a extradição-direito internacional_publico

7
A Extradição 1 Professor RAIMUNDO Todos os países, em suas legislações penais, buscam reprimir o crime. Desta forma, há um sentimento internacional de cooperação no combate à criminalidade, consistindo a extradição meio hábil de impedir que um indivíduo alcance impunidade simplesmente por transpor uma fronteira. Manoel Coelho Rodrigues, em <<A Extradição do Direito Brasileiro e na Legislação Comparada>>, Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1930, tomo I, pág. 3, define extradição como <<ato da vontade soberana de um Estado que entrega à justiça repressiva de outro Estado um indivíduo, por este perseguido e reclamado, como acusado ou já condenado por determinado fato sujeito à aplicação da sua lei penal>> Assim, extradição é o ato de entrega que um Estado faz de um indivíduo procurado pela Justiça para ser processado ou para a execução da pena, por crime cometido fora do seu território, a outro Estado que o reclama e que é competente para promover o julgamento e aplicar a punição. Diferença entre Extradição e Expulsão A extradição difere da expulsão, pois esta visa a retirada compulsória de um estrangeiro, por ato unilateral, espontâneo e voluntário de um Estado, quando o indivíduo passa ser considerado nocivo, constituindo ameaça à segurança desse Estado. Normalmente, a expulsão decorre de crime cometido no país que a efetiva. Trata – se, portanto, de ato de defesa interna. Já extradição decorre de crime cometido no exterior, sendo ato bilateral, baseado em tratado ou oferecimento de reciprocidade, visando à cooperação internacional no combate ao crime. Extradição Ativa e Passiva A extradição pode ser ativa ou passiva. Será ativa quando solicitada pelo Brasil a outro Estado. Será passiva quando requerida por outro Estado ao Brasil. Tanto um quanto outro subordinam – se às disposições contidas em tratado. Na inexistência de tratado, regulam a extradição as normas internas vigentes no país requerido, bem como as normas de Direito Internacional. No Brasil, a extradição passiva está regulada pela Lei nº 6.815/80, no Título IX, artigos 76 a 94 e no caput e parágrafo único do art. 110 do Decreto nº 86.715/81. 1

Upload: erivansilva

Post on 13-Sep-2015

213 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Extradiçao

TRANSCRIPT

A Extradio

A Extradio

Professor RAIMUNDO

Todos os pases, em suas legislaes penais, buscam reprimir o crime.

Desta forma, h um sentimento internacional de cooperao no combate criminalidade, consistindo a extradio meio hbil de impedir que um indivduo alcance impunidade simplesmente por transpor uma fronteira.

Manoel Coelho Rodrigues, em , Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1930, tomo I, pg. 3, define extradio como

Assim, extradio o ato de entrega que um Estado faz de um indivduo procurado pela Justia para ser processado ou para a execuo da pena, por crime cometido fora do seu territrio, a outro Estado que o reclama e que competente para promover o julgamento e aplicar a punio.

Diferena entre Extradio e Expulso

A extradio difere da expulso, pois esta visa a retirada compulsria de um estrangeiro, por ato unilateral, espontneo e voluntrio de um Estado, quando o indivduo passa ser considerado nocivo, constituindo ameaa segurana desse Estado. Normalmente, a expulso decorre de crime cometido no pas que a efetiva. Trata se, portanto, de ato de defesa interna.

J extradio decorre de crime cometido no exterior, sendo ato bilateral, baseado em tratado ou oferecimento de reciprocidade, visando cooperao internacional no combate ao crime.

Extradio Ativa e Passiva

A extradio pode ser ativa ou passiva. Ser ativa quando solicitada pelo Brasil a outro Estado. Ser passiva quando requerida por outro Estado ao Brasil.

Tanto um quanto outro subordinam se s disposies contidas em tratado. Na inexistncia de tratado, regulam a extradio as normas internas vigentes no pas requerido, bem como as normas de Direito Internacional.

No Brasil, a extradio passiva est regulada pela Lei n 6.815/80, no Ttulo IX, artigos 76 a 94 e no caput e pargrafo nico do art. 110 do Decreto n 86.715/81.

A Lei n 6.815/80 no dispe de dispositivos reguladores da extradio ativa, por se tratar da lei destinada a estrangeiros. O procedimento interno para extradio ativa continua sendo indicado pelo art. 20 do Decreto Lei n394, de 28 de Abril de 1938, devendo o pedido de extradio ser dirigido ao Ministrio da Justia, . Em caso de urgncia, o Ministrio da Justia solicitar, ainda, as necessidades providncias para que seja pedida a priso preventiva do extraditando.

