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A ESPACIALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA URBANA: UMA ABORDAGEM SOBRE A TERRITORIALIZAÇÃO PERVERSA DA VIOLÊNCIA NO BAIRRO DO BARREIRO EM BELÉM DO PARÁ 1 Alexandre Patrício Silva Barros [email protected] Universidade Federal do Pará – UFPA Aline Cristina Jacob de Azevedo [email protected] Universidade Federal do Pará – UFPA Emily Regina Siqueira Dias [email protected] Universidade Federal do Pará – UFPA/ Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE Helbert Michel Pampolha de Oliveira [email protected] Universidade Federal do Pará – UFPA INTRODUÇÃO O processo de urbanização brasileira é desigual e gera segregações no espaço. A forma como muitas cidades e/ou regiões brasileiras estão organizadas reflete o modo desordenado ao qual foi submetida. Conforme podemos observar em Silva (1994): Para apreendermos o contexto em que se situa a criminalidade na Região Metropolitana de Belém, temos que observar, ainda que rapidamente, o processo de expropriação que as camadas populares vivenciaram, principalmente, a partir das décadas de 50/60 na região Amazônica. Tal processo obedeceu a um modelo econômico que apresentava no seu bojo a política de desenvolvimento que propunha integração da região Amazônica ao território nacional (...). Todo esse processo gerou uma vultosa massa, caracterizada como “excedente social” (SILVA, 1984, p. 23). 1 Estágio da Pesquisa: Concluída.

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A ESPACIALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA URBANA: UMA ABORDAGEM

SOBRE A TERRITORIALIZAÇÃO PERVERSA DA VIOLÊNCIA NO BAIRRO

DO BARREIRO EM BELÉM DO PARÁ1

Alexandre Patrício Silva Barros

[email protected]

Universidade Federal do Pará – UFPA

Aline Cristina Jacob de Azevedo

[email protected]

Universidade Federal do Pará – UFPA

Emily Regina Siqueira Dias

[email protected]

Universidade Federal do Pará – UFPA/ Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais –

INPE

Helbert Michel Pampolha de Oliveira

[email protected]

Universidade Federal do Pará – UFPA

INTRODUÇÃO

O processo de urbanização brasileira é desigual e gera segregações no espaço. A

forma como muitas cidades e/ou regiões brasileiras estão organizadas reflete o modo

desordenado ao qual foi submetida. Conforme podemos observar em Silva (1994):

Para apreendermos o contexto em que se situa a criminalidade na Região Metropolitana de Belém, temos que observar, ainda que rapidamente, o processo de expropriação que as camadas populares vivenciaram, principalmente, a partir das décadas de 50/60 na região Amazônica. Tal processo obedeceu a um modelo econômico que apresentava no seu bojo a política de desenvolvimento que propunha integração da região Amazônica ao território nacional (...). Todo esse processo gerou uma vultosa massa, caracterizada como “excedente social” (SILVA, 1984, p. 23).

1 Estágio da Pesquisa: Concluída.

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Podemos considerar que parcela deste “excedente social” é privada do acesso,

dentre outros recursos básicos, à educação e assistência médica, ao trabalho

remunerado, à moradia e ambiente seguro, e têm sido separados do seu contexto social

(KEMPEN, 1994).

A existência de áreas destituídas, com padrões subnormais de infraestrutura e/ou

manutenção, prova que há uma dimensão sócio-espacial da pobreza, ao lado da

econômica e política. Em países em desenvolvimento, o pobre é frequentemente isolado

geograficamente em certas áreas das cidades, comumente definidas como periféricas

pelo resto da sociedade. Nessas áreas, uma falta de aspiração e de provisão de serviços

pode culminar em violência e na estereotipação destas como áreas de patologia social,

que são, consequentemente, evitadas pelo resto da sociedade (HILL, 1994, p.70).

OBJETIVOS

O presente trabalho vem propor discorrer sobre a violência urbana – com ênfase

em duas modalidades de crime: roubo e furto - gerada por problemas sócio-espaciais

oriundos de um processo perverso de territorialização da violência no bairro do

Barreiro, na cidade de Belém do Pará, com a pretensão de analisar como a população

age e se comporta na produção do espaço junto a esse processo, e de que maneira a

ineficiente assistência estatal influencia no alastramento de tal violência. Com isso,

busca-se compreender como a “territorialização perversa” da violência urbana gerada

por problemas sócio-espaciais oriundos de um processo desigual de urbanização se

espacializa no bairro da capital paraense.

