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A EXPANSÃO INTERNACIONAL PARA A CHINA: ESTUDO DE CASO DE UMA EMPRESA BRASILEIRA BRUNO BARRETO DE GÓES Dissertação de Mestrado submetida à Banca Examinadora do Instituto COPPEAD de Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Administração (M.Sc.) Orientadora: Prof a Angela da Rocha, Ph.D. Rio de Janeiro - Brasil Setembro 2005

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A EXPANSÃO INTERNACIONAL PARA A CHINA: ESTUDO DE

CASO DE UMA EMPRESA BRASILEIRA

BRUNO BARRETO DE GÓES

Dissertação de Mestrado submetida à Banca Examinadora do Instituto COPPEAD de Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Administração (M.Sc.)

Orientadora: Profa Angela da Rocha, Ph.D.

Rio de Janeiro - Brasil

Setembro 2005

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A EXPANSÃO INTERNACIONAL PARA A CHINA: ESTUDO DE

CASO DE UMA EMPRESA BRASILEIRA

BRUNO BARRETO DE GÓES

Dissertação de Mestrado submetida à Banca Examinadora do Instituto COPPEAD de Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Administração (M.Sc.) Aprovada por:

______________________________________________ Profª Angela da Rocha Ph.D. - Orientadora Instituto COPPEAD de Administração - UFRJ

_______________________________________________ Profa Letícia Moreira Casotti, D.Sc. Instituto COPPEAD de Administração - UFRJ _______________________________________________ Profa Ana Carolina Pimentel Duarte da Fonseca, D.Sc. Faculdade de Administração e Ciências Contábeis – UFRJ

Rio de Janeiro - Brasil

Setembro 2005

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G616e de Góes, Bruno Barreto.

Expansão internacional para a china: estudo de caso de uma empresa brasileira / Bruno Barreto de Góes. – 2006. 195 f.: il. Dissertação (Mestrado em Administração) –

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto COPPEAD de Administração, Rio de Janeiro, 2006.

Orientador: Profa. Ângela da Rocha. 1. China 2. Marcopolo 3. - Teses.

I. Rocha, Ângela da. (Orient.). II.Universidade Federal

do Rio de Janeiro. Instituto de Pós-Graduação em

Administração. III. Título.

CDD 382.6

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Dedico este trabalho à minha querida tia e grande amiga

Maria da Luz Fernandes Perim.

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AGRADECIMENTOS

Esse trabalho simboliza muito mais que o esforço empenhado para realiza-lo, representa também mais uma vitória em um projeto de vida do qual muitas pessoas fazem ou fizeram parte. Seria portanto impossível citar todos aqueles a quem eu gostaria de agradecer. Primeiramente, gostaria de agradecer a toda a minha família, que sempre me apoiou, e gostaria de citar algumas pessoas em especial. Ao meu tio José Carlos Aguiar e sua família que me deram imensas oportunidades de crescimento e amadurecimento que muito me prepararam para chegar onde estou. Ao meu tio Paulo de Góes pelo afeto e pelas oportunidades que me deu desde que voltei ao Brasil, que possibilitaram que eu me dedicasse à minha formação acadêmica. A minha tia Verônica, meu tio Luiz e meus primos Francisco e Luiz Fernando, pelo encorajamento e por terem me acolhido com muito carinho sempre que precisei. A minha tia Maria da Luz, por sua paciência, carinho, amizade e, acima de tudo, seu exemplo de força, vitalidade e altruísmo. Aos funcionários dos diversos setores do Coppead, aqui representados por Márcia Prol, Marinete Nunes Santos, Maria Aparecida Portugal e Simone Meruzzi, que através do esforço, competência e simpatia, muito me ajudaram durante o mestrado. Aos meus professores, pelo conhecimento que comigo compartilharam, pela paciência e pela inspiração. Aos pesquisadores do NuPin, e especialmente a minha amiga Domênica Blundi, por toda a ajuda que recebi para realizar esse trabalho A minha turma de mestrado, pelos momentos bons e difíceis através dos quais formei grandes amizades. Sinto enorme orgulho de ter feito parte de tão talentoso grupo de pessoas. À professora Angela da Rocha, serei sempre grato não somente pela orientação desse trabalho, mas também pela amizade e o incentivo ao meu crescimento acadêmico e profissional. Finalmente, gostaria de agradecer ao meu pai Pedro Gil, minha mãe Maria Cristina e meus irmãos Gil e Daniel por seu amor incondicional e eterno incentivo, sem os quais eu certamente não teria chegado até aqui.

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RESUMO de Góes, Bruno Barreto. Expansão Internacional para a China: Estudo de Caso de uma Empresa Brasileira. Rio de Janeiro, 2006. Dissertação (Mestrado em Administração) – Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006. Desde a abertura de sua economia em 1978, a China vem crescendo a uma taxa média anual de 9%, o que excede em muito a média mundial. Este crescimento, aliado a medidas geradoras de maior integração à economia global, como a filiação à Organização Mundial do Comércio (OMC), e à presença de mão de obra barata e qualificada, têm atraído muitos investidores estrangeiros para o país. Em 2002, a China foi o primeiro país, desde a década de 80, a atrair mais Investimento Direto Estrangeiro (IDE) que os Estados Unidos. Dada a relevância estratégica do mercado chinês dentro do contexto mundial e o crescente movimento de internacionalização das empresas brasileiras, foi pesquisada a Marcopolo, uma empresa brasileira fabricante de carrocerias de ônibus que, através da sua estratégia de desenvolvimento de tecnologia própria e internacionalização, já está presente em diversos países do mundo e desde 2001 no mercado chinês. O estudo do processo de expansão internacional da Marcopolo levantou questões sobre como se deu a decisão de se internacionalizar para a China, a importância das alianças estratégicas como modos de entrada neste mercado e analisou estes fenômenos sob a ótica de várias das teorias de internacionalização presentes na literatura.

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ABSTRACT

de Góes, Bruno Barreto. Expansão Internacional para a China: Estudo de Caso de uma Empresa Brasileira. Rio de Janeiro, 2006. Dissertação (Mestrado em Administração) – Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006. From the opening of its economy in 1978, China has been growing at an average annual rate of 9%, which largely exceeds the world’s average. This growth, together with measures that have furthered its integration with the global economy, such as the affiliation to the World Trade Organization (WTO), and the presence of a cheap and qualified labor force, have been attracting many foreign investors to the country. In 2002, China was the first country, since the 1980s, to attract more Foreign Direct Investment (FDI) than the United States. Given the strategic relevance of the Chinese market within the global context and the crescent internationalization movement of the Brazilian companies, Marcopolo, a Brazilian bus manufacturer, was chosen as the research object of this dissertation. Through its strategy of developing its own technology and internationalization, this company is already present in several countries and, since 2001, has been present in the Chinese market. The study of Marcopolo’s process of international expansion raised questions about the decision process of internationalizing to China, the importance of strategic alliances as entry modes in this market and, it analyzed these phenomena from the perspectives of several of the internationalization theories present in the literature.

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LISTA DE FIGURAS

Figura I.1 Divisão Política da China 4

Figura I.2 Taxas de Crescimento nos EUA, Singapura, Hong Kong,

ASEAN e China 7

Figura I.3 Áreas de Atuação da Indústria em Diversas Regiões do

Mundo 8

Figura I.4 PIB per capita da China 10

Figura I.5 Investimento Estrangeiro Direto na China e na Índia 11

Figura I.6 PIB em Províncias Selecionadas 13

Figura II.1 Os Elementos de uma Estratégia de Entrada de Mercado 17

Figura II.2 O Mecanismo Básico da Internacionalização – Aspectos

de Estado e Mudança 19

Figura II.3 Um Modelo de Analise da Eficiência de Modos de Entrada

Baseado em Custos de Transação 27

Figura II.4 Características dos Diferentes Modos de Entrada 30

Figura II.5 Fatores na Decisão do Modo de Entrada 33

Figura II.6 Alianças de tipo X e Y 45

Figura II.7 Resumo da Tipologia de Alianças Estratégicas 47

Figura II.8 Motivos para a Formação de Alianças Estratégicas 48

Figura II.9 Tipos de Empresas Presentes na China 65

Figura II.10 Divisão das Responsabilidades na Cadeia de Valor 67

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LISTA DE TABELAS

Tabela II.1 Modo de Entrada vs. Controle, Comprometimento 29

de Recursos e Disseminação de Riscos

Tabela II.2 Objetivos Conflitantes em uma Joint-Venture na China 69

Tabela II.3 Dificuldades Encontradas por Investidores Estrangeiros 78

na China

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LISTA DE ANEXOS

Anexo 1

Roteiro de Entrevista – Marcopolo 174

Anexo 2

Países nos quais a Marcopolo já havia atuado até 2005

179

Anexo 3

Produção Brasileira de Ônibus 181

Anexo 4

Produção Total do Grupo Marcopolo (mercado interno + mercado externo)

182

Anexo 5

Participação na Produção Brasileira 183

Anexo 6

Produção Marcopolo – Total Consolidado por Empresa

183

Anexo 7

Produção Marcopolo Mundial Consolidada (por produtos e mercados em unidades)

184

Anexo 8

Receita Líquida – em R$ Milhões 184

Anexo 9

Lucro Líquido em Milhões 185

Anexo 10

Retorno sobre o Patrimônio Líquido – ROE (%)

185

Anexo 11

Quadro de Colaboradores

186

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SUMÁRIO I – INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1 1.1. OBJETIVOS DO ESTUDO.............................................................................................. 1 1.2. RELEVÂNCIA DO ESTUDO ......................................................................................... 1 1.3. O CONTEXTO INTERNACIONAL ............................................................................... 2 1.3.1. A China ......................................................................................................................... 3 1.4. ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO.................................................................................... 14 II – REVISÃO DE LITERATURA ...................................................................................... 16 2.1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 16 2.2. ESCOLHA DO MODO DE ENTRADA EM MERCADOS INTERNACIONAIS....... 17 2.2.1. O Modelo de Internacionalização de Uppsala......................................................... 18 2.2.2. Modos de Entrada e Custos de Transação .............................................................. 23 2.2.3. Uma Teoria Eclética de Modos de Entrada............................................................. 27 2.2.4. Outros Fatores Influenciadores da Escolha do Modo de Entrada ........................ 33 2.3. CLASSIFICAÇÃO DOS MODOS DE ENTRADA EM MERCADOS INTERNACIONAIS.............................................................................................................. 37 2.4. MODOS DE ENTRADA BASEADOS EM ALIANÇAS ESTRATÉGICAS............... 40 2.4.1. Conceito Geral de Aliança Estratégica .................................................................... 40 2.4.2. Tipos de Alianças Estratégicas ................................................................................. 42 2.4.3. O Formato de Alianças Estratégicas ........................................................................ 42 2.4.4. A Função de Alianças Estratégicas .......................................................................... 44 2.4.5. O Escopo de Alianças Estratégicas........................................................................... 45 2.4.6. A Cobertura de Mercado de Alianças Estratégicas................................................ 46 2.4.7. Síntese dos Critérios de Classificação de Alianças Estratégicas............................ 46 2.4.8. Os fatores geradores de motivação para a Formação de Alianças Estratégicas.. 47 2.4.9. Processo de Criação e Operação de Alianças Estratégicas .................................... 48 2.5. CONTRATOS DE LICENCIAMENTO COMO MODO DE ENTRADA NO MERCADO INTERNACIONAL.......................................................................................... 51 2.5.1. Benefícios de Acordos de Licenciamento para Empresas Manufatureiras .......... 52 2.5.2. Benefícios de Acordos de Licenciamento para Empresas de Serviços.................. 53 2.5.3. Custos Gerados por Acordos de Licenciamento ..................................................... 54 2.5.4. Fatores Críticos de Sucesso para Acordos de Licenciamento................................ 55 2.5.5. Recursos Humanos e Acordos de Licenciamento ................................................... 56 2.6. JOINT-VENTURES COMO MODO DE ENTRADA NO MERCADO INTERNACIONAL............................................................................................................... 56 2.6.1. Os Benefícios Gerados pelas Joint-Ventures............................................................ 59 2.6.2. Os Riscos e Custos Incorridos pelas Joint-Ventures ............................................... 60 2.6.3. Fatores Críticos de Sucesso ....................................................................................... 61 2.6.4. Recursos Humanos e Joint-Ventures ........................................................................ 62 2.7. A ENTRADA NO MERCADO CHINÊS ATRAVÉS DE ALIANÇAS ESTRATÉGICAS.................................................................................................................. 63 2.7.1. Razões para a Busca de um Parceiro no Mercado Chinês..................................... 65 2.7.2. Formas de se estabelecer uma Joint-Venture na China.......................................... 66 2.7.3. Dificuldades no Estabelecimento de uma Joint-Venture no Mercado Chinês ...... 68 2.7.4. Fatores Críticos de Sucesso ....................................................................................... 79 III – METODOLOGIA.......................................................................................................... 82 3.1. MÉTODO DE PESQUISA............................................................................................. 82

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3.1.1. Condições para a escolha do método........................................................................ 82 3.2. O MÉTODO DO ESTUDO DE CASO.......................................................................... 84 3.2.1. Definição do Método .................................................................................................. 84 3.2.2. Classificação do Método ............................................................................................ 85 3.2.3. Críticas ao Método ..................................................................................................... 86 3.3. PROBLEMA E PERGUNTAS DE PESQUISA ............................................................ 88 3.4. ESCOLHA DO CASO.................................................................................................... 89 3.5. COLETA DE DADOS.................................................................................................... 89 3.6. ANÁLISE DOS DADOS................................................................................................ 91 3.7. LIMITAÇÕES DO ESTUDO......................................................................................... 92 IV - CASO MARCOPOLO ................................................................................................. 93 4.1. A MARCOPOLO S.A. ................................................................................................... 93 4.1.1. A História da Companhia ......................................................................................... 94 4.1.2. As Unidades de Produção Nacionais ........................................................................ 97 4.2. O MERCADO BRASILEIRO DE ÔNIBUS.................................................................. 98 4.2.1. Os Fatores Diferenciadores da Marcopolo .............................................................. 99 4.2.2. Marcopolo e o Governo Brasileiro ........................................................................... 99 4.3. O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DA MARCOPOLO ...................... 100 4.3.1. As Exportações ......................................................................................................... 102 4.3.2. O Processo de Internacionalização Inward............................................................ 107 4.3.3. O Investimento Direto no Exterior (FDI) .............................................................. 112 4.3.4. O Mercado de Portugal ........................................................................................... 115 4.3.5. O Mercado da Argentina......................................................................................... 117 4.3.6. O Mercado do México ............................................................................................. 119 4.3.7. O Mercado da Colômbia ......................................................................................... 122 4.3.8. O Mercado Africano ................................................................................................ 123 4.3.9. Escritórios Comerciais............................................................................................. 124 4.3.10. Global Sourcing...................................................................................................... 125 4.4. MUDANÇAS DA MARCOPOLO EM DECORRÊNCIA DA ATUAÇÃO INTERNACIONAL............................................................................................................. 129 4.5. MARCOPOLO NA CHINA......................................................................................... 132 4.5.1. O Modo de Entrada ................................................................................................. 134 4.5.2. A Escolha da Localização na China ....................................................................... 135 4.5.3. Características do Mercado Chinês ....................................................................... 137 4.5.4. A Competição Local................................................................................................. 138 4.5.5. A Pirataria e a Quebra de Patentes........................................................................ 139 4.6. ESTRATÉGIA DE ATUAÇÃO NA CHINA............................................................... 141 4.6.1. O Escritório Comercial............................................................................................ 142 4.6.2. A Produção de Componentes e Carrocerias.......................................................... 142 4.6.3. A Fabricação de Carrocerias na China ................................................................. 144 4.7. PLANOS FUTUROS DE INTERNACIONALIZAÇÃO............................................. 147 V – CONCLUSÕES .......................................................................................................... 149 5.1. DISCUSSÃO ................................................................................................................ 149 5.2. CONCLUSÕES ............................................................................................................ 163 5.3. SUGESTÕES DE FUTUROS ESTUDOS ................................................................... 166 BIBLIOGRAFIA.................................................................................................................. 168 ANEXOS ............................................................................................................................. 173

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I – INTRODUÇÃO

1.1. OBJETIVOS DO ESTUDO

Este estudo busca examinar o processo de internacionalização da Marcopolo,

empresa brasileira fabricante de carrocerias de ônibus, especialmente no que diz

respeito a sua entrada na China. Dentre os principais aspectos estudados estão o

processo de decisão quanto à internacionalização para o mercado chinês, a

escolha dos modos de entrada e a importância das alianças estratégicas neste

processo. Estes fenômenos foram analisados sob a ótica de várias das teorias de

internacionalização presentes na literatura.

1.2. RELEVÂNCIA DO ESTUDO

O estudo sobre a internacionalização de empresas tem ganho cada vez mais

importância, devido não somente à tendência geral de globalização, mas também

ao crescente movimento de empresas brasileiras do contexto nacional para o

global, dada uma série de mudanças ambientais e culturais.

Este estudo, que se insere no âmbito da pesquisa sobre Estratégia de

Internacionalização de Empresas Brasileiras, feito em colaboração com o Núcleo

de Pesquisas sobre Internacionalização de Empresas (NuPin) do Coppead/UFRJ,

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justifica-se por documentar e analisar as experiências de internacionalização de

uma empresa brasileira no mercado chinês.

A atenção dedicada à China neste trabalho se justifica pela relevância estratégica

deste mercado dentro do contexto mundial, especialmente no que diz respeito à

sua expressividade econômica e crescente relacionamento com o Brasil. Tal

relacionamento é de grande importância, pois gera oportunidades de intercâmbio

comercial e fortalece a inserção competitiva do Brasil em um cenário cada vez

mais globalizado.

1.3. O CONTEXTO INTERNACIONAL

Com o estreitamento das relações entre os países, a busca por novos mercados

consumidores e plataformas de produção tem se tornado uma tendência cada vez

mais forte e presente nas estratégias competitivas de empresas multinacionais.

Nesse cenário, a China desponta como um dos mais promissores, se não o mais

promissor de todos os mercados emergentes, pois “possui hoje uma combinação

de crescimento, estabilidade e potencial, que tem gerado uma enorme onda de

entusiasmo por parte dos investidores estrangeiros”. (Behind the Mask, p. 3)

As empresas brasileiras, com raras exceções, não têm uma forte tradição naquilo

que diz respeito à internacionalização (Rocha, 2003). No entanto, a abertura do

mercado brasileiro em 1991, a estabilidade econômica que começou a vigorar na

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segunda metade da década de 90, assim como diversos outros fatores, fizeram

com que os empresários brasileiros se vissem em um ambiente cada vez mais

competitivo, o que tem gerado uma mudança nas formas de gestão empresarial e

uma visão cada vez mais voltada para outros mercados que possam ser

explorados (Barreto e Rocha, 2003). A China tem sido um desses mercados alvo.

Na década de 90, várias empresas brasileiras, de vários setores, começaram o seu

processo de internacionalização para a China. Nesse estudo, analisa-se o

processo de internacionalização da Marcopolo, empresa produtora de carrocerias

de ônibus para o mercado chinês, buscando entender as estratégias utilizadas para

entrada no mercado, em particular o papel desempenhado pelas alianças

estratégicas.

1.3.1. A China

A China é um país de proporções continentais, com uma área territorial de

9.596.960 km2. Tais dimensões dela fazem o terceiro maior país do mundo,

perdendo somente para a Rússia e o Canadá em extensão territorial. Possui

também a maior população do planeta, tendo atingido 1.295.330.000 habitantes no

ano 2000, o que equivale a aproximadamente 20% da população mundial. Deste

total, 502 milhões (38%) vivem em áreas urbanas, o que significa que a grande

maioria da população chinesa ainda vive em regiões rurais.

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A China é dividida em quatro municípios que ficam sob controle direto estatal

(Beijing, Xangai, Tianjin e Chongqing), 23 províncias (Hebei, Shanxi, Jilin,

Heilongjiang, Jiangsu, Zhejiang, Anhui, Fujian, Jiangxi, Shandong, Henan, Hubei,

Hunan, Guangdong, Sichuan, Guizhou, Yunnan, Gansu, Shaanxi, Qinghai,

Liaoning, Hainan e Taiwan), cinco regiões autônomas (Inner Mongolia, Guangxi

Zhuang, Tibete, Ningxia Hui e Xinjiang Uygur), e duas regiões administrativas

especiais (Hong Kong e Macau). (CIA Factbook; CSN 2004)

TIANJIN

INNER-MONGOLIA

TIBETE

GUANGXI ZHUANG

NINGXIA HUI

XINJIANG UYGUR

XANGAI

CHONGQING

BEIJING

HEBEI

HEILONGJIANG

SHANXI

JILIN

LIAONING

SHANDONG

JIANGSU

ANHUI

TAIWANGUANGDONG

FUJIANHUNAN

HAINAN

GUIZHOU

JIANGXIHUBEI

YUNNAN

SICHUAN

ZHEJIANG

HENAN

GANSU

SHAANXIQINGHAI

HONG KONG MACAU

Províncias

Municípios sob Controle Estatal

Regiões Administrativas Especiais

Regiões Autônomas

Figura I.1 – Divisão Política da China (Fonte: CSN, 2004)

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A divisão política da China é bastante complexa. As regiões administrativas

especiais, Hong Kong e Macau, merecem maior atenção, pois estão expostas a

outro sistema político: apesar de fazerem parte do todo que constitui a República

Popular da China, estas regiões têm como sistema político dominante o

capitalismo, ao invés do socialismo, que se aplica a todas as demais regiões da

China.

Vale notar que ambas estas regiões administrativas especiais foram colônias de

países europeus e, portanto, respondiam aos sistemas políticos e econômicos

impostos por suas respectivas metrópoles. Com isso, os tratados, firmados tanto

com o Reino Unido quanto com Portugal, estabeleceram que estas regiões

deveriam, por um período de cinqüenta anos, manter o seu sistema econômico e

grau de autonomia administrativa.

Em 1978, com o intuito de modernizar a economia, o Partido Comunista decidiu

abri-la ao exterior. Este movimento foi iniciado com a criação de Zonas

Econômicas Especiais (ZEEs) a partir de 1980, as quais tinham como principais

objetivos a atração de capital externo para o desenvolvimento agrícola e industrial,

a transferência de tecnologia, a promoção de exportações, a adaptação dos

moldes de gestão comercial e industrial ocidentais e a absorção de bens e serviços

produzidos em outras regiões do país. Esta iniciativa serviu como laboratório para

as reformas econômicas empreendidas na China desde a sua abertura. A partir de

iniciativas como essa, a China começou a obter resultados muito positivos tanto

para o seu crescimento interno, alcançando taxas muito acima da média mundial,

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quanto para seu nível de integração à economia global, levando-a, em 2001 a filiar-

se à Organização Mundial do Comércio (OMC). Vale lembrar que a devolução das

regiões de Hong Kong e Macau, em 1997 pelo Reino Unido e em 1999 por

Portugal respectivamente, também tiveram um impacto positivo na integração da

China à economia mundial.

Desde 1978, a China tem buscado empreender mudanças que gerem não só o

crescimento interno, mas também a sua integração na economia mundial. Estas

mudanças têm sido empreendidas principalmente no que diz respeito à abertura da

economia chinesa e, por conseqüência, à transparência na forma de se fazer

negócios. Com a abertura comercial, a China tem mantido sua taxa média de

crescimento anual em torno de 9% desde 1978, o que tem excedido em muito a

média mundial. O governo chinês tem consciência de que muito de sua

estabilidade está diretamente associada ao rápido crescimento econômico, motivo

pelo qual busca atingir a meta mínima de crescimento de 7% ao ano. (Behind the

Mask, 2004)

A figura I.2. faz uma comparação entre as taxas de crescimento das economias

dos Estados Unidos, Cingapura, Hong Kong, ASEAN1 e China, durante um período

turbulento, marcado por crises econômicas internacionais. Pode-se observar que a

1 ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático) foi formada em 8 de agosto de 1967 em Bangkok pelos seguintes cinco países membros, Indonésia, Malásia, Filipinas, Singapura e Tailândia. Brunei e Vietnam afiliaram-se em 1984, Laos e Myanmar (Burma) em 1997 e o Cambodia em 1999. A região da ASEAN tem uma população de aproximadamente 500 milhões de habitantes, uma área total de 4,5 milhões de km2 e um PIB agregado de US$ 737 bilhões. Os objetivos desta associação são (I) a aceleração do crescimento econômico, progresso social e desenvolvimento cultural da região, e (II) promover a paz e a estabilidade na região. (ASEAN Secretariat, 2005)

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trajetória do crescimento chinês manteve-se bastante estável durante todo esse

período.

Figura I.2. – Taxas de Crescimento nos EUA, Cingapura, Hong Kong, ASEAN e China (Fonte: Zellweger, 2004-I)

Outro fator que tem tido forte influência no desenvolvimento econômico chinês é

sua grande força de trabalho. De sua imensa população, estima-se que 744

milhões de pessoas integrem a força de trabalho. A mão de obra chinesa é

qualificada e considerada barata para os padrões internacionais (Lieberthal e

Lieberthal, 2003), atraindo empresas que buscam minimizar os seus custos de

produção. Com esse crescimento acelerado, a China tem alcançado a liderança

mundial em vários segmentos da produção de bens manufaturados, tornando-se o

centro manufatureiro da Ásia Continental (Lieberthal e Lieberthal, 2003)

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8

A Figura I.3. representa as áreas de atuação da indústria em diversas regiões.

Essa atuação varia desde os países mais avançados, cujo foco está em indústrias

sofisticadas de altíssimo valor agregado, como biotecnologia e aeroespacial, até

países em desenvolvimento, cujo foco ainda permanece em indústrias de base e

commodities. A China e a Índia, por sua vez, atuam em todas essas indústrias,

mostrando que sua competitividade não se restringe apenas a produtos de baixo

valor agregado, mas também a produtos extremamente sofisticados.

Figura I.3. – Áreas de Atuação da Indústria em Diversas Regiões do Mundo (Fonte: Zellweger, 2004-I)

A China foi vista por muito tempo como a grande sweatshop do mundo, ou seja, os

produtos fabricados no país contavam com mão de obra barata e de baixa

qualificação, eram pouco sofisticados e produzidos em massa, sem rígido controle

de qualidade. O que a figura I.3 mostra é que essa realidade está mudando: a

Biotecnologia/Farmacêutica

Ind. Aeroespacial

Tecnologia Ambiental

Telecomunicações

ChipsTV e Eletrônicos

Brinquedos

MóveisUtilid

ades Domésticas

Ind. Automotiva

SoftwareMaquinaria Especializada

TêxteisIndústria

da Contrução

Agricultura

EUA, Japão, UE

30’ - 40’000 $/cap

Tigres Coréia, Taiwan, H.K. Singapura

15’ - 30’000 $/cap

Tailândia, Malásia

2’ - 4’000 $/cap

Indoch. Filipinas.

300 - 1’000 $/cap

China, Índia

500 - 1’000 $/cap

Biotecnologia/Farmacêutica

Ind. Aeroespacial

Tecnologia Ambiental

Telecomunicações

ChipsTV e Eletrônicos

Brinquedos

MóveisUtilid

ades Domésticas

Ind. Automotiva

SoftwareMaquinaria Especializada

TêxteisIndústria

da Contrução

Agricultura

EUA, Japão, UE

30’ - 40’000 $/cap

Tigres Coréia, Taiwan, H.K. Singapura

15’ - 30’000 $/cap

Tailândia, Malásia

2’ - 4’000 $/cap

Indoch. Filipinas.

300 - 1’000 $/cap

China, Índia

500 - 1’000 $/cap

Ind. Aeroespacial

Tecnologia Ambiental

Telecomunicações

ChipsTV e Eletrônicos

Brinquedos

MóveisUtilid

ades Domésticas

Ind. Automotiva

SoftwareMaquinaria Especializada

TêxteisIndústria

da Contrução

Agricultura

EUA, Japão, UE

30’ - 40’000 $/cap

Tigres Coréia, Taiwan, H.K. Singapura

15’ - 30’000 $/cap

Tailândia, Malásia

2’ - 4’000 $/cap

Indoch. Filipinas.

300 - 1’000 $/cap

China, Índia

500 - 1’000 $/cap

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9

China se mantém extremamente competitiva em setores de baixo valor agregado,

mas o país vem atuando cada vez mais em setores mais sofisticados, com custos

de produção freqüentemente muito inferiores aos de países altamente

industrializados. Os altos níveis de qualidade em algumas indústrias chinesas,

aliados a custos muito abaixo dos existentes no mercado mundial, têm gerado uma

capacidade competitiva sem precedentes. (Engardio e Roberts, 2004)

O mercado consumidor potencial da China também tem chamado a atenção de

investidores de todo o mundo, pois apesar das grandes diferenças sociais

existentes no país, especialmente entre a população rural e a urbana, o potencial

do mercado chinês é visto por muitos, como inesgotável. Primeiramente, existe

uma parcela significativa da população que pode ser considerada como parte de

um mercado consumidor ativo. Depois, o restante da população constitui uma

massa de consumidores tão grande e tão ávida por consumir, que qualquer

aumento em suas taxas de consumo representa aumentos expressivos na

demanda mundial. Um escritor inglês do século XIX observou que, “se

pudéssemos simplesmente persuadir todas as pessoas da China a aumentar o

comprimento da barra de suas camisas em trinta centímetros, poderíamos manter

os teares de Lancastershire trabalhando sem parar”. (Behind the Mask, 2004) Tal

observação serve para ilustrar o fato de que qualquer empresa que tenha

penetração no mercado chinês, por mais modesto que seja o produto, contará com

demanda praticamente inesgotável para a sua capacidade de produção.

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10

A figura I.4. ilustra o crescimento do PIB per capita na China desde a abertura de

sua economia.

Figura I.4. – PIB per capita da China (Fonte: Zellweger, 2004-I)

A China atingiu, em 2002, um PIB de 1,4 trilhão de dólares e é hoje a sexta maior

economia do mundo. A sua imensidão territorial, grande contingente populacional

e as maiores taxas de crescimento econômico do mundo têm gerado uma enorme

atratividade para investidores estrangeiros, fazendo com que, em 2002, a China

fosse o primeiro país, desde a década de 80, a atrair mais Investimento Estrangeiro

Direto (IED) do que os Estados Unidos, recebendo um montante de 53,2 bilhões de

dólares contra 52,7 dos EUA. (Lieberthal e Lieberthal, 2003) Em 2003, mesmo

Ano

Dólares per Capita

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11

com a crise de pneumonia asiática (SARS) e a guerra no Iraque, o montante de

IED atraído chegou ao recorde de 57 bilhões de dólares. (Behind the Mask, 2004)

A figura I.5. faz uma comparação interessante entre o montante de IED atraído

pela China, e o montante atraído pela Índia, outro gigantesco mercado asiático.

Figura I.5. – Investimento Estrangeiro Direto na China e na Índia (Fonte: Zellweger, 2004-I)

No entanto, investir com sucesso na China não é tão simples quanto parece à

primeira vista. Apesar da abertura para o investimento estrangeiro, iniciada em

1979, ainda eram impostas diversas restrições às ações desempenhadas por

estrangeiros no país, o que por sua vez, gerava um ambiente de insegurança para

a realização de negócios.

