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A ESQUINA DE PEDRA

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A ESQUINA

DE PEDRA

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A ESQUINA

DE PEDRA

Romance de

Wallace Leal Valentin Rodrigues

10ª ediçãoMatão, SP

2018

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Copyright © 1975 byCASA EDITORA O CLARIMPropriedade do Centro Espírita O Clarim

10ª edição: julho/2018, 4 mil exemplaresImpresso no formato 16x23 cm1ª edição: outubro/1975

ISBN 978-85-7357-171-4

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser fotocopiada, gravada, reproduzida ou armazenada num sistema de recuperação ou transmitida sob qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico ou mecânico sem autorização do detentor do copyright.

Casa Editora O ClarimRua Rui Barbosa, 1.070 – Centro – Caixa Postal 09CEP 15990-903 – Matão-SP, BrasilTelefone: (16) 3382-1066; WhatsApp: (16) 99270-6575CNPJ: 52.313.780/0001-23; Inscrição Estadual: 441.002.767.116www.oclarim.com.br | [email protected]/casaeditoraoclarim

Capa e projeto gráfico: Equipe O ClarimRevisão: Enéas Rodrigues Marques

Catalogação na Publicação (CIP)

R696e Rodrigues, Wallace Leal Valentin A Esquina de Pedra / Wallace Leal Valentin Rodrigues. – 10. ed. – Matão: Casa Editora

O Clarim, 2018.

480p.; 23 cm

ISBN 978-85-7357-171-4

1. Espiritismo. 2. Estudo doutrinário. I. Casa Editora O Clarim. II. Título.

CDD. 133.9

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Agradecimentos

A Editora agradece a valiosa colaboração que nos permitiu a reedição revi-sada e ampliada desta obra:

Profª Regina Tamanaha – Revisão ortográfica a partir da primeira edição.

Dr. Domério de Oliveira – Elaboração do Glossário das palavras e expres-sões em latim.

Enéas Rodrigues Marques – Revisão da composição do texto e adaptação para a Nova Ortografia a partir da 10ª edição.

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Sumário

13 Capítulo I

15 Capítulo II

17 Capítulo III

19 Capítulo IV

25 Capítulo V

37 Capítulo VI

53 Capítulo VII

65 Capítulo VIII

81 Capítulo IX

105 Capítulo X

121 Capítulo XI

141 Capítulo XII

155 Capítulo XIII

169 Capítulo XIV

193 Capítulo XV

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213 Capítulo XVI

229 Capítulo XVII

247 Capítulo XVIII

271 Capítulo XIX

293 Capítulo XX

311 Capítulo XXI

335 Capítulo XXII

355 Capítulo XXIII

377 Capítulo XXIV

393 Capítulo XXV

417 Capítulo XXVI

435 Capítulo XXVII

445 Capítulo XXVIII

461 Capítulo XXIX

469 Nota

471 Glossário de expressões latinas

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Sobre o que estão fundadas as suas bases? Ou quem assentou a sua pedra de esquina? – Job, 38,6.

A Pedra que os edificadores rejeitaram se tornou a cabeça da esquina. – Sal-mos, 118,22.

Portanto, assim diz o Senhor Jeová: Eis que eu fundo em Sião uma pedra, uma pedra já provada, pedra preciosa de esquina, que está bem firme e fundada: aquele que crer não se apresse. Isaías, 28,16.

Esta é a pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por cabeça de esquina. Atos, 4,11.

Pelo que também na Escritura se contém: Eis que ponho em Sião a pedra prin-cipal da esquina, eleita e preciosa, e quem nela crer não será confundido.

Assim, para vós, os que credes, é preciosa, mas para os rebeldes a pedra que os edificadores reprovaram, essa foi feita cabeça de esquina;

É uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, para aqueles que tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados. I. Pedro, 2 – 6,7,8.

***Stella.Eis aqui a tua narrativa, exatamente como, neste ano que se findou, tu me

confiaste. A explicação que eu poderia ter para tudo quanto sucedeu contigo talvez não seja válida para todos os entendimentos. Eis porque em nenhum momento quis ser explicativo. Duvido mesmo que tenha, por um breve espaço de tempo, traído a sucessão dos acontecimentos. Sebastes existiu e foi a “Rainha do Ponto”. Arrius, Atanásio, os quarenta mártires da XII Legião existiram. O conflito no seio da igreja cristã, tal como o descreves, é um fato histórico.

