a experiÊncia das mulheres com cÂncer … dados internacionais de catalogação na publicação...

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Governo do Estado do Pará Universidade do Estado do Pará Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Programa de Pós-Graduação em Enfermagem Mestrado Tatiana Menezes Noronha Panzetti A EXPERIÊNCIA DAS MULHERES COM CÂNCER DE COLO DE ÚTERO DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO Belém-Pa 2013

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Page 1: A EXPERIÊNCIA DAS MULHERES COM CÂNCER … Dados Internacionais de Catalogação na publicação Biblioteca do Curso de Enfermagem da UEPA – Belém - Pá P199e Panzetti, Tatiana

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Governo do Estado do Pará

Universidade do Estado do Pará

Centro de Ciências Biológicas e da Saúde

Programa de Pós-Graduação em Enfermagem – Mestrado

Tatiana Menezes Noronha Panzetti

A EXPERIÊNCIA DAS MULHERES COM CÂNCER DE COLO DE ÚTERO DO DIAGNÓSTICO AO

TRATAMENTO

Belém-Pa 2013

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TATIANA MENEZES NORONHA PANZETTI

A EXPERIÊNCIA DAS MULHERES COM CÂNCER

DE COLO DE ÚTERO DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Enfermagem da Universidade do Estado do Pará (UEPA), como requisito para obtenção do título de Mestre em Enfermagem. Área de Concentração: Enfermagem. Linha de Pesquisa: Educação e tecnologias de enfermagem para o cuidado em saúde a indivíduos e grupos sociais. Orientadora: Profª. Dra. Mary Elizabeth de Santana.

Belém-Pa

2013

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Dados Internacionais de Catalogação na publicação

Biblioteca do Curso de Enfermagem da UEPA – Belém - Pá

P199e Panzetti, Tatiana Menezes Noronha

A experiência das mulheres com câncer de colo de útero do diagnóstico ao tratamento /

Tatiana Menezes Noronha Panzetti; Orientadora: Mary Elizabeth de Santana - Belém, 2013.

133 f.; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Universidade do Estado do Pará, Belém, 2013.

1. Câncer 2. Câncer de colo de útero. 3. Enfermagem I. Santana, Mary Elizabeth

(Orient.) II. Título.

CDD: 21 ed. 616.994

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TATIANA MENEZES NORONHA PANZETTI

A EXPERIÊNCIA DAS MULHERES COM CÂNCER DE COLO DE ÚTERO DO DIAGNÓSTICO AO

TRATAMENTO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Enfermagem da Universidade do Estado do Pará (UEPA), como requisito para obtenção do título de Mestre em Enfermagem. Área de Concentração: Enfermagem.

Data da aprovação ____/____/____

Banca avaliadora

________________________________________- Orientadora

Profa. Dra. Mary Elizabeth de Santana

Dra. em Enfermagem (EERP/USP)

Universidade do Estado do Pará – UEPA

___________________________________________ - Examinador Interno

Profa. Dra. Maria Tita Portal Sacramento

Dra. em Enfermagem

Universidade do Estado do Pará – UEPA

___________________________________________ - Examinador Externo

Profa. Dra. Jacira Nunes Carvalho

Dra. em Enfermagem (UFSC)

Universidade Federal do Pará – UFPA

___________________________________________ - Examinador Externo

Prof. Dr. Raymundo Heraldo Maués

Dr. em Antropologia Social (UFRJ)

Universidade Federal do Pará – UFPA

Belém-Pa

2013

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Dedico este trabalho aos meus pais,

pelo amor incondicional e dedicação,

sendo meus maiores exemplos de vida.

Ao meu esposo, Mauro Panzetti, a

quem amo tanto, meu grande amor,

companheiro e incentivador desta

jornada, sempre ao meu lado apoiando

e compartilhando todos os momentos.

Ao nosso filho Lucas, obra de Deus,

que nos concedeu a criação, dando

sentidos as nossas vidas e

proporcionando-me a realização de ser

mãe.

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AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

Todo meu agradecimento ao meu mestre e amigo JESUS, por me fornecer a

energia diária para o fim desta caminhada, ao qual mentalizo todos os dias, “Eu

quero. Eu posso. Eu consigo”. Consegui, e venci!

Aos meus queridos, meus velhos e amigos, Noronha e Darci, muito

obrigada por serem meus pais. Essa vitória é também de vocês. Por toda minha vida

e eternidade eu vou amá-los!

Ao meu grande amor, Mauro Panzetti, meu esposo, amigo e companheiro

de todos os momentos. Saiba que sem você não teria conseguido, foste essencial

por essa vitória. Muito obrigado por existires e fazeres parte de minha vida!

Ao meu filho, Lucas, amado e único em minha vida. A você meu respeito e

dedicação, pois conseguiu compreender a minha ausência para a realização e

término deste estudo.

Aos meus irmãos, Carolina e Júnior, pelo amor e carinho.

Aos meus sogros, Gilberto e Maria, pela ajuda constante com meu filho e

pela torcida pelo meu crescimento profissional.

Aos tios queridos, Amadeu e Vera, pelo carinho e torcida constante.

À minha orientadora, Dra. Mary Elizabeth, que me guiou nesta construção.

Obrigada pelo carinho e amizade em todos os momentos e por acreditar no meu

potencial.

A querida amiga, Marta Solange, por todos os momentos de estudo,

compartilhamento de conhecimentos, companheirismo nesta construção. Amiga,

conseguimos!

A professora e amiga, Mirna Moraes, pelo carinho, palavras de incentivo e

correção ortográfica.

Aos professores, Dra. Maria Tita Portal Sacramento, Dra. Jacira Nunes e

Dr. Raymundo Heraldo Maués que aceitaram participar da banca examinadora e

contribuir com este trabalho.

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A professora Dra. Márcia Fontão Zago, pelas contribuições científicas a

essa pesquisa.

A todos os professores da Pós-Graduação em Enfermagem que tornaram

possíveis a minha formação, a minha gratidão por compartilharem a sua experiência.

As queridas colegas do mestrado, que compartilharam seus

conhecimentos, suas vivências, alegrias e dificuldades.

A Coordenadora do Curso de Enfermagem da Universidade da Amazônia-

UNAMA, Professora Dra. Maria Tita Portal Sacramento, meus agradecimentos pela

compreensão nos momentos de ausência e incentivo na carreira profissional.

Aos colegas de trabalho da Universidade da Amazônia- UNAMA, pelo

estímulo e torcida para o término do estudo.

As mulheres do estudo, obrigada pela disponibilidade e oportunidade de

compartilhar suas experiências de vida em momento tão difícil.

Ao Hospital Ophir Loyola, por autorizar a realização da pesquisa e por

todos os momentos de aprendizado nesta Instituição.

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Maria, Maria É um dom, uma certa magia Uma força que nos alerta Uma mulher que merece Viver e amar Como outra qualquer Do planeta

Maria, Maria É o som, é a cor, é o suor É a dose mais forte e lenta De uma gente que rí Quando deve chorar E não vive, apenas aguenta

Mas é preciso ter força É preciso ter raça É preciso ter gana sempre Quem traz no corpo a marca Maria, Maria Mistura a dor e a alegria

Mas é preciso ter manha É preciso ter graça É preciso ter sonho sempre Quem traz na pele essa marca Possui a estranha mania De ter fé na vida....

Mas é preciso ter força É preciso ter raça É preciso ter gana sempre Quem traz no corpo a marca Maria, Maria Mistura a dor e a alegria...

Mas é preciso ter manha É preciso ter graça É preciso ter sonho sempre Quem traz na pele essa marca Possui a estranha mania De ter fé na vida....

(Maria, Maria - Milton Nascimento)

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RESUMO

PANZETTI, Tatiana Menezes Noronha. A experiência das mulheres com câncer de colo de útero do diagnóstico ao tratamento. 2013. 131f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Universidade do Estado do Pará, Belém, 2013. Este estudo tem como objetivo: Identificar como as mulheres com câncer de colo de útero constroem a experiência do diagnóstico ao tratamento, integrando-os em sentidos socialmente construídos. Pesquisa de abordagem qualitativa do tipo descritivo, com um olhar nas bases conceituais da antropologia da saúde. Os sujeitos foram 30 mulheres maiores de 18 anos, que tinham o diagnóstico de câncer de colo de útero. A coleta de dados foi realizada por meio da técnica de entrevista semi estruturada. Foi aplicado um instrumento organizado em duas partes: a primeira com questões fechadas que abordam o perfil sócio cultural das entrevistadas, e a segunda parte com quatro questões abertas fundamentadas no Modelo Explicativo (ME) proposto por Kleinman (1988), que procura explicar a enfermidade a partir de questões como: o tempo e modo do início dos sintomas, o curso da doença, o tratamento e problemas sociais. Desenvolvido no Hospital Ophir Loyola, referência em câncer no Estado do Pará. Para análise foi utilizada a técnica de análise de conteúdo. Foram identificadas duas categorias: O diagnóstico, e o tratamento. A primeira categoria o diagnóstico, aborda a identificação das alterações corporais pelas mulheres, a trajetória e a dificuldade de acesso ao serviço de saúde, os sentidos dados pelas mulheres à experiência, aceitação e reconstrução de valores após o diagnóstico. Estas etapas foram vividas com dúvidas, incertezas, medos e experienciada como momento de sofrimento, mediado pelos sentidos atribuídos à doença. A segunda categoria o tratamento, aborda as dificuldades em buscar assistência, as crenças no tratamento informal e popular, o apoio recebido e as mudanças no decorrer do tratamento do câncer. Pode-se identificar que as mulheres construíram um sentido para sua experiência de viver o diagnóstico e tratamento do câncer de colo de útero, que foi interpretado como momento de sofrimento de vida. Experiência assinalada por sentimentos ambivalentes de sofrimentos e lutas para prolongamento da vida. Assim, os estudos que trazem a abordagem da antropologia da saúde favorecem conhecer a realidade que é apresentada pelos sujeitos sociais, por tal motivo são relevantes para o universo acadêmico, visto propiciar ao pesquisador contemplar a realidade sócio- cultural. É importante que o enfermeiro conheça essas experiências, para subsidiar a assistência às diversas dimensões que constituem a experiência de ter câncer, inserindo este conhecimento na prática do cuidado e, consequentemente, um melhor acolhimento assistencial à mulher com câncer de colo de útero.

Palavras-chave: “Câncer de colo de útero”, “Neoplasia Uterina”, “Enfermagem”.

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ABSTRACT

PANZETTI, Tatiana Menezes Noronha. The experience of women with cervical

cancer of the uterus of diagnosis treatment. In 2013. 131f. Dissertation (Master's

in Nursing) - University of Pará, Belém, 2013.

This study aims to: Identify how women with cancer of the cervix build the experience from diagnosis to treatment, integrating them into socially constructed meanings. Qualitative research, descriptive, with a look at the conceptual foundations of health anthropology. The subjects were 30 women aged 18 years who had been diagnosed with cancer of the cervix. Data collection was conducted through semi -structured interview technique. An instrument was organized in two parts: the first with closed questions that address the socio-cultural profile of the respondents, and the second part with four open questions based on the Explanatory Model (LM) proposed by Kleinman (1988 ), which seeks to explain the disease to from issues such as: the time and mode of onset of symptoms, course of illness, treatment and social problems. Developed in Ophir Loyola Hospital, referral in cancer in the state of Pará For analysis we used the technique of content analysis. We identified two categories: diagnosis and treatment. The first category diagnosis, discusses the identification of bodily changes for women, the trajectory and difficult access to health services, the directions given by women to experience, acceptance and reconstruction of values after diagnosis. These steps were experienced with questions, doubts, fears and experienced as a moment of distress, mediated by the meanings attributed to the disease. The second class treatment, discusses the difficulties in seeking care, treatment beliefs in informal and popular, the support received and the changes in the course of cancer treatment. You can identify which women built a meaning to your experience of living the diagnosis and treatment of cancer of the cervix, which was interpreted as a moment of suffering life. Experience marked by ambivalent feelings of suffering and struggles for life extension. Thus, studies that bring the approach to health anthropology know favor the reality that is presented by the social subjects, therefore are relevant to the academic world, as providing the researcher to consider the socio-cultural reality. It is important that nurses know these experiences, to subsidize the care of various dimensions that constitute the experience of having cancer by entering this knowledge in the practice of care and, consequently, a better host assistance to women with cancer of the cervix. Keywords: “Cancer of the cervix ", “Uterine Neoplasia ", “Nursing ".

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Representação dos MEs e da rede semântica da enfermidade....... 51

Quadro 2 Esquema das categorias e subcategorias da experiência da

mulher com câncer de colo de útero.................................................

72

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1- Distribuição das mulheres com câncer de colo de útero de acordo

com a idade, HOL – Belém - Pará – 2013..........................................................

64

TABELA 2- Distribuição das mulheres com câncer de colo de útero de acordo

com o tempo de diagnóstico, HOL – Belém - Pará – 2013.................................

65

TABELA 3- Distribuição das mulheres com câncer de colo de útero de acordo

com cor/raça, HOL – Belém - Pará – 2013..........................................................

65

TABELA 4- Distribuição das mulheres com câncer de colo de útero de acordo

com o estado civil, HOL – Belém - Pará – 2013.....................................................

66

TABELA 5- Distribuição das mulheres com câncer de colo de útero de acordo

com o grau de escolaridade, HOL – Belém - Pará – 2013...................................

67

TABELA 6- Distribuição das mulheres com câncer de colo de útero quanto

ocupação, HOL – Belém - Pará – 2013..............................................................

68

TABELA 7- Distribuição das mulheres com câncer de colo de útero quanto

vícios de tabagismo, etilismo e drogas ilícitas, HOL – Belém - Pará – 2013.......

69

TABELA 8- Distribuição das mulheres com câncer de colo de útero quanto

renda mensal, HOL – Belém - Pará – 2013.........................................................

69

TABELA 9- Distribuição das mulheres com câncer de colo de útero quanto

religião, HOL – Belém - Pará – 2013...................................................................

69

TABELA 10- Distribuição das mulheres com câncer de colo de útero quanto o

inicio da atividade sexual, HOL – Belém - Pará – 2013.......................................

70

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LISTA DE ABREVIATURAS

ANVISA- Agência Nacional de Vigilância Sanitária

AGUS- Atipias de Células Glandulares de Significado Indeterminado

ASGUS- Atipias de células glandulares de significado indeterminado

BVS- Biblioteca Virtual de Saúde

BDENF- Bases de Dados de Enfermagem

CACON- Centro de Assistência em alta Complexidade em oncologia

CEP- Comitê de ética em pesquisa

DATASUS- Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde

DC- Departamento de Câncer

DST- Doenças Sexualmente Transmissíveis

EPOL- Empresa Pública Ophir Loyola

FOSP- Fundação Oncocentro de São Paulo

HIV- Vírus da Imunodeficiência Adquirida

HOL- Hospital Ofir Loiola

HPV- Papiloma vírus Humano

IARC- Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer

IBCC- Instituto Brasileiro de Controle do Câncer

INCA- Instituto Nacional do Câncer

LILACS- Literatura Latino-Americana em Ciência e Saúde

LOS- Lei Orgânica da Saúde 8.080

ME- Modelo Explanatório

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MS- Ministério da Saúde

MG- Minas Gerais

NAEE- Núcleo de Acolhimento do Enfermo Egresso

NIC- Neoplasia Intra-epitelial cervical

NOAS- Normas Operacionais de Assistência a Saúde

OMS- Organização Mundial de Saúde

PAISM- Programa de assistência Integral a saúde da Mulher

PCCU- Exame Preventivo Cérvico Uterino

PNAO- Política Nacional de Atenção Oncológica

PRÓ – ONCO- Programa de Oncologia

PSF- Programa Saúde da Família

SAE - Sistematização da Assistência de Enfermagem

SCIELO- Scientific Eletronic Library Online

SIM- Sistema de Informação de Mortalidade

SIH- Sistema de Informação de Internação Hospitalar

SISCOLO- Sistema de Informação do câncer de colo de útero

SUS- Sistema Único de Saúde

TCLE- Termo de consentimento livre esclarecido

UEPA- Universidade do Estado do Pará

USP- Universidade de São Paulo

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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1- CONSIDERAÇÕES INICIAIS................................................. 17

CAPÍTULO 2- APROXIMAÇÃO COM A TEMÁTICA DO ESTUDO................ 25

2.1 A EVOLUÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE ATENÇÃO A SAÚDE

DA MULHER E DAS AÇÕES DE CONTROLE DO CÂNCER DE COLO DE

ÚTERO................................................................................ .........................

25

2.2 O CÂNCER DE COLO DE ÚTERO.......................................................... 29

2.3 A CULTURA E O CÂNCER...................................................................... 39

CAPITULO 3- O REFERENCIAL TEÓRICO...................................................... 45

3.1O REFERENCIAL TEÓRICO DA ANTROPOLOGIA INTERPRETATIVA... 45

3.2 O REFERENCIAL TEÓRICO DA ANTROPOLOGIA MÉDICA.................. 46

CAPITULO 4- TRAJETÓRIAS METODOLÓGICAS...................................... 54

4.1TIPOS DE ESTUDO E ABORDAGEM METODOLÓGICA......................... 54

4.2 CAMPO DE ESTUDO.................................................................................... 55

4.3 APROXIMAÇÃO DO CAMPO E DOS SUJEITOS DA PESQUISA............. 56

4.4 DESCRIÇÃO DA TÉCNICA DE COLETA DE DADOS.................................. 57

4.5 O PROCESSO DE ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS............ 58

4.6 ASPÉCTOS ÉTICOS..................................................... ......................... 60

CAPITULO 5- CONHECENDO O PERFIL SÓCIO CULTURAL DOS

SUJEITOS DA PESQUISA.................................................................................. 63

CAPITULO 6 - RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................. 72

6.1 O DIAGNÓSTICO.......................................................................................... 73

6.1.1 Identificando as alterações corporais..................................................... 73

6.1.2 A Trajetória para diagnóstico do câncer do colo do útero................... 77

6.1.3 Os sentidos dados pelas mulheres que experienciaram o câncer do

colo do útero.......................................................................................................

81

6.1.4 Aceitação do diagnóstico........................................................................ 86

6.1.5 Reconstruindo valores após o diagnóstico........................................... 88

6.2 O TRATAMENTO........................................................................................... 90

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6.2.1 Dificuldades em busca de assistência.................................................... 90

6.2.2 Crenças no tratamento informal e popular............................................. 94

6.2.3 O apoio recebido....................................................................................... 96

6.2.4 Mudanças no decorrer do tratamento do câncer................................... 99

CAPITULO 7- CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................... 107

REFERÊNCIAS............................................................................................ 113

APÊNDICES................................................................................................ 121

ANEXO........................................................................................................ 128

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CAPÍTULO 1

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

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CAPÍTULO 1- CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou em 2012 que, para o ano

de 2030, podem-se esperar 27 milhões de casos incidentes de câncer, com 17

milhões de mortes causadas pelo câncer e 75 milhões de pessoas vivas,

anualmente, com câncer. O maior efeito desse aumento vai incidir principalmente

em países em desenvolvimento. Já o Instituto Nacional do Câncer - INCA (2012)

alerta que nas últimas décadas, o câncer ganhou uma maior dimensão, significado e

tornou-se um evidente problema de saúde pública mundial.

No Brasil, as estimativas do INCA para o ano de 2012, válidas para o ano de

2013, apontam para a ocorrência de 518.510 novos casos de câncer. São

esperados para as mulheres 260.640 mil novos casos, destes 53 mil serão de

mama, seguidos por câncer de colo de útero com 18 mil. Nas capitais da Região

Norte 34,10 em cada grupo de 100 mil mulheres desenvolverá câncer de colo de

útero, representando o dobro da média nacional.

O câncer de colo de útero é o terceiro tipo de câncer mais frequente entre as

mulheres, porém é a quarta causa de morte de mulheres no Brasil e, no mundo, com

aproximadamente 529 mil casos novos por ano, sendo responsável por 275 mil

óbitos de mulheres por ano. Em países menos desenvolvidos, sua incidência é cerca

de duas vezes maior quando comparado com países desenvolvidos. Cabe

mencionar, ainda, a incidência na faixa etária de 20 a 29 anos, com risco

aumentado, até atingir o pico na faixa etária de 50 a 60 anos (INCA, 2012).

Na região norte, o câncer de colo de útero é o mais incidente entre as

mulheres, ou seja, de acordo com a estimativa do INCA para o ano de 2012/2013

será de 810 novos casos/por ano, destes 250 casos no município de Belém.

Silva et al. (2008) ressaltam que esta realidade ascendente de casos novos,

permanece principalmente devido ao baixo índice de mulheres que se submetem ao

exame preventivo, em muitas localidades, pela falta de estrutura para a sua

realização, e por valores culturais, desconhecimento sobre o exame, vergonha, e

proibição dos maridos, que não permitem a realização dos exames.Uma provável

explicação para as altas taxas de incidência em países em desenvolvimento seria a

inexistência ou a pouca eficiência dos programas de rastreamento.

O estudo aqui proposto originou-se do interesse pela área de oncologia que

emergiu desde a academia, ao fazer a prática de disciplinas curriculares do Curso

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de Enfermagem no Hospital de referência em oncologia no Estado do Pará, quando

nasceu o sonho de trabalhar na referida área. No ano de 2000 fui aprovada no

processo seletivo para o Curso de Especialização em Enfermagem Cirúrgica

Modalidade Residência no referido hospital, em que cursei por dois anos,

percorrendo os setores do hospital prestando cuidados assistenciais aos pacientes

portadores de neoplasias. Neste momento pude enraizar os conhecimentos e formar

novos que me inquietou a ponto de buscar a especialização em oncologia oferecida

pela Universidade do Estado do Pará (UEPA). No término da residência em

enfermagem cirúrgica, e a especialização em Enfermagem no Controle do Câncer

fui admitida no Hospital especificamente para trabalhar no Núcleo de Acolhimento do

Enfermo Egresso, o qual representou um grande desafio profissional, pois este

núcleo foi a primeira casa de acolhimento no Estado do Pará, que possui uma

estrutura de hotelaria e assistência de enfermagem especializada, serviço social,

nutrição e psicologia, com o objetivo de acolher pacientes com diferentes

diagnósticos e em tratamento oncológico no hospital de referência, oriundos dos

municípios do Estado do Pará e, algumas vezes até, de outros Estados como o

Ceará e Amapá.

Com o envolvimento profissional na gerência e assistência no Núcleo de

Acolhimento do Enfermo Egresso (NAEE), tive a oportunidade de acompanhar

pacientes com diferentes diagnósticos oncológicos, os quais permaneciam em

média de uma semana até seis meses, alguns até anos. A partir desse convívio

diário presenciei a luta dos pacientes contra o câncer, a trajetória, os desafios, as

frustrações, as perdas, os subsequentes afastamentos do meio familiar e social, a

construção social e cultural do processo por uma doença estigmatizante, que pode

causar grandes repercussões na vida da pessoa e de sua família.

Observei que o cotidiano das mulheres diagnosticadas com câncer de colo

de útero era permeado por um mundo de angústia, medo, incerteza e dúvidas,

desconhecimento sobre a doença, exames, tratamento e do cuidado consigo

mesma. E, ao apresentarem alterações buscam tratamentos convencionais e

alternativos, e com questionamentos que estavam sempre presentes no cotidiano da

mulher com câncer de colo de útero, como: Como iriam fazer para superar tudo?

Como vencer as limitações impostas pelas mutilações decorrentes do tratamento? E

ao submeter-se ao tratamento quais seriam os efeitos? Como ficar longe dos

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familiares? Como conviver numa instituição de saúde durante meses para o

tratamento longe de casa?

Contudo, por estar num espaço de trabalho completamente diferenciado da

dinâmica hospitalar que proporciona uma interação terapêutica, e ter construído um

processo de sistematização da assistência de enfermagem na casa de apoio

oncológico; possibilitou-me entrar em contato com o cotidiano de mulheres com

câncer, oriundas do interior do estado e algumas tendo o primeiro contato com a

capital, apresentando dificuldades em entender todo o processo de tratamento e a

complexidade de seu diagnóstico.

Neste momento percebi que a forma como é conduzido o tratamento

oncológico hospitalar e ambulatorial não permite uma abordagem que atenda às

necessidades e as dúvidas que as mulheres traziam consigo, ou seja, o profissional

de saúde tem dificuldades em escutar essas mulheres, em compreender seus

sentimentos, dificuldades e expectativas. A atenção se faz sobre as necessidades

físicas, partilhando de um modelo de assistência que focaliza o corpo doente e não a

mulher doente e seu processo de construção da doença.

A consulta de enfermagem no núcleo de acolhimento tem por objetivo

responder às dúvidas trazidas pelas pacientes do interior, oferecendo oportunidade

para que elas expressassem seus sentimentos e ansiedades frente ao desconhecido

e ao tratamento, fornecendo informações sobre o tratamento, as etapas e os tipos

de tratamentos, além do processo de reabilitação física, emocional e social. Este

momento representa a oportunidade para que elas anunciassem suas dificuldades

em conviver com o câncer, medo da morte, com o futuro e afastamento da família.

Como docente do Curso de Graduação em Enfermagem e ao desenvolver a

prática com os acadêmicos de enfermagem na área hospitalar notei a importância

do trabalho desenvolvido no núcleo, mas a angústia era grande quando, observava

que apesar do hospital ter implementado a Sistematização da Assistência de

Enfermagem (SAE), o cuidado é prestado conforme as ocorrências, que não conta

com um serviço de atendimento específico para suprir as necessidades individuais

das mulheres, e uma equipe com padrões para a prática baseada em modelos

burocrático e biomédico, que valoriza o corpo com a doença, a administração dos

serviços, as rotinas específicas dos serviços e o cumprimento da carga horária

semanal, em detrimento da pessoa doente.

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Além das carências dos serviços de saúde que contribuem para o

agravamento da situação, como acessibilidade difícil aos serviços, que estão sempre

presentes no cotidiano dos usuários dos serviços de saúde. O cotidiano da mulher

em tratamento oncológico do câncer de colo de útero (cirurgia, quimioterapia e/ou

radioterapia), há a necessidade da realização diária dos procedimentos do

tratamento, exigindo das mulheres que organize seu cotidiano, pois o tratamento

ocorre em alguns casos por quatro a doze semanas, e caso a mulher seja de outro

município, há a necessidade de programação de viagens diárias ou permanência em

casa de acolhimento ou parentes durante sua estada na cidade, nesse período.

Configurando, no meu entender, um grande transtorno na vida da mulher, que além

de vivenciar o câncer, necessita afastar-se de suas atividades, profissionais e

familiares, para submeter-se ao tratamento.

A partir desses fatos, comecei a questionar como a enfermagem poderia

intervir nesse período crucial da experiência da mulher com câncer de colo de útero,

do diagnóstico ao tratamento, pois por meio da sistematização da assistência de

enfermagem (SAE) desenvolvida no núcleo de acolhimento, proporcionava às

pacientes admitidas esclarecimentos às dúvidas e o planejamento de cuidados

específicos e individualizados. Mas, esse atendimento representa o mínimo de

abrangência frente ao quantitativo ambulatorial e hospitalar diário que a instituição

recebe, pois atendia exclusivamente alguns pacientes acolhidos no núcleo, sempre

questionando como ficava o acolhimento à mulher que iria se submeter ao

tratamento oncológico ambulatorial e hospitalar, já que não há como assegurar a

consulta de enfermagem ambulatorial.

Anjos (2005) afiança que os pacientes oncológicos são tidos como ser

passivo, que precisam submeter-se às intervenções de um profissional de saúde

para buscar a cura do câncer. Esta conduta deve ser revista, pois os efeitos de viver

com o câncer são complexos, quando se considera o indivíduo no seu contexto

familiar e social, porém precisamos oportunizar a pessoa com câncer que se

confronte com a sua doença, no seu ritmo e estilo próprio.

Em vista disso, necessitei buscar respostas que evidenciassem as

características da experiência da mulher frente ao câncer de colo de útero, e pela

importância de apreender a influência da cultura nessa situação específica vivida

pela mulher, por meio da aproximação teórica da antropologia da saúde.

