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A EFETIVIDADE DA INTERNACIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS DA MULHER NO BRASIL: A LEI MARIA DA PENHA. Elizabeth do Nascimento Mateus 1 RESUMO O artigo consiste em um estudo sobre a internacionalização dos direitos humanos, tendo como foco os direitos humanos da mulher brasileira com a concretização da Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006, denominada Lei Maria da Penha. O trabalho se desenvolve sob o eixo norteador da crítica comprometida com a efetividade da internacionalização dos direitos humanos da mulher e a superação das desigualdades entre homens e mulheres no Brasil. Para tal, alguns documentos serão analisados, tais como - a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher (1979) e a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção Belém do Pará – 1994) -, que normatizam os direitos da mulher. Palavras-chave - Internacionalização dos Direitos Humanos, Direitos Humanos e Gênero, Lei Maria da Penha, Políticas Públicas e Gênero. ABSTRACT This article is a review about international Human Rights, accept center the Brazilian woman Human Rights with concretion Law number 11.340, august, 7, 2006 – ‘Maria da Penha Law. The work develops critic guiding compromises with woman international Human Rights effectivity and overcomes dissemblance between men and women in Brazil. Some document will analyze, as – Convention on the Elimination of All Forms of Discrimination against Women, CEDAW (1979); as Inter-American Convention on the prevention, punishment and eradication of violence against Women, “Convention of Belem do Para” (1994) -, establish norms about woman rights. Keyword - International Human Rights, Human Rights and Gender, ‘Maria da Penha’ Law, Public Policy and Gender. 1 Pós-graduanda em Direito Público. IES CEAJUFE. BH. MG. 2008. Aluna da ESDHC. <[email protected]>.

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Page 1: A EFETIVIDADE DA INTERNACIONALIZAO DOS DIREITOS … · 2019. 7. 22. · O Direito Internacional dos Direitos Humanos é um ramo do Direito Internacional Público (DIP) com princípios,

A EFETIVIDADE DA INTERNACIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS DA MULHER NO BRASIL: A LEI MARIA DA PENHA. Elizabeth do Nascimento Mateus1

RESUMO

O artigo consiste em um estudo sobre a internacionalização dos direitos humanos, tendo como foco os direitos humanos da mulher brasileira com a concretização da Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006, denominada Lei Maria da Penha. O trabalho se desenvolve sob o eixo norteador da crítica comprometida com a efetividade da internacionalização dos direitos humanos da mulher e a superação das desigualdades entre homens e mulheres no Brasil. Para tal, alguns documentos serão analisados, tais como - a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher (1979) e a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção Belém do Pará – 1994) -, que normatizam os direitos da mulher. Palavras-chave - Internacionalização dos Direitos Humanos, Direitos Humanos e Gênero, Lei Maria da Penha, Políticas Públicas e Gênero.

ABSTRACT

This article is a review about international Human Rights, accept center the Brazilian woman Human Rights with concretion Law number 11.340, august, 7, 2006 – ‘Maria da Penha Law’. The work develops critic guiding compromises with woman international Human Rights effectivity and overcomes dissemblance between men and women in Brazil. Some document will analyze, as – Convention on the Elimination of All Forms of Discrimination against Women, CEDAW (1979); as Inter-American Convention on the prevention, punishment and eradication of violence against Women, “Convention of Belem do Para” (1994) -, establish norms about woman rights. Keyword - International Human Rights, Human Rights and Gender, ‘Maria da Penha’ Law, Public Policy and Gender.

1Pós-graduanda em Direito Público. IES CEAJUFE. BH. MG. 2008. Aluna da ESDHC. <[email protected]>.

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1. Introdução

O presente artigo aborda a internacionalização dos direitos humanos,

nesse contexto, centra-se especificamente nos direitos humanos da mulher

brasileira com prioridade para Lei n. 11. 340, de 7 de agosto de 2006 (BRASIL,

2006), denominada Lei Maria da Penha.

Primeiro, tratam-se num breve histórico alguns aspectos do processo

de internacionalização dos direitos humanos e da inclusão da pessoa humana

como sujeito de direito internacional, segundo, menciona-se a histórica

desigualdade sócio-politica entre homens e mulheres; terceiro, dedicam-se aos

documentos internacionais que tratam dos direitos humanos da mulher; quarto

trata-se da Lei Maria da Penha e, num quinto e último momento, apresentam-

se as considerações finais.

O Direito Internacional dos Direitos Humanos é um ramo do Direito

Internacional Público (DIP) com princípios, e algumas especificidades próprias.

Mas respeita os princípios gerais do Direito Internacional, assim como a

Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1969, com algumas

características próprias2.

O Direito Internacional tem passado por inúmeras modificações3, e um

capítulo merece destaque – o da personalidade e capacidade jurídicas do

indivíduo como sujeito do Direito Internacional. Cançado Trindade (2004,

p.200) que se dedicou por muitos anos ao estudo desse tema admite a

necessidade de maior atenção ao mesmo “sem apegos a posições dogmático-

2 Cita-se, por exemplo, a questão do fim dos tratados pelo descumprimento de uma parte, o que não se aplica.

3 Ver, neste sentido, BRANT, L. N. C. O Brasil e os novos desafios do direito internacional. Rio de Janeiro: Forense, 2004.

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ideológicas, pois constitui o legado mais precioso da ciência jurídica do século

XX”. A esse respeito argumenta ainda que:

Todo novo corpus juris do Direito Internacional dos Direitos Humanos vem de ser construído em torno dos interesses superiores do ser humano, independentemente de seu vínculo de nacionalidade ou de seu estatuto político [...] Se o Direito Internacional reconhece aos indivíduos direitos e deveres (como comprovam os instrumentos internacionais de direitos humanos), não há como negar-lhes personalidade internacional, sem a qual não poderia dar-se aquele reconhecimento [...] O reconhecimento do indivíduo como sujeito tanto do direito interno como do Direito Internacional, dotado, em ambos de plena capacidade processual (cf. infra), representa uma verdadeira revolução jurídica, para a qual temos o dever de contribuir. Esta revolução vem enfim dar um conteúdo ético às normas tanto do direito interno como do Direito Internacional. (CANÇADO TRINDADE, 2004, p. 212-213).

