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A Rede Latino-americana de Organizações da Sociedade Civil pela Educação (REDUCA) promove que o direito a aprender de todas as crianças e jovens da região seja garantido e para isso se compromete a apoiar ações que sejam orientadas nesta linha e demanda aos governos da região a agirem com disposição e de forma sustentável como os principais responsáveis das obrigações correspondentes. Para isso, é necessário que: 1. Garanta trajetórias completas Isto implica que todas as crianças e jovens estejam, aprendam e participem de sua educação desde a primeira infância até a educação superior com a possibilidade de aprender dentro e fora da escola e ao longo de toda sua vida. Para priorizar, precisamos de políticas públicas focadas no aumento da atenção integral à primeira infância e na universalização do acesso à pré-escola. No entanto, atualmente o acesso a esse nível de ensino é limitado na região: em média, apenas 75,9% das crianças latino-americanas com idade entre 4 e 5 anos frequentam a escola. Em Honduras, El Salvador, Guatemala, República Dominicana e Paraguai não atingem 70% (Aprender é mais, REDUCA, 2018). Os sistemas educacionais devem garantir condições inclusivas para que a diversidade de pessoas seja valorizada. A exclusão ainda é um fator de abandono escolar e atualmente 50% de nossos jovens na região deixam a escola sem adquirir competências, habilidades técnicas, acadêmicas, emocionais e cidadãs que serão uteis para o resto de suas vidas. Os efeitos não são apenas individuais, mas impactam diretamente na justiça social, no desenvolvimento socioeconômico e na democracia de nossos países (Aprender é mais, REDUCA, 2018). 2. Garanta aprendizagem com sentido A garantia de inclusão educacional significa oferecer a cada criança e jovem a oportunidade de aprender e desenvolver as habilidades fundamentais para o mundo atual, em conexão com as necessidades de seu contexto e integrando seus interesses e motivações para combater os fatores que afetam negativamente o seu aprendizado. Por isso, exigimos que os governos da região: Avancem com espaços de flexibilidade curricular para oferecer modalidades e estratégias inovadoras que, sem renunciar a expectativas altas e equitativas para todos os alunos, favoreçam a adaptação e o vínculo com os contextos de cada pessoa e as habilidades para aprender ao longo da vida com uma abordagem global. Programas de acompanhamento para fortalecer as trajetórias dos alunos das escolas localizadas em contextos mais vulneráveis, com ênfase no trânsito entre ciclos e com alertas precoces para detectar a exclusão educacional e, portanto, abordar o risco de abandono escolar e todas as barreiras à aprendizagem e à participação. Educação orientada para responder à diversidade e construir a partir dela, incluindo a participação, identidade e conhecimento das próprias comunidades, buscando não aumentar a exclusão. É muito importante adaptar o sistema educacional às necessidades dos sujeitos de direito, e não vice-versa; igualmente valorizar, celebrar e reconhecer a diversidade de todos. Ousadia para inovar com novas metodologias de aprendizagem, não apenas para introduzir tecnologias, mas para mudar a estrutura da sala de aula e a abordagem tradicional do ensino para que os alunos tenham um papel mais ativo em seu processo de aprendizagem e para promover as comunidades de aprendizagem. 3. Potencializar o papel dos professores e diretores Na REDUCA, estamos convencidos da importância de gerar políticas para professores e diretores que transcendam os governos e impactem a qualidade da aprendizagem dos alunos. Como mostra a literatura, a qualidade dos sistemas educacionais é proporcional à qualidade de seus professores e trata-se de um dos fatores críticos para a melhoria da aprendizagem. Membros da Rede: Proyecto Educar 2050, da Argentina; Todos Pela Educação, do Brasil; Educación 2020, do Chile; Fundación Empresarios por la Educación, do Colômbia; Grupo FARO, do Equador; Fundación Empresarial para el Desarrollo Educativo, do El Salvador; Empresarios por la Educación, da Guatemala; FEREMA, de Honduras; Mexicanos Primero, do México; Foro Educativo Nicaragüense Eduquemos, da Nicarágua; Unidos por la Educación, do Panamá, Juntos por la Educación, de Paraguai; Empresarios por la Educación, do Peru; Educa, de República Dominicana y ReachingU, do Uruguai. 1 Manifesto REDUCA A educação precisa ser uma prioridade na América Latina