Necessidade de Tratado ou de Promessa de Reciprocidade

As normas jurdicas estrangeiras nem sempre so coincidentes, razo pela qual a viabilidade do pedido de extradio depende da existncia de tratado ou da formalizao de promessa de reciprocidade. A aceitao da promessa de reciprocidade de competncia do Poder Executivo, por se tratar de juzo poltico, cabvel representao internacional do Estado, inerente a esse Poder.

Pressupostos do Pedido de Extradio

So pressupostos do pedido de extradio:

a) existncia de processo criminal do qual resulte a condenao pena privativa de liberdade superior a um ano de recluso;

b) mandado de priso contra o extraditando, expedido por juzo ou tribunal competente;

c) ser o ato motivador do pedido tambm considerado crime no Estado requerido;

d) no estar a ao penal prescrita, nem extinta a punibilidade, segundo a lei brasileira ou a do Estado requerido.

e) no estar o extraditando respondendo a processo ou j condenado ou absolvido no pas requerido pelo mesmo fato em que se fundar o pedido;

f) o fato no constituir crime poltico;

g) o extraditando no houver de responder, no Estado requerente, perante tribunal ou juzo de exceo.

Constitui elemento fundamental da extradio a formalizao do pedido de Governo a Governo, no podendo o Estado agir espontaneamente. Na extradio passiva, se o pedido estiver fundamentado em promessa de reciprocidade, o mesmo deve ser apresentado com os seguintes elementos:

a) quando se tratar de simples acusado: cpia autntica do mandado de priso ou pea equivalente, emanando de autoridade judiciria competente;

b) quando se tratar de condenado: cpia autntica ou certido da sentena condenatria e certido onde conste que a pena no foi totalmente cumprida e do tempo que faltou para seu cumprimento;

Estas peas devero conter a indicao precisa do fato imputado, o local, data, natureza e circunstncias nas quais o crime foi cometido.

c) qualificao e identificao minuciosa do extraditando, para efeito de recolhimento, inclusive com fotografias e impresses digitais se existentes;

d) cpias do texto legais sobre o crime, a pena e sua prescrio;

e) elementos probatrios ou indcios da entrada ou permanncia de pessoas reclamada no territrio do Estado requerido;

condio indispensvel para a formalizao do pedido a apresentao de tais documentos traduzidos oficialmente para o idioma do Estado ao qual os mesmos se destinam.

O pedido dever ser apresentado pela via diplomtica.

Existindo tratado de extradio, o pedido dever ser instrudo com a documentao nele prevista, razo pela qual desta obra constam todos os tratados firmados pelo Brasil.

importante assinalar que na formalizao do pedido de extradio ativa devero ser levadas em considerao as legislaes estrangeiras, principalmente as de pases anglo saxnicos, que diferem bastante da nossa. Esses pases, quando do julgamento da extradio, do maior destaque atuao judiciria, ao nexo causal entre a conduta do extraditando e o crime ao contraditrio e ao poder de apreciao da prova a ser produzida.

Pessoas Passveis de Extradio

Em linhas gerais, qualquer pessoa que tenha cometido crime passvel de extradio. A condio da pessoa e sua nacionalidade, todavia, podem construir elementos impeditivos da medida extradicional.

Embora os antigos e modernos publicistas brasileiros venham defendendo a extradio passiva de nacionais, esta vedada expressamente pela Constituio Federal, em seu art. 5, inciso LI que dispe:

Assim, inobstante a Lei Maior no admitir a extradio de brasileironato, esta pode ocorrer com relao ao naturalizado em duas hipteses:

a) em caso de crime comum praticado antes da naturalizao; ou

b) em hiptese de comprovado envolvimento em trfico ilcito de entorpecentes e drogas.

Essas excees permitem a extradio do brasileiro naturalizado, independentemente de processo administrativo para declarao de nulidade do ato concessivo da naturalizao.

Cabe ressalvar que a extradio do naturalizado condiciona se prestao de compromisso de reciprocidade especfico por parte do Estado requerente.

Da Priso Preventiva para a Extradio

A Constituio de 1998 revogou o dispositivo da Lei n 6.815/80 (art. 81), que atribua competncia ao Ministro da Justia para decretar a priso preventiva do extraditando. Tal competncia passou a ser do Ministro Relator do processo no Supremo Tribunal Federal, sorteado para, ser for o caso, decret la, ficando o mesmo prevento para a direo do processo de extradio.

