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A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL COMO UM DIREITO SOCIAL CONQUISTADO: EXPERIÊNCIAS VIVIDAS POR JOVENS DO CEARÁ Isaíde Bandeira da Silva UECE (Autora) Fabrício Bandeira da Silva IFCE/Maracanaú-Ce (Co-autor) RESUMO Na Declaração Universal dos Direitos Humanos, no artigo XXVI, declara que toda pessoa tem direito à instrução, sendo que a instrução elementar será obrigatória e instrução técnico-profissional será acessível a todos. Na transição do século XX para o século XXI o governo federal, através de leis e decretos, alterou ou ampliou ações que direcionam a educação profissional no país, em 2011 sancionou a lei 12.513 que criou o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC), com o objetivo de alinhar as necessidades do mercado, identificando os perfis profissionais carentes e promover a qualificação de milhões de jovens. Este artigo, portanto, apresenta uma análise acerca da educação técnica profissionalizante dada aos jovens através do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC) no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará IFCE quanto à formação de um cidadão pleno de direitos e deveres. Para isto, fizemos uma pesquisa nos campis de Fortaleza e Maracanaú, nos cursos da área da indústria. Realizamos um questionário com 30 alunos (as) destes campis. Investigamos as expectativas sentidas pelos alunos ao escolher o curso técnico e verificamos que a categoria aquisição de novos conhecimentos seguidos de mercado de trabalho foram os de maior percentual das respostas dadas. Em seguida, se destacaram a qualidade do curso e a identificação com área. A maioria dos pesquisados responderam positivamente com relação as expectativas com relação ao curso e atribuíram a causa aos conteúdos lecionados, vistos principalmente pela conexão destes com a realidade vivenciada. Com relação as perspectivas após a conclusão do curso as respostas de maior percentual relacionaram-se com a garantia de emprego. Em seguida destacou-se o anseio de crescerem profissionalmente e serem técnicos qualificados. Diante do exposto, concluímos que os alunos do curso técnico estão atentos ao mercado de trabalho competitivo e forte que os esperam. Palavras Chaves: Educação Profissional, Direitos Humanos, Políticas Educacionais. Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade EdUECE - Livro 3 00273

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Page 1: A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL COMO UM DIREITO SOCIAL … A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL... · Esta pesquisa foi composta por cinco perguntas de respostas livres. Cada pergunta foi desmembrada

A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL COMO UM DIREITO SOCIAL

CONQUISTADO: EXPERIÊNCIAS VIVIDAS POR JOVENS DO CEARÁ

Isaíde Bandeira da Silva – UECE (Autora)

Fabrício Bandeira da Silva – IFCE/Maracanaú-Ce (Co-autor)

RESUMO

Na Declaração Universal dos Direitos Humanos, no artigo XXVI, declara que toda pessoa

tem direito à instrução, sendo que a instrução elementar será obrigatória e instrução

técnico-profissional será acessível a todos. Na transição do século XX para o século XXI

o governo federal, através de leis e decretos, alterou ou ampliou ações que direcionam a

educação profissional no país, em 2011 sancionou a lei 12.513 que criou o Programa

Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC), com o objetivo de

alinhar as necessidades do mercado, identificando os perfis profissionais carentes e

promover a qualificação de milhões de jovens. Este artigo, portanto, apresenta uma

análise acerca da educação técnica profissionalizante dada aos jovens através do

Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC) no Instituto

Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE quanto à formação de um

cidadão pleno de direitos e deveres. Para isto, fizemos uma pesquisa nos campis de

Fortaleza e Maracanaú, nos cursos da área da indústria. Realizamos um questionário com

30 alunos (as) destes campis. Investigamos as expectativas sentidas pelos alunos ao

escolher o curso técnico e verificamos que a categoria aquisição de novos conhecimentos

seguidos de mercado de trabalho foram os de maior percentual das respostas dadas. Em

seguida, se destacaram a qualidade do curso e a identificação com área. A maioria dos

pesquisados responderam positivamente com relação as expectativas com relação ao

curso e atribuíram a causa aos conteúdos lecionados, vistos principalmente pela conexão

destes com a realidade vivenciada. Com relação as perspectivas após a conclusão do curso

as respostas de maior percentual relacionaram-se com a garantia de emprego. Em seguida

destacou-se o anseio de crescerem profissionalmente e serem técnicos qualificados.