Depreende-se dessa lição que “toda evolução doutrinária aponta na

direção da consagração de obrigação erga omnes (o que é válido contra todos)

de proteção.” (Cançado Trindade, 2004, p. 212 e 224). Isto significa a

obrigação de proteção dos seres humanos por toda comunidade internacional.

Para Borges; Brant (2004, p.118), o problema não é considerar o

Estado como único sujeito de Direito Internacional Público (DIP), mas sim,

manter a idéia de Diretos Humanos como sendo de Domínio Reservado, i e,

assunto exclusivamente de jurisdição interna 4. Com a II Guerra Mundial, esta

idéia sai do domínio reservado para se internacionalizar, com a concepção de

que a proteção deve ser considerada mais importante que a própria idéia de

soberania e territorialidade.

Isto significa dizer que a proteção aos direitos humanos inova no

sentido de que relativiza o sentido de soberania absoluta do Estado, já que

este pode ser monitorado e responsabilizado internacionalmente, por violação

de direitos humanos e, legitima o indivíduo como sujeito de direitos, que deve

ter os seus direitos protegidos internacionalmente.

4 Para maiores informações, ver ERMACORA, F. “Human rights and domestic jurisdiction”, in RCADI, 1968-II, vol. 124, pp. 371-451; e WATSON, J. S. “Auto-interpretation, competence and the continuing validity of article 2 (7) of the UN Charter”, in AJIL, 1977, pp. 60-83.

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Na Europa as pessoas podem individualmente ter acesso “às

instâncias internacionais de proteção e o reconhecimento de sua capacidade

processual internacional em casos de violações dos direitos humanos”

(Cançado Trindade, 1998, p.21) é assegurado pelo Protocolo 11 5 relativo à

Reestruturação do Mecanismo de Controlo Estabelecido pela Convenção (STE

155) à Convenção Européia dos Direitos do Homem e das Liberdades

Fundamentais, que reconhece o mesmo direito aos órgãos e organismos da

União e a qualquer pessoa, desde que demonstrem interesse na resolução da

causa submetida ao Tribunal de Justiça.

No plano regional a Corte Interamericana de Direitos Humanos não

assegura às vitimas acesso direto e locus standi em todas as etapas do

processo, embora haja evolução “no sistema interamericano de proteção à

capacidade jurídico-processual dos indivíduos como verdadeiros

demandantes”. (Cançado Trindade, 2004, p.252). Como avanço significativo

ele destaca o quarto Regulamento da Corte:

A adoção, em 24.11.2001, do quarto Regulamento da Corte, que entrou em vigor em 01 de junho de 2001, outorgando locus standi in judicio aos indivíduos demandantes não só na etapa de reparações, mas em todas as etapas do processo contencioso perante a Corte. (CANÇADO TRINDADE, 2004, p.249).

A conquista histórica da personalidade e capacidade jurídicas do

indivíduo como sujeito do Direito Internacional, é que conferiu legitimidade à

Maria da Penha Maia Fernandes, ao Centro pela Justiça e pelo Direito

Internacional (CEJIL) e ao Comitê Latino Americano de Defesa dos Direitos da

Mulher (CLADEM), para denunciar o Estado brasileiro junto à Comissão

Interamericana de Direitos Humanos.

A II Guerra Mundial é o marco histórico definidor do processo de

internacionalização dos direitos humanos contra as atrocidades cometidas

contra o ser humano tendo como documento impulsionador a Declaração

Universal dos Direitos Humanos (1948).

5Ver CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Direitos Humanos. Personalidade e Capacidade Jurídica Internacional do Indivíduo. In COSTA, Érica A.; SILVA, Carlos A. C. G. da (orgs.) Direito Internacional Moderno. Belo Horizonte: Mandamentos, 2004.

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Para Flávia Piovesan (1997, p. 141),

A necessidade de uma ação internacional mais eficaz para a proteção dos direitos impulsionou o processo de internacionalização desses direitos, culminando na criação da sistemática normativa de proteção internacional, que faz possível a responsabilização do Estado no domínio internacional, quando as instituições nacionais se mostram falhas ou omissas na tarefa de proteção dos direitos humanos.

Segundo Lamounier; Magalhães (2007), o processo de

internacionalização dos direitos humanos tem como base originária três pilares:

o Direito Humanitário 6, a Liga das Nações Unidas e a Organização

Internacional do Trabalho (OIT).

Foram importantes porque o Direito Humanitário tratou, em âmbito internacional, da proteção humanitária em casos de guerra. A Liga das Nações, além de buscar a paz e a cooperação internacional, expressou disposições referentes aos direitos humanos. A OIT promulgou inúmeras convenções internacionais, buscando a proteção da dignidade da pessoa humana no direito trabalhista.

Assim, a internacionalização da proteção dos direitos humanos

inicialmente, resultou em inúmeros tratados internacionais e instrumentos de

proteção, como os Pactos de Direitos Civis e Políticos, e de Direitos

Econômicos, Sociais e Culturais, no âmbito da Organização das Nações

Unidas (ONU), ambos de 1966; a Convenção Americana de Direitos Humanos

(Pacto de San José), de 1969, no âmbito do Sistema Interamericano; Tratados

de prevenção da discriminação, de prevenção e punição da tortura, de

proteção aos refugiados, de proteção aos direitos dos trabalhadores, direitos

das crianças, direitos da mulher, deficientes e idosos.

Entretanto, cabe mencionar que o texto da Declaração (1948)

inicialmente, não era obrigatório aos Estados, uma vez que foi adotado não

como um tratado, mas como uma resolução da Assembléia Geral das Nações

Unidas (“soft law”). Somente na década de 60, com o movimento de

independência principalmente dos países africanos a sociedade internacional

resolveu adotar os dois Pactos de Direitos Humanos (Pacto internacional dos

Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos,

6Sobre o tema ver BORGES, Leonardo Estrela. O Direito Internacional Humanitário. Belo Horizonte: Del Rey, 2006.

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Sociais e Culturais, ambos de 1966), estes sim textos cogentes (“hard law”).

(BORGES; BRANT, 2004, p.126 -130).