Da Atuao do Ministrio da Justia nos Processos de Extradio

Cabe exclusivamente ao Ministro da Justia dar o curso administrativo aos procedimentos de extradio.

Na falta de qualquer elemento necessrio formalizao ou instruo do pedido, o Ministrio da Justia se encarregar de solicit-los autoridade judiciria competente. Pela mesma via, devero ser remetidas as informaes ou documentos complementares, quando exigidos pela autoridade do Estado requerido.

Na extradio ativa, compete, ainda, ao Ministrio da Justia a adoo de providncias relativas escolta policial destinada a receber o extraditando e acompanh-lo durante o retorno ao territrio nacional.

Na extradio passiva, cabe ao Ministrio da Justia encaminhar ao Supremo Tribunal Federal a solicitao do Estado requerente, feita por via diplomtica. Aps o julgamento do pedido e deferida a extradio, retorna o processo esfera administrativa para a comunicao Misso Diplomtica do Estado requerente e incio da contagem do prazo para a retirada do extraditando do territrio nacional.

Competncia para Julgamento da Extradio Passiva

Nos temos do art. 102, I, g, da Constituio Federal compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar, originalmente, a extradio solicitada por estrangeiro.

O Regimento Interno Da Suprema Corte que disciplina o processo e julgamento da extradio, assegurando ao extraditando ampla defesa e, ao Estado requerente, o direito de acompanhamento do feito por advogado constitudo.

A Lei n 6.815/80 dispe, em seu artigo 83, que . Os embargos declaratrios, todavia, so admitidos na jurisprudncia do STF, assim como habeas corpus.

Do Principio da Extraterritorialidade da Lei Penal

A alnea b do inciso II do art. 7 do Cdigo Penal introduz no ordenamento jurdico ptrio o principio da personalidade ativa para os crimes cometidos por brasileiros no exterior. Fundamenta o principio resistncia que os pases, em geral, tm de extraditar seus nacionais. Ocorrendo a hiptese de o criminoso ser nacional do Estado requerido, sendo inexplicvel a extradio, a autoridade judiciria do Estado requerente poder encaminhar pedido no sentido de que o indivduo seja processado e julgado perante a Justia estrangeira, segundo suas leis.

A denncia dever conter todos os elementos de provas disponveis para o processo e julgamento do inculpado pelo juzo competente do Estado requerido, caso suas leis assim permitam.

Havendo sentena ou deciso definitiva sobre causa, dever ser a mesma anexada denncia. Os documentos formalizadores do pedido de extradio, bem como os destinados denncia, devero ser encaminhados ao Ministrio da Justia.

Da Entrega do Extraditando e suas Condies

Como j dito, termina a fase judicial da extradio, inicia se a Segunda fase administrativa fase administrativa do processo, referente entrega do extraditando.

Certas circunstncias, contudo, podem adiar a entrega do extraditando, acarretando, excepcionalmente, a suspenso temporria da extradio.

O art. 89 da Lei n 6.815/80 prev:

.

O art. 90 da mencionada Lei, todavia, possibilita a entrega do extraditando, ainda que responda a processo ou esteja condenado por contraveno.

Ao receber o extraditando, o Estado requerido dever assumir os seguintes compromissos, caso os mesmos j no estejam expressamente previstos em eventual tratado de extradio, nos termos do art. 91 do Estatuto dos Estrangeiros.

I de no ser o extraditando preso nem processado por fatos anteriores pedido;

II de computar o tempo de priso que, no Brasil, foi imposta por fora de extradio;

III de comutar em pena privativa de liberdade a pena corporal ou de morte, ressalvados, quanto ltima, os casos em que a lei brasileira permitir a sua aplicao;

IV de no ser o extraditando entregue, sem consentimento do Brasil, a outro Estado que o reclame; e

V de no considerar qualquer motivo poltico para agravar a pena.

Importante ressaltar que, por analogia, a prestao dos compromissos exigido do Estado requerido para entrega do extraditando tambm poder ser invocada pelo brasileiro cuja extradio o Pas obtiver.

O Poder Executivo o depositrio dos compromissos, cabendo-lhe velar pelo cumprimento dos mesmos. No h, todavia, impedimento a que o Supremo Tribunal Federal aprecie a questo ou estabelea qualquer condicionante.

Dos Objetos e Instrumentos do Crime Encontrados em Poder do Extraditando

O art. 92 das Lei n 6.815/80 dispe que: