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Introdução ao Estudo do Direito Prof. Adriane Haas Ciência do Direito 1

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Page 1: Introdução ao Estudo do Direito Prof. Adriane Haas Ciência do Direito 1

Introdução ao Estudo do DireitoProf. Adriane Haas

Ciência do Direito

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O direito é uma ciência?

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Conceito de Ciência

Aristóteles conceitua ciência como sendo um:

“conjunto de verdades relativas a um objeto formal metodologicamente ligados por causas e princípios”.

*conhecimento vulgar/empírico

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Ciência do Direito

Negação do caráter de ciência: Kirchmann, em 1848:

A ciência do direito, tendo por objeto o contingente, é também contingente: três palavras retificadoras do legislador tornam inúteis uma inteira biblioteca jurídica.[1]

[1] Apud GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao Estudo do Direito. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 4.

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Teoria Pura de Hans Kelsen

Ciência do direito como conhecimento autônomo

Na afirmação evidente de que o objeto da ciência jurídica é o Direito, está contida a afirmação – menos evidente – de que são as normas jurídicas o objeto da ciência jurídica, e a conduta humana só o é na medida em que é determinada nas normas jurídicas como pressuposto ou consequência, ou – por outras palavras – na medida em que constitui conteúdo de normas jurídicas.

Depurações ideológicas, políticas, culturais, morais, filosóficas ou sociológicas.

Norma é válida se está apoiada na Norma Fundamental, e não por ser justa.

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Espécies de ciência para Kelsen

Ciência explicativa

SerObjeto: realidade como éLeis naturaisRelação causalidade: A, será BFinalidade teórica,

intelecto

Ciência Normativa

Dever-serRealidade como deve

acontecerLeis são normas de condutaRelação de imputação: Se A deve ser B, dado não

A, deve ser BFinalidade prática: criada

norma para ser seguida pelos homens

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Dever-Ser e o Ser (Rizzatto Nunes)

Uma norma jurídica que disciplina o trânsito. Ao sinal de luz vermelha corresponde a ordem ‘o motorista deve parar’.

Essa ordem é um ‘dever-ser’ jurídico, pois aponta o que a norma jurídica pretende que seja. Quando diante de um sinal vermelho a ordem é cumprida, ocorre um fato que se ajusta ao conteúdo da norma; a norma é vivenciada como um mundo do ‘ser’, dos fatos. Já quando o motorista desobedece à norma, ultrapassando o sinal, há uma violação do comando e ao mesmo tempo outro tipo de ‘ser’: um fato sancionado pela norma jurídica.

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O direito prescreve uma conduta do mundo do ‘dever-ser’ (a conduta ideal), que se descumprida, gera uma sanção, perseguindo assim o cumprimento da norma. Partindo do exemplo:

a) o motorista pode escusar-se de pagar a multa alegando que não viu o sinal?

b) pode apresentar a mesma justificativa, alegando que mora naquela rua e não percebeu o sinal que foi instalado naquele dia?

c) pode o motorista alegar que ultrapassou o sinal por que se aproximaram do carro dois sujeitos mal encarados e pressentiu que seria assaltado?

d) se os funcionários instalaram por engano o sinal naquela rua? e) pode a multa ser lavrada por indicação de um cidadão comum

a um guarda de trânsito que não assistiu a ocorrência? Uma norma pode ter centenas de desdobramentos

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Discussão acadêmica

O físico faz ciência sem saber se ela é ou não ciência. Igualmente o jurista deve se interessar em conhecer o direito, torná-lo eficaz, sem se preocupar com essa questão acadêmica oriunda da época em que o conceito de ciência se confundia com o das ciências físico-naturais, hoje abandonado.[1][1] GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao Estudo do Direito. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 5.

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Conceito Ciência do Direito

são conhecimentos metodicamente coordenados, resultantes do estudo ordenado das normas jurídicas com o propósito de apreender o significado objetivo das mesmas e de construir o sistema jurídico, bem como de descobrir as suas raízes sociais e históricas.[1]

[1] GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao Estudo do Direito. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 3.