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Frente ao exposto, Oliveira (2002) adverte que estar doente, de acordo com

o senso comum, é uma experiência que não se limita à alteração exclusivamente

biológica. Tal experiência é uma construção cultural. Nesse sentido a doença, possui

uma relação com a forma com que as pessoas de um grupo social percebem os

sinais e sintomas, categorizam e atribuem sentidos, articulando avaliações e ações

que levam a pessoa à busca específica para a cura.

Para aprofundar o conhecimento referente ao tema em estudo, realizei a

busca de estudos sobre o câncer de colo de útero na Biblioteca Virtual de Saúde

(BVS) especificamente nas Bases de dados da Scientific Eletronic Library Online

(SCIELO); Literatura Latino-Americana em Ciência e Saúde (LILACS); Bases de

Dados de Enfermagem (BDENF); Banco de Dissertação e Tese da Universidade de

São Paulo (USP), do período de 2005 a 2012, com a utilização dos seguintes

descritores: “enfermagem”, “câncer de útero” e “câncer cérvico uterino”.

No referido período foram encontrados 51(100%) artigos, porém a amostra

final foi de 28 (54,9%) artigos que atenderam aos critérios de inclusão, ou seja,

textos completos e disponíveis, sendo que 25% foram desenvolvidos na região

sudeste com destaque para o Estado de Minas Gerais (18%), um (3,5%) no Estado

de São Paulo e um (3,5%) no Rio de Janeiro, já na Região Sul foram desenvolvidas

seis (21,%) pesquisas, no Nordeste (18%) com destaque para o Estado do Ceará, e

a minoria das pesquisas foram realizada na região Norte um (3,5%), Centro- este um

(3,5%) e oito (29%) pesquisas não foram identificadas a região em que ocorreu o

desenvolvimento do estudo.

Com relação às dissertações foram identificadas cinco, sendo uma no ano

de 2005 que descreveu a quimioterapia na visão do paciente oncológico, uma no

ano de 2008 sobre a prevenção de câncer de colo de útero no programa saúde da

família e três no ano de 2010 sobre a temática do câncer de colo útero em estudo de

base de dados do (SISCOLO), (SIH), (SIM) e (DATASUS) e estudo fenomenológico.

No ano de 2008 foi identificada uma tese com a temática sobre a experiência da

radioterapia para o paciente oncológico.

Nos últimos oito anos, constatou-se que existem estudos sobre a saúde da

mulher, com um número razoável de investigações tendo por tema a gravidez, parto

e prevenção de câncer de colo de útero, não sendo identificado nenhum que

abordasse sobre a experiência da mulher com câncer de colo de útero; permeado

pela construção sociocultural da mulher que vive a doença, o que suscita uma

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preocupação em priorizar a escuta e o olhar do profissional para as mulheres, e a

necessidade de se intensificar a investigação sobre a temática para embasar a

assistência de enfermagem oncológica à mulher com câncer.

Ao conhecermos melhor sobre o câncer de colo de útero refletimos sobre o

fenômeno mórbido; e o seu impacto sobre a vida social e cultural da mulher, ou seja,

o significado do impacto do fenômeno passou a ser motivador para desenvolvimento

da referida pesquisa, já que até então os estudos acerca do câncer haviam sido em

compreender as alterações biológicas e psicossociais envolvidas na experiência da

pessoa diante do seu diagnóstico e tratamento.

Esta investigação foi direcionada para a construção da experiência da

mulher do diagnóstico ao tratamento do câncer de colo de útero; para tanto elaborei

a seguinte questão norteadora: Qual a experiência de mulheres com câncer de colo

de útero sobre a doença?

Diante deste contexto definido apresentamos os seguintes objetivos Gerais e

específicos: Identificar como as mulheres com câncer de colo de útero constroem a

experiência do diagnóstico ao tratamento, integrando-os em sentidos socialmente

construídos e como específicos; Descrever a experiência da mulher do diagnóstico

ao tratamento do câncer de colo de útero; Apreender os sentidos dados pelas

mulheres sobre a experiência de ter câncer de colo de útero e se submeterem ao

tratamento com base no conceito da cultura; Analisar como esses sentidos se

integra na experiência com a doença e tratamento.

Contudo, para responder as inquietações do estudo sobre as mulheres com

câncer de colo de útero referentes ao diagnóstico e os tratamentos, nos

sustentamos no pensamento teórico da antropologia da saúde. A escolha dessa

abordagem nos permitiu a análise da experiência, na perspectiva daquelas que

vivenciaram o câncer, uma vez que estas podem ter diferentes sentidos construídos

socialmente, integrados por crenças e valores, que me desafiaram a apreender

como as mulheres lidaram com as situações.

A pesquisa contribui para o conhecimento da comunidade científica e

principalmente ao enfermeiro, embasando a assistência à mulher com câncer de

colo de útero, e também subsidia o profissional a reconhecer na assistência às

diversas dimensões que constituem a experiência de ter câncer de colo de útero e

fazer o tratamento, do ponto de vista da mulher, inserindo este conhecimento na

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prática do cuidado e, consequentemente, um melhor acolhimento assistencial à

mulher com câncer de colo de útero.

E também proporciona a reflexão e discussão sobre as questões sociais e

culturais a respeito do diagnóstico e do tratamento da mulher com câncer, que

repercutirá esses resultados na formação do profissional de saúde.

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CAPÍTULO 2

APROXIMAÇÃO COM A TEMÁTICA DO ESTUDO

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CAPÍTULO 2- APROXIMAÇÃO COM A TEMÁTICA DO ESTUDO

Desde os primórdios da humanidade, a doença, de modo tácito ou explícito,

está presente na vida de todo ser humano. Enredada na cultura de cada civilização,

ela é vivenciada de formatos diferentes, visto que ao vivenciar a trajetória da doença

desperta no ser humano, reações de temor, sofrimento e medo da morte. Este,

através dos tempos, vem buscando continuamente a procura das causas das

doenças, principalmente das enfermidades consideradas “impuras”, como o câncer

(SALES, 2003).

Atualmente, os avanços científicos e técnicos na saúde vêm ampliando o

número de casos de cura de diversas doenças, inclusive do câncer, contribuindo

para a melhora na expectativa de vida do ser humano e das populações envolvidas.

Entretanto surgem, situações tais como: dificuldades e limites na aplicabilidade das

ciências médicas, os riscos dos tratamentos e seus efeitos terapêuticos, a escassa

atenção para o alivio da dor e os diversos sintomas das doenças potencialmente

incuráveis, as dificuldades na operacionalização terapêutica, vem revelar o

panorama atual das enfermidades crônicas degenerativas.

Assim o enfoque médico cartesiano, que fragmenta a mente do corpo em

relação ao cuidado, vem sendo questionado, possibilitando dessa forma, que novos

paradigmas forneçam novas dimensões para a compreensão da doença e,

principalmente, da pessoa com enfermidade.

Por conseguinte, surge a contextualização da situação atual do câncer de

colo de útero, a evolução das políticas de atenção à saúde da mulher; o histórico

das ações de controle do câncer de colo de útero no Brasil, o câncer e seu contexto

cultural, apresentadas a seguir, são pertinentes para assinalar a magnitude desse

estudo do câncer de colo de útero e a diversidade do comportamento sociocultural

na construção da etiologia da doença pelas mulheres que vivenciam o diagnóstico e

tratamento da doença.

2.1 A EVOLUÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA

MULHER E DAS AÇÕES DE CONTROLE DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO.

Segundo o Ministério da Saúde (2011), as primeiras políticas nacionais de

saúde da mulher no Brasil, foram incorporadas somente nas primeiras décadas do

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século XX, limitadas nesse período, às demandas relativas à gravidez e ao parto.

Portanto, os olhares dos primeiros programas elaborados nas décadas de 30, 50 e

70 tinham uma visão extremamente restrita sobre a saúde da mulher, baseada

especificamente na questão biológica, centrada no papel social de mãe e doméstica,

ao qual esta mulher era responsável pela criação, educação, cuidado do lar, dos

filhos, esposo e familiares.

Os referidos programas preconizavam as ações materno-infantis, como

estratégia de proteção aos grupos de risco e em situações de maior vulnerabilidade,

como era o caso na época das crianças e gestantes. Outra característica desses

programas era a verticalidade e a falta de integração com outros programas

propostos pelo governo federal, sendo as metas definidas pelo nível central, sem

qualquer avaliação das necessidades de saúde das populações locais das regiões

brasileiras, resultando na fragmentação da assistência e o baixo impacto nos

indicadores de saúde da mulher na época.

Ainda segundo o Ministério da Saúde (2011), os referidos programas

sofreram críticas vigorosas pelos movimentos feministas brasileiros, pela perspectiva

extremamente reducionista com que tratavam as mulheres, que tinham acesso

somente a assistência à saúde no período gravídico puerperal ficando sem

assistência na maior parte de sua vida. O movimento de mulheres com forte atuação

no campo da saúde contribuiu para introduzir na agenda da política nacional de

saúde, questões relegadas ao segundo plano. Revelando, contudo as desigualdades

nas condições de vida e nas relações entre homens e mulheres, problemas

associados à sexualidade e a reprodução, as dificuldades relacionadas à

anticoncepção, a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e a sobrecarga

de trabalho das mulheres, responsáveis pelo trabalho doméstico e criação dos filhos.

Os grupos organizados pelas mulheres na época argumentavam que as

dificuldades nas relações sociais entre homens e mulheres se traduziam em

problemas de saúde que afetavam particularmente a população feminina, não muito

distante desta realidade da mulher nos dias atuais.

Foi proposto na época que a mudança das relações sociais entre homens e

mulheres subsidiasse a elaboração, execução e avaliação das políticas de saúde da

mulher, e reivindicaram condições de sujeitos de direito, com necessidades que

extrapolassem o momento da gestação e parto. A demanda das ações que lhes

proporcionassem a melhoria das condições de saúde em todos os ciclos de vida,

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ações que contemplassem as particularidades dos diferentes grupos populacionais,

e as condições sociais, econômicas, culturais, afetivas, em que estivessem

inseridas.

Em 1984, o Ministério da Saúde elaborou o Programa de Assistência Integral

à Saúde da Mulher (PAISM), marcando uma ruptura conceitual com os princípios

norteadores da política de saúde das mulheres e os critérios para eleição de

prioridades nesse campo. O PAISM incorporou como princípios e diretrizes as

propostas de descentralização, hierarquização e regionalização dos serviços, bem

como a integralidade e a equidade da atenção, num período paralelo ao âmbito do

movimento sanitário. O novo programa para a saúde da mulher incluía ações

educativas, preventivas, de diagnóstico, tratamento e recuperação, englobando a

assistência à mulher em clínica ginecológica, no pré-natal, parto e puerpério, no

climatério, planejamento familiar, doenças sexualmente transmissíveis (DST), câncer

de colo de útero e de mama.

O processo de implantação do PAISM apresentou especificidades no

período de 84 a 89 e na década de 90, devido influências do Sistema Único de

Saúde (SUS) e novas características da política de saúde, pelo processo de

municipalização e, principalmente, pela reorganização da atenção básica pela

estratégia do programa saúde da família. No entanto, visando o enfrentamento de

implantação dos programas, o Ministério da Saúde em 2001 editou a Norma

Operacional de Assistência à Saúde (NOAS) ampliando as responsabilidades dos

municípios na atenção básica.

Na atenção à saúde da mulher a NOAS estabeleceu a responsabilidade dos

municípios nas ações básicas mínimas de pré-natal e puerpério, planejamento

familiar e prevenção do câncer de colo de útero, e a garantia de acesso às ações de

maior complexidade; previu a organização de sistemas funcionais e resolutivos de

assistência à saúde, por meio da organização de territórios estaduais.

Em 1986, foi constituído o Programa de Oncologia (PRO-ONCO), que

elaborou o projeto “Expansão da Prevenção e Controle do Câncer Cervicouterino”,

identificando as ações necessárias para a expansão do controle dessa neoplasia,

como: integração entre os programas existentes e entre eles e a comunidade para

efetivar o atendimento às mulheres; ampliação da rede de coleta de material e da

capacidade instalada de laboratórios de citopatologia; articulação da rede primária

com os serviços de níveis secundários e terciários para o tratamento. Tendo como

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grande contribuição do PRO-ONCO a realização da reunião nacional, em 1988,

conhecida por “Consenso sobre a Periodicidade e Faixa Etária no Exame de

Prevenção do Câncer Cérvico-uterino”.

Após a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) pela Constituição de 1988

e sua regulamentação pela Lei Orgânica da Saúde 8.080 de 1990 (LOS), o

Ministério da Saúde assumiu a coordenação da política de saúde no país. O INCA

passou a ser o órgão responsável pela formulação da política nacional do câncer,

incorporando o PRO-ONCO.

A manutenção das altas taxas de mortalidade por câncer de colo uterino no

país levou a direção do INCA, a elaborar em 1996, o projeto-piloto chamado “Viva

Mulher”, dirigido a mulheres com idade entre 35 e 49 anos. Este projeto propôs a

aplicação de protocolos para a padronização da coleta de material do exame de

papanicolau, para o seguimento e conduta frente a cada tipo de alteração citológica.

Introduziu a cirurgia para o tratamento das lesões pré-invasoras do câncer. Porém, a

ação do projeto ficou restrita às cidades de Curitiba, Recife, Distrito Federal, Rio de

Janeiro, Belém e Sergipe.

Com base nesta experiência, as ações foram expandidas para todo o país,

como Programa Nacional de Controle do Colo do Útero chamado Viva Mulher. A

primeira ação desenvolvida foi de intensificação, no período de agosto a setembro

de 1998, com a adoção de estratégias para estruturação da rede assistencial e

estabelecimento de um sistema de informações para o monitoramento das ações e

dos mecanismos para mobilização e captação de mulheres, assim como definição

das competências nos três níveis de governo.

Em 1998, foi instituído pelo Ministério da Saúde, o Programa Nacional de

Combate ao Câncer de Colo de Útero, e instituído nesse ano o Sistema de

Informação do Câncer de Colo de Útero (SISCOLO) como componente estratégico

do monitoramento e gerenciamento das ações.

Em 2002, o fortalecimento e a qualificação da rede de atenção primária, bem

como a ampliação de centros de referência possibilitaram a realização de uma

segunda fase de intensificação, que priorizou as mulheres que jamais haviam se

submetido ao exame preventivo ou que estavam sem fazê-lo há mais de três anos.

Em 2005, foi lançada a Política Nacional de Atenção Oncológica (PNAO),

que estabeleceu o controle dos cânceres de colo de útero e de mama como

componente fundamental a ser previsto nos planos estaduais e municipais de

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saúde.A importância da detecção precoce dessas neoplasias foi reafirmada no

Pacto pela Saúde em 2006, por meio da inclusão de indicadores na pactuação de

metas com estados e municípios, para a melhoria do desempenho das ações

prioritárias da agenda sanitária nacional.

Depois de todas essas iniciativas, ainda que o SISCOLO tenha registrado

cerca de 11 milhões de exames citopatológicos no Brasil no ano de 2009 e, apesar

dos avanços em nível da atenção primária e de todo SUS, a redução da mortalidade

por câncer de colo de útero no Brasil ainda é um desafio a ser vencido.

2.2 O CÂNCER DE COLO DE ÚTERO.

Historicamente, o útero foi representado pela humanidade como símbolo

feminino, pela sua função de reprodução e gestação que, por sua vez, levava a

mulher ao seu papel socialmente tão esperado: o da maternidade. Nesta época o

cuidado com os problemas femininos pouco era de interesse da medicina, no

entanto, a fisiologia do corpo das mulheres despertava interesse no que tangia a

reprodução. Desprovidas de recursos da medicina para combater as doenças

femininas, as mulheres recorriam a curas informais, dotadas de fórmulas ancestrais,

dos saberes de utilização de plantas e das ervas medicinais (MARTINS, 2004).

Contudo, a medicina foi tomando lugar e se posicionando, ampliando o seu

conhecimento sobre as doenças ditas “das mulheres” e em meados do século XIX

surgiu a ginecologia como uma especialidade médica. Alguns ensaios terapêuticos

para solução das doenças femininas, como a investigação das células cervicais

uterina mediante microscópio, cirurgias para retirada do útero, pólipos, amputação

do colo uterino, aplicações medicamentosas, exames visuais acompanhados de

instrumentos invasivos, como espéculo que foram surgindo como cuidados ao corpo

da mulher. Diante dessas práticas, ocorreram descobertas e experimentos sobre o

câncer de colo de útero e sua origem, que nos últimos 60 anos, o conhecimento

sobre a etiologia e a patogenia do câncer de útero aumentou principalmente com o

advento do progresso da medicina molecular (MARTINS, 2004).

Como resposta aos novos conhecimentos a medicina também mudou,

originando a cada descoberta um novo sistema de classificação que refletia o

pensamento científico da época e, consequentemente, uma conduta terapêutica

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própria que pode ter contribuído para a construção do estigma cultural do processo

saúde e doença do câncer de colo de útero (CARVALHO, 2010).

Em relação ao conceito de células cervicais invasivas, Williams, em 1888 foi

o primeiro cientista a identificar que próximo às células cancerígenas haviam células

não invadidas pelo câncer, mas somente Cullen em 1900, definiu melhor as lesões

não invasivas, representando uma descoberta importante, porém os tratamentos da

época eram incipientes, baseado em histerectomias radical devido pouco

conhecimento do processo de mudanças das células.

O termo carcinoma in situ, foi dado somente após 32 anos por outro

estudioso, Brothers, que indicou que as lesões precursoras ocupavam todo o tecido

do epitélio, porém sem romper a camada basal. No entanto, o tratamento

empregado não mudou, visto que no curso clínico das alterações não eram bem

compreendidas, ou seja, o entendimento era de que as alterações cervicais levavam

ao desenvolvimento do câncer e, consequentemente, ao aumento da

morbimortalidade. Naquela época a perda de muitas mulheres jovens e em fase

reprodutiva com a doença, era representada como uma mulher “inútil e estragada

socialmente”, fato que levou muitas mulheres a não terem adesão ao tratamento.

O exame preventivo foi descoberto por meio de estudos iniciados pelo

médico grego Geórgios Papanicolau em 1917, após analisar alterações celulares

das regiões da cérvice e vagina, além de alterações apresentadas nas diferentes

fases do ciclo menstrual. Após vários estudos, o exame preventivo passou a ser

utilizado na década de 40, recebendo a denominação de exame de Papanicolau.

Contudo, apesar de se tratar de um método de diagnóstico fácil, a ideia de

Geórgios Papanicolau, foi pouco aceita, por preconceitos e temor da exposição

feminina. Mesmo assim, o cientista continuou suas investigações e sua técnica

passou a ser considerada uma excelente ferramenta para a detecção precoce do

câncer cervical, surgindo o termo de detecção precoce como conhecemos hoje em

dia, representando um marco na história da ginecologia, proporcionando um

procedimento menos invasivo e traumatizante para as mulheres.

Todos esses estudos ocorreram diante de fortes resistências sociais, por

parte das mulheres, que se recusavam a fazer o exame, ou seja, pela proibição de

seus pais ou maridos, que não aceitavam a ideia de exposição de “suas mulheres” a

médicos e homens. Dessa forma enfatizando infelizmente, algo que está presente

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até os dias atuais, ao qual a submissão feminina, histórica e cultural, ainda é nítida,

quando algumas mulheres deixam de realizar o exame.

No Brasil, a realização do exame Papanicolau constitui-se, uma estratégia

de rastreamento, recomendado como prioritariamente para mulheres de 25 a 64

anos. A rotina recomendada para o rastreamento é a repetição do exame

Papanicolaou a cada três anos, após dois exames normais consecutivos realizados

com um intervalo de um ano. A repetição em um ano após o primeiro teste tem como

objetivo reduzir a possibilidade de um resultado falso-negativo. Segundo a

Organização Mundial da Saúde, com uma cobertura da população-alvo de, no

mínimo 80%, e a garantia de diagnóstico e tratamento adequados dos casos

alterados, é possível reduzir, em média, de 60 a 90% a incidência do câncer cervical

invasivo (INCA, 2012).

Iwamoto (2011) realizou estudo epidemiológico, com o objetivo de conhecer

as características sociais demográficas e clínicas das mulheres que realizaram o

exame Papanicolau em Minas Gerais (MG), por meio de dados obtidos no site

eletrônico do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS)

e pelo Sistema de Informação do Câncer de Colo de Útero (SISCOLO).

No período de 2006 a 2009, o número de exames Papanicolau realizados

em Minas Gerais foi maior que o esperado. A média de idade de mulheres

submetidas ao exame foi de 30 anos com predomínio na faixa etária de 25 a 44

anos. Quanto à escolaridade, predominou mulheres com ensino fundamental

incompleto e de analfabeta, (73,92%) já havia realizado o exame uma vez na vida,

enfatizando a importância de promover mudanças de comportamento da população

assistida, a fim de que haja maior adesão aos exames por outras faixas etárias, para

investigação e controle cada vez mais efetivo do câncer cérvico uterino.

O estudo de Silva et al. (2008) destacam os aspectos culturais, em estudos

na região amazônica; enfatizam que a mulher paraense é detentora de um conjunto

de crenças que devem ser trabalhadas, vistos que estas podem influenciar a não

adesão a uma prática de controle à sua saúde, como o exame preventivo de câncer

de colo de útero. É importante enfatizar que os valores culturais sem correlação com

a realidade podem representar um grande obstáculo para os profissionais de saúde

que atuam na promoção da saúde e na prevenção de doença.

O estudo realizado por Silva (2010) teve o objetivo de identificar as

representações sociais de mulheres sobre o câncer de colo de útero e descrever a

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relação dessas representações para o cuidado preventivo ao qual foram

entrevistadas vinte mulheres no município de Belém. Nas representações sociais

identificadas no estudo, as mulheres caracterizam o câncer de colo de útero como

uma doença que admite a forma de uma ferida, que se não tratada evolui para uma

forma mais grave e de difícil cura podendo levar a morte. Encontrando grande

relevância a importância dada pelas mulheres ao exame preventivo relacionado ao

medo de contrair o câncer, fato que faz com que muitas mulheres busquem a

unidade de saúde para fazerem o exame. Constatou-se também que o

conhecimento que a maioria das depoentes tem sobre casos de doenças na família,

no trabalho ou na vizinhança reforça a conscientização da importância do exame

preventivo. Conclue-se que as entrevistadas consideram que o exame preventivo é

um ato de cuidado, pois buscam fazer o exame por temer o adoecimento por câncer,

por saberem de suas conseqüências e de como a doença pode transformar suas

vidas.

Já Valente (2009) realizou um estudo epidemiológico com mulheres

estudantes do ensino médio, em escolas públicas, a fim de identificar o

conhecimento sobre o exame Papanicolau; foi realizado em quatrocentos e setenta

e seis mulheres maiores de 18 anos. O estudo concluiu que todas as estudantes do

ensino médio de escolas públicas de Minas Gerais, têm conhecimento, contudo não

completo e homogêneo sobre o exame de Papanicolau, constatando que as alunas

mais jovens, com idade entre 18 e 25 anos, detêm maior conhecimento.

Surpreendendo-se o autor com a conclusão que duzentos e setenta e oito mulheres

(58,40%), que têm acesso a informação e uma população predominantemente

jovem, possuem conhecimento distorcido a respeito do exame Papanicolau.

Zaponi e Melo (2010) realizaram estudo epidemiológico descritivo de base

populacional, considerando como unidade de análise as federações de saúde das

regiões brasileiras, foram coletados dados em bases do sistema de informação

sobre mortalidade (SIM) e internações hospitalares (SIH) referentes ao período de

2003 e 2007.

No período de realização do estudo, os pesquisadores observaram que a

ocorrência do câncer de colo de útero concentrou-se principalmente em mulheres

acima dos 35 anos, a mortalidade prevaleceu na faixa etária de 45 a 64 anos de

idade, enfatizando que a região Norte possui a maior taxa de mortalidade por câncer

de colo de útero em relação às demais regiões; seguido da região Nordeste e Centro

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Oeste. Observaram também que, a detecção tardia do tumor maligno, a qualidade

da assistência e a qualidade do preenchimento da causa básica do óbito, são estes

fatos que parecem explicar o padrão de alternância da mortalidade do câncer de

colo de útero com altas taxas de mortalidade em diferentes regiões do país, com

níveis de desenvolvimento distintos. Notaram também que as estratégias de

execução das diversas políticas de controle do câncer dependem dos estágios de

desenvolvimento do país e de suas particularidades territoriais, socioculturais e

econômicas. No Brasil, a dimensão territorial, a estrutura da saúde pública e os

fatores sócioeconômicos deveriam condicionar a configuração de estratégias

adequadas a atenderem as particularidades de cada região e município.

No estudo sobre práticas e significados da prevenção do câncer de colo de

útero, realizado por Oliveira et al. (2007), na abordagem qualitativa, foram

entrevistadas quatorze mulheres na faixa etária entre 25 a 55 anos, no interior do

estado de São Paulo, evidenciando como resultado que as mulheres valorizam a

prevenção como um recurso importante para a manutenção da saúde; algumas

depoentes realizam o exame preventivo por orientação dos profissionais de saúde, e

algumas foram procurar o serviço para realização do exame, no sentido do cuidado

com a auto-preservação, motivada pelo medo da instalação do câncer.

Eduardo et al. (2007) realizaram um estudo intitulado “Preparação da mulher

para a realização do exame de papanicolau na perspectiva da qualidade”, no qual foi

realizada a coleta de dados por observação direta, seguindo um instrumento de

melhoria de desempenho. No estudo participaram sete enfermeiros que realizaram

vinte e uma observações com o objetivo de avaliar a preparação da mulher para a

realização do exame. Ao final constaram que o procedimento, “explicar o que vai ser

feito”, foi contemplado em somente oito atendimentos; destes, a maioria foi realizado

por meio de orientações na sala de espera, abordando a importância do exame, a

técnica, a periodicidade e a necessidade do compromisso de retornar para buscar o

resultado. Estas orientações foram fornecidas somente às clientes que estavam

realizando o procedimento pela primeira vez, não cumprindo o papel educativo do

profissional de saúde e não contribuindo para a melhora da satisfação da cliente. O

estudo também apontou alguns obstáculos durante o atendimento à mulher, como a

dificuldade para a manutenção da individualidade e privacidade durante o exame,

devido a: ausência de banheiros no consultório, portas sem fechaduras, consultórios

adaptados com divisórias baixas que não permitiam a escuta. Concluíram que

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transformar esta realidade exige mudanças de atitude humana, configurando a área

de competência técnica a de maior desafio no contexto do serviço público.

Atualmente, “câncer” é o nome geral dado a um conjunto de mais de 100

doenças, que têm em comum o crescimento desordenado de células que tendem a

invadir tecidos e órgãos vizinhos. O crescimento das células cancerosas é diferente

do crescimento das células normais. As células cancerosas, em vez de morrerem,

continuam crescendo incontrolavelmente, formando outras novas células anormais.

Diversos organismos vivos podem apresentar, em algum momento da vida,

anormalidade no crescimento celular as quais se dividem de forma rápida, agressiva

e incontrolável, espalhando-se para outras regiões do corpo gerando e acarretando

transtornos funcionais (INCA, 2012).

Vidal (2009) afirma que o desenvolvimento do câncer de colo de útero, se dá

de maneira progressiva, iniciando com lesões leves displásicas que evoluem para

severas, e depois para carcinoma, e se não tratadas, para o câncer invasivo cervical

escamoso. O câncer pode ser silencioso e o tempo de progressão para o

desenvolvimento do tumor pode levar em média de 10 a 12 anos.

O câncer de colo de útero, em sua evolução, passa por uma fase pré-

invasiva, na qual intervenções podem evitar seu progresso, e outra fase invasiva,

caracterizada pela invasão de tecidos sendo de difícil controle. As lesões pré-

invasivas são chamadas de Neoplasias Intraepiteliais Cervicais (NIC), que são

classificadas em graus I, II e III, os quais refletem o seu comportamento biológico

(INCA, 2011).