Dos documentos internacionais, privilegiam-se a Convenção sobre a

Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher (1979) e a

Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra

a Mulher - “Convenção de Belém do Pará” (1994), fundamentais para defesa

dos direitos humanos das mulheres. E, serão nesse artigo, sem a pretensão de

esgotar o tema, contextualizados.

Embora desde então tenham ocorrido avanços significativos na

proteção dos direitos humanos, ainda resta um longo caminho a percorrer.

De acordo com Antônio Augusto Cançado Trindade (1998), a maioria

dos países que ratifica os tratados internacionais não desenvolve “uma

consciência da natureza e amplo alcance das obrigações contraídas em

matéria de proteção dos direitos humanos”. Afirma o mencionado autor que as

próprias autoridades públicas não possuem o entendimento necessário.

Nesse sentido, cabe destacar que,

Conforme dados do Human Development Report (UNDP, 2002), o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos contava com 148 Estados-partes; o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, com 145 Estados-partes; a Convenção contra a Tortura, com 130 Estados-partes; a Convenção sobre a Eliminação da Discriminação Racial, com 162 Estados-partes; a Convenção sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher, com 170 Estados-partes; e a Convenção sobre os Direitos da Criança apresentava a mais ampla adesão, com 191 Estados-partes. (PIOVESAN, 2003, p.24).

Constata-se, portanto, que a comunidade internacional e a regional

(nacional) são co-responsáveis na proteção e garantia dos direitos da pessoa

humana. Entende-se que as iniciativas internacionais de proteção aos direitos

humanos devem ser vinculadas às medidas internas dos Estados-partes que

também visem à proteção de tais direitos. A própria Declaração de Viena

(1993) em seu artigo 5º afirma: “Todos os direitos humanos são universais,

interdependentes e inter-relacionados. A comunidade internacional deve tratar

os direitos humanos globalmente de forma justa e eqüitativa, em pé de

igualdade e com a mesma ênfase”.

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Nem toda violação de direitos humanos por parte de um Estado

integrante das Nações Unidas constitui uma questão internacional. Mas o que

importa é que “esses Estados deverão afastar o argumento de que a solução

ao tratamento desumano infligido a seus nacionais reside unicamente em sua

competência exclusiva”. (BORGES; BRANT, 2004, p.122).

Portanto, há uma convivência dinâmica entre o direito internacional e o

direito interno, no tocante à proteção dos direitos humanos com primazia da

norma mais favorável, que melhor proteja, erga omnes, o ser humano.

2. A histórica desigualdade sócio-política entre homens e mulheres

Entende-se, aqui, que o reconhecimento dos direitos humanos não

resulta de uma concessão da sociedade política, mas ao contrário, são direitos

que a sociedade política tem o dever de consagrar e garantir. Em face às

constantes violações aos direitos fundamentais das mulheres amparadas em

questões culturais, étnicas, religiosas e políticas localizadas, cresce a

importância do debate acerca da universalidade dos Direitos Humanos da

mulher consagrados nos dispositivos internacionais no presente processo de

globalização em andamento.

O conceito de gênero tutelado pela Lei n.11.340/06 (introduzido por

volta dos anos 70 no campo das Ciências Sociais), cabe mencionar, não se

trata de características sexuais do feminino e masculino. Mas trata das

relações de dominação e poder que sustentam as desigualdades entre

homem e mulher (desigualdade de gênero) que atribuem ao homem funções

nobres valorizadas pela sociedade à mulher papéis menos apreciados social

e culturalmente.

De tais diferenças ou desigualdades surge a idéia de superioridade dos homens em relação às mulheres, responsável pela dominação masculina instituída socialmente. Esta dominação real e não meramente simbólica, concedeu aos homens privilégios ou vantagens materiais e culturais, à custa da opressão das mulheres e supressão de seus direitos, dando origem a esta desigualdade ao

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que chamamos hoje de violência de gênero. (grifos das autoras). (CAMPOS; CORRÊA 2007, p. 212).

Constata-se que após centenas de anos de submissão e

desigualdades, cristalizou-se uma espécie de empoderamento dos homens em

relação às mulheres. E, por ser considerada ‘propriedade privada’ a mulher

estaria sujeita a toda forma de violência, tidas como aceitáveis ainda que

veladamente. A violência de gênero atinge não somente a mulher, mas

também as crianças, os adolescentes, os negros, os índios, os idosos, os

homossexuais, são grupos considerados minoritários e que sofrem a maior

incidência de delitos e discriminações. (CAMPOS; CORRÊA 2007, p. 218).

A violência contra a mulher e seus filhos (violência doméstica, familiar

e afetiva) tem sido tolerada e, muitas vezes, aceita e autorizada pelo Estado 7.

Tal fato contribuiu para a consolidação da violência de gênero em nossa

sociedade. E, por si só, exige que hoje o Estado intervenha em defesa dos

direitos humanos da mulher e de seus filhos para assegurar a esses cidadãos

na vida, a efetividade8 constitucional de seus direitos. Entende-se, portanto,

que esses direitos não resultam de uma concessão, mas ao contrário, são

direitos que o Estado tem o dever de consagrar e garantir.

Decorre daí, a necessidade de proteção à mulher para se viabilizar a

concretude da igualdade de direitos, a concretização de “valores da pessoa e

da família, de forma a coibir os papéis estereotipados que legitimem ou

exacerbem a violência doméstica e familiar (CEF, art. 1º, III; art. 3º, IV; art.221,

IV e LMP, art.8º, III).” (CAMPOS; CORRÊA, 2007, p.18).

Pode-se afirmar, nesse contexto, de violência contra a mulher, que a

condição de sujeito de direito, requisito básico para a titularidade de direitos,

ainda não está plenamente garantido para a mulher brasileira.

7Sobre o tema ver CAMPOS, Amini Haddad; CORREA, Lindinalva Rodrigues. Direitos humanos das mulheres. Curitiba: Juruá, 2007. 8“A efetividade pressupõe não só a realização das condições de eficiência e eficácia, como também, a correspondência com as demandas da população ou de determinados estratos populacionais ou de grupos.” (GUSTIN & DIAS, 2006, p.103).

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3. Os direitos humanos da mulher nos dispositivos internacionais.