Diante do exposto, concluímos que os alunos do curso técnico estão atentos ao mercado

de trabalho competitivo e forte que os esperam.

Palavras Chaves: Educação Profissional, Direitos Humanos, Políticas Educacionais.

Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade

EdUECE - Livro 300273

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Introdução

No ano de 1948, na Assembleia Geral das Nações Unidas, criou-se a

Declaração Universal dos Direitos Humanos, e em seu artigo XXVI, declara que toda

pessoa tem direito à instrução, sendo que a instrução elementar será obrigatória e

instrução técnico-profissional será acessível a todos, a instrução será orientada no sentido

do pleno desenvolvimento da personalidade.

A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, estabeleceu as Diretrizes e Bases

da Educação nacional-LDB, propondo um novo pensar na educação profissional, no

artigo 39 (BRASIL, 1996).

Em 2011, no governo da presidenta Dilma Roussef, foi criado o Programa

Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC), a ser executado pela

união, sendo sua maior finalidade aumentar o número de vagas em educação profissional

e tecnológica, por meio de programas, projetos e ações de assistência técnica e financeira.

Neste artigo buscamos perceber os impactos do PRONATEC na formação

dos jovens cearenses. Para isto, fizemos uma pesquisa, de cunho descritivo e analítico, no

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE, nos campis de

Fortaleza e Maracanaú, nos cursos da área da indústria, com aplicação de um questionário

com 30 alunos (as) destes campis.

O perfil dos jovens cearenses participantes do PRONATEC

Quanto ao perfil dos alunos que participaram da pesquisa, houve

predominância exclusiva do sexo masculino, com 67% do total dos pesquisados e 33%

do sexo feminino. Neste caso, percebemos a presença predominante do homem nestes

cursos profissionalizantes. Todavia, é notável a presença de mulheres que buscam a

realização de um curso técnico nos últimos anos. Todos haviam concluído o ensino

médio. E em relação à faixa etária dos alunos pesquisados, tinham idade entre 17 a 21

anos. Sendo que 43,3%, a maioria, possuía 18 anos.

Esta pesquisa foi composta por cinco perguntas de respostas livres. Cada

pergunta foi desmembrada em categorias.

Motivos que levaram os jovens a Escolherem um Curso Técnico

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A primeira pergunta foi: Por que você escolheu este curso técnico? Ao

analisar as respostas, chamou-nos a atenção à diversidade de respostas. Na análise

pormenorizada das mesmas identificamos seis categorias, portanto, as 30 respostas foram

agrupadas nestas seis categorias, representadas abaixo e comentadas a seguir:

a) Oportunidade oferecida- Perfazendo um total de 23,3%. É sabido que

entrar em um curso técnico regular oferecido por uma instituição federal de ensino é

através de uma espécie de vestibular, em que a concorrência é alta, pois é aberto ao

público em geral. Para exemplificar podemos destacar a seguinte resposta do aluno:

“Devido à oportunidade de estudar em uma Instituição Federal”

(aluno do curso de Automação Industrial – 17 anos)

b) Residir em uma área industrial - As cidades de Fortaleza e Maracanaú

fazem parte do polo industrial cearense, onde segundo o Instituto de Pesquisa e Estratégia

Econômica do Ceará (IPECE) o município de Fortaleza concentra-se o maior número de

indústrias com um total de 7.624 e o município de Maracanaú 559 indústrias. (IPECE,

2014).