Essa nomenclatura de classificação do grau sofreu uma revisão em 1988,

classificando as NIC I como lesões de baixo grau e colocando as NIC II e III no

mesmo patamar biológico, classificando-as como lesões de alto grau. As alterações

celulares que não podem ser classificadas como neoplasia intraepitelial cervical,

todavia merecem uma investigação melhor, são classificadas como atipias de

células escamosas de significado indeterminado (ASCUS) ou atipias de células

glandulares de significado indeterminado (AGUS). As lesões pré-neoplásicas, se não

tratadas, apresentam um potencial diferenciado de regressão, persistência e

progressão, segundo a sua classificação histológica.

De acordo com a literatura, lesões do tipo NIC I teriam um potencial de

regressão maior (62% a 70%) quando comparadas as NIC II e III (45% a 55%) num

período de 11 a 43 meses. Por outro lado, a literatura mostra que as NIC I

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apresentam um menor potencial de progressão de 4,9% a 16% do que dos NIC II e

III, que é de 30% a 42%. Porém, o potencial de persistência dessas lesões ainda

permanece controverso.

Nos estágios iniciais de anormalidades na diferenciação, as células de

displasias, localizadas na superfície do epitélio, podem ser detectadas através da

técnica do exame de Papanicolaou. Caso não haja intervenção, a displasia poderá

estagnar ou mesmo regredir espontaneamente; entretanto, pode progredir dando

origem à neoplasia localizada sem invasão dos tecidos adjacentes, o chamado

carcinoma in situ. Neste estagio, ainda é fácil alcançar a cura completa pela

destruição ou remoção cirúrgica do tecido anormal, pois as células alteradas ainda

estão confinadas ao lado epiteliais da lâmina basal.

Porém, sem o tratamento adequado, as células displásicas ainda poderão

estagnar ou regredir; mas cerca de 20% a 30% dos casos evoluirão num período de

alguns anos, originando um carcinoma cervical invasor, cujas células desprendem-

se do epitélio, atravessam a lâmina basal e começam a invadir o tecido conectivo, e

à medida que o crescimento invasivo se espalha, a cura passa a ser

progressivamente mais difícil.

Quanto à etiologia, sabe-se atualmente que para o desenvolvimento da

lesão intraepitelial de alto grau e do câncer invasivo de colo de útero, o

Papilomavírus Humano (HPV) é condição necessária à presença da infecção, no

entanto a infecção pelo HPV por si só não representa uma causa suficiente para o

surgimento dessa neoplasia.

Além de aspectos relacionados à própria infecção pelo HPV (tipo e carga

viral, infecção única ou múltipla), para o desenvolvimento, manutenção e progressão

das lesões intraepiteliais há associação com outros fatores de risco, como: A idade,

pois a maioria das infecções por HPV em mulheres com menos de 30 anos regride

espontaneamente, e acima dessa idade, a persistência é mais freqüente, a baixa

imunidade, tabagismo, multiplicidade de parceiros, baixa ingestão de vitaminas,

iniciação sexual precoce, genética, coinfecção por agentes infecciosos como o vírus

da imunodeficiência humana (HIV) e Chlamydia tracomatis (INCA, 2012).

Existem hoje identificados, 13 tipos de HPV reconhecidos como oncogênicos

pela Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer (IARC). Desses, os mais

comuns são o HPV16 e o HPV18. A vacina contra o HPV tem representado uma

promissora ferramenta para o combate a esse câncer, porém ainda é uma prática

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distante da realidade dos países subdesenvolvidos, em razão de seu alto custo.

Sendo assim, o rastreamento organizado é a melhor estratégia para redução da

incidência e da mortalidade por essa neoplasia. Além disso, as vacinas disponíveis

hoje no mundo não conferem imunidade contra todos os tipos de HPV (INCA, 2012).

Ainda quanto aos fatores de risco para o câncer de colo de útero, estudo

realizado por Matsumoto e Morita (2011), no município de Cuiabá na área de

abrangência do Programa Saúde da Família (PSF), no período de 2007 a 2009, com

26 mulheres que possuíam resultados alterados de papanicolau. Resultando que

(31,8%) das participantes do estudo tinham idade entre 40 anos, estimando que a

maioria das participantes iniciaram atividade sexual na adolescência com

predominância do não uso do preservativo.

Medeiros (2005) afirma que a precocidade das relações sexuais está

diretamente relacionada com o aumento do risco de câncer cervical, pois a zona de

transformação do epitélio cervical é mais proliferativa durante a puberdade e a

adolescência, devido a maior vulnerabilidade nesse período, sendo suscetível a

alterações induzidas por agentes sexualmente transmissíveis, como o HPV.

As condutas de atenção à saúde da mulher preconizada para o

acompanhamento, tratamento e seguimento das mulheres brasileiras, segundo a

Nomenclatura Brasileira para Laudos Cervicais e condutas preconizadas em 2006,

orienta que estas devem ser realizadas de acordo com o grau de complexidade de

cada unidade de saúde em conformidade ao Sistema Único de Saúde (SUS). Em se

tratando do primeiro nível de atenção básica, deve ter a responsabilidade de iniciar o

processo de assistência, ao qual deve incentivar e orientar a mulher a fazer o exame

de rastreamento e controle citológico (exame Papanicolau). A unidade secundária

deve ser referência para o serviço de patologia cervical, com a função de

confirmação diagnóstica, tratamento e acompanhamento das alterações pré-

malignas ou malignas (INCA, 2008).

Já o tratamento é indicado com base no estadiamento tumoral, tipo

histológico, idade da paciente, condições clínicas, desejo de procriar e recursos

disponíveis. Os procedimentos variam desde os mais conservadores, como a

retirada de lesões, até tratamentos radicais e complexos como cirurgias,

quimioterapia, radioterapia e associações desses tratamentos. As ações de

enfermagem no tratamento do câncer do colo de útero visam oferecer assistência de

enfermagem integral individualizada, informando sobre cada passo do tratamento,

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seja por cirurgia, radioterapia ou tratamento combinado com a quimioterapia, para

minimizar as possíveis complicações advindas (INCA, 2008).

As ações de enfermagem iniciam-se no primeiro atendimento pós-matricula

e prossegue até o período pós-tratamento. Os fluxos das ações de enfermagem

compreendem-se nas consultas de enfermagem para acolhimento no dia da

matrícula no serviço de saúde; pré-cirurgia eletiva; pós-operatório; pré-teleterapia,

nas aplicações de braquiterapia e pos-braquiterapia, além das orientações em grupo

com recursos visuais e assistência de enfermagem sistematizada durante a

internação por intermédio da admissão, visita pré-operatória, diagnóstico de

enfermagem, planejamento e avaliação diária, bem como planejamento de alta

hospitalar e acompanhamento ambulatorial (INCA, 2008).

Em relação ao cuidar em enfermagem, por muito tempo foi visto sempre

associado à execução de procedimentos, enfatizando apenas a técnica bem

realizada, atrelada à prescrição médica ligada a alguma doença. Porém, com o

passar do tempo, somente a prática da técnica deixou de ser primordial e passou a

ser dada importância às intervenções aos problemas psicossociais, dando-se ênfase

ao conceito de cuidado de si e da humanização no processo do cuidar. Waldow

(2008) ressalta que o cuidado e a prevenção têm um importante significado,

tornando-se essencial no âmbito da saúde pública.

A partir desta contextualização, o cuidado e a prevenção têm um importante

significado no contexto atual e, com o tempo, vem se tornando essencial para se

trabalhar na área da saúde, principalmente no âmbito da saúde pública, já que os

profissionais desta área estão assumindo, cada vez mais, essa responsabilidade de

educar, orientar e cuidar, para prevenir.

Portanto, destaco estudos que tiveram aproximação com a temática do

câncer.

O estudo de Anjos (2005) realizou um estudo de caso que focalizou o

significado da quimioterapia oncológica na visão da paciente mastectomizada,

compreendendo que ela construiu um sentido para a experiência de viver a terapia,

interpretando-a como perda do controle da vida. Esta experiência foi marcada por

sentimentos ambivalentes de sofrimento e luta para a sobrevivência. Também

ressaltou que o significado construído ratifica que a experiência da quimioterapia

envolve uma dimensão que vai além das reações físicas, o qual nem sempre é

valorizada pelos profissionais de saúde.

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O estudo de Oliveira e Gomes (2008) objetivou conhecer as representações

sociais do câncer para os portadores; foram entrevistados no Rio de Janeiro, cem

indivíduos adultos com o diagnóstico de câncer. A coleta de dados ocorreu através

da evocação livre de palavras, demonstrando que vários são os sentimentos

vivenciados pelo paciente frente ao câncer, sendo eles a dor, o sofrimento e a

objetivação de um fenômeno amplamente rejeitado, que é a própria morte.

Simultaneamente os sentimentos de susto, de negação, de não aceitação, de

desespero, de tristeza e de preocupação também estiveram presentes,

transformando o momento do diagnóstico em um turbilhão de emoções difíceis de

controlar, trazendo o câncer à imagem da doença sem cura, que causa dor e pode

levar a morte em qualquer momento. Observou-se também que, a principal temática

presente na dimensão das expectativas e desejos, foi a possibilidade de cura, ao

qual Deus assume a concretização da única esperança e da devolução da

normalidade cotidiana e da saúde.

Almeida (2008) realizou uma pesquisa com abordagem qualitativa com o

objetivo de conhecer a percepção das mulheres com câncer de colo de útero sobre

a radioterapia. Foram entrevistadas vinte mulheres em Teresina-Piauí, que

destacaram que a percepção relacionada ao tratamento do câncer de colo de útero

tem representações diferenciadas para cada mulher, as quais perceberam que o

tratamento da radioterapia como gerador de sentimentos conflitantes. Visto que

embora represente um temor, desconforto físico, psicológicos e restrições, elas

relataram satisfação com o tratamento, principalmente devido a diminuição dos

sintomas ocasionados pela doença o que contribuiu para a construção de uma nova

relação com seu corpo e consigo mesma. As participantes enfatizaram também que

o tratamento radioterápico, em seu decorrer, é percebido como limitador de ações

cotidianas, relacionamento sexual e realização de atividades sócio econômicas, e

que independente das formas de enfrentamento, elas buscam acreditar em algo ou

alguém para apoiar-se, como forma de sobrevivência aos possíveis contratempos

advindos do tratamento, ao qual afirmaram enfrentar as dificuldades com fé em

Deus e com o apoio dos familiares.

Jorge e Silva (2010) desenvolveram uma pesquisa, para avaliar a qualidade

de vida de mulheres portadoras de câncer ginecológico submetidas à quimioterapia;

foram entrevistadas cinquenta pacientes entre 2007 e 2009, pela aplicação de um

instrumento de avaliação da qualidade de vida da Organização Mundial da Saúde.

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Os resultados apontaram que o domínio físico foi o mais comprometido. Tal fato

pode ser explicado pelas toxicidades das drogas quimioterápicas administradas, que

geram efeitos, como: dor, cansaço, náuseas, vômitos, além de anorexia, dificuldades

em realizar atividades de vida diária.

O segundo domínio mais comprometido foi o ambiental, apontando as

dificuldades relacionadas às condições do local onde mora, a segurança, o

transporte, as condições econômicas, falta de oportunidades de recreação/lazer e

em decorrências das diversas mudanças que ocorrem na rotina familiar. Quanto o

domínio psicológico também foi afetado, afirmando as autoras, que a experiência do

tratamento em toda sua trajetória é vivenciada de forma particular por cada mulher,

além de que a idade da mulher acometida pelo câncer também influencia em sua

adaptação e nas sequelas biopsicossociais provocadas pelo câncer. Dependendo do

ciclo de vida da mulher, suas atividades, planejamentos, relação familiar e do

trabalho, são totalmente afetados, vivenciando sentimentos de angústias, temores,

preocupações e ansiedades sempre presentes desde o diagnóstico até o fim do

tratamento.

A literatura pesquisada revelou a magnitude da doença e repercussões

causadas pelo câncer na vida da pessoa, verificando que estes estudos trazem

parcialmente a experiência da mulher com câncer, não descrevendo como essa

experiência é construída e como elaboram ações para lidar com o fenômeno de ter

câncer.

2.3 A CULTURA E O CÂNCER

Para a antropologia, a cultura possui duplo sentido, é o conjunto das

representações e dos comportamentos adquiridos pelo homem como ser social. Em

outras palavras, é o conjunto histórico e geograficamente definido das instituições e

as características de determinada sociedade, designando não somente as tradições

artísticas, científicas, religiosas e filosóficas de uma sociedade, mas também suas

próprias técnicas, seus costumes políticos. Abarca também, o processo dinâmico de

socialização pelo qual todos esses fatos de cultura se comunicam e se impõem em

determinada sociedade, ou seja, pelos processos educacionais, seja pela difusão

das informações a todas as estruturas sociais e/ou mediante meios de comunicação

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em massa. Nesse sentido, a cultura praticamente se identifica com o modo de vida

da população (MARCONDES, 2008).

O autor acima mencionado ressalta ainda que no sentido filosófico, a cultura

pode ser considerada como feixe de representações, de símbolos, de imaginário, de

atitudes e referências suscetíveis de irrigar, de modo bastante desigual, mas

globalmente, o corpo social. Experiência, em seu sentido geral, é um conhecimento

espontâneo e vivido, adquirido pelo indivíduo ao logo de sua vida. Para o empirismo

todo o conhecimento deriva da experiência e para o racionalismo, ao contrário, a

experiência nada nos ensina, pois é aquilo que precisa ser explicado, não havendo

experiência que não esteja impregnada de teorias.

Para Helman (2009), cultura é um conjunto de orientações tanto explícitas

como implícitas que os indivíduos herdam como membros de uma sociedade

particular, as quais lhes dizem como ver o mundo, como experimentá-los

emocionalmente, e como se comportar em relação às outras pessoas, às forças

sobrenaturais e ao ambiente natural. Ressalta que para uma visão moderna da

cultura é necessário destacar a importância de considerá-la sempre dentro de seu

contexto particular, sendo este composto por elementos históricos, econômicos,

sociais, políticos e geográfico, portanto ser impossível isolar as crenças e os

comportamentos culturais do contexto social e econômico que eles ocorrem.

Assim, para conhecermos a magnitude do envolvimento cultural que carrega

historicamente o câncer, faz-se necessário conhecermos a contextualização da

estrutura interna do corpo. Para algumas pessoas, é um tema de mistérios e

especulações, as crenças sobre como o corpo é construído geralmente baseiam-se

no folclore herdado, em livros e revistas, experiências pessoais e teorias. A

importância desta imagem do “lado de dentro do corpo”, influencia a forma como as

pessoas percebem e apresentam suas queixas corporais influenciando as respostas

ao tratamento médico. Essas concepções também não são estáticas, podem variar

de acordo com certos estados físicos, psicológicos e parecem alterar-se com a idade

(HELMAN, 2009).

Continuando, o autor afirma que a doença pode envolver a retificação de um

órgão ou parte corporal doente, e pensar como se fosse “uma coisa”, ou algo

estranho ao corpo. Desse modo, as experiências corporais desagradáveis podem

ser negadas ou separadas do tipo de imagem corporal idealizada no mundo

moderno, um corpo saudável e feliz. No caso das doenças graves como o câncer,

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tanto a doença como a parte do corpo afetada são encaradas como separadas ou

estranhas ao corpo do paciente. Desse modo, considera-se que há fatores culturais

implicados que precisam ser considerados na compreensão da dimensão simbólica

da construção histórica da doença (HELMAN, 2009).

Na perspectiva cultural, o câncer é considerado uma das doenças que ao

longo da história foi associado à punição e ao castigo, fazendo com que as pessoas

que vivenciam o processo de adoecimento pela doença, carreguem a carga moral

associada à doença, além dos sinais e sintomas inscritos no corpo. As formas das

doenças são produtos dos modos como a sociedade marca a concepção dominante

e encara o fenômeno no processo saúde e doença (MARUYAMA, 2006).

Para Helman (2009), historicamente, certas doenças graves, sobretudo

aquelas cuja origem não era conhecida e o tratamento não eram bem sucedidos,

tornaram-se metáforas para tudo o que haviam de “não natural”, socialmente ou

moralmente errado na sociedade. Na idade média, as epidemias como a peste

foram consideradas metáforas para os distúrbios sociais e a ruptura da ordem

religiosa e moral. Nos dois últimos séculos, a sífilis, a tuberculose e o câncer foram

usados como metáforas contemporâneas para denominar o mal.

No século XX, o câncer foi descrito na mídia, e nos discursos populares

como um tipo de força maligna incontida e caótica, exclusiva do mundo moderno,

composta de células primitivas que se comportam destruindo a ordem natural do

corpo e da sociedade, vista para muitas vítimas como punição demoníaca. No caso

de doenças graves como o câncer, essas metáforas carregam várias associações

simbólicas que podem ter efeitos sérios na forma como os pacientes percebem sua

condição e no modo como as outras pessoas se comportam em relação a eles.

Exemplificando, o medo das pessoas de contrair o câncer de outros por acreditarem

ser contagioso, ou a doença ser descrita como epidemia.

A autora enfatiza que as metáforas para o câncer não são estáticas e podem

mudar com o tempo, além de que diferentes tipos de câncer parecem atrair

diferentes tipos de metáforas, dependendo da parte do corpo afetada, da duração,

da condição e velocidade do início da doença. E todas as metáforas não são apenas

fenômenos de linguagem, são também incorporadas por quem as utiliza, tornando-

se parte do modo como os indivíduos vivenciam os eventos e os sentidos que dão a

essas experiências (HELMAN, 2009).

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Embora a ciência médica tenha evoluído nas formas de prevenção,

diagnóstico e tratamento do câncer, tais construções sócio-culturais, permanecem

até os dias atuais. Mesmo com a evolução, não se pode desconsiderar que o câncer

sempre foi uma doença cuja morbidade e mortalidade teve incidência marcante na

história da humanidade, por isso lhe foi associada uma rede de significados

vinculados às questões sociais e culturais, que devem ser compreendidas pelos

profissionais de saúde no processo de cuidar da pessoa com câncer (HELMAN,

2009).

Muitas significações adotadas pela pessoa doente, pelo medo e pavor que

carregam, fazem com que as pessoas procurem afastar a ideia de serem portadoras

da doença, algumas “naturalizam” as anormalidades do corpo, e emolduram as

anormalidades naquilo que é aceitável para o seu grupo social (MARUYAMA, 2006).

Maruyama (2006) ainda relata também, que historicamente o cuidado

profissional não era a primeira opção de escolha para as alterações corporais. Nos

primeiros séculos da história brasileira, as práticas terapêuticas hegemônicas eram

populares, por falta de profissionais da medicina. Com a evolução da ciência, as

práticas médicas e as instituições de saúde foram sendo aceitas pela população.

Entretanto, o sistema de cuidado profissional levou a fragmentação do corpo em

partes; se antes o corpo era cuidado pelo sistema familiar e popular, hoje o corpo é

fator de individuação e dissociação do sujeito, que se constituem em um bem, mais

do que um ser que tem além de um corpo, valores, crenças e sentimentos, de

maneira que há quase uma dissociação do ser humano do seu próprio corpo.

Para Corner (1997) a cultura do câncer, que todos inclusive os enfermeiros

ajudaram a construir, tem raízes na biomedicina, aos quais todos os problemas são

reduzidos ao projeto da ciência. Atualmente, a ciência do câncer está inquietada

com o mundo sub-celular e não com o mundo do corpo, no sentido sociológico.

Helman (2009) ao citar Kleinman (1988), afirma que as pessoas com câncer

quando buscam alívio para os seus sinais e sintomas, dirigem-se ao sistema de

cuidado profissional quando percebem as dificuldades de manter suas rotinas. Ao

entrar neste sistema a sua desordem passa a se constituir em uma entidade

orgânica, passando a ser classificada de maneira ampla, com o nome de câncer que

assume a forma no tempo através do prognóstico dado, com as formas de levar à

cura e ao tratamento.

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No cuidado profissional, as maneiras como os profissionais de saúde lidam

com o câncer trazem subentendidos os significados culturais da doença para eles. O

peso da palavra pode ser percebido muitas vezes nos sinais, nas falas e nos

comportamentos dos profissionais ao se referirem à doença. Mesmo quando

compartilham alguns dos significados culturais do câncer entre si, os profissionais e

a pessoa portadora de câncer mantêm uma relação de desequilíbrio na qual a

autoridade é sempre do profissional. A partir desse momento os profissionais

passam a apropriar-se do corpo da pessoa doente, e a doença e o doente passam a

ser objetivados, com o diagnóstico fechado através dos resultados de exames, e

com a biópsia reforçada pelas condições físicas e queixas, a pessoa tem seu

“status” alterado passando a ser “doente de câncer” (SONTAG, 1984).

Portanto, podemos perceber que o comportamento das pessoas que

vivenciam o câncer, sejam os portadores, os familiares ou os profissionais de saúde,

traduzem a imagem construída sobre a doença ao longo da evolução da

humanidade.

Para Kleinman (1988), o desenvolvimento da ciência médica negligenciou o

sujeito e sua história, o meio social, a relação com o desejo, a angústia, a morte, o

sentido da doença, limitando-se a considerá-lo apenas como um mecanismo

corporal, isolando o corpo na anatomia e fisiologia, colocando o doente em uma

atitude de passividade frente ao tratamento recebido.

Deste modo, no cuidado do doente com câncer é imperativo reconhecer a

dimensão sócio antropológica do câncer, ampliando o olhar do profissional para

além da doença e reconhecer a importância dos significados do câncer para as

pessoas. Por isso, este estudo focaliza a mulher com câncer de colo de útero, pois

viver a experiência da doença é viver o estigma da mesma. O profissional de saúde,

em especial o da enfermagem, precisa compreender a experiência do adoecer do

câncer como uma vivência que ultrapassa o corpo (MARUYAMA, 2006).

Frente à literatura consultada, considero que o enfermeiro tem um papel

fundamental na assistência à mulher com câncer de colo de útero, assim como ao

paciente oncológico em tratamento. Essa assistência que extrapola a habilidade

instrumental nos leva a refletir sobre nossas ações em relação aos aspectos

culturais do paciente, família e profissional na trajetória do câncer.

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CAPITULO 3

O REFERENCIAL TEÓRICO

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CAPITULO 3- O REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 O REFERENCIAL TEÓRICO DA ANTROPOLOGIA INTERPRETATIVA

O Pensamento interpretativo procura compreender o complexo mundo da

experiência, a partir do ponto de vista daqueles que a vivem. Para tanto, há

necessidade de explicar o mundo dos sujeitos, elucidando o processo de construção

de significados e esclarecendo o que e como estão reunidos nas linguagens e ações

dos sujeitos, de forma que possa explicar as diferentes ações do ato humano de

significar e das suas inter-relações (SILVA, 2000). Assim, considera-se que os

indivíduos são seres propositados, ativos, guiados por intenção, que constroem e

interpretam seus próprios comportamentos e dos outros. (SILVA, 2005)

Ricouer desenvolveu a teoria da interpretação do ser e buscou esclarecer a

existência por meios da explicação do sentido, por meio da hermenêutica,

transcendendo todos os pontos de vistas, ao qual a realidade não se reduz somente

ao que pode ser visto, mas também ao que pode ser ditado. (MARUYAMA, 2004)

Segundo Ricouer, a interpretação aborda o desenvolvimento do pensamento

em decifrar o sentido implícito no sentido aparente, e em abrir os níveis de

significação implicados na significação literal, ou seja, o interesse é em interpretar o

sentido implícito na linguagem verbal e não verbal (SILVA, 2000).

A linguagem é responsável por transportar o senso comum e dar sentidos da

experiência vivenciada. Para muitas pessoas a experiência pode ser comum, mas o

conhecimento como ela é formada é individual, precisando para sua formação de

uma elaboração subjetiva e intersubjetiva, mediada pelo senso comum, pela

experiência de quem a vive, ao qual se torna uma referência para cada pessoa

(MINAYO, 2007).

Segundo Silva (2005), a experiência é construída nas práticas das pessoas

e organizadas pela linguagem, e os sentidos dados a experiência determinam ações

e comportamentos. Logo, a experiência da vida constitui–se em expressão cultural,

sendo formas simbólicas construídas socialmente, pelas quais as pessoas procuram

se orientar e se comportar na relação com o mundo.

A abordagem antropológica interpretativa busca o significado simbólico,

baseados na hermenêutica, para o desenvolvimento de estudos que focalizam a

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cultura dos sujeitos. Cliffort Geertz é um dos principais antropólogos cujas ideias

causaram maior impacto na antropologia, na segunda metade do século XX,

considerado o fundador de uma das vertentes da antropologia contemporânea, a

chamada antropologia hermenêutica ou interpretativa que se propõe a compreender

com base na interpretação dos significados que emergem da interação social a partir

da realidade concreta dos indivíduos (COSTA; GUALDA, 2010).

Para Geertz (1989), a cultura deve ser compreendida como uma rede de

significados que incluem conflitos e relações de poder da sociedade. Sendo uma

construção simbólica do mundo sempre em transformação, no qual os atores sociais

escrevem e reescrevem o texto cultural inserido em determinados contextos, dentro

do qual interpretam, organizam e dão sentido a sua existência.

Geertz (1997) salienta para que o pesquisador possa conhecer a cultura e a

experiência de vida, há necessidade de compreender as estruturas sociais

conceituais que se interligam, e que inicialmente se apresentam estranhas, mas

passam a ser apreendidas à medida que o pesquisador conhece as características

culturais do grupo em estudo. Ainda pela sua análise, o pesquisador consegue

organizar os sentidos dados aos fenômenos da vida, e integrar as conexões entre

formulações teóricas e as interpretações que são descritas, construindo assim os

conhecimentos culturais da experiência e seus significados.

Neste sentido para o pesquisador, a cultura é o contexto no qual os

fenômenos se tornam acessíveis. Estabelecendo uma ligação entre as formas de

pensar e agir dos indivíduos de um grupo, que ressalta a importância da cultura na

construção de todo o evento humano, considerando nesta perspectiva que

percepções, interpretações e ações, no campo da saúde, são culturalmente

construídas.

Logo a abordagem antropológica interpretativa da cultura busca

compreender e interpretar o significado das ações dos indivíduos de uma

determinada sociedade, num determinado período de tempo, que se conectam

transformando-os em conceitos científicos.

3.2 O REFERENCIAL TEÓRICO DA ANTROPOLOGIA MÉDICA

A partir da antropologia geral que sofreu influências da antropologia

interpretativa de Geertz, desenvolveu-se a antropologia médica com aplicação na

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epidemiologia e na clínica. Os pesquisadores da antropologia médica têm como

objeto de estudo, como as pessoas pensam as causas das doenças e seus

tratamentos, e como as enfrentam, considerando as diferenças entre os diversos

grupos sociais. Estudando como tais crenças e práticas estão relacionadas a

mudanças biológicas e psicológicas no organismo humano, na saúde e na doença

(HELMAN, 2009).

Na abordagem de temas relacionados ao processo saúde e doença,

considerando os contextos sociais e culturais, apoiar-se na antropologia pode

representar uma perspectiva muito enriquecedora e complementar, pois essa

abordagem permite uma nova construção de modelos de saúde – doença que

recuperam a dimensão experiencial e a psicossocial, com foco na cultura (COSTA;

GUALDA, 2010).

Portanto, considerando que o objeto desta pesquisa são os sentidos

interpretados pelo pesquisador, a partir dos dados, das idéias e ações das mulheres

com câncer de colo de útero ao lidarem com a experiência do diagnóstico ao

tratamento, busquei a abordagem teórica da antropologia médica. Ela faz o

cruzamento entre o corpo, a mente e a vida social, envolvendo os aspectos

biológicos, ecológicos, culturais, simbólicos, pessoais e sociais relacionados á

experiência da doença e tratamento (MUNIZ, 2008).

Na antropologia, a saúde não é vista somente como consequência de

fatores sociais e econômicos, mas também como um produto culturalmente

determinado. Sendo entendida como um conjunto de ideias, conceitos, regras e

comportamentos compartilhados em um determinado grupo e que organiza a

experiência da saúde e da doença nas distintas sociedades (CAPRARA, 2003;

COSTA; GUALDA, 2010).

Os estudiosos têm se preocupado em problematizar e compreender o

processo de saúde- doença através das experiências das pessoas. A compreensão

desse fenômeno sociocultural, a experiência da saúde e doença é atravessada pelas

construções dos significados sociais, não podendo ser desvinculado das estruturas

sociais que permeiam a sociedade.

A antropologia tem estudado a relação entre saúde e cultura desde 1924 e

autores reconhecem que a doença e seu tratamento somente são processos

biológicos no sentido abstrato, pois, os fatores sociais determinam a percepção do

estado do doente, do diagnóstico da doença e do seu tratamento.

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Costa e Gualda (2010) consideram que, em termos teóricos, a antropologia

médica difere da antropologia da saúde, por focar seus estudos nas racionalidades

médicas, nas patologias e nos sistemas terapêuticos, descrevendo que a

antropologia da doença estuda a percepção das doenças e as resposta a elas de um

determinado grupo social, ao qual elabora e analisa modelos etiológicos e

terapêuticos. A antropologia da saúde considera que o ser humano precisa ser

compreendido como um ser psicobiológico, sobrepondo-se a divisão cartesiana

entre o corpo e a mente. Propôe novas maneiras de pensar e agir em relação ao

corpo, cultura e individualidade de cada ser humano, formando uma unidade

complexa na qual não é possível separar fatores biológicos, psicológicos e culturais

para se descobrir a sua essência.

Segundo Langdon (2003), na visão de cultura como um sistema simbólico, a

doença é vista como um processo. A situação de doença como uma sequência de

eventos para o sujeito que é motivado pelos objetivos de entender o sofrimento, na

finalidade de constituir a experiência vivida e abrandar o seu sofrimento. Portanto, a

interpretação da doença surge desse processo. Assim, para entender os seus

sentidos, é necessário acompanhar o episódio da doença, o itinerário terapêutico e

os discursos dos participantes envolvidos, em cada etapa do evento.

Considerando a doença como processo, também é vista como experiência,

entendida como processo subjetivo construído pelos conhecimentos, crenças,

valores e práticas adquiridas nas relações sociais. Ela não é um conjugado de

sintomas físicos, mas um processo subjetivo no qual a experiência corporal é

mediada pela cultura. Os processos de saúde e doença não se baseiam em

desenvolvimento biológico. Há processos simbólicos – culturais, sociais e individuais

– que compõem os sentidos da experiência da doença e fatores a serem

considerados na evolução de uma doença, sendo, portanto experimentada e

expressada em diferentes grupos. (ANJOS, 2005; MUNIZ, 2008)

Contudo, a cultura não é a única influência para o indivíduo, significa apenas

uma dentre várias, as quais incluem fatores individuais (idade, gênero,

personalidade e experiência), fatores educacionais (formais e informais) e os fatores

socioeconômicos (classe social, status econômico, redes de apoio) (HELLMAN,

2003).

Arthur Kleinman é um dos principais representantes da corrente

interpretativa na antropologia médica e foi um dos pioneiros a abordar a doença

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como experiência. Na antropologia médica de Kleinman (1980) que foi inspirada em

Geertz, diz que a cultura fornece modelos “de” e “para” os comportamentos

humanos referentes à saúde e a doença. Para Kleinman, o ser humano como um

ser psico/biológico é colocado no núcleo do seu modelo de doença, ao qual o

impacto do mundo externo na experiência interna é mediado pela competência

simbólica de o ser humano interpretar sua experiência (SILVA, 2005)

O conhecimento da doença como experiência tem consequências para a

prática clínica, portanto é importante ver os pacientes como pessoas que detêm

informações importantes sobre suas aflições, portanto resgatar a cultura para o

centro da relação entre usuários e serviços de saúde resulta em um esforço que

desencadeia uma série de implicações de como este relacionamento será efetivado.

Para tanto o reconhecimento das diferenças culturais existentes em relação ao

usuário deve servir de instrumento acessório na resolução de seus problemas da

melhor maneira, devendo esse tipo de conduta aberto a todos os campos da

atenção da equipe de saúde (SILVA, 2005)

Kleinman (1980) assinala a medicina como seguidora do modelo da

biomedicina e a considera como um sistema sócio-cultural. O paradigma biomédico

se constitui a partir de diferentes ciências baseadas na biologia. Nesta, as doenças

são identificadas e classificadas como processos fisiopatológicos orgânicos, de

natureza individual.

Kleinman (1980) dentro deste contexto estabeleceu a diferença entre illness

e disease. Depois de discordâncias sobre o entendimento dos termos entre

pesquisadores no Brasil; Almeida Filho (2001) traduziu os termos que passaram a

ser aceitos pelos pesquisadores das ciências antropológicas e sociais. Após a

tradução pode-se dizer que disease (doença), illness (enfermidade). A disease é a

forma como a experiência da doença (ilness) é interpretada pelos profissionais de

saúde, é a patologia. Representando uma definição essencialmente biomédica,

focado sobre o ser humano fundamentalmente biológico. Assim, uma das atribuições

principais do médico é traduzir o discurso, os sinais e os sintomas do paciente para

chegar ao diagnóstico da doença.

O illness equivale à enfermidade, entendida como resposta subjetiva do

paciente e de todos os que o cercam. Ou seja, é a maneira como ele interpreta a

origem e a importância do fato, o efeito desses sobre seu comportamento, o seu

relacionamento com outras pessoas e as condutas feitas pelos pacientes para

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remediar a situação, não se incluindo somente a experiência pessoal do problema

de saúde, mas também o sentido que o indivíduo dá ao mesmo. (ALMEIDA FILHO,

2001).

Assim, a experiência de ser doente não acontece de repente. É antes de

tudo um processo que influencia e é influenciado pelo mundo social e físico, como

pela realidade simbólica; os sentidos e significados atribuídos à doença, ao doente e

ao processo de cura (SILVA, 2005)

Para Kleinman (1980), as atividades de cuidados em saúde são respostas

socialmente organizadas perante a situação de doença e podem ser estudadas

como um sistema cultural, e o sistema de cuidados em saúde seriam constituídos

pela interação entre três setores diferentes, o profissional, o tradicional e o popular,

correspondendo a modelos explicativos dos profissionais e dos pacientes e suas

famílias. E a interação de tais símbolos em uma rede semântica corresponde às

realidades médicas que conjugam normas, valores, expectativas individuais e

coletivas, comportamentos e formas de pensar, agir em relação à saúde e ao

processo de doença (UCHÔA; VIDAL, 1994).

Considerando o processo de doença, Kleinman (1980) desenvolveu o

Modelo Explicativo ou Modelo Explanatório (ME), que sistematiza o estudo dos

modelos adotados por diferentes tipos de pessoas quando enfrentam problemas

com a saúde. Este modelo permite compreender o processo cognitivo e

comunicativo pelo qual a doença é padronizada, interpretada e tratada. Assim, o ME

é definido como o conjunto de ideias de todos os envolvidos sobre o episódio de

doença e seu tratamento.

Para o autor, existe uma diferenciação entre os MEs usados pelos

profissionais da saúde (ME profissional) e o ME usado por pessoas doentes e seus

familiares (ME leigo). Ambos ilustram como a doença e os tratamentos são

entendidos e vivenciados pela sociedade, e como escolhem as terapias e os

profissionais de saúde, possibilitando a elaboração do significado pessoal e social

da experiência da doença. Assim, o intercâmbio entre os dois MEs permitem a

compreensão de como são desenvolvidos os processos de assistência à saúde,

baseado em crenças, normas, condutas e expectativas que envolvem a relação e

sociedade (SILVA, 2005).

Lira et al. (2004) pontuam que a análise da singularidade da doença crônica

revela os limites da medicina relacionada ao tratamento da doença, com a

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necessidade de constituir um sistema de cuidado humano com consequente

ampliação da perspectiva do fenômeno. Afirmando que a enfermidade, na

perspectiva antropológica, é multifacetada e as experiências e eventos a ela

relacionados revelam ou ocultam muitos significados. Assim o foco principal do

cuidado ao doente é o de identificar os sentidos da enfermidade para os que a

vivenciam.

A figura 1 A representação dos MEs e da rede semântica da enfermidade.

Figura 1- ME, redes semânticas e procura por cuidados de saúde. Fonte Kleinman (1988) Apud Lira et al. (2004).

É interessante ressaltar que apesar de esta perspectiva auxiliar no

entendimento desses fenômenos, é prevalente até os dias de hoje o modelo

biomédico com uma visão reducionista da doença, panorama de um processo

exclusivamente biológico (SILVA, 2005)

Uchôa e Vidal (1994) acreditam que a saúde de determinado sujeito (ou

sociedade) é determinada pelo seu modo de vida, pelos costumes, crenças, valores,

normas, regras, correspondendo a estes últimos uma condição importante para

reverter a experiência da doença em saúde. A experiência da doença e os padrões

de saúde variam em diferentes sociedades, tendo como fator determinante a

posição socioeconômica e a subcultura de quem a concebe (COSTA; GUALDA,

2010)

Sintomas e processos psicológicos típicos associados com tipos particulares de problemas

ocasionados pela enfermidade.

Modelos

Explicativos

Incluído rótulo da doença e idioma cultural para articulação da experiência da enfermidade.

Problemas sociais típicos associados com tipos particulares de problemas ocasionados pela doença

REDE SEMÂNTICA DA ENFERMIDADE

Crenças sobre causas e

significados de tipos

particulares de problemas

ocasionados pela

enfermidade

Procura por cuidados de

saúde a partir de escolhas

de opções terapêuticas

disponíveis para tipos

particulares de problemas

ocasionados pela

enfermidade

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Então, do mesmo modo que é preciso conhecer a cultura dos indivíduos

para se notar se reagem de forma semelhante ou diferente à doença, a morte, aos

infortúnios da vida, também é preciso conhecer sua cultura para se entender como

atribuem as causas de uma determinada doença e como concebe o tratamento

(UCHÔA; VIDAL, 1994).

Os pressupostos teóricos descritos possibilitam considerar que o objeto de

estudo a experiência (subjetiva) de ter câncer de colo de útero e submeter-se ao

tratamento leva a uma metodologia e um método de pesquisa que possam analisar

os fenômenos socioculturais através da interação dos indivíduos, mas, a influência

do conhecimento do modelo biomédico, ao qual seja conhecida a dialética entre o

indivíduo e sociedade. Portanto é a partir da análise cultural que poderemos ampliar

os conhecimentos culturais sobre o fenômeno em estudo.

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CAPITULO 4

TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

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CAPITULO 4- TRAJETÓRIAS METODOLÓGICA

4.1TIPOS DE ESTUDO E ABORDAGEM METODOLÓGICA

Este estudo tem como objetivo Identificar como as mulheres com câncer de

colo de útero constroem a experiência do diagnóstico ao tratamento, por isso

optamos por um estudo de aspecto exploratório, do tipo descritivo com abordagem

qualitativa, com um olhar nas bases conceituais da antropologia da saúde.

Para Leopardi (2002) a pesquisa exploratória “permite ao investigador

aumentar sua experiência em torno de um determinado problema. Consiste em

explorar tipicamente a primeira aproximação de um tema e visa criar maior

familiaridade em relação a um fato ou fenômeno”.

No estudo descritivo, Leopardi (2002) define como estudos que são

caracterizados pela necessidade de se explorar uma situação desconhecida, ao qual

se tem a necessidade de buscar mais informações. Polit (2004) complementa o

pensamento anterior, quando evidencia que os estudos descritivos possuem como

principal objetivo o retrato preciso das características de indivíduos, situações ou

grupos e da frequência com que ocorrem determinados fenômenos, estando bem

adequada à aplicação para este estudo.

Barros e Lehrfeld (2000), ainda dizem que a pesquisa descritiva não é

influenciada pelo pesquisador, uma vez que o mesmo descreve o objeto sem que

suas características pessoais sejam taxadas. Ele procura desvelar a frequência com

que o fenômeno ocorre baseado na sua natureza, características, causas, suas

relações e ligações com outros fenômenos.

A metodologia qualitativa é a mais adequada a responder as questões

particulares, nas ciências sociais com um nível de realidade que não pode ser

quantificada, ou seja, “trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações,

crenças, valores e atitudes que corresponde a um espaço mais profundo das

relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à

operacionalização de variáveis” (MINAYO, 2011).

Turato (2005) ainda afirma que na abordagem qualitativa existe o interesse

em conhecer o microssocial, com base nas palavras, histórias, narrativas, cujo o

interesse é a dimensão subjetiva, as experiências e os processos de significação.

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A escolha da abordagem qualitativa se deu pelo fato de que ela permite

descobrir os sentidos da experiência pela mulher com câncer de colo de útero, por

meio de seus valores, crenças, símbolos e práticas.

4.2 CAMPO DE ESTUDO

O estudo se desenvolveu no Hospital Ophir Loyola, referência em Câncer no

Estado do Pará que corresponde ao Centro de Assistência em Alta Complexidade

em Oncologia (CACON), no 2º Departamento de Câncer (2º DC) e no Núcleo de

Acolhimento do Enfermo Egresso.

Turato (2005) define o campo de pesquisa como o lugar onde são

encontrados os sujeitos que são detentores de autoridade sobre a temática, de

forma que o pesquisador poderá interagir com eles, com o objetivo de obter

informações e observar sua postura diante da ocorrência.

O local do estudo, o Hospital Ophir Loyola, foi criado em 06 de outubro de

1912, por iniciativa dos médicos Ophir Loyola, Nogueira de Farias e o Raimundo

Proença, com o nome de Instituto de Proteção e Assistência á Infância, instituição

privada filantrópica que se destinava ao tratamento de patologias hematológicas e

pesquisas científicas. Somente após algum tempo voltou-se para o tratamento de

câncer, transformando-se hoje em referência da região norte (HOL, 2012).

Atualmente, como Empresa Pública Ophir Loyola - EPOL, oficialmente

iniciou suas atividades em 01 de janeiro de 1997. Tendo como finalidade e

obrigação principal, a manutenção e a recuperação das pessoas frente aos riscos

provenientes de patologias crônicos degenerativas, principalmente as abordadas

pela oncologia e neurologia, além de outras patologias, operando em consonância

com as diretrizes do Sistema Único de Saúde – SUS (HOL, 2012).

O Núcleo de Acolhimento do Enfermo Egresso (NAEE) é um espaço

exclusivo para pacientes com câncer, egressos do interior do Estado; que não

possuem residência em Belém tem capacidade para acolher 49 clientes e 49

acompanhantes (98 leitos no total). E realiza um trabalho biopsicossocial por conta

dos efeitos das condições de saúde comprometidas, da autoestima, afastamento do

convívio familiar, impacto frente à nova realidade, diferenças culturais, dificuldades

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junto à rede de saúde pública, baixa escolaridade e o ínfimo poder aquisitivo dos

pacientes com câncer atendido no hospital (HOL, 2012).

O Hospital tem como missão prestar assistência à saúde oferecendo

excelência de qualidade em oncologia, doenças crônicas degenerativas e

transplantes na prestação de serviços de média e alta complexidade, ensino,

pesquisa e extensão de forma humanizada e articulada com as Políticas Públicas

em parceria com a Sociedade Civil (HOL, 2012).

Os locais foram determinados como campos da pesquisa por serem

específicos no tratamento clínico de câncer e possuírem serviços de

radioterapia/braquiterapia, quimioterapia e cirúrgico do câncer e favoreceu a coleta

dos dados sobre o objeto investigado.

4.3 APROXIMAÇÃO DO CAMPO E DOS SUJEITOS DA PESQUISA

O campo utilizado nesta pesquisa foi a clínica de ginecologia (2º

Departamento de Câncer - 2º DC) e o Núcleo de Acolhimento do Enfermo Egresso

do Hospital Ophir Loyola. A clínica possui 14 leitos destinados a internação de

pacientes clínica e cirurgia de patologias ginecológicas e mamárias. A equipe é

composta por médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, psicólogos,

assistentes sociais, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais. Quanto ao Núcleo de

Acolhimento do Enfermo Egresso, tem capacidade de acolher 49 clientes, a equipe é

composta por assistentes sociais, enfermeiros, técnicos de enfermagem,

nutricionistas, psicólogos e terapeutas ocupacionais.

A pesquisa foi realizada no horário da tarde, ao qual foi escolhido para a

realização da pesquisa por ser um turno com menor fluxo de profissionais da saúde,

assim como a realização de procedimentos serem menos intensa por parte da

equipe de saúde.

A entrada no campo da pesquisa ocorreu após a aprovação do projeto pelo

CEP da Escola de Enfermagem “Magalhães Barata”, da Universidade do Estado do

Pará (Número do Parecer: 151.564 em 22/11/2012). Em seguida, entramos em

contato com a enfermeira responsável pela unidade hospitalar, com o objetivo de

identificar as participantes com diagnóstico confirmado de câncer de colo uterino.

Acompanhada pela enfermeira tivemos o primeiro contato com mulheres

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previamente selecionadas de acordo com os critérios de inclusão, e após este

primeiro contato foi feito o convite para participarem do estudo. Neste momento

explicamos os objetivos do estudo e a leitura do TCLE, informando-as que as

entrevistas iriam ser gravadas em mídia digital, e a garantia do anonimato com

emprego de pseudônimo alfanumérico, e com a concordância em participar do

estudo, solicitamos a assinatura do TCLE.

A partir dessa etapa foi aprazada a entrevista conforme disponibilidade de

dia e horário da participante sem interromper sua rotina de tratamento; as

entrevistas foram concretizadas no consultório de enfermagem do 2º Departamento

de Câncer e do Núcleo de Acolhimento do Enfermo Egresso, garantindo assim a

privacidade e o conforto das mulheres no momento da coleta de dados. Essa

privacidade foi importante, principalmente pela abordagem subjetiva da coleta de

dados, que poderia resultar em longas conversas e originar riscos emocionais,

através dos sentimentos envolvidos nos relatos pessoais das mulheres. No entanto,

se no momento da entrevista houvesse mal estar e incômodo, seria interrompida a

entrevista com retomada ou afastamento definitivo da pesquisa.

Os sujeitos do estudo foram trinta (30) mulheres com o diagnóstico de

câncer de colo de útero. Padilha et al. (2007) ressaltam que o número de sujeitos

tem que ser representativo de um grupo, não podendo ser um número insignificante.

Os critérios de inclusão para a participação da entrevista foram mulheres

com confirmação de no mínimo 6 meses do diagnóstico de câncer de colo de útero;

em tratamento cirúrgico, quimioterápico e/ou radioterapia; conscientes orientadas no

tempo e no espaço e maiores de 18 anos. Não fizeram parte do estudo mulheres

com diagnóstico confirmado de câncer de colo de útero, mas que ainda não

iniciaram nenhum tratamento; menores de 18 anos; casos suspeitos de câncer de

colo de útero que estão sem confirmações por biópsia; inconscientes e

desorientadas no tempo e espaço e mulheres fora de possibilidades terapêuticas de

tratamentos atuais.

4.4. DESCRIÇÃO DA TÉCNICA DE COLETA DE DADOS

A coleta de dados foi realizada por meio da técnica de entrevista semi

estruturada. Foi aplicado um instrumento organizado em duas partes: a primeira com

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questões fechadas que abordam o perfil sócio cultural das entrevistadas, e a

segunda parte com quatro questões abertas fundamentados no Modelo Explicativo

(ME) proposto por Kleinman (1988), que procura explicar a enfermidade a partir de

questões como: o tempo e modo do início dos sintomas, o curso da doença, o

tratamento e problemas sociais.

Minayo (2011) enfatiza que a entrevista é a estratégia mais usada no

trabalho de campo, representando uma conversa a dois, ou entre vários

interlocutores, realizada por ação do pesquisador, objetivando a construção de

informações relacionadas para um objeto de pesquisa. A entrevista semi estruturada

combina perguntas fechadas e abertas, oportunizando o entrevistado a possibilidade

de falar sobre o tema em questão.

A entrevista versa numa modalidade em que o pesquisador pode direcionar

parcialmente os relatos dos depoentes para os objetivos do estudo, podendo este

direcionamento ser dado alternadamente pelo pesquisador, no entanto há

necessidade de flexibilidade que permita ao sujeito assumir o comando; permitindo

assim esta troca, uma melhor construção de ideias em exposição, favorecendo que

os objetivos do estudo sejam contemplados. Pois é necessário para que a entrevista

seja satisfatória, que o entrevistador elabore um planejamento mínimo baseado nos

principais pontos a serem abordados, ou seja, uma entrevista não estruturada

(TURATO, 2003; GASKELL, 2002).

Cada entrevista realizada, durou entre 30 minutos a 1 hora e 30 minutos e

nos permitiu captar as gesticulações, reações faciais e as emergências dos

sentimentos que emergiram durante a entrevista, sendo estes fundamentais para

investigarmos ainda, o cotidiano de sua vida, sua maneira de lidar com a doença,

suas dificuldades e expectativas.

4.5. O PROCESSO DE ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

Para proceder à análise e interpretação dos dados foi utilizada a técnica de

análise de conteúdo; pelo fato de abranger um conjunto de estratégias, cujo objetivo

é a busca dos sentidos contidos no material coletado por meio de entrevistas,

métodos de análise verbal ou mensagens de comunicação visual, tendo por objetivo

descrever o fenômeno estudado (ELO; KYNGA, 2008; TURATO, 2003).

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Contudo, o primeiro passo da análise foi a construção de um conjunto de

categorias descritivas, com unidades de significados, com base no referencial

teórico conceitual da antropologia da saúde, a partir da qual realizamos a primeira

distribuição metódica dos dados, após leituras sucessivas do material que

possibilitou a divisão em unidades de significados. A categorização analítica é a fase

de abstração em que extrapola os dados e tenta-se estabelecer conexões e relações

que possibilitem a novas explicações e interpretações.

Campos e Turato (2009) estabeleceram as seguintes etapas metodológicas

para a fase de análise de dados, tendo como fundamentação teórica para a análise

de estudos compreensivo-interpretativos, que são: 1ª Fase: Preparação e a pré-

análise que compreende a leitura flutuante para impregnar-se do conteúdo; 2ª Fase:

O processo de categorização dos assuntos por relevância; com a utilização do

raciocínio indutivo para análise e a 3ª Fase: Apresentação dos resultados por meio

das citações ilustrativas das falas para a discussão e interpretação do material.

Etapa 1 Preparação: É a fase em que ocorreu a transcrição das entrevistas,

exatamente como constam nos arquivos de áudio, seguida pela leitura flutuante do

material, entendida como um modo de escuta que não deve privilegiar nenhum dos

elementos discursivos a fim de entrar em contato com a estrutura, descobrir

orientações e registrar impressões sobre o texto.

Etapa 2 Processo de categorização: Compreendido como processo de

apresentação didático-científica dos resultados, referentes a realização da análise

de dados, pois procura dar ordenamento, de modo a tornar sua apresentação

aceitável para os padrões de compreensão do fenômeno. Pode-se entender

categoria como grandes enunciados que abarcam um número variável de temas,

segundo seu grau de intimidade ou proximidade, e que possam, através de sua

análise, exprimir significados importantes que atendam aos objetivos de estudo

criando novos conhecimentos.

Logo nesta etapa o material transcrito foi lido várias vezes, para apreensão

dos elementos contidos nas falas. Iniciou-se agrupando as falas por questões

levantadas. Após estudo aprofundado, relacionou-se as informações, marcando com

cores distintas as falas com características comuns, que se relacionavam entre si,

criando as codificações. Fez-se então um recorte das fala e as reagrupou-se

conforme as codificações criadas.

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Etapa 3- Análise de conteúdo indutivo: A indução se materializa em

atitude mental por intermédio da qual, partindo-se de dados particulares, se infere

uma verdade geral ou universal, não contida apenas nas partes examinadas, e cujo

objetivo é apresentar conclusões generalizáveis. As abstrações teóricas se formam

e se consolidam a partir da discussão dos resultados, desde quando já são colhidos,

sendo que o pesquisador vai construindo a teoria do particular para o geral.

Os dados foram discutidos e interpretados à luz do referencial teórico do

estudo. Nessa etapa, tentou-se descobrir o conteúdo subjacente ao que estava

sendo manifesto, que foi discutido na apresentação dos resultados. A análise de

conteúdo possibilitou a organização dos dados das entrevistas.

4.6. ASPECTOS ÉTICOS.

O projeto foi enviado a Diretoria de Ensino e Pesquisa do Hospital Ophir

Loyola (HOL) e após aceitação do Hospital (ANEXO A) e na sequencia, ao Comitê

de Ética da Escola de Enfermagem “Magalhães Barata”, da Universidade do Estado

do Pará (UEPA).

De acordo com a Resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL,

1996), este foi aprovado pelo Comitê de Ética da Escola de Enfermagem

“Magalhães Barata” da Universidade do Estado do Pará (UEPA) sob o processo Nº

151.564 em 22/11/2012 (ANEXO B).

As informantes foram 30 mulheres com o diagnóstico de câncer de colo de

útero. Aos participantes desta pesquisa foi garantido seu anonimato e sigilo com

relação a seus dados pessoais e identificação e também assegurado o livre direito,

de participar ou não da pesquisa, abandonando-a sem perdas de qualquer espécie,

sendo aplicado um termo de consentimento livre esclarecido (APÊNDICE-A), que

constavam os objetivos da pesquisa e as estratégias da mesma. As entrevistas

foram gravadas em mídia digital somente após autorização das entrevistadas e

assinatura do TCLE.

O primeiro encontro ocorreu com a Enfermeira responsável pelo 2º

Departamento de Câncer. Em seguida, apresentamos o estudo às mulheres e

novamente explicamos os objetivos do estudo, e do aceite em participar do mesmo,

entregamos o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e permitimos o tempo

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necessário para leitura e assinatura e uma via foi entregue às informantes. Os

resultados foram identificados pelo sistema alfa numéricos.

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CAPITULO 5

CONHECENDO O PERFIL SÓCIO CULTURAL DOS

SUJEITOS DA PESQUISA

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CAPITULO 5 - CONHECENDO O PERFIL SÓCIO CULTURAL DOS SUJEITOS DA

PESQUISA

A antropologia tem dado importantes contribuições para a compreensão de

como vários fatores complexos se relacionam com a doença, especialmente o papel

do contexto social e cultural, ao qual têm destacado que variáveis como: classe

social, posição econômica, gênero, eventos de vida, crenças e práticas culturais

podem ser correlacionadas com a incidência e distribuição de certas doenças

(HELMAN, 2009).

Ainda para Helman (2009), a cultura em que nascemos ou na qual vivemos,

não é a única influência, ela é apenas uma de várias influências sobre as crenças e

os comportamentos relacionados à saúde, que incluem os fatores individuais (como

idade, gênero, aparência, personalidade, experiência e estado físico). Fatores

educacionais (como educação formal e informal, educação religiosa, étnica ou

profissional), fatores sócios econômicos (como pobreza, classe social, status

econômico, ocupação, redes de apoio social), fatores ambientais (como clima,

infraestrutura, moradia, estradas, pontes e serviços de saúde). Portanto, em

qualquer caso particular, todos esses fatores vão desempenhar algum papel, em

proporções diferentes, seja o comportamento determinado pela personalidade, pelo

status econômico ou pelas características do ambiente em que vivem.

O estudo fundamenta-se nos pressupostos da antropologia, ao qual a visão

moderna de cultura perpassa por considerá-la sempre dentro de seu contexto

particular. Composto de elementos históricos, econômicos, sociais, políticos,

geográficos, o que significa que a cultura de qualquer grupo de pessoas, em

qualquer ponto particular no tempo, é sempre influenciada por outros fatores, sendo

impossível isolar as crenças e comportamentos culturais do contexto social e

econômico em que eles ocorrem.

Dessa forma se fez necessário conhecer o contexto sócio cultural das

mulheres com câncer de colo de útero, para auxiliar-nos a uma melhor compreensão

da experiência da mulher com câncer no conceito da cultura, uma vez que

favorecerá a construção das características desse grupo do estudo.

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TABELA 1- Distribuição das mulheres com câncer de colo de útero de acordo com a idade, HOL – Belém - Pará – 2013.

IDADE F %

20- 30 ANOS 03 10,00 31- 40 ANOS 02 6,67 41-50 ANOS 09 30,00 51-60 ANOS 11 36,67 61-70 ANOS 04 13,33 71-80 ANOS 00 0 81-90 ANOS 01 3,33

TOTAL 30 100

A faixa etária entre mulheres variou de 20 a 90 anos, predominando 36,67%

(11) na faixa etária de 51 a 60 e 30% (09) na idade de 41 a 50 anos com o

diagnóstico de câncer de colo de útero no período do estudo. Estes dados

corroboram com os dados do INCA (2012) em que o câncer de colo de útero tem a

incidência maior na faixa etária entre 20 a 29 anos com risco aumentado na faixa

etária de 50 a 60 anos.

Os resultados da pesquisa de Zaponi e Melo (2010) destacam que a

ocorrência do câncer de colo de útero concentrou-se principalmente, em mulheres

acima dos 35 anos, a mortalidade prevaleceu na faixa etária de 45 a 64 anos de

idade; e ainda assinalaram que a região Norte possui a maior taxa de mortalidade

por câncer de colo de útero em relação às demais regiões, seguido da região

Nordeste e Centro Oeste.

É importante refletirmos que aproximadamente 40% das mulheres

encontram-se na fase da vida adulta, possuem filhos e são casadas, além disso,

essa faixa etária corresponde à fase da vida adulta do ser humano, ou seja,

geralmente o indivíduo encontra-se economicamente ativo para suas atividades

laborais, dessa forma este período de doença pode gerar grandes repercussões na

vida da mulher.

Jorge e Silva (2010) afirmam que a experiência da doença e tratamento em

toda a sua trajetória é vivenciada de forma particular por cada mulher e que a idade

da mulher acometida também influencia em sua adaptação e nas sequelas

biopsicossociais provocados pelo câncer.

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TABELA 2- Distribuição das mulheres com câncer de colo de útero de acordo com o tempo de diagnóstico, HOL – Belém - Pará – 2013.

TEMPO DE DIAGNÓSTICO

F %

6 MESES - 1 ANO 09 30 1 ANO 1MÊS - 2 ANOS 08 26,66 2 ANOS 1MÊS - 3 ANOS 02 6,67 3 ANOS 1 MÊS - 4 ANOS 02 6,67 4 ANOS 1 MÊS - 5 ANOS 04 13,33 5 ANOS 1 MÊS - 6 ANOS 01 3,33 6 ANOS 1 MÊS - 7 ANOS 02 6,67 7 ANOS 1 MÊS- 8 ANOS 00 0 8 ANOS 1 MÊS - 9 ANOS 00 0 9 ANOS 1 MÊS- 10 ANOS 02 6,67 TOTAL 30 100

Quanto o tempo de diagnóstico do câncer de colo de útero, variou entre 6

meses a 10 anos, predominando em 30% (09) das entrevistadas, o tempo de 6

meses a 1 ano. Percebemos que as mulheres do estudo possuem já um significativo

tempo de conhecimento sobre o diagnóstico, favorecendo assim o relato da

experiência de ter câncer.

Ressaltamos que não podemos afirmar a temporalidade da doença das

participantes do estudo, mas todas relataram um período longo da busca do

diagnóstico. O estudo de Vidal (2009) demonstra que o desenvolvimento do câncer

de colo de útero, se dá de maneira progressiva, iniciando com lesões leves

displásicas que evoluem para severas, e depois para carcinoma, e se não tratadas,

para o câncer invasivo cervical escamoso. O câncer pode ser silencioso e o tempo

de progressão para o desenvolvimento do tumor pode levar em média de 10 a 12

anos. Portanto, ocorre a necessidade de diagnóstico precoce e tratamento breve

para evitar progressão da doença e agravos à saúde da mulher.

TABELA 3- Distribuição das mulheres com câncer de colo de útero de acordo com cor/raça, HOL – Belém - Pará – 2013.

COR/RAÇA F %

BRANCA 2 6,67 PARDA 15 50 NEGRA 13 43,33 TOTAL 30 100

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Em relação à cor/raça 50% (15) das mulheres se autodesignaram parda e

43,33% (13) da cor/raça negra, é interessante ressaltarmos que atualmente a

literatura científica faz pouca referência à relação ao câncer de colo de útero e

cor/raça.

Thuler et al. (2012) ao descreverem o perfil das pacientes com câncer de

colo de útero no Brasil com base nos dados do DATASUS observaram que 77.317

casos de câncer de colo de útero, constatando que a média de idade ao diagnóstico

do câncer do colo do útero foi de 49,2 anos, sendo que 55,3% das pacientes

encontravam-se abaixo dos 50 anos de idade no momento do diagnóstico,

observou-se predomínio de mulheres de cor/raça parda (47,9%), com ensino

fundamental incompleto (49,0%) e casadas (51,5%), como constatado neste estudo,

ao qual a maioria das entrevistadas é casada e possui baixa escolaridade.

TABELA 4- Distribuição das mulheres com câncer de colo de útero de acordo com o estado civil, HOL – Belém - Pará – 2013.

ESTADO CÍVIL F %

CASADA 10 33,33 SOLTEIRA 06 20

VIÚVA 04 13,33 DESQUITADO 00 0

VIVE MARITALMENTE 08 26,67 SEPARADA DE FATO 02 6,67

TOTAL 30 100

Quanto ao estado civil das mulheres 33,33% (10) eram casadas, e 26,67%

(08) viviam maritalmente. Podemos constatar que a maior parte das mulheres

acometidas por câncer de colo de útero é sexualmente ativa e referem possuir

parceiro sexual. O estudo realizado por Gomes (2003) sobre os fatores de risco para

o câncer de colo de útero entre mulheres com lesões cervicais por HPV mostrou que

60% das mulheres eram casadas ou viviam maritalmente em união consensual e

tinham parceiros fixos. Afirmando que a estabilidade conjugal pode conduzir as

esposas a maiores exposições a doenças sexualmente transmissíveis por confiarem

na fidelidade de seus parceiros, logo não fazendo uso de preservativos.

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TABELA 5- Distribuição das mulheres com câncer de colo de útero de acordo com o grau de escolaridade, HOL – Belém - Pará – 2013.

GRAU DE ESCOLARIDADE F %

ANALFABETO 12 40 ENSINO FUNDAMENTAL Completo 05 16,67 Incompleto 10 33,3 ENSINO MÉDIO Completo - - Incompleto 02 6,67 ENSINO SUPERIOR Completo 01 3,33 Incompleto - - TOTAL 30 100

No que tange ao grau de instrução das entrevistadas não possui nenhum

grau de instrução representando 40% (12), enquanto 33,33% (10) possuem o ensino

fundamental incompleto, 6,67% (02) com o ensino médio incompleto e somente uma

mulher possui o ensino superior completo. Neste estudo a baixa escolaridade

representou um dos fatores de risco para câncer do colo do útero. A pesquisa

realizada por Medeiros (2005) na América Latina constatou que o risco de mulheres

serem acometidas por câncer cervical aumenta quando as mulheres possuem

nenhuma ou pouca escolaridade e baixo nível socioeconômico.

Já Peres (2007) identificou que as mulheres com baixo grau de instrução

têm maior risco de desenvolver câncer do colo uterino e, quanto menor o grau de

instrução, maior o risco do diagnóstico avançado.

TABELA 6- Distribuição das mulheres com câncer de colo de útero quanto ocupação, HOL – Belém - Pará – 2013.

OCUPAÇÃO F %

PROFESSORA 01 3,33 DO LAR 09 30

OPERÁRIA 01 3,33 AGRICULTORA 16 53,35

LAVADEIRA 01 3,33 PESCADORA 01 3,33 SERVENTE 01 3,33

TOTAL 30 100

No que tange a ocupação 53,35%, (16) eram agricultoras e 30% (09) tem

como ocupação do lar. É importante destacarmos que 53,35% das mulheres

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entrevistadas possuem uma ocupação formal e como mulheres desempenham papel

de mãe e contribuem na economia familiar. Logo, a ocorrência da doença em

qualquer fase da vida pode implicar numa desestabilização da vida cotidiana a qual

será necessária uma reordenação das atividades tanto no âmbito profissional quanto

familiar.

Jorge e Silva (2010) mencionam que dependendo do ciclo de vida da

mulher, sua atividade e planejamentos, como em relação à família e ao trabalho, são

totalmente afetados, destacando-se principalmente a feminilidade e a autoestima em

mulheres mais jovens.

TABELA 7- Distribuição das mulheres com câncer de colo de útero quanto vícios de tabagismo, etilismo e drogas ilícitas, HOL – Belém - Pará – 2013.

VÍCIOS F %

TABAGISMO Sim 01 3,33 Não 11 36,67 Ex 18 60

TOTAL 30 100 ETILISTA

Sim 02 6,67 Não 22 73,33 Ex 06 20

TOTAL 30 100 DROGADITA

Sim 02 6,67 Não 28 93,33 Ex - -

TOTAL 30 100

Quanto aos fatores de risco associados ao uso de tabaco, álcool e drogas,

das entrevistadas 60% (18) já tiveram contato com o tabaco, e 20% (06) fizeram uso

do álcool em alguma fase da vida. As investigações realizadas enfatizam que as

mulheres que possuem maiores riscos para desenvolverem câncer de colo de útero

são as mulheres sexualmente ativas, que possuem múltiplos parceiros, nível

socioeconômico baixo e fazem uso de tabaco (diretamente relacionado ao número

de cigarros diário), álcool e imunossupressão.

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TABELA 8- Distribuição das mulheres com câncer de colo de útero quanto renda mensal, HOL – Belém - Pará – 2013.

RENDA MENSAL F %

MENOS DE 1 SALÁRIO 06 20 1 SALÁRIO 21 70

2 SALÁRIOS 03 10 MAIS DE 2 SALÁRIOS - -

TOTAL 30 100

A renda familiar das entrevistadas 70% (21) mantém a família e seus gastos

com o tratamento com um salário mínimo. É importante analisarmos estes dados,

pois viver com uma renda mínima pode gerar diversas dificuldades em aderir ao

tratamento e segui-lo, fator que poderá contribuir para o agravamento da doença.

Os estudos têm apontado a associação entre o nível de escolaridade e

condição socioeconômica como uma característica de todas as regiões do mundo,

para o desenvolvimento do câncer de colo de útero.

TABELA 9- Distribuição das mulheres com câncer de colo de útero quanto religião, HOL – Belém - Pará – 2013.

RELIGIÃO F %

CATÓLICA 15 50 EVANGÉLICA 15 50

Assembleia de Deus 14 Pentecostal 01

OUTRAS - - TOTAL 30 100

No estudo com relação à religião aconteceu um equilíbrio, 50% (15) das

entrevistadas seguem a religião católica e 50% (15) são evangélicas. Apreendemos

que a identificação da pessoa com alguma religião facilitará a aceitação da doença -

tratamento e contribuirá para o aumento da esperança da cura.

Jarros (2008) em seu estudo apreendeu que a espiritualidade como um

conjunto de todas as emoções e convicções de natureza não material, remetendo a

questões como o significado e sentido da vida, não nos limitando a qualquer tipo

específico de crença ou prática religiosa, pode representar uma importante fonte de

conforto e suporte às pessoas durante o período de sofrimento, gerando-lhe

serenidade para enfrentar as adversidades da doença.

A fé em Deus é um dos sentimentos enraizados em nossa cultura e esta, é

tão necessária quanto os outros modos de enfrentamento da doença. Portanto, a

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dimensão espiritual ocupa um lugar em destaque na vida do ser humano, dessa

forma, torna-se indispensável ao planejamento do cuidado de enfermagem conhecer

sobre a espiritualidade dos pacientes.

TABELA 10- Distribuição das mulheres com câncer de colo de útero quanto o inicio da atividade sexual, HOL – Belém - Pará – 2013

INÍCIO DA ATIVIDADE SEXUAL F %

12 ANOS 02 6,67 13 ANOS 04 13,33 14 ANOS 04 13,33 15 ANOS 02 6,67 16 ANOS 07 23,33 17 ANOS 01 3,33 18 ANOS 03 10 19 ANOS 02 6,67 20 ANOS 02 6,67

Não soube informar 03 10 TOTAL 30 100

No que tange ao início da relação sexual 23,33% (07) das mulheres

entrevistadas iniciaram a atividade sexual entre 13 a 16 anos, sendo que em média

iniciaram a atividade sexual aos dezesseis anos. A precocidade das relações

sexuais é fator de risco para o câncer de colo de útero, no estudo de Leitão et al.

(2008) o fator de risco precocidade das relações sexuais esteve presente em 75,3%

das mulheres, revelando uma tendência da sociedade atual de iniciar precocemente

a atividade sexual favorecendo o surgimento e aumento do câncer de colo de útero.

É de suma importância a caracterização do perfil sociocultural das mulheres

com câncer de colo de útero, pois possibilitou o conhecimento do ambiente

sociocultural em que estão inseridas. Por intermédio do conhecimento deste cenário

a enfermagem poderá prestar um cuidado compatível com as necessidades da

mulher e acessível a todas as realidades envolvidas no contexto da região Norte.

Em síntese, a faixa etária majoritária das mulheres sujeitos deste estudo foi

de 51 a 60 anos, a maioria com tempo de diagnóstico de 6 meses a 1 ano, 33,33%

são casadas, 40% são analfabetas, 70% possuem renda familiar de 1 salário

mínimo, 53,35% exerciam atividades laborais na agricultura, ou seja, contribuíam

para a renda familiar.

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CAPITULO 6

RESULTADOS E DISCUSSÃO

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CAPITULO 6 - RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste capítulo, apresentamos os resultados do estudo e a análise dos

resultados fundamentadas na Antropologia da saúde, a partir da identificação de

como as mulheres com câncer de colo de útero constroem a experiência do

diagnóstico ao tratamento, integrando-os em sentidos socialmente construídos. As

respostas originaram 02 categorias, sendo uma relacionada ao diagnóstico do

câncer e a outra sobre o tratamento do câncer de colo de útero, o que pode ser

visualizado no quadro a baixo.

Quadro 2 - Esquema das categorias e subcategorias da experiência da mulher com câncer de colo de útero Fonte: Elaborado pela pesquisadora

A experiência da mulher

com câncer de colo de útero

O DIAGNÓSTICO

Identificando as

alterações corporais

A Trajetória para

diagnóstico do câncer do

colo do útero

Os sentidos dados pelas mulheres que experienciaram o

câncer do colo do útero

Aceitação do Diagnóstico Reconstruindo

valores após o

diagnóstico

O TRATAMENTO

Dificuldades em

busca de

assistência

Crenças no

tratamento informal

e popular

O apoio recebido Mudanças no decorrer do

tratamento do câncer

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6.1 O DIAGNÓSTICO.

Estudiosos ressaltam a influência que a semiologia popular e as concepções

culturais exercem sobre os comportamentos adotados frente às doenças

(LANGDON, 2003; HELMAN, 2009).

As concepções do que constitui saúde e doença variam entre indivíduos,

famílias, grupos culturais e classes sociais. Neste enfoque, o comportamento de

uma população frente a problemas de saúde, abrangendo o uso dos serviços de

saúde disponíveis, é construído a partir de universos sócio-culturais específicos, no

qual os significados das experiências são formulados com base na percepção que

cada um tem de si mesmo, nas percepções dos outros ou em ambas as percepções.

Definir-se como doente geralmente segue uma série de experiências individuais

como: alterações percebidas no corpo, alterações nas funções orgânicas e dos

membros, sintomas físicos desagradáveis, estados emocionais alterados, alterações

comportamentais e experiências espirituais (HELMAN, 2009).

Langdon (2003) completa o axioma, dizendo que o adoecer é um processo

permeado por uma sequência de eventos e o entendimento de sua percepção e

significado exige o acompanhamento de todo o evento da doença. E a doença como

processo não é um momento único nem uma categoria fixa, mas uma sequência de

eventos que tem dois objetivos pelos atores um de entender o sofrimento para

organizar a experiência vivida e outro se possível aliviar o sofrimento; visando

compreender melhor este evento, analisamos os sentidos do processo de adoecer.

6.1.1 Identificando as alterações corporais

A doença como processo segundo Langdon (1995) caracteriza-se pelo

reconhecimento dos sintomas da doença, o diagnóstico e a escolha do tratamento e

a avaliação do tratamento. No reconhecimento dos sintomas, os eventos iniciam

com o reconhecimento do estado de doença baseado nos sinais que indicam que o

todo não vai bem. Cada cultura reconhece sinais diferentes que indicam a presença

de doença, o prognóstico, e possíveis causas, e estes sinais, em várias culturas, não

são restringidos ao corpo ou sintomas corporais.

A identificação das alterações corporais e escolha de tratamento ocorrem

uma vez que o estado de sofrimento é reconhecido como doença, começa-se a

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instituir o processo diagnóstico para que o doente e as pessoas envolvidas possam

decidir o que fazer neste momento inicial, normalmente acontece dentro do contexto

familiar.

A forma de apresentação de uma enfermidade é determinada na maioria das

ocasiões, tanto pelos significados dados aos sintomas da enfermidade, quanto à

resposta emocional dada a eles, são influenciados pela sua própria origem e

personalidade, bem como pelo contexto cultural, social e econômico no qual os

sintomas surgiram. É por meio desses fatores que os indivíduos determinam quais

sinais ou sintomas são percebidos como normais ou anormais (HELMAN, 2009).

Salci e Marcon (2009) consideram que antes de vivenciar a adversidade de

uma doença, a pessoa passa por etapas que precedem o conhecimento de seu

diagnóstico, e dependendo do significado de doença que a pessoa desenvolveu ao

longo da vida, poderá agir de maneira rápida no sentido de esclarecer suas dúvidas

buscando a descoberta da doença ou poderá retardar o processo.

Enquanto para Quartilho (2001) a expectativa do doente possui analogia

direta com a sua experiência individual e interpretações sobre a origem e o

significado dos sintomas no contexto da sua vida social.

Assim, as mudanças percebidas no corpo são explicadas com base na

construção cultural e estas moldam as mudanças físicas e emocionais,

emoldurando-se dentro de um padrão identificável, tanto para a pessoa doente como

para aqueles que o cercam. O reconhecimento dos padrões resultantes dos sinais e

sintomas é denominado de perturbações, que é uma resposta subjetiva de um

individuo e daqueles que o circundam, sendo a forma como a pessoa doente e os

demais interpretam a origem e o significado do evento, representando o primeiro

estágio do adoecimento (HELMAN, 2009).

Ainda de acordo com Helman a definição dos sintomas no processo de

adoecer depende do quanto este é considerado comum e de que forma se encaixa

nos principais valores de uma sociedade ou grupo, ou seja, a mesma doença ou o

mesmo sintoma podem ser interpretados de modos múltiplos por indivíduos de

diferentes culturas ou origens sociais e em diferentes situações.

Neste estudo, a presença da dor, sangramentos, dor ao manter relação

sexual, foi o sinal considerado como uma perturbação, a qual a maior parte das

mulheres detectou que algo se encontrava modificado em seu corpo.

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“Só fiz o preventivo por que eu estava sentindo dor quando urinava,

e vinha um pouquinho de sangue, aí me preocupei, quando

sangrava, falei para minha filha ela falou para eu ir ao médico [...]

(A1)

“[...] ia ao médico fazia o preventivo e o Doutora sempre falava que

era inflamação, passava pomada, e foi indo, quando eu andava de

bicicleta, vinha àquela dor no pé da barriga, eu pensava isso não tá

certo não [...]” (A4)

“Faz dois anos que estou doente, primeiro comecei a sentir

hemorragia, fui para o posto que me levavam, me diziam que era

problema de menopausa [...]” (A6)

“Começou no dia 28 de agosto de 2010, apresentou um

sangramento, tava com 28 anos que eu não menstruava mais, ai

apareceu esse sangramento, então eu achei que não era certo [...]”

(A18)

“Começou, quando eu fui manter relação com o meu marido e

sangrou muito, já tinha quatro anos que eu tomava preservativo,

então me assustei, por que não estava na época de descer minha

menstruação, eu já me apavorei com aquilo [...] fiz o preventivo com

a enfermeira, demorou muito o resultado, não deu nada, só que eu

continuei a sentir os sintomas, o sangramento se agravou mais

[...]”(A23)

O processo de descoberta da doença teve início quando a mulher detectou

que algo se encontrava modificado em seu corpo. E quando ela percebeu as

alterações, automaticamente fez suposições, sendo esse momento vivenciado de

modo muito particular por cada uma. Representando uma etapa importante, pois,

para diferentes tipos de câncer, a atitude tomada na ocasião do aparecimento dos

sintomas determinará o sucesso do tratamento (SALCI; MARCON, 2009).

Os sinais e sintomas apresentados pelas mulheres corroboram com a

literatura, uma vez que o câncer do colo do útero, no estágio inicial, pode ser

assintomático, tendo como sinal mais comum a perda sanguínea espontânea ou

induzida, com corrimento fétido aquoso comumente de cor rósea e constante. A

progressão da doença leva ao aparecimento de outros sintomas como disúria,

polaciúria, incontinência urinária, enterorragia, tenesmo, dor lombar e edema de

membros inferiores. A progressão da doença em evolução gera complicações como

fístulas, linfoedema de membros inferiores, compressão de vias urinárias e

intestinais além das alterações psicossociais (INCA, 2008).

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Para diferentes grupos de pessoas os sinais e sintomas das doenças por

natureza não são claros e podem ser interpretados de diferentes formas pelas

pessoas, mesmo que as pessoas compartilhem o mesmo conhecimento, entre os

membros de um grupo, nem todos possuem o mesmo conhecimento, devido a

vários fatores como idade, sexo, papel social e redes sociais (LANGDON, 1995).

Assim, Langdon (2003) nos ajuda a compreender que a doença não é um

mero distúrbio físico, ela é um processo e uma experiência. O primeiro passo para

caracterizá-lo como processo é o reconhecimento dos sintomas, ou seja, os eventos

que indicam que o corpo não vai bem. Consequentemente, a doença passa a ser

determinada como experiência, quando é entendida como um processo individual

construído por conhecimentos, percepções e práticas historicamente aprendidas nos

contextos socioculturais.

Portanto, o sinal indicador de doença depende de cada pessoa e dos seus

conhecimentos culturais. Nos relatos também foram evidenciadas outras

perturbações que as levaram a buscar a assistência médica.

“[...] comecei a sentir o problema na minha barriga tocava e sentia

um peso, começou com a minha barriga crescendo, eu tinha dor, eu

fazia relação e o sangue vinha, eu não pude mais fazer relação, ai

que eu fui me tratar [...]” (A3)

“Eu senti um ressecamento, aquela privação de vento, aquela

vontade de ir ao banheiro, e nada, e ia para o banheiro e vinha

aquela força que ficava até com medo, ai comecei a desconfiar, me

perguntava, meu Deus o que é isso?, até que um dia veio um pingo

de sangue, só um pingo mesmo, acho que Deus mandou um sinal,

não menstruava mais, ai fiquei me perguntando, isso é coisa séria

[...]” (A5)

“Começou dando febre, com vômito, não queria comer, nada ficava

bem no estômago, fui procurar o médico [...]” (A11)

“Começou uma coceira ai sempre usava uma pomada vaginal, eu

mesmo comprei, quando foi de tarde começou a sangrar, falei esse

negócio não tá certo não [...]” (A25)

“Começou com tontura, dor de cabeça, dor nas pernas e dor no

corpo, ai eu urinava e doía, fiz o exame preventivo ai deu [...]” (A28)

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Observa-se nos relatos que as mulheres ao apresentarem sinais de

alterações corporais como dor, febre, cansaço, náuseas e vômitos esses sinais

deram sentidos à percepção que havia algo alterado com a saúde, as levando a

procura da assistência médica.

Segundo Helman (2009) em um nível individual, o processo de definir a si

mesmo como “doente”, pode basear-se nas percepções individuais e nas

percepções de outros e definir-se como doente segue uma série de experiências

subjetivas.

Portanto, o processo de “adoecer” envolve tanto experiências subjetivas de

alterações físicas e emocionais quanto à confirmação das alterações por outras

pessoas. Na maioria dos casos, as mulheres não suspeitavam do câncer, mas o

processo de busca do diagnóstico ocorreu a partir da percepção da alteração

corporal com o aparecimento de sintomas físicos.

Assim, para este estudo, a iniciativa de procurar assistência médica

dependeu das percepções do que é normal e anormal em relação aos sinais e

sintomas. Helman (2009) cita intenções que a pessoa considera para buscar auxilio

médico que são: o desencadeante de uma crise emocional, interferências nos

relacionamentos pessoais, interferência percebida no funcionamento físico e laboral

e estabelecimento de critérios de tempo; no entanto, na maioria dos casos das

entrevistadas, somente o aumento da incapacidade física ou a persuasão de outras

pessoas as levaram a buscar ajuda médica.

6.1.2 A Trajetória para diagnóstico do câncer do colo do útero

Os estudos têm mostrado a influência que exercem os universos sócio-

culturais sobre o uso dos serviços de saúde. A formação de valores culturais pode

ser decorrente de diversas situações vividas, que foram assimiladas de acordo com

a experiência de cada um e influenciam individualmente o modo como cada pessoa

vive a situação da busca pelo sistema de saúde (SILVA, 2005; ANJOS, 2005).

As entrevistadas relataram que a maior dificuldade na busca por assistência

à saúde, ocorreu em função do processo de acessibilidade ao sistema de saúde. Em

alguns relatos notamos a falta de experiência dos profissionais de saúde e as

dificuldades dos mesmos para definir os diagnósticos, assim como as condições

socioeconômicas que impedem as mulheres de buscarem pelo serviço de saúde, e

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precariedade do sistema de saúde que não oferece recursos para um diagnóstico

precoce dos problemas de saúde.

“[...] o atendimento pelo SUS, é difícil a gente conseguir, eu mesmo,

infelizmente, tive que passar de 4 a 5 meses para conseguir, a

chegar a uma consulta com o médico, tem essa dificuldade também

para a gente.” (A2)

“[...] fiz a biópsia que acusou câncer de útero, antes disso só vivia no

nada, que não andava para lugar nenhum, tomava remédio para

parar o sangramento e não adiantava nada, o médico dizia que era

da menopausa [...]” (A4)

“[...] depois do resultado a gente foi que se virou para vim para cá,

eles não mandaram procurar fulano, nem sicrano, nem mandaram

fazer operação não, só falaram você tem que operar, assim que eles

falaram, por que aqui não tem aparelho, tá faltando tudo [...] para eu

vim para o Ofir Loyola ninguém me encaminhou, ninguém me

mandou, o médico não conversa com agente, ele faz a operação, só

faz anotar tudo e manda no mundo, para vim para cá, a colega da

minha filha que informou que a gente tinha que vim para cá [...]” (A5)

“[...] o médico fez o toque e falou que não era nada, que não tinha

problema não, por que o sangue era muito raso, me aplicaram lá

umas cinco injeções e retornei para casa, fui ao médico no postinho,

e falei, doutora tenho 61 anos e estou menstruando todos os dias,

ela não me disse nada, nunca me respondeu nada, andei para lá,

setembro, outubro, novembro, quando foi em novembro que ela

passou para eu procurar outro médico [...], fui ao outro postinho, não

tinha médico, o médico estava de férias, fui para a cidade nova,

também não tinha médico [...]” (A10)

“[...] o Doutor pediu uma transvaginal, e não deu nada, e falei para

ele, como não é nada se tem esse sangramento todos os dias; não

sinto dor, mas tem esse sangramento constante, ele pediu um

preventivo, eu fiz e também não deu nada, e disse para ele não é

certo esse negócio, chegou até o ponto de eu discutir com ele, [...]

ele pediu outro preventivo, e quando chegou o resultado mostrando

que estava com inicio no útero [...]” (A18)

Este quadro que se apresenta no dia a dia dos serviços de saúde, é

declarado pela incerteza dos pacientes em relação ao atendimento oferecido, e pela

dificuldade operacional dos profissionais de saúde em diagnosticar o câncer de colo

de útero. Estudos têm ressaltado que as organizações de saúde são compostas por

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departamentos isolados que ditam regras e normas dificultando o acesso dos

pacientes aos serviços de saúde, favorecendo o isolamento e o desentrosamento

entre os profissionais, resultando na fragmentação do cuidado.

O câncer do colo do útero é considerado um problema de saúde pública,

embora, aparentemente, não sejam tomadas por parte das autoridades, atitudes que

realmente permitam a reversão do quadro. No estudo de Silva et al. (2010)

desenvolvido no Estado do Pará, ressaltam que o número elevado de mulheres

acometidas pelo câncer do colo do útero ocorre principalmente nos municípios do

interior do Estado por motivos de faltas de profissionais qualificados, falta de

materiais para coleta de PCCU e a retardação e pouca eficiência da atenção

primária à saúde.

Nesta situação, mudanças operacionais constantes nos serviços de saúde,

dificuldades de acesso ao diagnóstico e atendimento estão presentes nos

depoimentos das entrevistadas, gerando conflitos internos, tensões, choros e

angústias. As pacientes também relataram a insatisfação com o tipo de assistência

oferecida, evidenciando a precariedade do sistema de saúde.

“[...] paguei os exames e tudo por que não queria esperar, por que

demora muito, marca a consulta, ai você vai fazer o exame, para

receber o resultado, ai demora muito, só sei que eles mentem muito,

por que acontecem os casos, comigo já aconteceu, não posso

afirmar de eles não acertarem diagnosticar o paciente, [...] ai paguei

uma consulta, daí ela fez o preventivo, e me falou, - os anos de

experiência que eu tenho, eu acredito que tu esta com câncer, [...]

quando eu sai da clínica eu já fui arrumar minha viagem para

Teresina, fui operada logo após uns dois dias, fiz a cirurgia, foi tudo

particular, lá eles não atendem o SUS, gastei cerca de 10 mil reais

[...]” (A8)

“[...] quando fui fazer o exame, o médico ainda fez uma brincadeira, e

falou: você vai ver quantos meses você ta “buchuda”, quando ele

colocou o aparelho, veio muito sangue, que até ele ficou admirado,e

falou, ele perguntou,- isso é de hoje?,vá ao seu médico e entregue

ontem esse resultado, retornei lá e não fui atendida, no outro dia

também não fui atendida, no terceiro dia a enfermeira falou vem

amanhã que lhe encaixo, fui no outro dia e conseguir, quando

cheguei lá o médico pegou o papel, de cabeça baixa, falou mesmo

assim, -por isso vocês mulheres morrem de câncer, vocês não se

cuidam, ele não olhou nem para a minha cara [...] primeiro nos fomos

para Teresina, em janeiro,[...] tudo certo, para eu começar o

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tratamento, só faltava o SUS aceitar, quando chegou lá na hora do

SUS não aceitou, por que eu era de outro Estado [...]"

“[...] fiz exames e não acusou nada, o Doutor falou que eu não tinha

nada, que nem inflamação eu tinha, que eu era muito mole, ele me

examinou e fez o toque e falou que eu não tinha nada, que era só

manha, com esse toque eu passei 3 dias de cama e me deu

hemorragia [...]” (A 14)

Infelizmente, constata-se que muitas mulheres ainda, só procuram

assistência à saúde quando já se encontram doentes, pois em nosso país não se

costuma trabalhar a prevenção de doenças, tem-se o enfoque mais voltado para o

tratamento e não a prevenção por influência do modelo biomédico (SILVA et al.,

2010).

Este fato observado nos relatos das mulheres que alguns profissionais, além

de estarem despreparados para fazer um diagnóstico de câncer, acabam por

negligenciar o fato diante de uma alteração no corpo da mulher. De acordo com

Kleinmam (1988) a visão médica ocidental moderna da realidade clínica, presume

que as preocupações biológicas são mais básicas, reais, clinicamente significativas

e mais interessantes do que os aspectos psicológicos e socioculturais.

Maruyama (2004) explana que o desenvolvimento da ciência médica

negligenciou o sujeito e a sua história, o considerando apenas como um mecanismo

corporal, isolando o corpo em sua anatomia e fisiologia, colocando o doente passivo

frente ao tratamento recebido. Questões estas explicadas pelas entrevistadas em

relação à demora para o atendimento e o modo de atendimento.

Os estudos têm referido que a demora no atendimento, as dificuldades para

chegar aos serviços de saúde são situações que levam a insatisfação, gerando uma

imagem negativa da opinião pública. Zapponi e Melo (2010) em sua pesquisa sobre

a mortalidade por câncer do colo do útero nas regiões brasileiras mostrou-nos que a

mortalidade apresentou variações entre as regiões, com reflexo indireto na

incidência e diretamente relacionado com acesso aos serviços de saúde. E, que

disponibilidade e a qualidade dos serviços de saúde influenciam diretamente na

sobrevida dos pacientes diminuindo-a ou aumentando-a de acordo com o acesso

aos serviços de saúde. Nesta perspectiva, os serviços de saúde podem ser

considerados como um fator adicional de estresse sobre a paciente, devido à

organização ineficiente dos serviços.

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Helman (2009) enfatiza que a busca pelo sistema de saúde pode ser

influenciada pelo contexto em que ocorrem, dependendo das circunstâncias sociais

e econômicas particulares da vida de cada um, do auxilio que está disponível, da

necessidade ou não de pagar pelos serviços de saúde. Considerando que a renda

familiar das mulheres do estudo foi de um (1) salário mínimo, além das dificuldades

de acesso aos serviços de saúde, a questão de ordem financeira é preocupante,

pois se apresenta como uma barreira para ter acesso ao serviço de saúde, em

virtude da mesma procurar o serviço de saúde privado, ou seja, paga-se pelos

serviços para solucionar mais rapidamente os problemas de saúde.

Na visão de Kleinmam (1980) a busca pelos serviços de saúde, não ocorre

de forma aleatória e sem lógica, é pensado, analisado e decidido após um ir e vir de

considerações, para que se possa então ser definido o caminho terapêutico a ser

seguido. As escolhas se dão mediante os sinais de perturbações, as crenças

etiológicas, e a forma como o doente a interpreta e a disponibilidade de recursos.

A partir da Constituição Brasileira de 1988, que trouxe uma seção específica

para a saúde, vinculando-a como um direito do cidadão e dever do Estado, o

cidadão passou a ter acesso pleno aos serviços de saúde, independente de sua

renda, apesar de várias críticas ao sistema, ele prossegue com a busca da

construção de um serviço de assistência universal à saúde na periferia do

capitalismo, num país populoso, marcado pela desigualdade social. Porém, percebe-

se que sua operacionalização precisa valorizar o conhecimento dos diferentes

grupos sociais que o atende, implementando programas a partir do conhecimento da

população que se pretende cuidar (SILVA et al., 2010).

Dessa forma, a busca pelos serviços de saúde, explanadas pelas mulheres

do estudo, refletem as dificuldades constantes em vários serviços de atendimento da

saúde, reforçando a dificuldade de acesso aos serviços, pouca resolubilidade dos

problemas, assim como a fragmentação e falta de humanismo na assistência

prestada.

6.1.3 Os sentidos dados pelas mulheres que experienciaram o câncer do colo

do útero

O câncer de colo uterino é considerado umas das doenças mais graves que

acomete as mulheres. A palavra câncer vem do latim que significa caranguejo. Esse

nome está relacionado à semelhança entre as pernas do crustáceo e os tentáculos

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do tumor, que se infiltram nos tecidos sadios do corpo. Os tumores ocorrem quando

algumas células de um organismo multiplicam-se de forma descontrolada devido a

uma anormalidade (BIAGGI; CHIATTONE, 1998).

O dia a dia da pessoa com câncer e sua realidade levam a diferentes

interpretações, formadas individualmente, à medida que se constrói um mundo

lógico. Assim, falar do significado do câncer remete a cultura ao qual está inserida a

pessoa, que admite compreender que a realidade de suas vidas se organiza ao

redor de crenças, valores, conceitos vividos e construídos no senso comum. Ao

pensarem e explanarem sobre o assunto procura interpretar eventos anteriores para

explicarem o processo de doença, em acordo com elementos do conhecimento

popular e da medicina (KLEINMAM, 1988).

Em todas as sociedades, o corpo humano tem uma realidade social além da

física, e cada ser humano tem, em um sentido simbólico, dois corpos; um eu

corporal individual (tanto físico quanto psicológico) adquirido ao nascer, e um corpo

social, necessário para se viver dentro de uma dada sociedade e grupo social. O

corpo é essencial para a imagem corporal, pois fornece a cada pessoa uma moldura

para perceber e interpretar as experiências físicas e psicológicas, sendo também o

meio pela qual o funcionamento físico dos indivíduos sofre influencia e é controlado

pela sociedade em que vive ao qual esta sociedade exerce um controle sobre os

aspectos do corpo individual como seu comportamento na doença e na saúde

(HELMAN, 2009).

Ter câncer, por ser um acontecimento de múltiplas faces, ao qual nem

sempre são consideradas em seu conjunto, é imaginado de diferentes maneiras,

mas fortemente ligado ao senso comum do imaginário das pessoas, ás crenças

sobre a natureza moral da saúde, da enfermidade e do sofrimento humano. Dessa

forma as pessoas trazem consigo uma cadeia de associações, que muitas vezes

interferem na maneira como entendem a sua condição e como os outros agem em

relação a elas (HELMAN, 2009)

A definição de situações como problemas de saúde ou não depende de

como a pessoa vivencia as situações, por sua vez estes fatos são ligados ao

cotidiano, as suas crenças e valores. Estudos em relação ao câncer têm descrito as

inúmeras fantasias e metáforas que os associam ao sofrimento, dor e morte.

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No estudo de Silva et al. (2010) desenvolvido no município de Belém sobre a

representação do PCCU, constatou que as depoentes reconheceram que o câncer

do colo uterino é uma doença tratável se cuidada logo no início e algumas mulheres

referiram que o mesmo é uma ferida que vai evoluindo de tal forma que, se não for

tratada, não tem mais possibilidade de cura.

Apesar dos avanços tecnológicos o diagnóstico de câncer está estritamente

relacionado ao medo da morte, existe no senso comum o estigma de que a pessoa

com câncer está condenada a morrer, pois mesmo que haja um bom prognóstico

para a doença o impacto emocional dessa correlação é imperante (GONÇALVES et

al., 2007).

Detectou-se nas falas das entrevistadas, que o acontecimento da doença em

suas vidas acarretou profundo impacto emocional, pois a experiência de ter câncer,

e as repercussões dessa experiência na vida dessas mulheres, além de provocar o

medo da morte como algo que possa ocorrer, foi percebido essa experiência como

um momento de sofrimento, agonia, “de perda do chão”, medo, mediado pelos

sentidos atribuídos à doença e a visão do mundo adquirido no decorrer da vida.

“Quando comecei o tratamento, o médico falou que eu estava com

começo, fiquei com muito medo, fiquei nervosa, por que todo ser

humano, por mais que a gente saiba que tem um Deus, na hora a

gente fracassa um pouco, tinha noite que nem dormia, ficava

preocupada, não vou mentir não eu me desesperei, pensei que ia

morrer [...]” (A1)

“[...] fiquei assustada, fiquei com medo, por que não sabia o que era,

fiquei assim impressionada da cabeça, não dormia, minha pressão

subiu ligeiro, fazia doer meu juízo, quando me perguntavam,

começava a chorar, por que eu não entendia os problemas em mim,

não falei para ninguém, fiquei na minha, pensava que não ia me

prejudicar para frente essas coisas [...]” (A7)

“[...] eu queria saber que doença era aquela, que problema era

aquele, [...] vim embora, no meio da viagem me dava mal estar, uma

agonia tão ruim, uma vontade de ir falar para o motorista para me

largar no mato, morrer no meio do mato, sofri muito, (choro) quando

cheguei a casa, me joguei na cama e chorei muito, cheguei com

aquela agonia tão ruim [...]” (A10)

“Quando soube do diagnóstico, eu fiquei sem chão, fiquei com muito

medo, pensei que ia morrer todo mundo fala que quem tem esse

problema vai morrer e não sara [...]” (A12)

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“[...] quando eu adoeci, eu era muito nova, só tinha 23 anos, os meus

filhos também, então para mim, quando eu recebi esse diagnóstico,

faltou o chão para mim, por que a gente quando é mãe, a gente é

muito protetora, a gente quer esta muito perto, principalmente

quando os filhos são pequenos, então para mim é muito difícil [...]”

(A23)

“[...] a gente fica aflita quando recebe uma notícia dessa, pensei que

era o fim do mundo [...]” (A27)

Foi observado que muitas mulheres recebem o diagnóstico de câncer de

colo do útero como se recebessem uma sentença de morte, porque o câncer para

muitas está relacionado à morte. Atualmente sabemos que se ele for detectado em

seus estágios iniciais pode ser eliminado, pois hoje a medicina já está bem evoluída

com relação ao tratamento do câncer, adotando para cada caso um tipo de

tratamento, dependendo do estágio da doença e das condições clínicas da paciente.

Assim, em consonância com outros estudos sobre a temática do câncer, mesmo

com os avanços técnico-científicos com o aumento da expectativa de vida desses

pacientes, ainda é frequente encontrar uma concepção negativa sobre o câncer.

No estudo de Oliveira e Gomes (2008) em relação à estrutura

representacional do câncer, constatou-se que vários são os sentimentos vivenciados

pelo paciente frente ao diagnóstico, como a dor emocional, o sofrimento e a

objetivação de um fenômeno amplamente rejeitado como a própria morte, ocorrendo

simultaneamente sentimentos de susto, negação, não aceitação, desespero,

tristeza, transformando o momento do diagnóstico em sofrimento.

Portanto, neste contexto, o câncer traz inicialmente a imagem da doença

sem cura, geradora de dor e que poderá levar à morte, sendo uma doença

carregada de estigmas, que transmite a ideia de que o câncer é algo não pensado,

considerado uma doença do outro (SILVA, 2005).

Para Cascais (2008) o câncer continua a ser uma das doenças que mais

provoca medo na sociedade moderna, em razão de suas representações de morte,

dor e sofrimento, o que pode ser consequência das elevadas taxas de mortalidade e

morbidade tão características dessa patologia, que se propagam através dos órgãos

de comunicação social levando à perpetuação dessas imagens.

Assim, o senso comum considera o câncer como uma das doenças mais

temidas pela humanidade, gerando medo, angústias e desespero, e ainda nos dias

atuais apesar dos avanços tecnológicos ainda é vista como processo irreversível

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como uma sentença de morte (SILVA, 2008). Desta forma, entender como o câncer

é percebido pelas mulheres deste estudo permitiu olhar para suas experiências de

modo que possa se descobrir os elementos que os caracterizam. Constatando-se

que o conceito culturalmente construído é que o câncer pode matar, causa

sofrimento, logo o câncer, o medo de morrer e sofrimento se integram e são

construções culturais.

Quanto ao eufemismo da doença, ocultar a palavra câncer foi uma das

maneiras usadas pelas entrevistadas para afastar o símbolo da doença, como uma

maneira encontrada de diminuir a carga atribuída à palavra.

Nas falas a palavra câncer foi substituída por eufemismos e explanada por

algumas das entrevistadas por meio de expressões como: “com começo”, “aquele

problema”, “era o problema”, “o caroço”, “esta com isso”, “essa palavra”.

“Quando comecei o tratamento, que fiz a cirurgia o médico falou que

eu estava com começo (câncer) [...] Mais fico muito constrangida

por que é muito difícil saber que esta com aquele problema

(câncer), as pessoas que estão lá fora não imaginam o quanto as

pessoas sofrem, só quem passa pelo problema (câncer) sabe.” (A2)

“Quando eu descobrir, eu jamais pensaria que estava com esta

doença (câncer) [...] acho que o nome da doença é muito forte e as

pessoas como reagem quando sabem da doença (câncer), não só

comigo, mais com todas as pessoas, quando sabem que fulano esta

com a doença (câncer), as pessoas já pensam que aquilo já é uma

morte, fulano vai morrer, a concepção delas já é essa, eu sinto que é

desta forma que reagem [...]” (A8)

“[...] o Dr fez a biópsia e desconfiou logo que era o problema

(câncer), e o problema (câncer) estava bem grande do tamanho de

uma laranja, o caroço (câncer) [...]” (A12)

“[...] eu fui humilhada só pelas minhas amigas, que diziam que era

minha amiga, e ficou só uma, elas pensavam que a doença (câncer)

pegava e me abandonaram. Esse pessoal estuda, mais não sabem

da vida no dia a dia, muitas falavam que eu ia morrer, mais hoje

estou aqui [...]” (A14)

“[...] a palavra (câncer) é difícil é uma barreira, não é fácil quando o

médico pega um papel e diz assim a senhora esta com isso

(câncer), [...] fui para casa com os resultados na mão, falei que era

só um miomazinho, cheguei a casa, falei que tava tudo normal [...]”

(A18)

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A ocultação da doença por uso de expressões pode ter o sentido de

negação, fato observado quando a mulher tenta ocultar a palavra câncer.

Helman (2009) relata que no caso de doenças graves como o câncer, as

expressões usadas pelas pessoas, trazem consigo várias associações simbólicas

que podem gerar efeitos sérios tanto na forma como os pacientes percebem sua

própria condição de saúde quanto o modo como outras pessoas se comportam em

relação a eles.

De acordo com Maruyama (2004) o estigma que a presença do câncer gera,

faz com que as pessoas exponham-se aos diferentes preconceitos, que determinam

o comportamento que a fazem ocultar a situação. Ficando evidenciado este fato na

fala de algumas mulheres, que o câncer é uma doença a ser ocultada para evitar

sentimentos de vergonha e discriminação.

Já para Pelaez et al. (2008) ressaltam que na população de um modo geral,

normalmente é propagada a representação sobre o câncer, socialmente construída

como sinônimo de morte, como algo que ataca do exterior e não tem controle e cujo

tratamento, juntamente com seus efeitos colaterais, é considerado drástico e

negativo.

Deste modo, nesta subcategoria as palavras utilizadas pelas mulheres

refletem os preconceitos construídos em torno do câncer, verificando-se a relação

entre o comportamento social das mulheres e o estigma que a rodeiam. Sendo

importante o conhecimento destes dados aos profissionais de saúde para

compreensão das falas das mulheres com câncer e o entendimento de como o

estigma interfere no convívio social deste grupo.

6.1.4 Aceitação do diagnóstico

A importância de contextualizar esta subcategoria se deu pelo fato de as

mulheres do estudo, aceitarem o diagnóstico do câncer, assim como o tratamento de

forma positiva, relacionando-a a crença de estarem acometidas pela doença ao

sobrenatural (a Deus), ou seja, de que é Deus quem controla seu destino e o

processo de adoecimento e tratamento.

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“[...] o médico falou que eu tinha que fazer braquiterapia, primeiro a

quimioterapia e 36 sessões de radioterapia, não vou mentir não, eu

me desesperei, mais me apeguei muito ao senhor, e pela honra

glória dele eu fiz só a braquiterapia, já me falaram que eu tenho que

vim várias vezes, mas é para a melhora da gente, quantas vezes for

preciso eu vou voltar [...]” (A 2)

“[...] sempre penso positivo, diante do tratamento, e acredito que vai

dar tudo certo, só que eu penso tão diferente, eu acredito que fazer

este tratamento, por que eu tenho que fazer, acredito que já estou

curada, Deus cura, basta você ter fé, Deus tem feito tanta maravilha

na minha vida, então isso são obras de Deus, então basta você ter

fé, assim com a fé que tenho em Deus que estou levando este

tratamento.” (A8)

“[...] só não morri pela vontade de Deus, comecei a passar mal lá e

vim me tratar aqui em Belém, ai eu fiquei boa graças a Deus, iniciei a

radioterapia, e até hoje só tive melhora” (A13)

“[...] ele falou que eu tinha células cancerosas no útero, não me

preocupei com outra coisa, por que o nosso Deus é o Deus que cura

[...] eu vim para o médico fazer o tratamento [...] graças a Deus, tudo

isso foi uma experiência de vida, uma grande experiência, por tudo e

com tudo, principalmente pelo amor de Deus na minha vida, por que

se não fosse ele, quando vir para cá eu já estava despachada do

médico de Teresina, quando o Dr Pinho pegou meus papéis, ele só

balançou a cabeça, como que não tinha jeito, mas graças a Deus,

hoje eu estou cantando minha vitória [...]” (A17)

“[...] eu nunca fiquei triste, e nem por um momento eu coloquei na

minha cabeça assim eu vou morrer, nunca assim me importei com a

morte, eu sempre falo assim, tenho fé em Cristo, que vou ficar boa,

um dia temos que morrer, mais não agora [...]” (A19)

A adesão ao tratamento representa para as mulheres, a única chance de

vencer a doença, acreditando na possibilidade de cura por meio deles junto à fé em

Deus. Portanto, a aceitação do tratamento significa a possibilidade de colocar a

morte distante. Podemos visualizar também a contextualização da aceitação da

doença como enviada por Deus, as quais todas as ocorrências desde o diagnóstico

e tratamento faz parte dos desígnios divinos.

Os significados dados às experiências das enfermidades, de acordo com as

teorias leigas da causalidade, podem ser classificadas em causas de origem

exógenas (as de responsabilidades da própria pessoa, como a alimentação, higiene,

estilo de vida, comportamentos e hábitos); nas causas endógenas (como a

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vulnerabilidade psicológica, física e hereditária); do mundo natural (meio ambiente) e

sobrenatural (por Deus), sendo este último como relatada pelas entrevistadas.

No estudo de Oliveira e Gomes (2008) a cura através do tratamento

centraliza-se no sentido presente na tríade cura-tratamento-Deus, sendo o elemento

capaz de aglutinar os demais, evidenciando que o fenômeno livrar-se da doença

demonstra-se alicerçado tanto na terapêutica implementada quanto na possibilidade

de intervenção divina na história humana. Portanto, a possibilidade de cura apóia-se

no tratamento e em Deus, ao qual no estudo podemos observar que a ação humana

(profissional) e divina (sobrenatural) apresenta relação nos sentidos da doença que

caracterizam o grupo de mulheres, nos apresentando de um lado a dependência

tecnológica do sistema de saúde e por outro lado a fé, uma vez que a ciência

médica ainda não conseguiu oferecer respostas conclusivas para o episódio vivido,

especialmente em suas simbologias.

Aquino e Zago (2007) acreditaram que a fé ou crença religiosa proporciona

às mulheres com câncer sentimento de paz na sua condição, para viver com maior

otimismo. A experiência de enfrentar o câncer resulta num processo de desafios

para o doente e, para tanto, ele busca algo com que possa enfrentar esses desafios.

Assim, a religião é vista como estratégia valorizada na cultura ocidental para lidar

com a doença e suas terapêuticas.

Neste estudo a imagem de Deus foi de fundamental importância, pois é a

quem elas confiam e a quem entregam o sofrimento, o desespero e a esperança da

cura. Deus assume, portanto a concretização da única forma de esperança, e a

devolução da normalidade cotidiana e da saúde.

6.1.5 Reconstruindo valores após o diagnóstico

Na perspectiva de Kleinman (1988) os profissionais de saúde, além de

investigar a doença, deveriam tentar descobrir como os pacientes percebem o

significado do seu prognóstico relacionado à forma como estes afetam outros

aspectos da sua vida. Nesta subcategoria, apresenta-se a análise de como as

pacientes vêem a doença após o diagnóstico.

Após o recebimento do diagnóstico, os sentidos dados ao câncer e as

expectativas de cura pelo tratamento, na vida das mulheres se direcionaram a novos

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rumos, com mudanças relacionadas ao novo modo de ser, de ver a vida, junto à

valorização do lado espiritual.

Os processos que envolvem a vivência de uma doença como o câncer

implica em várias adaptações, tanto na vida da mulher quanto na de sua família. As

mudanças originadas após os tratamentos antineoplásicos são decorrentes de um

novo significado atribuídos à vida, caracterizado pela inserção de hábitos antes

pouco praticados e/ou valorizados em seu cotidiano e ainda pela re-avaliação de

alguns conceitos pré-existentes (SALCI; MARCON, 2011)

“Como falo, agora vou valorizar, mais a vida, fazendo o tratamento

vou ficar boa [...] agora eu valorizo mais, me cuidar a si mesmo,

antes cuidava dos filhos do marido e me descuidei de mim mesmo,

quando vi, já estava com este problema, então procuro me cuidar

mais [...]” (A1)

“[...] tudo isso foi uma experiência de vida, uma grande experiência,

principalmente pelo amor de Deus na minha vida [...] e a experiência

que tenho que passar para as pessoas é a fé [...]” (A17)

“[...] tudo veio para eu refleti a vida, por que na vida nem tudo são

flores tem os espinhos, e esse espinho e para agente dar mais valor

a vida, nunca deixei de dar valor a vida [...]” (A18)

“Durante esses cinco anos de doença, eu tenho essa experiência,

como uma lição de vida, por que assim, agente age de uma forma, e

pensa de outra forma, e só vai ter a fé em Deus, muitas pessoas, não

todas, só vai ter fé em Deus, quando se encontram numa situação

dessas [...]” (A23)

”[...] levo minha vida normal com meu namorado, e sinto que não

tenho nada mais, bebo e danço, e me sinto que não tenho nada

mais, digo que já estou até curada, que Jesus me curou, tenho muita

fé, vim por que quero tirar tudo [...]” (A27)

No decorrer do tratamento, com a minimização dos sintomas as mulheres

passaram a entender melhor sua situação de doença, e passam a construir uma

nova relação com o seu corpo, com a vida e consigo mesmo, passando a sentir que

sua doença está sob controle, tornando-se mais confiante no tratamento e na cura.

Os sentimentos presentes nos discursos das mulheres retratam os seus

significados culturais, de acordo com as percepções em relação à vida, revelando

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por um olhar novo de ver, agir e pensar sobre as situações do dia a dia em relação a

conviver com a doença, recebendo nova conotação.

Nesse sentido as mudanças na vida correspondem àquelas relacionadas ao

novo significado atribuído à maneira de pensar sobre a vida, decorrente da

experiência de conviver com o câncer. Após esse novo evento em suas vidas, as

mulheres começam a valorizar as pequenas coisas do cotidiano, passando a

acreditar que essas mudanças façam com que se tornem pessoas melhores (SALCI;

MARCON, 2010).

Portanto, viver a experiência do diagnóstico de câncer gera reformulações e

mudanças nesta nova fase de vida. Essas mudanças para Helman (2009) são

tentativas de enfrentar as novas situações e de tentar adaptar-se a elas. Nestas

mudanças, os pressupostos básicos das pessoas sobre o seu mundo são

despedaçados mediante a interferência do diagnóstico de câncer, e passam a deixar

de contar com um mundo certo e se redirecionam dentro dessa nova perspectiva de

vida.

Para Anjos (2006) as pessoas que vivem a situação de uma doença grave

buscam a religião como base de superação das dificuldades, e enfatiza que

culturalmente a religião tem função de ajudar no enfrentamento das ameaças e

possibilita ganhar novas energias para lutar pela sobrevivência, passando os

pacientes, com a fé religiosa a fazer um discurso de uma pessoa melhor, mais forte,

afirmando a restituição do significado da vida.

Assim, diversos sentimentos podem aparecer juntos ou isolados como

resposta para enfrentar a doença. A religiosidade e a espiritualidade representaram

para as entrevistadas, um instrumento de suporte e conforto, que as auxiliaram no

enfrentamento dos problemas gerados pelo câncer e seu tratamento.

6.2 O TRATAMENTO

6.2.1 Dificuldades em busca de assistência

Nas diferentes culturas e nos diferentes grupos dessas culturas, a

expectativa do tratamento de uma doença pode ser contextualizada de forma muito

distinta. Assim, a compreensão exige o entendimento do processo de adoecer e as

alusões que esse fato tem para a vida das pessoas, as quais variam entre diferentes

sociedades e de diferentes culturas. O conhecimento de cada pessoa é, neste

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enfoque, fundamental para suas decisões a respeito do cuidado com a saúde. Uma

pessoa discute ou avalia as possibilidades do cuidado da doença a luz do seu

conhecimento e experiência, escolhendo não apenas os diferentes tipos de

assistência, como também as recomendações que fazem sentido para eles.

