se um dos mais importantes meios de transmissão da infecção por HIV.

“Eu participei em dois encontros, promovidos pela Magariro, onde se discutiu esta doença - o HIV. Vimos como “Kupita Kufa” era uma prática que colocava as pessoas em risco de apanhar esta doença. Num desses encontros, chegàmos à conclusão de que os tempos são outros e de que era preciso mudar. Assim, tomamos a decisão de trocar a prática de relações sexuais por banho com raízes.

“Eu costumo falar sobre isto em todos os encontros que tenho com a comunidade e posso dizer que as principalmente as mulheres gostaram disto e estão a negar manter a prática através da relação sexual. As mulheres já são donas delas mesmas. Digo isto porque logo que o marido morre, a mulher vem aqui a casa pedir raízes. Isto quer dizer que já sabe que isto é possível.

“E se a família do marido não aceita, a viúva também vem queixar-se e eu chamo a família e digo-lhes que aqueles tempos acabaram. Agora os tempos são outros e eles devem aceitar o novo ritual porque o banho também purifica.29

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3. SENSIBILIZAÇÃO SOBRE HIV/SIDA

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“Na verdade esta prática, através da relação sexual, visava dar poder ao irmão do marido para se apossar dos bens da viúva. Com o banho isso acabou e os irmãos dos maridos andam muito chateados comigo……(ele dá uma risada alta e gostosa!).

“Para mim isto foi importante porque estou a evitar que mais pessoas da comunidade fiquem doentes através da “Kupita Kufa.” Uma vez fui chamado ao hospital e eles mostraram-me uma lista muito grande com nome de pessoas e disseram: Você sabe o que é isso? É o numero de pessoas que estão em tratamento anti-retroviral lá em Nhacafula, a sua comunidade.

“Isto já faz tempo e era muita gente. Mas acho que agora deve ter aumentado. Eu, como líder, não gosto de ver pessoas da minha comunidade a morrer, a sofrer, a ficarem doentes. O que eu puder fazer para impedir isso vou fazer. E faço por mim também, não quero que pessoas da minha família sofram com esta doença.”

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Para respeitar a privacidade das pessoas mencionadas nas três histórias sobre o HIV, os seus nomes foram omitidos e substituídos por outros, fictícios.

“O amor que salva ou HIV que uniu a familia”Júlia da Graça, Distrito de Guro, Província de Manica, Novembro de 2010

Uma das actividades que a OMES compromete-se a fazer é visitas porta-a-porta nos bairros e nas comunidades para falar com cada família sobre o HIV. Durante uma dessas visitas, no bairro de Sereste Kama, eles foram até casa da Sra. Júlia da Graça, uma dona de casa de 45 anos que vive com o marido, um policial, e Tania, a sua filha de nove anos.

Julia é uma dona de casa como muitas outras em Guro, que cuida das tarefas domésticas enquanto o marido está no serviço. Ela contou-nos a seguinte história:

“Em 2001, a minha filha nasceu prematuramente aos sete meses e pesava apenas um quilo. Por esta razão, fomos transferidos para o hospital Provincial de Chimoio aonde ela ficou de baixa durante 2 semanas. Viemos embora mas ela continuava doente, tinha febres e tinha malária. Tentàmos muita coisa para ver se ela ficava boa. Visitàmos 3 curandeiros. Como a menina continuava doente, decidimos pagar uma consulta especial na cidade de Chimoio. Mas também de nada adiantou. Ela continuou doente.

“Nessa altura, ela já tinha 3 anos de idade e eu comecei a pensar na possibilidade dela estar com HIV. Comecei a lembrar-me do que as activistas da OMES explicàvam quando passavam aqui pelo bairro. Explicàvam que quando uma pessoa adoecia sempre e não apresentava melhoras era aconselhável fazer um teste de HIV, pois esta poderia ser a razão do corpo adoecer sempre.

“Fui falar com uma amiga enfermeira que me deu razão e me fez o teste. Deu positivo! Ela chamou o meu marido para fazer o teste e ele aceitou sem problemas. Deu positivo! Por último testaram a 31

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O que me levou a ir fazer o teste sózinha e depois levar a minha família foi o amor pela minha filha.

3. SENSIBILIZAÇÃO SOBRE HIV/SIDA

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Tania e deu postivo. Eu e a Tania começàmos logo o tratamento mas o meu marido por ter um CD4 alto não entrou no tratamento.

“O meu marido adoecia muito e eu fui falar com o médico. Expliquei que embora ele tivesse CD4 alto, ele estava a sempre doente e pedi para começarem o tratamento com ele também. O médico aceitou.

“O meu marido que bebia muito e ficava agressivo a ponto de chegar a casa e bater-me, insultar-me, parou de beber e mudou de comportamento. Agora trata-me bem e à nossa filha. A Tania está com 9 anos e nunca mais adoeceu. Tem doenças normais e leva uma vida normal como qualquer criança. Brinca e vai à escola.