METODOLOGIAS

Do ponto de vista metodológico, a pesquisa realizou uma análise a partir das

visitas feitas em órgãos de segurança pública como a delegacia responsável pelo bairro

e a Secretaria Adjunta de Segurança Publica (SIAC) que, possibilitou a captação de

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informações que garantiram o desenvolvimento deste trabalho. Ouve também a ida em

bibliotecas publicas que disponibilizaram o acervo obras referente ao histórico da

criação dos bairros da cidade de Belém.

Para tentar chegar ao núcleo do processo de violência urbana na área em foco foi

necessário fazer um trabalho de campo para tentar compreender mais a fundo, e

conhecer a realidade da população residente do bairro, colhendo informações através de

entrevistas feitas com os próprios moradores da região. Logo, procurou-se fazer uma

visita ao centro comunitário de bairro, porém ficamos impossibilitados devido o mesmo

se encontrar fechado.

Quanto ao referencial teórico, adotaram-se autores (Marcelo L. de Souza,

Machado, Lefebvre e outros) que compreende a questão urbana como processo de

segregação das populações menos favorecida pela assistência estatal, ocasionando ai,

uma serie de variáveis de relações sociais, onde entre elas, encontra-se a violência

sofrida pelos moradores das chamadas áreas vermelhas de risco das grandes cidades

brasileiras. Também se recorreu à literatura produzida em âmbito local relacionada ao

processo de urbanização da cidade de Belém (Couto, Silva e Trindade Jr).

RESULTADOS PRELIMINARES

O Barreiro é um bairro recente, originado de uma área de invasão promovida por

pessoas vindas do interior do Pará. Na época em que foi transformado em bairro, o

canal do Igarapé do Una era uma das principais atrações de lazer dos moradores já que

era navegável neste período em virtude da população ainda reduzida e,

consequentemente, da pouca produção de lixo, sendo então um Igarapé de água limpa a

ponto de servir para o banho e pesca (subsistência) da população. Em 1985, uma parte

do Igarapé foi aterrada, tornando-se impróprio para as ações até então praticadas. O

nome do bairro foi originado através das características do seu solo, pois as construtoras

extraiam argila do seu solo para confeccionar e/ou produzir telhas, tijolos, além de

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utilizar na construção de imóveis - de acordo com informações, o nome do bairro se

deve a grande quantidade de barro que existia no canal São Joaquim.

Em meados da década de 90 cria-se a Lei Ordinária de n° 7806, de 30 de julho

de 1996, no intuito de delimitar as áreas que compõem os bairros de Belém e outras

providencias. Assim o bairro do Barreiro em Belém do Pará é criado, conforme é

mostrado na Figura 01.

Figura 01: Delimitação do bairro do Barreiro na cidade de Belém.

Compreende a área delimitada pela poligonal que tem início no ponto de

coordenadas 9844220 mN e 781000 mE, no cruzamento com a Pass. Aragão Filho e o

Canal São Joaquim segue a jusante até o Igarapé do Una e segue por este até a sua foz

na margem da Baía do Guajará, segue por sua margem até a projeção da Pass.

Mirandinha no ponto de coordenadas 9843500 mN e 778850 mE, dobra a direita e

segue pela Pass. Mirandinha até a Pass. Horizonte, dobra à esquerda e segue por esta até

o ponto de coordenadas 9844216 mN e 779890 mE, dobra à direita e segue na projeção

do linhão até o início da poligonal.

• Urbanização e Produção do Espaço

O processo de urbanização de Belém, no que tange a sua expansão, deu-se

basicamente a partir da ocupação das terras de cotas mais altas, uma vez que estas

ocupações se davam por parte da classe mais abastada que habitava a capital no período

Fonte: Google, 2013.

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que compreende do século XIX até o século XX, não limitando o processo a este

recorte. No entanto, as terras de cotas mais altas eram destinadas ou mais favoráveis às

classes nobres que residiam em Belém, sendo que as terras de cotas mais baixas,

denominadas de baixadas, eram designadas para as populações desprovidas de recursos

que habitavam na mesma cidade. Como bem ressalta Trindade Jr. (1993), o termo

“baixada” é decorrente das características topográficas de algumas partes da área

urbana, correspondente a áreas alagáveis, ou de várzea, que existem em Belém e

compõem cerca de 40% dos terrenos Belenenses. Entretanto, com o passar do tempo e

a intensificação do processo de urbanização e alteração do caráter do uso do solo da

capital, as baixadas passaram a ser vistas como áreas segregadas e de habitação e

alocação das camadas mais baixas da população, semelhante às favelas. Esta imagem

deixa esmaecido o dinamismo que tais porções do espaço urbano de Belém vivenciam.