Ao longo da história, a noção de direitos humanos tem sido construída

como sendo os direitos inerentes à pessoa humana. No plano internacional, a

formulação jurídica desse conceito é recente, acontece nos últimos 50 anos,

mais precisamente a partir da Declaração Universal de Direitos Humanos

(1948). Ensina Cançado Trindade (1997, p.17) que:

As raízes do que hoje entendemos por proteção internacional dos direitos humanos remontam, contudo, a movimentos sociais e políticos, correntes filosóficas, e doutrinas jurídicas distintos, que floresceram ao longo de vários séculos em diferentes regiões do mundo.

Portanto, a idéia de direitos humanos é antiga como a própria história

da civilização e tem se manifestado em diferentes povos e culturas e em

diferentes momentos sempre na afirmação da dignidade da pessoa humana,

na luta contra todas as formas de opressão, exclusão, violência, o despotismo,

a arbitrariedade dos poderosos, em favor da participação da comunidade e do

princípio de legitimidade. (CANÇADO TRINDADE 1997, p.17).

O processo de generalização iniciado com a Declaração Universal de

1948 tem consolidado, no plano internacional, a universalidade dos direitos

humanos, que desde então tem sido sustentado nos dois Pactos de Direitos

Humanos das Nações Unidas de 1966, nas Conferências Mundiais de Direitos

Humanos (Teerã, 1968, e Viena, 1993).

Desse modo, o Direito Internacional amplia a proteção daquele que se

encontra em situação de mais necessitado de proteção. Em lição de Cançado

Trindade (1997, p. 25) depreende-se que:

O Direito Internacional dos Direitos Humanos não rege as relações entre iguais; opera precisamente em defesa dos ostensivamente mais fracos. Nas relações entre desiguais, posiciona-se em favor dos mais necessitados de proteção. Não busca obter um equilíbrio abstrato entre as partes, mas remediar os efeitos do desequilíbrio e das disparidades na medida em afetam os direitos humanos. Não se nutre das barganhas de reciprocidade, mas se inspira nas considerações de ordre public em defesa de interesses comuns superiores, da realização da justiça.

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Nesse contexto de universalidade da proteção dos direitos humanos

ao mais necessitado, insere-se a discussão sobre a internacionalização dos

direitos humanos da mulher brasileira com a vigência da Lei Maria da Penha. A

seguir contextualizam-se os documentos que historicamente contribuíram para

a tessitura da internacionalização desses direitos no Brasil, na seguinte ordem:

a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra

a Mulher (1979) e a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar

a Violência contra a Mulher (Convenção Belém do Pará – 1994). E, como

marco histórico pelo reconhecimento dos direitos humanos da mulher,

menciona-se brevemente a Convenção de Viena (1993).

Na Conferência de Viena (1993) as mulheres levantaram a bandeira

‘os direitos das mulheres também são direitos humanos’. Tal propositura foi

decisiva para a inclusão pela primeira vez, na Declaração e no Programa, dos

direitos das mulheres e crianças de sexo feminino como direitos humanos.

Assim há o reconhecimento expresso de que os direitos da mulher,

sem distinção de idade, e das meninas constituem parte inalienável, integral e

indivisível dos direitos humanos universais. Ainda ficou definido como

prioridade da comunidade internacional assegurar “a participação plena e igual

das mulheres na vida política, civil, econômica, social e cultural, em nível

nacional, regional e internacional, e a erradicação de todas as formas de

discriminação com base no sexo”.9

Reitere-se que, a Convenção de Viena (1993) amplia e renova o

entendimento sobre a universalidade e a indivisibilidade dos direitos humanos,

além de afirmar a relação de interdependência entre democracia e direitos

humanos.

Nesse sentido, ensina Cançado Trindade (1999, p.242) que

democracia e política hoje envolvem além dos processos formais, os direitos

civis e políticos como instrumentos realizadores do desenvolvimento das

condições de igualdade humana. Democracia, direitos humanos e 9 A referida citação encontra-se no item 18 da Declaração de Viena e do Programa de Ação. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/viena/viena.html>. Acesso em: 18 mar. 2008.

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desenvolvimento constituem uma face da mesma moeda que se denomina

universalidade dos direitos humanos no plano conceitual, normativo e

operacional, tanto no âmbito internacional, quanto no nacional.

Na construção da democracia já na década de 70 (cabe lembrar que

no Brasil esse foi o tempo da ditadura militar) realizou-se a Convenção sobre a

Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher (1979),

estabelecida pela Assembléia Geral das Nações Unidas.

E, preocupados com as diferentes formas de discriminação nos

diversos Estados, os membros da referida Assembléia afirmaram que o

estabelecimento da nova ordem econômica internacional, baseada na

eqüidade e na justiça, contribuiria de forma significativa para a promoção da

igualdade entre homens e mulheres. Tais premissas conduzem à concretização

de documentos, que embora sejam de épocas diferentes, são complementares

na defesa dos direitos da mulher, como se verá a seguir, a Convenção

CEDAW10 e a Convenção ‘Belém do Pará’.

3.1. Convenção Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher Convention on the Elimination of all Forms of Discrimination against Women – CEDAW

A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de

Discriminação Contra a Mulher é formada por 30 artigos e um preâmbulo, foi

adotada em 1979, pela Assembléia Geral da ONU e ratificada pelo Brasil em

1984. Ao ratificá-la, o Brasil assume o compromisso de adotar providências

10Ver Documento Contra-Informe da Sociedade Civil ao VI Relatório Nacional Brasileiro à CEDAW relativo ao período 2001-2005, é uma contribuição do movimento feminista e de mulheres para garantir o cumprimento efetivo da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW) pelo Estado Brasileiro. O objetivo central do documento é subsidiar o Comitê CEDAW em sua análise e manifestação sobre o relatório oficial encaminhado pelo Estado brasileiro em 2005, bem como fundamentar as políticas e as ações governamentais orientadas às mulheres. Ao que se associa a finalidade de dimensionar o impacto dos aspectos econômicos, políticos, civis, sociais e culturais no cotidiano das mulheres brasileiras. Para tal fim, parte-se do acúmulo resultante das reflexões teóricas sobre as questões de gênero e da prática política do movimento feminista e de mulheres. Disponível em: <http://www.cladem.org/portugues/regionais/monitoreo_convenios/Cedaw_Brasil07.doc.> Acesso em: 18 jul. 2008.