“O que me levou a ir fazer o teste sózinha e depois levar a minha família foi o amor pela minha filha. Foi a vontade de ver a minha filha ficar boa, com saúde e levar uma vida normal como outras crianças.

“Ter feito o teste mudou totalmente a minha vida para melhor. Quando soube o resultado fiquei feliz. Pode parecer estranho para os outros que uma pessoa fique feliz quando recebe a notícia de um resultado positivo de HIV. Mas senti-me aliviada pois finalmente havia descoberto a causa das doenças frequentes da minha filha e sabia a partir dali qual era o caminho a seguir: começar e cumprir com o tratamento.

“Agora a Tania está muito bem; está com saúde e o meu marido mudou de comportamento, trata bem da família. Somos uma família mais unida e mais feliz desde então.”

“A activista que distribui coragem e semeia esperança” Carla Machado, Distrito de Guro, Província de Manica, Novembro de 2010

Carla Machado é uma trabalhadora de sexo de 45 anos que está muito doente e por isso já não consegue trabalhar nem fazer tarefas domésticas como carregar água, cozinhar e limpar a casa. Ela está muito magra e o corpo dela mostra que está doente. A expressão do rosto e dos olhos dela são profundamente tristes, mostram um mundo de dor e sofrimento.

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“Eu sou natural da Gorongoza; sou orfã de pai e mãe; cresci na casa de pessoas trabalhando como empregada doméstica. Com 12 anos já estava casada e fugi. Apanhei o primeiro homem que me aceitou, e assim comecei a minha vida como trabalhadora de sexo. De boleia em boleia cheguei a muitos lugares - Zimbabwe, África do Sul, Botswana, Nampula, Maputo - e assim acabei chegando a Guro aonde estou a viver desde 2001.

“Há 3 anos atrás comecei a ficar muito doente, sentia muita fraqueza, tinha febres e borbulhas em todo o corpo. A Julinha vinha-me visitar e aconselhava, insistia para eu fazer o teste de HIV. Mas eu recusava, no fundo tinha medo, pois sabia que do tanto que andei por aí eu só poderia estar com HIV.

“Conheci a Julinha quando assistia a peças de teatro que as activistas da OMES faziam na comunidade. Muitas vezes eu quiz ir ao curandeiro, mas a Julinha insistia que o curandeiro só me faria perder tempo e dinheiro e que com o HIV o tempo era precioso.

“No ano passado decidi ir fazer o teste e como não tinha dinheiro, a Julinha deu-me algum para eu ir a Catandica fazer o teste. O teste saiu positivo e nesse dia chorei muito. Desejei morrer! Para que viver se não tenho ninguém nesta vida? Sou orfã, tenho filhos grandes, ninguém precisa de mim nesta vida e eu já estou cansada de sofrer.

“A minha melhor amiga afastou-se, nunca veio visita-me. Às vezes eu ouvia os vizinhos ou as pessoas que passavam em frente a minha casa comentar: “esta aqui nem é pessoa mais, é um cadáver! Só está à espera de morrer!”. Aquilo me doía tanto, provocava tanta dor no meu coração e dava-me mais vontade de morrer.

“Comecei a fazer o tratamento este ano e caiu-me muito mal. As minhas pernas incharam, fiquei com borbulhas em todo o corpo. Fiquei desanimada e não queria levantar-me mais da cama. A Julinha visitava-me, insistia para eu sair de casa, trazia-me para o Canto de Aconselhamento da OMES, ficava a conversar comigo até que os meus nervos acalmassem.33

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Hoje já me sinto melhor, as borbulhas estão a passar, sinto vertigem de vez em quando, mas consigo andar, sair de casa, ir até o Canto de Aconselhamento da OMES para conversar com as activistas.

3. SENSIBILIZAÇÃO SOBRE HIV/SIDA

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“Outras vezes, ela levava-me para casa dela, ficava a conversar comigo e quando eu dava por mim já estava a sair mais animada da casa dela. Nas conversas, ela explicava que a reacção do medicamento era normal e que havia outras pessoas que tinham passado pelo mesmo que eu e agora estavam boas.

“Hoje já me sinto melhor, as borbulhas estão a passar, sinto vertigem de vez em quando, mas consigo andar, sair de casa, ir até o Canto de Aconselhamento da OMES para conversar com as activistas.

“Graças à Julinha não morri. Ela deu-me coragem para ir fazer o teste e enfrentar o tratamento. Ela obrigou-me a sair de casa, aconselhou-me muito. Ela devolveu-me a vontade de viver que eu já tinha perdido. Sou orfã mas sei que hoje a minha família é a Julinha e as outras activistas da OMES. Quando chegar o meu dia de morrer sei que são elas que vão enterrar-me e rezar por mim.”

