a essência da auto-realização

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  • 8/3/2019 A Essncia da Auto-Realizao

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    A ESSNCIA DA AUTO REALIZAO

    O homem no importante pelo seu ego ou pela sua personalidade. OHomem importante porque, como alma, ele parte de Deus.

    Paramhansa Yogananda

    Textos anotados e coligidos por seu discpulo Kriyananda (J. Donald

    Walters)

    A verdade simplesmente . No se trata de discutir se ela existe ouno. Ela deve ser percebida por toda pessoa no seu Eu interior e imutvel.

    INTRODUO

    Convivi com Paramhansa Yogananda na condio de discpulodurante os ltimos trs anos e meio da sua vida. Depois de eu passar umano e meio em sua companhia, ele comeou a solicitar de mim quetomasse nota das coisas que dizia durante conversas informais.Estvamos no seu retiro solitrio, onde ele completava os seuscomentrios sobre o Bhagavad Gita.

    A principio tive dificuldades. Eu no sabia taquigrafia e a minhacaligrafia causava desanimo, at mesmo para mim. O Mestre, porm, fielao prprio ensinamento de que a pessoa deve se concentrar na luz em vezdas trevas, no prestava ateno a esses obstculos insignificantes;continuava a solicitar de mim que fizesse os apontamentos.

    s vezes, no falo a partir do nvel da gyana (sabedoria

    impessoal), disse ele. Sua natureza comumente encontrava expresso noamor divino.

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    Meu entusiasmo crescia proporo que eu compreendia que emnenhum lugar eu lera ou ouvira ensinamentos to profundos, to simplese to convincentes.

    Tome nota disso! ele me dia a viva voz, medida que os anospassavam, durante as conversas com os monges ou com os visitantes. Vezpor outra, na sua explanao, ele acrescentava, eu jamais disse isso.

    Pelo fato de minha caligrafia ser o que era, nunca esperei poderacompanha-lo. medida que passavam as semanas, contudo, descobrique ele me concedera uma beno extraordinria. Sozinho, eu conseguiaouvir a voz dele depois do nosso encontro, como que pronunciando aspalavras na minha mente medida que eu as anotava. To notvel eraessa beno que, na ndia, anos depois, pude por a prova a minhamemria no que diz respeito s suas palavras, e at mesmo consegui melembrar de oraes inteiras, que ele dissera em hindi ou em bengali, duaslnguas que me eram desconhecidas enquanto ele estava vivo.

    Mesmo hoje em dia, ouo claramente as suas palavras na minhamente, repletas de sabedoria, de amor divino e de poder espiritual - por

    vezes, aliados a um delicioso senso de humor. Suas conversas erampontilhadas de anedotas; eram iluminadas por metforas e continham aintroviso mais profunda em todos os nveis de realidade, humana edivina, que, por uma grande beno, foi-me dado encontrar.Kriyananda.

    Paramhansa significa cisne supremo. Trata-se do mais alto tituloespiritual na religio hindu, e suas razes esto nas antigas doutrinas.

    O cisne sente-se vontade tanto na terra quanto na gua. De modosemelhante, o verdadeiro sbio, ou parahamsa, se sente vontade nosdomnios da matria e do Esprito.

    De conformidade com a tradio indiana, o cisne tambm capaz deseparar o leite da gua. Literalmente, talvez isso signifique que o cisnesecrete uma substancia no seu bico que faz o leite coagular, separando,por isso, o coagulo do soro. Independentemente dos fatos biolgicos, nandia, o cisne simboliza a capacidade que um mestre, que encontrou aauto realizao tem de separar a slida verdade da iluso insubstancial.

    Por fim e o que mais importante, hansa um composto formadopor duas palavras sanscriticas que significam Eu sou Ele, ou Eu souo Esprito . Desse modo, um paramhansa algum capaz de proclamara prpria unidade com o esprito - de modo supremo, pois essa pessoa norealiza mais essa afirmao apenas no nvel mental, mas compreende asua verdade mais profunda no seu Eu interior.

    De acordo com os eruditos sanscrticos, paramhansa uma

    palavra escrita com mais propriedade na forma de paramahansa, com uma extra medial. As minudencias dos eruditos, porm, nem semprecoincidem com a compreenso da mente no instruda.

    Em ingls, esse a medial torna mais problemtica a pronuncia noponto em que as pessoas realizam uma pausa, e d, assim, nfase a umaletra que, na ndia, no pronunciada. Por outras palavras, o americanoou o ingls mdio, e muito provavelmente o no indiano mdio,pronunciam assim a palavra: paramaahansa . Entretanto, a pronunciacorreta paramhansa.

    Aos ocidentais que simplesmente querem saber, com certo grau deexatido, de que modo pronunciar essa palavra difcil, convm dizer queos eruditos sanscriticos aceitam a pronunciaparamhansa.

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    Captulo Um

    A Loucura do Materialismo

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    A verdade apenas . Ela no pode ser eleita para a existncia. Eladeve ser percebida por toda pessoa no seu Eu interior e imutvel.

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    Disse Paramhansa Yogananda: O homem que se entrega a cinciado materialismo utiliza as foras da natureza a fim de tornar melhor emais confortvel o ambiente do homem. O homem que se entrega cincia do esprito utiliza o poder da mente para iluminar a alma.

    O poder da mente revela ao homem o caminho para a felicidadeinterior, e isso lhe confere imunidade no que diz respeito aos transtornos

    do mundo exterior.Dois dois tipos de homem de cincia , qual voc diria que realiza

    obra mais importante ? Certamente o homem que se entrega a cincia doesprito.

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    De que vale desperdiar todo o tempo em coisas passageiras? Amoral do drama da existncia est no fato de que a existncia apenasisto: um drama, uma iluso.

    Os loucos, imaginando que a pea real e duradoura, choram nascenas tristes, afligem-se com o fato de as cenas alegres no poderemdurar, e se entristecem com o fato de a pea dever, ao fim e ao cabo,terminar. O sofrimento o castigo pela cegueira espiritual.

    Os sbios, contudo, percebendo o drama para a completa ilusoque ele significa, buscam a eterna felicidade no seu Eu interior.

    A vida, a quantos ignoram como maneja-la, uma maquinaterrvel. Mais cedo ou mais tarde, essa maquina os faz em pedaos.

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    Um homem a quem Paramhansa Yogananda conheceu em Nova Yorkse queixou: No consigo me perdoar por ter passado trinta e cinco anosacumulando o meu primeiro milho de dlares !

    Voc ainda no esta satisfeito? Indagou o Mestre.Longe disso! lamentou o homem de negcios. Um amigo meu

    consegui economizar muito mais que esta quantia. S vou ficar satisfeitoquando tiver conseguido quarenta milhes de dlares!

    Paramhansa Yogananda, recordando esse episdio anos depois,terminou o seu relato dizendo: Antes que esse homem pudesse juntar osseus quarenta milhes e passar o restante dos seus dias tranqilo e feliz,ele sofreu um total colapso nervoso. Logo depois, morreu.

    Tal a conseqncia da excessiva ambio terrena.

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    Disse Yogananda: Certa vez , vi um desenho de um cachorroatrelado a uma carroa pequena, embora carregada. O dono do cachorrodescobriu um mtodo ingnuo de dizer com que o cachorro puxasse acarroa para ele. Uma longa vara, presa carroa, se projetava adiantesobre a cabea do cachorro. Do ponto extremo da vara pendia umasalsicha tentadora. O co ao se esforar inutilmente para alcanar asalsicha, mal percebia a carroa pesada que arrastava atras de si.

    Quantos homens de negocio so assim! Eles pensam e pensamcoisas como: - Se eu puder juntar um pouco mais de dinheiro, vou serfinalmente feliz. - De alguma forma, a salsicha que lhes traz felicidadecontinua a se afastar do seu alcance. Entretanto, observe: enquanto seempenham em alcana-la, que fardo de preocupaes e aborrecimento

    eles arrastam atrs de si.

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    A posse das riquezas materiais, sem a paz interior, semelhantea morrer de sede enquanto nos banhamos nas guas de um lago.Enquanto a pobreza material deve ser evitada, a pobreza espiritual deveser abominada! Pois a pobreza espiritual, e no a falta de bensmateriais, que esta no centro de todo o sofrimento humano.

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    As pessoas se esquecem de que o preo do luxo eqivale adesprender cada vez mais a energia dos nervos e do crebro, e aconseqente diminuio do perodo de vida natural, que j breve.

    Os materialistas se envolvem tanto com a tarefa de acumulardinheiro que no conseguem relaxar o bastante para usufruir o conforto,mesmo depois de o terem adquirido.

    Como a vida moderna insatisfatria ! Basta olhar para aspessoas sua volta. Pergunte para voc mesmo: essas pessoas so felizes? Repare na expresso de tristeza que h em tantos rostos. Observe o

    vazio nos olhos das pessoas.

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    Uma vida materialista constitui uma tentao para a humanidade,com os seus sorrisos e certezas; entretanto, ela s coerente nisso:posteriormente, ela jamais cumpre suas promessas !

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    Por trs de casa muda de rosa do prazer esconde-se uma cascavelde sofrimento e de dor.

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    Ao se dirigir a uma grande platia nos Estados Unidos, Paramhansa Yogananda disse o seguinte: O homem moderno se orgulha daabordagem cientifica que faz no que concerne realidade . Permitam-me,pois, fazer esta proposta: que vocs analisem a vida em si - num

    laboratrio por assim dizer. Os americanos adoram fazer experincias;sendo assim, por que vocs no fazem experincias consigo mesmos ?Com as suas atitudes para com a vida, com os seus pensamentos, com oseu comportamento?

    Descubram o que vem a ser a vida, e de que forma a existnciahumana poderia melhorar. Descubram o que as pessoas mais querem navida, e qual o melhor meio de realizar os seus desejos. Descubram o queelas mais querem evitar, e o modo como no futuro, elas poderiam evitaresse conviva indesejado .

    Na fsica e na qumica, se a pessoa deseja obter a resposta certa,ela deve formular a pergunta certa. O mesmo serve para as nossas vidas.

    Tentem descobrir por que tantas pessoas so infelizes. Depois tendo

    compreendido isso, procurem o melhor meio de alcanar a felicidadeduradoura.

    Empenhem-se em encontrar solues praticas - frmulas quesirvam para todos. A abordagem que a pessoa faz da vida deveria ser tocientifica quanto a abordagem do fsico com respeito ao estudo que ele fazdo universo.

    A religio em si deveria adotar uma abordagem mais cientifica davida. Dever buscar solues praticas para problemas fundamentais daexistncia.

    Na verdade, os principio espirituais oferecem as solues praticaspara os problemas fundamentais da existncia.

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    Um bebe chora querendo um brinquedo, e para de chorar quando oobtm. Depois disso ele deixa de lado e comea a chorar em busca deoutra coisa.

    No isso que faz o homem materialista na sua busca interminvelde felicidade ? To logo ele obtm alguma coisa, perde interesse por estacoisa e prossegue a correr em busca de algo mais. Nada neste mundo osatisfaz durante muito tempo.

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    A alma no pode encontrar sua felicidade perdida nas coisasmateriais pelo simples fato de o consolo que estas coisas materiaisoferecem ser falso. Depois de perder o contato com a divina benodentro de si, o homem espera satisfazer sua necessidade com relao aessa beno nos falsos prazeres dos sentidos . Nos nveis mais profundosdo seu ser, porm, ele permanece inconsciente do seu estado anterior,celestial, em Deus. A verdadeira satisfao lhe escapa, pois quando elebusca, enquanto corre incansavelmente passando de um prazer sensual aoutro, a felicidade perdida no Senhor.

    Ah, cegueira! Quanto tempo mias continuaras, sofrendo com oaborrecimento, o tdio e a insatisfao, antes de buscares a alegria nointerior, onde s ela pode ser encontrada ?

    Captulo Dois

    O VERDADEIRO OBJETIVO DA VIDA

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    Os que esto mergulhados na conscincia corporal so comoestrangeiros numa terra estranha. Nosso pas nativo a Onipresena. Naterra, somos apenas viajantes - convidados a uma visita breve.

    Infelizmente, a maior parte das pessoas faz de si mesmo convivasindesejveis ! Insistem em monopolizar uma pequena parcela da terracomo se esta pertencesse verdadeiramente a essas pessoas. Essa gente

    pensa constantemente em termos de minha casa, minha mulher, meumarido, meus filhos. Os embaraos materiais , aprazveis e misteriosos,fazem com que continuem sonhando no sono da iluso. Eles esquecemquem e o que realmente so.

    Acorde, antes que a sua vida de sonhos desvanea no infinito!Quando esse corpo tombar na morte, como ficar sua famlia? O que serda sua casa? Do seu dinheiro? Voc no este corpo. O corpo tosomente um prato, dado a voc a de que possa com ele se alimentar dobanquete do Esprito.

    Por que no aprender esta lio essencial antes da morte? Por queesperar? No se aferre s limitaes da conscincia humana; em vez

    disso, lembre - se da vastido do Esprito interior.

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    Afastem-se, disse Krishna, do Meu oceano de sofrimentos e deinfelicidade! Com Deus, a vida um banquete de felicidade, mas, semEle, um ninho de perturbaes, de dores e de decepes.

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    O objetivo da vida humana no o casamento, nem o alimento,nem a morte. Comer, beber e morrer apenas pertencem aos animais. Porque viver abaixo do seu real posto na vida?

    Deus lhe deu inteligncia a fim de que voc faa uso dela de modoapropriado, para deslindar o mistrio da sua existncia. Ele o fezinteligente a fim de que voc desenvolva o sentido do discernimento paraprocur-Lo. Utilize sabiamente esse dom divino. No proceder dessamaneira cometer a maior injustia contra voc mesmo.

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    O verdadeiro objetivo da vida conhecer Deus. As tentaes domundo lhe foram dadas para ajuda-lo a desenvolver o sentido dodiscernimento: voc prefere os prazeres sensuais, ou escolhe Deus? Osprazeres parecem atraentes a principio, no entanto, se voc os escolher,mais cedo ou mais tarde ver-se- enredado em inmeros problemas edificuldades.

    A perda da sade, da paz de esprito e da felicidade o quinho dequalquer um que sucumbe ao engodo dos prazeres sensuais. Por outrolado, a alegria infinita sua no momento em que voc conhece Deus.

    Posteriormente, todo ser humano ter de aprender essa grandelio de vida.

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    Observe as luzes de uma cidade tremeluzindo a distncia. No lheparecem belas? No entanto, algumas dessas luzes talvez estejam

    iluminando grandes crimes.No se deixe enganar pelos espetculos exteriores da existncia. O

    seu glamour superficial. Olhe para alm das aparncias, para a verdadeeterna que existe no interior da pessoa.

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    Voc no nasceu apenas para ganhar dinheiro, para ter filhos epara depois morrer! Um destino glorioso lhe pertence. Voc nasceu doInfinito! Toda a espcie de satisfao sonhada por voc o espera em Deus.

    O infinito tesouro-morada seu. Por que demorar-se? Por que desperdiartempo em rodeios sem conta? Siga direto em direo a Ele.

    7

    Pense por um momento no que Jesus quis dizer ao afirmar: *Queos mortos enterrem os seus mortos . O significado dessa frase dizrespeito ao fato de muitas pessoas estarem mortas mas ignorarem isso;essas pessoas no tem ambies, nem iniciativa, nem entusiasmoespiritual, nem alegria de viver.

    O que adianta viver dessa maneira? A vida deveria ser uma

    continua fonte de inspirao. Viver maquinalmente estar morto pordentro, embora o corpo ainda respire!

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    A razo pela qual a vida das pessoas to sem graa edesinteressaste o fato de elas dependerem de canais pouco profundospara a sua felicidade, em vez de irem a fonte ilimitada de toda a alegriadelas mesmas.* Mateus 8:22.

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    Este universo um sonho de Deus. A prpria vastido do universosugere a falta de limites da conscincia.

    Imagine apenas uma esfera de luz. Visualize-a expandindo-seeternamente afora com a velocidade do pensamento. Poderia ela alcanarum ponto onde uma expanso posterior fosse impossvel? Jamais ! Emboraa matria tenha limitaes, a conscincia no tem nenhuma limitao.

    Voc no percebe? Eis o que o universo: infinito, porque ascapacidades da conscincia so infinitas. Assim como o pensamentoantecede a ao, da mesma forma a matria, tal qual essa esfera de luz

    em expanso, preencheu o espao que o pensamento criara para ela.A substancia fundamental do universo a conscincia. A matriaem si era simplesmente o pensamento na existncia - primeiro comoenergia; depois, na forma de matria. Pois esta energia apenas numnvel inferior de manifestao. A cincia moderna j descobriu isso.

    A meditao cientifica h muito descobriu que a energia csmica simplesmente uma projeo da vontade de Deus.

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    O homem no importante pelo seu ego nem pela suapersonalidade. Ele importante porque, como alma, faz parte de Deus.

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    Esse poucos anos da sua vida terrena so apenas uns tantossegundos quando comparados aos os antes do seu nascimento e sextenses ilimitadas de tempo que ainda esta por vir, muito depois devoc ter deixado este mundo. Por que se identificar com esse rpidointerldio material ? Estes no so o seu corpo, a sua famlia, o seu pas.Voc apenas um visitante aqui. Sua terra natal o Infinito. O seu realperodo de vida a Eternidade.

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    As pessoas vivem de modo vicrio em demasia - vivem da opinioalheia. Se voc quer ter vida em abundncia,* como ensinou Jesus, vocdeve viver a prpria vida, no a de outras pessoas; a sua primeirapreocupao deveria ser a de como cativar o Senhor, no de comoagradar ao seu companheiro.

    Nunca perca Deus de vista. Este mundo continuara a existir semvoc. Voc no to importante quanto pensa; na lata de lixo das erasbilhes de pessoas foram lanadas. o reconhecimento do Senhor quedevemos cultivar, no o reconhecimento de outras pessoas.

    Joo 10:10

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    O objetivo da vida humana encontrar Deus. Eis a nica razo danossa existncia. O emprego, os amigos, os interesses materiais - em simesmas, essas coisas nada significam. Elas jamais lhe podemproporcionar a verdadeira felicidade, pelo simples fato de que nenhumadelas, em si, completa. Apenas Deus capaz de abranger todas ascoisas.

    Eis o porque de Jesus ter dito: Buscai em primeiro lugar o reino deDeus, e todas as coisas vos sero dadas em acrscimo.** Buscaiprimeiramente o Doador de todas as dadivas, e receberas dEle todas assuas ddivas de satisfao secundaria. ** Mateus 6:33.

    Captulo Trs

    A Natureza Onrica do Universo1

    Perto de uma rvore, havia um fazendeiro, absorto empensamentos. A mulher dele apareceu correndo e , em prantos, anunciouque o nico filho que tinha acabara de ser morto por uma cobra. Ofazendeiro no disse palavra. Perplexa diante dessa aparente indiferena,a mulher gritou: Voc no tem corao!

    Voc no esta compreendendo replicou o fazendeiro. Na noitepassada, sonhei que eu era um rei, e que tinha sete filho. Eles sairam e seembrenharam na floresta, foram picados pelas cobras e morreram. No

    momento, me pergunto se eu devia chorar pelos meus sete filhos mortosno sonho, ou pelo nosso nico filho que acaba de morrer nesse sonho queagora estamos sonhando.

    O fazendeiro era um homem de viso espiritual. Para ele, o mundomaterial e o mundo onrico do subconsciente eram ambos igualmenteirreais.

    Quando sonhamos noite, esse sonho presente se desvanece noirreal, e apenas esse mundo onrico do subconsciente nos parece real.Quando voltamos uma vez mais ao sonho deste mundo, aquele outrosonho esquecido.

    Todas as coisas existem apenas na conscincia.

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    Um homem dorme e sonha que um soldado. Vai para a guerra,luta com bravura e fatalmente ferido. Tristemente, sonha com a suamorte que se aproxima. Talvez pense nos entes queridos que deixou paratrs.

    De repente, ele acorda. Sentindo alivio e alegria, exclama: Ah! Nosou um soldado, e no estou morrendo! Foi s um sonho. E se ri aoperceber que est vivo e passa bem

    Entretanto o que dizer de um soldado que verdadeiramente luta

    nesta vida terrena, que ferido e morto? Subitamente, no mundo astral,ele desperta e descobre que tudo no passou de um sonho; que naquele

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    mundo ele no tem nenhum corpo fsico, nenhuma carne que possa serferida, nenhum osso a ser fraturado.

    Voc no percebe? Todas as experincias deste mundo so comoessa experincia; so apenas experincias onricas.

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    O tempo e o espao formam uma estrutura imaginaria sobre a qualo vasto universo foi construdo.

    Suponhamos que estou adormecido, e que sonho que embarco emum avio em Los Angeles e viajo doze mil milhas at a ndia. Quandoacordo, percebo que toda essa experincia ocorreu no reduzido espao domeu prprio crebro, que o tempo real transcorrido foi, talvez, o deapenas alguns segundos

    Essa a iluso do tempo e do espao, em que baseamos todas asnossas concepes humanas de realidade.

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    Este mundo s lhe parece real porque a sua existncia foi sonhadapor Deus juntamente com o Seu sonho csmico. Voc faz parte do sonhode Deus.

    Se a noite, voc sonhar que bate a cabea na parede, possvelque imagine que sente dor de cabea. Contudo, no momento em que vocacorda, voc compreende que no houve nenhuma parede em quepudesse bater a cabea. A dor que voc sentiu estava na sua mente, nona sua cabea!

    O mesmo serve para esse sonho que voc esta tendo agora.

    Desperte para a nica Realidade, para Deus, e voc perceber que estavida terrena mera representao. Ela no mais do que sombras e luz!

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    Num filme, a ao parece muito real. Entretanto, se voc olhar paraa sala de projeo, ver que essa histria esta sendo produzida por umnico raio de luz.

    Eis como so as coisas neste grande filme da criao. Deus disse,Faa-se a luz.* De dentro desse grande raio de luz csmica se manifestou

    o Universo inteiro. Trata-se de um filme csmico, e , em muitos aspectos,ele semelhante ao filme exibido no cinema. Grande parte da diferena est no grau. No cinema , o que voc

    observa apresenta duas dimenses, e verdadeiro apenas aos sentidosda viso e audio. O filme csmico tridimensional, e verdadeiro paraos sentidos do paladar, do olfato e do tato.

    O filme que voc v no cinema pode leva-lo a rir e a chorar;contudo, como mais comovente ; contudo, como mais comovente ofilme de Deus, que envolve o sentido da profundidade, e no dois sentidosapenas, mas cinco!