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Page 1: A educação precisa ser uma prioridade na América LatinaA Rede Latino-americana de Organizações da Sociedade Civil pela Educação (REDUCA) promove que o direito a aprender de

A Rede Latino-americana de Organizações da Sociedade Civil pela Educação (REDUCA) promove que o direito a aprender de todas as crianças e jovens da região seja garantido e para isso se compromete a apoiar ações que sejam orientadas nesta linha e demanda aos governos da região a agirem com disposição e de forma sustentável como os principais responsáveis das obrigações correspondentes. Para isso, é necessário que:

1. Garanta trajetórias completas Isto implica que todas as crianças e jovens estejam, aprendam e participem de sua educação desde a primeira infância até a educação superior com a possibilidade de aprender dentro e fora da escola e ao longo de toda sua vida.

Para priorizar, precisamos de políticas públicas focadas no aumento da atenção integral à primeira infância e na universalização do acesso à pré-escola. No entanto, atualmente o acesso a esse nível de ensino é limitado na região: em média, apenas 75,9% das crianças latino-americanas com idade entre 4 e 5 anos frequentam a escola. Em Honduras, El Salvador, Guatemala, República Dominicana e Paraguai não atingem 70% (Aprender é mais, REDUCA, 2018).

Os sistemas educacionais devem garantir condições inclusivas para que a diversidade de pessoas seja valorizada. A exclusão ainda é um fator de abandono escolar e atualmente 50% de nossos jovens na região deixam a escola sem adquirir competências, habilidades técnicas, acadêmicas, emocionais e cidadãs que serão uteis para o resto de suas vidas. Os efeitos não são apenas individuais, mas impactam diretamente na justiça social, no desenvolvimento socioeconômico e na democracia de nossos países (Aprender é mais, REDUCA, 2018).

2. Garanta aprendizagem com sentido

A garantia de inclusão educacional significa oferecer a cada criança e jovem a oportunidade de aprender e desenvolver as habilidades fundamentais para o mundo atual, em conexão com as necessidades de seu contexto e integrando seus interesses e motivações para combater os fatores que afetam negativamente o seu aprendizado. Por isso, exigimos que os governos da região:

Avancem com espaços de flexibilidade curricular para oferecer modalidades e estratégias inovadoras que, sem renunciar a expectativas altas e equitativas para todos os alunos, favoreçam a adaptação e o vínculo com os contextos de cada pessoa e as habilidades para aprender ao longo da vida com uma abordagem global.

Programas de acompanhamento para fortalecer as trajetórias dos alunos das escolas localizadas em contextos mais vulneráveis, com ênfase no trânsito entre ciclos e com alertas precoces para detectar a exclusão educacional e, portanto, abordar o risco de abandono escolar e todas as barreiras à aprendizagem e à participação.

Educação orientada para responder à diversidade e construir a partir dela, incluindo a participação, identidade e conhecimento das próprias comunidades, buscando não aumentar a exclusão. É muito importante adaptar o sistema educacional às necessidades dos sujeitos de direito, e não vice-versa; igualmente valorizar, celebrar e reconhecer a diversidade de todos.

Ousadia para inovar com novas metodologias de aprendizagem, não apenas para introduzir tecnologias, mas para mudar a estrutura da sala de aula e a abordagem tradicional do ensino para que os alunos tenham um papel mais ativo em seu processo de aprendizagem e para promover as comunidades de aprendizagem.

3. Potencializar o papel dos professores e diretores

Na REDUCA, estamos convencidos da importância de gerar políticas para professores e diretores que transcendam os governos e impactem a qualidade da aprendizagem dos alunos. Como mostra a literatura, a qualidade dos sistemas educacionais é proporcional à qualidade de seus professores e trata-se de um dos fatores críticos para a melhoria da aprendizagem.

Membros da Rede: Proyecto Educar 2050, da Argentina; Todos Pela Educação, do Brasil; Educación 2020, do Chile; Fundación Empresarios por la Educación, do Colômbia; Grupo FARO, do Equador; Fundación Empresarial para el Desarrollo Educativo, do El Salvador; Empresarios por la Educación, da Guatemala; FEREMA, de Honduras; Mexicanos Primero, do México; Foro Educativo Nicaragüense Eduquemos, da Nicarágua; Unidos por la Educación, do Panamá, Juntos por la Educación, de Paraguai; Empresarios por la Educación, do Peru; Educa, de República Dominicana y ReachingU, do Uruguai.