Por residir em uma área industrial influenciou na resposta de 13,3% dos

alunos, reuniu algumas opiniões como: facilidade de conseguir um emprego; e por morar

próximo a um polo industrial. Exemplo:

“... onde temos várias indústrias próximas e podemos atuar”

(aluno do curso de Automação Industrial – 18 anos)

c) Incentivo de outros - Estes jovens se encontram em um meio social que

oferece vários caminhos a seguir, então o incentivo dos parentes, professores e amigos,

são em alguns casos decisivos nas escolhas dos cursos técnicos por parte destes jovens.

Nessa categoria englobamos os que não tinham ideia do que seria esse curso, perfazendo

um total de 33,3% dos alunos pesquisados.

“Primeiramente por causa da minha mãe, pois ela queria. Eu nem sabia do

que se tratava, mas depois quando comecei a cursar gostei.”

(aluno do curso de Segurança do Trabalho – 17 anos)

d) Identificação com a área tecnológica - Nesta categoria, temos a maioria,

60% dos alunos se identificam com a área e com os objetivos do curso. Por exemplo, é

significativa a seguinte resposta dada:

“Porque é uma área que já me fascinava...”

(aluno do curso de Eletrotécnica – 18 anos)

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A escolha profissional deve estar baseada naquilo que gostamos e para o qual

temos vocação profissional, pois trabalhar naquilo em que não nos identificamos pode

gerar futuros profissionais desqualificados e frustrados.

e) Mercado de trabalho - Esta categoria incluiu 43,3% das respostas dadas

pelos alunos. Percebemos o quanto as mesmas estão relacionadas à formação técnica que

estão adquirindo com o mercado de trabalho oferecido. Verificamos o anseio em se

formar técnico e ficar empregado na área de formação.

Desta forma, esta categoria uniu respostas como: mercado de trabalho amplo,

independência financeira, carência de profissionais na área. Como podemos perceber:

“... por conta do mercado de trabalho ser amplo e diversificado”

(aluno do curso técnico em segurança – 17 anos)

“Devido ao grande crescimento dessa área e o alto nível de empresas

interessadas em pessoas capacitadas“

(aluno do curso técnico em Refrigeração – 18 anos)

g) Aperfeiçoamento profissional - Incluíram-se nesta categoria as respostas

que remetem para a qualificação profissional; a necessidade de melhorar o curriculum;

para uma maior afinidade com a área que já atua. Assim, podemos perceber na pesquisa

realizada que dos 30 alunos participantes da amostragem, 13,33% destacou que um dos

motivos pelo qual o levou a escolher o curso foi a necessidade de capacitação profissional,

como podemos perceber nas seguintes respostas:

“... pela oportunidade de melhorar o curriculum.”

(aluno do curso de Automação industrial – 17 anos)

“... por possuir maior afinidade com a área, já havia trabalhado como

mecânico, porém precisava de um maior conhecimento técnico acerca da área, e no menor

espaço de tempo possível.”

(aluno do curso de Mecânica Industrial – 18 anos)

Observamos que a identificação com a área liderou a escolha pela realização

dos cursos na área da indústria, com 60% do total de respostas. Com 43,3%, os alunos

destacaram o mercado de trabalho e 33,3 % foi o incentivo recebido.

Expectativas iniciais com relação a um curso técnico

Após iniciar o curso algumas expectativas são supridas, entretanto outras

ficam em aberto e a decepção se revela em alguns casos. Desta forma, a segunda

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EdUECE - Livro 300276

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indagação proposta aos alunos dos cursos técnicos foi: As suas expectativas iniciais com

relação ao curso estão sendo atendidas?

E para a maioria dos jovens participantes desta pesquisa, 36,7%, havia a

expectativa de obter conhecimentos, foram incluídas neste ponto, as respostas: melhorou

seus conhecimentos; compreensão; habilidade; e experiências práticas.

Para analisar melhor as respostas a esta indagação, dividimos em duas

categorias: não atendidas e atendidas.

a) Expectativas não atendidas - Percebemos o baixo índice de

descontentamento destacado pelos alunos quanto aos cursos do PRONATEC ministrados

pela instituição de ensino pesquisada, representando apenas 6,6% dos alunos pesquisados

os quais destacaram que:

“Não, pois é uma profissão que ainda tem que desenvolver muito no mercado

de trabalho”.