(HELMAN, 2009)

Kleinmam (1988) atenta para o fato de que dentro de uma mesma sociedade

coexistem diferentes sistemas de saúde, o que resulta em uma multiplicidade de

concepções sobre a doença, incluindo desde a etiologia, tratamento e diagnóstico.

Para um número significativo de mulheres do estudo o período transcorrido

após o diagnóstico até o início do tratamento especializado, foi considerado uma

jornada difícil. Os sentidos dessa espera ameaçada pela possível piora das

perturbações físicas significaram principalmente o possível agravamento da doença

e possibilidade de morte.

“O doutor que encaminhou para Belém, fiquei aguardando me

chamar, passou bem uns três meses, fiz todos os exames e fiquei

aguardando chegar o resultado para fazer o tratamento. Todo este

período foi muito demorado, [...] não estou fazendo a quimioterapia, o

medico passou para fazer as duas, mais marcaram a consulta da

quimioterapia depois, já tinha iniciado a radioterapia, fui com o

médico, mais já estava terminando, o médico falou para eu terminar

a e depois marcar consulta e vai me examinar para ver se eu vou

precisar fazer mais ou não. Eu achei tudo demorado, o negócio é

difícil [...]” (A6)

“[...] Minha filha começou a correr atrás dos papeis, quando cheguei

aqui, ficamos na casa de um conhecido, [...] iniciei o tratamento,

terminei a radioterapia, ele passou para eu fazer a braquiterapia,

mais quando eu vim fazer já tinha, mais de ano, demorou muito, por

que quando eu vinha aqui, diziam, só para as mulheres que tava

operada, um dia o médico, falou por que eu não tinha feito, eu disse

falaram que só era para as mulheres que tava operada, no mês de

junho, foi que eu vim fazer [...]” (A10)

“[...] em 2009 descobri, de lá para cá fiquei andando para fazer a

carteirinha branca, passei o resto do ano andando para cá e nada,

sempre tinha uma desculpa que não tinha vaga e o aparelho estava

quebrado, foi a pior coisa, passou o ano todinho de 2009, quando foi

em 2010, em junho passei a consulta [...], mas só comecei a radio

em outubro, quando foi em 2011[...] ele me passou uma biópsia, ele

falou que tinha dado uma lesão, que a doença tinha voltado, mais só

vim tratar em 2012, a dificuldade teve por causa do hospital, a

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Doutora falou, a senhora não fez o tratamento todo, por isso que o

problema voltou.” (A20)

“Tive muito dificuldade na época do tratamento do útero, quando

tava fazendo a radioterapia, quando faltavam oito sessões para eu

terminar, a máquina quebrou fiquei 30 dias sem fazer [...]” (A23)

“[...] custou eu fazer o tratamento, ele falou que eu não estava grave,

eu falei para ele, Doutor o senhor vai me tratar só quando eu tiver

morta, por que eu não estava sentindo dor, ele falou para eu ficar

aguardando me ligarem para me tratarem, quando comecei a piorar

que vim com muita dor e sangramento foi que cuidaram para eu fazer

o tratamento [...]” (A25)

O câncer de colo de útero, em sua evolução passa por diferentes fases, na

fase pré- invasiva, a intervenção imediata pode evitar o progresso da doença, e na

fase invasiva, é de difícil controle. As condutas de atenção à saúde da mulher

preconizada para o acompanhamento e seguimento do tratamento, devem ser

realizadas de acordo com o grau de complexidade da unidade de saúde do SUS. No

nível primário, deve-se iniciar o processo da assistência com exames de

rastreamento e controle citológico, e em nível secundário referência aos serviços de

patologia, confirmação diagnóstica, tratamento e acompanhamento (INCA, 2008)

O tratamento é indicado à mulher com base no estadiamento tumoral, tipo

histológico, idade e recursos disponíveis. Podendo este ser indicado através de

cirurgias radicais ou conservadoras, quimioterapias, radioterapias e associação

destes.

O estudo não possui a intenção de julgar condutas terapêuticas de

tratamento oncológico e os serviços de saúde oferecidos ao grupo social, mas

constatou que o caminho percorrido pelas mulheres do estudo após a confirmação

do diagnóstico até a chegada ao serviço de saúde para o tratamento foi

temporalmente longo, as quais explanaram as dificuldades de acesso a tratamento e

seguimento, a interrupção do tratamento por quebra do aparelho de radioterapia,

espera prolongada para o procedimento cirúrgico e não cumprimento dos protocolos

prescritos, as quais possuem a percepção que estes fatores contribuíram para o

agravamento da doença.

Todos estes fatores corroboram com o relatório da auditoria operacional da

política Nacional de Atenção Oncológica do Tribunal de Contas da União em 2011

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evidenciando que a rede de atenção oncológica não está suficientemente

estruturada para possibilitar aos pacientes de câncer acesso tempestivo e equitativo

ao diagnóstico e ao tratamento. Assinalando o déficit de equipamentos de

radioterapia em âmbito nacional com uma produção dos serviços e cobertura de

apenas 65,9% das necessidades estimadas. (TCU, 2011)

Em relação às ofertas dos serviços de quimioterapia, considerando a

cobertura de produção em cada uma das unidades da Federação, foram

encontradas carências importantes nas prestações dos serviços de quimioterapia

nos estados do Pará, Amapá, Roraima, Maranhão, Rondônia e Amazonas.

Chamando atenção ao estado do Pará, que supre apenas 40,4% da demanda

estimada, fatores apontados pelos gestores na dificuldade do atendimento da

demanda por atraso na compra de fármacos e falta de leitos para internação.

Quanto aos procedimentos cirúrgicos, a cada 1000 casos novos de câncer, 600

necessitam de cirurgias, resultando num déficit considerável nos centros habilitados

de atenção à saúde, devido as dificuldades de acesso às cirurgias oncológicas.

(TCU, 2011)

Quanto ao tipo de tratamento prescrito foi citado na maioria das falas,

percebendo-se que a abordagem sobre o tratamento foi inespecífica, ou seja, foi

deixado transparecer que o tratamento seria realizado, mas não houve o

esclarecimento como seria feito, o tempo que levaria e seus efeitos desejados e

indesejados, observando nas falas a aceitação por parte das mulheres por todas as

condutas prescritas.

Em um estudo com mulheres portadoras de câncer de mama aponta que

elas aceitam as regras e as condutas impostas pelos tratamentos por acreditarem

que por meio deles alcançaram a cura da doença (Oliveira et al., 2010 ).

De acordo com Helman (2009) o tratamento médico não deve lidar

unicamente com as anormalidades ou disfunções físicas. As várias dimensões da

doença como o emocional, social, comportamental e religiosa, também devem ser

tratadas pela explicação adequada e tranquilização com termos que façam sentidos

para os pacientes e aqueles que o cercam e compartilhada com outros profissionais

e membros sociais.

Portanto, as questões relativas à saúde e à doença não podem ser

analisadas de forma isolada das demais dimensões da vida social, mediadas e

permeadas pela cultura que dá sentido a essas experiências. Os sistemas de

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atenção à saúde são sistemas culturais, consonantes com os grupos e realidades

sociais, políticas e econômicas que os produzem e replicam. Ao final, somos todos

sujeitos da cultura, experimentada de várias formas, inclusive quando se adoece e

se procura por tratamento. Porém, na atuação como profissionais da área da saúde,

nos deparamos com sistemas culturais diversos ao nosso a qual nós fomos

treinados, sem relativizar o próprio conhecimento médico (LANGDON, 2010).

Assim, os sentidos construídos ratificam que a experiência de fazer o

tratamento de câncer, envolve uma dimensão que vai além dos problemas de

acesso ao sistema de saúde, do tratamento e reações a propedêuticas, que nem

sempre são valorizadas pelos profissionais de saúde. Finalmente, para atuar com

eficiência, é necessário que o profissional de saúde, compreenda como a doença e

o tratamento afeta a vida da paciente e como elas as interpretam.

6.2.2 Crenças no tratamento informal e popular

Kleinman (1980) sugeriu que ao examinar qualquer sociedade complexa,

podem-se identificar três setores interligados de cuidados de saúde: o setor informal,

o popular e o profissional. O setor informal é de domínio leigo, não profissional, no

qual as atividades de cuidados de saúde são iniciadas, entre as opções estão o

autotratamento; conselhos dados por parentes, amigos e vizinhos; atividades de

cura em uma igreja, culto ou grupo de ajuda e consulta com pessoas leigas.

O setor popular (Folk) que é particularmente grande, alguns indivíduos

especializam-se em formas de cura que são sagradas e seculares. Os curandeiros

como são denominados, não pertencem ao sistema médico oficial e ocupam uma

posição intermediária entre os setores informal e profissional. O setor profissional

compreende as profissões de cura organizadas e legalmente aprovadas, como a

medicina ocidental moderna, conhecida como biomedicina, ao qual incluem os

profissionais de saúde.

As mulheres do estudo após a descoberta do câncer e a espera do

tratamento, fizeram uso de suas crenças no setor informal e setor popular, com o

objetivo de aliviar as perturbações físicas ou estagnação da doença e pela crença

em sua eficácia. Dentre as práticas, mais mencionadas, foi o uso de medicações

fitoterápicas.

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“[...] meu marido gastava tudo, o pessoal falava que só com remédio

sarava, ele comprava tudo, ele comprava remédio, tudo que falavam

que era bom ele comprava, fiquei tomando os remédios de ervas, só

que os sintomas pareciam que desaparecia e voltava, eu tomei um

remédio de um especialista (curandeiro) de lá de Itaituba, foi muito

caro, umas mulheres de lá tomaram e ficou bom [...]” (A12)

“Cheguei a tomar bastante mastruz e arruda, o chá da folha de Noni,

só sei que no tempo que estava correndo para cá fiquei tomando

remédio caseiro direto, tudo que me ensinava eu tava tomando.”

(A21)

“Tomei muito mel com babosa, tomei outros que uma colega minha

que tinha a doença, me deu uma garrafada, a minha mãe falava que

é bom.” (A23)

“Sempre tomei banho de assento, garrafada, todo tempo eu fiz eu

acho que é por isso que não se desenvolveu tanto, então ficou

localizado com a ajuda do remédio, ficando só no canto quieto.”

(A27)

Percebeu-se que o uso das ervas para o tratamento passou por avaliações,

consistem em verificar a sua propriedade curativa e o efeito após o seu uso. Esse

processo foi vivido pela mulher e por seus familiares. Outro tipo de estratégia

apontada por uma informante foi a busca de rituais religiosos.

“[...] lá na Igreja (evangélica) [...] a irmã falou, coloca a toalha em

cima que estoura tudo e some então eu falei para ela traz que eu

coloco, ela trouxe, coloquei uma hora da madrugada o óleo da igreja

e a toalhinha em cima com 10 minutos estourou tudo [...]” (A14)

O sentido que a mulher deu ao ritual religioso, relacionou-se a crença no

sobrenatural, para a sua cura ou mesmo ajudá-la a enfrentar o processo de doença

e tratamento.

Em um estudo sobre o uso de terapias alternativas e complementares ao

paciente com câncer, resultou que a crença em sua eficácia e a prática de oração,

ao qual foi a mais praticada, melhoraram consideravelmente a qualidade de vida

das pessoas, logo mostra nos a importância do conhecimento profissional a estas

práticas, que devem ser avaliadas e quando possíveis se não provocarem

transtornos à saúde devem ser estimuladas (SAMANO, 2004).

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A medicina alternativa é definida como um conjunto de sistemas, práticas e

produtos de uso clínico, não considerado como prática médica convencional e de

reconhecida eficácia pela comunidade científica. A utilização de alguns desses

métodos, sejam isolados ou combinações, é muito grande em pessoas com câncer

em qualquer sociedade, independente da existência ou não de comprovação

científica (BALNEAVES, 2008)

6.2.3 O apoio recebido

O apoio frente a uma situação de doença ocorre de forma dinâmica pelas

vivências, rupturas, fases de equilíbrio e desequilíbrios vivenciados de diversas

maneiras de acordo com cada um e que capacitam às pessoas ou não a

vivenciarem situações difíceis. Essa busca de apoio do paciente de câncer envolve

relações complexas, pois depende dos significados construídos no percurso de suas

vidas, em diferentes contextos sociais, econômicos, culturais e religiosos (SILVA,

2005).

Os modos de apoio referidos pelas mulheres do estudo, a maioria contou

com o apoio da família, amigos, religiosos.

“Tenho buscado ajuda, só de Deus, só ele, ser humano nenhum dá

para ninguém, o que tenho enfrentado e o que tenho buscado e o

que tenho recebido, só ele, nem meus filhos, só Deus.” (A8)

“Ajuda só força de Deus, por que em primeiro lugar tem que ser ele

na nossa vida, da força de meus filhos, das minhas noras, eu quis

desistir, mais todos em cima de mim me dando força. Então tenho

encontrado muita força e apoio da minha família, força de vontade

dos meus filhos, nas minhas noras, nos meus netinhos, aquela

vontade de viver mais para eles.” (A10)

“Eu tenho uma família abençoada, me ajudaram muito, meu esposo

foi em primeiro lugar, nunca me abandonou em nenhum momento,

me deu todo apoio, tive todo apoio da minha família, dos meus filhos,

eles falavam confia em Deus que você vai vencer, tive apoio da

minha religião que fazia grupos de oração para orar por mim, foi uma

grande experiência no amor espiritual também, hoje faço parte do

circulo de oração, e tudo isso foi uma benção.” (A17)

“A ajuda, só Deus, eu procurei buscar a Deus, e eu encontrei, ele me

confortou, ele me consolou, muitas irmãs da igreja me ajudaram,

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pedia senhor segura na minha mão, me ajuda, pedia para ele não me

abandonar [...]” (A23)

As declarações revelam a ênfase de apoio da família e religioso como modo

de enfrentar o tratamento, assim toda confiança que as mulheres manifestaram

frente ao diagnóstico e tratamento pode ser percebido a partir do apoio da família,

da convivência com amigos e todo o auxílio recebido.

O estudo de Jorge e Silva (2010) observou que mesmo com as alterações

impostas pela doença e tratamento, as mulheres portadoras de câncer ginecológico

referiram estar satisfeitas com suas relações pessoais, com o apoio que recebem de

parentes e amigos, contribuindo assim, significativamente para o bom enfrentamento

do processo.

Neste contexto, a família e amigos podem exercer importantes influências

sobre o estado de saúde e sobre a doença. Os valores de um grupo social, como a

família, podem atuar como um sistema de proteção, fortalecendo a união social e

familiar, o apoio mútuo, habilitando melhor os indivíduos a lidar com os altos e

baixos da vida (HELMAN, 2009).

Outra forma de apoio referida pelas entrevistadas foi a necessidade de

custeio financeiro.

“[...] minha dificuldade, por que tive que parar de trabalhar, vivo só da

bolsa família, sou separada, ai eu parei de trabalhar, por que se não

fosse aqui ao NAEE, como é que a pessoa ia comer, ficar em Belém

e pagar as passagens [...]” (A1)

“[...] a minha maior dificuldade, é as condições financeiras, pois a

atrapalha muito, por que quando agente tem agente chega lá e paga,

mais quando a gente não tem as coisas são mais difíceis [...]” (A2)

“[...] só o que achei ruim é que é muito longe, tenho que voltar e ir às

vezes duas vezes ao mês, gasto também com passagens [...] quem

me ajuda mesmo é a irmandade, uma ajuda e outra ajuda, dinheiro

que recebo é só a passagem do TFD, a assinatura do médico eles

não pagam lá, [...] ” (A4)

“Tenho buscado, só quando chego ao hospital e não tenho para onde

ir, eu procuro essa casa e sou muito bem recebida, só isso, graças a

Deus, eu já tentei outra ajuda, por que o dinheiro que tenho só do

benefício do meu filho é muito pouco, eu já tentei o benefício auxílio

doença pelo INSS, mais não consegui.” (A16)

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No período de tratamento, a maioria das mulheres, por serem do interior do

Estado do Pará, por necessidades de seguimento do tratamento prolongado,

permanece em casas de apoio, albergues, familiares ou conhecidos, algumas

revelaram a necessidade de ajuda financeira, enfatizando que o deslocamento

constante de seus municípios, as baixas condições econômicas com dependência

direta dos familiares e dificuldades de adquirirem custeios dos municípios são

empecilhos que dificultam o enfrentamento do tratamento.

Em estudo com mulheres acometidas de câncer ginecológico, consideraram

que as dificuldades relacionadas à distância do local de tratamento, o transporte

para chegarem até eles, às baixas condições econômicas comprometem o

tratamento (JORGE; SILVA, 2010).

Assim, os fatores sócios econômicos interferem no processo terapêutico,

visto que algumas podem desistir e/ou faltar a esses procedimentos, por condições

inadequadas de locomoção e transporte bem como agravar a doença por falta de

condições locais adequadas para permanecerem alojadas durante o tratamento

(MENEZES et al., 2007).

A outra forma de enfrentamento das adversidades provenientes do

tratamento foi o apoio profissional recebido e relatado por parte das entrevistadas.

“Apoio eu já tive muito, principalmente daqui, dos amigos, das

enfermeiras daqui, que até fizeram uma “vaquinha” para comprar

frutas, tive ajuda da cidade que eu moro, dos meus amigos que

depositavam 50, 100 para eu comprar os remédios, primeiramente

eu tive ajuda de Deus e depois das pessoas. [...] a minha maior

dificuldade e ficar longe dos meus netos, da minha família e a

saudade que é grande.” (A19)

“Fui buscar ajuda do meu médico, da psicóloga também, dessa

minha amiga que me deu a mão, dos meus amigos da minha irmã e

dos meus filhos pelo qual eu estou lutando, que eles que são a

família da gente e quero ver eles casados.” (A27)

A ajuda profissional consiste na abertura de espaço para verbalização de

fonte de problemas, fornecimento de informações e esclarecimentos de percepções

e dentre outros (COSTA et al., 2003). Portanto, a enfermagem, neste contexto, pode

também se inserir como uma provedora de apoio, facilitadora de relacionamentos,

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sendo de fundamental importância que o profissional conheça as complexidades e

diferentes necessidades de apoio a este grupo, para que possa fornecer de forma

sensível e satisfatória.

6.2.4 Mudanças no decorrer do tratamento do câncer

As mulheres do estudo, ao se verem frente ao diagnóstico e tratamento de

câncer de colo de útero, se confrontaram com mudanças em suas vidas que

modificaram definitivamente a sua identidade social de mulher saudável,

trabalhadora, para uma identidade de doente, incapacitada para as atividades

laborais e do lar, e em alguns casos dependentes de familiares. Mas, não são os

únicos traços com que o paciente de câncer se confronta, no percurso da vida com

câncer, se deparam com uma nova identidade que se forma durante a trajetória, a

identidade de sobrevivente (SILVA, 2005).

Segundo Reuben (2004) ser sobrevivente significa, no caso, viver com o

câncer e apesar dele, e também viver com os efeitos colaterais e sequelas

decorrentes do tratamento utilizado para o seu controle. Assim, vivenciar uma

doença como o câncer está permeado de alterações significativas no cotidiano de

quem adoece e seus familiares. O câncer pode ser considerado cada vez mais um

fenômeno não só biológico, mas também psicológico e social pelas várias situações

de sofrimento imposta pela doença (SALCI; MARCOM, 2011).

Quando questionadas sobre as mudanças em suas vidas decorrentes da

experiência do câncer de colo de útero e tratamento, foi relatada a distância do lar, o

desconhecimento do novo lugar e pessoas, perda da identidade e dependência.

“[...] Mudou muita coisa, depois da descoberta da doença, não pude

mais ficar em casa, às vezes vou lá final de semana e depois volto

[...]” (A1)

“[...] é ruim a gente se deslocar do lugar da gente, vim para outro

lugar que a gente não conhece ninguém, não sabe por onde começa,

sem condições [...]” (A2)

“[...] a distância da minha filha, é longe de casa, a gente passa

muitos dias longe de casa, a dificuldade, também para vir, no tempo

de inverno é muito ruim para viajar, a gente não chega ao mesmo

dia, tudo é difícil [...]” (A6)

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“[...] a minha vida, não é aquela que eu tinha antes, a minha vida

mudou totalmente, eu não sou dona, mais de mim, eu dependo de

outras pessoas [...] eu não mando, mais em mim, perdi minha

tranquilidade de me direcionar, agora tenho alguém que determina

[...] eu não tenho, mais aquela privacidade, eu dependo daqui, tenho

uma invasão do médico na minha privacidade e de outras pessoas

[...]” (A8)

O tratamento de câncer para a maioria das mulheres teve sentido de

afastamento físico e geográfico da família por necessidade de realização diária de

tratamento ao qual se afastam em média de 1 mês a 3 meses, exigindo delas a

organização do cotidiano para a realização do tratamento. Sendo a maioria das

mulheres do interior do estado, foi necessária a programação constante de viagens,

albergarem-se na capital, configurando-se um grande transtorno na vida dessas

mulheres que, além de vivenciarem o câncer, necessitam afastar-se de suas

atividades e família para fazer o tratamento.

As pacientes passam por situações difíceis durante o processo terapêutico,

por se separarem de seu meio social para se submeterem a procedimentos que,

geralmente, consistem em tratamentos agressivos, dolorosos e invasivos (ALMEIDA,

2008)

Para Carvalho (2005) o período do tratamento, devido às mulheres

permanecerem longos períodos ausentes de seu ambiente familiar, de seus objetos

pessoais, passam geralmente a habitar em locais que podem lhes parecer hostil,

estranhos e onde vivenciam situações em que o desconforto físico e emocional

tornam-se muito intensos, seja pela doença ou pelos procedimentos a que são

submetidas. Além de toda ansiedade e estresse gerados com o tratamento, as

mulheres passam por grandes conflitos, visto o sentimento de culpa pela ausência

no lar e falta de atendimento às necessidades do companheiro e filhos.

Percebe-se que a saúde possui um grande valor social, pois estar saudável

significa estar apto para o trabalho, enquanto a doença, como na atualidade, passa

a ser compreendida como um fator que compromete a produção capitalista presente

na sociedade, gerando incapacidade para o trabalho. Esta deve ser abrangida de

uma forma mais ampla, não unicamente como uma aptidão ao trabalho, mas sim

como algo fundamental para o viver humano. É um direito que propicia ao cidadão

gozar o seu viver com os seus pares, dando lhe tranqüilidade na vida. (SILVA,

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2010). Portanto, o câncer como doença foi relatada pelas mulheres como empecilho

para execução de atividades laborais, tarefas do lar, no entanto a doença também

teve o sentido de aproximação familiar.

“Mudou por que o médico falou que eu nunca mais iria poder

trabalhar como trabalhava pesado, passar pano na casa, lavar roupa

pesada, quando faço me sinto mal, não tenho condições de colocar

uma pessoa para fazer para mim [...]” (A4)

“[...] o que mudou que muita coisa que eu fazia, não faço mais,

lavava roupa para as pessoas, e meus filhos ficarão cada vez mais

chegados, me amando mais, agora meus filhos me amam mais [...]”

(A10)

“Mudou muito, a gente pensa de maneira diferente, às vezes você é

uma pessoa, mas rebelde, ai você acaba mudando, acaba se apega

mais com Deus, acabam dando valor as coisas que você não dava,

muda muito, que nem eu que meu corpo foi transformado em muita

coisa [...] Mudou por que não trabalho mais, não frequento mais a

igreja e fico mais em casa [...]” (A15)

“Eu achei que mudou por que a gente se uniu mais, por que aquele

amor que agente já tinha, aquele convívio de união familiar se tornou

muito mais forte, muito melhor, tanto da minha família de casa, como

meus irmãos, meus cunhados, mesmo morando longe, estão ligando

e me dando força, como lhe disse, tudo veio para eu refleti a vida

[...]” (A18)

Percebe-se que as limitações impostas pelo tratamento modificaram a rotina

dessas mulheres, uma vez que as excluiu do papel social que desempenhavam

causando profundo sentimento de impotência.

Ao investigarem os sentimentos de mulheres com neoplasia, um estudo

constatou que elas se preocupavam com as tarefas cotidianas, exprimindo

sofrimento por não conseguirem desenvolvê-las da mesma forma que antes, em

virtude das limitações impostas pela doença e tratamentos. Isso por que,

historicamente o papel da mulher dentro do seio familiar é de cuidadora (SALES,

2004).

A esse respeito, as mulheres por desenvolverem o papel de cuidadora de

seus membros familiares, por circunstâncias do tratamento, ocorrem uma inversão

de papéis e ela necessita adaptar-se a sua nova condição limitadora e normalmente

passa a ser proibida pela família dos afazeres domésticos (SILVA, 2006). Quando

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existem outras pessoas para auxiliá-las, as mulheres optam pelos serviços que

demandam menos força física, pois sentem insegurança em assumir os serviços

pesados, sendo cuidadosas com as limitações impostas pela doença (SALCI;

MARCON, 2011)

A forma como as mulheres encaram o seu afastamento das atividades

labora-tivas tem base na construção sociocultural do trabalho. A mulher

contemporânea comumente desenvolve dupla jornada, a do trabalho fora do lar e a

das atividades do lar, permanecendo estas últimas como parte de sua identidade de

mãe, cuidadora e responsável pela organização doméstica (SILVA, 2005).

Assim, depender de cuidados de outros membros da família provoca

sofrimento, pois seu papel de cuidadora fica ameaçado. Porém, mesmo debilitadas

fisicamente e tendo que deixar de oferecer o cuidado físico aos membros familiares

devido à trajetória vivida pelos tratamentos, as mulheres, na sua grande maioria

sofrem por deixarem outras pessoas assumirem suas responsabilidades de

cuidadora da família e do lar (SALCI; MARCON, 2008).

A partir desses conflitos as mulheres também passam a valorizar situações

ao qual até então não visualizavam, mudando aspectos reacionais frente a diversas

situações da vida, estreitando laços familiares se sentem, mais amadas pelos filhos

e familiares. No estudo de Salci e Marcon (2011) as mulheres referiram com relação

às mudanças na vida que elas passaram a valorizar aspectos comuns do cotidiano,

dando um novo sentido à vida, priorizando os relacionamentos familiares e o viver

bem em família, refletindo acerca de algumas características que não contribuíam

para uma vida saudável, como se estressar com coisas pequenas e ser impaciente.

Para outras mulheres, o câncer trouxe mudanças positivas, porque se tornaram mais

reflexivas, e com isso, passaram a ter mais afeto, solidariedade e compaixão com as

pessoas, mais próximas.

Em relação ao apoio familiar as mulheres revelaram que o tratamento e o

afastamento proporcionaram melhora e estreitamento dos laços familiares. Frente ao

processo de adoecimento, a pessoa mobiliza diversos recursos para ajudar a

enfrentar essa nova condição, grande parte busca no seu sistema social ao redor, os

recursos de apoio para atenuar as situações impostas pela doença, pois através do

sistema de apoio familiar possibilita administrar melhor a situação, sendo fontes de

apoio a família, amigos, práticas religiosas e outros grupos sociais (SILVA, 2005)

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De acordo com Ramos et al. (2012) a família é vista pelas mulheres como

ponto de partida para o sustentáculo emocional, físico e financeiro, sendo a acolhida

e reconhecimento dentro do núcleo familiar um componente essencial à

recuperação. Portanto, toda a família deve estar ciente da necessidade de apoio que

deve proporcionar ao doente com câncer, uma vez que o enfrentamento poderá

torna-se tranquilo, proporcionando conforto ao longo do tratamento (BARROS, 2007)

Assim, a presença da família é imprescindível, visto que a sua disposição

em cuidar, mostra a pessoa com câncer que ela não está só no processo de

adoecimento, pois a família representa um espaço social no qual seus membros

interagem e ao se depararem com os problemas gerados reagem com apoio mútuo

e buscam conjuntamente soluções (ALMEIDA, 2008).