    No entanto, esta vida no mais real do que um filme.*Gnesis 1:2.

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    Agrada pensar, comentou um naturalista de maneiracondescendente, nas rvores, nas flores e nos rios como um sonho deDeus. Entretanto, a cincia revelou que todas as coisas, em essncia, soas mesmas. Elas so to somente aglomerados de prtons e eltrons.

    Mestre no tardou em responder a semelhante desafio. Se voc jogar no cho um monte de tijolos, disse ele, eles tomaro por simesmos a forma de uma casa ? Dificilmente ... preciso inteligncia parafazer de uma pilha de tijolos algo que apresente alguma significao.

    Os prtons e os eltrons so as construes de tijolos da criao.Foi preciso uma grande inteligncia para molda-los nas formas quecontemplamos na Natureza: flores, rvores, montanhas, rios e os serespensantes.

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    De onde veio a matria para a criao do Universo ? Antes dacriao, havia apenas Deus.Nada se explicaria se se dissesse: O Senhor onipotente; Ele pode

    fazer qualquer milagre. At mesmo os milagres devem ter alguma basena realidade.

    Deus conscincia, ou ento no Deus. Independentemente domodo pelo qual Ele criou a matria, isso deve acontecer como um ato daSua conscincia. O Universo no pode ser real exceto como umamanifestao dessa conscincia.

    Se isso for verdadeiro - e no poderia ser de outra forma - , aconscincia, ento, a realidade, e a matria a iluso.

    A cincia, em si, endossa essa afirmao, ou pelo menos faz isso a

    ponto de mostrar que a matria, do modo como a conhecemos, umailuso. O que vemos ao redor de nos mesmos no so slidos rochedos,frondosas rvores, rios correntes e seres corpreos, cada qual diferentedos demais. Por trs dessas aparncias se encontram aglomerados detomos a rodopiar. At mesmo estes so uma iluso, pois, por trs deles,est um oceano de energia que se manifesta por meio de tomos naforma de rochas, rvores, gua e de corpos humanos e animais.

    Por fim, por trs da energia csmica esto os pensamentos deDeus.

    Isso no quer dizer que o universo fsico no seja real. Suarealidade, contudo, no o que aparenta ser. A realidade que est por trs

    de todas as coisas a conscincia. A existncia do Universo foi sonhada por Deus.

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    Quem criou Deus? , perguntou um visitante. O Mestre sorriu.Muitos fazem essa pergunta. Por vivermos no domnio da causa,

    imaginam que nada possa existir sem uma causa. No necessrio queEle, por sua vez, tenha um criador.

    De que modo poderia o Absoluto depender para a sua existncia deum outro Absoluto ?

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    Na verdade, um erro dizer que Deus criou o Universo. Ele no ocriou - pelo menos, no do modo como um carpinteiro faz uma mesa.

    Deus se tornou o Universo. Sem alterar de forma nenhuma Suanatureza intrnseca, Ele manifestou uma parte da sua conscincia naforma de maya - a iluso csmica.

    Nada como parece ser. Tudo o que existe uma manifestao dospensamentos de Deus.

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    De que maneira Deus, a Realidade nica, manifestou esse universode aparncias ? Ele fez isso por via da lei da dualidade.

    Sua conscincia nica assumiu a forma dos opostos: do positivo edo negativo, da luz e das trevas, do prazer e da dor e assim

    sucessivamente, at uma infinidade de iluses contrastantes .Uma parte da sua conscincia se moveu. Como nos diz a Bblias, Eo Esprito de Deus se move por sobre a superfcie das guas. * Poderamoscomparar esse movimento ao movimento das ondas na superfcie do mar.O nvel do mar nunca muda, nem mesmo quando as ondas se alteiam,pois todo movimento ascendente em um lugar compensado por ummovimento descendente em um outro lugar. Como um todo, o nvel dagua continua sempre o mesmo.

    Ainda assim, Deus, o Mar do Esprito, cotinua inalterado pela Suacriao. Na superfcie da Sua conscincia, todavia, Seu esprito se move,e esse movimento, ou vibrao, produz a dualidade, assim como as ondasdo mar que se levantam e se quebram .

    O Uno Infinito fez vibrar uma parte de Si mesmo a fim de se tornardois, e depois muitos, e assim prossegui at que a vibrao csmicaproduzisse as estrelas, as galxias e os planetas, as flores, as rvores e oscorpos humanos.

    A vibrao csmica chamada Aum. Trata-se do Amm doApocalipse na Bblia. Eqivale ao Verbo no Evangelho de So Joo. amusica das esferas dos antigos gregos. o Amin dos muulmanos, o

    Ahunavardos zoroastristas . Tudo o que veio a ser a partir dessa grandevibrao.

    A vibrao gera dualidade. Para vir a conhecer a Realidade Una portrs de todas as aparncias, afaste-se mentalmente dos estados opostos

    da Natureza. Aceite tranqilamente o que quer que lhe acontea na suavida: o prazer e a dor, a alegria e a tristeza, o xito e o fracasso.Viva apenas em funo de Deus. Apenas seja o Seu servo. Apenas

    ame-o .

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    Mestre, perguntou um discpulo, qual a funo do mal na criaode Deus ? Decerto, o Senhor um Deus de bondade e de amor. Seria

    possvel que, assim como afirmam certos escritores modernos, Ele ignoreo mal ?

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    Sri Yogananda deu um risinho de satisfao. Deus teria de serbastante estpido para no conhecer o mal ! Ele, que se preocupa com aqueda de um pardal, no teria conscincia de uma coisa to evidente ?

    Disse o discpulo: Talvez Ele no conhea na forma do mal.Yogananda: No entanto, o aspecto que determina que uma coisa

    seja m o dano que essa coisa pode nos causar. Certamente, Ele estconsciente de que as pessoas vivem na iluso, e de que, portanto, sofrem.Ele prprio criou essa iluso.

    Discpulo: Ento, Deus criou o mal ? Yogananda: O mal o Seu maya, ou iluso csmica. Trata-se de

    uma fora consciente que, quando passa a existir, busca se perpetuar a seprpria, Maya Sat. Essa fora tenta manter a nossa conscincia presa aterra. Deus, a Realidade Una, tenta ao mesmo tempo nos levar de volta eEle prprio, por meio do Seu amor divino.

    Discpulo: Mas ento a Sat deve ter sido destinado desempenharum papel no divino projeto das coisas.

    Yogananda sorrindo: O mal desempenha o mesmo papel do vilo

    em uma pea de teatro. As iniquidades do vilo ajudam a despertar emns o amor pelo heri e pelas aes virtuosas. De modo semelhante, omal e suas dolorosas conseqncias tem o objetivo de despertar em ns oamor pela bondade e por Deus.

    Discpulo: Mas Mestre, se o bem e o mal so apenas partes de umdrama csmico, que importa o papal que desempenhamos na histria ?Quer como santos, quer como bandidos, nossos papeis sero uma iluso,e no afetaro a nossa verdadeira natureza como seres criados imagemde Deus.

    Mestre deu uma gargalhada. No fundo, voc est certo. Mas noesquea que, se voc desempenhar o papel do vilo numa pea, voctambm ter de receber nessa pea o castigo do vilo!

    Se, por outro lado, voc desempenhar o papel de um santo,voc despertar desse sonho csmico e usufruir a identidade com Aqueleque Sonha por toda a eternidade.

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    O Mestre , dirigindo-se a um novo discpulo: O que impede a terrade se precipitar no espao, para longe do sol ?

    A fora de gravidade do sol, senhor replicou o discpulo.

    Ento, o que impede a terra de ser atrada para o sol? A fora centrifuga da terra, que a atrai constantemente para fora,para longe do centro.

    O Mestre, com uma satisfao intima, deixou de lado a conversa.Meses depois, o dissimulo compreendeu que seu guru estivera falando pormeio de metforas sobre Deus como o sol, sobre Deus atraindo todas ascoisas para Si, e sobre o homem como a terra , sempre tentando escapar fora de atrao do amor de Deus enquanto corre atrs dos desejosterrenos.

    Paramhansa Yogananda insinuava que uma pessoa no deveria, coma inquietao terrena, resistir atrao do amor divino na sua alma.

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    Captulo Quatro

    A Alma e Deus

    1

    Deus o oceano do Esprito, e os seres humanos so como asondas que se levantam e se quebram a superfcie do oceano.

    Vistas de um barco a remo, as ondas parecem infinitamentevariadas. Algumas so grandes e ameaadoras; outras, pequenas, e fcilremar sobre elas; porm, quando a pessoa est num avio, tudo o que sev o oceano, no as ondas na superfcie.

    Ainda assim, a algum que est absorto na encenao de maya - pessoa ligada ao sucesso e receosa do fracasso; preocupada com a sade

    e com medo da doena; Presa a existncia terrena e com medo da morte -As ondas da experincia humana parecem reais e infinitamente variadas.Ao homem do desapego, entretanto, tudo Brahma: Tudo Deus.

    Quanto maior a tempestade, mais elevadas as ondas do oceano.Ainda assim, quanto ,mais violenta a tempestade da iluso na mente dapessoa, mais essa pessoa se exalta com relao aos outros, e mais afirmaa prpria independncia, tanto do homem como tambm de Deus.

    Poder algum escapar de seu Criador? Todos fazemos parte deDeus, da mesma formas que as ondas fazem parte do oceano. Nossaseparao de Deus no passa de simples aparncia.

    Quando as pessoas afirmam sua individualidade, e , por isso, seengrandecem na vaidade e no orgulho, elas se chocam agressivamente

    contra outras ondas do ego, instigadas todas elas pela tempestade dailuso. Assim como as ondas do oceano numa tormenta, elas ondulam e seencapelam em toda parte, s vezes conquistando, s vezes sendoconquistadas, num frenesi sem fim de conflitos e de rivalidades.

    Numa tempestade, a superfcie do oceano ignora a paz. De modosemelhante, enquanto a tormenta da iluso ruge na mente humana, umapessoa no sabe o que ter paz, mas s conhece a tenso e aansiedade.

    A paz chega quando a tempestade se aquieta, quer externamente,na natureza, quer internamente, na conscincia da pessoa. Quando seamaina a tempestade de maya , as ondas do ego se amainam tambm.

    Quando o ego do devoto diminui, ele relaxa e aceita uma vez mais sualigao com o Esprito infinito.Pessoas espiritualmente desenvolvidas no disputam entre si,

    porm mergulham na gua alegremente, em feliz harmonia umas com asoutras, com a natureza e com Deus.

    2

    Certa pessoa estudara superficialmente a filosofia hindu do Vedantacom seu preceito de que Tudo Brahma. Depois, essa pessoa saiumundo afora declarando a todos a seguinte frase: Eu sou Deus! Quando

    semelhante fanfarronada foi relatada a Paramhansa Yogananda, o Mestredeu risadas.

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    Como as pessoas so hbeis na sua ignorncia! No oensinamento do Vedanta a causa de semelhante afirmao csmica naconscincia do ego. Com acerto o oceano pode dizer: Eu sou as ondas quedanam na minha superfcie. No entanto, tem a onda o direito de dizerEu sou o oceano? Isso absurdo!

    Em primeiro lugar, crie uma unidade entre voc e o oceano deDeus. Se nessa conscincia voc declara Eu sou Ele, voc no haver defalar na condio de onda diminuta, mas como o prprio oceano. Suacompreenso do Eu, pois, no ser limitada pelo ego.