Sendo assim, ocorreu com o bairro da Sacramenta esse inchaço demografico,

onde essa superpopulação ocasionou na criação “espontânea” do bairro do Barreiro,

compondo os bairros que fazem parte do Distrito Administrativo da Sacramenta

(DASAC). Dado o motivo da criação, temos a partir de então um bairro fora dos moldes

do planejamento urbano quando comparado à estrutura física de outros bairros como o

bairro Miramar (Figura 01), que têm ruas explicitamente planejadas.

Figura 02: Bairro Miramar.

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Na gestão do ex-petista Edmilson Rodrigues (1996-2004), foi implementado o

projeto da macrodrenagem da Bacia do Una, o qual trouxe benefícios ao local, como a

pavimentação das ruas que compõem o bairro, assim como melhorias quanto à questão

do saneamento. Quanto ao aspecto econômico, observamos a ausência de fatores que

favoreçam este processo no Barreiro, ressaltando a presença do Shopping It Center no

bairro da Sacramenta, servindo de referência aos moradores do bairro vizinho no que

concerne os serviços, como por exemplo, a presença de caixas eletrônicos,

supermercado e algumas lojas. Porém, o bairro dispõe de um estereótipo bastante

difundido por todo o município: o de ser um dos bairros mais violentos da capital. De

acordo com informações dos órgãos de segurança pública do Estado, o bairro é

considerado como área vermelha, tendo como principal foco da criminalidade a Rua

Mirandinha, que atravessa o bairro, e a Travessa Jader Barbalho, rente ao canal São

Joaquim, conforme a Figura 03

Figura 03: Bairro do Barreiro.

Fonte: Google, 2013.

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Fonte: Google, 2013.

Podemos observar que a produção do espaço no B

dinâmica populacional, refletindo na sua (des)organização espacial e ausência de

planejamento. Entretanto, percebemos que ta

localização e arranjo de lugares, ou seja, a sua estrutura, pois demonstra o modo de vida

da população do bairro, com as mais precárias condições de sobrevivência, afetando

diversas esferas da vida social de seus moradores, portanto neg

seu “direto à cidade” 2.

• Territorialização Perversa da Violência Urbana

O que é violência urbana? Inúmeras são as respostas, entretanto, a mais comum

diz respeito às práticas abusivas cometidas por alguns indivíduos no âmbito

Podemos ainda considerar que:

[...] muitos significados: (a) agressão física, (b) um insulto, (c) um gesto que humilha, (d) um olhar que desrespeita, (e) um assassinato comepróprias mãos, (f) uma forma hostil de contar uma história despretensiosa, (g) a indiferença ante o sofrimento alheio, (h) a negligência com os idosos, (i) a decisão política que produz consequências sociais nefastas; (j) e a própria natureza, (BRANDÃO apud MACHADO, 2006)

2 Sobre o “Direito a Cidade” ver Henri Lefebvre, 2001.

que a produção do espaço no Barreiro mantêm ligação com a

dinâmica populacional, refletindo na sua (des)organização espacial e ausência de

planejamento. Entretanto, percebemos que tal questão vai além de aspectos ligados à

localização e arranjo de lugares, ou seja, a sua estrutura, pois demonstra o modo de vida

da população do bairro, com as mais precárias condições de sobrevivência, afetando

diversas esferas da vida social de seus moradores, portanto negando a sua cidadania e

Territorialização Perversa da Violência Urbana

O que é violência urbana? Inúmeras são as respostas, entretanto, a mais comum

diz respeito às práticas abusivas cometidas por alguns indivíduos no âmbito

que:

[...] vai além da etimologia da palavra, o tema violência urbana é detentor de muitos significados: (a) agressão física, (b) um insulto, (c) um gesto que humilha, (d) um olhar que desrespeita, (e) um assassinato comepróprias mãos, (f) uma forma hostil de contar uma história despretensiosa, (g) a indiferença ante o sofrimento alheio, (h) a negligência com os idosos, (i) a decisão política que produz consequências sociais nefastas; (j) e a própria natureza, quando transborda seus limites normais e provoca catástrofes(BRANDÃO apud MACHADO, 2006).