(aluno do curso técnico em segurança – 18 anos)

“Ainda não, porque está muito difícil de achar emprego de técnico sem ter

muita experiência.”

(aluno do curso técnico em Mecânica – 19 anos)

b) Expectativas atendidas – 93,3% dos alunos que responderam que sim, suas

expectativas estavam sendo ou tinham sido alcançadas.

“Minhas expectativas eram entrar no curso e obter conhecimento, e sim, eu

obtive uma bagagem enorme de técnicas, aplicáveis até mesmo ao meu próprio

cotidiano.”

(aluno do curso técnico em Mecânica Industrial – 18 anos)

A metodologia, também, se destacou perfazendo um total de 33,3% das

respostas. E englobamos em metodologia as seguintes repostas: maneira como as

disciplinas oferecidas eram ministradas; foi proporcionada uma boa aprendizagem; e

professores capacitados.

“Sim, pois todas as matérias estão sendo bem aplicadas e explicadas”

(aluno do curso técnico em Refrigeração – 18 anos)

As repostas que incluíam o material didático, equipamentos, laboratórios,

estrutura oferecida, reunimos em recursos didáticos, perfizeram um total de 30% das

respostas dadas. Além do destaque da boa qualidade dos conteúdos, os alunos também

responderam que a ligação destes com e realidade vivenciada constitui-se ponto positivo

para o curso. É o que podemos constatar abaixo:

Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade

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“Sim. O curso vem oferecendo todas as cadeiras e recursos para uma boa

formação.”

(aluno do curso técnico em Refrigeração – 18 anos)

Em seguida, destacam-se como expectativas alcançadas, o desejo em

aprofundar na área, 23,3%. Desta forma destacam:

“Sim me surpreendeu e só me fez aumentar o meu interesse pelo curso e

dedicar-me mais ainda em aprender e absorver todos os conteúdos apresentados”

(aluno do curso técnico em segurança – 17 anos)

Em um percentual menor estão os que responderam: o mercado continua a

procura destes profissionais; demonstra o que tinha pensado antes (difícil, trabalhoso,

etc); Faltou um pouco de acompanhamento, estágio ou bolsa. Cada item destes

correspondeu a 6,7% do total de respostas dadas.

Percebemos com relação às expectativas iniciais dos alunos quanto ao seu

curso, que a maioria, 28 alunos, mostrou-se satisfeito tendo como principais causas a

obtenção de conhecimentos, metodologia e os recursos didáticos. No entanto, apenas dois

alunos responderam que as suas expectativas iniciais não havia sido alcançadas.

Dificuldades encontradas para fazer o curso

Nesta categoria foi perguntado se ele (aluno(a) encontrou ou encontra

alguma(s) dificuldade(s) para fazer este curso atualmente, se mudaria algo. A grande

maioria, 54,3% dos alunos pesquisados afirmaram que não houve dificuldades, onde as

respostas variavam da seguinte maneira: bastante tranquilo, sem dificuldade; apenas

aplicaria mais aula práticas; Mas mudaria alguns professores.

Um pouco menos da metade, 46,7%, afirmaram enfrentam e/ou enfrentaram

alguma dificuldade durante o transcorrer de seus cursos. Para estas respostas, dividimos

em quatro categorias.

a) Dificuldade de aprendizagem - Dos pesquisados que responderam de forma

afirmativa, 50% queixaram-se que possuem dificuldade de aprendizagem, e outros mais

especificamente nas disciplinas que envolviam cálculos/ raciocínio lógico. Como:

“Tive algumas em relação a matemática e programação, mas já estão

superadas.”

(aluno do curso de Automação industrial – 21 anos)

Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade

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“... a falta de conhecimento de certas coisas, que deveriam ter sido aprendidas

no ensino médio, dificultam muito, muitas vezes os professores tinham que dar aulas de

física básica, antes de mostrar o assunto da aula.”