    Melhor ainda dizer O oceano tornou-se essa diminuta ondaformada por um corpo, para que as pessoas no interpretem mal o quevoc fala.

    3

    Deus a eletricidade, e os seres humanos so lmpadas. Estastalvez sejam infinitamente variadas na forma, na cor e na luminosidade. Areal energia com que brilham, contudo, a mesma para todas.

    As pessoas so enganadas pelas aparncias. Elas dizem; Que belapessoa! Que cabelo bonito! Que sorriso encantador!

    Quando se apaga a luz em um determinado cmodo, o que feitoda cor e do brilho da lmpada ?

    Jamais se esquea da verdadeira Fonte de energia presente emtudo o que voc v ao redor de si.

    4

    Os seres humanos so como as bocas do fogo a gs por onde sai ofogo. Deus o estoque de gs

    Quanto maior a boca do fogo, maior a chama. Ainda assim, quantomais nos abrirmos presena de Deus dentro de ns, maior a luz e opoder que Ele pode manifestar na nossa vida.

    Uma vez mais, quanto menor for a boca do fogo, mais fraca achama. No entanto, quanto mais nos fecharmos para Deus, por meio doorgulho e da indiferena no que diz respeito aos feitos de outras pessoas,mais fraca a chama do poder e da inspirao na nossa vida.

    possvel que, entupida, a boca de um fogo no produza chama,

    ainda que um pouco de gs consiga vazar por ela. De modo semelhante,muitas pessoas tm to pouca vitalidade que o mximo que se pode dizerdelas que existem; essas pessoas no esto, a bem dizer, vivas. Esse otipo de gente a quem Jesus se referiu ao dizer: Que os mortos enterremos seus mortos.*Mateus 8:22.

    5

    Visualize diversos vasos cheios de gua em um jardim. Depois, imagine oluar a iluminar o cho. Em cada vaso o reflexo da lua aparecer separadamente;

    entretanto, todos os vasos, na verdade, refletiro a mesma lua.

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    Eis como Deus est presente na alma dos homens. Embora refletido em todoser humano. Ele jamais corrompido pela conscincia humana. Mesmo que vocvenha a quebrar todos os vasos, luar continuar a ser o mesmo.

    Sbio aquele que, ao contemplar a luz da vida brilhando no seu pequeninovaso da conscincia humana, venera as suas origens na lua que est no alto - emDeus; entretanto, tolo quem acaba absorto na lua, no seu reflexo. Quando o vasose quebrar, o que restar ?

    6

    A doutrina hindu, disse Yogananda, pantesta. Os pensadores cristosdeturparam esse fato ao fazer uma acusao ao hinduismo. O erro deles est empensar que o pantesmo significa venerar Deus como todas as coisas, em vez decomo estando expresso em todas as coisas.

    No seria mais agradvel ver as Suas manifestaes em toda a parte? Suabeleza no pr-do-sol ? Suas lagrimas pelos erros dos homens na chuva ? Sua

    ternura expressa no amor que uma me tem pelo seu beb ? Se Deus onipresente, no obvio que ele deve estarem tudo ? Devemos busca-Lo por trsdos Seus vus.

    At mesmo um vu, contudo, pode sugerir a forma que oculta. Todas ascoisas na criao, para os que amam Deus, fazem com que essas pessoas selembrem de Deus.

    Como Jesus disse, preciso lembrar, acima de tudo, que O reino de Deusest dentro de vs.*Lucas 17:21.

    7

    O que o ego ?, indagou um fiel.O ego, replicou Paramhansa Yogananda, a alma ligada ao corpo.

    8

    Assim como as ondas no oceano, os seres humanos se deslocam por algumtempo, presas da tempestade da iluso. O oceano, todavia, est sempre puxando,puxando. Mais cedo ou mais tarde, todas as ondas tero de voltar, fundir-se, por fim,no vasto Oceano do Amor Divino do qual vieram.

    9

    A auto-realizao quer dizer fazer com que o seu verdadeiro Eu se realiza naforma do grande oceano do Esprito, desfazendo a iluso de que voc essepequeno ego, esse pequeno corpo humano, essa diminuta personalidade humana.

    Captulo Cinco

    Um Deus, uma Religio

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    1

    Um condutor de elefantes tinha seis filhos, todos eles cegos. Certa feita, eledeu a eles a tarefa de lavar o elefante. Quando os irmos terminaram o servio,comearam a discutir sobre que tipo de animal era o elefante.

    Isso fcil!, disse uma deles. O elefante so alguns ossos. Esse filhoestivera lavando as presas do elefante.

    Como voc pode dizer uma coisa dessas? , protestou um outro filho. Oelefante uma corda espessa. Esse filho estivera lavando a tromba do elefante.

    O terceiro filho insistiu que o elefante tinha a forma de alguns leques. Essefilho estivera lavando as orelhas do elefante.

    Ao quarto filho, o elefante parecia quatro colunas. Esse filho estivera lavandoas pernas do elefante.

    O quinto filho estivera lavando os flancos do elefante; Esse o descreveu comouma parede que respirava.

    O sexto e ultimo filho gritou: Meninos, vocs no vo me enganar! Eu sei o

    que ele . Por experincia prpria, descobri que o elefante uma pequena cordapendente do cu. Esse filho estivera lavando a cauda do elefante.Como cada filho expressasse a prpria opinio insistentemente, segui-se uma

    discusso acalorada. Depois de algum tempo, o pai foi ter com eles e os ouviu gritaruns com os outros. Ao ouvir semelhante onda de intolerncia, cada vez maior, elebradou, aos risos: Meus filhos, vocs esto brigando toa!

    toa ?, gritou um deles. Meus irmos so todos mentirosos, e tm a audciade chamar a mim de mentiroso!

    Meus queridos filhos , disse o pai de modo apaziguador, cada um de vocslavou apenas uma parte do elefante, mas eu o vi por inteiro. O elefante tudo aquiloque cada um de vocs diz que , mas acrescentou, ele muito mais do quequalquer um de vocs imagina.

    E continuou a descrever para os filhos a aparncia do elefante. Assim meusfilhos, conclui, vocs esto todos certos - mas tambm esto enganados !

    O mesmo se d com relao a Deus, concluiu Sri Yogananda, e com asabordagens que as diferentes religies fazem dEle. Deus um, mas so diversos oscaminhos que levam a Ele. Incontveis so, tambm, as formas pelas quais Elepode ser descrito.

    2

    Aqui no Ocidente, as pessoas falam dos hindus como se fossem pagos. Masvoc sabia que na ndia as pessoas descrevem os cristos como pagos ? A

    ignorncia est distribuda em partes iguais mundo afora.Os sbios, contudo, vem Deus em toda a parte - at mesmo nas pessoas

    que no O conhecem.

    3

    A verdadeira base da religio no a crena, mas a experincia intuitiva. Aintuio o poder que a alma tem de conhecer Deus . Para saber o que versarealmente a religio, a pessoa deve conhecer Deus.

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    A f diferente da crena. A f esta enraizada na experincia. A crena a fprovisria.

    A crena necessria, a principio. Sem ela, as pessoas no haveriam de sepreocupar no sentido de procurar Deus. A simples crena, contudo, no basta.Quando as pessoas continuam satisfeitas com as crenas que tm, a religio delasse torna dogmtica e , portanto, limitada no que concerne ao crescimento posterior.

    Escute bem o que digo: faa da pratica espiritual, e no da crena, o seudogma. No se satisfaa nem mesmo com meditar regularmente at encontrarDeus.

    5

    Os verdadeiros guardies da religio so os santos e os mestres - os que, poroutras palavras, comungam com Deus. No basta estudar as Escrituras e se tornarum D.T. , ou seja Doutor em Teologia. (Sempre que vejo essas letras, penso emDoutor em Tolices!) Em contraste com isso, muitos santos foram ignorantes. Quem

    conhece a verdade na sua alma, contudo, entende mais que qualquer telogo, cujoconhecimento derivou to-s dos livros e dos discursos intelectuais estreis.Deixai vir a mim as criancinhas, disse Jesus, pois delas o reino de Deus. *

    Mateus 19:14.

    6

    Um burro pode carregar nas costas uma carga de Bblias e de outros escritossagrados. Haveria ele de se tornar, por isso, espiritualizado ? mais provvel que oprprio peso de todos esses livros apenas o privasse de toda a paz que pudesse tertido quando nada carregava !

    7

    Por que que de uma Bblia surgiram tantas igrejas e tantas opinies diversasa cerca da Verdade ? Cada seita crist oferece uma interpretao diferente do queJesus quis dizer. Por que?

    A resposta que a compreenso das pessoas limitada. Elas no podemimaginar coisa nenhuma exceto em termos da prpria exist6encia que tm. Em vezde tentar descobrir a parte delas prprias criada semelhana de Deus, procuramvisualizar Deus segundo a prpria imagem humana!

    Uma pessoa andando por vielas estreitas numa cidade s enxerga muros emambos os lados; no lhe dado ver os jardins atrs desses muros. Quando umapessoa est voando num avio, contudo, ela v alem dos muros, dos jardins, dosprprios limites da cidade - at mesmo alm do horizonte dos que, sem estarcercado por muros, ainda continuam a pisar em terra firme.

    8

    melhor uma verdade afirmada por um santo do que um dogma aceito pormilhes de pessoas.

    Os nmeros dos adeptos de uma religio no so a garantia da sua validade.Jamais aceite um idia apenas em virtude de ela ter granjeado apoio popular. Seja

    qualitativo, no quantitativo, na sua abordagem da Verdade, se quiser alcanar essacompreenso da Verdade que, conforme disse Jesus, a nica coisa capaz delibertar voc.

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    o sectarismo o antema da religio. Apenas os nscios pensam no seguinte:O meu caminho nico e verdadeiro. Todos os outros so falsos.

    Contam que quando Billy Sunday, o famoso evangelizador, morreu, So Pedrono o deixou entrar pelos portes perolados.

    O que quer dizer com isso? No vai me deixar entrar ? perguntou oevangelizador, ultrajado.

    O que voc fez na terra durante a sua vida para se aproximar de Deus? ,inquiriu So Pedro.

    Ora, e quanto aos milhares de pecadores que converti e enviei para o cu? Voc pode t-los mandado para o cu, replicou So Pedro, mas nenhum

    deles chegou.

    10

    A cincia e a religio deveriam trabalhar juntas de mos dadas. Com areligio, a cincia pode aprender uma abordagem mais intuitiva da realidade:experincial, em vez de apenas experimental. E com a cincia, a religio podeaprender a depender mais do senso comum - a ser mais razovel, e menosdogmtica.

    Os fanticos deveria aprender sobretudo a pr prova as suas crenas, damesma forma como faz a cincia. Os lideres religioso deveriam estimular aspessoas a testar os ensinamentos da sua f na prpria vida , e no a continuarsatisfeitos com as afirmaes dos outros.

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    Como possvel um cristo aceitar as verdades de outras religies? indagouum crente ortodoxo. Jesus no apenas nos deu uma doutrina: Ele tambmenfatizou a exclusividade dessa doutrina. Alm disso, Ele salientou a prpriacondio nica como Filho de Deus.

    Certamente a verdade nica replicou Yogananda. Pois, j que so muitosos caminhos do erro, o caminho que levapara fora dele apenas um.

    H apenas um caminho para a alma: o que leva de volta a Deus. O erro daspessoas est em associar determinado nome a esse caminho, e em insistir que sesse nome seja aceito por todos.