2002 20041993

120

100

80

60

40

20

0

1994 1995

Investimento real na China, em bilhões de Dólares

25,833,5

37,7

1996

42,3

1997

52.046

40

1998 1999 2000 2001

4145

53

2003

54

4.4 3.5 3.6 4.7 4.7 3.7 3.6

Investimento real na Índia, em bilhões de Dólares

Bilhõesde Dólares

65

2002 20041993

120

100

80

60

40

20

0

1994 1995

Investimento real na China, em bilhões de Dólares

25,833,5

37,7

1996

42,3

1997

52.046

40

1998 1999 2000 2001

4145

53

2003

54

4.4 3.5 3.6 4.7 4.7 3.7 3.6

Investimento real na Índia, em bilhões de Dólares

Bilhõesde Dólares

65

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12

A despeito do enorme crescimento econômico das últimas décadas, a China ainda

é um país com fortes desigualdades sociais. Estas disparidades podem ser

notadas no âmbito regional, pois apesar de, durante o período de 1979 a 1995 o

país ter crescido a uma taxa média anual de 9,8%, sendo 12,8% na região oriental

(costa) e 8,7% na região ocidental (interior), esta última região não responde hoje

por mais de 15% do PIB nacional. Como já fora exposto anteriormente, três

quintos da população chinesa vivem em áreas rurais (Behind the Mask, p. 5), as

quais são localizadas no interior, ou seja, uma parcela muito grande da população

vive em regiões pobres e com índices de crescimento muito abaixo da média

chinesa.

A figura I.6. ilustra essa desigualdade através do PIB per capita em diversas

províncias do País. Tomando como exemplo os números de Shanghai e Guizhou,

nota-se que o primeiro é mais de doze vezes maior que o segundo.

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13

Figura I.6. – PIB em Províncias Selecionadas (Fonte: Zellweger, 2004-I)

É importante lembrar também que esse crescimento econômico espantoso tem

sido alcançado em cima de uma base muito pequena. Um exemplo, é a indústria

automobilística. A China é, praticamente, o único lugar no mundo em que as

montadoras estarão competindo por um mercado em expansão, ao invés de brigar

dentro de um mercado já estagnado em termos de crescimento. (Lieberthal e

Lieberthal, 2003). No entanto, apesar deste mercado ter crescido 75% em 2003, a

China tem somente 15 carros por grupo de 1000 pessoas, enquanto o mercado

americano tem 700. (Behind the Mask, 2004)

Reformas institucionais, legais e até mesmo culturais têm sido empreendidas no

país para que cada vez mais ele se adéqüe às regras de mercados internacionais.

4000

3000

2000

1000

0

5000

Guizhou 381 $/Cap

Sichuan, Tibet 700 $/Cap

Guangdong 1815 $/Cap

Baijing 3436 $/Cap

Tianjing 2703 $/Cap

National Average 1000$/Cap

Shanghai 4909 $/Cap

US$/Cap

4000

3000

2000

1000

0

5000

Guizhou 381 $/Cap

Sichuan, Tibet 700 $/Cap

Guangdong 1815 $/Cap

Baijing 3436 $/Cap

Tianjing 2703 $/Cap

National Average 1000$/Cap

Shanghai 4909 $/Cap

US$/Cap

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14

A entrada da China na OMC em 2001 foi uma indicação de o país ter concluído

muitas das mudanças necessárias para atingir os padrões de qualidade

mundialmente exigidos, simbolizando o comprometimento do país com o

desenvolvimento contínuo de um ambiente propício ao investimento estrangeiro e

ao comércio internacional.

1.4. ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO

Este estudo está organizado em cinco capítulos. Neste primeiro capítulo são

apresentados os objetivos e justificativas para a realização desta pesquisa, assim

como uma contextualização da importância da China no âmbito global e para o

Brasil.

O segundo capítulo apresenta uma revisão de literatura sobre os modos de entrada

em mercados externos, principalmente aqueles baseados em alianças

estratégicas. Uma maior ênfase é dada às alianças dos tipos contratos de

licenciamento e joint-ventures, dado que o primeiro foi o modo de entrada

escolhido pela empresa estudada e o segundo constitui o principal modo de

entrada de empresas estrangeiras no mercado chinês. Já o terceiro capítulo,

apresenta a escolha da metodologia de pesquisa – o Estudo de Caso – justificando

sua utilização e apontando suas principais limitações.

No quarto capítulo, é feita a descrição do caso selecionado para esta pesquisa – o

caso da Marcopolo S.A., a maior empresa produtora de carrocerias de ônibus no

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15

Brasil. No quinto capítulo, é feita a análise do caso tendo como base o contexto

internacional chinês e a literatura citada no capítulo II. Finalmente, são descritas

as principais conclusões para que se possa responder às perguntas de pesquisa

propostas no capítulo III.

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16

II – REVISÃO DE LITERATURA

2.1. INTRODUÇÃO

Este Capítulo tem por objetivo apresentar uma revisão da literatura pertinente.

Inicialmente discute-se a escolha de mercados externos sob a perspectiva do

processo de internacionalização da firma. Em seguida aprofunda-se a questão dos

modos de entrada, enfatizando alianças estratégicas e, finalmente discute-se a

situação do mercado chinês em relação aos modos de entrada.

O processo de internacionalização de uma empresa significa a entrada desta

empresa em um mercado exterior. Este processo requer, de acordo com Root

(1994, p. 23), que decisões sejam tomadas em relação a cinco aspectos: (1) a

escolha do mercado alvo, (2) os objetivos e metas da empresa no mercado alvo,

(3) a escolha de um modo de entrada nesse mercado, (4) o plano de marketing

para penetrar o mercado alvo e (5) o sistema de controle estabelecido para

controlar o desempenho da empresa no mercado alvo. A figura II.1 ilustra esses

fatores.

Apesar de uma aparente seqüência lógica linear entre estas decisões, existem

aquelas que podem (ou devem) ser tomadas concomitantemente durante o

processo, assim como circunstâncias geradas por decisões posteriores da

seqüência que implicam na reavaliação de decisões que já haviam sido tomadas.

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17

Dessa forma, pode-se dizer que existe forte interdependência entre todas as

decisões tomadas e o resultado gerado pelas mesmas.

Figura II.1 – Os Elementos de uma Estratégia de Entrada de Mercado

(Fonte: Root, 1994, p. 23)

2.2. ESCOLHA DO MODO DE ENTRADA EM MERCADOS INTERNACIONAIS

Das decisões citadas por Root (1994), a escolha do modo de entrada é de absoluta

importância, e é dela que estaremos tratando nesta revisão de literatura. Os modos

de entrada em mercados internacionais referem-se aos arranjos institucionais que

permitem que uma empresa entre com seus produtos, tecnologia, recursos

humanos, ou quaisquer outros recursos no mercado de um país estrangeiro.

Estabelecer Objetivos e Metas

Escolher o modo de entrada: exportação, acordos contratuais, ou investimento.

Avaliar produtos e mercados estrangeiros: escolher o produto e o mercado alvo

Sistema de controle: monitora as operações/ revisando a estratégia de entrada

Preparar o plano de marketing: preço, promoção, distribuição, etc.

Operações de Entrada

Mercado Alvo

1 3 4 2

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18

Existem diferentes teorias que buscam explicar a escolha de determinado modo de

entrada em um mercado estrangeiro. Neste trabalho, discute-se a influência de

diferentes escolas de pensamento, começando com o modelo de Johanson e

Vahlne da Escola de Uppsala, passando então à teoria de custos de transação, e a

uma abordagem eclética sobre escolha desses modos de entrada. Apresenta-se

também o modelo proposto por Root (1994) em que são abordados os fatores

internos e externos que motivam a escolha de um determinado modo de entrada.

Posteriormente são discutidos os modos de entrada em si, dando ênfase àqueles

baseados em alianças estratégicas. Finalmente, faz-se uma breve discussão

sobre a entrada de empresas no mercado chinês através de alianças estratégicas.

2.2.1. O Modelo de Internacionalização de Uppsala

O Modelo de Internacionalização de Uppsala, que tem como base a teoria

comportamental da firma (Cyert and March, 1963; Aharoni, 1966) e a teoria de

crescimento da firma de Penrose (1959), foi apresentado inicialmente por

Johanson e Vahlne em 1977, a partir de estudos de caso realizados na própria

escola de Uppsala sobre o processo de internacionalização de quatro empresas

suecas. O modelo foi novamente defendido em 1990 em outro trabalho de

Johanson e Vahlne. Este modelo tem sido um importante esquema conceitual para

guiar as pesquisas sobre o processo de internacionalização da firma.

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19

O modelo se desenvolve a partir da premissa de interação entre dois conjuntos de

elementos: aspectos de estado e aspectos de mudança. Os aspectos de estado

estão relacionados ao comprometimento com o mercado, ou seja, o

comprometimento de recursos com o mercado estrangeiro e ao conhecimento de

mercado, que envolve tanto o conhecimento do mercado estrangeiro quanto das

operações da própria empresa. Os aspectos de mudança dizem respeito às

decisões de comprometimento de recursos com o mercado externo e às atividades

comerciais correntes.

Figura II.2 – O Mecanismo Básico da Internacionalização – Aspectos de Estado e Mudança

(Fonte: Johanson e Vahlne, 1977, p. 26)

O conhecimento pode ser classificado como objetivo ou empírico. O conhecimento

objetivo é aquele que pode ser ensinado, enquanto o empírico só se dá através da

experiência pessoal. Sendo assim, o conhecimento empírico é mais difícil de ser

adquirido e mais crítico para o processo de internacionalização. Uma outra forma

de classificar o conhecimento que se aplica ao modelo de Johanson e Vahlne é a

Conhecimento do Mercado

Comprometimento com o Mercado

Atividades

Correntes

Decisões de Comprometimento

Conhecimento do Mercado

Comprometimento com o Mercado

Atividades

Correntes

Decisões de Comprometimento

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20

divisão em conhecimento geral (conhecimento das operações) e conhecimento

específico (conhecimento do mercado). O primeiro tipo diz respeito ao

conhecimento que pode ser transferido de um mercado para outro, como métodos

de marketing e características comuns a certos tipos de clientes, enquanto o

segundo é decorrente da experiência acumulada em um dado mercado. Assim, o

conhecimento, incluindo as percepções de oportunidades e problemas, adquirido

de forma empírica através de atividades comerciais em um dado mercado é uma

força motriz do processo de internacionalização da firma, pois a acumulação desse

conhecimento determina o gradualismo do envolvimento internacional da firma.

O conceito de comprometimento refere-se a dois aspectos. O primeiro diz respeito

ao volume de recursos empregados no mercado estrangeiro (investimentos em

marketing, organização, pessoal etc). O segundo trata do grau de

comprometimento com o mercado, ou seja, está diretamente relacionado ao grau

de especificidade dos recursos da empresa no mercado em questão, onde

entende-se que quanto maior a especificidade, maior a dificuldade de transferir

esses recursos para usos em mercados alternativos.

A interação entre esses elementos explica dois padrões de internacionalização.

Primeiro, a firma se envolve com um determinado mercado de forma gradual e

progressiva. O segundo leva em consideração o conceito de distância psíquica,

que é definida por fatores que perturbam o fluxo de informação entre a firma e o

mercado, como diferenças de linguagem, cultura, sistemas políticos, legislação,

práticas comerciais, níveis de educação, níveis de desenvolvimento industrial etc.

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21

Portanto, esse padrão observa que a firma entra em mercados com crescentes

distâncias psíquicas.

“o modelo de internacionalização pode explicar dois padrões na internacionalização

da empresa (Johanson e Wiedersheim-Paul, 1975). O primeiro é que o

envolvimento da empresa em um mercado estrangeiro específico acontece de

acordo com uma cadeia de estabelecimento... Em termos do modelo do processo,

essa seqüência de estágios indica o comprometimento crescente de recursos com

o mercado. Ela também indica atividades correntes (operações) que se

diferenciam em razão da experiência acumulada”.

Dessa forma, os autores discutem dois principais indicadores do grau de

internacionalização da firma: estágios dentro de uma cadeia de estabelecimento e

distância psíquica. Em seu estudo de casos, Johanson e Wiedersheim-Paul (1975)

identificaram quatro estágios de envolvimento da firma com mercados externos,

baseados na aquisição de conhecimento e em suas decisões de

comprometimento. Os estágios identificados foram os seguintes:

• Estágio 1: não há atividades regulares de exportação;

• Estágio 2: exportação via representantes (agentes independentes)

• Estágio 3: Estabelecimento de uma subsidiária de vendas no exterior;

• Estágio 4: unidades de operações (por exemplo, produção) no exterior (estágio

pós-exportação).

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22

No entanto, em seu trabalho de 1990, Johanson e Vahlne colocam que esses

padrões são operacionalizações do modelo de internacionalização. E que há

outros indicadores para esses padrões, como o volume do investimento no

mercado ou a força dos vínculos com os mercados, o grau de integração vertical.

Uma importante consideração quanto ao modelo de Uppsala é que ele rejeita uma

visão estática, baseada na perfeita otimização das operações e recursos da

empresa.

“Não acreditamos que ela [internacionalização] seja o resultado de uma estratégia

de alocação ótima de recursos em diferentes países, pela qual são comparadas e

avaliadas diferentes alternativas de se explorar os mercados externos. Em vez

disso, vemos a internacionalização como a conseqüência de um processo de

ajustes incrementaisàs condições variáveis da firma e de seu ambiente” (Johanson

e Vahlne, 1977, p. 26).

No entanto, o modelo foi criticado por ser pouco apropriado a estágios mais

avançados do processo de internacionalização.

“Também se tem argüido que o modelo do processo [modelo de Uppsala] fala de

aspectos importantes nos estágios iniciais da internacionalização quando a falta de

conhecimento e recursos de mercado ainda são fatores restritivos (Forsgren,

1989a). Quando a firma já tem atividades em diversos países, esses fatores

deixam de ser um problema. Nessa situação, a firma pode alocar recursos para

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23

atividades internacionais baseada em condições reais de mercado ao invés de em

resposta ao desconhecido”(Johanson e Vahlne, 1990, p. 14).

2.2.2. Modos de Entrada e Custos de Transação

A teoria de custos de transação, originária da Economia Industrial, foi desenvolvida

por Oliver Williamson (1975), em sua obra Markets and Hierarchies. Sua idéia

principal se baseava nas seguintes premissas:

• Existem fricções nas transações entre empresas, cujos aspectos envolvidos

estão relacionados a variáveis do ambiente (incerteza e complexidade) e do

comportamento humano (racionalidade limitada e oportunismo).

• Existem basicamente duas formas pelas quais as empresas organizam suas

atividades: mercados (contratação externa de atividades) e hierarquias

(utilização de sua própria estrutura para realização de suas atividades).

• As empresas optam por mercados ou por hierarquias dependendo de qual das

duas alternativas tiver os custos de transação mais favoráveis.

Anderson and Gatignon (1986) utilizaram a teoria de custos de transação na

elaboração de diversas proposições relacionadas à escolha de modos de entrada.

Primeiramente, os autores colocaram que a escolha de um modo de entrada teria

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24

como objetivo principal a maximização da eficiência a longo prazo, o que, em

outras palavras, significa o quociente do retorno obtido pela empresa sobre o

investimento feito. No contexto internacional, pode ser traduzido pelo retorno a

longo prazo do entrante sobre o seu investimento em um modo de entrada,

ajustado para o risco.

Em segundo lugar, os autores assumiram que a variável “controle” exerce um

papel crucial na escolha do modo de entrada, por ser o maior determinante de risco

e retorno para a empresa. Neste caso, controle foi definido como a habilidade de

influenciar sistemas, métodos e decisões. Portanto, sem controle, a empresa

encontraria dificuldades para coordenar ações, conduzir e revisar estratégias,

resolver disputas etc. Por outro lado, assumir o controle traz consigo a

responsabilidade sobre a tomada de decisão, responsabilidade esta que a

empresa pode não estar disposta, ou mesmo preparada, para assumir.

Assim, tendo em vista a maximização da eficiência a longo prazo, a empresa

buscaria maior ou menor controle uma vez avaliados os custos de transação

relacionados aos quatro construtos listados a seguir, levando em consideração a

hipótese inicial de que “um baixo nível de propriedade (controle) é preferível até

que seja provado o contrário”.

• Ativos de especificidade transacional: investimentos (físicos ou humanos)

especializados para um ou poucos usuários ou usos.

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25

• Incerteza externa: a imprevisibilidade do ambiente externo ao entrante.

• Incerteza interna: a falta de habilidade do entrante para determinar o

desempenho de seus agentes através da observação das medidas de output

produção.

• Potencial para oportunismo (free riding): a habilidade de os agentes receberem

benefícios sem incorrer nos custos associados aos mesmos.

Com base nesta análise, os autores formularam as seguintes nove proposições

relativas aos construtos anteriormente apresentados, o grau de controle que deve

ser almejado pela empresa e o modo de entrada a ser escolhido:

P1. Modos de entrada que oferecem maior grau de controle são mais eficientes

para produtos ou processos com alto conteúdo proprietário.

P2. Modos de entrada que oferecem maior grau de controle são mais eficientes

para produtos e processos não estruturados e pouco entendidos.

P3. Modos de entrada que oferecem maior grau de controle são mais eficientes

para produtos customizados ao usuário.

P4. Quanto mais madura for a classe de produto, menor o controle que as

empresas devem exigir de uma empresa no exterior.

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26

P5. Quanto maior a combinação de risco país (isto é, instabilidade política e

flutuações econômicas) e especificidade transacional dos ativos (conteúdo

patenteado, produtos pouco entendidos, customização, baixo grau de

maturidade da classe de produtos), maior o grau apropriado de controle.

P6. O grau de controle de um entrante sobre uma empresa estrangeira deve

estar relacionado positivamente à experiência internacional cumulativa do

entrante.

P7. Quando a distância sócio-cultural é grande:

a. Baixos graus de controle são mais eficientes que graus

intermediários.

b. Altos graus de controle são mais eficientes que graus intermediários.

c. Altos graus de controle são mais eficientes somente quando há uma

vantagem substancial em se fazer negócios da forma utilizada pelo

entrante.2

P8. Quanto maior for a comunidade de negócios estrangeira no pais hospedeiro,

menor deve ser o grau de controle exigido pelo entrante.

P9. Modos de entrada que oferecem maior grau de controle são mais eficientes

quanto mais alto for o valor da marca.

2 Graus intermediários de controle não são desejáveis, pois oferecem o que cada possibilidade tem de pior. Não dão a liberdade para que a empresa aja de forma não convencional, nem o baixo grau de comprometimento para que ela seja flexível.

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27

Figura II.3 – Um Modelo de Analise da Eficiência de Modos de Entrada Baseado em Custos de

Transação

(Fonte: Anderson e Gatignon, 1986, p. 7)

2.2.3. Uma Teoria Eclética de Modos de Entrada

Os autores Hill, Hwang e Kim (1990) criticaram a abordagem de Anderson e

Gatignon (1986) alegando que a teoria de custos de transação trataria as decisões

das empresas quanto à escolha dos modos de entrada de maneira isolada, não

refletindo a verdadeira natureza estratégica dessas decisões. Na prática, a

escolha de uma empresa multinacional quanto ao modo de entrada em um

mercado estrangeiro dependeria das relações estratégicas vislumbradas pela

empresa em diferentes países.

ATIVOS DE ESPECIFICIDADE TRANSACIONAL

P1 P2 P3 P4

INCERTEZA EXTERNAP5

INCERTEZA INTERNAP6 P7 P8

POTENCIAL PARA “FREE RIDING”P9

X

MODO DE ENTRADA:GRAU DE CONTROLE

INCERTEZA EXTERNAP5

+

+

+

+

+

ATIVOS DE ESPECIFICIDADE TRANSACIONAL

P1 P2 P3 P4

INCERTEZA EXTERNAP5

INCERTEZA INTERNAP6 P7 P8

POTENCIAL PARA “FREE RIDING”P9

X

MODO DE ENTRADA:GRAU DE CONTROLE

INCERTEZA EXTERNAP5

+

+

+

+

+

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28

Hill, Hwang e Kim (1990) propuseram uma explicação diferente dos fatores que

influenciariam a escolha de uma multinacional quanto à sua forma de entrar em

mercados externos. Baseados em uma teoria eclética da escolha destes modos,

afirmaram que variáveis diferentes muitas vezes sugerem modos de entrada

diferentes, e que a resolução de tais diferenças implica na aceitação de trade-offs.

O modelo proposto considera a escolha entre três dos principais modos de

entrada, licenciamento, joint-venture e subsidiária de controle integral, afirmando

que cada um destes modos é consistente com diferentes graus de controle,

comprometimento de recursos e disseminação de riscos.

Controle foi definido, neste caso, como a autoridade sobre a tomada de decisão

operacional e estratégica. O comprometimento de recursos (ou flexibilidade

estratégica) estaria relacionado aos ativos dedicados que não poderiam ser

remanejados para usos alternativos sem que se incorresse em custos. E

finalmente, a disseminação de risco se referiria à probabilidade de vantagens

decorrentes do know-how específico da firma serem expropriadas por um parceiro

em um contrato de licenciamento ou em uma joint-venture.

O relacionamento entre cada um destes fatores e os diferentes modos de entrada é

apresentado na tabela II.1.

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29

Tabela II.1 – Modo de Entrada vs. Controle, Comprometimento de Recursos e Disseminação de Riscos

(Fonte: Hill, Hwang e Kim, 1990, p. 120)

Os autores identificaram três categorias de variáveis que exerceriam influência

sobre a decisão do modo de entrada: variáveis estratégicas, ambientais e de

transação. As variáveis estratégicas dizem respeito à extensão das diferenças

nacionais, à extensão das economias de escala e à concentração global, e

encontram-se mais diretamente relacionadas ao nível controle exercido pela

empresa. Por sua vez, as variáveis ambientais incluem o risco país, o grau de

familiaridade local, as condições da demanda e a volatilidade da competição, e

estariam mais fortemente ligadas ao nível apropriado de comprometimento de

recursos. Finalmente, as variáveis transacionais abrangem o valor do know-how

específico da firma e a sua natureza tácita. Estas variáveis teriam influência nos

fatores de disseminação de risco e no nível apropriado de controle. O modelo

decisório proposto encontra-se na figura II.3.

Construtos

ControleComprometimento

de RecursosDisseminação

de Riscos

Médio

Alto

Baixo

Modo de Entrada

Médio

Alto

Baixo

Médio

Baixo

AltoLicenciamento

Joint Venture

Subsidiária de Controle Integral

Construtos

ControleComprometimento

de RecursosDisseminação

de Riscos

Médio

Alto

Baixo

Médio

Alto

Baixo

Modo de Entrada

Médio

Alto

Baixo

Médio

Alto

Baixo

Médio

Baixo

Alto

Médio

Baixo

AltoLicenciamento

Joint Venture

Subsidiária de Controle Integral

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30

Variáveis Estratégicas

1. Extensão das Diferenças Nacionais

2. Extensão das Economias deEscala

3. Concentração Global

Variáveis Ambientais

1. Risco País

2. Familiariadade com o Local

3. Condições da Demanda

4. Volatilidade da Competição

Variáveis de Transação

1. Valor do Know-how

Específico da Firma

2. Natureza Tácita do

Know-how

DECISÃO DE MODO

DE ENTRADA

Variáveis Estratégicas

1. Extensão das Diferenças Nacionais

2. Extensão das Economias deEscala

3. Concentração Global

Variáveis Ambientais

1. Risco País

2. Familiariadade com o Local

3. Condições da Demanda

4. Volatilidade da Competição

Variáveis de Transação

1. Valor do Know-how

Específico da Firma

2. Natureza Tácita do

Know-how

DECISÃO DE MODO

DE ENTRADA

Figura II.4 – Características dos Diferentes Modos de Entrada (Fonte: Hill, Hwang e Kim, 1990, p. 120)

Baseados nesse modelo, os autores formulam nove proposições relacionando os

três fatores influenciadores do modo de entrada (controle, comprometimento de

recursos e disseminação de riscos) com as variáveis estratégicas, ambientais e de

transação. As proposições 1,2 e 3 estão relacionadas às variáveis estratégicas, as

proposições 4,5,6 e 7 às variáveis ambientais, e as proposições 8 e 9 às variáveis

de transação.

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31

P1. Empresas que seguem uma estratégia multi-doméstica3 darão preferência a

modos de entrada com baixo controle.

P2. Empresas que seguem uma estratégia global4, darão preferência a modos

de entrada com alto controle.

P3. Quando a necessidade por coordenação estratégica global for alta (indústria

global oligopolizada), as empresas multinacionais darão preferência a

modos de entrada com alto controle.

P4. Quando o risco país for alto, as empresas multinacionais darão preferência a

modos de entrada que envolvam um grau de comprometimento de recursos

relativamente baixo

P5. Quando a distância (psíquica) percebida for grande, as empresas

multinacionais darão preferência a modos de entrada que envolvam um grau

de comprometimento de recursos relativamente baixo.

3 De acordo com os autores, uma estratégia multi-doméstica é baseada na delegação de responsabilidades operacionais e estratégicas chave às subsidiárias da empresa multinacional. Isso se dá devido à empresa acreditar que os mercados de diferentes países diferem muito no que diz respeito às preferências dos consumidores, condições de competição e operação, assim como às estruturas políticas, legais e sociais. (Hill, Hwang e Kim, 1990) 4 Por sua vez, “uma estratégia global envolve a configuração da cadeia de valor da empresa de tal forma que o valor adicionado a cada passo seja maximizado. Assim, uma subsidiária nacional pode se especializar em fabricar uma única parte de uma linha de produto, ou certos componentes de um produto final, trocando peças e produtos com outras subsidiárias do sistema global da empresa multinacional” (Hill, Hwang e Kim, 1990, p. 121)

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P6. Quando a demanda for incerta (como em situações de mercados

embrionários ou em declínio), as empresas multinacionais darão preferência

a modos de entrada com baixo grau de comprometimento de recursos.

P7. Quanto maior for a volatilidade da competição no mercado hospedeiro, mais

as empresas multinacionais darão preferência a modos de entrada que

requeiram baixos graus de comprometimento de recursos.

P8. Quanto maior for o potencial de renda que possa ser gerado pelo know-how

proprietário de uma empresa multinacional, maior será a probabilidade de

que esta empresa dê preferência a um modo de entrada que minimize a

disseminação de risco.

P9. Quanto maior for o componente tácito do know-how específico da empresa,

maior será a probabilidade de que a empresa multinacional dê preferência a

modos de entrada com alto controle.

Os autores lembram que as proposições por eles sugeridas são formuladas sob a

premissa de ceteris paribus, e dado que na realidade tal premissa não se aplica, é

importante que se determine a interação entre as diferentes variáveis, analisando o

impacto que uma pode gerar sobre a outra. Portanto, “a decisão ótima para uma

empresa multinacional consiste em escolher o modo de entrada que maximize o

valor a longo prazo da empresa, após terem sido levados em consideração todos

os fatores relevantes”. (p. 125)

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33

2.2.4. Outros Fatores Influenciadores da Escolha do Modo de Entrada

Root (1994) afirmou que a escolha feita por uma empresa com relação à adoção

de um modo de entrada específico em um mercado internacional, seria o resultado

de vários fatores conflitantes. Estes fatores, como ilustra a figura II.4, podem ser

tanto internos quanto externos à empresa. Os fatores externos são aqueles

praticamente independentes das decisões dos gestores da empresa, podendo ser

desta forma considerados parâmetros para a escolha do modo de entrada. Os

fatores internos são aqueles intrínsecos à natureza da própria empresa

internacional e que sofrem uma influência mais direta da administração da mesma.

Figura II.5 – Fatores na Decisão do Modo de Entrada

(Fonte: Root, 1994, p. 29)

Fatores de Mercado do País Alvo

Fatores do Ambiente de Negócios Mercado do País Alvo

Decisão do Modo

de Entrada em um Mercado Internacional

Fatores do País de Origem

Fatores de Produção do País Alvo

Fatores de Produto da Companhia

Fatores de Recursos/ Comprometimento da Companhia

Tipo X ou Horizontais

Fatores Externos

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34

Fatores Externos

Como a figura II.4 ilustra, os fatores externos estão relacionados a quatro principais

dimensões:

Fatores de Mercado do País Alvo – estes fatores dizem respeito principalmente ao

tamanho do mercado para os produtos ou serviços a serem comercializados pela

empresa, à estrutura competitiva do mercado alvo (atomizada, oligopolista etc.), e

à qualidade e disponibilidade da infraestrutura de marketing presente no país alvo.

Fatores de Produção do País Alvo – estão relacionados à qualidade,

disponibilidade e preços dos recursos necessários à produção no país alvo como:

matéria prima, mão de obra, energia, infraestrutura de transportes, comunicações e

etc.

Fatores do Ambiente de Negócios do País Alvo – os fatores do ambiente são

relacionados ao caráter político, econômico e sócio-cultural do país alvo. Estes

fatores podem incluir:

• Regras e políticas governamentais para o comércio exterior – políticas

restritivas de importação como altas tarifas, cotas, ou a imposição de que

empresas estrangeiras devam fazê-lo através de contratos específicos.

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35

• Distância geográfica – A distância entre o país de origem e o país alvo pode ser

um fator determinante do modo de entrada devido aos custos de transporte

envolvidos.

• Fatores econômicos internos e externos – O tamanho da economia do país alvo

(PIB), as taxas de crescimento, as relações econômicas externas e etc, podem

ser fatores cruciais na análise do modo de entrada, pois estes são fortes

indicadores dos riscos e retornos nos quais a empresa internacional estará

incorrendo.

• Distância Cultural – esse fator tem um papel importante na determinação do

modo de entrada, pois quanto mais distantes são percebidos os valores

culturais, a língua, a estrutura social e os modos de vida do país alvo, daqueles

do país de origem, mais difícil se torna a tarefa de atuar no mercado alvo.

Fatores do País de Origem – o mercado, a produção e o ambiente de negócios

domésticos também exercem forte influência sobre a escolha do modo de entrada

pela empresa. Fatores como o tamanho do mercado de origem, a estrutura

competitiva doméstica, os custos de produção e as políticas governamentais locais

com relação à internacionalização das empresas nacionais são, entre outros,

fatores determinantes do tipo de posição que empresa deverá tomar em seu

processo de expansão.

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36

Fatores Internos

Os fatores internos são aqueles inerentes à empresa e que sofrem influência direta

da administração da mesma. Eles podem ser resumidos em duas categorias

principais: fatores de produto e fatores de comprometimento de recursos da

empresa. Os fatores de produto incluem o grau de diferenciação, o nível de

serviços necessário antes e depois da compra, o grau de intensidade tecnológica

dos produtos e de adaptação dos mesmos para o mercado internacional, entre

outros. É importante lembrar que, para a empresa de serviços, de forma geral, não

é possível produzir os serviços em um país e exportá-los para outro, restringindo

tais empresas a modos de entrada nos quais a produção se dá localmente.

Os fatores de comprometimento de recursos da empresa se referem aos recursos

de que a empresa dispõe. Quanto mais abundantes forem seus recursos de

capital, administrativos, de tecnologia, expertise de produção e de marketing, maior

será o seu leque de opções no que diz respeito aos modos de entrada. A

abundância de recursos pode ser também responsável por maior

comprometimento da empresa com os negócios internacionais, o que se traduz na

importância dada às atividades realizadas em mercados internacionais dentro da

estratégia corporativa.

Em suma, os fatores, externos e internos aqui descritos servem como

determinantes do modo de entrada escolhido pela empresa no momento em que

esta resolve explorar um mercado estrangeiro. No entanto, mudanças no ambiente

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37

externo podem implicar mudanças no ambiente interno, ou seja, uma reação da

administração que altere o seu modo de atuação no mercado alvo, para gerar

melhor adaptação às novas circunstâncias.

Root (1994) afirmou que com o tempo, a empresa vai modificando as suas

decisões quanto ao modo de entrada. Conforme a administração vai aprendendo

com as operações, ela vai se tornando cada vez mais confiante quanto a sua

capacidade de administrar o negócio, buscando formas de atuação que podem

incluir crescente participação societária nas operações internacionais. Sendo

assim, a empresa ganha maior controle e aceita incorrer em maiores riscos.

