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DANIELA HAAS
A EVOLUÇÃO DA ASSISTÊNCIA A SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL E A INTERAÇÃO DA FISIOTERAPIA NO
CONTEXTO ATUAL
Cascavel 2003
DANIELA HAAS
A EVOLUÇÃO DA ASSISTÊNCIA A SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL E A INTERAÇÃO DA FISIOTERAPIA NO
CONTEXTO ATUAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus Cascavel, como pré-requisito para a obtenção do Título de graduado em Fisioterapia. Orientador: José Mohamud Vilagra
Cascavel 2003
TERMO DE APROVAÇÃO
DANIELA HAAS
A EVOLUÇÃO DA ASSISTÊNCIA A SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL E A INTERAÇÃO DA FISIOTERAPIA NO
CONTEXTO ATUAL
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito parcial para obtenção título de graduado em Fisioterapia, na Universidade Estadual do Oeste do
Paraná.
______________________________________ Prof. José Mohamud Vilagra
__________________________________ Prof. (a) Carla Adriane Pires Ragasson
_______________________________________ Prof. Eduardo Alexandre Loth
Cascavel, 16 de abril de 2003.
“A Fisioterapia marcha a passos vertiginosos
para a Fisioterapia Social, e é aqui onde o
Fisioterapeuta se integra perfeitamente na
responsabilidade da sua missão. Deixou de ser
um autômato, para ser um profissional
responsável, perfeitamente conhecedor da ética
para o seu semelhante, esteja este situado em
qualquer nível social...”
Editorial da Associação Brasileira de
Fisioterapia (1962).
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus que rege e guia a minha vida.
Agradeço minha família: meu pai, Roberto; minha mãe Elsi e meus irmãos Cristiane,
Henrique e Heloisa; que sempre estiveram presentes em todas as etapas da minha vida e, em
especial, nesta nova conquista.
Agradeço as amizades que conquistei durante este período acadêmico, que creio, me
acompanharão durante minha vida, em especial: Cristine, Solange, Tatiana, Luciane, Volnei,
Dárcio e Jefferson.
Agradeço ao meu primo querido Egon pelo apoio e sustentação teórica que me
auxiliaram na realização deste trabalho.
RESUMO
O enfoque atual da Saúde Pública no Brasil centraliza-se na atenção primária à saúde. As
condições sanitárias do Brasil sempre suscitaram incógnitas acerca do descaso político
institucional, já que quando se fala em Saúde Pública, deve-se abordar a questão em um
contexto sócio-político. Fazendo uma análise da evolução da assistência política à saúde,
nota-se uma progressão a respeito desta. Anos anteriores à década de 90, a assistência à saúde
era baseada na concepção hospitalocêntrica e curativista, abordando a saúde nas atenções
secundárias e terciárias, tendo a figura central o médico. A partir da década de 1990, com a
implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), mudou-se a prática institucional, tornando-a
descentralizada e garantindo universalidade no atendimento à saúde da população. Em 1994,
como uma forma de reorientar a assistência à saúde, é implantado o Programa Saúde da
Família (PSF), direcionando as atenções à atuação primária à saúde, ou seja, abordando e
focalizando ações de cunho preventivo e de promoção da saúde. A intervenção do profissional
fisioterapeuta na saúde baseia-se na atenção secundária e terciária, portanto sua função é
essencialmente reabilitadora. Porém com o advento das questões primárias, os fisioterapeutas
precisam rever seus conceitos éticos para com a população e se engajar na qualificação para o
atendimento preventivo e de promoção à saúde. Para tanto, busca-se com este trabalho chamar
a atenção dos profissionais fisioterapeutas para as questões de Saúde Pública como um novo
campo de trabalho a ser explorado e vivenciado pelo profissional. Nesta perspectiva, busca-se
salientar a importância da inserção do fisioterapeuta na equipe multiprofissional do PSF, a fim
de garantir um atendimento integral à saúde da família.
Palavras Chaves: Saúde Pública; Sistema Único de Saúde; Programa Saúde da Família;
atenção primária; promoção da saúde; Fisioterapia.
SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS............................................................. 06
INTRODUÇÃO................................................................................................... 08
1 HISTÓRICO DA SAÚDE PÚBLICA........................................................... 10
1.1 A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930).............................................................. 10
1.2 O PERÍODO POPULISTA (1930-1950)................................................................. 12
1.3 O PERÍODO DO DESENVOLVIMENTISMO (1950-1964)................................. 13
1.4 O PERÍODO DO ESTADO MILITARISTA (1964-1984)..................................... 14
1.5 O PERÍODO DA NOVA REPÚBLICA E A LUTA PELA REFORMA SANITÁRIA (1985-1989)....................................................................................... 22
1.6 O PERÍODO NEOLIBERAL (1990 EM DIANTE)............................................... 24
2 DIREITO À SAÚDE......................................................................................... 26 3 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)................................................ 26 4 PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA (PSF)...................................... 33 5 REFLEXÕES ACERCA DO SUS....................................................... 38 6 A FORMAÇÃO ACADÊMICA DO FISIOTERAPEUTA................. 40 7 FISIOTERAPIA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA.................................... 41 CONCLUSÃO..................................................................................... 47 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................... 49
LISTA DE ABREVIATURAS
ACS – Agentes Comunitários de Saúde
AIS - Ações Integradas de Saúde
ARENA – Aliança Renovadora Nacional
BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento
BIRD - Banco Mundial
CAPs – Caixa de Aposentadorias e Pensões
CEME – Central de Medicamentos
CNS - Conferência Nacional de Saúde
COFFITO – Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional
CONASEMS - Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde
CONASP – Plano de Reorientação da Assistência no âmbito da Previdência Social
CONASS - Conselho Nacional de Secretários de Saúde
CPMF - Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira
CREFITO – Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional
DATAPREV - Empresa de Processamento de Dados da Previdência Social
DGSP – Diretoria Geral de Saúde Pública
FUNABEM - Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor
IAPs – Institutos de Aposentadorias e Pensões
IAPAS - Instituto de Administração Financeira da Previdência Social
IAPB – Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Bancários
IAPC – Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Comerciários
IAPETC – Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Trabalhadores em Transporte e Cargas
IAPI – Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários
IAPM – Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Marítimos
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INAMPS - Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social
INPS – Instituto Nacional de Previdência Social
LBA – Legião Brasileira de Assistência
LOPS – Lei Orgânica da Previdência Social
LOS – Lei Orgânica da Saúde
MDB – Movimento Democrático Brasileiro
MPAS - Ministério da Previdência e Assistência Social
MS - Ministério da Saúde
NOAS - Norma Operacional da Assistência à Saúde
NOB - Normas Operacionais Básicas
OMS - Organização Mundial da Saúde
OPAS - Organização Panamericana de Saúde
PAB - Piso Assistencial Básico
PACS - Programa dos Agentes Comunitários de Saúde
PIASS - Programa de Interiorização das Ações de Saúde
PSF - Programa Saúde da Família
REFORSUS - Reforço à Reorganização do Sistema Único de Saúde
SPT-2000 – Saúde para Todos em 2000
SUDS - Sistema Unificador Descentralizado de Saúde
SUS - Sistema Único de Saúde
URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
INTRODUÇÃO
O tema que será abordado nesta revisão bibliográfica, intitulado: “A interação da
Fisioterapia na Saúde Pública do Brasil”, busca chamar a atenção às relações que são
estabelecidas entre o setor da saúde e as instituições públicas, o papel do fisioterapeuta na
situação atual de assistência à saúde, bem como a progressão e as conquistas da população no
que concerne a questão sanitária ao longo dos anos.
O papel continuado das políticas e instituições de saúde pode ser observado e
analisado ao longo dos períodos que marcam as principais conjunturas de nossa história,
desde a Proclamação da República, em 1889, até a restauração dos direitos políticos e civis
cassados no pós-64, a partir de 1982, passando pela conjuntura de transição democrática da
Nova República e encerrando com a atual adoção de assistência à saúde da população (LUZ,
1991).
Portanto, este trabalho tem o objetivo de apontar os principais fatos ocorridos na
conformação da política de saúde brasileira desde o começo do século XX, passando pelo
surgimento da assistência à saúde ligada a Previdência, o movimento pela Reforma Sanitária,
chegando ao processo de implantação do SUS e do PSF com o intuito de atenção primária à
saúde (ANDRADE; SOARES; CORDONI JUNIOR, 2001).
O reconhecimento do direito à saúde e a responsabilidade da sociedade em garantir os
cuidados básicos de saúde possibilitam o estabelecimento do célebre tema “Saúde para Todos
no ano 2000”, como estratégia da atenção primária à saúde difundido a partir da Conferência
de Alma-Ata, em 1978. Enquanto isso, os centros hegemônicos da economia mundial
revalorizavam o mercado como mecanismo privilegiado para a alocação de recursos e
questionavam sobre a responsabilidade estatal na provisão de bens e serviços para o
atendimento das necessidades sociais, inclusive no setor da saúde (PAIM e ALVES FILHO,
1998).
No Brasil, em uma tentativa de reorganizar a assistência à saúde, é criado, na década
de 90, o Sistema Único de Saúde (SUS), que está escrito na Constituição de 1988 e tem sua
legislação complementar baseada nas leis 8080/90 e 8142/90. Este sistema, como proposta de
atendimento à população vem sendo defendido por diversos segmentos sociais já há algumas
décadas, fruto da própria Reforma Sanitária, onde a descentralização, pela via da
municipalização, torna-se principal eixo estratégico para a sua implementação. A Constituição
de 1988 trouxe significativas mudanças na área da saúde, ao ir contra a histórica fórmula
centralizadora, presente por todo o período republicano do Brasil, insuficiente para resolver os
problemas da população (SCHWINGEL, 2002).
A atenção primária, ao ser um primeiro atendimento, serve como porta de entrada para
o sistema de assistência. Ela constitui um nível próprio de atendimento e resolução das
necessidades que extrapolam a esfera de intervenção curativa individual, portanto, é o que
chamamos necessidades básicas de saúde (SCHRAIBER; NEMES; MENDES-
GONÇALVES, 1996).
A saúde dentro do enfoque de promoção, corresponde a um conceito positivo e
multidimensional. A promoção da saúde se preocupa com a saúde de forma ampla,
focalizando sua tendência de favorecer a constituição de uma população saudável,
especialmente no estilo de vida (ALVES; ARRATIA; SILVA, 1996).
Dentro desta abordagem, é criado o Programa Saúde da Família em 1994. Ele segue as
diretrizes do SUS e propõe um modelo assistencial integral, salientando as condições básicas
de saúde e investindo na promoção da saúde familiar.
A Fisioterapia pode ser inserida nesta nova perspectiva de saúde da família? Apesar
das dificuldades que os fisioterapeutas têm de serem inseridos na Saúde Pública, devido a sua
formação reabilitadora, ou seja, atuantes na atenção terciária, o fisioterapeuta tem muito a
colaborar com ações preventivas e curativas de acordo com as necessidades da população
alvo. Porém, a atuação do fisioterapeuta na atenção primária pressupõe uma adequação de sua
prática e uma reflexão contínua de suas ações no sentido de promoção de saúde à população
com qualidade (RIBEIRO, 2002).
1. HISTÓRICO DA SAÚDE PÚBLICA DO BRASIL
A área da saúde, estreitamente vinculada ao âmbito coletivo-público-social, tem
passado historicamente por sucessivos movimentos de recomposição das práticas sanitárias
decorrentes das distintas articulações entre sociedade e Estado que definem, em cada
conjuntura, as propostas sociais face às necessidades e aos problemas de saúde (PAIM e
ALVES FILHO, 1998).
Nas notas que se seguem, serão abordados temas e tendências dominantes nas políticas
de saúde no Brasil da década de 1980, bem como analisado o papel que pode desempenhar tal
política na constituição, na década de 1990, de uma nova ordem constitucional,
economicamente mais justa, social e politicamente mais democrática. Antes disso, será feita
uma breve comparação, referenciada nas políticas de saúde, entre a conjuntura dos anos 80 e
as que precederam, desde a Primeira República (1889 – 1930) até os dias atuais.