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efetivas e reais no sentido de enfrentar todas as formas de discriminação

contra a mulher no país. Cabe mencionar que foi após 22 anos da ratificação

da Convenção, que o legislativo elaborou a Lei Maria da Penha.

Considera–se no preâmbulo, que a discriminação contra a mulher

Viola os princípios da igualdade de direitos e do respeito à dignidade humana, dificultando a participação da mulher, nas mesmas condições que o homem, na vida política, social, econômica e cultural de seu país, constituindo um obstáculo ao aumento de bem-estar da sociedade e da família e impedindo a mulher de servir o seu país e a humanidade em toda a extensão das suas possibilidades.

No seu art.1º a Convenção define o conceito de ‘discriminação contra

as mulheres’ como sendo:

Toda distinção, exclusão ou restrição fundada no sexo e que tenha por objetivo ou conseqüência prejudicar ou destruir o reconhecimento, gozo ou exercício pelas mulheres, independentemente do seu estado civil, com base na igualdade dos homens e mulheres, dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, nos campos políticos, econômicos, social, cultural e civil ou em qualquer outro campo.

Para Hirao (2007) a definição supramencionada vincula a

discriminação contra a mulher diretamente com os direitos humanos em

geral e envolve os seguintes elementos:

(i) distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo, (ii) ter como objeto ou resultado prejuízo e anulação do reconhecimento, gozo ou exercício de direitos humanos e liberdades fundamentais, o que expressa (iii) o principio de indivisibilidade dos direitos humanos. [...]

Essa definição inclui, por exemplo, os casos de agressão sexuais, que afetam majoritariamente a mulheres. Desse modo, são atos de discriminação contra a mulher tanto a violência doméstica – que afeta desproporcionalmente as mulheres – como a demissão de mulheres grávidas - que afeta unicamente as mulheres. (HIRAO, 2007, p.759).

O art. 2º da referida Convenção (1979) tutela que os Estados-Partes

condenam toda forma de discriminação contra as mulheres sob todas suas

formas e assumem o compromisso de buscar sem demora e por todos os

meios a aplicabilidade de uma política destinada a eliminar a discriminação

contra a mulher no plano interno, adotando medidas legislativas, jurídicas,

políticas, sociais e educativas pertinentes.

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Ainda no tocante ao art.2º, alínea “e” da Convenção, Hirao (2007)

complementa com o seguinte argumento:

Verifica-se assim que a Convenção supera a limitação da responsabilidade do Estado à chamada esfera pública, consagrando o entendimento de que o Estado também é responsável por uma violação perpetrada por particulares quando deixar de cumprir suas obrigações decorrentes da Convenção, contra a mulher ou a de criar mecanismos que garantam a igualdade entre homens e mulheres. (HIRAO, 2007, p.762).

Em seu art.3º prevê que os Estados-Partes:

Deverão em todos os campos e em particular, no político, social, econômico e cultural tomar todas as medidas apropriadas inclusive de caráter legislativo, para assegurar o pleno desenvolvimento e o progresso das mulheres, com vistas a garantir-lhes o exercício e o gozo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais em igualdade de condições com o homem.

Quanto à mudança de padrões de comportamento social e

culturalmente construídos, os Estados-Partes tomarão todas as medidas

apropriadas para sua modificação de posturas preconceituosas, idéias de

inferioridade e superioridade entre homens e mulheres ou papéis

estereotipados entre os mesmos. Além de assegurar uma nova educação

familiar que contribua com um novo entendimento da maternidade como função

social, da responsabilidade comum de ambos os pais no tocante à educação e

desenvolvimento dos filhos e compreensão de que o interesse dos filhos está

em ordem de prioridade em todos os casos. (art. 5º).

Os Estados-Partes deverão também tomar todas as medidas no

sentido de eliminar a discriminação contras as mulheres na vida política e

pública do país garantindo a igualdade com os homens. (Art.7º).

A CEDAW assegura em seu art. 23º que nada do que está disposto

em seu texto poderá prejudicar qualquer disposição presente em outros

documentos e que propiciem a igualdade entre homens e mulheres. Assim,

consagra o princípio da norma mais benéfica para efetivação dos direitos

humanos da mulher. (HIRAO, 2007, p. 763).

Por fim, quanto à efetividade da CEDAW, Gisele Salgado (2007)

argumenta que embora estejam ocorrendo mudanças significativas, se

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comparadas com o tempo em que a mulher vem sofrendo discriminação, estas,

porém, não são tão rápidas para garantirem a vida da mulher. Pois, entende a

mencionada autora que:

Os direitos humanos das mulheres são essenciais para a garantia de uma ordem internacional mais justa e para o estabelecimento de um Estado realmente democrático. Para a efetivação da democracia é necessário que os direitos estejam distribuídos de forma global no seu aspecto qualitativo e quantitativo; caso contrário, não é direito, é privilégio. (SALGADO, 2007, p.772).

3.2. Convenção Interamericana Para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher – Convenção Belém do Pará. Inter-American Convention on the Prevention, Punishment and Eradication of Violence against Women - "Convention of Belem do Para"

A Assembléia Geral das Nações Unidas, convencida da necessidade

de um documento internacional que enfrentasse o problema da violência contra

a mulher, afirma que a violência contra a mulher consiste em violência contra

os direitos humanos e as liberdades fundamentais, e adota a Convenção

Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher -

“Convenção de Belém do Pará” (1994). A Convenção é formada por 25 artigos

e um preâmbulo, foi ratificada pelo Brasil em 27 de novembro de 1995 e

promulgada em 1996.