2.3. CLASSIFICAÇÃO DOS MODOS DE ENTRADA EM MERCADOS INTERNACIONAIS

Como definido por Root (1994), a expressão modos de entrada em mercados

internacionais refere-se aos arranjos institucionais que permitem que uma empresa

entre com seus produtos, tecnologia, recursos humanos, ou quaisquer outros

recursos no mercado de um país estrangeiro.

Ao se buscar classificações para os diferentes modos de entrada, podem-se adotar

duas perspectivas diferentes. A primeira seria a perspectiva do economista, para

o qual existem somente dois modos de entrada em um mercado estrangeiro, a

exportação de produtos fabricados no mercado doméstico para o mercado

estrangeiro, ou através da transferência de recursos tecnológicos e humanos para

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o país estrangeiro, para que lá sejam produzidos os produtos a serem

comercializados pela empresa.

A segunda perspectiva seria a gerencial ou operacional, a qual consiste de um

desdobramento dos dois modos anteriores. Root (1994) classificou estes modos

de entrada da seguinte maneira:

Modos de Entrada Baseados em Exportação – Estes modos se caracterizam pelo

fato de a empresa que os adota ter seu produto final ou intermediário produzido

fora do mercado alvo e, subseqüentemente, exportado para ele. Existem três

principais modos de entrada baseados em exportação: o indireto, o direto através

de agente ou distribuidor, e o direto através de agência ou subsidiária. O modo

indireto de exportação utiliza um agente intermediário no país de origem da

empresa, que é quem faz a exportação propriamente dita. Por outro lado, a

exportação direta não utiliza este intermediário doméstico, mas pode fazer uso de

um intermediário no mercado alvo. Os modos de exportação direta se diferenciam

porque, quando a exportação direta é feita através de um agente ou distribuidor,

este é independente da empresa, enquanto no caso da agência ou subsidiária,

estes canais de comercialização são próprios da empresa. Em ambos os casos de

exportação direta, o canal de comercialização está presente no mercado alvo.

Modos de Entrada Contratuais – podem ser definidos como associações ou

alianças que não envolvem participação societária entre uma empresa

internacional e uma entidade ou empresa no mercado alvo. Neste modo de

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entrada, a empresa estrangeira transfere recursos tecnológicos ou humanos para a

empresa local. Estes modos se diferenciam das exportações, pois normalmente se

restringem à transferência de competências e conhecimento; no entanto, esta

transferência pode gerar oportunidades para a exportação. Estes modos se

diferenciam dos modos baseados em investimento, pois não há investimento em

participação societária por parte da empresa internacional. Tais modos podem

tomar a forma de contratos de licenciamento, franchising, acordos técnicos,

contratos de serviço, contratos de gerenciamento, contratos de construção/turnkey,

contratos de manufatura e acordos de co-produção.

Modos de Entrada Baseados em Investimento – Estes modos são baseados em

investimentos por parte da empresa internacional em participação societária em

empresas atuantes no mercado alvo. Ou seja, a empresa internacional compra

toda ou parte das unidades de produção necessárias para suas operações no país

onde se localiza o mercado alvo. Uma empresa pode adotar este modo de entrada

sozinha – sole-venture – ou pode estabelecer uma aliança com outra empresa –

joint-venture. Em ambos os casos, a empresa poderá optar por começar suas

operações do zero, criando um novo estabelecimento, ou comprando as

instalações de uma empresa já existente naquele mercado através aquisição.

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40

2.4. MODOS DE ENTRADA BASEADOS EM ALIANÇAS ESTRATÉGICAS

Nesta seção são abordados em maior profundidade os modos de entrada

baseados em alianças estratégicas, ou seja, aqueles modos que envolvem a

participação de mais de uma empresa no processo de entrada em um mercado

estrangeiro. Existem diversos tipos de alianças estratégicas, que podem variar em

seu formato, função, escopo, cobertura de mercado etc. Neste trabalho, é dada

ênfase especial à alianças estratégicas do tipo contrato de licenciamento e joint-

ventures, pois estas são as modalidades mais relevantes para o estudo e análise

do caso em questão.

2.4.1. Conceito Geral de Aliança Estratégica

O conceito de aliança estratégica é definido de diversas maneiras na literatura,

assim como vários termos são utilizados para designar esta forma de se fazer

negócios. No entanto, há convergência entre algumas das características que

definem a natureza de uma aliança estratégica.

Primeiramente, uma aliança estratégica consiste de um acordo, arranjo,

associação, coalizão ou coligação que une aspectos específicos de duas ou mais

empresas, as quais são denominadas empresas-mãe ou parceiras. (Borys e

Jemison, 1989; Murray e Mahon, 1993)

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41

Segundo, essa associação estaria baseada em um acordo comercial, voltado para

a criação ou manutenção de vantagem competitiva (Devlin e Bleackley,1988;

Rocha e Arkader, 1996,) através dos benefícios gerados a partir de intercâmbios

de tecnologia, produtos, competências, capital e quaisquer outros recursos que

possam melhorar a posição estratégica das empresas participantes da aliança.

(Rocha e Arkader, 1996; Murray e Mahon, 1993; Yoshino e Rangan, 1996)

Outros atributos das alianças estratégicas encontrados na literatura são:

• As empresas-mãe permanecem independentes após a criação da aliança.

(Yoshino e Rangan, 1996)

• Existe um compartilhamento das responsabilidades assim como dos benefícios

advindos da aliança. (Yoshino e Rangan, 1996)

• Os parceiros devem contribuir de forma contínua para a aliança. (Yoshino e

Rangan, 1996)

• Os benefícios advindos da aliança, apesar de mútuos, não são

necessariamente iguais. Espera-se que estes benefícios sejam proporcionais

às contribuições feitas por cada parceiro. (Murray e Mahon, 1993)

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2.4.2. Tipos de Alianças Estratégicas

Dada esta definição básica de aliança estratégica, apresentam-se as diversas

classificações encontradas na literatura. Tais classificações provêm das diferenças

encontradas no que diz respeito a formato, função na cadeia de valor, motivação

para a sua formação, grau de interação organizacional, amplitude geográfica de

sua atuação etc. (Pinho, 1998)

2.4.3. O Formato de Alianças Estratégicas

No que diz respeito ao formato de uma aliança estratégica, os principais fatores

determinantes são o controle acionário e o número de parceiros envolvidos.

Baseados nesses fatores, elas podem ser classificadas em quatro grandes

categorias: acordos contratuais, joint-ventures, acordos de licenciamento e

consórcios.

• Acordos Contratuais referem-se à forma de colaboração na qual não é criada

nenhuma nova entidade legal. (Garcia-Canal, 1996; Terpstra e Simonim, 1991)

Nesta modalidade, o relacionamento entre os parceiros segue a orientação de

um contrato, especificando direitos e obrigações de cada um. (Garcia-Canal,

1996) Tais contratos tendem a ser específicos e restritos a atividades isoladas.

(Terpstra e Simonim, 1991)

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• Uma Joint-Venture é caracterizada por duas ou mais empresas parceiras que

se unem para formar uma nova entidade legal, independente dos seus

criadores, mas controlada por eles, tendo como base a composição acionária

da nova entidade. (Beamish e Inkpen, 1995; Borys e Jemison, 1989; Garcia-

Canal, 1996; Hagedorn, 1993; Harrigan, 1988; Johnson et al, 1996; Kanter,

1994; Kukalis e Jungeman, 1995; Lei e Slocum, 1991; Mowery et al, 1996;

Pekar e Aliio, 1994; Terpstra e Simonin, 1991)

• Acordos de Licenciamento são aqueles que cedem o direito ao uso de um

dado ativo por tempo limitado, oferecendo assim acesso rápido a novos

produtos, tecnologias ou inovações, (Borys e Jemison, 1989) em troca de

outras cessões, tais como a entrada em um novo mercado ou região. (Lei e

Slocum, 1991)

• Consórcios são alianças de três ou mais empresas, formadas para agir ao

nível da indústria como um todo e empreender projetos que estão além dos

recursos de qualquer de seus membros. (Kanter, 1990; Lei e Slocum, 1991;

Terpstra e Simonin, 1991) Tais alianças têm forte significância estratégica,

esperando-se que produzam benefícios específicos para empresas específicas,

ao invés de benefícios mais abstratos e generalizados. Assim sendo, a

participação na governança de tais alianças é considerada um fator bastante

relevante. (Kanter, 1990) Estes acordos são muito comuns em indústrias em

que o desenvolvimento de novas tecnologias é muito intenso e caro. (Kanter,

1990; Terpstra e Simonin, 1991)

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44

2.4.4. A Função de Alianças Estratégicas

Um segundo critério de classificação de alianças estratégicas refere-se à função

para a qual ela é formada, tendo em mente as três atividades básicas da cadeia de

valor de Porter (1985): P&D, produção e marketing. Isso significa que a aliança

será caracterizada pelo papel que cada uma das empresas parceiras desempenha

dentro da cadeia de valor.

Dentro desta categorização, existem basicamente dois tipos de alianças

estratégicas: “coalizões de tipo X e coalizões de tipo Y”. As de tipo X são alianças

formadas por empresas que participam com competências e recursos pertencentes

a diferentes estágios da cadeia de valor (Porter e Fuller, 1986). São também

chamadas de parcerias verticais devido ao caráter de integração vertical entre as

cadeias de valor das empresas envolvidas. (Pinho, 1998) Este tipo de aliança

pode ser identificado em acordos de licenciamento de tecnologia, licenciamentos

cruzados, distribuição de produtos feita pelo concorrente em determinadas áreas

geográficas, ou contratos de distribuição cruzada. (Terpstra e Simonim 1991)

Analogamente, as coalizões de tipo Y são estabelecidas por empresas que

desejam criar vantagem competitiva através do compartilhamento de competências

e recursos que fazem parte do mesmo estágio da cadeia de valor (Porter e Fuller,

1986), sendo então chamadas de parcerias horizontais, devido ao caráter de

integração horizontal das empresas participantes. (Pinho, 1998). Exemplos de tais

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45

alianças podem ser identificadas em parcerias nas atividades de P&D, produção e

desenvolvimento de novos produtos. (Terpstra e Simonim 1991)

A figura II.5 ilustra estes dois tipos de aliança definidos a partir dos principais

estágios da cadeia de valor.

Figura II.6 – Alianças de tipo X e Y (Fonte: Pinho, 1998, p. 37)

Alianças estabelecidas entre as empresas A e B podem ser consideradas do tipo X

se elas seguirem o sentido 2, ou seja, uma diagonal ligando um estágio da cadeia

de valor de uma das empresas a um diferente estágio da cadeia de valor da outra

empresa. As alianças do tipo Y são aquelas que seguem o sentido 1, onde a linha

liga as duas empresas em um mesmo estágio da cadeia de valor.

2.4.5. O Escopo de Alianças Estratégicas

Entende-se por escopo de uma aliança estratégica as áreas de atuação que ela

abrange. O escopo destas alianças pode variar de maneira substancial,

A P&D Produção Marketing

1 2

A P&D Produção Marketing

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46

abrangendo ações conjuntas nas áreas de tecnologia, sistemas de informação,

logística, compras, marketing e vendas. (Rocha e Arkader, 1996)

2.4.6. A Cobertura de Mercado de Alianças Estratégicas

O termo cobertura de mercado refere-se à área geográfica a que a parceria almeja

ter acesso quando da formação da aliança. Desta forma, Gugler (1992) classificou

uma aliança como:

• Nacional: a área de atuação se restringe a um país específico.

• Regional: a área de atuação prevista é uma região geográfica bem delimitada.

• Global: não existem fronteiras bem delimitadas para a atuação da aliança,

podendo esta agir em qualquer área geográfica onde as empresas parceiras já

atuarem ou até mesmo em novas áreas de atuação.

2.4.7. Síntese dos Critérios de Classificação de Alianças Estratégicas

A figura II.6 faz um resumo da tipologia das alianças estratégicas anteriormente

citadas.

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47

Figura II.7 – Resumo da Tipologia de Alianças Estratégicas

(Fonte: adaptado de Pinho, 1998, p. 42)

2.4.8. Os fatores geradores de motivação para a Formação de Alianças Estratégicas

São vários os fatores, citados na literatura, passíveis de motivar a criação de uma

aliança estratégica. O trabalho de Murray e Mahon (1993) é de natureza bastante

ampla, e parece abordar todos os principais fatores presentes na literatura. A

figura II.7 ilustra os principais motivos pelos quais empresas são levadas a

cooperar umas com as outras.

FORMATO

FUNÇÃO

ESCOPO

Acordos de Cooperação Joint Ventures Acordos de Licenciamento Consórcios

Tipo Y ou Horizontais Tipo X ou Horizontais

Tecnologia Sistemas de Informação Logística Fornecimento Marketing Suporte Financeiro

Nacional Regional Global

COBERTURA DE MERCADO

FORMATO

FUNÇÃO

ESCOPO

Acordos de Cooperação Joint Ventures Acordos de Licenciamento Consórcios

Tipo Y ou Horizontais Tipo X ou Horizontais

Tecnologia Sistemas de Informação Logística Fornecimento Marketing Suporte Financeiro

Nacional Regional Global

COBERTURA DE MERCADO

FORMATO

FUNÇÃO

ESCOPO

Acordos de Cooperação Joint Ventures Acordos de Licenciamento Consórcios

Tipo Y ou Horizontais Tipo X ou

Tecnologia Sistemas de Informação Logística Fornecimento Marketing Suporte Financeiro

Nacional Regional Global

COBERTURA DE MERCADO

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48

Figura II.8 – Motivos para a Formação de Alianças Estratégicas (Fonte: Murray e Mahon, 1993, p. 104)

2.4.9. Processo de Criação e Operação de Alianças Estratégicas

Após a discussão sobre a estrutura e classificação de alianças estratégicas, é

importante abordar o processo pelo qual estas alianças são criadas e

administradas ao longo do tempo. São identificadas na literatura cinco principais

etapas do processo de formação de alianças estratégicas. (Pinho, 1998) São elas:

DERIVADOS DO AMBIENTE

GERADOS PELA ORGANIZAÇÃO

VANTAGEM COMPETITIVA

SOBREVIVÊNCIA

ALIANÇA

ESTRATÉGICA

• Obter tecnologia ou competência de produção;

• Obter acesso a mercados;

• Redução de Risco Financeiro;

• Reduzir Riscos Políticos;

• Atingir Paridade Competitiva

• Turbulência ou Incerteza;

• Mudanças descontínuas no ambiente;

• Mudanças tecnológicas rápidas;

• Mudanças de tecnologia de numerosas fontes;

• Risco financeiro significativo

• Mudanças rápidas nos mercados

• Crescente complexidade política;

• Tamanho e complexidade do projeto são altas;

• Competitividade crescente;

• Proteção ou assistência governamental

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49

1. Identificação das opções estratégicas – Neste estágio, a empresa estaria

preocupada em avaliar qual a melhor opção estratégica de ação, podendo

escolher entre aquisição, fusão, aliança estratégica, agir sozinha ou desistir do

negócio. (Devlin e Bleackley, 1988)

2. Procura e seleção do parceiro – Uma vez tomada a decisão de que o melhor

curso de ação seria o estabelecimento de uma aliança estratégica, passar-se-ia

a este estágio, que, por sua vez, pode ser dividido em quatro partes:

identificação dos atributos necessários ao parceiro, identificação dos parceiros

potenciais, avaliação dos parceiros e negociação e seleção do parceiro. (Devlin

e Bleakley, 1988; Lyons, 1991)

3. Implementação da Aliança – Neste estágio, seriam determinados os papéis de

cada um dos parceiros participantes, assim como uma estruturação das

operações e cursos de ação a serem seguidos pela aliança. (Devlin e Bleakley,

1988; Lyons 1991)

4. Operação/Manutenção – Nesta etapa, os dirigentes das empresas-mãe

buscariam fazer a aliança funcionar, seguindo três principais passos:

elaboração dos procedimentos operacionais, alocação de custos e

responsabilidades e monitoramento do empreendimento. No primeiro passo, as

metas e objetivos traçados pela aliança seriam transformados em

procedimentos operacionais. No segundo, ocorreria a alocação de

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50

responsabilidades, custos e pessoal para que os procedimentos pudessem ser

seguidos de maneira eficaz. Finalmente, no terceiro passo, haveria um

acompanhamento crítico das atividades desempenhadas, com o intuito de

assegurar a correta execução dos procedimentos e possível revisão dos

mesmos. (Kanter, 1994)

5. Reavaliação estratégica – Esta etapa se faria necessária porque, muitas vezes,

somente depois que a aliança passa-se a ser operada na prática é que se

tornariam visíveis falhas nos termos estabelecidos pelos parceiros da operação.

Alguns fatores foram identificados por Doz (1996) para a necessidade de tal

reavaliação:

• Os parceiros não se dão conta da real complexidade das tarefas a serem

desempenhadas por cada um, quando da criação da aliança.

• Na alocação de tarefas, os parceiros determinam aquelas a serem

desempenhadas pelo outro de acordo com seu próprio contexto, o que

causa estranheza e desconforto ao outro parceiro.

• Os parceiros não são capazes de reconhecer as diferenças que existem

entre eles devido à branda e cuidadosa interface inicial entre os mesmos.

• Um parceiro pode entrar na aliança com um conjunto de expectativas e

objetivos mais explícito que o outro.

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51

Por motivos como estes, Stiles (1994) defendeu que, uma vez formada uma

aliança, esta não deveria ser simplesmente fundada em sua lógica inicial e deixada

no piloto automático.

2.5. CONTRATOS DE LICENCIAMENTO COMO MODO DE ENTRADA NO MERCADO INTERNACIONAL

Acordos de licenciamento, como visto, são aqueles que cedem o direito ao uso

de um dado ativo por tempo limitado, oferecendo assim acesso rápido a novos

produtos, tecnologias ou inovações, (Borys e Jemison, 1989; Lei e Slocum, 1991)

em troca de outras cessões, tais como a entrada em um novo mercado ou região.

(Lei e Slocum, 1991)

De acordo com Lei e Slocum (1991), acordos de licenciamento tem se tornado

cada vez mais importantes, tanto na indústria manufatureira, quanto na indústria de

serviços. No entanto, as estratégias de licenciamento nessas duas indústrias

diferem consideravelmente. Na indústria manufatureira, o licenciamento cria, com

freqüência, um novo competidor, dado que esse tipo de contrato implica

necessariamente na venda de tecnologia. No caso da indústria de serviços, os

itens vendidos são, normalmente, sistemas de distribuição não protegidos por

patentes ou outros direitos proprietários.

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52

Dadas as diferenças estratégicas entre contratos de licenciamento para empresas

manufatureiras e de serviços, os fatores motivadores para a criação de tais

contratos de licenciamento também diferem substancialmente entre elas.

2.5.1. Benefícios de Acordos de Licenciamento para Empresas Manufatureiras

Na maioria das indústrias de manufatura, contratos de licenciamento significam a

venda de tecnologia em troca da entrada no mercado de uma nova região ou país.

Portanto, de acordo com Lei e Slocum (1991), alguns dos principais fatores

considerados por empresas pertencentes a estas indústrias, quando elas resolvem

licenciar suas tecnologias, seriam:

• Falta de habilidade para desenvolver totalmente uma certa tecnologia, o que

faria com que muitas empresas licenciassem suas tecnologias com o intuito de

expandir seu potencial além do que a empresa sozinha seria capaz de

promover.

• Desejo de inibir a competição através do estabelecimento de padrões para a

indústria no início do ciclo de vida de um novo produto, o que se daria porque,

muitas vezes, a empresa licenciada teria a capacidade de disseminar a

tecnologia mais rapidamente do que a empresa criadora da tecnologia sozinha.

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53

• Necessidade de manter a indústria disciplinada e com altos níveis de inovação

em ambientes sujeitos a mudanças rápidas e impulsionados por tecnologia, o

que tornaria comum o estabelecimento de contratos de licenciamento cruzado

em indústrias onde os custos de P&D, assim como outros custos fixos fossem

exorbitantes, mas onde uma competição agressiva fosse necessária para

manter a disciplina e os níveis de inovação.

• Possibilidade de vendas lucrativas e contratos de serviços que seriam: (I)

associados a processos de produção proprietários; e/ou (II) desenvolvidos para

se adaptarem a requisitos do governo com relação à transferência de

tecnologia.

2.5.2. Benefícios de Acordos de Licenciamento para Empresas de Serviços

Empresas de serviços têm utilizado contratos de licenciamento por bastante tempo

e, de acordo com Lei e Slocum (1991), os principais atrativos destes acordos

seriam:

• O rápido estabelecimento de uma presença de mercado com baixo nível de

investimento direto.

• O emprego de abordagens de marketing, razoavelmente padronizadas, para a

criação e controle de uma imagem global.

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54

2.5.3. Custos Gerados por Acordos de Licenciamento

Em contraposição aos atrativos encontrados para o estabelecimento de acordos de

licenciamento, Lei e Slocum (1991) identificaram também alguns custos

relacionados a este tipo de acordo. Ao licenciarem sua tecnologia, empresas de

manufatura incorreriam no risco de estarem criando novos competidores e, com o

tempo, perderem completamente o seu diferencial competitivo na indústria. Tal

perda em competitividade poderia vir a gerar uma relação de dependência entre a

empresa e suas licenciadas, ou até mesmo levar a empresa a sair da indústria.

Neste caso, os custos de licenciamento poderiam ser desproporcionais aos seus

benefícios.

Na indústria de serviços e de bens de consumo não duráveis, em que o nível de

investimento inicial, assim como o de mão de obra especializada, é baixo, e onde

os itens comercializados não são protegidos por patentes e outros direitos

proprietários, os benefícios gerados pelo licenciamento parecem justificar os riscos

incorridos. Tais riscos incluiriam o mau uso das marcas licenciadas e a falta de um

controle de qualidade direto sobre as operações das empresas licenciadas.

Todavia, em serviços, onde o nível de especialização e treinamento requeridos são

muito altos, como em contabilidade, consultoria, seguros etc, a falta de um controle

mais direto poderia fazer com que acordos de licenciamento não se constituíssem

na opção mais apropriada. (Lei e Slocum, 1991)

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55

2.5.4. Fatores Críticos de Sucesso para Acordos de Licenciamento

Após uma análise dos custos e benefícios gerados por acordos de licenciamento,

Lei e Slocum (2001) enumeraram alguns dos fatores críticos de sucesso para as

alianças estratégicas. Para empresas manufatureiras os dois principais fatores

críticos de sucesso seriam:

• Ao decidir para que empresas licenciar, buscar escolher empresas que não

ameaçassem se tornar competidores em um espaço visível de tempo.

• Dado que acordos de licenciamento tendem sempre a beneficiar o licenciado,

seria importante que a empresa criadora mantivesse um controle rigoroso sobre

a tecnologia, através de gerenciamento constante, monitoramento das

atividades etc.

Enquanto que, para empresas de serviços os fatores críticos incluiriam:

• Trabalhar junto ao licenciado para construir a imagem da marca do produto

naquela região.

• Assegurar a proteção de suas marcas nas suas áreas de atuação.

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• Definir as práticas de remuneração, estabelecer padrões de desempenho e

controle de qualidade logo no início das operações.

2.5.5. Recursos Humanos e Acordos de Licenciamento

Um aspecto muito importante para o estabelecimento de acordos de licenciamento

diz respeito à escolha e treinamento dos licenciados por parte da empresa criadora

da tecnologia. Lei e Slocum (1991) discutiriam a importância de selecionar

empresas e franqueados que compartilhassem os mesmos valores, estilos de

trabalho e filosofias da empresa criadora. Da mesma forma, seria importante que,

uma vez escolhidos, os gerentes e pessoal locais sejam socializados com os

valores, métodos e missão da empresa franqueadora.

2.6. JOINT-VENTURES COMO MODO DE ENTRADA NO MERCADO INTERNACIONAL

Uma joint-venture, como explicitado, se caracteriza pela união de duas ou mais

empresas em uma parceria que gera uma nova entidade. Esta nova entidade é

independente das empresas que a originaram, as chamadas empresas mãe, mas é

controlada por elas. Ou seja, os objetivos estratégicos desta nova entidade são

determinados pelas empresas mãe. Estas empresas são também responsáveis

pelos custos e têm direito aos benefícios gerados pela nova entidade. Finalmente,

o grau de influência exercido por cada uma das empresas mãe sobre a joint-

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57

venture é determinado pelas participações acionárias das mesmas no

empreendimento. (Beamish e Inkpen, 1995; Borys e Jemison, 1989; Garcia-Canal,

1996; Hagedorn, 1993; Harrigan, 1988; Johnson et al, 1996; Kanter, 1994; Kukalis

e Jungeman, 1995; Lei e Slocum, 1991; Mowery et al, 1996; Pekar e Aliio, 1994;

Terpstra e Simonin, 1991)

Joint-ventures existiram desde a antiguidade, no entanto, o interesse por esse tipo

de empreendimento estratégico teve um crescimento significativo desde a década

de 70. Nos Estado Unidos, o número de joint-ventures estabelecidas cresceu

muito, assim como a proporção de atividade econômica que elas representam.

(Harrigan, 1988) Tal fenômeno pode ser atribuído ao fato de que o ambiente de

negócios tem se tornado cada vez mais globalizado e a competição cada vez mais

acirrada, fazendo com que empresas busquem aliados que as tornem mais

capazes de competir nestas circunstâncias.

Lei e Slocum (1991) identificaram quatro principais fatores motivadores para a

formação de joint-ventures em geral:

• Dividir e diminuir os custos de projetos de alto risco e intensivos em tecnologia.

• Ganhar economias de escala e escopo em atividades de adição de valor que só

se justificam no âmbito global.

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58

• Buscar no parceiro o acesso à tecnologia, ao aprendizado acumulado, aos

processos ou a uma posição protegida de mercado.

• Moldar as bases para a competição futura na indústria em questão.

Apesar de todas as joint-ventures serem motivadas por alguma combinação destes

quatro fatores, a forma de cada joint-venture dependerá da força relativa de cada

um dos parceiros envolvidos e da missão da mesma. Portanto, dentre as joint-

ventures estabelecidas são identificados dois tipos principais, as joint-ventures de

especialização e as de agregação compartilhada de valor. (Lei & Slocum, 1991)

Joint-ventures de especialização são formadas por parceiros que participam de

atividades diferentes de agregação de valor, ou seja, são empresas com diferentes

especializações, mas que se complementam na tarefa de agregar valor ao produto

final. (Lei & Slocum, 1991) Este tipo de joint-venture pode ser caracterizada como

uma aliança estratégica do tipo X como definido na seção 2.2. Um exemplo de tal

joint-venture pode ser observado na união de uma empresa especializada na

produção de um determinado produto com outra, especializada na distribuição ou

estabelecida em um mercado específico. Neste caso, a joint-venture poderia ser

formada para que uma empresa produzisse enquanto a outra proporcionasse o

acesso e a distribuição do produto no mercado.

Joint-ventures de agregação compartilhada de valor são formadas por parceiros

que atuam na mesma atividade de agregação de valor. Estas empresas têm

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59

portanto, competências fortes e relacionadas na mesma área, e unem esforços

para ir além de onde cada uma, individualmente, seria capaz de ir. Desta forma,

estas joint-ventures poderiam ser classificadas como alianças estratégicas do tipo

Y. Esse tipo de aliança é muito comum em indústrias como a farmacêutica, onde

os custos de P&D são muito elevados.

2.6.1. Os Benefícios Gerados pelas Joint-Ventures

Os principais benefícios gerados para empresas que se envolvem em joint-

ventures são: a oportunidade de dividir os riscos, de aprender com as

competências e processos dos parceiros, e ganhar acesso a novos canais de

distribuição (Lei & Slocum, 1991) e mercados.

No caso de joint-ventures de especialização, um dos principais benefícios gerados

é uma quasi-integração vertical sem a necessidade de grandes investimentos em

custos fixos. Na maioria dos casos, alianças deste tipo são estabelecidas para

compensar uma fraqueza de um dos parceiros com um ponto forte do outro e vice-

versa.

No caso de joint-ventures de agregação compartilhada de valor, os principais

benefícios identificados são a criação de economias de escala e uma aceleração

na curva de aprendizagem geradas pelas competências com as quais cada um dos

parceiros poderá contribuir.

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60

2.6.2. Os Riscos e Custos Incorridos pelas Joint-Ventures

O maior risco incorrido pela empresa que se envolve em uma joint-venture é o de

perder competências e outras fontes de vantagem competitiva para parceiros que

venham a se tornar um competidor mais poderoso. (Lei & Slocum, 1991)

Outros custos estão relacionados à perda de confiança entre os parceiros, à perda

de flexibilidade devido a uma integração mal feita das culturas corporativas das

empresas envolvidas, à dificuldade em transferir o aprendizado organizacional da

joint-venture para a empresa mãe, e à assimilação da atividade agregadora de

valor da joint-venture àquela da empresa mãe.

No caso específico da joint-venture de especialização, é freqüentemente o caso de

uma empresa ficar relegada a uma posição permanentemente enfraquecida. Isso

pode acontecer quando uma empresa entra na aliança com o know-how de

produção, enquanto a outra entra com o know-how de distribuição. Se o processo

de compartilhamento de tecnologia não for efetivo, a segunda empresa pode

passar a ser uma simples distribuidora dos produtos da primeira.

Já com relação a joint-ventures de agregação compartilhada de valor, o risco mais

eminente é o de que um dos parceiros perca muito rapidamente as suas fontes de

vantagem competitiva para o parceiro. Outro custo identificado é o de mudança de

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61

parceiro. Neste caso, os custos envolvidos na seleção de um novo parceiro são

muito mais elevados do que no caso de joint-ventures de especialização.

2.6.3. Fatores Críticos de Sucesso

Apesar de reconhecerem que cada joint-venture tem suas particularidades, Lei &

Slocum (1991) identificam quatro fatores críticos de sucesso que se aplicam a joint-

ventures de uma maneira geral.

• Evitar o estabelecimento apressado de uma joint-venture – os autores citam

que algumas das joint-ventures mais bem sucedidas foram aquelas cujas

empresas mãe passaram um bom tempo se cortejando e se conhecendo antes

de estabelecerem a aliança.

• Entender que a colaboração é uma forma distinta de competição – uma das

maiores dificuldades encontradas pelos administradores é lembrar que as joint-

ventures são outra forma de competição, ou seja, que os parceiros envolvidos

em tal aliança são ao mesmo tempo colaboradores e competidores. Uma firma

pode ser parceira na produção e distribuição de um produto e ser competidora

em todo o resto de sua linha de produtos e serviços.

• Ter o aprendizado com os parceiros como um objetivo essencial, mas limitar a

troca de informações não intencionais - prover os mecanismos necessários

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62

para que se tenha sucesso no aprendizado organizacional, na retenção de

pessoal e na transferência de competências gerenciais é essencial neste tipo

de aliança. No entanto, dada a natureza de competição, é necessário que as

empresas mãe tenham cuidado para que a aliança não se torne uma janela

onde fiquem expostos tecnologia, processos e competências que não sejam

diretamente relevantes ao negócio da joint-venture.

• Estabelecer as regras e requerimentos para a aliança desde o começo.

• No caso de joint-ventures de agregação compartilhada de valor, os autores

ainda citam a necessidade de autonomia suficiente, o que limitaria a

interferência das empresas mãe, gerando um ambiente mais propício ao

desenvolvimento.

2.6.4. Recursos Humanos e Joint-Ventures

Recursos humanos também desempenham um papel estratégico para as joint-

ventures, portanto é necessário que se preste atenção a três fatores:

primeiramente, dada a interação de duas ou mais culturas empresariais distintas, é

importante que os gerentes atuantes na aliança estejam treinados em técnicas de

negociação e resolução de conflitos; segundo, os gerentes devem se aculturar ao

novo ambiente para poder trabalhar de forma efetiva com parceiros estrangeiros.