1.1. A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889 – 1930)
Era o tempo da chamada Primeira República, cuja economia baseava-se na agricultura,
tendo como principal produto o café, produzido com a finalidade de exportação. Portanto, era
de fundamental importância que os espaços de circulação desta mercadoria fossem saneados
(sobretudo os portos), e que as doenças que prejudicassem as exportações (como a peste, a
cólera e a varíola) fossem controladas (ANDRADE; SOARES; CORDONI JUNIOR, 2001).
Nesse período, foram criados e implementados os serviços e programas de Saúde Pública em
nível nacional. Oswaldo Cruz, ex-aluno e pesquisador do Instituto Pasteur, organizou e
implementou, progressivamente, instituições públicas de higiene e saúde no Brasil estando à
frente da Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP) (LUZ, 1991).
Através destes serviços e programas de Saúde Pública consolidou-se através dela, uma
estrutura administrativa de saúde centralista, tecnoburocrática e corporativista, isto é, ligada a
um corpo médico em geral proveniente da oligarquia de origem agrária que dominou a
República Velha, destacando-se neste período, a adoção do modelo das “campanhas
sanitárias”, destinado a combater as epidemias urbanas e, mais tarde, as endemias rurais. Em
termos de poder, o próprio nome sugere que o modelo campanhista é de estilo repressivo de
intervenção médica nos corpos individual e social (LUZ, 1991).
Nas décadas de 1910 e 1920, o movimento sanitarista difundiu sua interpretação sobre
as bases da comunidade nacional e ofereceu soluções políticas e institucionais para
transformar uma comunidade fundada nos efeitos negativos da transmissibilidade da doença
em uma sociabilidade sustentada na saúde e na higiene de sua população. O movimento
sanitarista entendia que a doença transmissível caracterizava e moldava a sociedade brasileira,
desafiando suas elites e suas instituições políticas, exigindo um aumento da responsabilidade
do Poder Público, o que significava a rediscussão da moldura político-legal inaugurada pela
Constituição de 1891 (HOCHMAN, 1998).
Na área de assistência individual, as ações de saúde eram eminentemente particulares.
Nas demais áreas de atuação, a assistência aos que não podiam custeá-la, considerados
indigentes, era praticada por entidades de caridade (geralmente as Santas Casas de
Misericórdia) (ANDRADE; SOARES; CORDONI JUNIOR, 2001).
Data de 1923 a instituição no Brasil, das Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs),
primeira modalidade de seguro para trabalhadores do setor privado, através da lei Elói
Chaves, por iniciativa do Poder Central. As CAPs, organizadas por empresas, por meio de
um contrato compulsório e sob a forma contributiva, tinham como função a prestação de
benefícios (pensões e aposentadorias) e a assistência médica a seus filiados e dependentes
(COHN e ELIAS, 1996). Portanto, tem início na década de 20 a definição dos grandes traços
que marcaram o sistema previdenciário brasileiro. Dentre eles ganham destaque para os fins
analíticos aqui propostos:
a) instituição, por iniciativa do Estado, da implementação de um seguro
social com caráter altamente controlador dos segmentos de trabalhadores dos setores
essenciais à economia brasileira;
b) a forma tripartite de financiamento – empregadores, trabalhadores e
Estado - , este último arrecadando recursos para tal fim a partir da criação de novos
impostos. Sobre o trabalhador recai a responsabilidade e o ônus de arcar com o custeio
desse seguro (Previdência Social), por meio do desconto direto do salário e na
condição de consumidor de bens e serviços;
c) o acesso do trabalhador e de seus dependentes à assistência médica na
condição de filiado ao seguro social. No caso das CAPs, organizadas por empresas e
portanto contando com um volume de recursos insuficientes para a construção de uma
infra-estrutura de serviços médicos, estes passam a ser por elas ofertados a partir da
compra de serviços privados, sob a forma de credenciamento médico. Datam portanto
dessa época as raízes da privatização da assistência médica no Brasil, sob a égide da
política previdenciária instituída pelo Estado e sem ônus para os cofres públicos;
d) o caráter assistencialista e não universalizante do seguro social (COHN
e ELIAS, 1996).
1.2. O PERÍODO POPULISTA (1930 - 1950)
Nos anos 30 marcou-se a perda da hegemonia da burguesia cafeeira e a incapacidade
das oligarquias regionais de assumir o poder. A crise mundial de 1929 afetou profundamente
a burguesia cafeeira que, neste mesmo ano, contou com uma grande produção. Essas crises
econômicas, somadas aos conflitos entre a burguesia e outras frações que já se desenvolviam
nas décadas anteriores, se expressaram nas eleições de 1930 (IYDA, 1994). Getúlio Vargas
tornou-se o novo Presidente do Brasil e se concretizou lentamente o chamado “Estado Novo”
(POSSAS, 1989).
Diante desta crise econômica e política, inaugurou-se uma nova etapa da sociedade
brasileira, que se caracterizou pela centralização do poder, que passou a ser o árbitro dos
diferentes interesses e, como tal, o governo federal ampliou sua área de atuação e controle,
inclusive na área de saúde (IYDA, 1994).
A instituição das CAPs favoreceu as camadas de trabalhadores urbanos mais
aguerridos em seus sindicatos e mais fundamentais para a economia agroexportadora até
então dominante, em especial os ferroviários, responsáveis pela exportação de café (LUZ,
1991).
Durante o período de 1933 a 1938, as CAPs são unificadas e absorvidas pelos
Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs) que vão sendo sucessivamente criados, agora
congregando os trabalhadores por categorias profissionais. Em 1933 é criado o IAPM (dos
marítimos), em 1934 o IAPC (dos comerciários) e o IAPB (dos bancários), em 1936 o IAPI
(dos industriários), que começou a funcionar somente em 1938, e nesse ano o IAPETC (dos
trabalhadores em transporte e cargas) (COHN e ELIAS, 1991).
A ampliação da assistência médica nos serviços de Saúde Pública, contudo, encontrou
obstáculos devido ao fraco desenvolvimento das forças produtivas na área de saúde (dispersão
populacional, ausência de produção de bens de consumo duráveis e pequeno número de
profissionais formados) (IYDA, 1994).
A assistência à população não vinculada ao mercado formal do trabalho continuava
sendo prestada pelo poder público ou pelas entidades de caridade (ANDRADE; SOARES;
CORDONI JUNIOR, 2001).
1.3. O PERÍODO DO DESENVOLVIMENTISMO (1950 - 1964)
Esse período ficou conhecido pela tentativa de implantar-se um projeto nacional de
desenvolvimento econômico “moderno”, integrado à ordem capitalista industrial, e pela crise
do regime populista e nacionalista dos anos 60 (LUZ, 1991).
Na década de 50 atribuiu-se ao Estado a condição de ator fundamental na promoção da
mudança estrutural da sociedade, entendida como modernização econômica e social; ele passa
a assumir a condição de Estado empresário, além de ocupar lugar central no processo de
mudança. O principal, no entanto, é que, para a época, desenvolvimento econômico e
desenvolvimento social eram compreendidos como processos paralelos e não compatíveis
entre si (BARATA,1997).
Com o ritmo acelerado da industrialização durante a década de 50, todo o sistema
previdenciário cresceu em volume de recursos, em aparato institucional, e em clientela a ser
atendida. Segundo Andrade; Soares; Cordoni Junior (2001), o aumento de benefícios não foi
acompanhado de aumento da receita, levando a uma crise no sistema previdenciário, que
passou a ser deficitário no início dos anos 60. As sérias limitações da assistência médica
oferecida pelos IAPs, que acabavam agravando o já agudo problema do absenteísmo causou
revolta dos trabalhadores que deveriam ser beneficiados com as IAPs. Nesta revolta, eles
reivindicavam maior participação estatal na modernização dos Institutos de Previdência,
adequando-os às necessidades da nova etapa da industrialização brasileira que então se
inaugurava, reiterando mais rapidamente os trabalhadores ao sistema produtivo (POSSAS,
1989). Tais exigências tiveram evidentes repercussões sobre o sistema previdenciário,
intensificando o debate que culminou com a criação (em 1960) da Lei Orgânica da
Previdência Social (LOPS) que propôs a uniformização dos benefícios prestados pelos
institutos (aposentadorias e pensões), quando também passou a ser assumida como parte
inerente da Previdência Social a responsabilidade pela assistência médica individual aos seus
beneficiários (COHN, 1996; POSSAS, 1989).
Na assistência preventiva à saúde manteve-se a prática de campanhas, sendo criados
vários serviços de combate às endemias. No ano de 1953 é criado o Ministério da Saúde, que,
na prática, apenas incorporou a estrutura do antigo Departamento Nacional de Saúde, mantido
com orçamento bastante escasso (ANDRADE; SOARES; CORDONI JUNIOR, 2001).
O início da década de 1960 foi marcado por insatisfações populares. A sociedade
brasileira atingira considerável grau de industrialização e urbanização, mesmo assim a
dicotomia entre a Saúde Pública e a atenção individual persistia (ANDRADE; SOARES;
CORDONI JUNIOR, 2001). Esta relação deficitária causou um impasse estrutural alicerçado
na insatisfação social envolvendo o conjunto das políticas sociais e institucionais. Uma
histórica saída para esse impasse foi proposta pelo grande movimento social do início dos
anos 60 no país, liderado e conduzido pelas elites progressistas que reivindicavam “reformas
de base” imediatas, entre as quais uma reforma sanitária consistente, porém a reação política
das forças sociais conservadoras levou ao golpe militar de 1964, dando origem a um novo
período na Saúde Pública dominado pelo perfil assistencialista da Previdência Social (LUZ,
1991).
1.4. O PERÍODO DO ESTADO MILITARISTA (1964 – 1984)
A partir do golpe militar de 1964, mudou-se a concepção de vários setores
administrativos que compõem o Estado. Viveu-se no país o período da ditadura militar,
marcado por atos institucionais e por outros decretos presidenciais de cunho arbitrário, que
alteraram a Constituição no que diz respeito a direitos de cidadania, informação, organização
social e política (ANDRADE; SOARES; CORDONI JUNIOR, 2001).
Com o golpe militar de 1964, implementou-se um projeto que data de 1945, e que se
revelou inviável no período da democracia populista: a unificação da Previdência Social,
criando-se em 1966 o INPS (COHN e ELIAS, 1996). O processo de unificação – fruto de um
longo debate legislativo que culminou com a Lei Orgânica em 1960 e que se efetivou com o
INPS em 1967 – visava a constituição de um plano único de custeio e benefícios, submetendo
os IAPs a uma orientação administrativa comum (POSSAS, 1989). A partir de então
aprofundou-se o perfil assistencialista da Previdência Social brasileira, agora imune a
qualquer forma de controle por parte das classes assalariadas. São agora os serviços médicos
que passaram a ganhar importância na barganha clientelista da política de favores, e não mais
as aposentadorias e pensões, que contemplaram todo um segmento de assalariados que, do
ponto de vista da capacidade produtiva, foi sucateado pelo próprio sistema, e foi importante
do ponto de vista da defesa de seus direitos básicos (COHN e ELIAS, 1996).
A centralização e a concentração do poder institucional deram a tônica dessa síntese,
que aliou campanhismo e curativismo numa estratégia de medicalização social sem
precedentes na história do país. Nesse contexto se produziu a política de saúde do “milagre”,
coerente com a política econômica de então, que preconizava um crescimento acelerado com
uma elevada taxa de produtividade, conjugada a baixos salários para a grande parte da massa
trabalhadora. Esta política não beneficiou a maioria das categorias, mas favoreceu os
trabalhadores especializados, os técnicos e os quadros superiores empregados nos setores de
ponta da economia. Esses grupos foram beneficiados por altos salários e incentivos, o que
possibilitou o aumento do consumo desses setores privilegiados, assim como a difusão da
ideologia do consumo no conjunto da sociedade. A saúde passou então a ser vista como um
bem de consumo. Especificamente, um bem de consumo médico (LUZ, 1991).