Sobre o “Direito a Cidade” ver Henri Lefebvre, 2001.

arreiro mantêm ligação com a

dinâmica populacional, refletindo na sua (des)organização espacial e ausência de

aspectos ligados à

localização e arranjo de lugares, ou seja, a sua estrutura, pois demonstra o modo de vida

da população do bairro, com as mais precárias condições de sobrevivência, afetando

ando a sua cidadania e

O que é violência urbana? Inúmeras são as respostas, entretanto, a mais comum

diz respeito às práticas abusivas cometidas por alguns indivíduos no âmbito citadino.

vai além da etimologia da palavra, o tema violência urbana é detentor de muitos significados: (a) agressão física, (b) um insulto, (c) um gesto que humilha, (d) um olhar que desrespeita, (e) um assassinato cometido com as próprias mãos, (f) uma forma hostil de contar uma história despretensiosa, (g) a indiferença ante o sofrimento alheio, (h) a negligência com os idosos, (i) a decisão política que produz consequências sociais nefastas; (j) e a própria

normais e provoca catástrofes

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Nesta vertente analisaremos esse conceito de violência junto a sua

“territorialização perversa” produzida pela criminalidade no bairro do Barreiro,

conhecido pelos processos sociais que ocorrem em sua delimitação, onde se encontra

embebido principalmente nas relações de violência urbana, decorrente do trafico de

drogas, roubo, homicídios, entre outras atividades ilícitas que o colocam no rank dos

bairros mais perigosos da capital.

O narcotráfico, identificado como uma das principais formas de crime no

Barreiro tem muito a corroborar com diversos delitos que ocorrem na área, processos

pelo qual, fazem a manutenção da violência na região. Assim:

(...) a dinâmica econômica e sociopolítica de numerosas cidades brasileiras vem sendo influenciada crescentemente pela presença do tráfico. Este não é, por conseguinte, uma realidade meramente ‘marginal’ e, portanto, não pode ser encarado como um tema ‘exótico’; trata-se de algo cada vez mais ‘normal’ e relevante, cujos efeitos se fazem sentir quotidianamente e nos mais diferentes setores da vida social, principalmente nas metrópoles (SOUZA, 2005 p. 53).

Para tanto, parte-se da premissa que existam agentes – como em outros bairros

da capital (extrabairros) agindo na distribuição desse material ilícito. Segundo o jornal

Diário do Pará (2010), em uma das suas matérias investigativas, mostra uma quadrilha

de tráfico de drogas que fazia essa distribuição, e agia também em outros pontos do

Brasil, como o Estado do Maranhão. As drogas comercializadas por essa quadrilha eram

beneficiadas em outros pontos da região metropolitana de Belém, e seguiam para serem

distribuídas nos bairros da capital, incluindo o Barreiro.

É importante também lembrar a relação que o trafico de drogas matem com a

população segregada e pobre do bairro, pois são essas pessoas que serão usadas como

empregadas do tráfico, sendo avião, soldado e vendedores na comercialização da droga.

Facilmente são atraídas pelo tráfico de drogas crianças e adolescentes que, ao

perceberem as possibilidades de ganho, ignoram as possibilidades de risco aos quais se

expõe entrando no sistema criminoso. Além disso, uma grande porção de pessoas com

um baixo grau de escolaridade e consequentimente desempregadas, passam rapidamente

para o tráfico, surgindo ai uma economia ilegal, baseada em atividades ilícitas. No caso

de consumidores, eles partem para assaltos à mão armada e pequenos furtos, pois

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precisam de dinheiro pra consumir a droga (COUTO, 2008). Segundo o geógrafo

Marcelo Lopes de Souza (2005):

A vinculação com a economia ilegal se dá sobre a base de uma racionalidade econômica, aplicada a luz da realidade social de um país marcado por uma proverbial desigualdade de oportunidades, notadamente no que tange ao acesso de bons empregos no setor formal da economia, e não por qualquer ‘desvio moral’ ou ‘inclinação patológica do crime (SOUZA, 2005, p. 67).

Então, a “territorialização perversa” da violência, ocorre quando os atores

sociais inseridos nesse processo impõem todo e qualquer tipo de agressão sobre as

pessoas residentes ou não em uma determina área. Seria o que Souza (2008), em seu

trabalho de titulação “Fobopóle” aborda sobre a questão do medo generalizado e da

militarização da questão urbana, onde Fobopóle é uma cidade em que grande parte de

seus habitantes, presumivelmente, padece de estresse crônico (entre outras síndromes

fóbico-ansiosas, inclusive transtorno de estresse pós-traumático) por causa da violência,

do medo da violência e da sensação de insegurança (SOUZA, 2008, p. 40).

Em dados levantados pela Secretaria Adjunta de Inteligência e Análise Criminal

– SIAC, no período de 2011 e 2012, foram registradas mais de mil ocorrências, sendo

especificamente em delitos de furto, homicídio, latrocínio e roubo, tendo as ruas com

maior índice de criminalidade: Mirandinha, Canal da margem direita, passagem Stélio

Maroja e passagem Umarizal. Os dados abaixo fornecidos pelo SIAC correspondem a

dois tipos de delito: furto e roubo. Conforme mostra Tabela 01.