Entrego o livro ao público em teu nome e só o tempo nos dirá como o esfor-ço de minha fidelidade e o valor de tua verdade serão acolhidos.

O autor

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... Constantino, vencedor, muito potente e muito augusto, a Alexandre e a Arrius...Ultimamente, quando uma intolerável loucura se apossa de toda a África, por

culpa de alguns temerários que dividem a religião dos povos em seitas diversas, Eu, querendo conter esse mal, não vejo melhor remédio que procurar alguns de vós ou-tros, bispos do Oriente, para vos encarregarem de restabelecer a concórdia entre os dissidentes. Pois que, pelo favor de Deus, os raios da verdadeira luz e a regra da ver-dadeira religião, partiram do seio do Oriente para iluminar o Universo inteiro, e eu penso que devereis continuar sendo os guias salutares de todas as nações.

Mas, oh!, bondade divina, uma notícia chegou aos meus ouvidos e feriu minha alma. Aprendo que há entre vós maiores dissentimentos que os que dividem a África, de maneira que vossa terra, de onde eu esperava o recurso, tem mais necessidade de remédio que outra qualquer. E refletindo sobre a origem dessa divisão, encontro que a causa é ligeira e de todo indigna de tal contenção de almas. Eis porque vejo-me reduzido a vos endereçar esta carta e, invocando o recurso da Divina Providência, me ofereço por árbitro e intermediário de vossa defesa... E eis como depreendo que começou vossa controvérsia.

Vós, Alexandre, procurastes saber de nossos padres o que pensavam sobre um ponto de coisas escritas na lei, ou antes, sobre uma questão de pouca importância, e vós Arrius avançastes sem prudência sobre o que devereis, ou nunca pensar, ou se pensar, guardar em silêncio. Daqui a discórdia nasceu entre vós, a boa harmonia foi rompida e o povo santo, dividido em duas partes, perdeu a sua unidade.

Mas agora cada um de nós vos perdoareis reciprocamente e acatareis o conse-lho que vosso irmão em Deus vos propõe muito justamente.

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De que se trata, com efeito? Não é preciso, sobre esta questão, nem interrogar, nem responder, pois são de nula necessidade legal, desnecessárias de serem agitadas, mas que são postas em discussão para o divertimento dos ócios; e, embora possam servir para o exercício do espírito, entretanto deveis tomar o cuidado de contê-las no interior dos vossos pensamentos e não discuti-las ao acaso, nas reuniões públi-cas, e não levá-las, sobretudo, sem discrição, às orelhas do público. Quantas pessoas podem, com efeito, compreender exatamente o alcance de tão grandes e tão difíceis matérias e de expô-las dignamente? E se alguns pensam adquiri-las, quantos no seio do povo poderiam compreendê-las?! Quem pode, na delicadeza de semelhante ques-tão, estar seguro de se preservar do perigo de cair em erro? É preciso, pois, sobre todos estes assuntos, reprimir a língua, por medo de que a fraqueza daquele que fala não o impeça de se explicar de maneira suficiente, ou de que a lentidão de espírito daquele que ouve não o faça negligenciar de uma parte do que se diz e que por um motivo, ou por outro, o povo não caia nas blasfêmias e nos cismas.

A interrogação tem, pois, sido imprudente, e a resposta indiscreta, pois não se trata, entre vós, de um dos pontos principais de nossa fé, e não se vos impinge um dogma novo sobre a adoração a Deus. Tendo no fundo a mesma opinião, podeis retornar facilmente à mesma comunhão. Vede os filósofos de uma seita como pro-fessam a mesma opinião e, entretanto, têm, quase sempre, diferenças sobre qualquer ponto em particular. Mas, embora divirjam sobre pontos de vista que tenham quan-to à perfeição da ciência, no que faz o alicerce da doutrina, restam sempre unidos. Como não seria conveniente que vós, servidores do Deus Altíssimo, vos mantivésseis unidos na profissão da mesma religião?!...

Voltai, pois, à vossa muita caridade... Dai-me a mim meus dias tranquilos e minhas noites sem inquietudes...