Em 1967, foi promulgada a nova Constituição e foram restabelecidas, embora restritas
às instituições representativas (Aliança Renovadora Nacional [ARENA] e Movimento
Democrático Brasileiro [MDB]), as liberdades públicas. Em 13 de dezembro de 1968 foi
decretado o Ato Institucional n.º 5, suspendendo os direitos democráticos (IYDA, 1994). Esta
política teve, segundo Luz (1991), evidentemente, uma série de efeitos e conseqüências
institucionais e sociais, entre as quais a progressiva predominância de um sistema de atenção
médica “de massa” (no sentido de “massificado”) sobre uma proposta de medicina social e
preventiva, que chegou a ser discutido na conjuntura anterior ao golpe de Estado; o
surgimento e o rápido crescimento de um setor empresarial de serviços médicos, constituído
por proprietários de empresas médicas centradas mais na lógica do lucro do que na da saúde
ou da cura de sua clientela (este setor era, aliás, subsidiado em grande parte pelo Estado, ou
seja, indiretamente pelos trabalhadores, na condição de contribuintes do fisco e da previdência
social, através do desconto em folha). Assistiu-se também ao desenvolvimento de um ensino
médico desvinculado da realidade sanitária da população, voltado para a especialização e a
sofisticação tecnológica e dependente das indústrias farmacêuticas e de equipamentos
médico-hospitalares. Finalmente assistiu-se, à consolidação de uma relação autoritária,
mercantilizada e tecnificada entre médico e paciente e entre serviços de saúde e população.
No período de 1968 a 1975, generalizou-se a demanda social por consultas médicas
como resposta às graves condições de saúde; o elogio da medicina como sinônimo de cura e
de restabelecimento de saúde individual e coletiva; a construção ou reformas de inúmeras
clínicas e hospitais privados, com financiamento da Previdência Social; a multiplicação de
faculdades particulares de medicina por todo o país; a organização e a complementação da
política de convênios entre o INPS e os hospitais, clínicas e empresas de prestação de serviços
médicos, em detrimento dos recursos tradicionalmente destinados aos serviços públicos. Tais
foram as orientações principais da política sanitária da conjuntura do “milagre brasileiro”
(LUZ, 1991).
A ampliação da seguridade social e da assistência médica às novas categorias sociais
(a Previdência Social incluiu na sua cobertura os trabalhadores rurais em 1971, as empregadas
domésticas em 1972 e em 1973 os trabalhadores autônomos), a proliferação de contratos de
serviços com empresas privadas, sem controle por parte da previdência dos serviços
contratados, criando condições para a corrupção, foram fatos que contribuíram para a
instauração de uma crise econômica na previdência. Aliado a isso, instaurou-se uma crise
política e econômica, sendo o Estado responsabilizado pelos problemas econômicos que
assolavam o País (ANDRADE; SOARES; CORDONI JUNIOR, 2001).
A década de 70 assistiu ao fracasso relativo do Estado na promoção das mudanças
estruturais então propostas, mas também à própria transformação radical da concepção do que
venha a ser mudança estrutural: agora ela passou a ser entendida como necessidade de
adaptação às restrições impostas pela conjuntura internacional – diminuição do ritmo de
crescimento do comércio internacional; diminuição dos empréstimos comerciais e aumento da
taxa internacional de juros. Passou a predominar, então, a concepção do Estado enquanto
problema (BARATA, 1997).
O agravamento da situação financeira do sistema previdenciário acabou tornando
inviável a alternativa de pagamento por unidade de serviço, pela enorme drenagem de
recursos para os hospitais privados que esta propiciava. As advertências que foram se
tornando cada vez mais freqüentes na imprensa por parte da própria Previdência Social com
relação aos “excessos” nas internações e nos atendimentos de urgência representam sem
dúvida um freio às pressões do grupo de interesses que pretendia manter indefinidamente a
expansão do setor privado hospitalar via pagamento por unidade de serviço (POSSAS, 1989).
Segundo Costa e Maeda (2001), nas décadas de 1960 e 1970, a rede de centros de
saúde sofreu um rápido crescimento por conta da política de expansão da cobertura dos
serviços de saúde desenvolvida pelos governos militares com vistas a atenuar a grave crise
econômica e social em que estava mergulhando o Brasil. Segundo Oliveira e Teixeira1 (apud
ANDRADE; SOARES; CORDONI JUNIOR, 2001, p. 34), com o intuito de contornar estes
problemas, são adotadas várias medidas políticas e administrativas de âmbito social, em 1974.
Uma destas medidas foi a criação do Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS),
1 OLIVEIRA, J. A. A.; TEIXEIRA, S. M. F. Previdência Social: 60 anos de história da Previdência Social. Rio de Janeiro: Abrasco, 1996.
com vinculação das seguintes entidades: o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS); o
Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS); a Fundação
Legião Brasileira de Assistência (LBA); a Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor
(FUNABEM); a Empresa de Processamento de Dados da Previdência Social (DATAPREV) e
o Instituto de Administração Financeira da Previdência Social (IAPAS) e como órgão
autônomo ao MPAS foi criado a Central de Medicamentos (CEME) (ANDRADE; SOARES;
CORDONI JUNIOR, 2001).
Como era de se esperar, todos esses efeitos e conseqüências fizeram emergir uma
grande insatisfação popular em relação à “política de saúde da ditadura”, perceptível já no fim
do “milagre” (1974-1975). Despencaram as verbas de Saúde Pública, e a atenção médica da
Previdência Social caminhou para a falência. A imagem da medicina como solução
miraculosa para as más condições de vida começou a ser socialmente percebida como
miragem, a ser publicamente denunciada e desmascarada. Dentro deste contexto, ocorreram,
nessa época, movimentos sociais de corporações médicas, que descontentes com o que
qualificavam como processo de massificação da consulta nas instituições públicas,
começaram a denunciar a má qualidade de serviços prestados à população. Os movimentos de
contestação em saúde cresceram em número e intensidade, de tal modo que, entre o final dos
anos 70 e o início dos anos 80, sindicatos e partidos iniciaram uma fase de agitação centrada
na questão da saúde e da política de saúde. Cientistas, acadêmicos e tecnocratas discutiam em
congressos e seminários nacionais e internacionais a degradação das condições de vida da
população, em conseqüência da política econômica que levara ao “milagre brasileiro”,
trazendo para essa discussão o testemunho de cifras e taxas dramáticas sobre o acúmulo das
doenças endêmicas e epidêmicas. Finalmente, movimentos sociais comunitários –
compreendendo associações de moradores de bairros e favelas, movimento das mulheres,
sindicatos, Igreja e partidos políticos progressistas –, denunciavam às autoridades e à
sociedade civil a situação caótica da política de Saúde Pública e dos serviços previdenciários
de atenção médica, exigindo soluções para os problemas criados pelo modelo de saúde do
regime autoritário (LUZ, 1991).
Na década de 1970, portanto, o país apresentava um modelo hegemônico médico
assistencial-privatista. Mas foi também nesse período que surgiram os alicerces político-
ideológicos para o surgimento do movimento da Reforma Sanitária (WESTPHAL e
ALMEIDA, 2001).
No Brasil, a Reforma Sanitária, que projetou o Sistema Único de Saúde, provocou um
deslocamento do poder político e o colocou à disposição das camadas populares que passaram
a ter participação institucionalizada. Nessa reforma, houve o reconhecimento de que saúde é
expressão das modalidades de organização social e econômica assumida como dever do
Estado (ALVES; ARRATIA; SILVA, 1996).
O movimento de Reforma Sanitária veio ao encontro de descontentamentos da Saúde
Pública e os cuidados primários de saúde que estavam assolando em nível mundial, como
prova o Congresso de Alma-Ata, realizado na URSS em 12 de setembro de 1978, promovido
pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (ANDRADE; SOARES; CORDONI JUNIOR,
2001). O Congresso realizado, veio destacar os efeitos da agudização dos problemas de saúde
do terceiro mundo, ou pelo menos, sua maior visibilidade através do contraste gritante das
estatísticas internacionais comparadas; a observação da natureza dos problemas de saúde que
compunham o quadro da “patologia da pobreza” e dos resultados obtidos em períodos de
poucos anos por alguns países que se propuseram a eliminá-la; a percepção da crise dos
sistemas de saúde nos países industrializados e de sua inadequação para abordagens amplas
dos problemas de saúde dos países mais pobres da América Latina para propor e dar
prioridade a programas nacionais amplos, denominados de “extensão de cobertura”, como
movimento prodrômico de “cuidados primários de saúde”. Nessa reunião, com 134 países
representados, muitos deles por seus ministros de saúde, discutiu-se uma filosofia de trabalho
e uma estratégia para levar os benefícios da medicina moderna a grandes massas de
população, principalmente em países do terceiro mundo. Os resultados principais da reunião
foram apresentados sob forma de uma declaração contendo dez artigos, que ficou logo
reconhecida como a Declaração de Alma-Ata, e de vinte e duas recomendações, feitas ao final
da Conferência (CHAVES, 1982). Esta Conferência Internacional sobre atenção primária
reafirma a saúde como direito do homem, sob a responsabilidade política dos governos, além
de estabelecer a atenção primária como estratégia privilegiada de operacionalização das metas
da Saúde para Todos em 2000 (SPT-2000), implicitamente incorporando elementos do
discurso da saúde comunitária (PAIM e ALVES FILHO, 1998).
É citado, a seguir, alguns artigos que compõem a Declaração de Alma-Ata.
Artigo I: “A Conferência reafirma enfaticamente que a saúde – estado de completo
bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de doença ou
enfermidade – é um direito humano fundamental, e que a consecução do mais alto nível
possível de saúde é a mais importante meta social mundial, cuja realização requer a ação
de muitos outros setores sociais e econômicos, além do setor da saúde”.
Artigo VI: “Os cuidados primários de saúde baseados em métodos e tecnologias
práticas, cientificamente bem fundamentadas e socialmente aceitáveis, colocadas ao
alcance universal de indivíduos e famílias da comunidade, mediante sua plena
participação e a um custo que a comunidade e o país podem manter em cada fase de seu
desenvolvimento... Representam o primeiro nível de contato dos indivíduos, da família e
da comunidade com o sistema nacional de saúde pelo qual os cuidados de saúde são
levados o mais proximamente possível aos lugares onde pessoas vivem e trabalham, e
constituem o primeiro elemento de um continuado processo de assistência à saúde”.
Artigo VII: “Os cuidados primários de saúde:
2) têm em vista os principais problemas de saúde da comunidade, proporcionando
serviços de proteção, prevenção, cura e reabilitação, conforme as necessidades.
6) baseiam-se, aos níveis local e de encaminhamento, nos que trabalham no campo
da saúde, inclusive médicos, enfermeiras, parteiras, auxiliares e agentes comunitários,
conforme seja aplicável, assim como em praticantes tradicionais, conforme seja
necessário, convenientemente treinados para trabalhar, social e tecnicamente, ao lado da
equipe de saúde e para responder às necessidades expressas de saúde da comunidade”
(ALMA-ATA, 1978).
Em nosso país, a proposta da Reforma Sanitária coincidiu com a necessidade de
expandir a atenção médica, a partir de um modelo de baixo custo, para as populações
excluídas, especialmente as que viviam nas periferias das cidades e nas zonas rurais. Já nos
meados da década de 1970 foi concebido o Programa de Interiorização das Ações de Saúde
(PIASS), dirigido por técnicos comprometidos com a proposta do “movimento sanitário” que
começava a surgir (WESTPHAL e ALMEIDA, 2001). O PIASS nasceu com a finalidade de
implantar uma estrutura básica de Saúde Pública em comunidades de até vinte mil habitantes
tendo como diretrizes a ampla utilização de pessoal de nível auxiliar, a ênfase na detecção de
doenças transmissíveis e mais comuns, a detecção precoce e o encaminhamento a serviços
especializados dos casos complexos, ações de saúde de baixo custo e alta eficácia
(ANDRADE; SOARES; CORDONI JUNIOR, 2001).
Em outubro de 1980, com o regime militar ainda firme e procurando saídas oficiais
para a crise da saúde, os Ministérios da Saúde e da Previdência Social apresentaram um plano
para racionalizar despesas e controlar gastos, o Plano de Reorientação da Assistência à Saúde
no âmbito da Previdência Social (“Plano CONASP”). Juntamente com o Plano CONASP, foi
implantado um projeto chamado Ações Integradas de Saúde (AIS) que buscava a
reorganização institucional da assistência à saúde, com o objetivo de evitar ações paralelas e
simultâneas entre as instituições sanitárias. O financiamento das AIS era uma parceria com a
participação do INAMPS e das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, sendo que os
repasses de recursos eram feitos sob a forma de compra de serviços (ANDRADE; SOARES;
CORDONI JUNIOR, 2001). Durante o período de 1983 a 1985, com o tipo de financiamento
utilizado pelo AIS, as atividades médicas efetuadas pela rede pública, acabou por transformar
essas unidades em prestadoras de serviços para o INAMPS (WESTPHAL e ALMEIDA,
2001).