“Preservar a saúde acima de tudo” Eduarda Costa, Distrito de Guro, Província de Maputo, Agosto de 2010

Eduarda Costa, de 36 anos é conselheira da OMES no distrito do Guro. Quando tinha 11 anos foi viver com uma irmã no distrito de Catandica. Aos 18 anos casou tradicionalmente com o marido da irmã, tornando-se assim a segunda esposa. Viveu 12 anos com este marido e com ele teve 3 filhos.

Em 2000 adoeceu e foi diagnosticada com tuberculose. Ficou internada dois meses no hospital e ficou um ano sem poder trabalhar na machamba e fazer trabalho doméstico. Depois de um ano, voltou a ter uma vida normal e a ter relações sexuais com o marido, mas já não engravidava e assim em 2003 o marido devolveu-a à família em Guro. Ela levou um dos filhos com ela, uma menina de 5 anos, e foi viver com a mãe.

Em 2004 começou a fazer bebidas tradicionais como uma forma de obter algum dinheiro e a partir daí começou a praticar sexo comercial com os homens que apareciam para beber.

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Num dia de 2005, a Julinha uma activista da OMES e trabalhadora de sexo, começou a conversar com a Eduarda acerca dos riscos da sua actividade e a convidou-a a juntar-se à organização.

Depois de uma sessão de formação sobre a prevenção do HIV em Guro, ela concluiu que trabalhando na OMES com outras mulheres na mesma situação poderia “diminuir os pensamentos que tinha no coração”.

Além disso ela começou a pensar que se, de facto, continuasse a viver da maneira como estava vivendo, acabaria por morrer e ainda tinha uma filha pequena para criar.

Foi com a OMES que ela fez o teste de HIV/SIDA pela primeira vez e aindao faz todos os anos. Cada vez que o resultado sai negativo ela fica encorajada para continuar fazendo sexo com preservativo.

Foi como trabalhadora de sexo que a Eduarda conseguiu ter um talhão e construir a sua própria casa. Por isso ainda é trabalhadora de sexo mas conta que a diferença é que antes fazia sexo todos os dias e sem preservativo e agora ela recebe apenas 3 ou 4 clientes por mês e recusa fazer sexo sem preservativo. Para ela, o mais importante é continuar a ter saúde para criar a sua filha.

A Eduarda conhece bem o que significa estar doente. Por isso, ela conta que a mudança mais significativa na sua vida foi fazer o teste e usar preservativos pois permitiu garantir a sua saúde. Com saúde ela consegue trabalhar na sua machamba, trabalhar como conselheira da OMES e cuidar bem da sua filha que hoje tem 12 anos.

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3. SENSIBILIZAÇÃO SOBRE HIV/SIDA

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Promoção da Participação Pública e da Equidade do Género

Marta António Alficha

“Uma mulher alarga o seu horizonte” Distrito de Tambara, Província de Manica, Agosto de 2010

“Sou Marta António Alficha, casada, tenho 3 filhos menores dos quais dois rapazes e uma menina. A menina é a mais velha, tem 7 anos de idade e frequenta a 3ª classe na escola primária de Nhaugenge. O meu marido é camponês, não sabe ler nem escrever, tem duas mulheres. Eu sou a esposa mais velha. Sou membro da Associação de Horticultores ”3 de Fevereiro”. Somos 30 membros, dos quais 7 homens e 23 mulheres.

“No princípio de 2005, antes de eu fazer parte da associação, eram apenas um grupo de 11 pessoas que trabalhava e recebia comida (milho, óleo, açúcar e feijão) e sementes de batata-doce através dos serviços de Agricultura. Durante os primeiros 2 meses, eu via as minhas vizinhas e amigas receberem a comida e as sementes. Assim pensei também em fazer parte deste grupo. Então tive a coragem de sentar e falar com o meu marido. Fazer-lhe ver a necessidade de fazer parte deste grupo. Ele resistiu muito, não queria que eu participasse naquele grupo. Mas fui insistindo várias vezes até que passados 2 meses ele acabou aceitando.

“Depois de entrar no grupo, em 2006, os técnicos da Magariro falaram connosco sobre a necessidade da criação de uma associação para produção de hortaliças. Concordàmos com a ideia e constituímos a nossa actual associação.

“Os técnicos da Magariro vieram ensinaram-nos as técnicas de horticultura e disponibilizaram sementes de alface, cebola, couve, tomate e alho. Nessa altura, passàmos a não receber mais comida da Agricultura porque começàmos a produzir e vender hortaliças.

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“Neste momento, dentro da nossa associação, estou a frequentar a alfabetização funcional. É aprender combinando a teoria com a prática! Aprendemos assuntos de agricultura na sala de aula e colocamos em prática durante os nossos trabalhos na machamba. Estou a frequentar o 3º ano e sei ler e escrever sem problemas.