(aluno do técnico Mecânica Industrial – 18 anos)

b) Disponibilidade de tempo para estudar – 28,6% dos alunos que afirmaram

ter alguma dificuldade em conseguir tempo para estudar ou em relação ao tempo de

duração dos cursos. Lembrando que a seleção destes alunos foi realizada entre alunos que

estavam concluindo o ensino médio. Como:

“Sim. Pois é bastante difícil, mas quando você se dedica ao máximo nada é

difícil para nós. Mudaria apenas o tempo pois é bastante rápido que não dá tempo de ver

tudo”.

(aluno do curso técnico em eletrotécnica – 18 anos)

c) Transporte público – Nesta categoria englobamos as seguintes respostas:

transporte público muito lento; distância do trabalho para a Instituição de ensino; faltou

ajuda nas passagens para o estágio voluntário. Dos alunos que mostraram ter alguma

dificuldade. O transporte público correspondeu a 21,4%.

Percebemos, neste estudo, que é relevante a preocupação dos alunos quanto

a aprendizagem, pois isto repercutirá diretamente no ingresso ao mercado de trabalho que

se encontra cada vez mais exigente e seletivo.

A vida dos alunos após o ingresso em curso técnico

Para esta categoria foi perguntado se aluno observou mudanças em sua vida

após o ingresso no curso. E apenas um aluno afirmou que não no universo de 30 alunos,

mas desta maneira:

“Ainda não, mas tenho certeza que mais na frente pode mudar muito.”

(aluno do curso técnico em eletrotécnica – 18 anos)

Os demais alunos (96,7%) disseram que houve mudanças em sua vida, e

destes 62,1% afirmaram que aumentaram os seus conhecimentos e habilidades. Como a

afirmação a seguir:

“Sim, primeiramente bastante conhecimento em eletricidade e aí pude ajudar

a fazer uma instalação nova em minha casa, e entrar no mercado de trabalho como técnica,

não tem quem tire isso de nós.”

(aluna do curso técnico em eletrotécnica – 18 anos)

Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade

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Um ponto importante que merece destaque, são respostas que envolvia a

maturidade, mudança de visão da vida e crescimento pessoal, representando 27,6%.

“Sim, pois me tornei mais maduro e hoje sei o que realmente eu quero para a

minha vida.”

(aluno do curso técnico em eletrotécnica – 18 anos)

“Sim, o modo de como ver as coisas, ver grandes oportunidades, o

reconhecimento da família.”

(aluna do curso técnico em Automação Industrial – 18 anos)

Logo em seguida, 20,7% das respostas que houve mudança de vida, estão

relacionadas à visão do futuro.

“Sim, entendo que este curso abriu de uma certa forma portas para um futuro

bem sucedido.”

(aluno do curso técnico em Automação Industrial – 17 anos)

As repostas que envolviam responsabilidade corresponderam a 17,2%,

enquanto as respostas que envolvia a mudança do ponto de vista foram 13,8%.

Perspectivas após concluírem um curso técnico.

Ainda fizemos o seguinte questionamento: Quais as suas perspectivas (como

futuro profissional técnico) após concluir este curso? As respostas a esta pergunta foram

também bastante diversificadas e pudemos, então, agrupá-las em quatro categorias,

representadas abaixo e comentadas a seguir.

a) Trabalhar na área – Nesta linha de resposta concentrou-se o maior número

de perspectivas respondidas pelos alunos, com 83,3% do total. A mesma uniu respostas

como a intenção de ingressar no mercado de trabalho, melhores oportunidades de

emprego, maiores salários, melhor preparam para conseguir um emprego, dentre outros.

Como é possível perceber nas seguintes respostas dadas:

”Após o curso pretendo primeiramente estagiar na área de segurança do

trabalho para pegar a prática do que eu vi na teoria e logo depois começar a trabalhar

efetivamente em alguma empresa”.