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63

E, finalmente, é necessário que haja uma harmonização dos estilos de

gerenciamento. (Lei & Slocum, 1991)

2.7. A ENTRADA NO MERCADO CHINÊS ATRAVÉS DE ALIANÇAS ESTRATÉGICAS

Como já mencionado, o mercado chinês tem gerado uma enorme atratividade ao

investimento estrangeiro e, cada vez mais, empresas do mundo inteiro têm movido

suas operações para a China. Este movimento de internacionalização tem sido o

foco tanto de empresas que visam atender ao mercado interno chinês, quanto

daquelas que visam somente uma redução em seus custos de produção e que

buscam atender outros mercados, a partir de bases de produção na China.

A entrada no mercado chinês pode se dar de diversas formas. Até bem

recentemente, o governo chinês exigia que empresas estrangeiras estabelecessem

parcerias com empresas estatais chinesas para que pudessem atuar no país. No

entanto, o governo chinês tem realizado um processo de liberalização gradativa

destes requisitos, o que foi ainda mais intensificado com a entrada da China na

Organização Mundial do Comércio (OMC) no ano 2001. (Ni, 2004)

Fala-se da liberalização do mercado chinês para empresas de capital totalmente

estrangeiro como se hoje já fosse possível estabelecer empresas com capital

100% estrangeiro em qualquer setor e em qualquer região do país. (Gagné, 2004)

Na verdade, este movimento tem sido feito por setor e de forma bastante gradativa,

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64

impondo-se ainda diversas restrições. Os setores de varejo e construção civil são

exemplos desta evolução gradativa da legislação chinesa. A indústria varejista, até

o início de 2005, era classificada como uma indústria restrita para o investimento

estrangeiro, o que implicava que empresas estrangeiras pudessem se instalar

somente em certas cidades, como as capitais de cada província e nas cinco Zonas

Econômicas Especiais do País. Sua atuação ficava também restrita ao

estabelecimento de joint-ventures, dado que empresas de varejo com 100% de

capital estrangeiro também não eram permitidas. (Ni, 2004) No caso da

construção civil, a legislação chinesa está permitindo a atuação de empresas de

capital totalmente estrangeiro no país, no entanto, tais empreendimentos ainda têm

que obedecer a algumas restrições relacionadas ao financiamento dos contratos de

construção estabelecidos ou à natureza técnica do projeto. (Tuchman, 2003)

Apesar de gradativa, esta liberalização da legislação tem causado mudanças

notáveis na estrutura societária das empresas presentes no país, especialmente no

que diz respeito à participação do governo de investidores estrangeiros. A figura

II.6 ilustra tanto uma mudança no tipo de investimento presente no país, quanto um

forte crescimento nos níveis de produção.

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65

Figura II.9 – Tipos de Empresas Presentes na China

(Fonte: Zellweger, 2004-II)

2.7.1. Razões para a Busca de um Parceiro no Mercado Chinês

Mesmo levando em consideração a possibilidade de empresas com 100% de

capital estrangeiro atuarem no país, existem ainda fortes razões para o

estabelecimento de alianças estratégicas, pelo menos nos estágios iniciais do

processo de internacionalização.

Primeiramente, o mercado chinês não é somente um mercado fisicamente distante,

mas também o é culturalmente e psicologicamente. (Liang e Zhixian, 2004) Esta

estranheza cultural e psicológica, alinhada à falta de conhecimento de mercado de

uma empresa principiante, fazem de um parceiro local um aliado importante.

InvestimentoEstrangeiro

1980 1985 1990 1995 2002

CapitalAberto

CapitalFechado

Publico-Privadas

Estatais

Produção: (bilhões) $117 $289 $1.089 $1.124

75 %

24 % 18 %

19 %

17 %

21 %

25 %

InvestimentoEstrangeiro

1980 1985 1990 1995 2002

CapitalAberto

CapitalFechado

Publico-Privadas

Estatais

Produção: (bilhões) $117 $289 $1.089 $1.124

75 %

24 % 18 %

19 %

17 %

21 %

25 %

1980 1985 1990 1995 2002

CapitalAberto

CapitalFechado

Publico-Privadas

Estatais

Produção: (bilhões) $117 $289 $1.089 $1.124

75 %

24 % 18 %

19 %

17 %

21 %

25 %

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66

Outra vantagem que pode ser propiciada pelo parceiro local são os seus contatos

com o governo e o seu guanxi, ou seja, a sua rede de contatos e conhecidos que

constituem a essência dos negócios na China. Tal rede de relacionamentos é de

suma importância, especialmente no que diz respeito àqueles no poder, pois deles

dependem as aprovações, permissões e licenças necessárias para que a empresa

possa desempenhar suas funções. (Martinsons e Tseng, 1995; Gagné, 2004)

2.7.2. Formas de se estabelecer uma Joint-Venture na China

Dadas as exigências do governo, assim como as razões anteriormente citadas, o

modo de entrada predominante no mercado chinês tem sido através de joint-

ventures. (Martinsons e Tseng, 1995) Em tais alianças, a seleção de um parceiro

compatível é um aspecto crítico. (Martinsons e Tseng, 1995; Liang e Zhixian, 2004)

Existem várias organizações, governamentais e privadas, com a função de auxiliar

investidores estrangeiros que estejam buscando um parceiro local. Tais entidades

incluem o China Council for the Promotion of International Trade (CCPIT) e a China

International Trust and Investment Corporation (CITIC), entre outras. (Martinsons e

Tseng, 1995)

Esta relação de compatibilidade e complementaridade entre os parceiros da joint-

venture é muito importante, dado que, na maioria das vezes, os papéis

desempenhados por cada um são bastante diferentes, mas vitais para o sucesso

no mercado. Normalmente, o parceiro local contribui com o terreno, as instalações,

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67

o acesso aos empregados apropriados e com o conhecimento do mercado local,

enquanto o parceiro estrangeiro provê muito do know-how técnico e gerencial, o

capital e o acesso potencial ao mercado internacional (Martinsons e Tseng, 1995)

Martinsons e Tseng (1995) fazem uma divisão da cadeia de valor (Porter, 1985), na

qual eles indicam uma distribuição dos papéis e responsabilidades entre as

empresas estrangeira e local.

Figura II.10 – Divisão das Responsabilidades na Cadeia de Valor

(Fonte: Martinsons e Tseng, 1995, p. 51)

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68

2.7.3. Dificuldades no Estabelecimento de uma Joint-Venture no Mercado Chinês

Apesar de as joint-ventures serem consideradas o tipo de aliança estratégica mais

promissor para empresas que visam entrar no mercado chinês, sete em cada dez

joint-ventures na China são consideradas insatisfatórias. (Martinsons e Tseng,

1995) Este alto grau de insatisfação pode ser atribuído a dificuldades na

negociação devido a objetivos conflitantes por parte das empresas mãe, ou a

fatores do próprio ambiente de negócios.

Em muitos casos, os chineses, que acreditam que tudo pode ser resolvido entre

amigos, percebem inicialmente o seu parceiro estrangeiro como um adversário

competindo em um jogo de soma zero, ao invés de percebê-lo como um agente de

cooperação capaz de trabalhar em conjunto para a criação de benefícios mútuos.

(Martinsons e Tseng, 1995) A tabela II.2 identifica vários pontos nos quais as

empresas mãe podem entreter objetivos conflitantes, e portanto, criar dificuldades

para o sucesso da aliança.

Tais incompatibilidades fazem com que obstáculos sejam criados nas negociações

para estabelecer a joint-venture. Problemas como: a definição da participação

societária, a verificação quanto à veracidade das informações fornecidas pelo

parceiro local, ou o controle de qualidade dos contratos estabelecidos podem levar

anos para serem resolvidos, ou até mesmo inviabilizar a parceria.

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Parceiro Estrangeiro Parceiro Local Planejamento manter flexibilidade dos manter a congruência entre o negócios empreendimento e o plano econômico do Estado Contratos precisos, detalhados ambíguos, breves e adaptáveis e enforceable que possam ser

impostos Negociação seqüencial, assunto por holístico e heurístico assunto Contratação de maximizar a produtividade, empregar o maior número pessoal menor número de pessoas por possível de pessoas locais nível de produção Tecnologia adequar a sofisticação técnica ganhar acesso à tecnologia de à organização e ao seu ambiente ponta o mais rapidamente possível Lucros maximizar no longo prazo; reinvestir para modernização Repatriar com futura; manter reservas o tempo internacionais Insumos minimizar a imprevisibilidade e promover sourcing doméstico a baixa qualidade dos insumos Processo enfatiza a alta qualidade enfatiza a alta quantidade Produção acesso e desenvolvimento do exportar para gerar moeda mercado doméstico estrangeira Controle reduzir o controle político e aceitar tecnologia e capital, mas econômico sobre a tomada de impedir que a autoridade estran- decisão geira infrinja sobre a soberania e ideologia

Tabela II.2 - Objetivos Conflitantes em uma Joint-Venture na China (Fonte: Martinsons e Tseng, 1995, p. 50)

Os autores identificaram uma lista de assuntos comumente citados como

obstáculos a tais negociações:

• Investimento financeiro e participação societária

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• Avaliação de Contribuições In-kind

• Natureza e divisão da governança corporativa

• Responsabilidades sobre a tomada de decisão

• Preço dos produtos

• Salários e benefícios de gerentes e profissionais expatriados

• Foco e profundidade do treinamento e desenvolvimento dos recursos humanos

• Natureza e extensão do acesso à tecnologia transferida

• Procedência e níveis de qualidade requeridos dos insumos

• Mecanismos de arbitragem de contratos

Outro fator que tende a dificultar o estabelecimento de joint-ventures no mercado

chinês são os longos e frustrantes atrasos causados pela burocracia do governo na

aprovação de assuntos financeiros e técnicos e a emissão das licenças

necessárias. No entanto, o governo chinês tem feito esforços para que esse

problema seja resolvido. No dia primeiro de julho de 2004, entrou em vigor a Lei

de Licenciamento Administrativo, que tem por finalidade reduzir o escopo das

atividades para as quais a aprovação de uma licença é requerida. “Esta lei deve

reduzir as barreiras de entrada no mercado, e portanto, deverá aumentar a

competição em bens e serviços … Se bem implementada, a lei deve reduzir o

potencial para grandes atrasos nos procedimentos, assim como para a rejeição

sem mérito de pedidos, assuntos estes que já são bastante familiares aos

investidores estrangeiros.” (China Law and Practice, 2004)

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71

Existem ainda outros fatores que estão mais diretamente relacionados ao ambiente

de negócios chinês e que podem ser percebidos como obstáculos para o investidor

estrangeiro. Estes fatores dizem respeito a mão de obra, operações, fornecedores

e consumidores.

Mão de Obra

Um dos principais assuntos que vem à mente de um investidor estrangeiro, quando

este pensa no mercado chinês, é mão de obra barata. No entanto, o investidor

deve estar ciente de algumas características da mão de obra chinesa que podem

se constituir em dificuldades. Primeiramente, é importante que a mão de obra

contratada esteja disposta a passar pelas mudanças, não só tecnológicas, mas de

hábitos e filosofia empresariais, impostas pela empresa estrangeira.

Trabalhadores mais velhos podem oferecer resistência quanto à adoção de novos

métodos de trabalho; portanto, em muitos casos, é interessante para a empresa a

contratação de empregados mais jovens, cuja falta de conhecimento prático e

experiência de trabalho são mais do que contrabalançadas por sua disposição para

aceitar novos métodos. (Martinsons e Tseng, 1995)

Problemas com treinamento e adaptação podem ocorrer no caso de uma empresa

estrangeira escolher investir no uso de instalações já existentes, em lugar de fazer

um investimento em novas instalações (greenfield). Segundo Martinsons e Tseng

(1995) o uso de instalações já existentes pode se dar das seguintes três formas:

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• Assumir inteiramente as instalações antigas e seus trabalhadores locais (muitos

dos quais dificilmente poderiam ser re-treinados)

• Assumir parte das instalações existentes e selecionar parte do pessoal dentre

os trabalhadores já existentes (o que poderia causar conflitos entre os

escolhidos e os não escolhidos)

• Ocupar instalações abandonadas por uma empresa estatal, ou que não

houvessem sido colocadas em atividade por uma empresa antiga.

Outra característica importante da mão de obra está relacionada à produtividade.

Os níveis de produtividade chineses são tipicamente abaixo dos padrões

internacionais, fazendo com que, em alguns casos, possa-se precisar de um

número de trabalhadores seis vezes maior do que em outros lugares. (Martinsons

e Tseng, 1995) Como indica a tabela II.2, o parceiro estrangeiro estaria

normalmente interessado em utilizar o menor número de empregados por nível de

produção, enquanto o parceiro chinês buscaria empregar o maior número possível

de pessoas locais.

Existem no entanto, esforços para aumentar a produtividade dos trabalhadores

chineses. Isso tem acontecido através de mudanças na lei trabalhista chinesa, que

tem dado a empresas estrangeiras, especialmente às joint-ventures, liberdade para

introduzir contratos de trabalho específicos, os quais se diferenciam na forma de

recrutar, remunerar e, até mesmo, punir seus empregados. Essas mudanças têm

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resultado em maiores níveis de motivação dos trabalhadores. Um dos primeiros

fatores motivacionais está relacionado ao fim da “tijela de arroz de ferro”,

expressão que é usada como eufemismo para a garantia vitalícia de estabilidade

no trabalho, não levando em consideração o nível de produtividade do trabalhador.

O fim desta estabilidade, assim como a introdução de métodos de remuneração

variável baseados em contribuições individuais, tem feito com que os trabalhadores

busquem ser cada vez mais produtivos. Apesar da tradição de salários iguais

chinesa, é possível ver empresas onde o salário do melhor funcionário chega a ser

quatro ou cinco vezes maior do que o salário de trabalhadores novos que ainda

não mostraram seu valor. Isso faria com que muitos trabalhadores vissem estas

joint-ventures como oportunidade de acesso a privilégios antes concedidos

somente à elite do Partido Comunista. (Martinsons e Tseng, 1995)

Outras diferenças significativas dizem respeito à punição dos empregados e à

política de benefícios concedidos pela empresa. Tradicionalmente, os contratos de

emprego na China enfatizavam muito mais as punições do que as recompensas.

Os novos métodos, trazidos pelas empresas estrangeiras, têm focado em oferecer

melhor treinamento, diminuir práticas punitivas e encorajar os empregados a fazer

sugestões e discutir seus problemas. Quanto à política de benefícios, as empresas

estrangeiras oferecem salários mais altos em troca de uma redução no pacote de

benefícios que era oferecido aos trabalhadores das estatais, como, alojamento,

pensão, seguro de saúde e escolaridade gratuita para os trabalhadores e seus

dependentes.

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Há também diferenças em relação à forma de contratar pessoal. A maneira

tradicional era baseada na alocação administrativa e recrutamento interno. As

joint-ventures introduziram procedimentos mais formais de seleção, os quais

podem incluir, entrevistas, provas e testes psicológicos.

Finalmente, há falta de mão de obra qualificada para exercer as funções gerenciais

de uma empresa. Esta carência cria, então, forte demanda por funcionários

expatriados. No entanto, o uso deste tipo de funcionário também pode criar

desafios de vários tipos. Primeiramente, o funcionário expatriado pode perceber tal

posição não como uma recompensa, mas como uma punição, dado que este terá

que passar por vários desafios de adaptação pessoal e, muitas vezes, de sua

família. Apesar do desempenho destes funcionários variar bastante, em um

grande número de casos é medíocre, dada a falta de familiaridade com a cultura e

outros aspectos relacionados a sua atuação no mercado. Finalmente, para ser

condizente com as diversas dificuldades enfrentadas pelo expatriado, a sua

remuneração é bastante alta. Por estas razões, as empresas têm buscado reduzir

sua dependência de funcionários expatriados e focado na contratação de pessoas

locais com formação internacional, para que assumam posições de gerência júnior,

ganhem experiência e se preparem para assumir posições de maior

responsabilidade.

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Relação com os Fornecedores

Este relacionamento na China pode ser bastante complicado dadas as limitações

no número de fornecedores domésticos. Tais limitações dificultam muitas vezes o

acesso a recursos críticos para as empresas e faz com que algumas delas optem

por importar componentes para sua produção. Portanto, pode-se dizer que

alianças com fornecedores são um fator critico de sucesso.

As empresas estrangeiras buscam estabelecer tais parcerias através de minuciosa

inspeção das condições de trabalho e dos equipamentos dos potenciais

fornecedores. Uma vez selecionados, as empresas estrangeiras podem vir a

oferecer treinamento em qualidade e até mesmo suporte financeiro a seus

fornecedores, para que estes possam atender de forma mais efetiva às suas

necessidades. Com as práticas da produção Just In Time sendo introduzidas na

China, essas alianças na cadeia de suprimentos são vistas como cada vez mais

valiosas.

Finalmente, o guanxi é também bastante importante na procura por fornecedores

de certas matérias primas.

Relação com os Consumidores

Em joint-ventures sino-estrangeiras, a visão do parceiro local é a de maximizar as

vendas, sem se preocupar com os padrões de qualidade que podem gerar clientes

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insatisfeitos e dificultar as exportações. Portanto, é importante que o investidor

estrangeiro esteja atento para essas diferenças e seja capaz de adequar o produto

tanto para o mercado interno quanto para o externo.

Outro fator importante é o preço. Segundo Martinsons e Tseng (1995) o parceiro

local buscava normalmente estabelecer e manter preços baixos, devido ao seu

senso de responsabilidade social. No entanto, na maioria dos casos de sucesso

das joint-ventures estabelecidas na área de Xangai, o parceiro estrangeiro tinha

total controle no estabelecimento dos preços para o mercado internacional e uma

forte influencia nos preços para o mercado doméstico.

Finalmente, é interessante notar que existe uma preferência dos consumidores

locais por produtos estrangeiros, mesmo quando não existem diferenças de

qualidade que a justifiquem. Isso faz com que, muitas vezes, produtos de joint-

ventures estabelecidas na China fiquem em desvantagem em comparação à

produtos produzidos em outros países. (Martinsons e Tseng, 1995)

Outras Considerações

Martinsons e Tseng (1995) fizeram ainda algumas considerações quanto às

operações de joint-ventures na China. A qualidade das operações e os assuntos

financeiros também deveriam ser avaliados de maneira cautelosa. Alguns dos

principais problemas com a qualidade das operações estariam relacionados à

produção por cotas e à limpeza do ambiente de trabalho. Tradicionalmente, a

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produção chinesa é planejada de forma centralizada e determinada por cotas, ou

seja, as empresas e seus empregados estão preocupados com os números da

produção e não com a qualidade dos produtos e com a satisfação do cliente. Além

disso, a limpeza do ambiente de trabalho, imperativa em setores de alta tecnologia,

seria ainda, em muitos casos, um conceito estranho aos chineses.

No âmbito financeiro, seria importante estar atento ao fato de que, diversas vezes,

o endividamento das empresas chinesas, aliado a altos níveis de inadimplência por

parte de seus consumidores, deixaria estas empresas sem capital de giro. Seria

importante ainda examinar com cuidado a contabilidade e, se possível, fazer uma

análise de crédito do parceiro potencial, pois no caso de muitas empresas locais,

dinheiro no balanço da empresa é muito diferente de dinheiro no banco.

Zellweger (2004-II) citou, em sua apresentação, um estudo realizado com uma

população de 200 investidores alemães atuando no mercado chinês para identificar

os obstáculos mais significativos à entrada nesse mercado. É importante notar que

este grupo era composto de investidores relativamente satisfeitos com os

resultados de seus investimentos, dado que aproximadamente 79% dos

participantes expressaram a intenção de expandir seus negócios e 77%

responderam que os lucros foram de acordo com o esperado, ou maiores. A tabela

II.3, lista nove fatores considerados como possíveis geradores de dificuldades para

investidores estrangeiros atuando no mercado chinês. As barras ao lado de cada

fator indicam o percentual da população pesquisada que de fato encontrou

dificuldades com um dado fator.

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Tabela II.3. – Dificuldades Encontradas por Investidores Estrangeiros na China (Fonte: Zellweger, 2004-II)

Somente 25% dos respondentes disseram ter dificuldades em ultrapassar

diferenças culturais, sendo que, na literatura, este fator aparece como um dos mais

determinantes para a empresa, tanto na sua seleção de modo de entrada, quanto

na sua sobrevivência e sucesso no mercado estrangeiro. A interpretação dada a

este fenômeno durante o workshop apresentado por Zellweger (2004-II) foi que

diversos outros fatores citados na tabela poderiam ser considerados como

diferenças culturais. Portanto, quando o respondente considerasse este último

fator, ele excluiria várias das dimensões culturais que poderiam estar presentes

neste item, reduzindo seu escopo, e considerando simplesmente aspectos

relacionados ao idioma ou à gastronomia.

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2.7.4. Fatores Críticos de Sucesso

Levando em consideração os incentivos e dificuldades já descritos, Martinsons e

Tseng (1995) identificaram cinco principais fatores críticos de sucesso para o

estabelecimento de uma joint-venture no mercado chinês5. Estes fatores seriam:

1. A seleção de um parceiro adequado.

O investidor estrangeiro deveria investir o tempo necessário para identificar um

parceiro chinês apropriado. Atributos complementares poderiam ser a base

para a sinergia nos negócios. Os relacionamentos estabelecidos pelo parceiro

local poderiam ser instrumentais para vencer obstáculos burocráticos.

2. Ultrapassar as diferenças culturais.

O investidor estrangeiro deveria ter conhecimento sobre os valores culturais e

sistemas de negócios chineses. Pessoas de etnia chinesa ou ocidental que

detivessem tal conhecimento da cultura poderiam servir como uma ponte entre

os parceiros e ajudar a vencer a burocracia do governo. Infelizmente, haveria

escassez de indivíduos com esta capacidade.

3. Desenvolver o relacionamento antes de assinar o contrato.

5 Martinsons e Tseng discutem o estabelecimento de joint-ventures na China, mas seu estudo tem como foco a região da Grande Shanghai. Portanto, estes fatores críticos de sucesso estão relacionados à esta região.

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Os dois parceiros deveriam discutir suas respectivas metas e objetivos para a

futura joint-venture. O escopo e a natureza do negócio deveriam ser

claramente especificados e um estudo de viabilidade deveria ser conduzido em

profundidade. As contribuições e responsabilidades dos parceiros deveriam ser

claramente estabelecidas antes de iniciadas as negociações contratuais. Nada

deveria ser simplesmente assumido ou dado como certo.

4. Facilitar a transferência de tecnologia.

Os parceiros deveriam planejar e implementar de forma conjunta uma

abordagem estruturada e sistemática para a transferência de processos e/ou

tecnologias de produto relevantes. O parceiro estrangeiro deveria estar

preparado para treinar os empregados locais, de forma a facilitar o uso efetivo

da tecnologia.

5. Institucionalizar a qualidade.

Um sistema de qualidade gerencial, talvez baseado nos padrões da ISO 9000,

deveria ser institucionalizado na joint-venture, assim como no restante da

cadeia de suprimentos.

Zellweger (2004-II) complementou ser possível ter sucesso na China, devendo-se

ter em mente que:

• Não se deveria entrar no mercado sem antes fazer uma análise do mesmo.

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• Não se deveria selecionar um parceiro antes de comparar outros possíveis

parceiros.

• Não se deveriam fazer investimentos financeiros sem que fossem considerados

também investimentos em recursos humanos.

• O entusiasmo inicial seria bom, mas a perseverança seria essencial.

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III – METODOLOGIA

3.1. MÉTODO DE PESQUISA

3.1.1. Condições para a escolha do método

Em Ciências Sociais os métodos utilizados para a elaboração de pesquisas podem

ser classificados em qualitativos ou quantitativos. Enquanto os métodos

quantitativos buscam encontrar medidas em populações específicas, diretamente

ou através da combinação de amostras estatísticas, os métodos qualitativos não

procuram se basear em medidas, mas sim em análises profundas, com a finalidade

de buscar o entendimento quanto aos fatores envolvidos no caso pesquisado.

De acordo com Yin (1989), as estratégias ou métodos básicos de pesquisa social

são classificadas em cinco: experimentos, surveys, análises de arquivos, histórias

e estudos de casos. Três condições que devem direcionar a escolha do método

para um determinado estudo:

• o tipo de pergunta de pesquisa;

• a intensidade de controle que o pesquisador exerce sobre o objeto do estudo;

• o evento a ser pesquisado ser contemporâneo ou histórico.

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Yin (1989) sugeriu que a indicação inicial para a escolha do método deveria ser a

forma da pergunta de pesquisa. Assim, perguntas como “o que”, “quem”, “onde”, e

“quanto” sugerem a escolha de surveys ou análises de arquivos, pois estão

relacionadas a incidência ou freqüência de eventos. Entretanto, perguntas do tipo

“como” e “por que” indicam a utilização de experimentos, histórias e estudos de

casos, pois existe uma forte consideração quanto ao contexto e à dimensão

temporal em que os eventos se desenvolvem, sem levar em conta as medidas de

freqüência.

Uma vez determinada a pergunta de pesquisa, Yin (1989) sugeriu avaliar o grau de

controle do pesquisador sobre os eventos, e se os mesmos são contemporâneos

ou históricos. Por exemplo, para perguntas com a utilização de “como” e “por que”,

a história deveria ser o método preferido nos casos em que não fosse exercido

controle sobre os eventos, por se situarem no passado, não tendo assim

testemunhas para elucidá-los, fazendo com que o pesquisador precise se apoiar

em fontes documentais. No caso de um evento contemporâneo, o estudo de caso

apresentaria vantagens sobre a história, pois o pesquisador poderia se basear não

apenas na consulta a documentos, mas também na observação direta e no

emprego de entrevistas.

Com relação à classificação de Yin (1989), pode-se afirmar que o estudo de caso é

a estratégia de pesquisa que apresenta mais vantagens quando uma pergunta do

tipo “como” ou “por que” está sendo relacionada a um conjunto de eventos

contemporâneos sobre o qual o pesquisador tem pouco ou nenhum controle.

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3.2. O MÉTODO DO ESTUDO DE CASO

3.2.1. Definição do Método

O estudo de caso é um método muito utilizado nas Ciências Sociais, como a

Sociologia, Antropologia e Administração. Yin (1989, p.23) definiu o estudo de

caso, sugerindo que este se constitui em “pesquisa empírica...

a) que investiga um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto na vida real;

b) cujas fronteiras entre o fenômeno e seu contexto não são bastante claras;

c) e que usa múltiplas fontes de evidência”.

Por sua vez, Goode e Hatt (1975, p.432-433) propuseram a seguinte definição

para esse tipo de estudo: “um modo de organizar os dados em termos de uma

determinada unidade escolhida, como a história de um individuo ou de um grupo,

ou de um processo social delimitado”.

Para isso, são utilizadas técnicas como entrevistas, questionários, consulta a

documentos etc. Para estes autores “a manutenção do caráter unitário do caso é

auxiliada pela amplidão e níveis acrescentados aos dados obtidos, o uso de

índices e tipologias, e a ênfase na interação em uma dimensão de tempo” (p. 433).

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Segundo Yin (1989, p. 22-23), “a essência de um estudo de caso, sua tendência

central, é que ele tenta iluminar uma decisão ou um conjunto de decisões, por que

elas foram tomadas, como elas foram implementadas e com que resultado”.

Nesta afirmação, Yin observou que a palavra “decisões” poderia ser substituída por

“organizações”, “programas” ou “processos”.

3.2.2. Classificação do Método

Um estudo de caso pode ser baseado em um único caso ou em diversos casos,

podendo ainda ser definido como exploratório, descritivo ou explanatório. A partir

daí, Yin sugere uma matriz 2x3 para ilustrar essas possibilidades. As combinações

encontradas nesta matriz foram:

• simples e exploratório

• simples e descritivo

• simples e explanatório;

• múltiplo e exploratório

• múltiplo e descritivo

• múltiplo e explanatório

Um estudo de caso pode ser classificado como exploratório quando ele pretende

definir as questões e hipóteses para um estudo posterior – o qual não

necessariamente será realizado em forma de caso – ou determinar a

exeqüibilidade de um procedimento de pesquisa. Já um estudo de caso descritivo,

como o próprio nome sugere, descreve de forma abrangente um evento dentro de

seu contexto. Finalmente, o termo explanatório é utilizado quando o estudo de

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caso apresenta dados que sustentam uma relação de causa e efeito observada em

um evento (Yin, 1993).

Este trabalho pode então ser classificado como um estudo de caso simples e

exploratório: simples porque aborda um único caso, e exploratório porque aborda

um assunto que não foi muito aprofundado até o momento – o da

internacionalização de uma empresa brasileira na China e da escolha de alianças

estratégicas como modo de entrada neste mercado, sugerindo questões que

poderão ser respondidas por ele mesmo e por trabalhos futuramente realizados.

3.2.3. Críticas ao Método

A utilização do estudo de caso como método de pesquisa social empírica tem

sofrido preconceito no meio acadêmico. Alguns afirmam que o estudo de caso

possui uma ausência de rigor, qualificando-o de “fácil” ou “pouco estruturado”;

outros chamam a atenção para o fato do método encaminhar para conclusões

equivocadas por influência de vieses ou de evidências sem valor. Yin (1989)

declarou que os problemas citados não são unicamente do estudo de caso, mas

são também comuns a outros métodos. Vieses também podem ocorrer na

formulação de questionários de surveys por exemplo. Para aqueles que

consideram os métodos quantitativos mais confiáveis, Campomar (1991) ressalta a

importância da precisão não apenas no tratamento estatístico dos dados, mas

também na fase de coleta dos mesmos. Segundo o autor, “o que se vê , muitas

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vezes, são tratamentos estatísticos com técnicas sofisticadas sobre dados mal

coletados, nos quais aparecem amostras mal feitas (não aleatórias), além do mau

uso de testes paramétricos de inferência”. (p. 96)

Outra crítica feita ao estudo de caso diz respeito à dificuldade de generalização a

partir de um estudo individual. Yin (1989) responde a esta crítica da seguinte

forma:

“os estudos de caso, assim como os experimentos, são generalizáveis para

proposições teóricas, e não para populações ou universos. O estudo de

caso não representa uma amostra, e o objetivo do pesquisador é expandir e

generalizar teorias (generalização analítica) e não enumerar freqüências

(generalização estatística)”.

Assim, os problemas mais comuns apontados no estudo de caso podem ser

também considerados inerentes a outros métodos de pesquisa mais aceitos. O

preconceito que existe quanto ao estudo de caso pode ser talvez atribuído a sua

introdução relativamente recente na pesquisa em administração. A pouca literatura

existente a seu respeito e a experiência limitada na sua aplicação contribuíram

para que alguns trabalhos pioneiros apresentassem falhas e se fizessem

vulneráveis às críticas advindas do meio acadêmico. Campomar (1991, p.97)

sugere que:

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“o estudante que esteja trabalhando em sua dissertação de mestrado ou

tese de doutoramento em Administração deve ter a coragem de usar o

método de estudo de caso em suas pesquisas, quando indicado, sem

intimidar-se por possíveis preconceitos e sem se deixar seduzir por técnicas

quantitativas tornadas acessíveis pela moderna tecnologia de

processamento de dados”.

3.3. PROBLEMA E PERGUNTAS DE PESQUISA

Este trabalho propõe-se a investigar o processo de internacionalização de uma

empresa brasileira na China, através da escolha de alianças estratégicas como

modo de entrada naquele mercado. Dois são os aspectos principais desse estudo

de caso: a razão pela qual a empresa decide se internacionalizar para o mercado

chinês e a adoção de um contrato de licenciamento como modo de entrada. Um

terceiro aspecto que se coloca, são os possíveis cursos de ação a serem adotados

pela empresa uma vez que o contrato inicial termine. Com isto, as principais

perguntas suscitadas pelos problemas de pesquisa descritos acima, são:

I. Como se deu o processo de internacionalização da Marcopolo sob a

perspectiva dos modos de entrada?