“Para além disso, na associação também fazemos poupança e crédito rotativo. Fui eleita numa votação secreta para o cargo de vice-presidente do fundo de poupança e crédito rotativo numa reunião geral do grupo.

“O que mudou na minha vida, entre 2005 a 2010, é o seguinte: quando eu entrei no grupo era muito fechada. Agora já não tenho medo de falar onde há muitas pessoas, homens e mulheres. Sei ler e escrever muito bem; ajudei o meu marido a comprar tijolos para construir a nossa a casa com o dinheiro que consegui adquirir através da venda de hortaliças. Também consigo comprar comida para família e material escolar para as crianças. Práticamente já não dependo do meu marido para comprar qualquer coisa que necessito.

“A mudança mais significativa na minha vida é que antes eu era muito fechada agora já mudei a maneira de pensar “ndatchindja ndzero."

Farida Maene

“Recuperando sonhos” Distrito de Tambara District, Província de Manica, Agosto de 2010

“Eu escrevo bem e todos dizem que escrevo muito bem!”, Farida Maene diz com muito orgulho e demonstrando grande satisfação consigo mesma. A Farida é uma camponesa de 40 anos, membro da Associação de Horticultores de Nhacolo e conservadora dos registos dum grupo de poupança rotativa no distrito de Tambara na Provincia de Manica.37

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4. PARTICIPAÇÃO PÚBLICA E EQUIDADE DO GÉNERO

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Como grande parte das mulheres de Tambara, a Farida é casada com um homen polígamo que tem outras 3 mulheres, todas camponesas analfabetas, como ela era há 3 anos atrás.

A Farida é a primeira mulher do seu marido e quando casou estava cursando a 1ª classe. Apesar de gostar muito de estudar e sonhar em poder ler e escrever, a Farida, como grande parte das mulheres desta zona, parou de estudar, antes mesmo de conseguir assinar o próprio nome, para se dedicar apenas ao trabalho doméstico e à machamba.

Além dos trabalhos domésticos e da machamba, a Farida teve 5 filhos (actualmente crescidos ) e por isso durante muitos anos não teve muito tempo para cuidar de si mesma.

A Farida conta que à medida que o marido foi arranjando outras mulheres, ela foi caindo numa tristeza sem fim pois sentia-se cada vez mais desvalorizada como mulher, principalmente porque as outras mulheres que ele arranjava eram sempre mais jovens do que ela.

A vida corria sem grandes novidades quando a Farida começou a observar que a sua vizinha Marta conseguia ter o seu próprio dinheiro, produzindo e vendendo hortaliças. Ela começou a ter vontade também de ter o seu próprio dinheiro. Conversando com a Marta, a Farida ficou a saber que poderia fazer parte da Associação de Horticultores de Nhacolo onde aprenderia técnicas de cultivo de produtos hortícolas.

A associação tinha apoio técnico da ONG nacional Magariro, no âmbito do programa de “Meios de Vida Sustentáveis em Moçambique”, financiado pela Oxfam Canadá. Com este apoio, a associação implementava actividades de horticultura, ensinando novas técnicas de produção aos camponeses.

Assim, em 2008, a Farida decidiu juntar-se à associação para ter o seu próprio dinheiro. A Farida descobriu – uma boa surpresa - que a associação também oferecia alfabetização aos membros e assim ela retomou o seu antigo sonho de saber ler e escrever.

Hoje, a Farida está no 3º ano do curso de alfabetização e não só sabe escrever o seu nome perfeitamente como foi eleita conservadora dos registos do Grupo de Poupança Rotativa do qual faz parte. O grupo precisava de um membro que soubesse escrever bem para anotar com precisão os dados relativos aos registos financeiros. Para sorte do grupo, e grande satisfação da Farida, ela foi escolhida para a tarefa da qual fala com tanto orgulho.

Através da associação, a Farida afastou a tristeza, recuperou o seu sonho de estudar; recuperou a auto-estima e o orgulho de si mesma.

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José Mário Machango

“Interpretação da lei para a solução dos casos”Bairro da Mavalane, Província de Maputo, Agosto de 2011

“Chamo-me José Mário Machango e sou agente da polícia desde Dezembro de 2005. Sou solteiro e vivo no bairro de Malhazine.

“A minha postura e a vontade que demonstrei de ajudar o próximo fizeram com que eu participasse em muitas formações que não são relacionadas com o trabalho “normal” da polícia. A primeira foi em 2006 e tinha o objectivo de formar activistas em matéria de HIV/SIDA.

“Em 2008 fui para a formação de educadores de pares na área do HIV/SIDA e em 2011 terminei a formação para me transformar em formador de educadores de pares na mesma área. Estas formações foram organizadas pelo Ministério da Saúde.

“Participei também numa outra formação em 2009 sobre o Aconselhamento e Testagem Voluntária que também foi organizada pelo Ministério da Saúde. O objectivo destas formações era de me dar competências para fazer aconselhamento e acompanhar a testagem voluntária doutros agentes da polícia.