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Natureza Jurídicawww.cnpq.br

Ciências humanas

HistóriaFilosofiaPsicologiaSociologiaAntropologiaCiência políticaEducação

Ciências sociais

AdministraçãoArquiteturaContábeisDireitoEconomiaServiço SocialTurismo

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Tabela das Áreas do ConhecimentoCiências Sociais Aplicadas

Direito

Teoria do Direito Teoria Geral do Direito

Teoria Geral do Processo Teoria do Estado

História do Direito Filosofia do Direito

Lógica Jurídica Sociologia Jurídica

Antropologia Jurídica Direito Público Direito Privado

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Objetivo da Ciência do Direito

Construir o sistema jurídico, que é a unificação lógica das normas e dos princípios jurídicos vigentes no país, estabelecendo conceitos, hierarquia entre normas e fontes do direito, classificações.

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Dogmática e Zetética jurídica Sócrates estava sentado à porta de sua casa. Neste momento,

passa um homem correndo e atrás dele vem um grupo de soldados. Um dos soldados então grita: agarre esse sujeito, ele é um ladrão!

Ao que responde Sócrates: que você entende por ‘ladrão’?

Notam-se aqui dois enfoques: o do soldado que parte da premissa de que o significado de ‘ladrão’ é uma questão já definida, uma ‘solução’ já dada, sendo seu problema agarrá-lo; o de Sócrates, para quem a premissa é duvidosa e merece um questionamento prévio. Os dois enfoques estão relacionados, mas as consequências são diferentes. Um, a partir de uma solução já data e pressuposta, está preocupado com um problema de ‘ação’ e como agir. Outro, ao partir de uma interrogação, está preocupado com um problema especulativo, de questionamento global e progressivamente infinito das premissas.[1]

[1] FERRAZ JR., Tércio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito. 5ª Ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 40.

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Dogmática e Zetética jurídicaEquilíbrio:

Dogmática Jurídica: parte de algo posto para poder agir. Trata da interpretação e sistematização de leis, códigos, costumes.

Zetética Jurídica: são indagações, mais um saber do que um agir.

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Decisão HABEAS CORPUS HC 62417 SP 2006/0150070-8 (STJ)

CRIMINAL. HC. FURTO QUALIFICADO. PLEITO DE ABSOLVIÇÃO. ÍNFIMO VALOR DOS BENS SUBTRAÍDOS PELA AGENTE. INCONVENIÊNCIA DE MOVIMENTAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO. DELITO DE BAGATELA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. FURTO FAMÉLICO. ORDEM CONCEDIDA.

I. Hipótese em que o impetrante sustenta que a conduta da ré não se subsume ao tipo do art. 155 do Estatuto Repressor, em face do pequeno valor econômico das mercadorias por ela subtraídos, atraindo a incidência do princípio da insignificância. II. Embora a impetração não tenha sido instruída com o referido laudo de avaliação das mercadorias, verifica-se que mesmo que a paciente tivesse obtido êxito na tentativa de furtar os bens, tal conduta não teria afetado de forma relevante o patrimônio das vítimas. III. Atipicidade da conduta que merece ser reconhecida a fim de impedir que a paciente sofra os efeitos nocivos do processo penal, assim como em face da inconveniência de se movimentar o Poder Judiciário para solucionar tal lide. IV. As circunstâncias de caráter pessoal, tais como reincidência e maus antecedentes, não devem impedir a aplicação do princípio da insignificância, pois este está diretamente ligado ao bem jurídico tutelado, que na espécie, devido ao seu pequeno valor econômico, está excluído do campo de incidência do direito penal. V. A res furtiva considerada - alimentos e fraldas descartáveis-, caracteriza a hipótese de furto famélico. VI. Deve ser concedida a ordem para anular a decisão condenatória e trancar a ação penal por falta de justa causa.

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Técnicas jurídicasPontes de Miranda: o conjunto de meios para

procurar e fixar as regras jurídicas (técnica legislativa) ou interpretá-las e aplicá-las (técnica exegético-executória).