II. Como se deu a decisão da empresa de se internacionalizar para a China?

III. Que modos de entrada foram utilizados na China e quais os motivos que

levaram a sua escolha?

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IV. Quais as opções estratégicas disponíveis à empresa no futuro?

3.4. ESCOLHA DO CASO

Na primeira etapa deste estudo, concomitantemente ao processo de revisão de

literatura, foi feito um levantamento de diversos casos de empresas que

empreendiam projetos de internacionalização para o mercado chinês.

O caso da empresa Marcopolo S.A., fabricante de carrocerias de ônibus foi

selecionado a partir de um conjunto de experiências notórias de

internacionalização de empresas brasileiras para o mercado chinês, presentes nos

meios acadêmicos, na imprensa, através de periódicos especializados ou de

interesse geral.

A relevância deste caso está relacionada à complexidade do mercado em questão,

pois ainda são raros os casos de empresas brasileiras com experiências tão ricas e

profundas a este respeito.

3.5. COLETA DE DADOS

Uma vez selecionado o caso a ser estudado, foram coletados diversas informações

especificamente sobre esta empresa, em livros, jornais, revistas, casos e consultas

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90

ao site da empresa na Internet. Além disso, foi disponibilizada uma primeira

entrevista realizada em 2004 pelos pesquisadores do NuPin (Núcleo de Pesquisas

em Internacionalização de Empresas do Instituto Coppead de Administração) com

Paulo José Guarese, Gerente de Projetos Especiais da Marcopolo. Esta entrevista

foi conduzida em Caxias do Sul. A entrevista que teve duração de pouco mais de

duas horas, foi gravada em fita cassete para evitar a perda de informações e

possibilitar a posterior transcrição dos dados. Por ocasião da entrevista, foram

coletados também outros materiais relacionados à empresa, como o livro

comemorativo dos 50 anos de existência da Marcopolo. Todo esse material

pertence ao arquivo de dados sobre internacionalização de empresas do

Coppead/UFRJ, tendo sido colhido através de financiamento do PRONEX –

Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (FINEP/CNPq/CAPES).

O pesquisador realizou duas outras entrevistas com dirigentes da Marcopolo em

2005. A primeira foi novamente com Paulo José Guarese, e a segunda com José

Antonio Fernandes Martins, Vice Presidente da empresa. Contou também com a

utilização de diversos trabalhos já realizados no Coppead como uma entrevista

realizada pelo Professor Antonio Barretto com dirigentes da empresa em 1995, os

casos Marcopolo S.A. (1994) e Marcopolo S.A. (B) (1999), escritos pelos

Professores Kleber Figueiredo e Rebecca Arkader, e o caso Marcopolo (2005),

escrito pelo Professor Agrícola Bethlem.

O Anexo I contem o roteiro básico utilizado para a entrevista realizada com Paulo

José Guarese.

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3.6. ANÁLISE DOS DADOS

A análise de dados foi realizada em duas etapas. Em primeiro lugar, foi elaborado,

a partir do conjunto de fontes secundárias, um documento de caráter descritivo,

que buscou reunir todas as informações relevantes para o estudo. Com isso,

obteve-se a descrição geral do caso estudado no que se refere ao histórico e à

evolução da empresa e a seu processo de internacionalização até a entrada no

mercado chinês. Uma vez traçado este documento, foram identificadas as lacunas

de informação, que, então, orientaram a montagem do roteiro de entrevista a ser

utilizado na segunda etapa da coleta de dados, através de entrevistas pessoais.

Após a realização da coleta de dados primários, as entrevistas foram transcritas

em forma de relatório e estes foram submetidos a procedimentos de análise de

conteúdo e análise de discurso. Os trechos das entrevistas foram classificados

segundo um protocolo de temas previamente determinado, relacionado às

questões de pesquisa que orientaram o estudo. Falas específicas foram extraídas,

sendo submetidas a escrutínio mais cuidadoso. Foram elaboradas listas e tabelas

comparativas, a partir das evidências coletadas. Ao final, o caso inicialmente

elaborado foi revisto, incorporando-se as novas informações obtidas.

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3.7. LIMITAÇÕES DO ESTUDO

As limitações deste estudo são de duas naturezas: aquelas que dizem respeito ao

próprio método do estudo de caso e aquelas decorrentes das percepções dos

entrevistados.

O estudo de caso não permite generalizações para o universo em questão, ou seja,

o universo das empresas brasileiras em processo de internacionalização na China.

No entanto, determinados aspectos observados nesse estudo podem se repetir em

circunstâncias similares às aqui enfocadas.

Durante a realização de entrevistas para a realização de estudos de casos, é

comum ocorrerem vieses cognitivos ou seletividade de memória por parte daqueles

que são entrevistados. O cruzamento de informações de várias fontes, conhecido

como triangulação, além do uso de entrevistas com vários indivíduos em diferentes

momentos do tempo tende a minimizar este tipo de viés.

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IV - CASO MARCOPOLO

No inverno de 1295, Marco Polo voltava de sua viagem ao Cathay (China), onde havia passado os últimos 23 anos. Ao retornar à sua cidade natal de Veneza, na Itália, tornou-se notório pelas histórias que relatou sobre esse reino longínquo e misterioso. Tais histórias eram tão fantásticas que poucos eram aqueles que nelas acreditavam totalmente. No entanto, em 1324, aos 70 anos e em seu leito de morte, deixou o famoso epitáfio, “eu só falei da metade do que vi”.

Hoje, muitas das histórias relatadas por Marco Polo têm sido validadas através de viagens e pesquisas realizadas ao longo dos últimos 7 séculos, dando a esse desbravador mais credibilidade do que jamais tivera em seu próprio tempo.

Marcopolo, agora não mais na figura de um comerciante veneziano, mas, de uma empresa brasileira, de Caxias do Sul, liderada por executivos de visão e com o mesmo espírito desbravador, volta à China, e traz consigo histórias de sucessos, frustrações, oportunidades e dificuldades, que despertam o mesmo fascínio naqueles que as ouvem. Talvez os relatos dos nossos desbravadores modernos sirvam também para ressaltar ainda mais a grandiosidade dessa terra chamada China.

4.1. A MARCOPOLO S.A.

A Marcopolo, que tem como principal finalidade a fabricação de carrocerias de

ônibus rodoviários, urbanos e micros, foi fundada em 6 de agosto de 1949, na

cidade de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul.

Em 2005, a empresa era líder indiscutível do mercado brasileiro, com uma parcela

de aproximadamente 45,5% do mesmo. Além de sua forte atuação no Brasil,

através de quatro unidades de produção instaladas em território nacional, a

empresa também marcava presença no mercado internacional, com fábricas

instaladas em Portugal, na Argentina, no México, na Colômbia e na África do Sul, e

com exportações para mais de 80 países.

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4.1.1. A História da Companhia

Em 1949, a atual Marcopolo foi fundada como Nicola & Cia. Ltda, tendo oito sócios

e apenas quinze funcionários. Nesta época a produção das carrocerias de ônibus

era um processo totalmente artesanal. Sem que existissem chassis de ônibus, era

necessário que chassis de caminhão fossem cortados e emendados no tamanho

desejado. Esse processo era extremamente trabalhoso e demandava muito

tempo.

Foi somente em 1953 que a Marcopolo começou a produzir as primeiras estruturas

de aço, o que constituiu um marco na indústria de carrocerias de ônibus no Brasil.

Essas estruturas metálicas tinham a grande vantagem de reduzir o peso dos

veículos. As novas estruturas, aliadas ao surgimento de chassis especiais para

ônibus, ajudaram a agilizar bastante o processo de fabricação.

A política do governo de Juscelino Kubitschek, de “crescer 50 anos em cinco”, foi

um grande impulsionador da indústria automotiva no País. Com isso, a Marcopolo

se viu em uma situação favorável para a continuidade de seu crescimento. Em

1954, ao mesmo tempo em que a empresa iniciava a construção de uma nova

fábrica, no bairro Planalto, em Caxias do Sul, ela trocava a sua denominação social

para Carrocerias Nicola S/A. A construção da nova unidade foi concluída em 1957,

no mesmo ano em que empresa começou a produção de ônibus com chassi

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brasileiro. Em 1959, na comemoração de seu 10º aniversário, a produção da

empresa totalizava 600 carrocerias.

No início da década 60, a Marcopolo já atingia uma produção de 240 unidades por

ano, e nessa época, foi também assinado o primeiro contrato de exportação, com a

Compañia Omnibus Pando, do Uruguai. Durante essa década, a atualização dos

processos produtivos e a implantação de programas de treinamento aumentaram

consideravelmente os níveis de produção, fazendo com que o número de

carrocerias fabricadas fosse duplicado até o final da década.

O ônibus Marcopolo, modelo fabricado em 1968, cujo nome foi dado em

homenagem ao navegador veneziano, foi baseado nas técnicas mais modernas de

produção e recebeu um design bastante avançado. Foi lançado com tanto sucesso

no VI Salão do Automóvel, em São Paulo, que a empresa resolveu adotar o seu

nome, e em 1971 teve a sua razão social alterada para Marcopolo S.A. Carrocerias

e Ônibus. Foi também nessa época que se iniciou a exportação de unidades

completamente desmontadas (Completely Knocked Down - CKD), conjugada com

o fornecimento de tecnologia para a Venezuela.

Em 1978, a empresa passou a ser negociada na Bolsa de Valores de São Paulo

(Bovespa), e em 1981, inaugurou mais uma unidade produtiva, construída no bairro

Ana Rech, em Caxias do Sul, a qual passou a centralizar a produção de ônibus.

Nessa época, o total das exportações da empresa chegou a 39 milhões de dólares,

mas a crise nacional atingiu em cheio a fabricação, que acabou sendo reduzida.

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Em 1986, a empresa iniciou a implantação de técnicas japonesas de administração

e produção nas unidades fabris. A adoção dessas técnicas deu origem ao “Sistema

Marcopolo” que visa “a produção com qualidade, num bom ambiente de trabalho,

por pessoas satisfeitas”, e cujos principais pilares de sustentação são a filosofia

SUMAM (Sugestões de Melhoramentos do Ambiente Marcopolo) e o sistema

SIMPS (Sistema Integrado Marcopolo de Produção Solidária) (ver seção 4.3.2).

Em 1986, a Marcopolo montou uma fábrica de componentes de fibra de vidro em

São José dos Pinhais, Paraná. Em 1987, a fábrica tornou-se uma subsidiária

integral, denominada MVC Componentes Plásticos Ltda. Inicialmente, a fábrica

produzia peças e componentes plásticos para uso exclusivo da Marcopolo, de

acordo com a estratégia da empresa de garantir tecnologia própria e inovadora.

Com o tempo, passou a produzir e fornecer uma vasta gama de produtos para

diversas indústrias, como por exemplo, componentes para automóveis, caminhões

e ônibus, peças para aeronaves e cabines telefônicas, cartazes de publicidade e

etc. Hoje, o grupo Marcopolo possui cinco fábricas desse tipo (ver seção 4.1.2)

Foi somente em 1992, que a companhia trocou novamente a sua razão social, e

adotou a sua denominação atual "Marcopolo S.A.”.

Em 2004, a Marcopolo registrou uma receita líquida consolidada de R$ 1,605

bilhão de reais com a produção de 15.938 carrocerias e, até julho de 2005, a

empresa já registrava uma receita liquida de 968,88 milhões de reais e uma

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produção de 9.484 carrocerias. Destas carrocerias, foram destinadas ao mercado

internacional 7.054 unidades em 2004 e 5.116 unidades até julho de 2005.

4.1.2. As Unidades de Produção Nacionais

Em 2005, a Marcopolo contava com quatro unidades de produção no Brasil para o

desenvolvimento de suas atividades.

Marcopolo Ana Rech – era a principal fábrica da Marcopolo, localizada em Ana

Rech, na cidade de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. Dispunha de uma área

coberta de 60 mil m2, em um parque de 305 mil m2, onde eram produzidos ônibus

rodoviários e urbanos.

Marcopolo Planalto – Esta unidade ficava localizada no bairro Planalto, em Caxias

do Sul, e contava com uma área coberta de 38 mil m2 para produção de

microônibus e veículos comerciais leves.

Ciferal Indústria de Ônibus Ltda – Adquirida pela Marcopolo em 1999, ficava

instalada em Duque de Caxias, no Estado do Rio de Janeiro e contava com 70 mil

m2 de área construída, em um parque de 193 mil m2. Localizada próximo às

fábricas de chassis e dos maiores mercados brasileiros de ônibus urbanos, tinha

capacidade para produzir 3 mil unidades por ano.

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MVC Componentes Plásticos Ltda – A MVC Componentes Plásticos era uma

empresa Marcopolo voltada para o desenvolvimento de soluções rápidas e

inovadoras em plástico, através de tecnologia européia e processos totalmente

automatizados, fornecendo modernas soluções para o setor automotivo, ferroviário,

comunicações, entre outros. A empresa tinha sua principal planta localizada no

distrito industrial de São José dos Pinhais, no Paraná. A MVC possuía ainda

plantas na cidade de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul; em Xerém, no Rio de

Janeiro, junto à fábrica da Ciferal; em Catalão, no Estado de Goiás; e em

Monterrey, no México, sob o nome de Poloplast.

4.2. O MERCADO BRASILEIRO DE ÔNIBUS

O mercado brasileiro de carrocerias de ônibus era tradicionalmente dominado por

três grandes empresas do ramo, a Marcopolo, a Busscar e a Comil. A gerência

executiva da Marcopolo acreditava que seria muito difícil para uma empresa

estrangeira entrar neste mercado e ser competitiva, pois as empresas brasileiras

aqui estabelecidas já o atendiam de forma eficiente, e mais do que isso, elas

tinham todo um conhecimento local que não estaria prontamente disponível a

novos competidores, especialmente os estrangeiros.

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4.2.1. Os Fatores Diferenciadores da Marcopolo

A Marcopolo possuía alguns fatores diferenciadores tanto nos produtos que ela

fabricava quanto nos serviços que prestava. Estes serviam como fontes de

vantagem competitiva no Brasil e no Exterior. Primeiramente, a Marcopolo

trabalhava com produtos tailor-made, ou seja, produtos feitos sob medida para

atender às necessidades de seus clientes. Portanto, a empresa buscava estar

sempre ao lado do cliente, entendendo o que o ele desejava. Outras competências

estavam relacionadas à competitividade do seu processo produtivo, o seu

conhecimento de mercado e capacidade de se adaptar, design de altíssima

qualidade e pontualidade. A sua preocupação com o desenvolvimento de sistemas

de transporte urbano, assim como o desenvolvimento de tecnologia própria,

geravam diferenciais para a Marcopolo, que buscava não ter que seguir

benchmarks, e sim criá-los.

4.2.2. Marcopolo e o Governo Brasileiro

A Marcopolo mantinha relações bastante estreitas com o governo brasileiro,

especialmente no que dizia respeito às normas estabelecidas para o mercado

internacional. A empresa buscava todos os benefícios a ela intitulados, através de

conversas, negociações e ações próximas ao governo. Tais benefícios diziam

respeito a vantagens junto à ALCA, Mercosul, Comunidade Européia etc.

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De acordo com um de seus dirigentes, a empresa tinha como princípio agir de

forma extremamente ética em relação ao governo, o que muitas vezes fazia com

que ela sofresse bastante devido à ação pouco ética de algum concorrente. No

entanto, tal postura não decorria apenas de um ideal, mas também se devia ao fato

de ser uma empresa de capital aberto, cotada na Bolsa de Valores, e que portanto,

devia apresentar ao seu Conselho de Administração lisura, polidez, educação, e

permanência de mercado.

Com relação à China, havia forte interação da Marcopolo com a representação do

governo brasileiro naquele país. Os interesses comuns na busca de informações e

conhecimento faziam com que houvesse cooperação entre as duas partes. Assim,

executivos da Marcopolo buscavam sempre acompanhar os representantes do

governo brasileiro, como os governadores dos Estados de São Paulo e Rio Grande

do Sul, o Ministro do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior e o Presidente

da República, em visitas oficiais àquele país, para aumentar a exposição e

melhorar a imagem do Brasil.

4.3. O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DA MARCOPOLO

O processo de internacionalização da Marcopolo pode ser dividido em três

movimentos distintos, mas complementares e em alguns aspectos concomitantes.

O primeiro se deu por meio das exportações, iniciadas no começo da década de

60. O segundo pode ser caracterizado como um movimento de internacionalização

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inward, ou seja, um movimento de internacionalização para dentro, no qual a

empresa trouxe do exterior técnicas de produção e tecnologias de produto.

Finalmente, o terceiro movimento adotado foi o investimento direto no exterior,

através de escritórios comerciais, subsidiárias de produção e licenciamento de

tecnologia. Este movimento, de acordo com a direção da empresa, resultaria na

adoção de uma estratégia de global sourcing, ou seja, em uma redução de custos

baseada em uma otimização da produção global através do aproveitamento das

vantagens oferecidas em cada um dos locais em que a empresa opera.

Para entender o processo de internacionalização da Marcopolo e a importância das

alianças estratégicas no processo de tomada de decisão da empresa, é importante

também compreender o lugar da Marcopolo na cadeia produtiva de ônibus. No

mercado mundial de ônibus, existem dois tipos de empresas operando: as

produtoras integradas, que fabricam carroceria, chassi e motor, e as produtoras de

carrocerias, que fabricam as carrocerias para serem posteriormente montadas em

chassi e motor. Portanto, a expansão de empresas produtoras de carrocerias,

como a Marcopolo é bastante dependente das produtoras integradas, uma vez que

as primeiras ocupam uma posição intermediária na cadeia produtiva. Em geral, o

cliente fornece o chassi e o motor sobre os quais a carroceria é montada, mas, em

outros casos, como o da DaimlerChrysler no México, é estabelecida uma joint-

venture, onde a produtora integrada fabrica o chassi e o motor, e utiliza a

carroceria de um terceiro, nesse caso da Marcopolo, para gerar o produto final.

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4.3.1. As Exportações

O movimento caracterizado pelas exportações começou em 1961, quando a

Marcopolo assinou seu primeiro contrato de exportação com a Compañia Omnibus

Pando, do Uruguai. Esta estratégia da empresa se deu de forma deliberada com a

intenção de ampliar os seus ganhos de escala e proteger-se das oscilações e

possível estagnação do mercado interno brasileiro. Desde então, as exportações

passaram a constituir parte muito significativa de suas receitas.

Em 1964, com o novo momento econômico pós-revolução, o qual estimulava as

exportações, foi formado através da Câmara de Indústria e Comércio, na época

chamada de Centro de Indústria Fabril, um consórcio das empresas exportadoras

de Caxias do Sul. Esse consórcio tinha como finalidade dar suporte especializado

às empresas para que estas não tivessem a necessidade de montar um

departamento de exportação. A Marcopolo se apoiou nesse consórcio, mas logo

depois montou seu próprio departamento de exportação, percebendo que o ônibus

era um produto de grande aceitação no mercado sul-americano.

Nesta época, o mercado sul-americano era abastecido por ônibus europeus, que

eram muito caros. Primeiro porque o volume do produto e a distância entre a

Europa e América do Sul davam ao frete valores muito altos; segundo, porque

ônibus são produzidos de forma muito artesanal e a mão de obra na Europa era

mais cara; e, terceiro, porque o produto europeu era projetado para rodar em

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estradas européias, as quais eram diferentes das estradas sul-americanas,

particularmente no que se refere à qualidade do asfalto e conservação. Portanto, a

Marcopolo possuía vantagens competitivas baseadas em mão de obra mais barata,

na melhor adequação de seu produto ao mercado e no fato de que o produto

poderia ser entregue ao cliente “rodando”. Outro fator gerador de vantagem

competitiva para a Marcopolo foi o desenvolvimento da indústria de chassis no

Brasil, com a instalação da Mercedes-Benz (atual DaimlerChrysler) em 1953, da

Scania em 1957 e da Volvo em 1979.

Uma vez identificadas estas vantagens, a empresa começou a procurar

representantes em cada um dos países da América do Sul, iniciando suas

exportações pelo Uruguai e seguindo pelo Paraguai, Chile, Peru, Bolívia, Equador

e Venezuela. O mercado argentino era muito fechado, e só foi penetrado em 1992

com a criação do Mercosul. Outro mercado que impôs sérias dificuldades de

penetração foi o colombiano, para o qual a empresa exportou de forma muito

modesta até a sua entrada por meio de investimento direto em 2001.

Desde o início de seu processo de exportação, a Marcopolo participou de várias

feiras internacionais, onde recebeu vários prêmios pelos produtos exibidos. Esse

foi mais um dos canais utilizados pela empresa para prospectar clientes e novos

mercados, e aumentar sua participação em concorrências internacionais.

Exemplos de algumas dessas feiras são: a Feira Internacional do Pacífico em

Lima, Peru (1969), a Feira Internacional de Santiago, Chile, a Brasil Export 73, em

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Bruxelas, Bélgica (1973) e a Feira de Transporte na Bélgica, considerada a maior

feira de ônibus no mundo.

O modelo de entrada baseado em representantes locais tinha como diferenciais a

proximidade com o cliente e custos de comissão mais baixos do que no caso de

revendedores e concessionárias. A DaimlerChrysler, que também exportava

ônibus, utilizava concessionárias, as quais eram comissionadas com

aproximadamente 20% das vendas, dado que estas tinham que manter estoques

de peças, prestar assistência técnica etc. A Marcopolo por sua vez, remunerava os

representantes apenas pela venda, com comissões entre 5% e 10%. Todo o

serviço pós venda era prestado diretamente pela empresa, fato este que a

aproximava ainda mais do cliente. Vale enfatizar que todos os representantes da

Marcopolo eram exclusivos, sendo proibida até a representação de linhas não

concorrentes. A única exceção vinha do Chile, pois o representante escolhido pela

empresa já possuía outro negócio desse tipo, e demonstrou sua capacidade em

administrar ambas as representações.

Em vários países para os quais a empresa exporta é adotado o formato CKD

(Completely Knocked Down), ou seja, as carrocerias são enviadas totalmente

desmontadas, em kits, e são montadas pelo parceiro local. A empresa adota ainda

os sistemas de MKD (Medium-Knocked Down), também conhecido como SKD

(Semi-Knocked Down), em que a carroceria é exportada em módulos, e PKD

(Partially Knocked Down) em que se exporta a carroceria montada, faltando

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apenas o motor e o chassi. O ônibus pode ainda ser enviado em formato CBU

(Completely Built Up), ou seja, totalmente montado.

A Marcopolo fez suas primeiras exportações para o mercado norte-americano em

1988, quando nomeou a empresa Stewart & Stevenson (S&S) seu distribuidor

exclusivo nos Estados Unidos. Seguindo as especificações sugeridas pela S&S, a

Marcopolo produziu e exportou, exclusivamente para o mercado norte-americano,

as primeiras unidades do seu microônibus S&S Shuttlebus, modelos S-25 e S-28,

os quais foram muito bem aceitos e projetaram o nome da empresa nos Estados

Unidos. Esse processo também rendeu à Marcopolo ganhos em conhecimento

tecnológico, através das normas americanas do Department of Transportation

(DOT).

Depois disso, em 1994, a crise do México e a conseqüente diminuição das

encomendas provenientes daquele mercado fizeram com que a Marcopolo, que já

estava associada à Dina – fabricante mexicana de chassis - desde 1992, buscasse

encomendas no mercado americano. Dessa forma, foram exportadas algumas

unidades de ônibus rodoviários com a marca Dina-Marcopolo para os Estados

Unidos. Entretanto, com a dissolução da aliança estratégica estabelecida entre as

duas empresas essas exportações foram descontinuadas.

Em 2005, dado que o México integrava a North American Free Trade Agreement

(NAFTA), e graças à aliança estabelecida com a DaimlerChrysler (ver na seção

4.3.6), uma empresa de forte atuação e extensa experiência no mercado

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americano, a direção da Marcopolo considerava que a empresa estava posicionada

de forma bastante favorável para retomar suas exportações para os Estados

Unidos.

No entanto, consideravam os executivos que a empresa precisava ser cautelosa

quanto a essas exportações, dadas algumas peculiaridades do mercado americano

como; a força do pensamento “Buy American”, que enfatizava que consumidores

americanos deveriam comprar produtos americanos, e a imposição de “Product

Liability”, que responsabilizava fortemente o produtor por acidentes envolvendo

seus produtos.

As exportações para o México foram iniciadas em 1992 através de uma parceria

com uma empresa local chamada Dina Autobuses, que apesar de ser, até então,

fabricante de ônibus e o maior fabricante de caminhões no México, era uma

empresa recém privatizada (1991), e com produtos ultrapassados. Dentro desta

parceria, a Dina fornecia os chassis e a Marcopolo as carrocerias. Assim, a

empresa exportou 400 ônibus completos, 3500 unidades em CKD, e transferiu

tecnologia, técnicas de montagem, peças e componentes. Esta parceria fora

firmada inicialmente por um período de 10 anos, mas, em 1997, devido a

problemas e mudanças conjunturais, esta aliança foi desfeita e a Marcopolo

passou a montar ônibus localmente e de forma independente.

As primeiras exportações da Marcopolo para países africanos foram para Angola,

Nigéria e Moçambique, e foram feitas no formato CKD. No entanto, com o fim do

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apartheid, a África do Sul surgiu como um mercado bastante interessante, dadas

as suas proporções e forte influência no continente africano. Lá, importavam-se

ônibus europeus, de boa qualidade, porém caros e pouco compatíveis com as

condições locais. Então, após um trabalho de análise de mercado e o

estabelecimento de dois representantes, as exportações foram iniciadas em 1995.

Posteriormente, no ano 2000 a empresa montou uma fábrica própria e passou a

produzir ônibus localmente.

Em 2005, a empresa exportava para mais de oitenta países (ver anexo 1) e o

percentual das exportações sobre o faturamento total chegava a aproximadamente

50%. A empresa acreditava deter 5% do mercado mundial.

4.3.2. O Processo de Internacionalização Inward

O segundo movimento do processo de internacionalização da Marcopolo foi

caracterizado pela busca, no exterior, de técnicas de produção, tecnologias de

produto e padrões da indústria automobilística. Ele foi iniciado por meio de visitas

ao Japão durante a década de 80, posteriormente, continuado nos Estados Unidos,

através de exportações e de um escritório comercial, e na Europa, por meio de sua

fábrica em Portugal.

As visitas às operações de fábricas japonesas com o intuito de observar e aprender

suas técnicas e filosofias de produção, processo que ficou conhecido

posteriormente como “japonização”, foram iniciadas em 1986 pelo presidente da

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empresa, Paulo Bellini, e pelo diretor industrial, Cláudio Souza Gomes. Durante

esta primeira viagem, os dois visitaram treze empresas e ficaram extremamente

bem impressionados com a limpeza das fábricas, a organização das células de

manufatura e o entrosamento dos funcionários. Em 1987, foi feita uma segunda

viagem por outros oito dirigentes da empresa, dentre os quais o vice-presidente da

empresa, José Antônio Fernandes Martins.

Estas viagens, acompanhadas de diversos cursos ministrados por especialistas,

inspiraram na empresa mudanças profundas em seus processos e na filosofia de

produção. Tais mudanças deram origem ao chamado “Sistema Marcopolo”,

definido na empresa como, “um conjunto de técnicas que objetiva a produção com

qualidade, num bom ambiente de trabalho, por pessoas satisfeitas”. Dentro deste

processo, os princípios básicos eram a filosofia SUMAM (Sugestões de

Melhoramentos do Ambiente Marcopolo) e os elementos do SIMPS (Sistema

Integrado Marcopolo de Produção Solidária).

Os objetivos da filosofia SUMAM eram aprimorar o local e condições de trabalho,

baseado no conjunto dos 5 “S” japoneses, que encontravam-se relacionados ao

comportamento dos empregados na produção. São eles: Seiri (Organização),

Seiton (Ordem), Seiso (Limpeza), Seiketsu (Conservação) e Shisuke (Obediência).

O processo de aprimoramento era feito através da formação de pequenos grupos

espontâneos, onde os integrantes se uniam por afinidade, mas que, de preferência,

fossem do mesmo setor ou desempenhassem funções relacionadas, para

identificar problemas e buscar soluções.

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O sistema SIMPS buscava motivar o trabalho, otimizar o fluxo de materiais, evitar

desperdícios e diminuir os tempos dos processos produtivos. Dentro dessa idéia, a

empresa buscou aliar a implantação da técnica de Kanban com a produção Just in

Time. Com isso, diminuíram-se drasticamente o desperdício, nível de estoques,

custos de movimentação e armazenagem. Reduziu-se também o ciclo de

produção de uma média de 30, para 7 dias e produziu-se o dobro utilizando-se a

metade do espaço.

Vale ressaltar que a iniciativa dos dirigentes da empresa de visitarem o Japão em

busca de conhecimento é um dos primeiros fortes indicadores de uma cultura

empresarial voltada para a internacionalização, pouco etnocêntrica e depunha

muito favoravelmente em relação à visão estratégica de seus dirigentes, visão esta

consoante com a missão definida pela empresa da seguinte forma:

“A Marcopolo tem como missão oferecer soluções, bens e serviços para

satisfazer clientes e usuários, com tecnologia e performance, remunerar

adequadamente o investimento, atuando para que seja priorizado o

transporte coletivo de passageiros e contribuindo para a melhoria da

qualidade de vida dos colaboradores e da sociedade”.

A presença no mercado americano, iniciada em 1988 com a exportação dos

microônibus S&S Shuttlebus, e continuada posteriormente com as exportações em

parceria com a Dina, do México, e o estabelecimento de um escritório comercial

em Miami (ver seção 4.3.9), também foi muito importante para o processo de

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internacionalização inward da empresa. Foi através dessa presença que a

empresa teve acesso aos padrões do Department of Transportation (DOT) dos

Estados Unidos, os quais, devido a seu alto grau de exigência, servem como

parâmetros para a indústria automobilística em diversos mercados internacionais.

Este processo de adoção dos padrões do DOT é conhecido na empresa como

Deotização.

A entrada da Marcopolo em Portugal se deu após um estudo de prospecção do

Mercado Comum Europeu, para onde a empresa já exportava, mas desejava

estabelecer uma presença mais efetiva, visando ter acesso a tecnologias e aos

padrões adotados para a produção de ônibus, Economic Commission for Europe

Standards (ECE). Por intermédio de um serviço externo de consultoria

especializada, a Marcopolo identificou em Portugal a sua porta de entrada para

aquele mercado.

O início das operações se deu em 1990 através de uma associação com o grupo

português EVICAR, localizado na cidade de Coimbra. Nessa associação, a

Marcopolo adquiriu 76% das operações e assumiu o controle administrativo da

fábrica. Assim foi fundada a Marcopolo Indústria de Carrocerias S.A. O parceiro

português era também concessionário de uma fábrica holandesa de chassis, e

dessa forma ficou responsável tanto pela área comercial da empresa, quanto pelo

fornecimento de chassis. Já em 1992, a Marcopolo adquiriu os 24% restantes da

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111

empresa e substituiu na parte comercial o antigo parceiro português, mantendo-o

apenas como um dos fornecedores de chassis para a fábrica.

O parceiro português era pequeno, com uma capacidade de produção de apenas

250 ônibus por ano, mas atendeu bem aos objetivos estratégicos da Marcopolo.