Por mais que o governo militar buscasse respaldo para a crise na saúde, as condições
ainda estavam precárias e fomentaram a revolta da população, tornando os serviços de saúde o
foco da crise do modelo de política social vigente entre 1975 e 1982. Não era para menos: as
condições de saúde da população tornaram-se críticas, por causa de uma política
concentradora, centralizadora, privatizante e ineficaz, expressão do regime político
autoritário. A partir de 1983, a sociedade civil organizada desceu às ruas para pedir, junto
com o Congresso firme e atuante, novas políticas sociais que pudessem assegurar plenos
direitos de cidadania aos brasileiros, inclusive o direito à saúde, visto também como dever do
Estado (LUZ, 1991). Entre estas mobilizações civis e sindicais, destacou-se o Movimento das
Diretas Já, em 1982, que derrotou o governo militar nas eleições daquele ano (ANDRADE;
SOARES; CORDONI JUNIOR, 2001).
Não há como fugir ao fato de que o fator determinante para o sucesso da Reforma
Sanitária brasileira é de natureza política. O elemento decisivo para a vitória foi a
consolidação de um bloco de forças sociais, capaz de construir uma nova proposta de
ordenação dos modos de vida e de atenção à saúde e de, ao mesmo tempo, difundi-la,
transformando-a em senso comum, até o ponto em que veio a substituir o antigo modo de
produção de serviços de saúde e a consciência sanitária dos brasileiros (CAMPOS, 1994).
Pela primeira vez na história do país, a saúde foi vista socialmente como direito
universal e dever do Estado, isto é, como dimensão social da cidadania (LUZ, 1991).
1.5. O PERÍODO DA NOVA REPÚBLICA E A LUTA PELA REFORMA SANITÁRIA
(1985 – 1989)
Este período assistiu ao enfraquecimento e queda da ditadura militar, seguidos do
processo de transição democrática do País, quando, a partir das eleições de 1982, as
negociações entre as forças políticas mais conservadoras e moderadas se sucederam, na busca
da ampliação da “abertura democrática”, dando como resultado das eleições de 1986 o
favorecimento das forças conservadoras (LUZ, 1991). A composição da Aliança Democrática
terminou por eleger Tancredo Neves, cuja morte fez presidente da República o presidente do
partido governista, José Sarney. Esse processo ficou conhecido como “transição negociada”,
caracterizando o pacto articulado das elites brasileiras para a condução da ditadura a uma
estabilidade continuísta e conservadora (WESTPHAL e ALMEIDA, 2001).
Segundo Possas (1989), a década de 80 no Brasil caracterizou-se, ao contrário das
décadas anteriores, pela crise e pela estagnação do seu desenvolvimento econômico, com
graves conseqüências sociais. A virtual inexistência de investimentos, tanto por parte do
governo como do setor privado afetou consideravelmente a Previdência Social e, por
conseqüência, o sistema de saúde a ele vinculado.
De acordo com as mudanças de ordem jurídico-institucionais, o novo governo
convocou a VIII Conferência Nacional de Saúde (CNS), para discutir uma nova proposta de
estrutura e de política de saúde nacional (ANDRADE; SOARES; CORDONI JUNIOR, 2001).
Em agosto de 1985 foi instituída, através de portaria do Ministério da Saúde, a
Comissão Organizadora da VIII Conferência Nacional de Saúde, formada por parlamentares,
representantes de entidades sindicais de trabalhadores e empregadores, órgãos de classe dos
profissionais de saúde, partidos políticos, instituições públicas envolvidas com a área da saúde
e entidades representativas da sociedade civil. Realizada em março de 1986, em Brasília, teve
como temário central a saúde como direito inerente à cidadania; a reformulação do Sistema
Nacional de Saúde em consonância com os princípios de universalização, participação e
descentralização; a integração orgânico-institucional; a redefinição dos papéis institucionais
das unidades políticas (União, estados, territórios e municípios) na prestação de serviços de
saúde; e o financiamento do setor saúde. Após o término da conferência foi criada a Comissão
Nacional de Reforma Sanitária, com o objetivo explícito de analisar as dificuldades
identificadas no funcionamento da rede nacional de serviços de saúde, sugerindo opções para
a nova estrutura organizacional do sistema; examinar os instrumentos de articulação entre os
setores do governo que atuavam na área de saúde e propor seu aperfeiçoamento; apontar
mecanismos de planejamento plurianual no setor saúde, ajustando-os com precisão às
necessidades dos segmentos da população a ser atendida (SOUZA, 2003). Esta conferência
foi um dos eventos político-sanitários mais importantes devido ao seu caráter democrático e
ao processo social que se estabeleceu a partir das conferências municipais e estaduais, como a
ampliação do debate em termos de toda a sociedade (WESTPHAL e ALMEIDA, 2001).
Nesta perspectiva, a Reforma Sanitária não pôde ser concebida isoladamente, numa
perspectiva setorial estreita. Requeriu-se, para sua viabilidade, a implantação de Reformas
Sociais amplas, capazes de imprimir nova racionalidade às políticas públicas no país,
alterando o padrão vigente de intervenção governamental, marcado pelo clientelismo, pela
corrupção e pelo distanciamento dos interesses mais prementes da sociedade (POSSAS,
1989).
A partir das novas perspectivas no âmbito da saúde, no período da Nova República, as
lideranças do Movimento Sanitário ocuparam a direção da saúde (INAMPS e Ministério da
Saúde), o que permitiu a realização de convênios com as secretarias Estaduais e Municipais
para a realização de ações de Saúde Pública e assistência médica. Essa diretriz política
potencializou e ampliou as AIS, conferindo-lhes uma função de estratégia de reformulação do
setor, que ultrapassaria o nível de programa isolado e paralelo. No campo da
operacionalização, permitiu-se um amplo processo de descentralização das ações, passando-se
das AIS para a construção de um Sistema Unificador Descentralizado de Saúde (SUDS) em
1987. Por esse sistema as superintendências estaduais do INAMPS passaram a ser dirigidas
pelos secretários estaduais de Saúde (WESTPHAL e ALMEIDA, 2001).
Decorrente do processo de transição democrática do Brasil, foi redigida e aprovada a
nova e atual Constituição Federal, em 1988, que representa significativos avanços no tocante
ao sistema de proteção social: nela estão presentes a universalidade do direito aos benefícios
previdenciários a todos os cidadãos, contribuintes ou não do sistema; a eqüidade ao acesso e
na forma de participação no custeio; a uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços;
a irredutibilidade do valor dos benefícios; a diversidade da sua base de financiamento e a
gestão administrativa descentralizada, com participação da comunidade. Assim, o atual texto
constitucional sela não mais um sistema de seguro social, mas de seguridade social,
constituído por um conjunto integrado de ações assegurando os direitos relativos à saúde,
assistência e Previdência Social (COHN e ELIAS, 1996).
Com relação ao direito à saúde, a Constituição garante, através do Artigo 196: “A
saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas
que visem à redução do risco de doença de outros agravos e ao acesso universal e igualitário
às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 1988).
A Constituição de 1988 incorporou mudanças no papel do Estado e alterou
profundamente o arcabouço jurídico-institucional do sistema público de saúde, criando novas
relações entre as diferentes esferas de governo, novos papéis entre os atores do setor, dando
origem, enfim, ao Sistema Único de Saúde (SUS). É no capítulo de Seguridade Social que
está descrito todo o sistema oficial de saúde brasileiro, especialmente o artigo 198 que propõe
que o Sistema Único de Saúde, através da rede regionalizada e hierarquizada de ações e
serviços públicos de saúde, siga diretrizes de descentralização com direção única em cada
esfera de governo, de atendimento integral preventivo/assistencial e de participação da
comunidade (ANDRADE; SOARES; CORDONI JUNIOR, 2001).
1.6. O PERÍODO NEOLIBERAL (1990 EM DIANTE)
No período de 1989 – 1990, foi elaborada a lei n.º 8080/90, a chamada Lei Orgânica
da Saúde (LOS), que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da
saúde, a organização e o funcionamento dos serviços de saúde, regulamentando o capítulo da
saúde na Constituição. Além disso, foram criadas as Constituições Estaduais e as Leis
Orgânicas dos Municípios, adaptando-se a legislação em âmbito regional e municipal. As Leis
Orgânicas Municipais, promulgadas em 1990, incorporam os princípios constitucionais,
federal e estadual e trouxeram para os municípios um novo papel frente ao SUS. Apesar
desses avanços, os interesses corporativos do setor privado, de grupos ameaçados com a
extinção de seus órgãos (como os funcionários do INAMPS) e as divergências internas no
poder executivo retardaram a regulamentação da saúde. Vale acrescentar ainda que o
Presidente Fernando Collor de Melo efetuou um conjunto de vetos à proposta aprovada pelo
Congresso Nacional que prejudicou sobremaneira a implantação do SUS. Esses vetos
concentraram-se em torno de dois grandes eixos: os artigos referentes à regulamentação da
participação e controle social (Conselhos e Conferências) e a regulamentação do
financiamento do SUS (transferência direta e automática de recursos para os estados e
municípios, eliminação de convênios e definição de critérios de repasse) (WESTPHAL e
ALMEIDA, 2001).
Segundo Coelho (1998), essa situação caracterizou os dilemas entre justiça e
eficiência que se repetiram quando se procurou estabelecer prioridades na política de saúde, o
que contribuiu decisivamente para paralisar o debate normativo associado ao que vinha a ser
uma distribuição mais adequada de recursos no setor. Esta dificuldade em avançar o debate
normativo acabou contribuindo também para fragilizar o debate teórico. Afinal, quando se
consegue definir onde se quer chegar, deve-se enfrentar imediatamente a questão de como
chegar lá, o que estimula o trabalho de investigação sobre quais são as variáveis responsáveis
pela produção do atual modelo e como se poderia atuar sobre elas no sentido de alcançar uma
nova distribuição.
Face aos vetos que ocorreram na lei n.º 8080/90, registrou-se uma intensa reação do
movimento de saúde, coordenado pela Plenária de Saúde, que forçou um acordo entre as
lideranças partidárias no Congresso e no governo, resultando na lei n.º 8142, de 28 de
dezembro de 1990. Essa lei resgatou a proposta de regulamentação da participação social
(assegurando os Conselhos e Conferências com caráter deliberativo) e a transferência
intergovernamental de recursos financeiros da saúde (Fundo Nacional de Saúde), repasses
automáticos e condições para que os municípios e estados pudessem receber recursos
Federais. No início da década de 1990 iniciou-se o processo de implantação do Sistema Único
de Saúde e de um novo arcabouço jurídico: a Constituição Federal de 1988, as Constituições
Estaduais, as Leis Orgânicas Municipais, a lei n.º 8080/90 e a lei n.º 8142/90 (WESTPHAL e
ALMEIDA, 2001).
2. DIREITO À SAÚDE
Historicamente, e em contraste com a introdução de diversos outros, "o direito à
saúde" foi um dos últimos a ser proclamado pelas constituições da maioria dos países. No
nível internacional, ele foi claramente reconhecido em 1948, de acordo com a Declaração
Universal dos Direitos do Homem. A Constituição da Organização Mundial de Saúde (OMS)
afirma que a posse do melhor estado de saúde capaz de ser atingido constitui um dos direitos
fundamentais de todo ser humano, seja qual for a sua raça, religião, opiniões políticas e
condição econômica ou social (SALZANO, 2002).
Sempre se entendeu que o direito à saúde traduz, apenas uma explicitação do
elementar direito à vida e à integridade corporal, cujo tácito reconhecimento já era admitido,
na antiga sociedade romana, por Marco Túlio Cícero (106-43 a.C.) ao reivindicar o direito à
legítima defesa requerido pelo instituto de autoconservação. Por isso, enquanto vigorou na
sociedade esse entendimento ou consenso, não havia necessidade de incorporar a saúde entre
os direitos fundamentais do ser humano, consagrados posteriormente por declarações, cartas
institucionais, leis (MOURA, 1989).