“Também participei num curso sobre menores em conflito com a lei com o objectivo de habilitar a polícia a dar encaminamento a este grupo de crianças.

“Só trabalhei os primeiros três meses a fazer o trabalho de po l í c i a “no rma l ” . Nem houve t empo pa ra de i xa r marcas...Começei a trabalhar no Gabinete de Atendimento da Mulher e da Criança Vítimas de Violência Doméstica através de um teste feito a alguns agentes. Eu saí-me melhor que os meus colegas que também foram avaliados e passei a trabalhar com uma colega que já está no gabinete há tempo. Isso foi em 2006.

“Em 2008, participei pela primeira vez numa formação dada pela WLSA para os agentes que prestam assistência à Mulher e à

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4. PARTICIPAÇÃO PÚBLICA E EQUIDADE DO GÉNERO

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Criança Vítimas de Violência Doméstica. A partir daí passei a participar nessas formações uma vez por mês. Nas formações, que são chamadas de consultório jurídico, recebemos muitos materiais, desde brochuras e posters até às próprias leis que defendem as mulheres. O material tem uma linguagem simples e não tem termos muitos técnicos. Aprendemos a encaminhar as pessoas que aparecem no gabinete para apresentar os seus problemas. As pessoas ficam satisfeitas com os nossos serviços.

“Quando as pessoas estão satisfeitas com os resultado que obtiveram para resolver os seus problemas, elas contam a outras pessoas com os mesmos problemas. Isso fez aumentar a procura pelos serviços do gabinete. O material que distribuimos também fez aumentar o número de pessoas que vêm ao gabinete. As pessoas já sabem o que é violência doméstica e sabem que é um crime. Sabem que não é só bater.

“Antes da existência do gabinete usava-se o sistema tradicional: os costumes e a cultura para aconselhar as pessoas que vinham com este tipo de preocupação. Sim, é isso, havia mais aconselhamento e sensibilização do que encaminhamento. De certa maneira, os direitos da mulher eram violados. Tentavam mudar o comportamento da pessoa. Aceitavam quando a mulher pedia para só assustar o marido, para ele não tornar a bater. Mas não funcionava. O marido voltava a bater porque sabia que nada lhe aconteceria se voltasse a cometer o mesmo crime.

“Mas agora tudo mudou. Quando recebem os casos, os gabinetes encaminham a sério. Os consultórios jurídicos vieram ajudar os gabinetes nesta missão. O consultório jurídico ajuda-nos a dar razão a quem tem razão; a quem merece mesmo. Através dele, aprendemos a interpretar a lei.

“A WLSA também nos dá aconselhamento jurídico quando recebemos algum caso muito difícil de resolver e encaminhar. Ligamos sempre quando estamos com alguma dificuldade.

“Pessoalmente, eu mudei o ditado “faz o que digo mas não o que faço” para “faz o que eu digo e faço.” A minha postura mudou porque sinto que sou um exemplo a seguir. O meu trabalho aqui é sério. Eu faço tudo para não estar do lado do perpretrador. As pessoas respeita-me-ão e prestarão atenção ao que digo se eu fôr sério.

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A minha postura mudou porque sinto que sou um exemplo a seguir.

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“Decidi ingressar no curso de acção social por causa do trabalho que estou a fazer. Maior formação académica vai permitir-me de ajudar melhor e mudar as situações desfavoráveis.

“Agora eu tenho maior confiança no meu trabalho. Sei que estou a resolver um problema com justiça porque sei interpretar o que a lei diz sobre os casos que recebemos aqui no gabinete. Assim, a pessoa que tem que ter razão é realmente a quem é dada a razão. Sei para onde encaminhar as pessoas para resolver as suas preocupações.”

Piedade Faustino Mussá

“Direitos reconhecidos”Bairro de Mavalane, Província de Maputo, Agosto de 2011

“O meu nome é Piedade Faustino Mussa. Tenho 25 e sou mãe solteira, de um par de crianças. Sirvo mesas num restaurante e vivo no Bairro da Maxaquene B.

“Eu não sabia nada de tribunais. Vim aqui para queixar-me do meu parceiro por causa de uma traição. Quando fiquei grávida do meu primeiro filho, perdi-o por causa de confusões. O meu marido sempre viveu com o padrasto e não conhecia o pai. Ele teria que encontrar o pai para essas confusões não acontecerem!. A minha sogra não facilitou o processo quando eu estava grávida mesmo sabendo que a tradição diz que o meu marido devia encontrar o pai verdadeiro dele para as coisas correrem bem na minha gravidez. Finalmente, procuràmos encontrar o pai e tivemos uma menina quando fiquei grávida da segunda vez.