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Manifesto REDUCA

A educação precisa ser uma prioridade na América Latina

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A maioria dos países membro da REDUCA identifica como um desafio a atração dos melhores jovens para a carreira docente devido à formação, condições de trabalho e salário (REDUCA, 2018). Este é um problema que existe há muito tempo na região. Entre 2004 e 2011, a taxa de absenteísmo de professores foi de cerca de 15% no Equador e em Honduras e de 13% no Peru (Transparency International, 2013). Estima-se também que, em 2013, na cidade de Buenos Aires, Argentina, houve mais de 2 milhões de ausências de professores (Cumsille e Fiszbein, 2015). Portanto, exigimos que em todos os países da região:

Definição do perfil docente. A literatura nos permite identificar quais são as características docentes que mais contribuem para a aprendizagem escolar. Essas características devem ser claramente identificadas e os sistemas educacionais devem considerá-las para a admissão de novos professores.

A carreira docente deve ser regulada por políticas que abordem questões relevantes como: A) o processo de seleção e perfil dos/das candidatos/as; B) formação inicial e continuada; C) a projeção na carreira para o seu crescimento; D) avaliação contínua e apoio ao desempenho, com base no crescimento profissional e no impacto da equipe docente na aprendizagem dos alunos; e E) garantia de condições favoráveis de trabalho. A carreira docente e de diretores deve ser atraente em relação ao desenvolvimento e projeção das pessoas e ser percebida como igual e satisfatória em comparação a outras profissões de alto reconhecimento social. Isso é alcançado recuperando seu prestígio com políticas claras de empoderamento, reajuste salarial, reconhecimento de projetos, iniciativas e especialidades e consolidando uma carreira que considere esforços e resultados objetivos.

Ter políticas públicas focadas em atrair e reter os melhores professores e diretores nas áreas mais vulneráveis e com baixo desempenho. Os incentivos podem ser econômicos, mas também de desempenho e progresso na carreira. No Peru, por exemplo, os professores das áreas rurais podem progredir mais rapidamente na carreira do que os que estão nas áreas urbanas (Lei de Reforma do Magistério, LRM, 2012) e na Argentina, o artigo 83 da Lei Nacional de Educação (26.206) estabelece o princípio que professores com mais experiência e formação trabalhem em escolas com situação mais vulnerável.

Acompanhar os professores no período inicial de sua formação é essencial para a qualidade docente. A mentoria e reforço pelos colegas experientes e por todo o grupo gestor da escola é fundamental. Alguns países incluíram períodos de teste com práticas ou tutorias permanentes em sala de aula como requisito para a formação e permanência no cargo. O acompanhamento da gestão e o papel pedagógico do diretor é essencial para alcançar uma garantia real do direito a aprender, que pode ser potencializado por meio do trabalho entre pares e do reconhecimento específico do trabalho do diretor. Uma política de avaliação de professores e diretores (entendida como um processo formativo, contínuo e integral, e não como um exame) é fundamental para a melhoria contínua, mas não concebida como punitiva, mas para diagnóstico e foco de aprimoramento profissional e pessoal, além de progressão na carreira e no desenvolvimento de tarefas específicas. Recomenda-se que as avaliações incluam diferentes instrumentos, especialmente a observação in loco, a retroalimentação entre pares, resultados de aprendizagem e a voz dos alunos, e que esses instrumentos estejam associados às competências esperadas. Os/as professores/as devem estar preparados/as para promover a aprendizagem além do cognitivo, incluindo as habilidades socioemocionais, o discernimento ético, o autocuidado, expressão pessoal, construção em equipe e competências para aprender ao longo da vida que devem ser garantidas desde a formação inicial com uma visão robusta sobre como o aprendizado acontece e evolui em suas áreas disciplinares e a introdução de inovações pedagógicas a serviço desse progresso, formação no uso de tecnologias e no desenvolvimento de estratégias baseadas no trabalho entre pares e comunidades de aprendizagem.