Através dele, a empresa estabeleceu sua presença no mercado europeu e passou

a ter acesso a tecnologias como componentes mecânicos para o ônibus double-

deck e para a produção de ônibus de piso baixo “low floor”. Esse acesso deu à

Marcopolo a força necessária para pressionar os fabricantes brasileiros de chassis

a se atualizarem. Outras tecnologias trazidas pela empresa foram refrigeração

(bares, refrigeradores, etc), TV, calefação, e com isso, a empresa tem buscado

desenvolver seus fornecedores no Brasil, para que esses possam fabricar tais

componentes domesticamente. Muitas vezes, no esforço de se consolidar no

mercado doméstico e se qualificar para exportação, a Marcopolo buscou se

modernizar em conjunto com seus fornecedores. Assim, ela aproximava o

fabricante europeu do nacional para que esses entrassem em acordo, produzissem

e fornecessem para a empresa. A tecnologia de calefação, por exemplo, foi de

grande importância para que a Marcopolo vendesse ônibus para o Chile, que com

temperaturas externas de 200 C negativos, precisava de um sistema muito

eficiente.

Além dos padrões ECE e DOT, a empresa identificou também que, para atender às

exigências de diversos mercados externos, era necessário buscar as certificações

pelas normas ISO. Com isso, a empresa obteve as certificações ISO 9002, em

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112

1996, e ISO 9001, em 1997, ambas pelo órgão Det Norske Veritas. Recebeu

também a cerificação ISO 14000 referente à preservação do meio ambiente.

4.3.3. O Investimento Direto no Exterior (FDI)

Dada à sua forte atuação na atividade exportadora, a empresa começou a

perceber oportunidades interessantes e a estudar a sua estratégia em relação ao

mercado internacional. Nas palavras da gerência executiva da empresa, “as

exportações estavam indo bem, mas a Marcopolo queria ir mais longe”. Isso

impulsionou o terceiro movimento do processo de internacionalização, que diz

respeito ao investimento direto no exterior (IDE), através da instalação física da

Marcopolo em outros países.

Outro fator motivador deste movimento foi justamente a busca pela proximidade

com o cliente, proximidade esta que permitiu que a empresa não só pudesse tratar

seus clientes de maneira diferenciada, mas que também integrasse vários de seus

processos, aumentasse seus ganhos de escala, reduzisse seus custos, e levasse

para o exterior competências essenciais geradoras de vantagem competitiva como:

processo produtivo competitivo, conhecimento de mercado, adaptabilidade,

capacidade de aprendizagem e resposta rápida à demanda.

Começou-se então um estudo de prospecção de novos mercados baseado em

fatores como a intensidade da atividade exportadora para aquele determinado

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113

mercado, os custos de exportação em comparação aos custos de implantação de

uma operação local, a distância geográfica assim com a distância cultural do

mercado, o idioma, o grau de desenvolvimento científico e tecnológico do país e a

sua vocação industrial (disponibilidade de matéria prima e produtos industrializados

de base como alumínio, vidro e borracha), o posicionamento estratégico do

mercado em relação a outros mercados em potencial, as políticas dos governos

locais, a existência de concorrentes e de potenciais parceiros.

Dados esses fatores, pode-se dizer que o modo de atuação da empresa variava

bastante nos diversos países em que se encontrava presente. Em países cujo

mercado comportava preços mais altos, a empresa podia optar por continuar

exportando o produto final completo (CBU), enquanto em países mais sensíveis a

preço, a empresa tinha que buscar reduzir ao máximo o custo de exportação,

optando por exportar o produto em PKD, MKD, CKD, ou, finalmente, a empresa

podia optar por produzir os ônibus e componentes no próprio mercado estrangeiro.

Uma das maiores restrições enfrentadas pela Marcopolo na fabricação de ônibus

em mercados externos era a disponibilidade de fornecedores locais. Para que a

empresa pudesse trabalhar com fornecedores locais, era importante que esses

estivessem de acordo com os padrões de qualidade e confiabilidade exigidos pela

Marcopolo. No entanto, parcerias desse tipo levavam tempo para serem

construídas, e, por isso, a Marcopolo tendia a iniciar as operações através da

exportação de seus próprios componentes (CKD), e conforme os relacionamentos

com os fornecedores locais amadureciam, a empresa ia “nacionalizando” o seu

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produto final. Ou seja, quanto mais fornecedores mexicanos fossem utilizados nas

operações da Marcopolo no México, mais “mexicanizado” se tornava o ônibus.

De acordo com José Martins, vice-presidente da empresa, incentivos fiscais por

parte dos governos dos países-alvo também exercem forte influência sobre a forma

de atuação da empresa. Primeiro incentivando a montagem no país através de

joint-ventures com empresas nacionais:

“O imposto para importação de ônibus completo é 25%, por exemplo, aí o

governo chama e diz: ‘Escuta, se tu montares esse ônibus aqui, eu baixo

esse imposto para 12%’. Então, aumenta o teu grau de competitividade, aí

começas a estudar a possibilidade de mandar o teu ônibus em CKD ou

MKD... Para isso, tens que buscar uma fábrica que já opera nesse país e

fazer um acordo de tecnologia, onde mandas as tuas peças desmontadas e

armas o teu ônibus por lá.”

Depois, incentivando a nacionalização do produto:

“O governo então te chama e te diz: ‘Fulano, eu preciso gerar mais emprego

no meu país. Então, essas peças de CKD que tu estás fazendo, vamos

começar a fazer um programa de nacionalização... Se fizeres isso, eu te dou

mais vantagens. Eu baixo o imposto do CKD de 12% para 2,5 a 3%’. E aí te

tornas mais competitivo e começas a desenvolver uma fabricação local, de

Local Content. “

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Os mercados identificados, nos quais a empresa se instalou inicialmente foram:

Portugal, Argentina e México e, posteriormente, Colômbia, África do Sul e China.

Outros mercados como Índia e Rússia ainda estavam sendo estudados, em 2005,

para investimentos diretos.

É interessante notar que estes mercados alvo, tinham, com exceção de Portugal, a

característica comum de pertencerem a países com economias emergentes. Isso

se devia ao fato de a empresa acreditar que o seu produto era muito adequado a

países com populações menos favorecidas. De acordo com a gerência executiva

da empresa, o transporte coletivo, em especial o ônibus, é uma forma mais barata

e acessível para pessoas de baixa renda se locomoverem.

4.3.4. O Mercado de Portugal

Como já fora mencionado, a entrada em Portugal teve como principal objetivo

estabelecer uma presença estratégica no mercado europeu, apelidado pela

gerência executiva da empresa de “Meca dos ônibus”. A unidade de produção lá

instalada encontrava-se localizada na cidade de Coimbra, era pequena, e tinha

capacidade para produzir apenas 250 ônibus por ano, mas atuava “como um

radar”, sentindo o mercado, buscando informações e marcando presença.

O mercado europeu era visto pela direção como pesado e competitivo, com

produtos de alto valor agregado e, principalmente, com tecnologia muito avançada.

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Era, portanto, extremamente interessante para a Marcopolo estar presente, não só

pelo aprendizado, mas também para aproveitar oportunidades que se

apresentassem. Esta entrada em Portugal também fazia com que fosse possível

vislumbrar o norte europeu e do norte da África.

De acordo com a gerência executiva da Marcopolo, no que diz respeito à

quantidade, a empresa não tinha forte expressão nesse mercado, produzindo em

média apenas de 15 a 20 unidades mensais. No entanto, ela já tinha “uma bela

expressão de produto”, de acordo os padrões de qualidade exigidos naquele

mercado, ou seja, um produto configurado para as condições européias.

Vale mencionar também que, mesmo produzindo ônibus dentro dos padrões ECE,

a Marcopolo mantinha duas vantagens substanciais de custos em relação ao

mercado europeu. Primeiro, enquanto os ônibus na Europa eram produzidos de

maneira quase artesanal, a Marcopolo trabalhava com um sistema de produção

sofisticado e de baixo custo, e, segundo, a mão de obra européia era de cinco a

oito vezes mais cara do que no Brasil. No entanto, o mercado europeu era

bastante estável, e, portanto, de difícil acesso. Deste modo, acredita-se que para

que a Marcopolo se tornasse realmente competitiva no mercado europeu, seriam

necessários pelo menos mais cinco anos de atuação. A unidade de Portugal era

vista, portanto, como uma semente para futuras iniciativas na Europa.

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117

4.3.5. O Mercado da Argentina

Em seus tempos áureos, o mercado argentino atraiu muito a atenção da

Marcopolo, dado que, com a criação do Mercosul em 1992, a Argentina passou a

constituir parte significativa das exportações da empresa. A proximidade geográfica

da Argentina, assim como as várias similaridades culturais existentes com o Brasil,

ajudavam a aumentar a atratividade desse mercado.

A competição local era composta de produtores com uma gama restrita de

produtos, o que dava à Marcopolo a oportunidade para atuar livremente em

segmentos ainda não ocupados pela concorrência. No entanto, barreiras tarifárias

e não tarifárias, impostas às exportações da empresa, faziam com que alguns dos

seus produtos, mesmo sendo de melhor qualidade, não fossem tão competitivos

quanto aqueles de produtores locais. A principal barreira não tarifária dizia respeito

ao frete. Com relação aos ônibus rodoviários, a exportação não era problema, pois

o custo de transporte, pelo fato de o produto ser entregue “rodando”, representava

um percentual pequeno sobre o custo total do ônibus. Entretanto, no caso de

ônibus urbanos, o custo de transporte representava um percentual muito maior

sobre o valor total do produto, tornando inviável a competição no mercado

argentino, pois o preço final do ônibus Marcopolo ficava bem acima do da

concorrência.

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Foi para resolver esse problema que surgiu a idéia de estabelecer uma unidade de

produção na Argentina. Assim, em 1997, a Marcopolo comprou, em leilão, uma

fábrica desativada localizada na cidade de Rio Cuarto, na Província de Córdoba.

Apesar de a empresa ter identificado a necessidade de se instalar na Argentina, o

investimento na fábrica foi feito de forma menos deliberada e mais oportunista, pois

as condições para o fechamento do negócio foram extremamente favoráveis

devido à localização e ao preço. A fábrica foi comprada por um preço considerado

“bastante razoável” e financiada em quatro anos, na época em que havia paridade

entre o real e o dólar. Quanto à localização da fábrica, essa era bastante favorável

porque, primeiro, havia uma forte concentração da indústria automobilística em

Córdoba; segundo, ela ficava fora do eixo de Buenos Aires, o que significava

maiores incentivos como custos e encargos sobre mão de obra mais baixos; e,

finalmente, essa localização permitia irradiação para os outros países do Mercosul,

e para o Chile. Assim foi fundada a Marcopolo Latinoamérica.

A capacidade instalada na Argentina era de 1250 ônibus e microônibus por ano.

No entanto, a crise econômica que assolou o país desde 2002 gerou diversos

problemas para a empresa, dentre os quais o da inadimplência, sendo difícil

encontrar clientes com real capacidade de pagar pelos seus produtos. Isso fez

com que a Marcopolo desse uma freada em suas operações no país, deixando a

fábrica em um estado de hibernação. Contudo, a recuperação da economia

argentina, fez com que a Marcopolo voltasse a vislumbrar uma retomada de suas

operações naquele mercado para o ano de 2006. De acordo com a gerência

executiva da empresa, a reabertura da fábrica era certa, até porque era uma

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necessidade para o fornecimento de ônibus urbanos para os mercados do

Mercosul. Mesmo assim, isso deveria esperar, pois a empresa precisava estudar o

momento certo de agir e dimensionar corretamente a capacidade da operação.

4.3.6. O Mercado do México

O mercado mexicano atraiu a Marcopolo por alguns dos mesmos motivos

existentes no caso argentino. Contudo, de acordo com a gerência executiva da

empresa, a proximidade cultural percebida gerou uma atratividade ainda maior.

Além dessa grande afinidade cultural, o México era um grande alvo exportador,

dadas as dimensões do seu mercado, composto por uma população de

aproximadamente 100 milhões de habitantes e uma demanda de 2500 a 3000

ônibus por ano.

A concorrência da Marcopolo no México não era expressiva, dado que as

empresas incumbentes eram de pequeno porte e pouco competitivas. A

concorrência só se tornava mais acirrada nos casos em que empresas estrangeiras

se instalavam ou formavam joint-ventures com empresas locais.

A localização da empresa no México foi outro fator considerado estratégico, pois

gerava a possibilidade de criação de um pólo para o atendimento de outros

mercados. De lá era possível atender aos mercados da América Central, Caribe e,

possivelmente, aos mercados dos Estados Unidos e Canadá. A idéia de entrar

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nestes mercados da América do Norte através do México sempre esteve presente

na estratégia internacional da Marcopolo.

A Marcopolo iniciou suas atividades no México em 1992 através de uma aliança

com a Dina Autobuses, empresa mexicana fabricante de ônibus e líder nacional na

produção de caminhões. A Dina havia sido privatizada em 1991 e buscava um

parceiro que pudesse ajudá-la a modernizar-se e a aumentar sua competitividade.

Assim, em 1992, essas empresas estabeleceram uma aliança estratégica para

montagem e comercialização de ônibus no México e a Marcopolo começou a

exportação de ônibus completos (CBU) e carrocerias em CKD para aquele

mercado.

A aliança foi firmada inicialmente por um período de 10 anos, no entanto,

problemas começaram a surgir com a crise do México iniciada em 1994, também

conhecida como “Tequilaço”. Com a crise, o país esteve praticamente quebrado

por aproximadamente quatro ou cinco anos, e a empresa teve que reduzir bastante

a sua atuação. A situação no México só começou a melhorar em 1997 e 1998,

mas mesmo assim, essa recuperação se deu de forma lenta.

Após o “Tequilaço”, ficou claro o desalinhamento estratégico entre a Marcopolo e a

Dina Autobuses. De acordo com a gerência executiva da empresa, seus principais

fatores de sucesso no México foram a qualidade de seus produtos e de seu

atendimento, características que a estrela da Marcopolo passou a simbolizar.

Porém, a imagem dos serviços e atendimento prestados pela Dina era

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diametralmente oposta à da Marcopolo. Portanto, em 1997, a aliança estratégica

entre as duas empresas foi desfeita.

Com os recursos obtidos na justiça através de um acordo estabelecido com a Dina

durante o processo de rompimento, a Marcopolo fundou a Polomex, uma pequena

fábrica na cidade de Aguas Calientes, com capacidade para montar entre 4 e 5

ônibus por dia. Inicialmente, a produção dos ônibus era feita a partir da importação

em PKD de carrocerias fabricadas Brasil, as quais eram montadas sobre chassis

da DaimlerChrysler.

Em 1998, a DaimlerChrysler, que já tinha fortíssima atuação no México, buscava

um parceiro, fabricante de carrocerias, para formar uma aliança estratégica

naquele mercado, e então convidou a Marcopolo. Ao estabelecerem a parceria, a

DaimlerChrysler adquiriu 26% da Polomex e assumiu o controle das vendas. Por

sua vez, a Marcopolo fechou a sua fábrica em Aguas Calientes e transferiu suas

operações para Monterey, onde a DaimlerChrysler já estava instalada. O governo

mexicano autorizou a parceria, mas impôs a internalização de parte da produção

através de um plano de nacionalização, ou seja, a produção deveria migrar

gradualmente de PKD para CKD e a empresa Polomex deveria utilizar produtos

locais. Para proteger seus componentes estratégicos de tecnologia própria, a

Marcopolo adotou uma política de verticalização. Portanto, seguindo essa

estratégia, a empresa montou uma fábrica MVC no México para produzir esses

componentes localmente. Em 2002 a empresa produziu aproximadamente 1600

ônibus, nacionalizados em 35%.

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Nos anos subseqüentes o mercado mexicano ampliou seu potencial, graças ao

desempenho favorável de sua economia, cujo PIB superou o do Brasil, e ao forte

crescimento do transporte urbano. Além disso, sua participação no NAFTA, que

inclui os Estados Unidos e Canadá, dava às empresas lá localizadas melhor

oportunidade de entrada nesses mercados.

4.3.7. O Mercado da Colômbia

Com a entrada no mercado argentino, a Marcopolo passou a cobrir toda a região

do Mercosul, enquanto que com a entrada no México, a empresa passou a atender

também à América Central e a ter acesso a potenciais mercados da América do

Norte. Isso deixou um vácuo no norte da América do Sul, ou seja, no atendimento

a Colômbia, Venezuela, Peru, Equador e Panamá. Percebendo essa lacuna,

devido à sua localização estratégica, foi instalada uma unidade de produção na

cidade de Bogotá, Colômbia. Essa fábrica, batizada de Superpolo S.A., foi

montada através do estabelecimento de uma joint-venture com a Fanalca, uma

empresa fabricante de ônibus local.

A Superpolo dispunha de capacidade para produzir dois mil ônibus por ano e deu

início às suas atividades em dezembro de 2001, produzindo ônibus urbanos,

micros e intermunicipais. A Marcopolo fornecia a tecnologia de montagem, ônibus

em CKD e os componentes para ônibus articulado, mini e microônibus. Em 2005,

os ônibus produzidos nesta unidade já eram 40% nacionalizados.

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Outro forte atrativo do mercado colombiano foi o projeto Transmilênio, um projeto

do governo que visava urbanizar as cidades do país. Esse projeto fazia parte do

plano nacional de transportes, considerado pela empresa como um dos melhores

do mundo, e que gerou a necessidade de se produzir uma quantidade que podia

variar de vinte a quarenta ônibus por mês.

4.3.8. O Mercado Africano

Apesar de a África do Sul não fazer parte de uma zona de comércio, sua forte

influência econômica na metade sul do continente africano foi um dos fatores de

sucesso para as exportações da Marcopolo, iniciadas em 1995, e um dos principais

atrativos ao investimento direto por parte da empresa. Ao final do ano 2000, a

Marcopolo comprou a fábrica da Volvo, situada na cidade de Johanesburgo, e

fundou a Marcopolo South Africa PTY Ltd. Essa fábrica, com capacidade para

produzir 700 carrocerias por ano, iniciou suas atividades em novembro de 2001.

Nesse mercado, a Marcopolo trabalhava através de parcerias com as grandes

fabricantes de chassis, como a Volvo e a Scania. Os ônibus rodoviários eram

exportados para lá prontos e em PKD enquanto os urbanos eram exportados em

MKD e CKD.

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4.3.9. Escritórios Comerciais

A Marcopolo criou também alguns escritórios comerciais em países considerados

estratégicos. Em 2005, estes escritórios encontravam-se na Colômbia, no Peru, no

México, onde serviam de apoio às operações presentes naqueles países. Outros

escritórios foram abertos em Dubai, nos Emirados Árabes, em Miami, nos Estados

Unidos e em Changzhou, na China como o primeiro passo na criação de

relacionamentos, para que fossem então abertas novas fronteiras. Os escritórios

eram responsáveis pelas atividades de vendas internacionais, assistência técnica e

reconhecimento da região, através da coleta de informações, e das relações

estabelecidas com o mercado localmente.

Nos Emirados Árabes, o escritório foi aberto em 2002 servia para auxiliar nas

exportações feitas a partir da África, da Europa e do Brasil.

Nos Estados Unidos, o escritório, aberto em 2000, analisava uma possível

retomada das exportações para aquele mercado, a partir do México. A empresa já

dispunha de modelos em fase de homologação. O escritório era também

responsável pela realização de estudos sobre aspectos importantes como

distribuição, que no caso dos Estados Unidos era feita por meio de

concessionários, que atuavam como intermediários.

O escritório comercial localizado na China será discutido mais adiante.

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4.3.10. Global Sourcing

O processo de internacionalização da Marcopolo, resumido a seguir por José

Martins, teve como objetivo inicial a expansão da base de consumidores da

empresa. Posteriormente, com o estabelecimento da empresa em vários

mercados estrangeiros, a empresa buscava em 2005 otimizar seus processos

produtivos por meio de uma estratégia de global sourcing para aumentar sua

competitividade no âmbito global.

“Primeiro, começas a exportar o CBU completo. Depois, começas a exportar

o CKD... A etapa seguinte dessa internacionalização do CKD é o Local

Content. O Local Content é a nacionalização progressiva que apresentas ao

governo para ter benesses de imposto de importação. Feito isso, começa a

última etapa, que é o global sourcing.”

O intuito dessa estratégia seria avaliar que fábricas, em que locais, certos

componentes poderiam ser produzidos de forma mais barata. Observou José

Martins:

“Eu não posso ter uma fabrica de poltronas em Caxias, outra na China, outra

na Índia, outra no México,... nem vou poder exportar minha poltrona do

Brasil, porque o preço na China é melhor... Aí tu vais estudar. De todo esse

mapa mundi que tens nas mãos, quem é que faz a poltrona mais barata? É

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a China? Então fechas todas as tuas fábricas de poltronas e a China passa

a abastecer todas as tuas fábricas de ônibus.”

Martins também colocou que, em alguns casos, a empresa poderia optar por não

fechar totalmente as operações em um dado país, deixando apenas a capacidade

instalada suficiente para suprir a fábrica local em eventualidades.

O global sourcing era percebido, então, pela empresa como o ápice da

internacionalização. Martins comparou a estratégia da empresa com o que vinha

sendo feito na indústria automobilística. Ele explicou que uma vez que as

tecnologias nessa indústria tendiam a se tornar cada vez mais similares, a

competição seria cada vez mais baseada na estratégia de preços e serviços

prestados pela empresa. Ele observou:

“É um negócio que vai mudar muito e, para te tornares competitivo, tens que

estar internacionalizado ou mundializado, seja lá como for, porque o que vai

resolver o problema não vai ser mais só tecnologia. À tecnologia, todo

mundo tem acesso. Vai ser preço. Quem chegar primeiro nisso é que vai

levar.

“É aquilo que eu falei: hoje em dia os produtos não mais vão ser vendidos

por aquilo que o produto é, mas pela maneira como se faz o merchandising

do produto” [referindo-se à importância de produtos tailor-made e soluções

por meio de sistemas de transporte].

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Portanto, produzir de forma mais eficiente e com menor custo seria justamente o

intuito dessa estratégia.

“Um jogo de poltronas, que eu faço no Brasil, custa seis mil dólares, será

que eu posso fazer na China por quatro mil? Se eu chegar a esta

conclusão, que eu posso fazer na China ou na Índia ou na Rússia por quatro

mil, sem dúvida nenhuma a Marcopolo do Brasil vai passar a fabricar lá.”

A China atraiu o interesse da Marcopolo por oferecer vantagens significativas de

custo, podendo dessa forma assumir um papel importante na estratégia global da

empresa.

“Eles [os produtores chineses de ônibus] venderam aqui no Chile um ônibus

por 45 mil dólares, quando o nosso similar custa 65 mil. Existe algum

milagre? Deve ter. Então, nós já estamos trabalhando na China e vamos

provavelmente iniciar uma operação na China.

Essa otimização das operações globais por meio do aproveitamento de vantagens

locais havia se tornado o esquema estratégico de médio prazo da empresa. No

entanto, os dirigentes da empresa não viam isso como uma simples escolha e sim

como um imperativo de mercado, como indicou José Martins:

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“E, veja bem, isso aí não é uma opção da Marcopolo. Eu estou sentindo que

eu estou sendo empurrado para isso. Ou eu faço isso no grupo ou o chinês

e o indiano, mais cedo ou mais tarde, vão acabar com a gente.”

Assim, a empresa perecbia que dentro de pouco tempo as operações

internacionais da Marcopolo deveriam tornar-se maiores que as nacionais.

“Com todo esse nosso plano de internacionalização, daqui a dois, três anos,

provavelmente, as nossas operações no exterior vão ser bem maiores do

que as brasileiras.”

Por outro lado, o Brasil deveria continuar desempenhando um papel chave nesse

processo, no que dizia respeito ao desenvolvimento de tecnologia.

“Todo o engineering department e o branding da empresa é feito em Caxias

do Sul. As outras todas são empresas sem cabeça, simplesmente

operadoras.”

O que podia acontecer era que em certos mercados, onde houvesse a

necessidade de adaptação dos produtos existentes, fosse instalado um pequeno

departamento de engenharia.

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4.4. MUDANÇAS DA MARCOPOLO EM DECORRÊNCIA DA ATUAÇÃO INTERNACIONAL

Devido ao processo de internacionalização, a Marcopolo sofreu algumas mudanças

tanto no que diz respeito a produto, processos, projetos, e à forma de tratar o

design, quanto na sua própria cultura. Segundo a gerência executiva da empresa,

com a internacionalização, a empresa teve que adequar as questões normativas e

culturais, adaptando assim o seu modus operandi.

Com a internacionalização inward, a Marcopolo adotou diversas técnicas e

filosofias de produção, como o SUMAM e o SIMPS que revolucionaram a sua

forma de fabricar ônibus e o seu desempenho. Foram adotados, também, os

padrões americanos (DOT) e europeus (ECE). Com isto, pode-se dizer que as

exigências da industria automobilística foram incorporadas ao processo de

produção de ônibus. Esses padrões, que dizem respeito a peso, ergonomia,

conforto térmico e sonoro, e principalmente, a questões de segurança como

tombamento e flamabilidade, passaram a servir hoje como parâmetros para seus

produtos em todo o mundo. É verdade que, embora cada país ou região tivesse as

suas próprias normas e padrões, o nível de exigência dos padrões DOT e ECE era

tão elevado que os produtos que seguiam tais padrões eram aceitos em

praticamente qualquer lugar.

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130

A atuação em mercados internacionais fez com que se tornassem necessárias

também certificações ISO, que foram obtidas pela empresa por meio do

atendimento das normas impostas para certificação.

As mudanças culturais diziam respeito, principalmente, a uma redução da visão

etnocêntrica da empresa, inicialmente mais voltada para a realidade brasileira, para

buscar a compreensão e a aceitação de uma pluralidade de realidades. Esse

entendimento de novas culturas, mercados e suas necessidades específicas,

implicou por sua vez em maior capacidade de adaptação por parte da empresa.

Essas necessidades iam desde grandes diferenças climáticas até hábitos

corriqueiros como tomar chá ou café durante as viagens. Entender o perfil dos

consumidores em cada um dos mercados internacionais em que a Marcopolo

atuava, tornou-se uma tarefa constante dos dirigentes da empresa, e uma

obrigação com vistas a manter sua competitividade.

Outra mudança cultural da empresa encontrava-se relacionada a sua percepção de

risco, dado que ela precisava estar atenta às variações no mercado internacional.

Portanto, foram estabelecidos mecanismos de hedge para proteger a empresa em

suas negociações internacionais.

A Marcopolo passou também a se preocupar menos com a simples produção de

ônibus e passou a prestar mais atenção a “sistemas de transporte”, pois uma das

críticas feitas pela empresa às suas concorrentes em mercados emergentes é que

elas trabalham simplesmente através da incrementação – aprimorando seus

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produtos existentes – e não através da inovação. Além disso, a tecnologia desses

concorrentes era voltada apenas para “levar gente”, enquanto a Marcopolo

buscava trabalhar com uma visão voltada para o desenvolvimento de sistemas de

transporte. O primeiro exemplo disso foi a implantação do sistema de transporte

integrado (STI) de Curitiba, uma iniciativa em que a empresa teve uma participação

ativa junto à prefeitura da cidade, e que posteriormente foi adotado na Colômbia,

devendo ser implementado na China e em alguns lugares da Europa. Outro

exemplo era o do VLP, um produto especial, criado para servir a um sistema

diferenciado de transporte na cidade de São Paulo.

Houve ainda mudanças no sistema de gestão, passando a haver maior abertura na

empresa, o que gerou um ambiente propício a uma administração mais

participativa. Quanto aos responsáveis pelo processo de internacionalização, os

“desbravadores”, a alta direção proporcionou-lhes firme apoio, considerando-os

profissionais raros, que deveriam ser tratados com cuidado e atenção. O ambiente

interno da empresa tornou-se multicultural, incluindo pessoas de várias origens, e

incentivado através de um sistema de treinamento de pessoal baseado em

intercâmbio cultural. Este sistema permitiu que não só o pessoal da empresa

conhecesse os mercados e operações externos, mas que os funcionários de fora

fossem expostos às origens e à cultura da Marcopolo.

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4.5. MARCOPOLO NA CHINA

O esforço de internacionalização da Marcopolo para a China era parte de uma

estratégia que ambicionava a entrada da empresa nos diversos mercados

potenciais do mundo, especialmente os mercados emergentes. Países como Índia,

Rússia, Indonésia, Malásia e Japão também faziam parte deste plano estratégico.

Apesar de a China ter sido vista como um desafio extremamente complicado,

devido à percepção que se tinha de um país fechado, bloqueado aos estrangeiros

e fora da OMC, acreditava-se, dentro da Marcopolo, que estabelecer uma presença

naquele mercado era imperativo. Tal necessidade pode ser notada nas palavras

de José Martins:

“você tem concentrado, naquela parte do extremo oriente (China, Índia,

Indonésia, Tailândia, Malásia, Filipinas, Burma, Singapura etc), metade da

população mundial... e metade da população mundial que utiliza ônibus,

enquanto nós estamos mais próximos da área onde não se utiliza ônibus,

que é Estados Unidos, que não usa ônibus, e a Europa, que usa muito

pouco.”

Começou-se a discutir o “negócio China” em meados da década de 90, e nessa

época, o assunto ainda não era digno de muita atenção dentro da empresa. No

entanto, uma vez que a importância deste movimento foi reconhecida e a empresa

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tomou a decisão de entrar no mercado chinês, tornou-se necessário definir de que

maneira essa decisão seria implementada. A postura da Marcopolo em seu

processo de internacionalização como um todo pode ser caracterizado como de

uma empresa desbravadora e, na China, isso não foi diferente.

O processo de reconhecimento do mercado foi iniciado em 1997, com uma visita

feita pelo presidente da empresa, Paulo Bellini. Até então, a empresa não tinha

nenhuma relação com a China, nem mesmo como exportadora. Posteriormente, o

projeto ficou a cargo de Paulo José Guarese, Gerente Executivo de Projetos

Especiais. Esse processo de prospecção incluiu pesquisas, viagens, mapeamento

dos processos e, posteriormente, discussões baseadas nas informações adquiridas

com os diversos núcleos da empresa, exportação, corporativo, negócios

internacionais, recursos humanos etc.

Isso levou aproximadamente dois anos, e a empresa precisou contar com inúmeras

fontes de informação para que a prospecção fosse desenvolvida da forma

desejada. Tais fontes incluíram relações com grandes empresas como Scania,

Volvo, DaimlerChrysler, alguns fornecedores internacionais de atuação realmente

globalizada, câmaras de comércio etc.

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4.5.1. O Modo de Entrada

A oportunidade de entrada da Marcopolo no mercado chinês veio através da Iveco,

uma empresa italiana produtora de chassis. A Iveco havia se instalado na China

quinze anos antes, através de uma joint-venture com o Yuejin Automobile Group,

da cidade de Nanjin. Assim foi criada a Nanjing-Iveco Automobile Company Ltd.

(Naveco), cuja finalidade era a produção da Daily, uma van comercial para atender

a diversos tipos de finalidade, desde o transporte de carga até o de pessoas. O

sucesso alcançado pelo Daily e o crescimento das necessidades de transporte no

país geraram na Iveco o interesse pela fabricação de ônibus. Ela foi então

apresentada pelo governo da cidade de Nanjin à Changzhou Bus Company (CBC),

empresa chinesa, produtora de ônibus urbanos, que já vendia 4000 unidades por

ano. Foi iniciado então, em 1999, o processo de criação de uma joint-venture, do

qual surgiria, em 2000, a CBC-Iveco. No entanto, ficou claro durante o processo

que ainda era necessário um upgrade tecnológico na fabricação das carrocerias, e

então a Iveco foi em busca de parceiros que pudessem fornecer tal tecnologia.