Porém, alguns membros familiares têm dificuldades em lidar com a doença,

mesmo porque nunca esteve doente ou conviveu com a situação, representando

nesse momento, dificuldades de cuidar de seu familiar com uma doença que tem o

significado de morte e sofrimento como o câncer. Podemos observar as dificuldades

da relação familiar com a doença no relato de algumas entrevistadas.

“[...] tem muita gente que apoia a gente, estou aqui sozinha,

nenhuma das minhas irmãs quiseram vim comigo, aqui um ajuda o

outro, ai a gente vai levando[...]” (A1)

“[...] minha filha veio à primeira vez, veio à segunda vez e me deixou

aqui, agora não sei nem como é que faço. (começou a chorar), eu

sozinha aqui, não sei muita coisa.” (A 9)

“[...] agora os netos se afastaram de mim, agora mesmo não teve

ninguém que quisesse vim comigo, a última neta me roubou, me traiu

[...]” (A13)

Pode-se observar em alguns relatos, que a doença para algumas

entrevistadas teve o sentido de abandono familiar, principalmente dos parentes

consangüíneos, contribuindo este fato para ocorrências de alterações emocionais,

levando a mulher a sentir-se sem rumo, fator que pode contribuir para não adesão

ao tratamento pelas dificuldades de adaptarem-se às situações impostas pela

doença. Assim neste contexto, a família pode exercer importante influência sobre o

estado de saúde e sobre a doença. Os valores de um grupo social, como a familiar,

podem atuar como sistema de proteção, fortalecendo a união social e família,

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habilitando melhor os indivíduos a lidar com as vicissitudes da vida, mas o oposto

pode ocorrer como observamos no grupo de estudo (HELMAN, 2009).

Portanto, torna-se inquestionável a importância do cuidador na assistência à

saúde do doente com câncer, oferecendo cuidados diretos e apoio indireto. O

cuidador familiar adota a responsabilidade pelas necessidades físicas e emocionais

da pessoa que está incapacitada de se cuidar, sendo uma pessoa que vivencia

grande sofrimento, angústia e medo. O sofrimento apresenta-se por conviver com a

doença do seu ente parente, a qual por muitas vezes o consome; a angústia, por

não conseguir reverter o quadro da doença, interagindo em todos os momentos com

o sentimento de perda e culpa (BICALHO, 2008).

Durante as entrevistas algumas mulheres também mencionaram mudanças

ocorridas na relação sexual com seus parceiros, deixando claro que não houve

compreensão por parte de seus companheiros.

“[...] a Doutora disse para não manter, mais relação, ai ele não

aceitou, saiu de casa, eu pensei, vou levar a vida, vou procurar me

cuidar [...] Na minha vida mudei um pouco, agora eu valorizo mais,

me cuidar a si mesmo [...]” (A1)

“Mudou assim, a questão da minha parte intima com meu marido,

por que o médico tirou tudo e muita coisa o útero, ovário e uma parte

da minha vagina e vulva, o que me prejudicou [...]” (A23)

“Mudou muito com meu marido, por que a gente briga muito, às

vezes eu sinto dor e não posso ter relação, ele pensa que eu não

quero mais ele, que não gosto dele [...]” (A30)

A atividade sexual é um importante fator que condiciona a qualidade de vida,

podendo ser sinônimos de alegrias e tristezas. Durante o tratamento de câncer de

colo de útero a prática não é recomendada pelos profissionais de saúde a fim de

evitar traumatismos locais, infecções e por questões de higiene. Então, percebe-se

nestes relatos, que as pacientes mostram-se conscientes de sua condição de saúde

evitando o ato sexual, e que o câncer e tratamento geraram a incompreensão dos

companheiros em relação ao ato sexual, fortalecendo nessas mulheres os sentidos

de sofrimento da doença que as acomete.

Huff e Castro (2011) afirmam que, a relação conjugal de uma mulher com o

diagnóstico de uma doença crônica como o câncer é abalada, pois sabe-se que a

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doença e o tratamento alteram o cotidiano da paciente, família e, principalmente a

relação conjugal, devido a dificuldade de relacionamento com o parceiro por perda

completa da atividade sexual.

Para Silva (2005) as enfermidades graves podem alterar as relações do

casal, podendo ser algumas vezes unificadora, a partir do momento que ela imprime

uma reflexão do que é importante na vida a dois ou o oposto também pode ocorrer.

As mudanças de comportamento na relação do casal podem fortalecer os laços,

uma vez que, quando se confronta com uma doença com o significado de finitude,

como o câncer, a pessoa passa a refletir sobre a sua vida e a valorizá-la.

Pelos relatos, compreende-se que para o grupo de mulheres do estudo, o

trabalho e a família são valores básicos e compõem sua identidade. No entanto, com

o advento da doença e a necessidade de tratamento que são geradores de várias

situações cotidianas, outros aspectos foram percebidos e congregados a nova

situação de vida. Nesse sentido, a doença e tratamento geraram condições que

acabaram afetando a vida e causando interferências nos papéis sociais como o

trabalho, atividades da vida diária, na relação familiar e nas questões

socioeconômicas.

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CAPITULO 7

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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CAPITULO 7- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo desenvolveu-se com o intuito de identificar como as mulheres

com câncer de colo de útero constroem a experiência do diagnóstico ao tratamento,

por meio da interpretação dos sentidos socialmente construídos.

Ao estudar a experiência da mulher com câncer de colo de útero, através da

aproximação teórica da antropologia da saúde possibilitou entender que quando as

mulheres falam de sua experiência com o câncer e com os diferentes tipos de

tratamentos, elas se embasam em sua memória biográfica, reconstruindo e

reproduzindo os acontecimentos do passado, congruentes com suas compreensões

atuais. Assim, o presente é explicado com menção ao passado reconstruído e os

dois são usados para gerar perspectivas sobre o futuro.

Os processos cognitivos são memórias mediadas por esquemas culturais

que servem como orientações para perceber, organizar, interpretar a experiência de

um fenômeno, no caso deste do diagnóstico ao tratamento do câncer de colo de

útero. Essas direções caracterizam um modelo explicativo para a experiência,

baseado no senso comum do grupo social, diferenciado do modelo biomédico

(KLEINMAN, 1988).

Para atingir os objetivos propostos optou-se por uma abordagem

metodológica qualitativa a analise dos dados resultou a identificação de duas

categorias: O diagnóstico, descrito em cinco subcategorias; e o tratamento com

quatro subcategorias.

O resultado da primeira subcategoria identificando as alterações corporais

pode-se verificar que as alterações percebidas no corpo da mulher como

sangramentos, dores abdominais, dor na relação sexual, febre, tonturas resultou no

processo de descoberta da doença que teve início quando a mulher detectou que

algo se encontrava modificado em seu corpo, que ao perceber as alterações,

automaticamente fez suposições, sendo esse momento vivenciado de modo muito

particular em cada uma. Para este estudo, a iniciativa de procurar assistência

médica dependeu das percepções do que é normal e anormal em relação aos sinais

e sintomas. No entanto, na maioria dos casos das entrevistadas, somente o

aumento da incapacidade física ou a persuasão de outras pessoas as levaram a

buscar ajuda profissional.

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A segunda subcategoria, a trajetória para diagnóstico do câncer do colo do

útero, foram a fase subsequente às percepções das alterações corporais; para a

maioria das entrevistadas, a maior dificuldade na busca por assistência à saúde,

deu-se em função do acesso ao sistema de saúde. Nesta busca vivenciaram o

despreparo dos profissionais de saúde, dificuldades de diagnósticos, condições

socioeconômicos que impedem a busca pelo serviço, precariedade do sistema de

saúde, morosidade burocrática dos serviços que não apresentam recursos para um

diagnóstico eficiente, a fragmentação da assistência, fatores que dificultaram uma

assistência a mulher mas efetiva e rápida.

A terceira subcategoria refere-se aos sentidos dados pelas mulheres que

experienciaram o câncer do colo do útero, o significado de estar com câncer está

fortemente arraigada ao senso comum. As mulheres trazem consigo uma série de

associações simbólicas, que muitas vezes interferem na maneira como vêem a

doença.

Para a maioria das entrevistadas o acontecimento da doença em suas vidas

acarretou profundo impacto emocional, pois a experiência de ter câncer, e as

repercussões dessa experiência na vida dessas mulheres, além de provocar o medo

da morte como algo que possa ocorrer, foi percebido essa experiência como um

momento de sofrimento, agonia, “de perda do chão”, medo, mediado pelos sentidos

atribuídos à doença e a visão do mundo adquirido no decorrer da vida. A ocultação

da palavra câncer foi comum nas entrevistadas ao qual foi substituída por

expressões como: “com começo”, “aquele problema”, “era o problema”, “o caroço”,

“esta com isso”, “essa palavra”, que teve sentido de negação da doença. Portanto,

as palavras utilizadas pelas mulheres refletem os preconceitos construídos em torno

do câncer, verificando-se a relação entre o comportamento social das mulheres e o

estigma que a rodeiam.

A quarta subcategoria aceitação do diagnóstico revelou que as mulheres

do estudo, aceitaram o diagnóstico do câncer, assim como o tratamento de forma

positiva, relacionando-a a crença de estarem acometidas pela doença ao

sobrenatural (a Deus), de que Deus controla seu destino e o processo de

adoecimento e tratamento.

A quinta subcategoria reconstruindo valores após o diagnóstico

envolveu as questões de mudanças de vida e a forma de enfrentar a doença. Estes

resultados evidenciaram que estar com câncer para um grupo de adulto

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jovem/adulto e meia idade (20 a 60 anos), gera reformulações e mudanças

interferindo nos seus planos de vida presente e futura. Após o recebimento do

diagnóstico, os sentidos dados ao câncer e as expectativas de cura pelo tratamento,

a vida das mulheres se direcionaram a novos rumos, com mudanças relacionadas

ao novo modo de ser, de ver a vida, junto à valorização do lado espiritual.

A categoria sobre o tratamento do câncer de colo de útero resultou em

quatro subcategorias. A primeira subcategoria, dificuldades em busca de

assistência, para as mulheres do estudo o período transcorrido após o diagnóstico

até o início do tratamento especializado, foi considerado uma jornada difícil e

temporalmente longa. Os sentidos dessa espera foram revelados como ameaças e

piora das perturbações físicas que significaram o possível agravamento da doença e

possibilidade de morte.

A segunda subcategoria resultou no cuidado à saúde através do uso das

crenças no tratamento informal e popular; as mulheres após a descoberta do

câncer a espera do tratamento, fizeram uso de suas crenças no setor informal e

setor popular, com o objetivo de aliviar as perturbações físicas ou estagnação da

doença e pela crença em sua eficácia. Dentre as práticas, mais mencionadas, foi o

uso de medicações fitoterápicas, como uso de “garrafadas”, “chás”, “banhos de

assento” e de rituais religiosos.

Quanto à terceira subcategoria o apoio recebido revela que os principais

modos de apoio recebidos para enfrentar o câncer de colo de útero, foram o apoio

da família, amigos, religiosos e custeio financeiro.

As declarações apontaram a ênfase de apoio da família e religioso como

modo de enfrentar o tratamento, concluindo-se neste contexto que, a família e

amigos exercem importante influência sobre o estado de saúde e sobre a doença da

mulher acometida pelo câncer. A necessidade de custeio financeiro foi enfatizado

devido à necessidade de deslocamentos constantes de seus municípios, as baixas

condições econômicas com dependência direta dos familiares e dificuldades de

adquirirem custeios dos municípios para o tratamento, como principais empecilhos

que dificultaram o enfrentamento da doença.

A última subcategoria mudanças no decorrer do tratamento do câncer, as

mulheres do estudo, ao se verem frente ao diagnóstico e tratamento de câncer de

colo de útero, se confrontaram com mudanças em suas vidas que modificaram

definitivamente a sua identidade social de mulher saudável, trabalhadora, para uma

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identidade de doente, incapacitada para as atividades laborais e do lar, afastamento

do lar, o desconhecimento do novo, perda da identidade, dependência familiar e

mudanças na relação sexual com seus parceiros. Portanto, a doença e o tratamento

foram tidos pelas mulheres como geradores de condições que afetam a vida,

causando interferências nos papéis sociais como o trabalho, atividades da vida

diária, na relação familiar e nas questões socioeconômicas.

Pode-se identificar que as mulheres construíram um sentido para sua

experiência de viver o diagnóstico e tratamento do câncer de colo de útero, que foi

interpretado como momento de sofrimento de vida. Experiência assinalada por

sentimentos ambivalentes de sofrimentos e lutas para prolongamento da vida.

Os sentidos construídos com esta experiência ratificam que este momento

envolve a dimensão que vai além das alterações corporais, que nem sempre são

valorizadas pelos profissionais de saúde, incluindo o enfermeiro.

Reconhecendo a situação atual dos serviços de saúde na atenção primária e

especializada de atenção oncológica, considera-se que é fundamental a adoção de

estratégias assistênciais à mulher com câncer de colo de útero, através do

acompanhamento da consulta de enfermagem, direcionando o atendimento a

desmistificação do câncer e atendimentos às necessidades biopsicossociais e

culturais do grupo do estudo. Acredito que o profissional de saúde precisa

compreender como a doença e os tratamentos afetam a vida das mulheres e como

elas a interpretam, respeitando os valores culturais e as crenças de cada mulher,

evitando impor nosso próprio sistema de valores. Para isto, é necessário que toda a

equipe de saúde esteja sensibilizada e treinada para esta abordagem e, finalmente

para atuar com eficiência neste contexto.

Esta pesquisa destaca a experiência da mulher com câncer de colo de útero,

como uma forma de identificar e apreender os sentidos socialmente construídos em

relação ao câncer de colo de útero. Os estudos que trazem a abordagem da

antropologia da saúde favorecem conhecer a realidade que é apresentada pelos

sujeitos sociais, por tal motivo são relevantes para o universo acadêmico, visto

propiciar ao pesquisador contemplar a realidade sóciocultural.

Este estudo não objetivou esgotar o tema. A temática da saúde da mulher no

contexto oncológico sugere espaço para muitas pesquisas voltadas à abordagem

sóciocultural. A inclusão de discussões sobre a doença como processo de adoecer e

o sentido que ele possui para o grupo podem trazer o compartilhar de experiências e

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novas formas de ressignificá-lo, na realidade cotidiana, podendo até se distanciar do

sentido de aproximação do câncer com o sofrimento e morte.

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REFERÊNCIAS

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SALES; C.A . O cuidado no cotidiano da pessoa com neoplasia: Compreensão existencial. 2003.155p. Tese de doutorado, Ribeirão Preto (SP). Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2003. __________.; SALCI, M. A. O significado do câncer no cotidiano de mulheres em tratamento quimioterápico. Revista Brasileira Enfermagem. 2004; 57(6):724-8. SAMANO,E.S.T.; Praying Conelates With Higher Quality Of Life: Results from a survey on Complementary Alternative Medicine use Among a Group Of Braziliam Câncer Patients. Revista Paulista de Medicina, V122, N.2, P. 60-63-2004 SILVA, A. R. B.; MERIGHI, M. A. B. Compreendendo o estar com câncer ginecológico avançado: uma abordagem heideggeriana. Rev. Escola Enfermagem USP (2006). 40, (2), 253-60. SILVA, D.M.G.V. Narrativas do Viver com diabetes Mellitus: Experiências pessoais e culturais. 2000. 188f. (Tese) – Doutorado- Universidade Federal de Santa Catarina- Florianópolis, 2000. SILVA,V.C.E. O impacto da revelação do diagnóstico de câncer na percepção do paciente. Dissertação de mestrado. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto.Universidade de São Paulo, Ribeiro Preto, 2005. SILVA, S.E.D, VASCONCELOS, EV; SANTANA , M.E; CARVALHO, F.L; MAR, D.F; LIMA, V.L.A. Representações sociais de mulheres amazônidas sobre o exame Papanicolau:implicações para a saúde da mulher.2008;12(4):685-92. Esc Anna Nery Rev Enfermagem. _______________________________________, RODRIGUES, I.L.A; MAR, D.F, CARVALHO, F. Esse tal Nicolau: representações sociais de mulheres sobre o exame preventivo do câncer cérvico-uterino. 2010; 44(3): 554-60. Rev. Esc. Enfermagem USP. _________; RAMOS, F.R.S; MARTINS,C.R; PADILHA,M.I; VASCONCELOS,E,V. Constituição cidadã e representações sociais: Uma reflexão sobre modelos de assistência a saúde. Ver. Esc. Enfermagem. USP. 2010; 44 (4) 1112-7 SONTAG S. A doença como metáfora. Rio de Janeiro. Graal. 1984. TCU. Tribunal de Contas da União- Brasil. Política Nacional de Atenção Oncológica- Brasília- 2011. THULER, L.C.S; BERGMAN, N. A; CASADO, L. Perfil das Pacientes com Câncer do Colo do Útero no Brasil, 2000-2009: Estudo de Base Secundária. Revista Brasileira de Cancerologia 2012; 58(3): 351-357 TURATO, E.R. Tratado de metodologia da pesquisa clínico-qualitativa: construção teórico-epistemológica, discussão comparada e aplicação nas áreas da saúde e humanas. Petrópolis (RJ): Vozes; 2003.

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APÊNDICE(S)

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APÊNDICE – A

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO.

GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE COMITÊ DE ÉTICA E PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS-CEP/Campus IV

TÍTULO: A EXPERIÊNCIA DA MULHER COM CÂNCER DE COLO DE ÚTERO DO

DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO

Você está sendo convidada a participar do projeto de pesquisa acima citado. Sua

colaboração neste estudo será de muita importância para nós, mas se desistir a qualquer

momento, isso não causará nenhum prejuízo a você. O objetivo da pesquisa é conhecer e

analisar como as mulheres com câncer de colo de útero passam pela experiência da doença

desde o diagnóstico ao tratamento. Será desenvolvido no Hospital Ophir Loyola, com 30

mulheres, maiores de 18 anos, que tenham o diagnóstico de câncer de colo de útero e

estejam em tratamento, às entrevistas serão gravados somente com sua liberação; A sua

participação neste projeto não submeterá você a um tratamento, bem como não causará a

você nenhum gasto com relação ao estudo; Você tem a liberdade de desistir ou de

interromper a colaboração neste estudo no momento em que desejar, sem necessidade de

qualquer explicação, e sem prejuízo a sua saúde ou tratamento; Você não receberá

pagamentos e nenhum tipo de recompensa nesta pesquisa, sendo sua participação

voluntária; A pesquisa possui como benefícios a elaboração do conhecimento a comunidade

científica e principalmente ao enfermeiro, que poderá embasar a assistência a mulher com

câncer de colo de útero, inserindo este conhecimento na assistência e proporcionando um

melhor acolhimento a mulher em tratamento; Os riscos de divulgação dos dados e a quebra

de sigilo das informações serão evitados com uso de palavras fornecidas por você e por

cada entrevistada, e ao final da pesquisa, as entrevistas coletadas pelo estudo serão

arquivadas em CD, e somente após o término do estudo serão descartados, sendo que

ficará sobre guarda da mestranda Tatiana Menezes Noronha Panzetti. Os riscos de

alterações no seu estado emocional durante a entrevista podem surgir das emoções

envolvidas no seu relato pessoal, devidos seus problemas sociais, dificuldades do

diagnóstico e tratamento e das relações familiares, assim como lembranças da experiência

da doença. Porém, para minimização destes riscos será realizado contato antecipado com o

enfermeiro, e psicólogo do setor e familiar responsável por você, com o objetivo de avaliar

antecipadamente o seu bem-estar físico e mental para ser dado o início da entrevista.

Contudo, se no momento da coleta você referir incomodo em relação à entrevista, será dada

a opção de termino da entrevista, com retorno ou afastamento definitivo da pesquisa, ao

qual será garantido o descarte de todo material gravado e/ou anotado. Além disso, será

solicitada a assistência dos profissionais da instituição para restabelecimento do seu bem-

estar. Os dados obtidos durante a pesquisa serão mantidos em sigilo pelos pesquisadores,

assegurando a você à privacidade quanto aos dados confidenciais envolvidos na pesquisa;

Os resultados poderão ser divulgados em publicações científicas mantendo sigilo dos seus

dados pessoais; Durante a realização da pesquisa, serão obtidas as suas assinaturas e do

pesquisador, que constarão em todas as páginas do TCLE, as rubricas do pesquisador e da

participante da pesquisa; Caso você desejar, poderá pessoalmente, ou por meio de telefone,

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entrar em contato com o pesquisador responsável para tomar conhecimento dos resultados

parciais e finais desta pesquisa.

Eu, ________________________________________________, residente e domiciliado na

_____________________________________________, portador da Cédula de identidade,

RG ____________ , nascido (a) em _____/_____/_____, abaixo assinado, declaro que

obtive todas as informações necessárias, bem como todos os eventuais esclarecimentos

quanto às dúvidas por mim apresentadas. Desta forma concordo de livre e espontânea

vontade em participar como voluntário (a) do estudo acima descrito.

Belém, ______ de __________________ de _______

Assinatura da participante: ________________________________________

______________________________________

Orientadora: Dra Mary Elizabeth de Santana

CPF15798642-49 Contato 91465969

______________________________________ Orientanda: Tatiana Menezes Noronha Panzetti

CPF 58551646249 Contato 88263683 e 83358741

________________________________________________________________________

Comitê de Éticada Escola de Enfermagem “Magalhães Barata” /CCBS/CAMPUS IV. Av José Bonifácio, 1289. CEP 66063-010. Tel: 32490236 Ramal: 208.

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APÊNDICE – B

ROTEIRO DE ENTREVISTA

1ª PARTE: PERFIL SÓCIO CULTURAL DOS SUJEITOS DA PESQUISA

Data:_____________________

Código da entrevistada_______________

Diagnóstico________________ Tempo de diagnóstico:_________________

Idade:_________ Cor/raça: ( ) Branca; ( )Parda; ( )Amarela; ( )Negra;

( )Indígena.

Naturalidade:__________________________________________________

Estado civil: ( ) Casado; ( ) Solteiro; ( ) Viúvo; ( ) Desquitado; ( )

Vive maritalmente; ( ) Separado de fato.

Início da atividade sexual:____ anos

Paridade:____________

Fumante: ( )Sim; ( )Não Drogas: ( )Sim; ( )Não

Grau de Escolaridade

Ensino Fundamental: Completo ( ) Incompleto ( ) Ensino Médio:

Completo ( ) Incompleto ( ) Ensino Superior: Completo ( ) Incompleto ( )

Analfabeto ( )

Ocupação

Renda própria (RP) e/ou familiar (RF): ( ) Somente RP; ( )Tem RP e RF.

Renda mensal (em salários mínimos): ( ) menos de 1sm; ( )1 sm; ( )2 sm;

( )3sm; ( )4 sm; ( )5 sm; ( )De 5 a 10 sm; ( )Mais de 10 sm.

Seguridade social para saúde: ( ) SUS; ( ) Plano de saúde;

( )Seguro de saúde.

Religião: ( )Católica; ( )Batista; ( )Assembléia de Deus; ( )Espirista

Kardecista; ( ) Candomblé; ( ) Umbanda;

( ) Outros: ___________________________________

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2ª PARTE: ROTEIRO DE ENTREVISTA

1. Este estudo é sobre as experiências das mulheres sobre o câncer de

colo de útero do diagnóstico ao tratamento. Você poderia falar sobre sua própria

experiência em termo do diagnóstico e ao percurso do tratamento do câncer de colo

de útero?

2. O que mudou na sua vida após a descoberta do câncer?

3. Que ajuda você tem buscado para lhe apoiar no tratamento?

4. Você quer me dizer mais alguma coisa?

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APÊNDICE – C

Quadro I – Caracterização sociodemográfica das mulheres com câncer de colo de

útero, atendidas no 2º Departamento de Câncer e do Núcleo de Acolhimento do Enfermo Egresso do Hospital Ophir Loyola. Belém-PA, 2013

Informante

Idade Tempo de diagnóstico

Cor Estado civil Naturalidade Escolaridade Vícios Religião

A1 32 anos 6 meses Negra Casada Pará Ensino fundamental incompleto

Ex tabagista

Católica

A2 49 anos 3 anos Parda Casada Maranhão Ensino fundamental incompleto

Ex tabagista

Evangélica Assembleia

de Deus

A3 61 anos 12 anos Parda Vive maritalmente

Ceará Analfabeta Ex tabagista

Católica

A4 57 anos 6 anos Parda Casada Tocantins Analfabeta Ex tabagista

Evangélica Assembleia

de Deus

A5 65 anos 10 meses Negra Casada Piauí Analfabeta Ex tabagista

Católica

A6 41 anos 2 anos Negra Vive maritalmente

Garrafão do Norte-Pa

Analfabeta Ex tabagista

Evangélica Assembleia

de Deus

A7 54 anos 2 anos Negra Separada de fato

Maranhão Analfabeta Ex tabagista

Católica

A8 52 anos 11 meses Parda Vive maritalmente

Minas Gerais Ensino superior completo

Ex tabagista

Evangélica Pentecostal

A9 55 anos 6 meses Negra Separada de fato

Pará Ensino fundamental incompleto

Tabagista Evangélica Assembleia

de Deus

A10 63 anos 2 anos e 2 meses

Negra Viúva Ceará Ensino fundamental incompleto

Ex tabagista

Católica

A11 68 anos 6 anos Parda Viúva Altamira-Pa Ensino fundamental

completo

Não Católica

A12 44 anos 5 anos Parda Vive maritalmente

Bahia Ensino fundamental incompleto

Não Católica

A13 86 anos 1 ano Branca Casada Pará Analfabeta Não Evangélica Assembleia

de Deus

A14 46 anos 10 anos Parda Casada Maranhão Analfabeta Ex tabagista

Evangélica

A15 49 anos 3 anos Branca Casada Minas Gerais Ensino fundamental incompleto

Não Católica

A16 44 anos 4 anos Negra Vive maritalmente

Piauí Ensino fundamental

completo

Ex tabagista

Evangélica Assembleia

de Deus

A17 56 anos 7 anos Negra Casada Rio Grande do Norte

Ensino fundamental incompleto

Ex tabagista

Evangélica Assembleia

de Deus

A18 56 anos 1 ano Negra Casada Bahia Ensino fundamental

completo

Não Católica

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A19 59 anos 2 anos Negra Viúva Maranhão Analfabeta Ex tabagista

Católica

A20 54 anos 10 anos Negra Viúva Pará Ensino fundamental incompleto

Ex tabagista

Evangélica Assembleia

de Deus

A21 46 anos 1 ano e 2 meses

Negra Solteira Pará Analfabeta Ex tabagista

Evangélica Assembleia

de Deus

A22 36 anos 4 anos Parda Vive maritalmente

Pará Analfabeta Ex tabagista

e ex etilista

Evangélica Assembleia

de Deus

A23 28 anos 5 anos Parda Vive maritalmente

Pará Ensino fundamental incompleto

Não tabagista Etilista social

Evangélica Assembleia

de Deus

A24 58 anos 2 anos Parda Casada Maranhão Ensino fundamental incompleto

Ex tabagista

e ex etilista

Católica

A25 59 anos 2 anos Negra Vive maritalmente

Pará Analfabeta Ex tabagista

Evangélica Assembleia

de Deus

A26 50 anos 2 anos Parda Casada Pará Ensino fundamental

completo

Não Católica

A27 29 anos 1 ano Parda Solteira Pará Ensino médio incompleto

Ex tabagista, drogadita e etilista

Católica

A28 47 anos 7 anos Parda Casada Piauí Analfabeta Não Católica

A29 42 anos 1 ano Parda Solteira Pará Ensino médio incompleto

Não Evangélica Assembleia

de Deus

A30 28 anos 2 anos Parda Solteira Pará Ensino fundamental incompleto

Ex tabagista

e ex etilista

católica

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ANEXO

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ANEXO A- AUTORIZAÇÃO DO HOSPITAL DO ESTUDO

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ANEXO B – PARECER FINAL DO COMITÊ DE ÉTICA

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