No preâmbulo da Convenção fica retratada a situação da mulher em

relação à violência e a preocupação dos membros da Assembléia Geral da

Organização dos Estados Americanos (OEA) que reunidos em 06.06.94

elaboram as seguintes premissas:

Considerando que o reconhecimento e o respeito irrestrito de todos os direitos da mulher são condições indispensáveis para seu desenvolvimento individual e para criação de uma sociedade mais justa, solidária e pacífica; Preocupada porque a violência em que vivem muitas mulheres da América, sem distinção de raça, classe, religião, idade ou qualquer outra condição, é uma situação generalizada; Persuadida de sua responsabilidade histórica de fazer frente a esta situação para procurar soluções positivas;

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Convencida da necessidade de dotar o sistema interamericano de um instrumento internacional que contribua para solucionar o problema da violência contra a mulher; Recordando as conclusões e recomendações da Consulta Interamericana sobre a Mulher e a Violência, celebrada em 1990, e a Declaração sobre a Erradicação da Violência contra a Mulher, nesse mesmo ano, adotada pela Vigésima Quinta Assembléia de Delegadas; Recordando também a resolução AG/RES n. 1.128 (XXI-0/91) “Proteção da Mulher Contra a Violência”, aprovada pela Assembléia Geral da Organização dos Estados Americanos; Levando em consideração o amplo processo de consulta realizado pela Comissão Interamericana de Mulheres desde 1990 para o estudo e a elaboração de um projeto de convenção sobre a mulher e a violência, e Vistos os resultados da Sexta Assembléia Extraordinária de Delegadas, Resolve: Adotar a seguinte Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher - "Convenção de Belém do Pará."

Para os efeitos da Convenção estabeleceu-se nos artigos 1º e 2º a

definição de violência:

Art.1º - Para os efeitos desta Convenção deve-se entender por violência contra a mulher qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como no privado.

Art. 2º - Entender-se-á que violência contra a mulher inclui violência física, sexual e psicológica.

Assim, a violência contra a mulher, passa a ser reconhecida como

violação de direitos humanos e a sua proteção contra a violência se

universaliza.

No Capítulo II da Convenção encontram-se tutelados os Direitos

Protegidos: Artigo 3º- Toda mulher tem direito a uma vida livre de violência, tanto no âmbito público como no privado. Artigo 4º- Toda mulher tem direito ao reconhecimento, gozo, exercício e proteção de todos os direitos humanos e às liberdades consagradas pelos instrumentos regionais e internacionais sobre os direitos humanos. Estes direitos compreendem, entre outros: a) o direito a que se respeite a sua vida; b) o direito a que se respeite sua integridade física, psíquica e moral; c) o direito à liberdade e à segurança pessoais; d) o direito a não ser submetida a torturas; e) o direito a que se respeite a dignidade inerente a sua pessoa e que se proteja sua família; f) o direito à igualdade de proteção perante a lei e da lei; g) o direito a um recurso simples e rápido diante dos tribunais competentes, que a ampare contra atos que violem seus direitos; h) o direito à liberdade de associação; i) o direito à liberdade de professar a religião e as próprias crenças, de acordo com a lei;

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j) o direito de ter igualdade de acesso às funções públicas de seu país e a participar dos assuntos públicos, incluindo a tomada de decisões. Artigo 5º- Toda mulher poderá exercer livre e plenamente seus direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais e contará com a total proteção desses direitos consagrados nos instrumentos regionais e internacionais sobre direitos humanos. Os Estados-partes reconhecem que a violência contra a mulher impede e anula o exercício desses direitos. Artigo 6º- O direito de toda mulher a uma vida livre de violência inclui, entre outros: a) o direito da mulher de ser livre de toda forma de discriminação, e b) o direito da mulher ser valorizada e educada livre de padrões estereotipados de comportamento e práticas sociais e culturais baseadas em conceitos de inferioridade ou subordinação.

A Convenção também prevê em seu artigo 12, que os casos de

violações aos direitos fundamentais das mulheres podem ser reportados à

Corte Interamericana de Direitos Humanos, sendo que os trâmites do caso

serão de acordo com as regras previstas no Pacto de São José da Costa Rica

e no próprio regulamento interno da Comissão focado nos artigos 44 a 51 da

Convenção Interamericana de Direitos Humanos de 1999.

Artigo 12 - Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não-governamental legalmente reconhecida em um ou mais Estados-membros da Organização, pode apresentar à Comissão Interamericana de Direitos Humanos petições que contenham denúncias ou queixas de violação do artigo 7º da presente Convenção pelo Estado-parte, e a Comissão para a apresentação e consideração de petições estipuladas na Convenção Americana sobre Direitos Humanos e no Estatuto e Regulamento da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Com fulcro no artigo 12 dessa Convenção pode Maria da Penha e os

outros peticionários recorrerem à Comissão Interamericana de Direitos

Humanos e apresentarem a denúncia de violação de seu direito pelo Estado

brasileiro.

Reitere-se que, os indivíduos não têm acesso à Corte Interamericana

de Direitos Humanos, mas somente à Comissão que recebe os casos

encaminhados. Porém, são recebidos apenas os casos cujos Estados

declarem reconhecer a sua competência, nos termos do artigo 62 do Pacto de

São José da Costa Rica.

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4. A Lei Maria da Penha e os dispositivos internacionais.

As mulheres organizadas conseguiram em 1988 um marco histórico no

capítulo de sua trajetória para construção de uma cidadania digna e universal:

a visibilidade da mulher como sujeito de direitos no texto constitucional. Assim,

a Constituição (1988), como documento jurídico e político, contribuiu para que

o Brasil se integrasse ao sistema de proteção internacional dos direitos

humanos, antiga reivindicação da sociedade.

Pela primeira vez na história constitucional brasileira, consagra-se a igualdade entre homens e mulheres como um direito fundamental. O princípio da igualdade entre os gêneros é endossado no âmbito da família, quando o texto estabelece que os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelos homens e pelas mulheres. Daí a importância da edição do novo Código Civil brasileiro e a necessidade de reforma da legislação penal, que data da década de 1940. (CAMPOS; CORRÊA, 2007, p.143).

Com a assinatura e ratificação pelo Brasil dos tratados específicos

sobre a promoção e defesa dos direitos da mulher: a Convenção da

Organização das Nações Unidas sobre Eliminação de Todas as Formas de

Discriminação Contra a Mulher - CEDAW (1979); e a Convenção Internacional

para Prevenir e Erradicar a Violência Contra a Mulher - “Convenção de Belém

do Pará” (1994), são geradas obrigações para o país no âmbito internacional e

também no âmbito nacional.