“Arranjàmos uma casa e conseguimos alugà-la para viver. Desde as confusões com a primeira gravidez houve um afastamento entre o meu marido e a famiília da parte do padrasto dele.

“Depois, quando a criança tinha quatro anos, fiquei grávida do meu segundo filho. Isso coincidiu com o meu marido conseguir o primeiro emprego em nove anos. Foi no Instituto Nacional de Seguraça Social. Até pensei em “tirar” (abortar) o bebé por causa da incerteza do comportamento dele. Mas não tirei. 41

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“Ele mudou de atitude quando começou a trabalhar e a ter o dinheiro dele. Ele sempre viveu de dinheiro emprestado pela família. Sentámos e conversámos. Nessa conversa, ele veio com a ideia de comprarmos um terreno e construirmos. Dito e feito, construímos e fomos viver lá.

“Quando estava com mais ou menos sete meses de gravidez fomos passar as festas do Natal em casa do padrasto dele e de lá eu deveria ir para casa da minha mãe para ter o parto. Comecei a estranhar o comportamento do meu marido. Ele nunca estava em casa durante as festas e discutiámos muito.

“Quando passaram as festas e fui para casa da minha mãe para ter o bebé, ele esqueceu-se de mim lá. Nem carinho, atenção ou e apoio em dinheiro.

“Um belo dia decidi voltar para a nossa casa. Fiquei surprendida de encontrar uma moça a lavar a roupa dele. Ela disse-me que era namorada dele e que nem sabia que ele tinha família. Só sabia que ele tinha uma filha. A moça já conhecia toda a família dele e amigos.

“Nessa altura, o meu marido chegou a casa encontrou-me com a moça. Ele não negou nada! Foi atrás da moça para a babar e só voltou no dia seguinte às 5 da manhã, tomou banho, e foi trabalhar normalmente. Fui falar com a minha sogra e ela disse-me que o filho dela era homem e eu é que devia ter avisado antes de ir para minha casa!

“Fiquei na casa alguns dias mas acabei voltando para a casa da minha mãe. Tive o bebé em Fevereiro. Um rapaz!

“O meu marido foi uma vez ao hospital e depois ficou cerca de dois meses sem aparecer. Quando apareceu trouxe 600 meticais para apoiar nas despesas e voltou a desaparecer.

“Eu não tinha dinheiro para cuidar do meu filho. As pessoas aconselhavam-me a apresentar uma queixar na esquadra. Eu não queria porque não queria que o pai dos meus filhos fosse preso. A minha família apoiava-me mas eu não podia pedir muito apoio ao meu pai porque ele estava doente.

“Fui meter a queixa quando a criança tinha quatro meses. O meu objectivo era de assustar o meu marido. Entreguei-lhe a notificação e ele não veio. Na segunda vez, fui levar-lhe a notificação ao trabalho. Os colegas dele tentaram que eu desistisse dizendo que devia conversar com o meu marido.

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É bom que este gabinete existe porque a maneira de resolver os problemas é diferente.

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“Então ele e o padastro foram ao gabinete. Ele disse que já não me queria. Eu ainda o queria mas entendi que ninguém é obrigado a ficar com outro. Eu ainda sou jovem e bonita e de certeza vou conhecer outra pessoa.

“Foi então decidido o valor que eu devia receber como pensão e eté agora ele tem cumprido como deve ser. Ele agora sabe que a pensão das crianças não é um favor.

“Fiquei satisfeita. Fui ajudada a não desistir. Sem esta ajuda, eu teria ficado sentada à espera; a confiar na sorte. Ajudaram-me a levantar e a começar com a cabeça erguida.

“Este gabinete ajuda a todos - homens e mulheres - mas ajuda mais as mulheres porque as mulheres tem mais este tipo de preocupações. É bom que este gabinete existe porque a maneira de resolver os problemas é diferente. Na família, cada um só pensa na sua parte. Como mulher eu sinto-me protegida. Só as leis podem proteger as mulheres!”

Cecilia João

“As mulheres são capazes de grandes feitos”Distrito de Tambara, Província de Manica, Novembro de 2011

“Comecei a trabalhar com a Magariro em 2002 e cresci muito na organização, como pessoa e como trabalhadora. Várias formações e reflexões, no âmbito da parceiria da Magariro com a Oxfam Canadá, levaram-me a entender melhor as dinámicas da desigualdade entre os homens e as mulheres e a conhecer as razões por detràs das atitudes que influenciam negativamente os direitos e o estatuto das mulheres nas familias e nas comunidades. Na Magariro aprendemos muito porque partilhamos as nossas experiências e as nossas ideias 43

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abertamente. Não há chefe que manda, conversamos ao mesmo nível.”

“No início do SLAP, a Cecilia foi escolhida para fazer parte da equipa de campo da Magariro no Distrito de Tambara. Ela era a única mulher na altura; pouco tempo depois uma outra colega junto-se à equipa.