O Brasil, como Estado do Bem-Estar Social, compromete-se, através do Artigo 196
que: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença de outros agravos e ao acesso universal e
igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação” (MORAES,
1996).
3. SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)
O SUS é uma nova formulação política e organizacional para a reordenação dos
serviços e ações de saúde estabelecida pela Constituição de 1988. O SUS não é o sucessor do
INAMPS e tampouco do SUDS (BRASIL, 1990).
Para regulamentar a implantação do Sistema Único de Saúde foram editadas as
Normas Operacionais Básicas (NOB) em 1991 e 1993, respectivamente NOB-91 e NOB-93.
Essas normas, por sua vez, a partir da avaliação do estágio de implantação e desempenho do
SUS, se voltaram, mais direta e imediatamente, para a definição de estratégias e movimentos
táticos, que orientaram a operacionalidade deste Sistema (BRASIL, 1997).
A NOB-93 foi um marco na política sanitária dos anos 90 e definiu mecanismos de
transferências de recursos estabelecendo níveis progressivos de gestão local do SUS. Embora
não tenha sido bem sucedida na agilização de transferências financeiras, devido a
contestações da área econômica do Governo Itamar Franco quanto à regulação do sistema, a
NOB-93 estabeleceu parâmetros de ordenamento administrativo na forma de níveis de gestão
estadual e municipal, e reforçou a pactuação através de comissões intergestoras (RIBEIRO,
1997).
De acordo com Westphal e Almeida (2001), devido à mudança na gestão de algumas
Unidades Federativas e da totalidade dos municípios, parece ter ocorrido uma revisão em
relação ao SUS como política social, envolvendo papel e função do Estado, atribuições e
competências dos níveis de governo, relacionamento público/privado e, sobretudo, a questão
do financiamento do setor, com restrição ao aumento de recursos previstos com a inclusão da
Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) e outras fontes. Esses fatos
determinaram um período de retração ou mesmo de paralisação do processo de implantação
do SUS, particularmente na descentralização da gestão para estados e municípios, implicando
a não-implantação da NOB/SUS – 96 e a paralisação das descentralizações e habilitações que
vinham ocorrendo com a NOB/SUS – 93.
Publicada oficialmente em setembro de 1996 por ocasião da X Conferência Nacional
de Saúde, a NOB-96 sofreu várias delimitações, devido à insuficiência orçamentária do
Ministério da Saúde (como descrito acima), até finalmente ser parcialmente implementada em
janeiro de 1998, por meio da operacionalização do Piso Assistencial Básico (PAB) para os
municípios (COHN e ELIAS, 1996). O PAB consiste em um montante de recursos financeiros
destinado ao custeio de procedimentos e ações de assistência básica, de responsabilidade
tipicamente municipal. Esse Piso é definido pela multiplicação de um valor per capita
nacional pela população de cada município (fornecida pelo IBGE) e transferido regular e
automaticamente ao fundo de saúde ou conta especial dos municípios e, transitoriamente, ao
fundo estadual, conforme condições estipuladas pela NOB-96 (BRASIL, 1997).
Vale apontar que a NOB-96 começou a ser implantada num cenário em que a área da
saúde sentia intensamente os reflexos das políticas de ajuste adotadas pelo Governo Federal
para combater o déficit público e promover o pagamento do serviço das dívidas interna e
externa. Em conseqüência, verificou-se uma intensa retração do Estado como produtor de
serviços de saúde, ensejando a busca de parcerias com a iniciativa privada.
Concomitantemente, deu-se o crescimento vertiginoso do setor privado de saúde, sobretudo
no segmento de seguros-saúde, aprofundando-se cada vez mais a dualidade do sistema de
saúde e a lógica da mercantilização na produção de serviços (COHN e ELIAS, 1996).
Baseado nos preceitos constitucionais, a construção do SUS se norteia pelos seguintes
princípios doutrinários:
1) universalidade: é a garantia de atenção à saúde por parte do sistema, a todo e
qualquer cidadão. Com a universalidade, o indivíduo passa a ter direito de acesso a todos os
serviços públicos de saúde, assim como àqueles contratados pelo poder público. Saúde é
direito de cidadania e dever do Governo: Municipal, Estadual e Federal.
2) eqüidade: é assegurar ações e serviços de todos os níveis de acordo com a
complexidade que cada caso requeira, more o cidadão onde morar, sem privilégios e sem
barreiras. Todo cidadão é igual perante o SUS e será atendido conforme suas necessidades até
o limite do que o sistema puder oferecer para todos.
3) integralidade: é o reconhecimento na prática dos serviços de que o homem é um
ser integral, bio-psíco-social, e deverá ser atendido com esta visão integral por um sistema de
saúde também integral, voltado a promover, proteger e recuperar sua saúde (BRASIL, 1990).
Com relação aos princípios que regem a organização do SUS, eles obedecem as
seguintes lógicas:
1) regionalização e hierarquização: os serviços devem ser organizados em níveis de
complexidade tecnológica crescente, dispostos numa área geográfica delimitada e com a
definição da população a ser atendida. Isto implica na capacidade dos serviços em oferecer a
uma determinada população todas as modalidades de assistência, bem como acesso a todo
tipo de tecnologia disponível, possibilitando um ótimo grau de resolubilidade. O acesso da
população à rede deve se dar através dos serviços de nível primário de atenção que devem
estar qualificados para atender e resolver os principais problemas que demandam os serviços
de saúde. Os demais, deverão ser referenciados para os serviços de maior complexidade
tecnológica. A rede de serviços, organizadas de forma hierarquizada e regionalizada, permite
um conhecimento maior dos problemas de saúde da população da área delimitada,
favorecendo ações de vigilância epidemiológica, sanitária, controle de vetores, educação em
saúde, além das ações de atenção ambulatorial e hospitalar em todos os níveis de
complexidade.
2) resolubilidade: é a exigência de que, quando um indivíduo busca o atendimento ou
quando surge um problema de impacto coletivo sobre a saúde, o serviço correspondente esteja
capacitado para enfrentá-lo e resolvê-lo até o nível da sua competência.
3) descentralização: é entendida como uma redistribuição das responsabilidades
quanto às ações e serviços de saúde entre os vários níveis de governo, a partir da idéia de que
quanto mais perto do fato a decisão for tomada, mais chance haverá de acerto. Assim, o que é
abrangência de um município deve ser de responsabilidade do Governo Municipal; o que
abrange um estado ou uma região Estadual deve estar sob responsabilidade do Governo
Estadual, e, o que for de abrangência nacional será de responsabilidade Federal. Deverá haver
uma profunda redefinição das atribuições dos vários níveis de governo com um nítido reforço
do Poder Municipal sobre a saúde – é o que se chama municipalização da saúde. Aos
municípios cabe, portanto, a maior responsabilidade na promoção das ações de saúde
diretamente voltadas aos seus cidadãos.
4) participação dos cidadãos: é a garantia constitucional de que a população, através
de suas entidades representativas, participará do processo de formulação das políticas de
saúde e do controle da sua execução, em todos os níveis, desde o federal até o local. Essa
participação deve se dar nos Conselhos de Saúde, com representação paritária de usuários,
governo, profissionais da saúde e prestadores de serviço. Outra forma de participação são as
conferências de saúde, periódicas, para definir prioridades e linhas de ação sobre a saúde.
Deve ser também considerado como elemento do processo participativo o dever das
instituições oferecerem as informações e conhecimentos necessários para que a população se
posicione sobre as questões que dizem respeito à sua saúde.
5) complementaridade do setor privado: a Constituição definiu que, quando por
insuficiência do setor público, for necessário a contratação de serviços privados, isso deve se
dar sob três condições:
1ª - a celebração de contrato, conforme as normas de direito público, ou seja,
interesse público prevalecendo sobre o particular;
2ª - a instituição privada deverá estar de acordo com os princípios básicos e normas
técnicas do SUS. Prevalecem, assim, os princípios da universalidade, eqüidade, etc., como se
o serviço privado fosse público, uma vez que, quando contratado, atua em nome deste;
3ª - a integração dos serviços privados deverá se dar na mesma lógica organizativa
do SUS, em termos de posição definida na rede regionalizada e hierarquizada dos serviços.
Dessa forma, em cada região, deverá estar claramente estabelecido, considerando-se os
serviços públicos e privados contratados, quem vai fazer o que, em que nível e em que lugar.
Dentre os serviços privados, devem ter preferência os serviços não lucrativos,
conforme determina a Constituição. Assim, cada gestor deverá planejar primeiro o setor
público e, na seqüência, complementar a rede assistencial com o setor privado, com os
mesmos concertos de regionalização, hierarquização e universalização. Torna-se fundamental
o estabelecimento de normas e procedimentos a serem cumpridos pelos conveniados e
contratados, os quais devem constar, em anexo, dos convênios e contratos (BRASIL, 1990).
Segundo Ribeiro (1997), a universalização da assistência é perceptível através do
acesso proporcionado a clientelas não previdenciárias junto a hospitais e ambulatórios do ex-
INAMPS ou conveniados e da recente ampliação das Redes Municipais de Saúde. Da mesma
forma é a questão do controle social, comumente referida à formação e atuação dos Conselhos
de Saúde, têm se mostrado por outro lado, a principal inovação política do SUS e seu conceito
básico de pactuação política entre grupos de interesses têm penetrado, inclusive, as próprias
relações intergovernamentais, especialmente a partir da criação das comissões intergestoras.
O modelo proposto com a constituição do SUS é o piramidal, que apresenta na sua
base o nível de atenção primário, constituído da chamada Rede Básica de Saúde, um conjunto
de unidades básicas de saúde pertencentes ao poder público, responsáveis pela atenção
integral, individual e coletiva por meio da atuação interdisciplinar. Essas unidades,
distribuídas de maneira a cobrir populações adstritas, caracterizam-se pela integração das
ações de promoção e prevenção de saúde coletiva, terapêutica e de reabilitação, representando
uma resolubilidade de 80%, constituindo-se na porta de entrada principal do sistema, ou seja,
a porta de acesso aos níveis de maior complexidade (COSTA e MAEDA, 2001).
Quanto à questão do controle social, emergem duas importantes inovações no quadro
sanitário dos anos 90: os Conselhos de Saúde e as comissões paritárias de secretários de
saúde. A Constituição Federal define na seção II, Artigo 198, que o SUS seja organizado de
acordo com a “participação da comunidade”; esta participação é regulamentada pela Lei n.º
8.142/90, de 28 de dezembro de 1990, que também destaca no artigo 1.º, parágrafo 2.º que:
“O Conselho de Saúde, em caráter deliberativo, órgão colegiado composto por representantes
do governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários, atua na formulação de
estratégias e no controle da execução da política de saúde na instância correspondente,
inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas decisões serão homologadas pelo
chefe do poder legalmente constituído em cada esfera do governo”. Nesta lei é ainda atribuído
status público ao Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e ao Conselho
Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems), por meio da representação no
Conselho Nacional de Saúde (RIBEIRO, 1997).
Com todo este aparato institucional de prestação de serviços de saúde à população, o
projeto do SUS, que ainda se encontra em processo de construção, portanto, um projeto
inacabado, que carece de determinação e de vontade política para sua efetivação, carrega nas
suas entranhas os princípios e as diretrizes daquilo que poderia ser a grande política de
humanização da assistência à saúde porque, haverá proposta mais humanizadora de
assistência à saúde do que aquela que garante o acesso universal, gratuito e integral a todos os
brasileiros, e que retira o caráter de mendicância para transformá-lo em direito? Isso é o SUS
(RIZZOTTO, 2002).
Porém, a implantação da Norma Operacional da Assistência à Saúde (NOAS) têm
deixado claro os imensos vazios na oferta de serviços no território nacional. Os atuais
mecanismos e valores de custeio da assistência médico-sanitária têm levado a um crescente
sucateamento da precária rede assistencial existente e à busca de inexistentes fontes
alternativas de financiamento. A sub-remuneração dos profissionais de saúde e a salientada
precariedade de suas relações trabalhistas têm fortemente diminuído a sua adesão ao SUS. A
associação destes fatores decorrentes da insistência dos definidores da política econômica de
atribuir prioridades aos compromissos com as finanças internacionais em detrimento das
políticas sociais tem levado a uma crescente ruptura dos preceitos constitucionais que
estabeleceram a saúde como direito de todos e dever do Estado, baseado nos princípios da
universalidade e igualdade (NORONHA e SOARES, 2001).