Os referidos documentos preceituam novos direitos para as mulheres

que agora podem contar com a instância internacional de decisão, quando

falhar o direito interno na realização da justiça. Isto significa a possibilidade

legítima de recorrer à Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Quanto à incorporação dos tratados de direitos humanos pelo Brasil

encontra-se no art.5º, parágrafo 2º e 3º da Constituição que alberga esses

“tratados no universo de direitos fundamentais constitucionalmente protegidos.”

[...] “Ao processo de constitucionalização do Direito Internacional conjuga-se o

processo de internacionalização do Direito Constitucional.” (PIOVESAN, 2007,

p.118-119).

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As mudanças no cenário de proteção internacional dos direitos

humanos determinaram a elaboração no Brasil da Lei Maria da Penha (Lei n.

11.340/06), que recebeu essa denominação devido à história de violência

sofrida por Maria da Penha Maia Fernandes, em 1983, vítima de seu marido,

que por duas vezes tentou assassiná-la. Na primeira tentativa com disparo de

arma de fogo que lhe causou uma paraplegia; na segunda, por meio de choque

elétrico. Apesar da gravidade do ocorrido somente após vinte anos (quase

prescrevendo o crime), seu marido foi condenado, cumprindo apenas dois anos

de prisão, já se encontra em liberdade.

No preâmbulo da Lei Maria da Penha, formada por 46 artigos, lê-se

que a mesma cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar

contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal11, da

Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra

as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a

Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência

Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o

Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências.

Além do mencionado acima, no seu artigo 1º a Lei faz referência que é

criada, também nos termos de outros tratados internacionais ratificados pela

República Federativa do Brasil [...] e estabelece medidas de assistência e

proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar. Então

cabe conferir como foi que se chegou à concretude da referida Lei.

Em 20 de agosto de 1998, a Comissão Interamericana de Direitos

Humanos recebeu a denúncia apresentada pela senhora Maria da Penha Maia

Fernandes, pelo Centro pela Justiça e pelo Direito Internacional (CEJIL) e pelo

Comitê Latino Americano de Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM)

(denominados “os peticionários”):

11Art. 226. A família, base da sociedade tem especial proteção do Estado. § 8º - O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integra, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. Disponível em: http://www.presidencia.gov.br/legislacao/. Acesso em: 29 mar. 2008.

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A denúncia alega a tolerância da República Federativa do Brasil (doravante denominada “Brasil” ou “Estado”) para com a violência cometida por Marco Antonio Heredia Viveiros em seu domicílio na cidade de Fortaleza, Estado do Ceará, contra a sua então esposa Maria da Penha Maia Fernandes durante os anos de convivência matrimonial, que culminou numa tentativa de homicídio e novas agressões em maio e junho de 1983. Maria da Penha, em decorrência dessas agressões, sofre de paraplegia irreversível e outras enfermidades desde esse ano. Denuncia-se a tolerância do Estado, por não haver efetivamente tomado por mais de 15 anos as medidas necessárias para processar e punir o agressor, apesar das denúncias efetuadas. (RELATÓRIO ANUAL 2000. COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. N° 54/01. CASO 12.051).

Os peticionários sustentaram na denúncia que o caso Maria da Penha

não constituía um fato isolado no país. Mencionaram a existência de um

padrão de impunidade nos casos de violência doméstica contra as mulheres, a

maioria das denúncias não é convertida em processos criminais e, as poucas

que chegam a ser processadas, somente uma minoria conduzem à

condenação dos agressores. Também alegaram que o Brasil não havia, até

então, tomado medidas eficazes e legais no sentido de prevenção ou punição

da violência contra a mulher. E, que tais crimes são cometidos pelos

companheiros ou conhecidos. Portanto, havia descumprimento dos

documentos internacionais 12 ratificados pelo Estado brasileiro.

Em relação à competência ratione personae (em razão da pessoa)

cumpre mencionar que a petição apresentada em conjunto por Maria da

Penha, CEJIL e CLADEM encontrou fulcro no artigo 44 da Convenção

Americana13, que concede legitimidade a qualquer pessoa ou grupo de

pessoas, ou entidades governamentais para pleitearem direitos junto à

Comissão. E, com relação ao Estado assegura o art. 28 da mesma Convenção,

“quando se tratar de uma república federativa (Brasil), o governo responde na

12Ver BORGES, Leonardo Estrela; BRANT, Leonardo Nemer Caldeira. A proteção internacional dos direitos humanos. In COSTA, Érica A.; SILVA, Carlos A. C. G. da (orgs.) Direito Internacional Moderno. Belo Horizonte: Mandamentos, 2004, p.149 -156. 13“O sistema regional interamericano congrega 24 países americanos e visa salvaguardar os direitos humanos no plano interamericano. A Convenção Interamericana de Direitos Humanos é o instrumento de maior importância no sistema interamericano, denominada também de Pacto de San José da Costa Rica.” Ver PIOVESAN, Flávia. Brasil e o Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos: impacto, desafios e perspectivas. 2007, v.2, p.114-131.

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esfera internacional pelos seus próprios atos e pelos atos praticados por

agentes das entidades que compõem a federação”.

Após a devida análise dos requisitos de admissibilidade a petição foi

aceita e seguiram-se os trâmites regulamentares 14. O Brasil não apresentou

nenhum comentário à petição apesar dos repetidos requerimentos da

Comissão Interamericana. Assim, os peticionários pediram que se

considerassem verdadeiros os fatos relatados na petição, aplicando-se o artigo

42 do Regulamento da Convenção.

Concluído o relatório do caso, a Convenção envia ao Brasil o informe

105/00 no dia 19.10.2000 durante o 108º período de sessões, que foi

transmitido no dia 01.11.2000, concedendo o prazo de dois meses para o

Estado dar cumprimento às recomendações formuladas. Entretanto, isto não

aconteceu. Assim sendo, em 13.03.2001, a Comissão decide de acordo com o

art. 51 da Convenção e após o silêncio de 30 dias do Estado brasileiro e, ainda,

com base no art. 28 de seu regulamento, reiterar as recomendações dos §§1º

e 2º, tornar público o relatório e incluí-lo no relatório anual à Assembléia Geral

da Organização dos Estados Americanos (OEA). (CAMPOS; CÔRREA, 2007,

p.69).