    Quando se busca a Verdade, preciso procurar os santos, no os padres e ossacerdotes. Em toda a religio, possvel encontrar um santo. Os loucos e ospecadores tambm podem ser encontrados em toda parte.

    No foram os sbios de outras religies que Jesus combateu. Foi a ignornciaespiritual com que Ele deparou em meio aos seus seguidores!

    Voc est salvo? um seguidor ortodoxo perguntou-me certa vez. Salvo doqu ? , indaguei. Achando que eu no estava disposto a me juntar a ele na sualimitada interpretao da verdade, ele gritou comigo nervosamente e disse: Voc vaipara o inferno!

    Bem, o que o inferno seno os tormentos causados por emoes nocivascomo a raiva ? Sorrindo, repliquei: Talvez eu v para l aos poucos, mas voc, meuamigo, j est l!

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    Outras pessoas haviam estado ouvindo a nossa conversa com muito interesse,enquanto viajvamos num trem. Quando lhe dei essa resposta, todos comearam arir ruidosamente.

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    No sero as suas crenas que iro salv-lo.

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    A Bblia condena a idolatria, observou um visitante cristo, no entanto, li queem todo lar hindu h pelo menos um dolo. De que modo podem os cristos - e,quanto a isso, os judeus - deixar de condenar essa prtica como algo pago?

    Replicou o Mestre: Imagine que voc v uma garotinha brincando com umaboneca e cuidando dela como se fosse a sua filhinha . Voc ralharia com ela dizendoque a boneca s um objeto inanimado? Brincar com bonecas pode at mesmo

    cumprir o objetivo pratico de ajudar a criana se preparar para a maternidade algumdia.As imagens, de modo semelhante, podem ajudar as pessoas a despertar e a

    concentrar a devoo delas. Os cristos por acaso no conservam imagens nosseus altares - Jesus, pr exemplo, na cruz ?

    Uma vez mais, pense em todas as imagens que Deus nos deu na Natureza.Pelo fato de O amarmos, a beleza das rvores, flores e do pr-do-sol no noslembra a Sua beleza infinita?

    idolatria condenada na Bblia a pratica caracterstica do ego de valorizarmais a criao do que o Criador: de venerar dinheiro, e no ao tesouro divino que hno Eu superior; de venerar o amor humano e no o amor divino; de venerar osvcios, que so falsos, tais como a bebida e o sexo, e no rezar pelo vcio do xtase

    divino

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    A Bblia objetou uma recm chegado, quando da pregao de ParamhanssaYogananda, nos diz que Jesus o nico Filho de Deus. Assim sendo, como vocpode falar de outros mestres como sendo semelhantes a Ele ?

    Respondeu o Mestre: Quando os judeus acusaram Jesus de blasfmia porEle dizer Eu e meu Pai somos um s Ele lhes respondeu, No dizem as vossasEscrituras que sois deuses ? *

    Os seguidores de cada religio gostam de afirmar o carretar nico das suas

    crenas. A afirmao deles, contudo, deriva das interpretaes equivocas e daignorncia dos homens. Todos gostam de afirmar que aquilo que possuem ,tambm, o melhor!

    Jesus , como todos os grandes mestres, falou a partir de dois nveis deidentidade: o nvel humano e o nvel divino. Como ser humano, Ele pde gritar nacruz, Pai, por que me abandonastes? ; entretanto, no seu Eu superior infinito,divino, disse acertadamente que Ele era o nico Filho de Deus. Pois nessaconscincia Ele estava identificado com s Conscincia de Cristo, que o nicoreflexo de Deus em toda a criao, o Pai alm da criao.

    A Conscincia de Cristo no um homem com barba e com uma longa tnicabranca a cair graciosa pelo corpo! Quando Jesus usava o pronome Eu, falando apartir desse amplo estado de conscincia, ele estava se referindo ao Eu superiorinfinito de todos os seres, no Seu frgil corpo humano.

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    A Conscincia de Cristo est por trs de todo o Universo criado. Quem querque se afaste a sua conscincia da ligao com o ego e a associe ao Infinito pode,com todo direito, dizer em companhia de Jesus: Eu sou o Filho de Deus.

    Alm disso, pode dizer: Eu e o meu Pai somos um, exatamente como disseJesus, visto que o Filho e o Pai so aspectos da mesma realidade.

    Nesse estado, a sua conscincia do Eu no mais limitada pelo corpohumano. A onda voltou ao vasto oceano de que proveio, e nele se fundiu. Ela setornouo oceano.* Joo 10:34

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    O senhor diz que o objetivo da vida encontrar Deus, disse, em tom dedesafio, um estudante de religies comparadas. Entretanto, essa crena no aceita universalmente. Por exemplo, os budistas nem sequer acreditam em Deus.

    Yogananda replicou: Budha no era um ateu. Seus ensinamentos, no entanto,

    como os de todo grande mestre, tinham de corrigir interpretaes errneas da suapoca. Naqueles tempos, as pessoas estavam propensas a permitir que Deusagisse no lugar delas, em termos de esprito. Portanto Budha ressaltou aimportncia do esforo humano na busca espiritual.

    Como se costuma dizer. s se pode aprender pondo em prtica. Os quepraticam com profundidade os ensinamento de Bhuda, e no os que to somenteapresentam argumentos sobre sua doutrina, alcanam seu objetivo. Ao fazer isso,descobrem que esse objetivo o mesmo de todas as outras grandes religies: acompreenso do Eu superior infinito, e a libertao das malhas da iluso.

    Quanto a procurar o consenso entre todas as religies do mundo, prosseguiuo Mestre, seria um erro supor que todas elas derivam igualmente do mesmo nvelde introviso divina.

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    As verdades que fundamentam a religio so eternas. Elas no podem serinventadas. A partir de sua fonte na compreenso de mestres que receberam ailuminao de Deus, elas se diluem no seu contato com os seres humanos, faltosdessa iluminao .

    Eis por que Deus de vez em quando envia Seus filhos despertos de volta terra para reviver o esprito da religio e para levar de volta os ensinamentos eternos prstina pureza deles.

    Sempre haver diferenas quanto 6enfase, de conformidade com as

    necessidades variveis das pocas. As verdades fundamentais, todavia,permanecem para sempre as mesmas.

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    Perguntou um estudante: Qual o propsito especifico da nossa misso naterra?

    Respondeu Yogananda: Despertar as pessoas para a sua necessidade deauto-realizao, por meio da meditao e das boas companhias, dos bons amigos,com outras almas que procuram a Verdade.

    Da o nome dessa organizao. Sociedade da Auto-Realizao. A SAR foienviada para trazer de volta ao mundo os ensinamentos originais e a cincia da

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    yoga do modo como foi ensinada por Krishna, e a Cristandade de Jesus Cristooriginal.

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    Indagou um visitante: Seus ensinamentos constituem uma nova religio ? Respondeu o Mestre: trata-se de uma nova expresso de verdades eternas.

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    As grandes religies do mundo sempre foram trazidas pelos avatares -encarnaes ou descendncias de Deus. Krishna foi uma dessas encarnaes.Jesus Cristo e Bhuda tambm foram. Um avatar um mestre que se libertoutotalmente e que volta para a terra a fim de cumprir uma misso divina especifica.

    Esse discpulo, certa ocasio, perguntou a Paramhansa Yogananda: O senhor

    um avatar, Mestre ?Serenamente e com simplicidade, o Mestre replicou: Uma obra destaimportncia s poderia ter sido iniciada por um avatar.

    Captulo Seis

    A Lei da Vida

    1

    H uma lei da vida fundamental. Para compreend-la, precisamos entenderde onde procede a vida, e para onde ela se vai. Devemos olhar para alm dosobjetivos imediato das pessoas, para o que elas objetivam como fim na sua vida.Temos de considerar o destino mximo da vida; por outras palavras, o seu supremopotencial para o desenvolvimento.

    A vida, no modo como vista atravs dos olhos das pessoas, pareceinfinitamente complexa. A humanidade impelida por incontveis desejos, e procuraa satisfao desses desejos de formas inumerveis. H contudo, certos impulsosfundamentais que so universais para a humanidade e para a criaturas de todos oslugares.

    Charles Darwin identificou o primeiro desses impulsos. A vida, declarou ele, uma luta interminvel pela sobrevivencia. A afirmao dele, entretanto, incompleta.A sobrevivncia um dos instintos fundamentais da vida, certamente; porm,sobrevivncia para qu ? sobreviver num estado de coma ? claro que no! Aconscincia, tambm, uma necessidade universal. As criaturas vivas no apenasquerem existir; elas querem estar conscientes da sua existncia.

    preciso acrescentar um terceiro impulso, sem o qual at mesmo a existnciaeterna, consciente, seria incompleta. Pois se uma criatura sofre muito por muitotempo, no preferir ela a morte conscincia ou existncias prolongadas? Osseres vivos querem estar conscientes da sua existncia; contudo, tambm queremconscientemente usufruiressa existncia.

    O instinto fundamental da vida, pois, talvez seja resumido dessa forma: comoum desejo de uma existncia prolongada e consciente num estado de perpetua

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    satisfao. Podemos substituir a expresso existncia prolongada pela palavraimortalidade.

    Assim, todos os seres revelam a sua natureza divina. Pois isso o que Deus :sempre existente, sempre-consciente, sempre-nova-bem-aventurana - ousatchidananda, como Swami Shankaracharya O definiu muitos sculos atras.* Deuspode ser definido de incontveis maneiras: como infinita Luz, Poder, Sabedoria eassim por diante. A definio mais significativa, contudo, em termos dos impulsosfundamentais da vida , satchidananda.

    A lei da vida se refere ao impulso bsico, que esta por trs de todos osdesejos, para satchidananda. Todo ser vivo governado por esse impulso.

    O forte e arraigado desejo por essa bem-aventurana eterna se manifesta,primeiramente, no constante esforo de todas as criaturas no sentido de evitar a dor;em segundo lugar, na sua incessante luta de encontrar a felicidade ou a alegria.

    As complexidades vm luz porque a alegria da alma esquecida e porqueas pessoas substituem pelos prazeres transitrios dos sentidos. Todas as coisas, noentanto, advm da Bem-aventurana, ou de Deus. Posteriormente, todas as coisasdevem se desenvolver e voltar para esse estado de Bem-aventurana.

    Existencia-conscincia-bem-aventurana. Paramhansa Yogananda, embora semafirmar agir dessa forma, deu uma interpretao mais complexa do que a pessoapode encontrar em textos comuns sobre o assunto. Pois a natureza eterna desseestado no de ordinrio enfatizada, embora, seja, evidentemente, admitida.Entretanto, importante ressaltar esse aspecto, de vez que o termo satchidanandafoi cunhado a fim de mostrar de que modo a natureza de Deus corresponde aosmais importantes impulsos da existncia. Alem do mais a definio de ananda dadapor Yogananda como certa beatitude que sempre-nova completa a representaocontrastando a satisfao divina com a terrena, esta terminando sempre em fastio esaciedade. (N. do Org.)

    2

    Perguntou um visitante: No parece uma coisa trivial definir Deus comoalegria, e igualar a procura do homem quanto a Ele com a busca da felicidade?Certamente, o dever mais importante do que o desejo satisfao pessoal. EDeus um conceito to amplo que no consigo realmente imagin-Lo como um tipode exaltao da alegria.