Ainda em 1999, a Iveco convidou a Marcopolo para participar de um contrato de

licenciamento, o qual envolveria um pacote de tecnologia, acervo técnico, e a

instalação de uma fabrica para a produção de carrocerias. A Marcopolo se

comprometia também a dar assistência técnica, treinar o pessoal, e ensinar os

procedimentos operacionais, tanto aos italianos quanto aos chineses. Nessa

época, a Marcopolo já havia identificado o mercado chinês como estratégico,

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portanto, mesmo sendo a primeira vez em 55 anos de história que a Marcopolo

assinava um contrato de venda de tecnologia para uma concorrente – a Iveco

concorria com a Marcopolo no mercado europeu através da Irisar – esta

oportunidade foi vista como de grande importância. De acordo com o executivo

Paulo Guarese, a empresa se considerava uma vitoriosa, pois mostrava

flexibilidade e adaptabilidade para trabalhar com as mais diversas formas de

internacionalização. Assim, em 2000, logo após a consolidação da CBC-Iveco, foi

assinado o contrato de licenciamento entre a Marcopolo e a Iveco, com duração

até 2007, e em 2001, foi concedida pelo governo chinês a licença de negócios,

necessária para que fosse dado início às operações.

Dentro do contrato, a Marcopolo desenvolveu três projetos de ônibus para a Iveco,

um micro, um urbano e um rodoviário. Estes projetos não constituíam produtos

inteiramente novos, mas adequações de produtos existentes ao mercado chinês.

4.5.2. A Escolha da Localização na China

Uma das medidas adotadas pelo governo chinês para incentivar o desenvolvimento

do país foi a criação de 53 distritos industriais. Estes distritos, que têm populações

que variam de 300 mil a um milhão de habitantes, têm como base as diretivas do

governo central; no entanto, cada um estabelece a sua política fiscal, dando

diferentes incentivos aos investidores. Os distritos buscam cuidar de seus

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investidores, ajudando nos contratos, na escolha dos melhores terrenos, melhores

condições etc.

A escolha pela Marcopolo de se instalar em Changzhou foi tomada devido a uma

série de concessões oferecidas à empresa por cinco anos e à presença da Iveco

naquele local.

Outro passo importante foi dado pela empresa com o estabelecimento do

relacionamento de cidades-irmãs entre Changzhou e Caxias do Sul. Este processo

se deu através das prefeituras das duas cidades, e incluiu atividades de

intercâmbio, em que políticos brasileiros visitaram a cidade de Changzhou e

políticos chineses vieram ao Brasil. Foi montado todo um protocolo onde os

visitantes foram levados às Câmaras de Comércio, Indústria e Ciência, a

Universidades, aos representantes do governo da cidade de Caxias do Sul etc. De

acordo com Guarese:

“Isso culminou em um forte passo, porque tudo na China começa pelo

relacionamento político. Tudo começa pela camada de cima, que são os

políticos, e depois se irradia pela pirâmide... As portas agora na China estão

escancaradas para nós começarmos os nossos trabalhos.”

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4.5.3. Características do Mercado Chinês

De acordo com a gerência executiva da empresa, a China pode ser dividida na

China convencional e na China moderna, o que faz com que existam dois

mercados distintos, um consumista e o outro “de grife”. O primeiro mercado não

está muito preocupado com qualidade ou mesmo com a autenticidade dos

produtos, a preocupação nesse caso é com o preço. Portanto, os produtos

presentes nesse mercado são de baixo preço, baixo valor agregado e de baixa

qualidade, sendo, em muitos casos, imitações pirateadas de outros produtos mais

nobres. O segundo mercado é mais exigente, procura produtos de alto valor

agregado e está bem menos preocupado com o preço. Como já citado

anteriormente, a desigualdade na China é bastante acentuada e pode ser notada

principalmente entre a costa leste, onde se localiza a China moderna e o interior –

o oeste – do país, onde se encontra a China convencional.

Mesmo com toda a desigualdade social, o mercado chinês é de extrema

relevância, pois, com uma demanda de 70.000 ônibus por ano, é o maior mercado

de ônibus do mundo. Além disso, com seus altos índices de crescimento

econômico, a China – pelo menos a costa leste – tem se modernizado muito

rapidamente. A criação dos distritos industriais e seu ingresso na OMC atraíram

um grande número de investidores e com isso, criou-se a necessidade pela

abertura de estradas e construção de pontes, que transformaram o transporte inter-

vilarejo em transporte rodoviário, o que, por sua vez, gerou forte demanda por

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ônibus rodoviários. A modernização dos centros urbanos também exigiu formas

mais eficientes de transporte, não somente no que diz respeito aos ônibus urbanos,

mas também à criação de sistemas integrados de transporte.

4.5.4. A Competição Local

A enorme demanda chinesa atraiu as grandes empresas do setor. Alguns dos

maiores produtores mundiais de ônibus já se encontram na China, como a

DaimlerChrysler, através da Yaxing-Benz – joint-venture formada com a empresa

chinesa Yangzhou Yaxing – e a Volvo, que se associou à Sunwin. A

DaimlerChrysler tornou-se o benchmark mundial em tecnologia de ônibus com o

que eles denominam “EvoBus” (de “Evolution Bus”). Em certos mercados, como o

do México, a DaimlerChrysler trabalhava como parceira da Marcopolo, entretanto,

em outros mercados, como no caso da China, ela se constituía em fortíssimo

competidor.

Outra forte presença no mercado era a das próprias companhias chinesas, que, em

2005, no julgamento da direção da Marcopolo, já estavam muito bem preparadas.

De acordo com a Gerência Executiva da Marcopolo, havia 15 grandes fábricas de

ônibus – das quais deveriam sobreviver oito ou nove – e aproximadamente 27

fábricas de mini-ônibus. A grande maioria dessas fábricas já não precisava de

tecnologia externa, dado que possuía “um belo design, um belo produto, uma

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qualidade de mediana a superior”, e que, portanto, tinha capacidade para oferecer

produtos que atendiam as expectativas do mercado.

4.5.5. A Pirataria e a Quebra de Patentes

Um dos maiores problemas para o investidor estrangeiro na China é a pirataria, a

quebra de patentes. Existe o receio de que o investidor seja copiado

imediatamente e perca as vantagens competitivas que lhe são conferidas pela

propriedade intelectual de sua tecnologia. Portanto, já existe uma pressão por

parte dos investidores estrangeiros, e do mercado mundial como um todo, sobre o

governo chinês, para que sejam tomadas medidas relacionadas à diminuição da

pirataria, como a criação de entidades nacionais defensoras da propriedade

intelectual. Uma das maiores reclamações da comunidade internacional está

relacionada ao fato de que as leis e o sistema jurídico chinês não estão

estruturados para agir com eficiência e eficácia.

De acordo com a gerência executiva da empresa, à parte um movimento

internacional, haveria algumas estratégias e medidas preventivas que poderiam ser

adotadas para diminuir o risco de ser imitado, ou mesmo, para diminuir os

prejuízos, uma vez que já tendo sido copiado.

A primeira medida de proteção era parte da estratégia da empresa, ou seja,

desenvolver e produzir internamente o seu conteúdo tecnológico estratégico. A

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Marcopolo concentrava todo o processo de inovação da empresa, que conta com

um time de mais de 500 funcionários na área de engenharia, no Brasil, nas

unidades Planalto e Anna Rech. A produção desses componentes estratégicos

também era feita de maneira verticalizada, não delegando a terceiros esse tipo de

tarefa. Nas palavras de José Martins:

“Um ponto importante que possibilitou à Marcopolo essa internacionalização

foi a decisão estratégica de verticalização. A Marcopolo fabrica tudo, fabrica

poltronas, janelas, toaletes, componentes de plástico, de fibra de vidro, ar

condicionado, tudo. Fabricamos tudo.”

Uma segunda estratégia seria a de entrar no mercado com produtos de altíssima

tecnologia, difíceis de serem replicados. O problema neste caso seria que o alto

custo destes produtos não permitiria a sua comercialização no mercado interno.

Outra opção adotada pela Marcopolo era estar um passo à frente, ou seja, entrar

no mercado com uma tecnologia mediana e aumentar gradativamente: “você vai

sendo copiado, mas sempre tem uma tecnologia mais avançada para competir, até

que, em um certo momento, os copiadores desistem”. As dificuldades nesse caso

dizem respeito a duas coisas: primeiro, nada garante a desistência dos copiadores,

e segundo, essa estratégia pode ser eficaz no que diz respeito a proteção das

vantagens competitivas dos investidores e donos da tecnologia, mas a sociedade

como um todo perde, pois fica sempre relegada ao uso de uma tecnologia

ultrapassada.

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Uma terceira medida defensiva adotada por algumas empresas presentes no

mercado chinês era a contratação dos copiadores. É a velha estratégia de “se não

pode vencê-los, junte-se a eles”. Assim, algumas empresas têm contratado seus

próprios imitadores, terceirizado sua produção, e fazendo apenas o controle de

qualidade posterior. Isso não acabava com o problema, mas diminuía os prejuízos

e dava à empresa um certo nível de controle.

Como fica evidente, apesar de todas essas medidas, o problema da pirataria na

China era muito sério e sem fácil solução, pois “copiar é algo que está bastante

enraizado na cultura chinesa”. Segundo o executivo Paulo Guarese já existiria na

China, um produto Marcopolo pirateado, com a marca original.

4.6. ESTRATÉGIA DE ATUAÇÃO NA CHINA

Devido às restrições impostas pelo contrato de licenciamento com a Iveco, que

determinavam que a Marcopolo não poderia entrar no mercado chinês com seus

produtos até o ano de 2007, fosse através de exportações, fosse através da

produção local, a empresa passou a buscar formas de estabelecer uma relação

mais profunda com o mercado sem incorrer em violação de seu contrato.

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4.6.1. O Escritório Comercial

Dada a necessidade de estabelecer uma ligação com o mercado, a Marcopolo

instalou um escritório comercial, o Marcopolo Changzhou Office (MSO), tendo

como principais objetivos estreitar o relacionamento da empresa com o mercado

consumidor, entender o sistema de fornecimento local, e finalmente, entender o

ambiente político do país e estabelecer relações, pois nas palavras de Guarese,

“tudo na China começa pelo relacionamento político”.

Portanto, esse escritório deu à equipe da Marcopolo a oportunidade de aumentar o

seu grau de entendimento do país como um todo, e é através das informações e

conhecimentos obtidos, que a empresa buscava, em 2005, desenhar o seu futuro

na China.

4.6.2. A Produção de Componentes e Carrocerias

Uma segunda medida para lidar com as restrições impostas pelo contrato com a

Iveco, foi o desenvolvimento de um projeto para a construção de uma fábrica de

componentes. Este empreendimento seria o gerador de diversas vantagens. A

empresa não só teria a oportunidade de trabalhar diretamente no mercado chinês,

mas teria também acesso à mão de obra e matérias primas chinesas. Assim,

componentes poderiam ser produzidos na China com custos reduzidos e

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transferidos para suas outras unidades no Brasil e em outros países. Além disso, a

empresa pretendia atuar como fornecedora de componentes para a operação da

CBC-Iveco.

Esta fábrica seria montada através de uma joint-venture entre a Marcopolo e outra

empresa do Grupo CBC, que também possuía negócios na área de componentes.

Nessa parceria, a Marcopolo teria um papel dominante, com 75% das ações contra

25% da empresa do Grupo CBC. Os planos da empresa para a implementação da

fábrica eram de que em 2004 ela começasse a trabalhar com fibra de vidro, em

2005 iniciasse a sua fábrica de componentes e em 2007, com o final do contrato,

estivesse suficientemente robusta para fabricar carrocerias.

Contudo, problemas durante as negociações com o potencial parceiro fizeram com

que a Marcopolo reavaliasse a sua estratégia e começasse a buscar um novo

caminho. Chegou-se, então, à conclusão de que seria interessante reverter os

passos planejados pela empresa, ou seja, ao invés de começar pela produção de

componentes para depois iniciar a produção de carrocerias, a empresa começaria

com as carrocerias e os componentes viriam depois. Observou José Martins:

“A China pretendia produzir oitenta mil ônibus, nos próximos oito anos –

naquela época, em 2000. Pensamos que se tivéssemos uma fábrica de

peças, seria uma beleza. Iriamos vender peças para todo mundo. Era um

pensamento lógico, absolutamente lógico, mas, na realidade, o nosso

parceiro estava errado.”

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4.6.3. A Fabricação de Carrocerias na China

Em 2005, já ficava claro para a Marcopolo que, para não ser deixada para trás no

processo competitivo, era necessário produzir carrocerias no mercado chinês o

mais brevemente possível. A primeira razão para este imperativo era a acirrada

competição entre empresas internacionais e chinesas dentro do mercado chinês.

A segunda, decorria da própria natureza da competição global. Muitas indústrias

buscavam otimizar seus processos produtivos através de estratégias de global

sourcing, e a China, assim como outros países do Sudeste Asiático, oferecia

vantagens competitivas, especialmente no que dizia respeito ao custo de mão de

obra, que fazia dela um local extremamente atraente para empresas que

quisessem adotar esse tipo de estratégia.

No entanto, a empresa precisava resolver dois grandes problemas. O primeiro

dizia respeito às restrições impostas pelo contrato de licenciamento com a Iveco

cujo prazo se estendia até 2007 e, o segundo referia-se ao modo de entrada, ou

atuação, a ser adotado pela empresa no país uma vez que estivesse atuando de

forma independente.

Quanto ao primeiro problema, a Marcopolo tinha a opção de negociar um

adiantamento no prazo de expiração do contrato, dado que a operação da CBC-

Iveco já se encontrava totalmente implantada e em funcionamento, e que o papel

da Marcopolo ficava restrito somente ao assessoramento tecnológico. Outro

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aspecto que reforçava essa possibilidade era o fato de que o grupo CBC não havia

causado problemas apenas para a Marcopolo em relação à fábrica de

componentes, mas a própria Iveco estava se desentendendo com o grupo chinês e

os ônibus projetados pela Marcopolo para a CBC-Iveco ainda não haviam saído do

papel.

Outra opção seria, uma vez que a empresa dispunha de uma gama extensa de

produtos, (ônibus, Light Commercial Vehicles (LCV) etc.) desenvolver e

comercializar produtos que não competissem diretamente com aqueles da CBC-

IVECO.

Quanto à forma de atuação, a Marcopolo tinha três principais alternativas. As duas

primeiras levavam em consideração a necessidade de a empresa trabalhar com

produtores de chassis, enquanto a terceira vislumbrava uma atuação mais

independente.

A primeira opção seria estabelecer uma joint-venture com empresas

multinacionais, fabricantes de chassi, como Volvo, Scania ou DaimlerChrysler, o

que, do ponto de vista da Marcopolo, não seria uma má idéia, por já ter boas

experiências em joint-ventures estabelecidas com estas empresas. No entanto,

uma aliança estratégica com um parceiro estrangeiro poderia gerar problemas

quanto à penetração de mercado, dado que estes parceiros poderiam não ter o

conhecimento local e o guanxi necessários.

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Uma segunda opção seria estabelecer uma joint-venture com um parceiro chinês,

produtor de chassis, como a Dongfeng Motor Company. Isso resolveria em parte o

problema do guanxi, mas, de acordo com a gerencia executiva da empresa, havia

um protecionismo regional no mercado chinês, ou seja, alguns produtos

simplesmente não eram aceitos em determinados lugares. Com isso, caso a

empresa se prendesse a um fornecedor específico de chassis ficaria praticamente

excluída de certas regiões.

Isso deixaria a empresa com a terceira, e talvez a mais desejada das alternativas,

que seria a de manter a sua flexibilidade e trabalhar com qualquer chassi. De

qualquer maneira, a Marcopolo ainda teria que estabelecer uma joint-venture, só

que nesse caso, horizontal, com uma fabricante de carrocerias chinesa, pois a

legislação ainda não permitia que uma empresa estrangeira, pertencente à

indústria de carrocerias, atuasse no país como uma sole-venture. Tal associação

resolveria também a questão de não ser fácil prosperar de maneira independente

no mercado chinês, porque, por mais que se dispusesse de capital, gestão e

tecnologia, seriam as parceiras chinesas que estabeleceriam as ligações

necessárias com o mercado.

Sendo assim, a Marcopolo estudava suas alternativas com relação ao contrato com

a Iveco e, independentemente da linha de produtos a ser desenvolvida e

comercializada no início das operações, a Marcopolo encontrava-se em fase de

negociações com possíveis parceiros.

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De acordo com a gerência executiva da empresa, três províncias já haviam sido

identificadas como possíveis locais para a implantação da empresa, e em todas as

três, a empresa recebera permissão do governo para se instalar. No entanto,

somente duas apresentavam potenciais parceiros de interesse para a empresa.

Era justamente a negociação com os parceiros que constituía a fase mais difícil,

pois o processo era extremamente lento e requeria muita paciência. Eram

inúmeras reuniões, envolvendo estruturas e pessoas diferentes, nas quais o futuro

parceiro analisava o potencial do estrangeiro e checava a consistência de seu

discurso. De acordo com Paulo Guarese, a credibilidade e a coerência, aliadas ao

guanxi, eram os fatores determinantes nessas negociações. Nas palavras de José

Martins:

“quando nós formos acertar o esquema na China, o nosso potential partner

vai ser uma coisa certa. Então, isso é o que nós esperamos, porque a China

talvez seja o ponto principal da nossa internacionalização.”

4.7. PLANOS FUTUROS DE INTERNACIONALIZAÇÃO

A Marcopolo continuava fazendo a prospecção de novos mercados para os seus

produtos, focando principalmente em países emergentes, pois acreditava que seus

produtos fossem muito adequados às populações de baixa renda. Com isso, o

processo de internacionalização para a Rússia e a Índia encontrava-se em

andamento.

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Na Índia, o acordo estava em sua fase final. O parceiro já havia sido encontrado,

mas ainda havia algumas divergências quanto ao alinhamento estratégico da joint-

venture, especialmente no que tangia a abrangência do projeto a ser realizado. Na

Rússia, o projeto encontrava-se ainda mais adiantado, e o estabelecimento de uma

joint-venture deveria acontecer ainda em 2005.

A empresa pretendia manter em futuro próximo, sua expansão internacional focada

nestes três mercados estratégicos, China, Índia e Rússia. A empresa poderia

ainda participar de outros negócios esporádicos, mas pretendia primeiro

consolidar-se para posteriormente crescer de forma sustentável.

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V – CONCLUSÕES

5.1. DISCUSSÃO

Este capítulo tem por objetivo discutir o caso Marcopolo, tomando como base as

perguntas de pesquisa presentes no capítulo III e a revisão de literatura

apresentada no capítulo II. Após esta discussão, serão descritas as conclusões a

que chegou o estudo e feitas sugestões para futuros estudos a serem realizados.

Como se deu o processo de internacionalização da Marcopolo sob a

perspectiva dos modos de entrada?

A estratégia de internacionalização da Marcopolo, bem como a escolha dos modos

de entrada, foi feita de forma racional e incremental. Diferentemente da maioria

das empresas brasileiras que se internacionalizam através de processos

desestruturados e oportunistas, a Marcopolo seguiu um processo racional de

avaliação para a tomada de decisão, onde podem ser identificados os cinco

elementos de uma estratégia de entrada de mercado descritos por Root (1994): (1)

a escolha do mercado alvo, (2) os objetivos e metas da empresa no mercado alvo,

(3) a escolha de um modo de entrada nesse mercado, (4) o plano de marketing

para penetrar o mercado alvo e (5) o sistema de controle estabelecido para

controlar o desempenho da empresa no mercado alvo.

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A avaliação de mercados e produtos estrangeiros para a escolha de seus alvos

estava presente na prospecção de dois tipos de mercados alvo: o primeiro tipo era

constituído por países com forte demanda por seus produtos, como no caso dos

mercados de países emergentes. O segundo tipo era caracterizado por mercados

onde não só existisse demanda, mas de que a empresa pudesse extrair

conhecimentos e tecnologia relevantes para o seu desenvolvimento. Com relação

aos produtos, estes eram desenvolvidos e adaptados para atender às

necessidades de cada mercado.

O estabelecimento de metas e objetivos para cada mercado era também parte

relevante do processo de tomada de decisão e intimamente ligada à escolha do

modo de entrada. Em países considerados menos importantes estrategicamente,

a empresa tinha como objetivo a simples exportação, enquanto naqueles

considerados mais relevantes, a empresa buscava estar presente com unidades de

produção, com objetivos que muitas vezes transcendiam o abastecimento do

mercado local, para estabelecer pólos de distribuição para regiões inteiras, como

no caso da Argentina (Mercosul), Colômbia (norte da América do Sul), México

(América do Norte e América Central) e África do Sul (metade sul do continente

africano).

Quanto ao plano de marketing da empresa, este buscava compatibilizar o tipo de

produto e o modo de entrada (formato de exportação, IDE) para ter preços

compatíveis com o mercado em questão, estabelecendo sua rede distribuição de

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acordo com a sua forma de atuação e as práticas do país, dando, no entanto,

prioridade à sua rede de representantes próprios.

Finalmente, a Marcopolo tinha um eficiente sistema de controle no que diz respeito

ao monitoramento das operações e revisão da estratégia e modo de entrada. Isto

pode ser claramente observado no caso do México, em que a empresa, sentindo-

se insatisfeita com a aliança estratégica estabelecida com a Dina passou a atuar

sozinha e, finalmente, resolveu aliar-se à DaimlerChrysler. O caso da Argentina foi

um pouco mais drástico, mas, também ilustra esse ponto. Quando a empresa viu

que as coisas não estavam indo bem naquele mercado, colocou a fábrica em

estado de hibernação, estudando, posteriormente, o melhor momento para retomar

suas atividades.

A internacionalização, assim como escolha dos modos de entrada da empresa foi

feita de forma incremental. Isso significa que a empresa primeiro escolheu

mercados próximos, tanto geograficamente quanto culturalmente, começando por

modos de entrada baseados em exportação, para depois adotar modos de entrada

contratuais e, finalmente, aqueles baseados em investimento, como preconizado

pelos teóricos de Uppsala (Johanson e Vahlne, 1977, 1990).

O principal modo de exportação utilizado pela Marcopolo era a exportação direta

através de agência ou subsidiária, o que significava que o canal de

comercialização encontrava-se no país alvo e era próprio da empresa. Isso fica

explícito na estratégia de trabalhar com representantes locais, exclusivos da

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152

empresa. As exportações variavam também em seu formato, ou seja, poderiam

ser feitas em CBU, em que o ônibus era exportado completamente montado, em

PKD, em que a carroceria do ônibus era enviada faltando apenas o motor e o

chassi, em MKD, em que a carroceria era exportada em módulos, e em CKD, em

que a carroceria era enviada totalmente desmontada. Uma vez que a Marcopolo

decidisse exportar carrocerias em outro formato que não em CBU, tornava-se

necessário adotar modos de entrada contratuais, onde parceiros locais ficavam

responsáveis pela montagem dos ônibus.

Os primeiros modos de entrada baseados em investimento adotados pela empresa

foram na forma de joint-ventures com parceiros locais responsáveis pela

montagem das carrocerias exportadas em PKD, MKD, CKD. Tais associações se

deram por duas principais razões: a primeira foi para estabelecer uma proximidade

ainda maior com esses mercados alvo e com os clientes finais e, a segunda foi

para estabelecer maiores níveis de controle sobre as operações e se proteger da

possível criação de futuros competidores formados sobre a plataforma tecnológica

da Marcopolo. Outras joint-ventures foram também estabelecidas com fabricantes

de chassis presentes em alguns dos mercados alvo da empresa.

Apesar de diferirem em escopo, ambos os tipos de joint-ventures podem ser

considerados coalizões do tipo X, ou de especialização, dado que as empresas

que delas participavam encontravam-se em diferentes estágios da cadeia de valor.

Outra observação quanto às alianças estabelecidas pela empresa é que estas

tinham uma cobertura de mercado nacional ou regional, uma vez que a mesma

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153

empresa podia ser uma aliada e um concorrente da Marcopolo em diferentes

mercados. Este foi o caso da DaimlerChrysler que é parceira da Marcopolo no

México e um de seus principais concorrentes na China.

Dada a sua estratégia de verticalização, sempre que possível, a Marcopolo

buscava atuar sozinha na montagem de carrocerias, como no caso do México.

Vale lembrar que neste caso, em que o governo exigiu que uma parcela dos

componentes fosse nacionalizada, ou seja, produzida no México, a Marcopolo

preferiu instalar uma fábrica da MVC componentes plásticos (Poloplast) no México

a desenvolver fornecedores locais. Em muitos casos, a Marcopolo buscava

também atuar independentemente dos fabricantes de chassis. Assim, ficava livre

para montar suas carrocerias sobre qualquer chassi, atendendo aos desejos dos

clientes.

O processo de internacionalização da empresa e sua escolha de modos de entrada

nos países em que atuava sugeriam a busca por altos níveis de controle sobre as

operações internacionais. Isso fazia sentido quando analisado pela ótica da teoria

dos custos de transação, que mantém que “controle” é a principal variável na

escolha do modo de entrada.

As razões para a escolha de modos de entrada com altos níveis de controle,

alinhadas às respectivas proposições de Anderson e Gatignon (1986), são

enumeradas a seguir, no contexto do caso Marcopolo:

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154

• Primeiro, existe um alto grau de especificidade transacional dos ativos, porque

os produtos e processos produtivos da empresa tem alto conteúdo proprietário,

uma vez que a Marcopolo desenvolve sua própria tecnologia (proposição 1).

Também porque a Marcopolo trabalha com produtos customizados (tailor-

made) para atender as necessidades de seus diferentes clientes (proposição 3).

• Segundo, os principais mercados alvo da Marcopolo eram países emergentes,

o que gerava alto grau de incerteza externa (proposição 5). Isso podia ser

observado nos casos da Argentina e México onde ocorreram sérias crises

econômicas, na África do Sul onde, apesar do fim do apartheid, há ainda fortes

tensões sócio-culturais e econômicas e na China, onde apesar de maior

transparência, sabe-se que o sistema de governo é seriamente questionado e

as informações disponíveis aos investidores estrangeiros são, muitas vezes,

pouco confiáveis. Estes são apenas alguns exemplos do tipo de incerteza

externa vivenciados pela Marcopolo.

• Terceiro, havia um potencial para oportunismo baseado no valor da marca

Marcopolo (proposição 9). Um bom exemplo disso foi o fato de a Marcopolo ter

um de seus ônibus pirateado, e o produto falsificado manter a marca original.

• Finalmente, quanto à incerteza interna, a Marcopolo tinha suficiente experiência

para aceitar níveis mais baixos de controle (proposição 6), no entanto, grandes

diferenças sócio-culturais entre o Brasil e os mercados alvo (proposição 7)

sugeriam que a empresa assumisse um alto nível de controle.

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155

Como se deu a decisão da empresa de se internacionalizar para a China?

A decisão da empresa de se internacionalizar para a China foi consoante com a

estratégia de estar presente em mercados estrategicamente importantes. Em

1997, foi iniciada uma minuciosa análise do mercado chinês para que se tivesse

uma idéia da viabilidade do mercado e de qual a melhor maneira de adentrá-lo.

Esta análise levou em consideração fatores externos (independentes das decisões

dos gestores da empresa) e internos (intrínsecos à natureza da empresa e

influenciáveis pela administração da mesma). Os fatores externos incluíram:

Fatores de Mercado do País Alvo

• Mercado de grandes proporções - demanda de 70.000 ônibus/ano;

• estrutura competitiva da indústria, que começava a contar com a

participação de diversos players internacionais;

Fatores de Produção do País Alvo

• Crescimento da infra-estrutura de transportes;

• grande disponibilidade de mão de obra barata.

Fatores do Ambiente de Negócios do País Alvo

• Políticas restritivas quanto à atuação de empresas estrangeiras no país –

impossibilidade de se instalar como uma sole-venture;

• Grande distância geográfica entre o Brasil e a China;

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156

• As elevadas taxas de crescimento da economia (PIB) e a crescente inserção

da China no mercado internacional – entrada na OMC em 2001;

• Enorme relevância da economia chinesa no contexto mundial dado o seu

enorme potencial competitivo.

• A grande distância cultural percebida pelos dirigentes da empresa em

termos de valores culturais, modos de vida e idioma.

Fatores do País de Origem

• Mercado de ônibus relativamente estagnado;

• política econômica restritiva – pouco incentivo ao investimento interno.

Por sua vez, os fatores internos considerados foram:

Fatores de produto

• Alto grau de diferenciação dos produtos Marcopolo;

• Produtos tailor-made, intensivos em tecnologia, com altos níveis de serviço

necessários antes e depois da compra – necessidade de proximidade com o

cliente;

• Adaptabilidade do produto e da empresa (devido à vasta experiência

internacional) às exigências de mercados internacionais.

Uma vez analisados estes fatores, a empresa identificou a entrada na China como

imperativa, e passou a fase de identificação das opções estratégicas. Nessa fase,

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157

dadas as restrições impostas pelo governo, a Marcopolo ficava basicamente

restrita ao estabelecimento de uma joint-venture com uma empresa chinesa. Isso

dificultava o processo uma vez que a Marcopolo tinha um conhecimento muito

restrito do mercado chinês e que este é extremamente complexo, especialmente

no que diz respeito à procura e à seleção de parceiros para alianças estratégicas.

O risco de se associar a um “elefante branco” (empresa estatal chinesa

praticamente falida) era muito grande.

Foi então que surgiu o convite da Iveco para o estabelecimento de um contrato de

licenciamento. Em toda a sua história a Marcopolo nunca havia estabelecido um

contrato deste tipo, no entanto, a necessidade estratégica de estar presente no

mercado chinês, aliada ao fato de a Iveco ser uma empresa européia conhecida e

com 15 anos de experiência na China atraíram a atenção da direção da empresa.

O contrato restringia a Marcopolo quanto à comercialização de seus produtos no

mercado chinês até 2007, mas a empresa encarava isso como o tempo necessário

para se ambientar e mais, planejava utilizar os conhecimentos adquiridos para

produzir e comercializar componentes no mercado chinês.

Que modos de entrada foram utilizados na China e quais os motivos que

levaram a sua escolha?

O modo de entrada utilizado na China, diferentemente de todos os modos já

utilizados pela empresa, foi o contrato de licenciamento. Este modo de entrada se

caracteriza pela cessão de um determinado ativo (novos produtos, tecnologias ou

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inovações) por um tempo limitado, em troca de outras cessões como a entrada em

um novo mercado ou região.

O contrato firmado com a Iveco foi considerado pela direção da Marcopolo como

uma oportunidade de entrar em um mercado pouco conhecido, de difícil acesso,

mas, estrategicamente importante. Nesse contrato, a Marcopolo se comprometia a

fornecer um pacote de tecnologia, acervo técnico, instalação de uma fábrica de

carrocerias e treinamento de pessoal à Iveco. Ao mesmo tempo, a empresa ficava

proibida de entrar com seus próprios produtos no mercado chinês, fosse por meio

de exportações ou por meio de investimento direto até o término do contrato em

2007.

As principais vantagens buscadas pela Marcopolo ao estabelecer este contrato

foram o acesso direto a conhecimento sobre mercado chinês e a perspectiva do

estabelecimento de uma fábrica de componentes que, dadas as proporções do

mercado e própria presença da CBC-Iveco como cliente potencial, poderia ser um

empreendimento altamente lucrativo. Esta fábrica de componentes seria também

de grande importância estratégica por dois motivos: primeiro, os custos de mão de

obra mais baixos da China criariam uma oportunidade para a empresa montar uma

estratégia de global sourcing para a sua área de componentes utilizando a China

como ponto central. Segundo, através desta operação a Marcopolo poderia se

fortalecer para, ao término do contrato em 2007, quando chegasse a hora de

produzir carrocerias, estar mais consolidada naquele mercado.