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Capítulo I

A noite passada, tornou a acontecer. Os sonhos voltaram, ou eu voltei aos sonhos. Adormecera tranquilamente e nenhum pensamento ocupava-me a mente a não ser um inesperado interesse pelo vento que começara a soprar e uma súbita ternura para com o tique-taque do velho relógio, dois sons amigos e confortadores. Assim adormeci. E como o navio que se desgarra, levado por traiçoeira e silenciosa correnteza, flutuei por um breve instante; partidas as desapercebidas amarras, fui levada, mais e mais, inerme, na ignorada rota da noite anterior.

E, tal como acontece nos sonhos, sem qualquer surpresa, vi-me outra vez a cavalo na colina, sobre o estreito vale do rio.

Creio ter ficado um largo tempo ali, examinando com melancólico interesse, o cenário enluarado, até que, inesperadamente, percebi que meus lábios chama-vam nomes conhecidos à minha memória adormecida, porém que ignoro des-perta. Eu chamava, mas ninguém respondia! Em verdade, toda a paisagem em torno, fria e obscura, estava morta. Nenhum som, nem mesmo o murmurar do rio, rolando entre as margens lunares, ou o sussurro do vento...

Então, uma imensa melancolia obrigou-me a avançar. No mais íntimo reces-so de mim mesma, um insuspeitado mecanismo trouxe-me a saudade de criaturas ausentes, construções, animais que, em certo tempo, tinham oferecido especial e terna fisionomia à inativa paisagem.

Eu chorava, e aquela tristeza, como outras vezes já sucedera, tangeu-me mais para a frente. Desci a áspera trilha, do lombo da elevação e, lá embaixo, fui ao en-contro das ruínas da velha fortaleza. As negras paredes desapareciam sob a terra que, em anos capazes de somar séculos, o vento carreara, sob as plantas selvagens, as urtigas e os espinheiros alvares. Estendi as mãos e toquei as pedras tingidas pelo luar. Um frio mortal impregnara-se nelas.

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wallace leal v. rodrigues

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Um pouco abaixo, as plantas mais vigorosas fechavam-se sobre as paredes derreadas, em abóbodas de impenetrável sombra, e, estranhando aquela vitalidade na terra árida da encosta, percebi com surpresa que o rio modificara o seu curso. Suas águas formavam agora um paludoso remanso rente aos muros devastados.

Com ansiedade procurei no céu os traços de fumo que as fogueiras dos bi-vaques desprendiam, e espiei entre as frestas das muralhas buscando o lucilar das labaredas. Mas apenas o luar e as sombras profundas se justapunham entre os ar-cos fendidos.

Fui avançando entre as parasitas e lianas, as grossas raízes que se enros-cavam saltando do solo duro e frio, um pouco para o Oeste, depois para o Nor-te, onde deveria estar, aconchegada entre as colinas, a alva cidade. Era um rumo intuitivo; entretanto, pouco adiante, vi que grandes pedras haviam rolado pelas encostas. Agora descansavam como tranquilos e disformes animais chafurdados no solo. Como elas, pequenos aludes tinham, de pouco em pouco, deslizado, obs-truindo meus furtivos passos.

Todavia pude, magicamente, prosseguir. E, assim, galgando o cômoro, vi-a, finalmente, branca, imóvel, como um esqueleto alvejando ao luar.

Não pude prosseguir. Cerrei fortemente os olhos e gritei. Ergueram-se la-baredas por detrás de minhas pálpebras e o medo me dominou. Era Sebastes que eu vira, na concha da noite, na solene cripta de uma memória perdida. Alguns ciprestes, figueiras, juníperos, rododendros, tamarineiros, pequenos pomares em torno às últimas muralhas, o palácio do procurador pairando sobre o casario, en-tre fontes e colunatas envoltas em heras. E, de inesperado, tudo aquilo ardeu num incêndio devorador.

Ouvindo o galopar desabalado de meu próprio coração, voltei-me em di-reção ao rio. Lá estava a tarja cinzento-prateada no contorno fulvo das colinas, fugindo em direção ao Ponto Euxino.

Nenhum som, nem mesmo o crepitar das chamas, mas no céu lavado as nu-vens horrendas de fumo manchavam a estranha limpidez do ar...