A despeito da introdução do conceito de Seguridade Social na Constituição Federal, na
prática deixa de vigorar, já que o sistema de saúde brasileiro encontra-se fortemente
influenciado pelo seu congênere norte-americano, centrado no seguro-saúde e na relação de
trabalho. Desta forma, o crescimento do Sistema Supletivo de Assistência Médica, além de
sinalizar para a regulação da saúde através do mercado, traz consigo a tendência à formação
de oligopólios no setor de intermediação de serviços (seguro-saúde e empresas médicas), com
as conseqüentes repercussões no sistema de formação de preços dos serviços. Isto acarreta o
incremento do grau de dependência dos produtores de serviço (hospitais, laboratórios e
consultórios conveniados/associados) aos interesses e ditames dessas empresas, sobretudo em
relação à fixação da remuneração dos procedimentos médicos e hospitalares (COHN e
ELIAS, 1996).
Como apontam Cohn e Elias (2002), diante dessa complexidade com que se revestem
as desigualdades sociais hoje, como se pensar a própria desigualdade e seu reverso: a
eqüidade em saúde? E então, como fica a população majoritária que tem direito de acesso aos
serviços de saúde mas que não encontram respaldo devido ao sucateamento do sistema? Soa
irônico falar de humanização da assistência quando a desigualdade no atendimento social,
repudiada pela lei, traduz a situação em que, quando se tem capital, a saúde está assegurada.
O reconhecimento da crise desse modelo, no âmbito da saúde coletiva, vem suscitando
a emergência de propostas que visam à transformação do sistema de atenção em saúde, de
suas práticas e, em articulação com estas, os processo de trabalho em saúde. Uma das
alternativas de diminuir os gastos com a assistência à saúde e melhorar o quadro de saúde
brasileiro foi a criação do Programa dos Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e o
Programa Saúde da Família (PSF).
4. PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA (PSF)
O Programa Saúde da Família (PSF) desponta como uma das mais recentes estratégias
assumidas pelo Ministério da Saúde (MS): reorganizar o modelo assistencial brasileiro. Sobre
este, Negri2 (apud SANTANA e CARMAGNANI, 2001) comenta que “durante décadas, no
Brasil, não se deu a necessária prioridade à assistência básica de saúde da população”.
Também pontua que “o resultado dessa política equivocada é a realidade que ainda vivemos:
pessoas portadoras de doenças que poderiam ter sido evitadas formando filas desumanas
diante de hospitais, onde nem sempre encontram o atendimento necessário. A outra
conseqüência perversa desse modelo é que ele pressiona o governo a gastar mais dinheiro
com o tratamento das doenças que se multiplicam devido à falta de prevenção, em detrimento
da promoção da saúde, gerando um círculo vicioso” (SANTANA; CARMAGNANI, 2001).
O PSF foi criado, segundo o autor deste projeto, o doutor Luis Odorico Monteiro de
Andrade, em entrevista cedida à revista O COFFITO, em março de 2000, como mecanismo
para construir uma relação de integralidade do sistema com um novo paradigma que não fosse 2 NEGRI, B. Assistência básica de saúde: menos doença, mais vida. Disponível em: <http://www.saude.gov.br/apresenta/acoes/assistencia.htm>. Acesso em: 01 jan. 2000.
centrado na concepção médica ou hospitalocêntrica, quando Secretário de Saúde em Quixadá
(Ceará), em 1993. Ele e sua equipe de trabalho elaboraram este projeto a partir de uma revisão
feita das experiências inglesa, canadense e cubana do médico da família, esta última, a
referência mais inspiradora para o Brasil, sob o ponto de vista dos resultados. Porém, o
programa médico da família, como havia sido desenvolvido nos outros países, não respondia
as contradições do Brasil. Optou-se então, em incorporar uma experiência pioneira vigente no
Ceará: o agente comunitário de saúde (ACS), que representou a interiorização do profissional
não-médico, principalmente na área de enfermagem. Após elaborado o projeto, foi
apresentado, em outubro de 1993, ao doutor Halim Antonio Girade, na época assessor
especial do ministro Henrique Santilho que ia ao encontro de uma solicitação do Ministro de
um projeto de médico da família. O projeto foi discutido com a OPAS (Organização
Panamericana de Saúde) em 27 de dezembro de 1993, que aceitou o projeto de Saúde da
Família, que foi lançado em 1994 (ANDRADE, 2000).
Desta forma, pode-se dizer que o início do PSF deu-se em 1991, com a implantação do
Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), o primeiro embrião dessa nova
modalidade de prestação de assistência à saúde da população. O PACS se constitui numa
estratégia de transição entre o sistema anterior tradicional de provisão de serviços de saúde e o
PSF. Sua implementação fundamenta-se na iniciativa municipal, que programa e realiza a
seleção e treinamento dos agentes na comunidade. Esses agentes comunitários de saúde
devem pertencer à própria comunidade, viver uma vida igual à de seus vizinhos e estar
preparados para orientar as famílias a cuidarem de sua própria saúde e da saúde da
comunidade. Eles devem atender pelo menos 750 pessoas fazendo visitas domiciliares a cada
uma dessas famílias identificadas pelo menos uma vez por mês. O PACS é uma prática que
garante um novo olhar dos profissionais em relação ao contexto em que se processam as ações
de saúde, visto que pressupõem uma busca ativa de problemas atuais, preservando e
potencializando as capacidades dos membros da comunidade atendida (CIANCIARULLO et
al, 2002).
Publicado em 1994, o projeto revela que a implantação do PSF tem como objetivo
geral melhorar o estado de saúde da população, mediante a construção de um modelo
assistencial de atenção baseado na promoção, proteção, diagnóstico precoce, tratamento e
recuperação da saúde em conformidade com os princípios e diretrizes do SUS e dirigidos aos
indivíduos, à família e à comunidade. Trata-se de reorganizar a prática da atenção à saúde em
novas bases e substituir o modelo tradicional, levando a saúde para mais perto da família e,
com isso, melhorar a qualidade de vida dos brasileiros (SANTANA e CARMAGNANI,
2001).
A NOB 96, do Ministério da Saúde, vem contribuindo para a consolidação do
programa, pois modificou a lógica de financiamento (anteriormente baseada na produção de
serviços) passando a estabelecer o pagamento em função da cobertura populacional e
introduzindo o incentivo do PSF, além de outros mecanismos técnico-gerenciais (BRASIL,
1997).
A unidade de saúde como primeiro contato, constitui-se na utilização do PSF como
porta de entrada do sistema e, o princípio da “longitudinalidade” determina assistência
continuada, e não mais de forma ocasional, à população, propiciando a “integralidade”
baseada na prática totalizadora, promovendo, protegendo, recuperando e reabilitando a saúde
de forma integrada. Uns dos princípios do PSF é a humanização, a heterogeneidade e a
realidade que implicam a possibilidade de aplicação dos demais princípios, adequando-os a
cada realidade local, e a organização da saúde da família de acordo com as necessidades e os
recursos disponíveis no território. Ele é o único que possui financiamento, permitindo aos
municípios receberem recursos financeiros do Ministério da Saúde como forma de incentivo,
o que tem feito tal proposta disseminar-se no Brasil (COSTA e MAEDA, 2001).
O trabalho dos profissionais que estão inseridos no PSF é realizado de forma
multiprofissional. Em um sentido estrito, Chaves (1982) aponta que a palavra
multiprofissional nivela setores que militam profissões afins, como é o caso das faculdades de
Ciências da Saúde. Segundo Peduzzi (2001), no trabalho em equipe do tipo integração há
complementaridade e colaboração no exercício da autonomia técnica e não há independência
dos projetos de ação de cada agente.
Cada equipe do PSF é composta, no mínimo, por um médico, um enfermeiro, um
auxiliar de enfermagem e de quatro a seis ACS. Outros profissionais - a exemplo de dentistas,
assistentes sociais e psicólogos - poderão ser incorporados às equipes ou formar equipes de
apoio, de acordo com as necessidades e possibilidades locais (BRASIL).
Pedrosa e Teles (2001) ressaltam que a equipe de profissionais do PSF vivenciam sob
dois planos: no das possibilidades em que o Programa teria sustentabilidade por basear-se na
medicina preventiva e trabalhar com famílias e, no plano objetivo, que se encontra em seus
limites na permanência dos determinantes das condições de vida e saúde dessas comunidades,
além das condições organizacionais e gerenciais para cumprir os princípios do SUS.
O PSF apresenta-se como uma possibilidade de reestruturação da atenção primária, a
partir de um conjunto de ações conjugadas em sintonia com os princípios de territorialização,
intersetorialidade, descentralização, co-responsabilização e priorização de grupos
populacionais com maior risco de adoecer ou morrer (TRAD e BASTOS, 1998).
A proposta do PSF de assistência integral à saúde centraliza-se na assistência primária.
A atenção primária, também conhecida como Medicina Comunitária, atenção básica e
Cuidados Primários em Saúde, surgiu como uma necessidade de expandir o acesso aos
serviços de saúde as grandes parcelas da população, que vinham sendo excluídas do processo,
pelo modelo assistencial baseado na medicina científica – caracterizada pela ênfase na
assistência curativa, a tecnificação do ato médico, a exclusão de práticas alternativas e o
individualismo - que era hegemônico na primeira metade do século XX (RIBEIRO, 2002).
A atenção primária tem sido associada a uma assistência de baixo custo, pois parece
tratar-se de um serviço simples e quase sempre com poucos equipamentos. Por isso parecerá
também ser uma organização própria de setor público da prestação de serviços, contendo uma
prática fadada a ser uma “medicina simplificada”. Ao mesmo tempo, porém, constitui, no
sistema, um nível próprio de atendimento e deve ir resolvendo uma dada gama de necessidade
que extrapolam a esfera da intervenção curativa individual. É o que chamamos de
necessidades básicas de saúde (SCHRAIBER; NEMES; MENDES-GONÇALVES, 1996).
O conjunto específico dessas necessidades básicas inclui demandas principalmente
sanitárias, tais como, o saneamento do meio, o desenvolvimento nutricional, a vacinação ou a
informação em saúde, que geram as ações tradicionais da Saúde Pública. Mas, inclui
igualmente as demandas relacionadas a algumas ações clínicas, que fundamentalmente podem
ser de dois tipos: as que cobrem a prevenção, a profilaxia e o tratamento de doenças de caráter
epidêmico, e, portanto, sob vigilância epidemiológica da Saúde Pública; e as que constituem
demandas tipicamente clínicas, de prevenção ou recuperação, quadros simultaneamente muito
freqüentes e apoiados em técnicas diagnósticas e terapêuticas de menor uso de equipamentos,
mas que, em contrapartida, exigem, para sua adequada compreensão e efetiva transformação,
sofisticada síntese de saberes e complexa integração de ações individuais e coletivas,
curativas e preventivas, assistenciais e educativas (SCHRAIBER; NEMES; MENDES-
GONÇALVES, 1996).
A atenção primária vem progressivamente se tornando um complexo assistencial que
envolve difíceis definições de tecnologia apropriada. Não só a medicina desenvolveu-se muito
em seus diagnósticos precoces e definições de risco genético-familiares, como
epidemiologicamente a definição de situação de risco também se complexificou (PAIM e
ALVES FILHO, 1998).
No que concerne a promoção da saúde, enfatizado nas propostas do PSF, ela passou a
ser um desafio principalmente porque o poder econômico, exercido sem restrições em todos
os setores e por longos períodos, forçou a constituição de um sistema de atenção à saúde
baseado na medicalização, tornando o culto à doença um forte elemento cultural da nossa
sociedade. Médicos, hospitais, tecnologias e medicamentos cada vez mais modernos e,
conseqüentemente, mais onerosos, que não levavam em conta as necessidades de saúde da
população brasileira, habitavam o imaginário social enquanto formas de produção e
conservação da saúde (BRASIL).