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No entanto, no caso de empresas de manufatura, contratos de licenciamento

implicam em sérias desvantagens que são ainda mais agravadas no caso

específico da China. Uma vez que a empresa licencia sua tecnologia, ela passa

legalmente seus conhecimentos e sua propriedade intelectual para a empresa

licenciada. Isso pode gerar uma relação de dependência entre a empresa e seus

licenciados ou até mesmo criar fortes concorrentes diretos. No caso da China,

onde os problemas da quebra de patentes e da pirataria são endêmicos e muito

disseminados, a empresa licenciadora corre um risco ainda maior, pois se expõe

não só à empresa licenciada, mas também aos copiadores presentes no mercado.

No caso específico da Marcopolo houve ainda outro agravante. A empresa se

frustrou com o estabelecimento da fábrica de componentes que seria feito através

de uma joint-venture com uma empresa do grupo CBC. Na fase de implementação

da aliança, a Marcopolo descobriu sérias incompatibilidades com o parceiro e

decidiu inverter sua estratégia, adiando os planos de produção de componentes

para depois do término do contrato e do início da produção de carrocerias.

A Marcopolo foi capaz de cumprir os termos do contrato antes do previsto. Isso,

aliado ao fato de a Marcopolo sentir-se apta a atuar no mercado chinês, fizeram

com que a empresa fizesse uma reavaliação estratégica desta parceria, não só

com relação à sua forma de atuação após o término do contrato, mas também a

uma possível abreviação do prazo de vigência do mesmo.

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Quais as opções estratégicas disponíveis à empresa no futuro?

Uma vez que a Marcopolo esteja livre de suas obrigações contratuais com a Iveco,

será necessário que a empresa determine qual será a sua nova estratégia de

atuação no mercado.

A opção de agir sozinha, através de uma sole-venture, ainda não seria possível

uma vez que, até 2005, não era permitido esse tipo de atuação por parte de uma

empresa estrangeira na indústria de carrocerias, e até então, o governo chinês não

dava sinais de que esta regra seria modificada em um futuro próximo.

As opções da empresa ficavam então restritas mais uma vez à atuação através de

alianças estratégicas e, mais especificamente, joint-ventures. As principais

vantagens deste tipo de aliança são, a oportunidade de dividir riscos, de aprender

com as competências e processos dos parceiros e ganhar acesso a novos canais

de distribuição.

Portanto, a primeira opção seria estabelecer uma joint-venture de especialização

(tipo X) com empresas multinacionais, fabricantes de chassi, como a Volvo, Scania

ou DaimlerChrysler. Além das vantagens inerentes à formação de joint-ventures

em geral, as joint-ventures de especialização apresentam ainda o benefício de

gerarem uma quasi-integração vertical, sem a necessidade de grandes

investimentos em custos fixos (Lei e Slocum, 1991). Outro atrativo deste tipo de

aliança para a Marcopolo é o fato dela já possuir experiências positivas com o

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estabelecimento de joint-ventures com estas empresas. No entanto, tal aliança

apresenta dois sérios problemas. O primeiro seria a falta do guanxi necessário, ou

seja, de uma conexão com o mercado para que aliança possa ter sucesso. O

segundo problema seria a provável necessidade de um terceiro parceiro, chinês,

dadas as restrições impostas pelo governo.

Uma segunda opção seria estabelecer uma joint-venture de especialização (tipo X)

com um parceiro chinês, produtor de chassis. Essa alternativa mantém as mesmas

vantages exibidas na anterior, com a exceção da experiência prévia entre a

Marcopolo e os fabricantes de chassis chineses e, resolveria os dois problemas

incorridos na primeira opção, no entanto, o protecionismo regional no mercado

chinês, que impede, de maneira informal, a entrada de certos produtos em

determinadas regiões, faz com que se torne menos atrativo para a Marcopolo

prender-se a um fornecedor específico de chassis.

A terceira alternativa seria estabelecer uma joint-venture de agregação

compartilhada de valor (tipo Y) com uma fabricante de carrocerias chinesa. As

principais vantagens específicas deste tipo de joint-venture são a criação de

economias de escala e uma aceleração na curva de aprendizagem geradas pelas

competências com as quais cada parceiro poderá contribuir. Esta estratégia

resolveria o problema dos requerimentos legais para atuação de uma empresa

estrangeira na China e faria com que a empresa mantivesse a flexibilidade para

trabalhar com qualquer chassi, minimizando assim o problema com o

protecionismo regional. Finalmente, levando em conta a qualidade do parceiro

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escolhido, tal aliança resolveria o problema de ligação com o mercado através do

guanxi.

A Marcopolo já havia começado o processo de prospecção de parceiros com o

intuito de implementar a terceira alternativa. Portanto, era muito importante que ao

buscar o parceiro certo, ela tivesse em mente os seguinte fatores críticos de

sucesso para o estabelecimento de tais alianças (Lei e Slocum, 1991):

• Evitar o estabelecimento apressado de uma joint-venture.

• Entender que a colaboração é uma forma distinta de competição.

• Ter o aprendizado com os parceiros como um objetivo essencial, mas limitar

a troca de informações não intencionais.

• Estabelecer regras e requerimentos para a aliança desde o começo.

• No caso em questão (joint-ventures de agregação compartilhada de valor), a

necessidade de suficiente autonomia para gerar um ambiente mais propício

ao desenvolvimento.

Tais fatores são ainda mais relevantes quando se trata do mercado chinês, onde a

quebra de patentes, pirataria e a existência de diversas empresas estatais

praticamente falidas (elefantes brancos) buscando parceiros estrangeiros para

financiá-las são riscos muito presentes.

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163

5.2. CONCLUSÕES

O presente estudo procurou analisar o caso de uma empresa brasileira em seu

processo de expansão internacional para a China: a Marcopolo, fabricante de

carrocerias de ônibus e líder em seu setor no Brasil.

O processo de desenvolvimento do caso foi feito através de pesquisa de dados

secundários e, principalmente, em entrevistas em profundidade realizadas com

executivos da empresa. Tais entrevistas foram conduzidas em diversos momentos

do tempo, por outros pesquisadores, sendo arquivadas no NuPIn – Núcleo de

Pesquisas em Internacionalização de Empresas do Instituto Coppead de

Administração, e pelo autor deste trabalho. O conjunto de evidências obtidas

permitiu a montagem do caso, com ênfase na experiência da Marcopolo na China,

um estágio mais avançado de seu processo de internacionalização. Procurou-se,

então, analisar o caso à luz das principais teorias que buscam entender o processo

de internacionalização das empresas e sua expansão para novos mercados.

O estudo de casos é método qualitativo, que não permite generalizações

empíricas, não se podendo, portanto, estender as conclusões a outras empresas

brasileiras internacionalizadas em seu processo de expansão para a China. No

entanto, permite chegar a algumas conclusões de caráter geral que se aplicam ao

caso Marcopolo e poderão, eventualmente, ser úteis a outras empresas em

situação similar.

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164

As principais conclusões do estudo foram as seguintes:

1. O processo de internacionalização da Marcopolo é consistente com o que

propõem as teorias de internacionalização da firma. A empresa inicia seu processo

de internacionalização em mercados próximos, avançando posteriormente para

mercados mais distantes, como é o caso da China. Esta proposta, que se baseia

no construto da distância psíquica, é defendida pelos teóricos de Uppsala

(Johanson e Vahlne, 1977, 1990). Embora o caráter estratégico da

internacionalização estivesse sempre presente para os dirigentes, segundo os

relatos obtidos, é certo que a evolução deste processo era alimentada pelos

próprios resultados do movimento anterior, configurando a chamada “cadeia de

estabelecimento” prevista no modelo. Esta observação conduz à discussão sobre a

crítica freqüentemente feita ao modelo de Uppsala, de que não levaria em conta o

componente estratégico do processo de internacionalização da firma. No caso

estudado, cumpre-se a cadeia de estabelecimento prevista, mas o componente

estratégico está presente, particularmente nos momentos cruciais em que são

tomadas as decisões de avanço estratégico.

2. O movimento de entrada no mercado chinês através de um contrato de

licenciamento não pode ser explicado pela teoria dos custos de transação, uma vez

que o alto grau de especificidade transacional dos ativos da Marcopolo, de

incerteza externa e interna e de potencial para oportunismo sugeririam modos de

entrada com níveis de controle mais altos. Por outro lado, uma das críticas que se

faz à teoria dos custos de transação sugere que as empresas não fazem suas

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escolhas quanto ao modo de entrada de forma isolada, mas levam em

consideração as relações estratégicas vislumbradas pela empresa em diferentes

países (Hill, Hwang e Kim, 1990). Isso ajuda a explicar a escolha da Marcopolo

quanto ao contrato de licenciamento uma vez que, reconhecendo a entrada no

mercado chinês como estratégica e imperativa, assim como a falta de

conhecimento da empresa quanto a este mercado distante, tanto geograficamente

quanto culturalmente, a empresa abraçou a oportunidade que se apresentou

através do contrato com a Iveco como a maneira mais viável e rápida de estar

presente naquele mercado. É importante ressaltar também que a complexidade da

estratégia de internacionalização da Marcopolo e sua natureza, muitas vezes mais

emergente do que deliberada, faz com que o processo de internacionalização da

empresa não possa ser explicado com base em apenas uma teoria de

internacionalização.

3. Finalmente, esse estudo serviu para corroborar a importância de certos

aspectos relacionados ao estabelecimento de alianças estratégicas na China.

Independente da função, escopo e cobertura de mercado, é extremamente

importante que a empresa esteja atenta a cada uma das etapas de formação de

alianças estratégicas identificadas na literatura, sendo elas: (1) identificação das

opções estratégicas (Devlin e Bleakley, 1998); (2) procura e seleção do parceiro

(Devlin e Bleakley, 1998; Lyons, 1991); (3) implementação da aliança (Devlin e

Bleakley, 1998; Lyons, 1991); (4) operação e manutenção (Kanter, 1994); e (5)

reavaliação estratégica (Doz, 1996)

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Ênfase especial deve ser dada às etapas um, dois e cinco. À primeira, uma vez

que as empresas que desejam atuar na China devem estar cientes de suas

limitações estratégicas quanto à forma de atuação. No caso da Marcopolo, o

governo chinês não permitia a criação de uma sole-venture, tornando imperativa a

atuação através da formação de alianças estratégicas. A segunda etapa também é

relevante devido a dificuldades de diversas naturezas: burocracia para o

estabelecimento de alianças estratégicas, falta de um sistema judiciário eficiente e

de informações confiáveis, grande quantidade de “elefantes brancos” (empresas

estatais praticamente falidas) presentes no mercado chinês. Este conjunto de

fatores contribui para aumentar o risco de se escolher o parceiro errado, incorrendo

em custos muito elevados. Por fim, a quinta etapa também deve ser observada

dado que o ambiente chinês é muito dinâmico. Isso implica em que as empresas

reavaliem constantemente suas estratégias. No caso da Marcopolo, a entrada

através de um contrato de licenciamento foi justificada em que a empresa não tinha

conhecimento sobre o mercado. Em 2005 já era importante para a empresa estar

presente de forma mais ativa, para que pudesse usufruir melhor das vantagens

oferecidas e tornar-se mais competitiva.

5.3. SUGESTÕES DE FUTUROS ESTUDOS

A seguir procurou-se apresentar algumas sugestões para futuros estudos que

poderão contribuir para um melhor entendimento das estratégias de

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internacionalização das empresas brasileiras para a China e outros mercados

emergentes relevantes.

Como se dá o processo de outras empresas brasileiras do mesmo porte que estão

fazendo este movimento de internacionalização para a China?

Como as outras grandes empresas do setor estão se posicionando para competir

com a Marcopolo, uma vez que a conjuntura do mercado brasileiro é similar para

todas e que a prospecção de mercados externos é imperativa?

De que forma as empresas brasileiras vêem global sourcing como um imperativo

competitivo e, que papel tem a China no desenvolvimento dessa estratégia por

parte dessas empresas?

Quais os modos de entrada adotados por empresas brasileiras em outros

mercados emergentes, tais como Índia e Rússia?

E, finalmente, vale ressaltar a relevância de um estudo quantitativo relacionado a

escolha de modos de entrada escolhidos por empresas brasileiras na China, no

entanto, até o momento, este tipo de estudo não é possível dado que o número de

empresas brasileiras presentes no mercado chinês ainda é pequeno.

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MARTINS, José Antonio Fernandes. [Processo de Internacionalização da Marcopolo na China], São Paulo, 2005. Entrevista concedida a Bruno Barreto de Góes no Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários (SIMEFRE), 16, setembro, 2005. MARTINS, José Antonio Fernandes. [Internacionalização da Marcopolo], Faculdade Assis Gurgacz (FAG), Cascavel, 1, setembro 2005. BETHLEM, A. Marcopolo. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2005. (Caso) FIGUEIREDO, K. ; ARKADER, R. Marcopolo S.A. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD. 1994. (Caso CBC 16195625).

FIGUEIREDO, K. ; ARKADER, R. Marcopolo S.A. (B). Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 1999. (Caso). MARCOPOLO S.A. Disponível em: < www.marcopolo.com.br>. Acesso em: 09 ago. 2004. GUARESE, Paulo José. [Processo de Internacionalização da Marcopolo na China] Caxias do Sul, 2005. Entrevista concedida a Bruno Barreto de Góes na Marcopolo Ana Rech 6, julho, 2005. GUARESE, Paulo José. [Processo de Internacionalização da Marcopolo] Caxias do Sul, 2005. Entrevista concedida a Domenica Blundi na Marcopolo Ana Rech, 9, julho, 2004.

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ANEXOS

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ANEXO 1 Roteiro de entrevista – Marcopolo

Perfil do entrevistado:

1. Nome. 2. Idade. 3. Naturalidade. 4. Formação profissional. 5. Cargo. Desde quando? 6. Tempo na empresa

Perfil da empresa:

7. Razão social / Nome fantasia. 8. Ramo de atividade. 9. Número de funcionários. 10. Principais produtos por ordem de faturamento 11. A empresa está operando com capacidade ociosa? Quanto?

A história da empresa:

12. Como a empresa começou? Onde e quando? 13. Quem estava envolvido no início? De quem partiu a idéia? 14. Qual foi a principal motivação para se iniciar um negócio como este? 15. Quais as vantagens e desvantagens de se atuar neste ramo? 16. Qual o diferencial da Marcopolo para ser considerada uma das maiores

empresas de carroceria? 17. Como a empresa vê a situação do setor no Brasil?

As atividades da empresa no exterior:

• Quando e como foi o primeiro contato da empresa com o exterior? Quais os

fatores que motivaram este contato? • Quando a empresa resolveu diversificar suas atividades internacionais

(IDE)?

• Como se deu essa decisão? Por que motivos? Que fatores de mercado ou estratégicos foram responsáveis por esta decisão?

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Obs1.: A Marcopolo resolveu se internacionalizar no início dos anos 90 porque o mercado interno estava esgotado e a empresa já se destacava como líder de mercado. (NetMarinha – 22/08/2003) – (item 9)

• Como foi a escolha dos mercados em que a empresa atuaria? Quais os

fatores analisados? Que tipos de informação foram buscados no processo decisório?

• A empresa realizou algum tipo de parceria para atuar nestes mercados? Como foi isso?

• Quais são os principais concorrentes mundiais? Eles influenciaram na

escolha dos países onde a empresa está instalada? • Como foi a experiência em cada um desses países?

Obs. 1.: A empresa possui fábricas na Argentina, Colômbia, México, Portugal e África do Sul. Obs. 2: Detalhes sobre as experiências no Oriente Médio (Dubai), África do Sul e América Latina, Portugal e México. (ver itens 6 e 17).

Obs. 3.: A Marcopolo embarcou para a Arábia Saudita 150 ônibus em novembro de

2003. Quinze dos ônibus embarcados têm teto removível para atender à demanda de transporte de religiosos para Meca e Medina, cidades sagradas do islamismo. (Revista Exame – 21/11/2003). - (item 10)

• Que barreiras surgiram durante o processo de expansão internacional?

Como foram contornadas? • Que tipos de situação vocês se depararam e com as quais não contavam?

Isto é, que tipos de situação as pesquisas não contemplaram ou o conhecimento que vocês tinham do mercado não mostravam?

• A empresa tem algum tipo de relação com a sociedade onde está inserida?

Projetos de Responsabilidade Social?

• A empresa procura gerenciar as operações de acordo com as práticas seguidas no Brasil ou existe espaço para novas estratégias nas filiais?

• Em que medida a gerência de filiais fora do país transformou a própria

gerência da matriz no Brasil? Isto é, em que medida o aprendizado obtido nos mercados estrangeiros afetou a estratégia da empresa?

• Como evoluiu a estratégia da empresa em relação à internacionalização?

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• Olhando para trás, o que vocês fariam de novo e o que fariam diferente no que diz respeito ao processo de internacionalização da empresa?

A transferência de tecnologia na China:

• Quando foi o primeiro contato com o mercado chinês? • Como a empresa via o mercado chinês antes de sua entrada no país?

• Que tipo de relação a empresa tinha com este mercado datada de um

período anterior à sua entrada nele?

• Como foi o processo de decisão para entrada na China? Como foi escolhido o parceiro?

• Por que a empresa decidiu assinar um contrato com uma joint-venture

chinesa? Como se dá essa parceria? 1. Obs.: A Marcopolo detém 75% do capital da CBC. A fábrica de componentes

chinesa é uma joint-venture com a CBC. A CBC, em sociedade (50%) com a italiana Iveco, do grupo FIAT, fabrica sob licenciamento os modelos da Marcopolo na China. (Gazeta Mercantil – 23/04/2004) (item 20)

• Como é a participação da Marcopolo nessa joint-venture entre a CBC e a

Iveco? Obs.: Confirmar a participação da Embraco na CBC.

• Quais são as vantagens e as desvantagens de se fazer uma joint-venture?

• Foi feito algum tipo de pesquisa sobre o mercado ou cultura locais? Que tipo

de informações a empresa buscou? Onde foram procuradas? • As políticas governamentais brasileiras e chinesas da época influenciaram a

parceria no país? (ver relação com a CCIBC)

• Como a cultura chinesa influenciou a atuação da empresa no país? Em que a empresa teve que se adaptar?

A fábrica na China:

• Quando e por que a empresa decidiu se instalar fisicamente na China?

Obs.: A Marcopolo estuda montar um fábrica de componentes de caminhões na China. Ela possui um contrato de transferência de tecnologia no país. (O Globo – 28/03/2004). (item 15)

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• Como será o processo de instalação na China? Quais os caminhos que serão percorridos?

• Como será escolhida a localização da instalação? • Essa internacionalização vai afetar a parceria da Marcopolo com a CBC e a

Iveco na China? • Há ou haverá parceria com algum produtor de componentes no país?

• De acordo com uma reportagem da Gazeta Mercantil de 24/11/2000 (item

27), algumas subsidiárias no exterior da Marcopolo possuem alianças com produtores de chassis: a fábrica do México é parceira da Mercedes-Benz, e a da África do Sul possui parceria com a Scania. Como se dá essa parceria? Isso ocorrerá com a subsidiária chinesa?

• Existe demanda de outros clientes, além da CBC - Iveco?

• As companhias chinesas representam uma ameaça à entrada da Marcopolo

na China? Quais são os principais concorrentes na China? • Quais são as principais barreiras encontradas na China para a

internacionalização?

• A Marcopolo obteve alguma ajuda do governo brasileiro e do governo chinês para montar sua fábrica na China? Qual?

• Como serão feitos o desenvolvimento e a promoção do produto na China? A

marca Marcopolo é bem difundida no mercado chinês?

• Como a empresa poderia obter maior participação de mercado no país? Qual o diferencial do produto da Marcopolo em relação a seus concorrentes na China?

• A empresa vê a China como um provável parceiro do Brasil nos próximos

anos?

• O senhor acha que a infra-estrutura econômica da China melhorou nesses últimos 10 anos? (condições internas para a condução de atividades comerciais, como comunicações, transportes e sistemas financeiros)

Os executivos que atuam no exterior • Que tipo de profissional é desejado para o comando das unidades no

exterior?

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• Como é composta a equipe que opera essas unidades no exterior? Por que?

• Como é feito o treinamento dos executivos expatriados? Existe alguma

diferença no treinamento em relação aos países para onde os executivos estão sendo mandados?

Resultados e próximos passos:

• Os objetivos iniciais foram alcançados? • Quais as perspectivas e os objetivos futuros para a China?

• Que outros mercados internacionais seriam interessantes para a empresa?

Por quê?

• Como você descreveria esses mercados – instituições e consumidores?

• Quais os objetivos futuros para outros países? • Quais são as vantagens e as desvantagens da internacionalização?

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ANEXO 2. PAÍSES NOS QUAIS A MARCOPOLO JÁ HAVIA ATUADO ATÉ

2005

EXPORTAÇÕES EUROPA: 1. Inglaterra 2. Bélgica 3. Holanda 4. França 5. Alemanha 6. Espanha 7. Suíça 8. Portugal (+Madeira, Açores) 9. Itália 10. Grécia 11. Islândia ÁSIA: 12. Omã 13. Taiwan 14. Iraque 15. Hong Kong 16. Kuwait 17. Cingapura 18. Paquistão 19. Arábia Saudita 20. EAU (Dubai, Abu/Dabi) 21. China (+Hong Kong) 22. Síria 23. Barein 24. Japão ÁFRICA: 25. Lesoto 26. Suazilândia 27. Líbia 28. Marrocos 29. Egito 30. Eritréia 31. Etiópia 32. Mauritânia 33. Costa do Marfim 34. Gana 35. Nigéria 36. Camarões 37. República Democrática do Congo 38. Congo 39. Uganda 40. Quênia 41. Zaire 42. Angola 43. Zâmbia

44. Tanzânia 45. Malawi 46. Moçambique 47. Zimbábue 48. Botsuana 49. Reunião 50. África do Sul AMÉRICA DO NORTE, CENTRAL E CARIBE: 51. EUA (+Havaí) 52. Canadá 53. México 54. República Dominicana 55. Bahamas 56. San Martin 57. Curaçao 58. Aruba 59. Trinidad e Tobago 60. Guadalupe 61. Martinica 62. Barbados 63. Cuba 64. Jamaica 65. Belize 66. Guatemala 67. El Salvador 68. Costa Rica 69. Honduras 70. Nicarágua 71. Panamá AMÉRICA DO SUL 72. Argentina 73. Uruguai 74. Paraguai 75. Chile 76. Bolívia 77. Peru 78. Equador 79. Colômbia 80. Venezuela 81. Guiana 82. Suriname 83. Guiana Francesa

OCEANIA 84. Taiti 85. Nova Caledónia

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FÁBRICAS Brasil (4) México Colômbia Argentina Portugal África do Sul ALIANÇAS ESTRATÉGICAS (Contrato de Licenciamento) China ESCRITÓRIOS COMERCIAIS Brasil (4) EUA México Colômbia Peru Emirados Árabes China Fonte: Marcopolo (Apresentação José Martins, 2005)

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ANEXO 3. PRODUÇÃO BRASILEIRA DE ÔNIBUS

Fonte: FABUS/SIMEFRE - OICA / (Apresentação José Martins, 2005) * Fabus em 2001 foram inclusos os números da marca Caio, arrendada pela Induscar, não associada da Fabus; ** Dados até julho. † MI = Mercado Interno; ME = Mercado Externo

24.676 35,9 8.850 64,1 15.826 2004 14.296 44,5% 6.365 55,5% 7.931 2005**

21.381 32,8 7.013 67,1 14.368 2003 21.787 29,7 6.488 70,2 15.299 2002 21.680 28,2 6.119 71,7 15.561 2001 18.099 26,6 4.832 73,3 13.267 2000 12.821 19,4 2.488 80,5 10.333 1999 19.291 17,7 3.408 82,3 15.883 1998 18.389 19,5 3.614 80,5 14.775 1997 18.498 11,5 2.119 88,5 16.379 1996 17.625 18,3 3.224 81,7 14.401 1995 12.625 25,5 3.224 74,5 9.401 1994 13.274 22,0 2.919 78,0 10.355 1993 17.830 17,1 3.046 82,9 14.784 1992 15.344 7,4 1.141 92,6 14.203 1991 9.246 8,3 766 91,7 8.480 1990

Total Participação (%)

ME (unidades)

Participação (%)

MI (unidades)

ANO

24.676 35,9 8.850 64,1 15.826 2004 14.296 44,5% 6.365 55,5% 7.931 2005**

21.381 32,8 7.013 67,1 14.368 2003 21.787 29,7 6.488 70,2 15.299 2002 21.680 28,2 6.119 71,7 15.561 2001 18.099 26,6 4.832 73,3 13.267 2000 12.821 19,4 2.488 80,5 10.333 1999 19.291 17,7 3.408 82,3 15.883 1998 18.389 19,5 3.614 80,5 14.775 1997 18.498 11,5 2.119 88,5 16.379 1996 17.625 18,3 3.224 81,7 14.401 1995 12.625 25,5 3.224 74,5 9.401 1994 13.274 22,0 2.919 78,0 10.355 1993 17.830 17,1 3.046 82,9 14.784 1992 15.344 7,4 1.141 92,6 14.203 1991 9.246 8,3 766 91,7 8.480 1990

Total Participação (%)

ME † (unidades)

Participação (%)

MI †

(unidades) ANO

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ANEXO 4. PRODUÇÃO TOTAL DO GRUPO MARCOPOLO (MERCADO INTERNO + MERCADO EXTERNO) Fonte: Marcopolo (Apresentação José Martins, 2005) * Até julho

8.0016.645

10.94412.067

14.777 14.36215.938

9.484

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

15.938

2004

9.48414.36214.77712.06710.9446.6458.001

2005*200320022001200019991998

15.938

2004

9.48414.36214.77712.06710.9446.6458.001

2005*200320022001200019991998

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ANEXO 5. PARTICIPAÇÃO NA PRODUÇÃO BRASILEIRA

Obs.: Volare e Furgões não são computados para efeito de participação de mercado; Fonte: Marcopolo (Apresentação José Martins, 2005) * Até julho ANEXO 6. PRODUÇÃO MARCOPOLO – TOTAL CONSOLIDADO POR EMPRESA

Fonte: Marcopolo (Apresentação José Martins, 2005) * Até julho

45,5

27,5

29,1

50,2

46,0

2005*

47,0

22,1

35,7

48,6

56,5

2004

38,743,446,045,349,847,0TOTAL

---34,743,831,7Minis

59,554,745,945,940,938,5Micros

31,641,046,143,346,544,9Urbano

51,844,645,850,764,964,9Rodoviário

199819992000200120022003

45,5

27,5

29,1

50,2

46,0

2005*

47,0

22,1

35,7

48,6

56,5

2004

38,743,446,045,349,847,0TOTAL

---34,743,831,7Minis

59,554,745,945,940,938,5Micros

31,641,046,143,346,544,9Urbano

51,844,645,850,764,964,9Rodoviário

199819992000200120022003

EXTERIOR

BRASIL

9.484

3.231

1.139

152

-

146

1.794

6.253

1.783

4.470

2005*

14.362

3.680

1.475

399

-

119

1.687

10.682

2.368

8.314

2003

15.938

4.349

1.665

406

-

176

2.102

11.589

3.085

8.504

2004

12.06714.777TOTAL GERAL

2.4153.398TOTAL EXTERIOR

3751.134Colômbia

120204África do Sul

--Argentina

11296Portugal

1.4231.964México

9.65211.379TOTAL BRASIL

2.2612.630Ciferal

7.3918.749Marcopolo

20012002

EXTERIOR

BRASIL

9.484

3.231

1.139

152

-

146

1.794

6.253

1.783

4.470

2005*

14.362

3.680

1.475

399

-

119

1.687

10.682

2.368

8.314

2003

15.938

4.349

1.665

406

-

176

2.102

11.589

3.085

8.504

2004

12.06714.777TOTAL GERAL

2.4153.398TOTAL EXTERIOR

3751.134Colômbia

120204África do Sul

--Argentina

11296Portugal

1.4231.964México

9.65211.379TOTAL BRASIL

2.2612.630Ciferal

7.3918.749Marcopolo

20012002

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184

ANEXO 7. PRODUÇÃO MARCOPOLO MUNDIAL CONSOLIDADA (POR PRODUTOS E MERCADOS EM UNIDADES)

Fonte: Marcopolo (Apresentação José Martins, 2005) * Até julho ANEXO 8. RECEITA LÍQUIDA – EM R$ MILHÕES

Fonte: Marcopolo (Apresentação José Martins, 2005) * Até julho

8.884

2.493

6.391

217

1.115

3.451

1.608

MI

2004

7.054

495

6.559

436

1.491

2.567

2.065

ME

15.938

2.988

12.950

653

2.606

6.018

3.673

TOTAL

20032005*

4.368

1.541

2.827

87

208

1.701

831

MI

5.116

285

4.831

357

1.030

2.329

1.115

ME

9.484

1.826

7.658

444

1.238

4.030

1.946

TOTAL

5.670

145

5.525

558

1.104

2.209

1.654

ME

8.692

2.903

5.789

452

1.399

2.586

1.352

MI

14.362

3.048

11.314

1.010

2.503

4.795

3.006

TOTAL

Produção Total

Volare e Furgões

SUBTOTAL

Mini (LCV)

Micros

Urbanos

Rodoviários

PRODUTOS/MERCADOS

8.884

2.493

6.391

217

1.115

3.451

1.608

MI

2004

7.054

495

6.559

436

1.491

2.567

2.065

ME

15.938

2.988

12.950

653

2.606

6.018

3.673

TOTAL

20032005*

4.368

1.541

2.827

87

208

1.701

831

MI

5.116

285

4.831

357

1.030

2.329

1.115

ME

9.484

1.826

7.658

444

1.238

4.030

1.946

TOTAL

5.670

145

5.525

558

1.104

2.209

1.654

ME

8.692

2.903

5.789

452

1.399

2.586

1.352

MI

14.362

3.048

11.314

1.010

2.503

4.795

3.006

TOTAL

Produção Total

Volare e Furgões

SUBTOTAL

Mini (LCV)

Micros

Urbanos

Rodoviários

PRODUTOS/MERCADOS

443,70464,60

833,50

1.056,60

1.481,601.288,50

1.605,40

968,88

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005*

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ANEXO 9. LUCRO LÍQUIDO EM MILHÕES

Fonte: Marcopolo (Apresentação José Martins, 2005) * Até julho ANEXO 10. RETORNO SOBRE O PATRIMÔNIO LÍQUIDO - ROE (%)

Fonte: Marcopolo (Apresentação José Martins, 2005) * Anualizado

31,37

85,0080,90

53,80

40,10

17,20

10,10

2005* 2004 2003 2002 2001 2000 1999

12,57

22,3023,80

22,80

18,90

8,50

5,10

2005* 2004 2003 2002 2001 2000 1999

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186

ANEXO 11. QUADRO DE COLABORADORES

Fonte: Marcopolo (Apresentação José Martins, 2005) * Até julho

1,18

10.680

2.350

2.819

5.511

2005*

0,63

7.676

1.245

1.890

4.541

2001

0,690,770,770,84Índice de Rotatividade (%)

6.6598.8589.37910.567Total

5681.7111.9822.256Unidades controladas no exterior

1.8382.0922.4282.854Outras controladas no Brasil

4.2535.0554.9695.457Controladora

2000200220032004N° Colaboradores

1,18

10.680

2.350

2.819

5.511

2005*

0,63

7.676

1.245

1.890

4.541

2001

0,690,770,770,84Índice de Rotatividade (%)

6.6598.8589.37910.567Total

5681.7111.9822.256Unidades controladas no exterior

1.8382.0922.4282.854Outras controladas no Brasil

4.2535.0554.9695.457Controladora

2000200220032004N° Colaboradores