    Certa vez, li em algum lugar sobre a encantadora solenidade de umaexistncia vivida na presena de Deus. Confesso que considero esse conceito muitomais satisfatrio.

    Paramhansa Yogananda replicou: Gostaria voc de viver nessa encantadorasolenidade por toda a eternidade?

    Bem, no posso realmente conceber a eternidade, admitiu o visitante. Masno, suponho que esperaria algo mais.

    Disse Yogananda: Percebe? Devemos buscar Deus com fervor e devoo. Ede que modo podemos procurar avidamente alguma coisa que no bastantesignificativa para ns?

    As pessoas, acrescentou ele, contemplam Deus a distncia quando Oconsideram como demasiado temor religioso. Elas vo igreja fazendo isso comose tratasse de um dever solene, e demonstram abatimento como se estivessempresentes a um funeral. A verdade que encontrar Deus significa enterrar todas astristezas!

    Diante do nosso Pai Celestial, deveramos ser como criancinhas. Ele gostadisso. Ele j tem responsabilidades srias o bastante no governo desse mundo! Ele o senhor de todas as coisas. Ele conhece todas as coisas; onipotente. A nica

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    coisa que Lhe falta o nosso amor. Isso o que Deus quer de ns: o nosso amor; anossa f nEle; a nossa alegria na Sua infinita alegria.

    Ele no necessita de nossa elaboradas definies teolgicas. To pouco queroraes elaboradas perfeio a fim de que elas no ultraje Seus ouvidos imperiais.Ele quer que O amemos com simplicidade, do modo como os filhos amam.

    3

    Um homem sobrecarregado de tarefas comuns perguntou: Que papeldesempenha o dever no caminho para a alegria interior?

    Sri Yogananda replicou: Viver sem responsabilidade viver para o ego, nopara Deus. Quanto maior for a nfase que a pessoa d a satisfao do ego, menor asua percepo da verdadeira alegria.

    Cumprir os deveres na vida pode no ser fcil, e nem sempre pode ser umacoisa compensadora a curto prazo. Alcanar a alegria divina um objetivo que

    demora muito tempo para ser alcanado. O homem deve cumprir os seus deveresna vida, no evita-los, se quiser tornar-se livre na eternidade.

    4

    O que o mal?, perguntou um fiel.O mal, respondeu Yogananda, a ausncia da alegria verdadeira. S osso

    nocivo. Por outro lado, possvel dizer que um tigre pratica o mal matando a suapresa? Matar da natureza do tigre, aspecto que lhe peculiar porque Deus quisassim. As leis da natureza so impessoais.

    O mal entra em cena quando a pessoa tem o potencial para chegar alegria

    interior. Tudo o que nos separa desse divino estado do ser mau para ns, porqueafasta a nossa percepo do que realmente somos e do que realmente queremos navida.

    Da as imposies das Escrituras contra a luxuria e o orgulho, por exemplo.Os dez mandamentos zelam pelo bem-estar do homem, e , no existem em funoda satisfao do Senhor! Eles so advertncias feitas aos incautos, no sentido deque, embora certas atitudes possam a principio parecer compensadoras, o fim daestrada para qualquer um que as procure no a felicidade, mas a dor.

    5

    A lei da vida se destina a nos ensinar de que modo viver em harmonia com aNatureza objetiva e com a nossa verdadeira natureza interior.

    Se voc encostar o dedo em um fogo quente, ele vai se queimar. A dor quevoc sentir ser um alerta dado pela Natureza para protege-lo quanto a causardanos ao corpo.

    Se voc tratar os outros de maneira indelicada, indelicadeza o que vocreceber em troca, tanto dos outros como da vida. Alm do mais, seu coraomurchar e secar. Assim, a Natureza adverte as pessoas de que a rudeza a que seentregam causa danos ao seu Eu interior.

    Quando temos conscincia do que significa a lei e agimos conformemente,vivemos na felicidade duradoura, temos sade e estamos em perfeita harmonia comns mesmos e com toda a vida.

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    Se somos filhos de Deus, e se Ele nos ama, por que Ele permite quesoframos?

    A essa pergunta, que no raro era formulada, o Mestre certa vez respondeu:O sofrimento um lembrete de que este mundo no o nosso lar. Se ele fosseperfeitamente adequado para ns, quantas pessoas haveriam de procurar ummundo melhor? Mesmo com o fato de as coisas serem to imperfeitas como so,repare em quo poucas pessoas procuram Deus! Entre mil pessoas, disse Krishna,talvez uma procure Deus.

    A lei da vida a seguinte: quanto menos a pessoa vive em harmonia com averdade interior, mais ela padece; porm, quanto mais vive em harmonia com essaverdade, mais ela sente a felicidade imorredoura. Nada, ento, pode afetar essapessoa, ainda que o seu corpo definhe com a doena e que os demais aridicularizem e persigam. Passando por todas as vicissitudes da vida, essa pessoacontinua sempre concentrada alegremente no Eu superior que habita dentro de ns.

    7

    Certa vez, conheci na ndia um santo que tinha uma mulher demasiadovoltada para as coisas materiais. Em circunstncias normais, uma mulher assimhaveria de constituir, para um fiel, um grande desafio. Esse santo, porm, me disse,com humor: Eu a enganei. Ela no sabe onde eu estou!; o que ele queria dizer eraque as repreenses dela no lhe afetavam a paz que ele sentia em Deus.

    Nem mesmo grandes tormentos exteriores podem afeta-lo quando vocaprendeu a habitar sempre no seu Eu interior.

    8

    Um discpulo, perturbado certa feita por um enxame de moscas enquantotrabalhava no jardim da ermida, bradou, exasperado: Mestre por que a paz dessesjardins tem de ser perturbada por essa praga?

    Com um sorriso, o Mestre respondeu: assim que Deus faz com que semprecontinuemos seguindo em direo a Ele.

    9

    Um membro da congregao de uma das igrejas da Sociedade da Auto-Realizao, acossado pela dvida, foi ao encontro de Paramhansa Yogananda.Mestre, disse ele, algumas pessoas afirmam que, com tanto sofrimento no mundo,no justo que uma pessoa se sinta feliz. A satisfao pessoal no implicaria, pois,uma falta de compaixo quanto ao sofrimento alheio?

    Jesus, acrescentou ele, por vezes descrito como um homem triste.Jamais deparei com uma descrio Sua que O retratasse como um homem alegre.

    Paramhansa Yogananda respondeu: O Jesus que conheo algum que viveem beatitude, no algum infeliz! Ele sofre pelas dores da humanidade, de fato, massua dor no faz dEle algum assaltado pelo sofrimento

    Se Ele se entregasse de todo a tristeza dos outros, o que teria para dar spessoas a no ser mais infelicidade ?

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    A bem aventurana de Deus faz com que os homens que a sentem secompadeam de milhes de pessoas que perderam a razo de viver. A compaixo,no entanto, s faz acrescentar-se ao estado de beatitude dessas pessoas; ela no odiminui. Pois a beatitude a cura que todos os homens procuram, consciente ouinconscientemente. No se trata de uma coisa paralela, que no se relaciona com osofrimento. Quanto mais uma pessoa se sente abenoada, mais ela deseja partilharsua beno com todos.

    A alegria divina vem com o desenvolvimento pessoal. O sofrimento por outrolado, conseqncia do egosmo, do ego concentrado em si prprio. A alegriadesperta a compaixo no corao. Faz com que a pessoa queira infundir a benodivino nos que choram com a sua tristeza.

    Captulo Sete

    O pecado Eqivale Ignorncia

    1

    O que o pecado? , perguntou um discpulo.O pecado eqivale ao erro; ele conseqncia da ignorncia, replicou o

    Mestre.O que a ignorncia? E o erro? A ignorncia a falta de percepo das realidades do esprito, e a substituio

    da iluso em que se vive por essas realidades. O erro toda ao que se baseienesse conceito equivoco.

    O pecado no significa, pois, violar os Dez Mandamentos de Deus? , indagouo discpulo.

    Exatamente, respondeu Yogananda. Mas faa a voc mesmo a seguintepergunta: Por que Deus deu esses mandamentos humanidade? Esse fato no foialgo arbitrrio. E certamente no se destinava a nos impedir de encontrar afelicidade. Em vez disso, visava nos advertir de que certos tipos de comportamentohavero de intensificar o imprio da iluso sobre a nossa mente, e nos havero deprovar da verdadeira felicidade.

    Se se pensa no pecado como o desrespeito aos mandamentos de Deus, vem luz a idia da clera de Deus e do julgamento implacvel; mas o senhor quemnos governa! Ns somos os Seus filhos. Por que deveria Ele nos julgar? Somosns, em vez disso, que julgamos a ns mesmos ao imaginar que tudo o que

    fazemos no merece perdo; no entanto se entendermos o pecado como erro,perceberemos que nossos erros so passveis de correo.

    Paramhansa Yogananda prosseguiu , referindo-se ao seu prprio guru: SriYukteswar costuma dizer, conforme escrevi em Autobiografia de um Yogue,Esquea o passado. Na vida de muitos homens, esta manchado por muitos atosvergonhosos. A conduta humana sempre falvel quando o homem no estancorado no Divino. No futuro, todas as coisas havero de melhorar se voc nomomento estiver se esforando, em termos de espiritualidade, para tanto. *

    Eu sempre gosto de lembrar s pessoas esta simples verdade: Um santo um pecador que no desistiu de fazer progressos!

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    Por que o crime um pecado? Porque a vida que lhe pertence a mesma detodos os seres. Negar a quem quer que seja o direito de viver negar a realidadedessa vida universal da qual voc, tambm, uma manifestao. Em termos deesprito, o crime um suicdio.

    Por que pecaminoso roubar? Porque o que voc nega aos outros negatambm a si prprio, j que o Eu superior dos outros tambm o seu Eu superior.Invariavelmente, ao fim e ao cabo, o ladro se torna cada vez mais pobre. Dandonfase aos desejos egostas e colocando-os acima da compreenso do seu Euuniversal, ele se afasta da verdadeira e nica Fonte de vida e de toda a fartura.Roubando dos outros em proveito do ganho egosta, ele acaba por diminuir a suaverdadeira identidade em vez de, como acredita, aumenta-la.

    Por outro lado, dar de si mesmo ao outros aumenta essa identidadePor que algo pecaminoso dizer mentiras? Porque, pela mentira, a pessoa se

    afasta da realidade e daquela verdade superior que, sozinha, como afirmou Jesus,haver de liberta-lo. ** Ao contar mentiras , a pessoa se isola do amparo que ouniverso proporciona gratuita e amorosamente a todos os que vivem em harmoniacom as suas leis.

    *Autobiografia de Yogue, Captulo 12, Os Anos que Passei na Ermida do MeuMestre, Sociedade da Auto-Realizao, Los Angeles, Califrnia.** Joo 8:32.

    O mentiroso arruina os fundamentos de todas as coisas que tenta construirneste mundo. Por fim, tudo se torna uma casa construda sobre a areia. As palavrassimples de um homem que diz a verdade, por outro lado, so consistentes noUniverso.

    E por que a lascvia um pecado? Porque ela uma falsificao do amor.Porque leva as pessoas na direo oposta satisfao que h no verdadeiro amor.Este divino, magnnimo, nunca egosta.