Como assinalado por Cançado Trindade (2004), a prestação de contas

pelo Estado que violou os direitos humanos, não seria possível, se este não

tivesse que responder pela maneira como são tratados os seres humanos

sobre sua jurisdição e evitar novas violações. Entretanto, esta prestação de

contas só é possível devido a três conquistas: a consagração do direito de

petição individual, o reconhecimento do caráter objetivo das obrigações de

proteção e a aceitação da garantia coletiva de cumprimento das mesmas; e

que constituem “o sentido real do resgate histórico do indivíduo como sujeito do

Direito Internacional dos Direitos humanos”. (CANÇADO TRINDADE, 2004,

p.233),

14 Sobre o tema ver TRINDADE (2004, p. 246-263).

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Em síntese, mencionam-se as recomendações da Convenção ao

Brasil: rapidez no processo penal do agressor de Maria da Penha; investigação

e responsabilização dos responsáveis pelos atrasos injustificáveis do processo,

bem como medidas administrativas, legislativas e judiciárias correspondentes;

adoção sem prejuízos de outras ações de reparação indenizatória moral e

material devido aos danos causados pelo Estado; intensificação das reformas

que visem evitar tolerância estatal e tratamento discriminatório com respeito à

violência doméstica contra a mulher, capacitação e sensibilização dos

funcionários judiciais e policiais especializados para que compreendam a

importância de não tolerar a violência doméstica, simplificação dos processos

penais sem afetar os direitos e garantias do devido processo, estabelecimento

de formas alternativas para solução dos conflitos intrafamiliares; multiplicar as

delegacias policiais especiais para a defesa do direito da mulher e equipá-las

devidamente com os recursos necessários, apoio ao Ministério Público na

preparação de seus informes, inclusão nos currículos escolares unidades que

permitam a compreensão da importância do respeito à mulher e seus direitos

reconhecidos na Convenção Belém do Pará, bem como manejo dos conflitos

intrafamiliares.

Entretanto, somente em agosto de 2006 o Estado brasileiro formaliza a

Lei Maria da Penha num preliminar cumprimento às recomendações da

Convenção Interamericana de Direitos Humanos (2000) 15.

Na interpretação de Campos; Corrêa (2007) Maria da Penha Maia,

como vítima, foi novamente vítima das legislações penal e processual, estas

desatualizadas e extremamente formais, preterindo-se condições materiais

aos aspectos meramente formais. Analisam ainda o caráter sistêmico e

inovador da referida Lei:

A Lei n.11.340/06 detém consideráveis repercussões no âmbito jurídico, criando trâmite inovador de garantia, decorrentes dos acréscimos efetivados no campo do Direito Penal, do Processo Penal, da Execução Penal, do Direito Trabalhista e do

15Sobre o tema ver BORGES, Leonardo Estrela; BRANT, Leonardo Nemer Caldeira. A proteção internacional dos direitos humanos. In COSTA, Érica A.; SILVA, Carlos A. C. G. da (orgs.) Direito Internacional Moderno. Belo Horizonte: Mandamentos, 2004, p.156.

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Previdenciário, tudo isso para maximizar a ordem jurídica no que se refere à integração sistêmica de benefícios assistenciais e de proteção, buscando, sempre, a devida concreção dos direitos e garantias fundamentais, na máxima constitucional do princípio da inafastabilidade. (CAMPOS; CORRÊA, 2007, p.145).

Também a Constituição Federal (1988) permite uma nova ordem

jurídica ao reconhecer a inexistência de distinção discriminatória baseada no

preconceito e, admite uma nova construção das relações sociais entre homens

e mulheres fundamentadas na igualdade. A previsão legal desses preceitos se

encontra, no texto constitucional, nos seguintes artigos, art.1º, II e II, art.3º, I, III

e IV, art. 4º, II, art.5º, I e §§ 1º, 2º, 3º e 4º. (CAMPOS; CORRÊA, 2007, p.145).

A existência da Lei Maria da Penha, por si só, confirma que a violação

dos direitos humanos da mulher brasileira persiste na sociedade atual, e

demanda enfrentamento da violência de gênero e sua múltipla manifestação

(desemprego, miserabilidade, trabalho escravo, prostituição, tráfico, violência

física, psicológica, sexual). Reitere-se também a inoperância na criação dos

Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. Portanto, todos

esses elementos combinados mantêm a mulher na exclusão sócio-politica e

jurídica.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O processo de internacionalização dos direitos humanos contribuiu

para a universalidade e diversidade da noção desses direitos, registrados em

tratados, conferências, convenções, declarações e cortes internacionais e,

desse modo, teceu a atual idéia de uma cidadania universal. Merece destaque

o papel político desempenhado pelo movimento de mulheres, tanto no plano

externo, quanto no plano interno, em todo o processo histórico de construção

dos direitos humanos da mulher.

As Conferências e convenções internacionais aqui mencionadas -

Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a

Mulher (1979); a Conferência Mundial dos Direitos Humanos de Viena (1993) e

a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência

Contra a Mulher (1994) -, foram fundamentais para a internacionalização dos

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direitos humanos da mulher, bem como para elaboração da Lei Maria da

Penha, instrumento contra toda forma de violência contra mulher brasileira. Embora a Lei Maria da Penha constitua um avanço histórico-jurídico e

sócio-político na concretização da internacionalização dos direitos humanos da

mulher no plano interno, a efetividade desses direitos em sua totalidade, ainda

demanda políticas públicas de Estado concretas em prol da dignidade humana

da mulher.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BORGES, Leonardo Estrela. O Direito Internacional Humanitário. Belo Horizonte: Del Rey, 2006. BORGES, Leonardo Estrela; BRANT, Leonardo Nemer Caldeira. A proteção internacional dos direitos humanos. In COSTA, Érica A.; SILVA, Carlos A. C. G. da (orgs.) Direito Internacional Moderno. Belo Horizonte: Mandamentos, 2004, p.117-165. BRANT, Leonardo Nemer Caldeira. O Brasil e os novos desafios do direito internacional. Rio de Janeiro: Forense, 2004. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 9ª ed. rev. ampl. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.

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