Técnica legislativa

Técnica de interpretação

Técnica de aplicação do direito

Técnica processual

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Relação do Direito com outras ciências

Filosofia

Enquanto a ciência do direito se limita a descrever e sistematizar o direito vigente, a filosofia do direito transcende o plano meramente normativo, para questionar o critério da justiça adotado nas normas jurídicas.[1]

[1] NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 3-ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 11.

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Três ordens de pesquisa filosófica

O que é direito?

Em que se funda ou legitima o direito?

Qual o sentido da história do direito?

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Relação do Direito com outras ciências

Sociologia

adaptação do direito à vontade social; cumprimento pelo povo das leis vigentes e a

aplicação destas pelas autoridades; correspondência entre os objetivos visados pelo

legislador e os efeitos sociais provocados pela lei. [1]

[1] NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 3-ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 11.

Page 21: Introdução ao Estudo do Direito Prof. Adriane Haas Ciência do Direito 1

Relação do Direito com outras ciências

História

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Relação do Direito com outras ciências

Economia

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Relação do Direito com outras ciências

Ciência Política

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Psicologia forense

Estuda a natureza do comportamento humano, os comportamentos mentais e os princípios de onde procedem, facilitando o trabalho do jurista, legislador, que dita normas sobre a conduta humana, e do magistrado, que as aplica ao pronunciar-se sobre a conduta humana.

(Maria Helena Diniz, Compêndio de Introdução à Ciência do Direito, p. 226)

Relação do Direito com outras ciências

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Carta aos Jovens(Ivan Pavlov)

O que desejaria eu aos jovens de minha Pátria, consagrados à ciência?

Antes de tudo – constância. Nunca posso falar sem emoção sobre essa importante condição para o trabalho científico. Constância, constância e constância! Desde o início de seus trabalhos, habituem-se a uma rigorosa constância na acumulação do conhecimento.

Aprendam o ABC da ciência, antes de tentar galgar seu cume. Nunca acreditem no que se segue, sem assimilar o que vem antes. Nunca tentem dissimular sua falta de conhecimento, ainda que com suposições e hipóteses audaciosas. Como se alegra nossa vista com o jogo de cores dessa bolha de sabão – no entanto ela, inevitavelmente, arrebenta e nada fica além da confusão.

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Acostumem-se à discrição e à paciência. Aprendam o trabalho árduo da ciência. Estudem, comparem, acumulem fatos.

Ao contrário das asas perfeitas dos pássaros, a Ciência nunca conseguirá alçar vôo, nem sustentar-se no espaço. Fatos – essa é a atmosfera do cientista. Sem eles nunca poderemos voar. Sem eles nossa teoria não passa de um esforço vazio.

Porém, estudem, experimentem, observem, esforcem-se para não abandonar os fatos à superfície. Não se transformem em arquivistas de fatos. Tentem penetrar no mistério de sua origem e, com perseverança, procurem as leis que os governam.

Em segundo lugar – sejam modestos. Nunca pensem que sabem tudo. E não se tenham em alta conta; possam ter sempre a coragem de dizer: sou ignorante.

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Não deixem que o orgulho os domine. Por causa dele, poderão obstinar-se, quando for necessário concordar; por causa dele, renunciarão ao conselho saudável e ao auxílio amigo; por causa dele, perderão a medida da objetividade.

Em terceiro lugar – a paixão. Lembrem-se de que a Ciência exige que as pessoas se dediquem a ela durante a vida inteira. E se tivessem duas vidas, ainda assim não seria suficiente. A Ciência demanda dos indivíduos grande tensão e forte paixão.

Sejam apaixonados por sua ciência e por suas pesquisas.Nossa Pátria abre um vasto horizonte para os cientistas e é

preciso reconhecer – a Ciência generosamente nos introduz na vida de nosso país. Prossigam com o máximo de generosidade!

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O que dizer sobre a situação de nossos jovens cientistas? Eis que aqui tudo é claro. A vocês muito foi dado, mas de vocês muito se exige. E para os jovens, assim como para nós, a questão de honra é ser digno de uma esperança maior, aquela que é depositada na Ciência de nossa Pátria.