    O homem lascivo, ao buscar o prprio prazer nos outros, se enfraquece, atmesmo quando se ilude no sentido de que se torna mais forte. Ele se afasta daalegria espiritual, at mesmo quando imagina que encontrou a felicidade pela qualanseia. No final, o nico xito que obtm o de criar a desarmonia em si prprio enos outros.

    A harmonia o caminho do amor. A desarmonia o caminho da auto-afirmao. A pessoa lasciva perde a sade, a paz de esprito e a prpriaoportunidade que imaginou ter encontrado no sentido de vir a se realizar. Ela setorna casa vez mais cansada e nervosa, envelhece precocemente, tudo isso porqueessa pessoa negou o amor divino, a fonte de bem-estar verdadeiro e duradouro.

    E as mesmas coisas acontecem com respeito a todos os tipos de pecado. Opecado uma negao da natureza mais profunda da prpria pessoa - daquela Vida

    Infinita que a realidade que est por trs de todos os seres vivos.

    3

    Um homem que caminhava em uma regio do pas em que diamantes foramencontrados chegou a uma rea coberta de cacos de vidros, que reluziam luz dosol.

    Diamantes!, pensou, animado. Abaixando-se para pegar um deles, percebeuque se tratava apenas de um caco de vidro. Desapontado, atirou-o longe e estendeuo brao para apanhar outro. Mas este, tambm, era apenas um caco de vidro. Eassim ele prosseguiu a apanhar um caco de vidro atrs do outro. Algumas vezes, ele

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    se cortava com os cacos mais afiados. Todo caco que apanhava era to enganadorquanto os anteriores.

    Assim o caminho do pecado. Atraente o seu falso brilho, mas aexperincia mostra no final no se tratar de outra coisa seno de um caco de vidro.Por vezes, esse caco de vidro faz com que a pessoa que o apanha se corte. Elesempre causa decepo.

    Os prazeres sensuais, s podem terminar em fastio, em marasmo angustiantee em desgosto. Por qu ? Pelo simples fato de que os seus sentidos fsicos no soo seu verdadeiro Eu.

    4

    fcil pecar. Entretanto, os feitos do pecado no so desfeitos com facilidade.Depois de descascar o alho, as mos da pessoa ficam com o seu cheiro. A pessoapode ficar lavando as mos muito tempo at no haver mais o cheiro do alho nelas.

    O cheiro, contudo,pode ser eliminado. Tambm o pecado pode ser eliminado

    por meio da meditao, da orao e da ao reta, e mediante a graa de Deus.Nunca duvide disso. Todos os seus pecados devem ser eliminados no final.No entanto, por que fazer em primeiro lugar aquilo que, no final, e com grande

    esforo da sua parte, ter de ser desfeito?

    5

    Quando os desejos causarem perturbao mente, sempre se lembre daseguinte verdade: Quando se alcana o xtase, tudo se esvai.

    6

    Jamais se identifique com os erros que voc cometeu. Voc um filho deDeus. Afirme o seu relacionamento eterno com Ele.

    7

    O pior pecado chamar a si prprio de pecador. Pois nesse mesmopensamento voc abre as portas para que o pecado entre na sua alma.

    8

    Definir-se em termos de perceber as suas limitaes humanas profanar a

    imagem de Deus dentro de voc.

    9

    No fique muito tempo pensando nas suas imperfeies. Em vez disso,lembre-se das boas coisas que voc fez e da bondade que existe no mundo.Convena-se da sua perfeio inata. Desse modo, voc ficar propenso a selembrar da sua natureza eterna na condio de filho de Deus.

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    Um cmodo pode continuar nas trevas por mil anos; no entanto, se se levauma luz at ele, imediatamente as trevas se dissipam.

    O mesmo se d com o pecado. Voc no pode expulsar da mente o pecado,da mesma forma que no pode dispersar as trevas num quarto com uma vara. Naverdade, concentrando-se na iluso voc s faz aumentar o imprio dela sobre asua mente. Introduza, todavia, a luz de Deus por meio da meditao profunda e dadevoo, e a escurido se dissipar como se nunca tivesse existido.

    11

    Paramhansa Yogananda disse: Por vezes, entre cristos que freqentam aigreja, ouve-se a afirmao, Somos todos pecadores! (Pensamos, ento, se issono quase motivo de orgulho!)

    Veja bem, h uma distino entre Cristandade e o que chamo de Igrejismo. ACristandade a doutrina original de Jesus. Igrejismo o que os seguidores daIgreja fizeram a dessa doutrina. Jesus foi crucificado um dia, mas os seus

    ensinamentos tm sido diariamente crucificados desde ento por milhes depessoas que se afirmam cristos.Por que pensar que voc um pecador? Ora, isso pode ser sensato algumas

    vezes, em nome da humildade, contanto que a sua ateno esteja voltada para agrandeza de Deus e no para a sua condio insignificante diante dEle. Mas por queficar pensando nos aspectos negativos e nas limitaes?

    Se voc quiser descobrir algo de valor que foi enterrado num deslizamento delama, voc no ficar pensando nesse objeto medida que escavar a lama? Sevoc se concentrasse apenas na lama, poderia perder de vista o seu objetivo aocavar, e deixaria de lado a busca.

    12

    Jamais leve em considerao os seus defeitos. Considere apenas o fato de oseu amor por Deus ser verdadeiramente sincero. Pois Deus no se importa com assuas imperfeies: Ele se importa com a sua indiferena.

    13

    Se voc cobrisse uma imagem de ouro com um pano preto, voc poderiaafirmar que a imagem se tornou negra? Evidentemente que no! Voc haveria desaber que, por trs do vu, a imagem ainda seria de ouro.

    O mesmo acontecer quando voc rasgar o vu negro da ignorncia que oraenvolve a sua alma. Voc contemplar uma vez mais a beleza imutvel da sua

    natureza divina.

    14

    Certa vez, participei de um servio divino levado a cabo por uma evangelistafamosa. Durante o seu sermo, ela gritou de repente: Todos vocs so pecadores!Fiquem de joelhos! Olhei firmemente ao meu redor. Em toda aquela amplacongregao, eu era o nico que continuava em p; eu no ia aceitar a afirmaoque ela fez de que eu era um pecador!

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    Conceda a Deus no apenas o bem que voc faz, mas tambm o mal. Noquero dizer que voc deva deliberadamente fazer coisas que sejam erradas; porm,quando voc no pode ajudar-se a si prprio, por causa dos seus hbitos,demasiado arraigados, diga a voc mesmo que Deus realiza esses atos porintermdio de voc.

    Afinal de contas, Ele que sonhou a sua existncia. Voc apenas ficouhipnotizado com a idia da sua fraqueza. Se voc se tornar o Senhor responsvelpor esses atos de fraqueza, ser-lhe- til acabar com o falso domnio que eles tmcom relao sua imaginao. Voc achar mais fcil reconhecer em si mesmo aimagem perfeita de Deus.

    16

    Nunca tenha medo de Deus. Conte-lhe as coisas erradas que fez. Diga-lheque voc o Seu filho. Isso muito melhor do que se lamentar dizendo: Senhor, eusou pecador! voc foi feito a Sua imagem.Reze, portanto, valendo-se das seguintes palavras: Bem, Senhor, cometi erros.

    Aceito a idia de ser castigado. No entanto, j que O conheo, no cairei mais emtentao.Comunique-se com Ele usando de franqueza. No pedimos para ser criados.

    No pedimos a tentao. Um grande santo na ndia costumava rezar: Senhor, nofoi meu desejo ser criado por Ti; porm, j que me criastes desse jeito, tens de melibertar! ; fale com Ele dessa forma, e sempre de modo amvel. Ento, por fim,independentemente das suas faltas, Ele ter de purific-lo das suas imperfeies, eleva-lo ao lar a que voc pertence.

    17

    A simples idia de que no somos livres o que nos impede de sermos livres.Ah, se pudssemos acabar com essa idia! Poderamos entrar em samadhi.*

    Samadhino algo que tenhamos de adquirir. Ns j temos samadhi. Bastapensar nisso: eternamente, temos estado em companhia de Deus; por um breveperodo de tempo, ficamos iludidos; depois, uma vez mais, nos libertamos nEle parasempre!

    Senhor, perguntou um discpulo, se eu dissesse que era uma pessoa livre,eu no seria livre, seria ?

    Oh, claro que sim! Depois disso o Mestre acrescentou, enquanto sorria, contorcendo os lbios:

    Mas voc j respondeu a prpria pergunta que fez. Voc disse eu no seria! * O estado de unidade com a conscincia csmica.

    18

    Embora cheio de compaixo por todos, Paramhansa Yogananda tambm eracapaz de ser muito severo no que diz respeito ao tema do pecado assim que aocasio exigisse.

    Certa jovem em Chicago pegara sfilis do namorado. Para se vingar dele e detodos os homens, ela tentou seduzir e contaminar todos os homens que encontroupelo caminho.

    Quando lhe foi concedida uma entrevista com o Mestre, ela sorriu para ele demaneira sedutora e lhe disse: Voc uma pessoa muito interessante...

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    Pecado e doena!, zombou o Mestre, fitando-a ironicamente. A mulherirrompeu Em lgrimas. Depois disso ela confessou ao Mestre a sua histria.

    Depois de ter prometido ao Mestre nunca mais se comportar daquela forma,ele a curou e a fez seguir seu caminho.

    19

    Compadeo-me dos que esto doentes, disse o Mestre. Por que no deveriaeu me compadecer igualmente dos que pecam? Estes esto doentesespiritualmente.

    20

    A ignorncia espiritual o maior pecado. Ela o tema que torna possveis

    todos os outros pecados.

    21

    Uma mulher veio at mim certa vez e bradou: Voc tem de ser salvo pelosangue de Cristo!

    Providencie-me ento um copo, desafiei-a. Ela ficou estupefata.O que os fanticos sabem das verdades espirituais? Eles despejam palavras

    como se fossem slogans, e gritam at ficarem roucos falando sobre o sangue deCristo, e todo o tempo vivem de modo pecaminoso. Alm disso, imaginam que ofato de se auto denominarem de pecadores haver de limpar a barra para eles.

    Se quiserem que Jesus Cristo, os salve, comunguem com Ele no silenciointerior. Recebam-no, como diz a Bblia, em sua alma. S ento sero capazes dese tornar filhos de Deus.* Joo 1:12.

    22

    Certa feita, ouvi o sermo de um sacerdote, e jamais me esquecerei do modocomo ele pronunciava as palavras de modo comovente, segundo ele prprioimaginava, ao incitar as pessoas a aceitar o ver-da-dei-ro Esprito Santo. Aspalavras Esprito Santo eram pronunciadas de modo abrupto, com vistas nfasedramtica.

    Essas pessoas no so inspiradas pelo Esprito Santo (Holy Ghost), mas pelofantasma medonho (unholy ghost) das emoes!

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    bom ir confessar? , perguntou um cristo ortodoxo.Pode ajudar, no sentido de levar uma pessoa a admitir para si mesmo as suas

    faltas. Pois apenas pela honestidade consigo prpria uma pessoa pode lidar com assuas imperfeies de maneira efetiva.

    sempre melhor, contudo, confessar as prprias faltas a um homem ou auma mulher de sabedoria. S pessoas assim podem ajuda-lo verdadeiramente.Caso contrrio, possvel que lhe dem maus conselhos.

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    Como disse Jesus; Se um cego conduzir outro cego, ambos terminaro emum fosso.* A confisso a um santo uma coisa boa, mas nem sempre para algumque no foi iluminado espiritualmente.