“O programa mudou muitas coisas na vida das pessoas de Tambara. No inicio, eu era a única mulher como trabalhadora de campo no distrito; havia só 2 funcionárias nos escritórios da administração. Quando andava de mota, os homens e as mulheres gritavam e perseguiam-me, não acreditando que uma mulher pudesse dirigir uma motorizada.

“Quando faziamos encontros, as pessoas chegavam com sacos na esperança que íamos dar-lhes comida ou qualquer coisa. Foi um grande trabalho para eliminar esta dependência; dar confiança às pessoas, e particularmente às mulheres, para elas experimentarem e acreditarem que podem realizar grandes coisas! “Actualmente há mais mulheres em Tambara a desempenhar papeis diferentes nas suas comunidades. Há mulheres directoras de escolas, há duas chefes de localidades e uma chefe de posto administrativo em Búzua. Isto é um progresso enorme para todos! Nas associações, algumas mulheres são líderes e outras participam no conselho consultivo do distrito. Isto era impensável em 2005.

“Nos grupos de poupança e crédito (PCR), as mulheres fazem tudo sózinhas, elas lideram e fazem a gestão. Até temos um grupo de PCR em Nhacafula, liderado por uma mulher, e onde um régulo (chefe tradicional) é um membro simples. Antes ninguém aceitaria que um régulo fosse orientado por uma mulher.

“Em Tambara, o exemplo de maior participação das mulheres propagou-se por todo o lado. A minha organização decidiu colocar mulheres a trabalhar em Tambara, um distrito muito isolado e com práticas culturais que descriminam as mulheres. Demonstramos a importância da mudança fazendo-a nós próprios. A acção e o exemplo têm muito mais força que as palavras!”

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Em Tambara, o exemplo de maior participação das mulheres propagou-se por todo o lado.

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Mudanças Significativas

As histórias contidas na brochura demonstram que aumentar o acesso das pessoas ao conhecimento e promover novas habilidades contribui para mudar as suas vidas. Muitos Moçambicanos, nas zonas rurais, tem acesso limitado à educação formal ou à formação e estão sedentos de conhecimentos, seja em termos de técnicas agrícolas, criação de animais, alfabetização, participação e planificação, ou informações relacionadas com a transmissão, prevenção, testagem e tratamento do HIV.

A participação das pessoas apresentadas nesta brochura em actividades de troca de experiências, sessões de formação práticas e programas de alfabetização funcional, permitiu-lhes usarem os conhecimentos adquiridos, pondo-os em prática, e atingirem resultados verdadeiramente positivos.

Na zona urbana de Moçambique, muitas esquadras possuem Gabinetes de Atendimento às Mulheres e Crianças Vítimas de Violência Doméstica, onde estas recebem apoio legal. A parceiria entre as organizações da sociedade civil e o governo neste âmbito, provou ser um elemento muito importante no fortalecimento do papel e funcionamento desses Centros. 45

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Mudança Individual

As mulheres e os homens ganharam muito com o aumento dos seus conhecimentos, que adquiram através da participação em actividades práticas organizadas pelos parceiros locais. As mulheres e os homens melhoraram as suas habilidade agrícolas e pecuárias, o que resultou não só num aumento da produção e da productividade mas também num aumento do rendimento. Os conhecimentos adquiridos também proporcionaram às mulheres e aos homens uma oportunidade para diversificarem a sua produção agrícola e animal e as suas opções de geração de rendimento e comercialização. Como resultado, a segurança alimentar e de rendimento dessas famílias rurais aumentou.

Uma das mudanças mais poderosas na vida das mulheres está relacionada com a habilidade de ler e escrever. Para muitas mulheres, o acesso à educação é negado, o que as mantêm dependentes e desprovidas de confiança para atingir o seu máximo potencial como agentes de mudança social.

Para solucionar esta situação, durante a sua implementação, o programa priorizou a alfabetização funcional. Os resultados atingidos produziram um efeito libertador para muitas mulheres. A alfabetização e os esquemas de poupança e crédito permitiram a muitas mulheres desenvolver pequenos negócios, melhorando dessa forma a sua independência e confiança e assegurar um rendimento. Outro passo importante para as mulheres foi o acesso á informação sobre os seus direitos e aos serviços (saúde, justiça e polícia) adequados para exercê-los.

Através da desmistificação das vias de transmissão de HIV, da informação sobre as opções de prevenção, testagem e tratamento, muitas mulheres, particularmente as que se envolvem no sexo comercial, tornaram-se conscientes da sua vulnerabilidade à infecção e aprenderam como usar preservativos e manter a testagem regular. A sensibilização sobre o HIV levou muitas pessoas na comunidade a procurar testagem e tratamento. Tantas vidas foram assim preservadas!