De acordo com Candeias (1997), define-se promoção em saúde como uma
combinação de apoios educacionais e ambientais que visam atingir ações e condições de vida
conducentes à saúde. Esta combinação refere-se à necessidade de mesclar os múltiplos
determinantes da saúde (fatores genéticos, ambiente, serviços de saúde e estilo de vida) com
múltiplas intervenções ou fontes de apoio. O enfoque educacional refere-se à educação em
saúde tal com organizacionais e reguladoras, relacionadas ao comportamento humano, assim
como a todas as políticas de ação mais diretamente relacionadas à saúde. Utiliza-se aqui para
fazer referência àquelas forças da dinâmica social, que incidem sobre uma situação específica
e que vão muito além do estudo do ambiente físico ou dos serviços médicos destinados à
população. Dizem respeito àqueles fatores ambientais que também precisam ser considerados
no planejamento de atividades de promoção em saúde. Note-se que essa se diferencia dos
outros dois maiores componentes da Saúde Pública por fixar a engenharia do meio ambiente à
proteção em saúde e a administração no ambiente médico aos serviços de prevenção para a
saúde.
De acordo com a 1ª Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, ocorrida em
Ottawa, Canadá, em 1986, a promoção da saúde pretende reduzir as desigualdades existentes
nos níveis de saúde das populações e assegurar a igualdade de oportunidades e recursos, com
vista a capacitá-las para a completa realização do seu potencial de saúde. Para atingir este
objetivo, torna-se necessária uma sólida implantação num meio favorável, acesso à
informação, estilos de vida e oportunidades que permitam opções saudáveis. As populações
não podem realizar totalmente o seu potencial de saúde sem que sejam capazes de controlar os
fatores que a determinam. Este princípio deve aplicar-se igualmente às mulheres e aos
homens (CARTA DE OTTAWA, 1986).
Muitos são os princípios e os conceitos que fundamentam a prática da educação em
saúde e da promoção em saúde. Sem cair em armadilhas reducionistas, a educação em saúde
procura desencadear mudanças de comportamento individual, enquanto que a promoção em
saúde, muito embora inclua sempre a educação em saúde, visa a provocar mudanças de
comportamento organizacional, capazes de beneficiar a saúde de camadas mais amplas da
população, particularmente porém não exclusivamente, por meio da legislação
(CANDEIAS,1997).
Pode-se dizer que a promoção da saúde implica combinação de estratégias: ações do
Estado (políticas públicas saudáveis); da comunidade (reforço da ação comunitária); de
indivíduos (desenvolvimento de habilidades pessoais); do sistema de saúde (reorientação do
sistema de saúde), e de parceiras intersetoriais (BRANT e MELO, 2001). Em vista desta nova
perspectiva de atenção primária, longitudinalidade e integralidade, a proposta do PSF constata
a tendência de perenidade, ou seja, garantir o permanente avanço na melhoria do modelo de
atenção à saúde dos brasileiros.
5. REFLEXÕES ACERCA DO SUS
Diante dos serviços de saúde prestados através do PSF à população, deve-se lembrar
que ele segue os princípios de diretrizes do SUS, ou seja, ele não está desvinculado do SUS.
Para tanto, em locais que ainda não contam com a implantação do PSF, o SUS vem ganhando
implementação através do REFORSUS (Reforço à Reorganização do Sistema Único de
Saúde) que é o maior projeto de investimento do Ministério da Saúde e integra o Plano de
Metas do próprio Ministério e o Programa Avança Brasil do governo Fernando Henrique
Cardoso. Instituído no final de 1996, por meio de um acordo de empréstimo celebrado entre o
governo brasileiro, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Mundial
(BIRD) - no valor de US$ 650 milhões -, ele investe na recuperação da rede física de saúde do
país, que presta serviços ao SUS, mediante a compra de equipamentos médico-hospitalares e
unidades móveis, execução de obras de reforma, ampliação e conclusão de estabelecimentos
de saúde e, também, em projetos para a melhoria da gestão do sistema de saúde nacional
(BRASIL).
Em dezembro de 2000, realizou-se mais uma Conferência Nacional de Saúde – XI
CNS – com ampla participação da sociedade brasileira. Através dessa Conferência buscou-se
refletir os caminhos para garantir a todos os cidadãos acesso, qualidade e humanização na
atenção à saúde, por meio de fortalecimento do controle social. Refletiu-se a experiência
alcançada no processo de implementação do SUS e a comunicação existente entre os
diferentes segmentos representados (ESCOREL e LUCCHESE, 2000).
Para a XI CNS, o modelo assistencial do Brasil não condiz com a eqüidade,
caracterizando-se por modelos assistencialistas, com profissionais que não respeitam os
direitos e as necessidades dos usuários. A equipe de saúde é fragmentada, tendo como centro
o profissional médico. Existe a necessidade de reconstrução da relação de poder das equipes
de saúde, onde todos sejam atores responsáveis pelo desenvolvimento de seus papéis, assim
como a reconstrução da assistência voltada para a prevenção e educação da população. Os
acessos aos serviços são dificultados pelas grandes distâncias entre os municípios, filas de
espera para a realização de exames e consultas especializadas. A alta complexidade ainda é
referência dos grandes centros e permanecem descobertas as regiões distantes das capitais
(RIQUINHO e CAPOANE, 2002).
De acordo com as reflexões acerca do SUS, verifica-se que o momento atual exige um
conjunto de repactuações. O financiamento da assistência nos pequenos municípios, hoje
praticamente inviabilizada; o atendimento de urgência e emergência; os recursos humanos,
que hoje e à médio prazo são um problema gravíssimo; o financiamento permanente e estável;
o funcionamento dos Fundos Estaduais de Saúde; e o financiamento federal aos estados são
exemplos do tanto que temos a caminhar em busca de melhorias para o perfeito atendimento à
saúde da população (GALLO, 1999).
A proposta de ampliação da atenção básica trazida, pela NOAS 01/2001, busca definir
inequivocamente as responsabilidades e ações estratégicas mínimas que todos os municípios
brasileiros devem desenvolver. Dentre elas o controle da Tuberculose, eliminação da
Hanseníase, controle da hipertensão, controle da Diabetes Melittus, ações de saúde bucal,
ações de saúde da criança e ações de saúde da mulher (BRASIL, 2003).
6. A FORMAÇÃO ACADÊMICA DO FISIOTERAPEUTA
O surgimento da Fisioterapia no Brasil como profissão e como curso (1952), se deu
em decorrência da necessidade de profissionais para atuar juntamente com seqüelados de
poliomielite, fato que determinou a característica de profissão reabilitadora que durante
décadas acompanhou o fisioterapeuta e dificultou a formação de uma visão intervencionista
de ordem preventiva. No que se refere às dificuldades de atuação da Fisioterapia na atenção
primária relacionadas à formação acadêmica do fisioterapeuta, observa-se que essa formação
não prepara e nem o incentiva a atuar nesse nível de atenção. Esta formação é direcionada,
principalmente, para o atendimento em centros de reabilitação e hospitais, num enfoque
eminentemente voltado à reabilitação, e com uma estrutura curricular preocupada com a
abordagem de doenças que deixam seqüelas reabilitáveis (RIBEIRO, 2002).
Quando se aborda o contexto da Saúde Pública e atenção primária, deve-se levar em
consideração o enfoque sanitário de salubridade. Dentro da esfera de ação da atenção
primária, as diversas síndromes cinético-funcionais podem ter como etiologias alguns agentes
parasitários que, quando se manifestam clinicamente, podem levar a várias alterações dos
sistema nervoso, cárdio-respiratório e músculo-esquelético. Neste momento, o conhecimento
de doenças parasitárias, assim como a sua patogênese, pelo fisioterapeuta, é ponto crucial para
abordagens desses pacientes e estruturação de condutas fisioterapêuticas adequadas. E, nesse
contexto de abordagem em doenças parasitárias, pouco enfatizada nas disciplinas de
graduação de Fisioterapia é que o profissional sente suas limitações teóricas acerca desse
assunto de cunho sanitário importante na atenção primária, porque a introdução de
comportamento educativo e profilático do fisioterapeuta em Saúde Pública se estabelece no
sentido de prover à população melhores condições de vida (MENDES, 2002).
O profissional fisioterapeuta é formado na Universidade. Embora tenha amplas
possibilidades de mudar o seu rumo no período pós-acadêmico, ainda assim a base da atuação
futura do fisioterapeuta se dá na Universidade. Com isto, de uma forma geral, a maioria dos
profissionais toma gosto por área específica e, nesta se especializa. A ausência de debates de
temas de cunho social influencia no despreparo do fisioterapeuta para a saúde coletiva. As
disciplinas relacionadas à Saúde Pública, portanto, não têm despertado maiores afeições
(SCHWINGEL, 2002).
Portanto, são poucos os fisioterapeutas que trabalham realmente em Saúde Pública,
especialmente na saúde coletiva e são menos ainda os que têm alguma influência na gestão de
saúde, mediante atividades na organização do sistema de saúde, nas funções de conselheiro de
saúde, ou na participação política de comando em secretarias de saúde. Aliás, em relação à
participação política, a Fisioterapia é ainda um tanto quanto ausente, de tal modo que raras
são as associações profissionais, os sindicatos que têm força suficiente para congregar os
profissionais circunscritos (SCHWINGEL, 2002).
Segundo Tedeschi (2002), profissionais liberais de nível superior, onde estão incluídos
os fisioterapeutas, têm que ter a noção que a política é o ponto de equilíbrio entre as
necessidades coletivas e a administração pública, e é exercida por cada cidadão como dever,
em respeito a sociedade que lhe mantém, e com direito na inclusão de suas idéias nos destinos
desta mesma sociedade de que é responsável.
Portanto, é necessário uma reorientação da prática fisioterapêutica, no sentido de
adequar as atividades, considerando a disponibilidade de profissionais e as necessidades
locais, para que ações preventivas e curativas possam ser desenvolvidas de modo a atender as
necessidades da população (RIBEIRO, 2002).
7. FISIOTERAPIA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA
A inserção da Fisioterapia nos serviços de atenção primária à saúde é um processo em
construção, uma vez que sua forma mais tradicional de atuação acontece em serviços de nível
secundário e terciário (RIBEIRO, 2002).
Na Fisioterapia o problema de clareza sobre o objeto de trabalho induz a indefinições
do campo de atuação do profissional. O campo profissional parece estar voltado para apenas
uma pequena parte de um objeto de trabalho: a doença e suas seqüelas. Poderia haver uma
atuação dirigida para todos os valores ou níveis de condições de saúde de um organismo ou de
uma população, bem como para os determinantes desses níveis de valores nas condições de
saúde (CECCATO et al, 1992).
A forma como a Fisioterapia vem se inserindo na rede pública de saúde sofre
influência do seu surgimento, pois teve sua gênese e evolução caracterizadas pela atuação na
reabilitação. Surgindo, inicialmente, como uma especialidade da medicina tornou-se,
posteriormente, uma profissão autônoma, mas seguindo a lógica de especialidade, foi
enquadrada, em termos de hierarquia na organização do sistema de saúde, em serviço de
atenção secundária e terciária. Essa lógica de distribuição, durante muito tempo, excluiu da
rede básica os serviços de fisioterapia, o que tem acarretado uma grande dificuldade de acesso
da população a esses serviços (RIBEIRO, 2002).
O Decreto-lei n.º 938/69 ainda outorga ao fisioterapeuta o direito de exercer funções
de direção e assessoria em estabelecimentos públicos e particulares, de exercer o magistério
nas disciplinas de formação básica ou profissional de nível médio ou superior e de
supervisionar profissionais e alunos em trabalhos técnicos e práticos. Entretanto, todas essas
funções só poderão ser exercidas se estiverem “no campo das atividades específicas” do
fisioterapeuta. Portanto, se for entendido como “atividades específicas” do fisioterapeuta,
aquelas que a lei aponta como suas “atividades privativas”, o referido profissional só poderá
exercer as funções citadas desde que estejam de alguma forma relacionadas com o
atendimento curativo ou reabilitador de indivíduos (REBELATTO e BOTOMÉ, 1999).
Posteriormente, a Lei n.º 6.316, de 1975, que criou o Conselho Federal e os Conselhos
Regionais de Fisioterapia, parece corroborar esse entendimento, pois, por meio de seu artigo
13.º, cita os locais nos quais o fisioterapeuta, devidamente identificado, poderá exercer suas
funções. Os locais citados são: estabelecimentos hospitalares, clínicas, ambulatórios, creches
e asilos. Esses locais, considerando a “política de assistência à saúde” vigente no País, são,
por definição, locais que fornecem um tipo de assistência basicamente remediadora, curativa,
recuperadora ou reabilitadora (REBELATTO e BOTOMÉ, 1999).