É necessário promover propostas que incluam o perfil, a seleção e padrões de desempenho para professores e diretores que conduzem a uma aprendizagem inclusiva e de qualidade e permita acompanhar e fomentar o desenvolvimento de suas capacidades socioemocionais e de liderança.

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4. Somar esforços por meio de alianças

Na região, a participação da Sociedade Civil e do Setor Privado tem cada vez mais relevância nos diferentes tipos de parcerias por meio do qual trabalham em conjunto com o setor público, construindo pontes que resultam em oportunidades significativas de sinergia e melhoria do sistema educacional.

Enfrentar os desafios colocados pelo direito de aprender exige um esforço dos governos, da sociedade civil e do setor produtivo. Isso requer a existência de espaços e canais para:

Melhor coordenação entre as várias intervenções e facilitação da colaboração no território.

Garantir que o investimento em educação responda de forma pertinente às necessidades das comunidades educacionais e os desafios que o desenvolvimento sustentável de cada país enfrenta, no âmbito das definições dos ODS.

Levantar a voz para contribuir com a definição de temas relevantes e ter incidência nas decisões educacionais, a partir da corresponsabilidade de todos os setores. Aumentar a conscientização, o diálogo e a disseminação de problemáticas invisíveis relacionadas ao direito de aprender. Que a sociedade civil possa monitorar políticas públicas e fornecer sólidas evidências que permitam, principalmente, apoiar as transições de governo, sistematizando resultados e avaliações para garantir a continuidade de políticas que mostraram resultados efetivos.

5. Ir além dos testes padronizados

A avaliação nos processos de aprendizagem é fundamental, não apenas para saber se, na sala de aula, os objetivos curriculares estão sendo alcançados para a formação das crianças e jovens, mas também para orientar políticas públicas em cada país. A educação é um processo muito mais rico e complexo do que as habilidades avaliadas em testes padronizados ou outros instrumentos de larga escala, mas a disponibilidade das informações fornecidas por estes instrumentos é importante para ampliar o diálogo para tomada de decisões de políticas públicas baseadas e informadas em evidências.

Só a informação não é suficiente, mas sem ela as discussões envolvem posturas infundadas e impressões subjetivas. A participação sistemática em avaliações censitárias ou com amostras representativas e comparáveis ao longo do tempo e com outros sistemas educacionais se tornam ferramentas para monitoramento, colaboração e prestação de contas dos governos para a sua sociedade. Por isso, solicitamos a todos os países da região a participarem desse tipo de exercício, a fim de usar seus resultados para a construção de sistemas formativos. A avaliação permite identificar onde estão sendo feitos progressos e quais intervenções e fatores estão associados a efeitos positivos. Daí a importância de ter dados e informações sobre o desempenho dos alunos para a melhoria dos processos de ensino-aprendizagem em todas as escolas. Também é importante que as competências para a vida sejam considera-das, fundamentais em uma sociedade global como a atual.

É essencial estender os processos de avaliação para que não sejam apenas provas padronizadas, mas também por projetos, sistemas de tutoria dos alunos e envolver a comunidade educacional para refletir sobre os resultados a partir da perspecti-va do contexto e da escola, garantindo que todos possam continuar aprendendo durante toda a vida com uma abordagem global e sem perder de vista o contexto específico.

É fundamental entender esses processos como melhoria formativa e contínua, o que torna desejável introduzir avaliações de habilidades socioemocionais, discernimento ético e atitudes colaborativas para dar uma visão integral do ser humano e da qualidade dos ambientes de aprendizagem. Dado o objetivo formativo dessas avaliações, considera-se essencial que eles não tenham consequências negativas para os alunos ou as escolas, mas que essas informações sejam utilizadas para promover medidas de apoio e retroalimentação.

Resumindo, como descrevemos no manifesto, é essencial para a América Latina que a educação seja uma prioridade visível em políticas públicas focadas para que as crianças e jovens tenham trajetórias educacionais completas com aprendizado relevante e onde suas opiniões e decisões sejam levadas em consideração. Precisamos de sistemas educacionais inclusivos, professores com as estratégias necessárias para que cada aluno seja a melhor versão de si mesmo. Como sociedade civil, fazemos esse chamado urgente para que as políticas educacionais em toda a região garantam que todas as crianças e jovens estejam, permaneçam, aprendam e participem da escola.

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