Tabela 01: Ruas com maiores ocorrência de delitos nos anos de 2011 e 2012.

FURTO RUA DO FATO 2011

Total Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Caju, Passagem 1 0 1 1 0 0 0 1 3 2 0 2 11 Canal da Margem Direita,

Rua 1 0 1 0 3 0 1 0 3 2 0 0 11 Mirandinha, Passagem 9 6 1 5 5 4 4 5 2 4 1 0 46

Stélio Maroja, Passagem 4 6 4 2 2 0 3 3 3 2 1 2 32 100

FURTO RUA DO FATO 2012

Total Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Caju, Passagem 0 1 0 1 4 1 1 1 1 2 1 3 16 Canal da Margem Direita,

Rua 1 0 2 1 2 2 4 2 0 3 1 0 18 Mirandinha, Passagem 10 5 5 7 3 8 4 8 6 9 14 1 80

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Stélio Maroja, Passagem 4 4 3 2 3 1 3 1 3 1 1 3 29 143

ROUBO RUA DO FATO 2011

Total Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Caju, Passagem 4 3 3 2 0 6 4 1 3 4 0 1 31 Canal da Margem Direita,

Rua 9 18 9 10 10 8 7 5 8 4 6 6 100 Mirandinha, Passagem 26 38 27 16 33 19 20 16 18 15 22 12 262

Stélio Maroja, Passagem 8 10 11 17 12 7 6 5 4 5 4 6 95 Umarizal, Passagem 1 1 3 0 3 0 2 4 0 2 1 2 19

507

ROUBO RUA DO FATO 2012

Total Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Caju, Passagem 5 2 2 5 0 1 2 0 1 4 2 1 25 Canal da Margem Direita,

Rua 4 6 5 1 3 2 1 5 5 1 3 2 38 Mirandinha, Passagem 14 16 17 18 19 15 7 15 15 11 8 15 170

Stélio Maroja, Passagem 5 2 4 3 5 10 3 3 3 5 2 1 46 Umarizal, Passagem 0 1 1 2 1 2 1 1 0 0 0 0 9

288 Fonte: Secretaria Adjunta de Inteligência e Análise Criminal (SIAC)

Ao observarmos os dados relacionados ao roubo, concluímos que houve uma

queda significativa em sua prática. Mas esta é de fato a realidade? Devemos entender

que tais estatísticas correspondem apenas aos delitos registrados durante o período de

2011-2012, isto é, àqueles que foram denunciados pelas vítimas. Depreende-se, então,

que a queda apresentada nos valores numéricos correspondentes ao delito mencionado

no bairro do Barreiro podem não corresponder à realidade vivenciada pela sua

população.

Durante ida ao bairro, verificamos um consenso na fala dos moradores em

relação à segurança e criminalidade. Na fala dos mesmos observa-se que:

“Não houve queda de crime aqui no bairro. Um dia desses levaram minha

bicicleta que tava encostada aqui na frente; Desde que eu moro aqui não teve

mudança, se mudou alguma coisa foi pra pior; Eles (polícia militar) fazem

ronda todos os dias, prendem e depois quando a gente vê já tão tudo solto”. 3

Tais relatos comprovam o fato de que dados estatísticos mascaram a realidade da

população residente das áreas com altas taxas de violência. Logo, as instituições

3 Relatos de moradores do bairro retirado das entrevistas feitas no trabalho de campo realizado no dia 23

de Maio de 2013.

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responsáveis como a PM (Polícia Militar) que trabalha em conjunto com esses

levantamentos de dados, acabam na perspectiva de não conhecerem a verdadeira

realidade de crimes ocorridos nas regiões de maiores índices de criminalidade das

grandes metrópoles brasileiras.

Com isso, percebe-se o quanto a violência no bairro do Barreiro está presente na

vida de sua população, deixando famílias as margens dos riscos que a sociedade

desigual impõe no quotidiano de cada cidadão. Portanto, cabe ao poder publico intervir

por essas pessoas, com melhorias nos serviços básicos, como saúde, educação e

segurança pública, sendo o Barreiro um bairro populoso, enquadra-se perfeitamente nas

possibilidades de reprodução do sistema da criminalidade, no qual a violência vem de

abre alas, colocando o pobre dito favelado, a mercê da insegurança e do medo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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SOUZA, M. Fobopóle: o medo generalizado e a militarização da questão urbana. Rio

de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.

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