Um dos únicos documentos, cujo conteúdo parece ir além da concepção de uma
assistência em âmbito curativo e reabilitador, é o Código de Ética Profissional do
Fisioterapeuta. Consta no artigo 1.º deste Código de Ética: o Fisioterapeuta e o Terapeuta
Ocupacional prestam assistência ao homem, participando da promoção, tratamento e
recuperação de sua saúde. Ou seja, ele cita a promoção da saúde (CREFITO-8, 1996).
Segundo Leal, em entrevista cedida à revista O COFFITO, em setembro de 2001 (p.
33-4), considera: Os debates ratificam cabalmente a importância da atuação do fisioterapeuta como profissional essencial na Saúde Pública, habilitados que são, na construção do diagnóstico de distúrbios cinético-funcionais, na prescrição de condutas fisioterapêuticas, na sua ordenação e indução na clientela até a alta do serviço e deverá estar presente também em programas preventivos e nas pesquisas científicas voltadas para a promoção da saúde do indivíduo e da comunidade. Se obedecida a recomendação da OMS, de um fisioterapeuta para cada grupo de cinco mil habitantes, os profissionais serão todos absorvidos,... os censos mostram que 10% da população possui alguma deficiência e 3% necessitam de atendimento contínuo e integrado. Só estes números justificam cabalmente a inclusão do fisioterapeuta nas unidades de saúde e no Programa Saúde da Família e participação ativa nos programas visando garantir melhor qualidade de vida para a população.
Segundo Lebrão e cols3 (apud KATO et al, 1994, p. 60), ao chegar a década de 80,
mais especificamente no ano de 1986, as estatísticas mostram uma mudança importante no
quadro de doenças, tendo como principal causa de morte as doenças do aparelho circulatório
(33,5%), em segundo lugar as causas externas (14,85%) e em terceiro lugar as neoplasias
(11,9%).
Em vista desta situação, é necessário que a rede de atenção primária à saúde não só
atue no campo das doenças infecciosas (vacinação, puericultura, pediatria, etc.), mas também
3 LEBRÃO, M. L.; CARANDINA, L.; MAGALDI, C. Análise da condições de saúde e de vida da população urbana de Botucatu, São Paulo. IV – Morbidade referida em entrevistas domiciliares. Revista de Saúde Pública. Faculdade de Saúde Pública, USP. v. 25, n. 6, p. 452-460, dez. 1991.
passe a atuar nas áreas crônico-degenerativas e traumáticas. Para tanto é importante uma
redefinição nos aspectos de espaço físico e no perfil de profissionais que irão atuar na equipe
de saúde. Com esse aumento do número de pessoas portadoras de doenças crônico-
degenerativas e traumáticas, fica cada vez mais evidente a importância das atividades de
prevenção, promoção e reabilitação dos pacientes, como funções da equipe de saúde (KATO
et al, 1994).
As doenças crônico-degenerativas representam parte integrante da demanda trazida
pelos adultos e principalmente pela população que envelhece (SCHRAIBER; NEMES;
MENDES-GONÇALVES, 1996).
Segundo dados dessas estatísticas acerca das doenças crônico-degenerativas, Silva e
Castro (2002) salientam que a hipertensão - desde as últimas décadas, constitui um dos
maiores problemas de Saúde Pública -, pode ser controlada e prevenida a partir de moderada
ingestão de sódio, de potássio, de bebidas alcoólicas e atividade física por meio de exercícios
regulares e de intensidade moderada. Desta forma diminui-se o risco de desenvolver doença
cardiovascular prematura, seja coronariana ou encefálica.
Da mesma forma, o paciente diabético também é beneficiado pela prática de exercício
físico regular porque a prática desse equilibra a glicemia sangüínea. Estudos ampararam o
conceito de que o melhor controle da glicemia desempenha papel chave na redução das
complicações da diabetes a longo prazo (SILVA e GRANDO, 2002). Cabe aos profissionais
fisioterapeutas, a contribuição para transformações na saúde de pacientes diabéticos,
disponibilizando com criatividade, ações preventivas e reabilitadoras. Estas ações trazem
significativas mudanças para a população, pois geralmente o paciente diabético é
encaminhado ao serviço de fisioterapia para tratamento somente quando tem uma
complicação crônica instalada (acidente vascular cerebral, amputação, úlcera plantar, etc.).
Dessa forma, o diabético é integrado a um programa de controle glicêmico, utilizando-se
atividade aeróbica, bem como participa de palestras sobre temas variados, tais como cuidado
com os pés, riscos e benefícios da atividade física, como controlar a hipertensão com
exercícios, entre outros (FERNANDES, 2002).
Enfocando-se a questão do idoso, o envelhecimento da população, fenômeno que vem
sendo observado em todos os países, é um dos maiores desafios deste século. Embora velhice
não seja sinônimo de doença, na alta idade aumenta o risco de comprometimento funcional,
com a conseqüente perda da autonomia e independência. Embora constitucionalmente
garantida como “dever do Estado”, a atenção à saúde do idoso ainda é precária (QUEIROZ,
2000).
A avaliação funcional dos idosos torna-se essencial para estabelecer um diagnóstico,
um prognóstico e um julgamento clínico adequado que servirão de base para as decisões sobre
os tratamentos e cuidados necessários (CIANCIARULLO et al, 2002).
Na tentativa de fazer vigorar a assistência à saúde do idoso, são propostos programas
de terapia multidisciplinar para o tratamento global do idoso, proporcionando-lhe um
envelhecimento mais saudável e mais digno, com melhor qualidade de vida (CANINEU,
1999).
O trabalho com grupos tem se mostrado como uma possibilidade de atuação da
Fisioterapia na atenção básica, em que se pode adequar às necessidades dos usuários e a
disponibilidade de profissionais, podendo representar uma estratégia de atender a uma
demanda que não tem possibilidade de ser atendida individualmente (RIBEIRO, 2002).
O atendimento domiciliar, por sua vez, é uma atividade que se mostra imprescindível
ao trabalho na atenção primária, pois é nesse nível de atenção que nos deparamos com a
realidade das pessoas que precisam de atendimento fisioterapêutico e não podem se deslocar
ao serviço. Esse entendimento requer do profissional uma disponibilidade de tempo maior
para a sua realização do que no serviço de saúde, pois, além do tempo necessário ao
deslocamento para o domicílio, o atendimento nestas circunstâncias torna-se mais demorado
em função da necessidade de adaptação dos procedimentos às condições do ambiente. Nesse
contexto, a orientação ao cuidador e aos agentes de saúde, tem sido a solução apontada para
assegurar a continuidade e dar uma maior intensidade ao tratamento (RIBEIRO, 2002). A
valorização da subjetividade encontrada em cada paciente e em seu domicílio, amplia as
fronteiras de intervenção em relação as comumentes fundamentadas em avaliações
sistemáticas, que se preocupam exclusivamente com as perdas físico-funcionais ocasionadas
por uma lesão ou por uma patologia específica. Portanto, é importante a identificação do
paciente dentro do seu contexto psicossocial (FREITAS, 2002). Outro ponto benéfico do
atendimento domiciliar é a oportunidade de avaliar o ambiente onde o paciente reside. As
informações obtidas a partir de uma avaliação ambiental auxiliam na determinação das
necessidades de intervenções terapêuticas adicionais, modificações ambientais e equipamento
adaptativo. Ademais, elas ajudam na preparação do paciente e sua família para o melhor
conforto em um determinado ambiente físico (O’SULLIVAN e SCHMITZ, 1993).
Um dos exemplos de ações que visam preparar profissionais para atuarem na atenção
primária, é a Residência em Saúde da Família, que está em curso vinculada à Universidade
Estadual do Oeste do Paraná, em Cascavel – PR. Ela é constituída por uma equipe
multiprofissional, incluindo o fisioterapeuta, o que vem a ressaltar a luta pela qualificação e
inserção desse profissional no PSF e em outros projetos e programas de cunho preventivo
(RESIDÊNCIA..., 2002).
Constata-se assim, que a atuação do fisioterapeuta na atenção primária pressupõe uma
adequação de sua prática à realidade desse nível de atenção à saúde e às necessidades da
população. Requer, também, uma reflexão contínua de suas ações, no sentido de possibilitar
que, ao trilhar esses caminhos, o profissional possa delinear novos contornos de atuação
(RIBEIRO, 2002). Portanto, é na reordenação de disciplinas preventivas gerais, incluindo a
parasitologia, durante a graduação do fisioterapeuta, que estes obterão melhores resultados e
segurança na sua intervenção em atenções básicas junto à população alvo.
CONCLUSÃO
Este trabalho não pretende trazer conclusões originais. Sua intenção é tão somente
indicar questões que requerem maior reflexão de natureza metodológica e operacional. Sua
contribuição reside no propósito de ampliar o escopo e a abrangência das reflexões acerca da
Saúde Pública.
Do ponto de vista daqueles que estão preocupados com a formulação de políticas de
saúde que possam atender melhor as demandas de justiça e eficiência, este trabalho vem
chamar a atenção para a importância de se levar em conta os aspectos institucionais tanto na
análise como no próprio processo de formulação de políticas para o setor de saúde e da
interação da Fisioterapia neste contexto.
Devido à abordagem atual na atenção primária à saúde, conclui-se que é de grande
importância a presença do profissional de Fisioterapia atuando na rede primária, uma vez que
o fisioterapeuta pode atuar junto à população na prevenção, cura, reabilitação, na manutenção
da integridade física, amenizando esses casos que são passíveis de atendimento
fisioterapêutico. Ou seja, além de intervir na questão preventiva da saúde, o fisioterapeuta
também intervem nos casos em que a doença já está instalada, como ocorre em número
considerável da população brasileira, como, por exemplo, as vítimas de traumatismos,
doenças crônico-degenerativas, doenças incapacitantes da infância entre outras.
A participação intensa do fisioterapeuta em programas de cuidados primários em
saúde é condição fundamental para a concretização das diretrizes de uma assistência à saúde
realmente integral, como proposto pelo SUS e PSF, ao contrário do tradicional modelo
medicalizado, fragmentado, hospitalocêntrico e baseado na dependência e exclusão social. O
profissional fisioterapeuta é um ator muito importante para a conquista e desenvolvimento de
uma assistência à saúde da população que se baseia na inclusão social, centrada na
comunidade e na participação efetiva desta, na conquista da saúde como instrumento através
do qual cidadãos possam realizar suas aspirações e satisfazer suas necessidades, adquirindo a
capacidade de mudar seu entorno e enfrentá-lo.
Ainda que a formação em Fisioterapia seja essencialmente voltada à atenção
secundária e terciária, deve-se salientar que o fisioterapeuta, durante a sua graduação, tem
contato com matérias concernentes à anatomia, fisiologia, patologia, dentre outras, que o
capacita para desenvolver habilidades reabilitadoras de acordo com a desordem cinético-
funcional do indivíduo. Sim, indivíduo, já que nossa formação se traduz em âmbito singular e
até nossa abordagem com relação à equipe multiprofissional é deficitária. Por isso, o fato de
intervir na atenção primária, merece melhor análise operacional e metodológica por parte das
instituições de ensino, porque esta intervenção se dá em âmbito coletivo, tanto da população
alvo quanto do trabalho em equipe.
Para tanto, é importante que as instituições de ensino reavaliem seus conceitos
acerca da qualificação do fisioterapeuta para as questões e abordagens nas focalizações de
disciplinas que garantam um melhor suporte teórico-prático nas atividades que envolvem a
atenção primária, como é o caso de disciplinas de cunho preventivo e de conhecimentos em
parasitologia, este pouco abordado e de extrema importância quando se pensa na intervenção
em população de baixa renda e nível educacional deficitário. É necessário que estas
instituições adequem suas matrizes curriculares, atentando ao perfil social e profissional
esperado do fisioterapeuta e dos demais profissionais que compõem a equipe de saúde.
Dessa forma, o envolvimento do profissional fisioterapeuta em projetos
assistenciais coletivos de caráter público irá torná-lo cada vez mais um ente profissional de
extrema importância na promoção e na manutenção da saúde, fazendo com que no âmbito de
muitos atores, ele seja entendido como um agente de transformações sociais requalificadoras
da vida.
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