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Mudança colectiva

Através do aumento da confiança ao nível individual, a mudança pôde difundir-se. Grupos de camponeses estão a organizar-se. Uma vez que esses grupos são legalizados, a voz deles é reconhecida não só no seio das suas comunidades mas muito além. Existe um reconhecimento crescente de que eles têm voz e um direito de serem ouvidos e que podem contribuir constructivamente para a agenda de desenvolvimento do país.

Melhorar o conhecimento também provocou mudanças na maneira como as comunidades pensam e agem além de transformar as suas normas informais. Esta tem sido a experiências em várias comunidades em relação às práticas culturais de Kupita Kufa ou purificação de viúvas. Uma prática arriscada que envolvia outrora relações sexuais desprotegidas foi substituída em algumas comunidades por um banho de ervas, devido à compreensão por parte de alguns líderes tradicionais dos riscos de transmissão do HIV.

Em geral, o papel tradicional das mulherse está sendo posto em causa. Há cada vez mais mulheres envovidas em actividades comerciais, criação de gado e outras actividades não tradicionais. Através da promoção de díalogos comunitários que desafiams normas culturais profundamente enraizadas, o programa abalou algumas fundações sobre as quais se baseava a subordinacão das mulheres.

As opiniões das mulheres sobre os assuntos de desenvolvimento são mais solicitadas; as suas prioridades são reconhecidas e as suas vozes estão a tornar-se mais respeitadas. Os homens começam a reconhecer a força e o valor das mulheres na família e na comunidade.

Muitas das mudanças acima mencionadas foram estimuladas pelo trabalho dos actores de desenvolvimento locais. Através dum esforço determinado para melhorar o profissionalismo, as organizações não-governamentais tornaram-se actores mais competentes e confiantes e defendem um quadro politico-legal sustentável e justo que responde às necessidades das comunidades locais.

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Conclusão

Depois de 6 anos de trabalho conjunto, a Oxfam Canadá, as organizações parceiras, e as comunidades locais tinham várias histórias para contar. As histórias contadas nesta pulbicação são a prova de tudo o que pode ser alcançado quando as pessoas se sentem confiantes, capazes e apoiadas.

Com dedicação, compromisso, abertura e respeito as pessoas podem alcançar o seu potencial máximo, melhorar não só os seus meios de vida - a produção e as condições de vida – mas também a confiança em si próprios. As normas sociais e culturais podem mudar e as mulheres podem ser valorizadas e reconhecidas pelas suas energias, criatividade e contribuição no seio das famílias e comunidades. O Programa de Agricultura e Meios de Vida Sustentáveis foi uma jornada recompensadora com muitas lições aprendidas em todos os sentidos. Para a Oxfam Canadá, foi uma honra trabalhar com as organizações da sociedade civil para construir o capital social e as capacidades das comunidades do centro de Moçambique.

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Ficha técnica

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A FACE HUMANA DA MUDANÇA

A Oxfam Canadá reconhece e agradece a contribuição das pessoas que narraram as suas histórias, daqueles que as recolheram assim como de todos os que participaram na elaboração desta publicação.

Contadoras/es

TambaraAlberto BunaiAzélia BengalaBeriati Cancheca Calongoro LunduCalisto Micajo Candeeiro Cecília JoãoFarida Maene Gilberto Moises CanhezeMarta António

GuroDinis Maqui Maria Deniasse

MutararaChico InácioEstevão Quene eMaria Helena Abrão

MaputoJosé Mário MachangoPiedade Faustino Mussá

Colectoras/es de estorias

António Nhanez, MagariroCecília João, MagariroHelena Chiquele, Oxfam Canadá Maria Clara Paulo – OMES Nélia Taimo – Consultora Sylvie Desautels, Oxfam CanadáTomás Canhore – Magariro

Edição

Giovanni Sgobaro Helena ChiqueleJudy Walls Sylvie DesautelsVicky Schreiber Maria José da Viega Coutinho

Fotos

Carlos DavaCecília João Helena ChiqueleSylvie DesautelsAlberto da Silva

Layout e ImpressãoAndrew Chisholm

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Com apoio de:

As histórias contadas nesta publicacção são a prova de tudo o que pode ser alcançado quando as pessoas se sentem confiantes, capazes e apoiadas.

Com dedicação, compromisso, abertura e respeito as pessoas podem alcançar o seu potencial máximo, melhorar não só os seus meios de vida a produção e as condições de vida- mas também a confiança em si próprios.

As normas sociais e culturais podem mudar e as mulheres podem ser valorizadas e reconhecidas pelas suas energias, criatividade e contribuição para as suas famílias e as suas comunidades.

© 2012, Oxfam Canada

www.oxfam.ca

As opiniões expressas nesta pulbicação são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente as políticas ou posições oficiais da Oxfam ou organizações de apoio e doadores.

A FACE HUMANA DA MUDANÇA Programa de Agriculturae Meios de Vidas Sustentáveis

Moçambique: 2005 – 2011