    Com Deus, entretanto, seja sempre franco e aberto. Voc no deveresconder nada dele.

    Os padres no esto autorizados a perdoar os pecados? perguntou o seuinterlocutor.

    Yogananda respondeu: Perdoar o pecado eqivale a curar uma pessoa dasconseqncias do pecado.** Procure descobrir se eles so capazes de perdoar avoc, por exemplo, o pecado da gula. Sero capazes de cura-los das doresestomacais que se seguiro? * Mateus 15:14.** E enquanto ele lhes proclamava a mensagem, trouxeram-lhe um paralticocarregado por quatro homens; porm, como no pudessem apresentar-lho porcausa da multido, abriram o teto por cima do lugar onde estava Jesus, e , por umaabertura, desceram o leito em jazia o paraltico. Jesus, vendo a sua f, disse aoparaltico: Meu filho, os teus pecados esto perdoados.

    Ora, estavam ali sentados alguns escribas que estavam a pensar: Comoesse homem pode falar assim? Isso blasfmia! Quem pode perdoar os pecadosseno Deus? Mas Jesus sabia que isso era o que eles estavam pensando, e lhesdisse: Por que acolheis no corao pensamentos que tais? mais fcil dizer aoparaltico: Os teus pecados esto perdoados, ou dizer : Levanta-te, toma o teu leitoe anda? Ora, para que te convenas de que o Filho do homem sobre a terra tem odireito de perdoar os pecados - disse ele ao paraltico - eu te ordeno, levanta-te,torna o teu leito e vai para casa. E ele se levantou, tomou o leito de imediato, e foiembora vista de todos, de modo que todos foram tomados de profunda admiraoe louvaram a Deus. Nunca antes vimos coisa semelhante. (Marcos 2:3-12)

    24

    No se aborrea pelo fato de ter errado. Basta invocar Deus com amor econfiana. Nada esconda de Deus. Ele conhece todas as suas faltas, e muito maisdo que voc! Seja totalmente franco com Ele.

    Voc talvez ache til rezar a Deus considerando-O a sua Me Divina. Pois oaspecto maternal de Deus envolve misericrdia infinita. Reze adotando as seguintespalavras: Me Divina: independentemente de eu ser travesso ou bem comportado,eu sou Teu filho. Tu deves me libertar!

    At mesmo a me humana ama os seus filhos travessos exatamente comoama os filhos comportados. s vezes, ama-os at mais, pois eles precisam de maiscarinho.

    No tenha medo da sua Me Divina. Cante a ela dessa forma, e comsinceridade: Recebe-me no Teu colo, Me; no me lances porta da morte.** Traduo de dos primeiros versos de uma cano bengali apreciada pelo Mestre

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    Deus o ama da mesma forma com que ama Krishna, a Jesus e aos outrosgrandes mestres. Voc uma gota do mesmo oceano do esprito. Pois o oceano constitudo de todas as suas pequenas gotas. Voc faz parte de Deus. Suaimportncia como ser humano lhe foi atribuda pelo prprio Deus. Voc pertence aEle.

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    26

    Procure pensar sempre na sua perfeio inata em Deus. Ouro sempre ouro,mesmo que esteja enterrado sob a poeira que se acumulou no decorrer dostempos.

    27

    O Senhor nos quer tirar desse horrvel torvelinho da vida. Isso a nica coisaque Ele deseja para ns. Pois Ele ama cada um de ns. No quer que soframos.Seu interesse na nossa salvao pessoal, e est repleto de misericrdia.

    28

    Certo homem estava morrendo de diabete. Os mdicos lhe haviam dadoapenas trs meses de vida. Ele tomou uma deciso: Se tudo o que me resta sotrs meses, vou pass-los procurando Deus.

    Aos poucos, ele se disciplinou no sentido de sentar para meditar por perodoscada vez mais longos todos os dias. E durante todo o tempo ele continuava rezando:Senhor, entra neste templo arruinado.

    Trs meses se passaram, e ele continuava vivo. Passou-se mais um ano.Continuando a rezar intensamente, aos poucos ele aumentou seu perodo demeditao para dezoito horas por dia.

    Passaram-se mais dois anos.Depois de trs anos, de repente, uma forte luz tomou conta do seu ser. Ele

    entrou em xtase. Ao voltar desse estado divino, descobriu que o seu corpo foracurado.

    Senhor, rezou, no pedi para ser curado. Tudo o que pedi foi que viesses atmim!

    E a voz do Senhor respondeu: Onde penetra a minha luz, no h treva queperdure.

    O santo ento escreveu com o dedo na areia. E neste dia, o Senhor entrou nomeu templo em runas e o restaurou !

    Captulo Oito

    A Lei do Karma

    1

    Disse um visitante: A Bblia diz que os que praticam o mal sero castigados, eos bons, recompensados. Concorda com essa doutrina?

    Paramhansa Yogananda respondeu: Certamente. Se aceitarmos o principio decausa e efeito na Natureza, da ao e reao na fsica, como deixaremos deacreditar que essa lei natural tambm diz respeito aos seres humanos? Por acasoos humanos no pertencem tambm ordem natural?

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    Esta a lei do karma: o que voc semeia, isso mesmo colher. * Se vocsemear o mal, colher o mal na forma de sofrimento. Se voc semear o bem,colher o bem na forma de alegria.

    Disse o visitante: Quo especifica essa lei? Na fsica, a lei do movimentoafirma que para toda a ao h uma reao igual e contraria. Na Natureza, osefeitos por vezes se relacionam de modo muito especifico com as suas causas, node maneira vaga; no entanto, ensinaram-nos a considerar a recompensa e a puniopara o comportamento humano de modo mais genrico. Se formos bons, no dizem,iremos para o cu, e se formos maus, iremos para o inferno; entretanto, as pessoasno pensam nelas prprias como que a colher conseqncias especificas para atosespecficos.

    Yogananda: A lei karmica exata. No h, alm do mais, sofrimento noinferno eternidade afora. (De que modo poderiam as iniquidade de alguns anos deterra merecerem castigo eterno? Poderia um causa finita ter um efeito infinito? )

    Para entender o karma, voc tem que compreender que os pensamentos socoisas. O prprio universo, em ultima analise, no se compe da matria, mas deconscincia. A matria reage ao poder do pensamento muito mais do que a maioria

    das pessoas compreendem. Pois a fora de vontade dirige a energia, e a energia,por sua vez, age sobre a matria. Na verdade, matria energia.Quanto mais forte a vontade, maior o poder da energia - por conseguinte,

    maior o impacto da energia sobre os acidentes da mateira. Muita fora de vontade,sobretudo se aliada percepo da energia csmica, pode realizar milagres. Podecurar doenas, e fazer com que a pessoa se sinta bem. Pode assegurar o xito emqualquer empreendimento. As prprias estaes obedecem fora de vontade e f profunda.

    At mesmo seres humanos a quem falta a iluminao fazem o seu destino,mais do que eles prprios compreendem, em conformidade com o modo com que sevalem da sua fora de vontade. Pois nenhuma ao um acontecimento isolado.Toda ao sempre solicita do Universo uma reao que corresponda exatamente ao

    tipo de energia que est por trs do ato.A ao se origina na vontade e, por sua vez, dirige a energia para o seu fim

    desejado. Essa pois, a definio de fora de vontade: desejo mais energia,dirigidos para a satisfao A energia, assim como a eletricidade, produz um campo magntico. E essecampo magntico atrai para si as conseqncias da ao

    A fora de ligao entre a ao humana e a reao csmica o ego. Aconscincia do ego assegura que as aes de uma pessoa tero conseqnciaspessoais para ela prpria. Essas conseqncias talvez sejam proteladas, se a forade vontade que engendra um pensamento ou uma ao no foi poderosa o bastantepara ter resultados imediatos, ou se o seu impulso foi frustado por outras energiasconflitantes. Mais cedo ou mais tarde, no entanto, toda ao, quer do corpo, quer do

    pensamento, quer do desejo, deve obter a sua reao final. como um crculocompletando a si prprio.

    Assim, o homem, feito imagem de Deus, se torna, por sua vez, um criador.As conseqncias dos bons e dos maus atos no so vivenciadas apenas

    depois da morte. O cu e o inferno so realidades mesmo aqui, na terra, onde aspessoas colhem as conseqncia dolorosas da sua loucura e os resultadosharmoniosos da sua ao correta.

    As pessoas raramente pensam nas prprias aes como coisas ruins. Tudo oque venham a fazer lhes parece ao menos uma coisa bem-intencionada; porm, secriam a desarmonia para os outros e, assim, em nveis mais profundos do seu ser,para si mesmas, essas ondas de desarmonia inevitavelmente voltaro para elas naforma de desarmonia.

    Toda ao, todo pensamento, colhem a prpria recompensa correspondente.

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    O sofrimento humano no um indicio da clera de Deus com respeito humanidade. Em vez disso um sinal de ignorncia do homem no que concerne lei divina.

    A lei infalvel para sempre na sua vigncia.* No vos enganeis: de Deus ningum zomba. O que o homem semear, issocolher. (Glatas 6:7).

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    Perguntou um discpulo: Mestre, o karma apenas individual, ou ele tambmafeta grupos de pessoas?

    Respondeu Yogananda O karma ao, simplesmente, fsica ou mental,individual ou realizada por um grupo, uma nao ou um grupo de naes.

    Disse o discpulo: Em que medida uma pessoa influnciada pelo karmacoletivo ?

    Replicou Yogananda: Tudo depende da fora do seu karma individual.

    Num desastre de avio, por exemplo, no necessrio que todos quemorreram nele tivessem um karma que determinasse isso. O karma da maiorianesse desastre simplesmente pode ter sido mais forte que o da minoria em termosde sobrevivncia.

    Entretanto, as pessoas com um karma forte o bastante para deixa-las vivasseriam salvas - ou durante o prprio desastre, ou termos de no tomar aquele avio.

    O karma de uma nao depende do grau em que as pessoas como um todoagiram paralelamente lei csmica.

    Freqentemente, tenho ouvido falar que os Estados Unidos no podem perdercom o decorrer dos tempos, caso seus inimigos os ataquem, porque o seu karma ,em ultima analise, muito bom, a despeito de alguns erros cometidos. Em contrastecom isso, o karma dos seus atuais inimigos ruim, e eles tero que pagar por isso.

    At mesmo os animais criam karma. A conscincia deles, contudo, incluindo aconscincia que tm o ego, fraca. Desse modo eles so dirigidos mais pelo karmacoletivo do que pelo individual.

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    Indagou um discpulo: Matar sempre um karma ruim ? Respondeu o Mestre: No. Depende da inteno que est por trs do ato, e

    tambm das conseqncias desse ato como um todo. O soldado que mataconscientemente em apoio a alguma causa justa - por exemplo, defendendo o pas

    dele de uma invaso de um tirano cruel - no incorre em nenhum karma ruim. Emvez disso, a sua ao um bom karma.

    E o discpulo: E quanto aos soldados americanos na Coria ? Que karma elesesto adquirindo por dar tiros no inimigo?

    Respondeu o Mestre: Lutar por essa causa um bom karma, no um karmaruim. Trata-se de uma guerra santa. O vilo deve ser derrotado, para que o mundo,no final, no se torne escravo.

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    Um discpulo falou: Mestre, na Autobiografia de um Yogue, o senhor citou SriYukteswar, e ele dizia: Um homem incorre na dvida de um pecado menor se ele

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