(aluna do curso técnico em segurança – 17 anos)

Percebemos que é notória a ligação dos alunos com o curso técnico e a

empregabilidade durante ou após a conclusão deste. Coelho, Delgado (2009) confirmam

Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade

EdUECE - Livro 300280

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e ampliam esta visão, pois para estes autores, a educação profissionalizante estabelece

foco na empregabilidade.

b) Adquirir novos conhecimentos – Nesta categoria incluímos as respostas

dadas pelos alunos que se remetem a necessidade de se ampliar o leque de informações

na área, aprofundar os estudos, fazer um curso superior. Este apareceu em 70% do total

das respostas dadas. Exemplo:

“Pretendo ser um ótimo profissional como os meus professores e realizar

todos os meus objetivos e aprofundar mais nos estudos”.

(aluna do curso técnico em Automação Industrial – 21 anos)

Ressaltamos, também, a vontade destes alunos em fazer uma faculdade, para

se especializar cada vez mais em seus locais de trabalho. É o que podemos perceber pelos

discursos abaixo:

“Bom, primeiramente ganhar bem, melhorar de vida. Depois nunca parar de

estudar, sempre procurar mais conhecimento. Quando terminado o curso técnico quero

continuar meus estudos na faculdade”.

(aluno do curso técnico em Automação Industrial – 18 anos)

O aluno do curso técnico tem oportunidades de adquirir e ampliar seus

conhecimentos teóricos e práticos. Mas para isso, o aluno deve participar de modo ativo

no processo de ensino-aprendizagem.

c) Crescimento profissional – Esta categoria correspondeu a 16,7% das

respostas dadas. Os alunos ao refletirem sobre seu ingresso no curso destacam a

possibilidade de concluí-lo e se tornarem profissionais capacitados a exercerem suas

funções com presteza e habilidade e, crescerem profissionalmente. Vejamos a seguinte

resposta:

”Pretendo crescer como um profissional, creio que está bem estruturado, com

uma base técnica”.

(aluno do curso técnico em Refrigeração – 18 anos)

Para CRUZ (1999), a formação técnica profissionalizante visa, através da

capacitação profissional, absorção de um contingente de profissionais maior e mais

qualificado para o mercado de trabalho.

Os cursos de educação profissionalizante devem mais que ministrar

treinamento para o exercício de funções especializadas. Assim, necessita-se de um

trabalho educacional em longo prazo (COELHO, DELGADO, 2009).

Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade

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Ainda quanto a esta inserção no mercado de trabalhos dois alunos tinham a

expectativa de lecionar ao terminarem o curso. De alguma maneira os professores

estimularam esses alunos a seguir a área de ensino. Como podemos perceber claramente

na resposta emblemática:

“Pretendo trabalhar na indústria exercendo o que aprendi no decorrer do curso

e ensinar em alguma instituição de nível técnico”.

(aluno do curso técnico em Automação Industrial – 19 anos)

d) Seguir outra área – Houve uma resposta isolada, que não se incluíram em

nenhuma das categorias acima comentadas como assertivas relacionadas às experiências

prévias no campo de trabalho ou não ter nenhuma perspectiva. Exemplo:

“Apesar de gostar da área da indústria, pretendo seguir o ramo da advocacia”.

(aluno do curso técnico em Automação Industrial – 17 anos)

Observamos, assim, que o mercado de trabalho foi à perspectiva mais

destacada pelos alunos de mecatrônica, perfazendo um total de 83,3%. Em seguida, e a

aquisição de novos conhecimentos com 70%. O crescimento profissional que totalizou

16,7% das respostas, e 3,3% pretende seguir outra área.

Considerações finais

Verificamos que a categoria aquisição de novos conhecimentos seguidos de

mercado de trabalho foram os de maior percentual das respostas dadas. Em seguida,

destacaram a qualidade do curso e a identificação com área. A maioria dos pesquisados

responderam positivamente quanto a satisfação em fazer o curso. Atribuíram a causa aos

conteúdos lecionados, vistos principalmente pela conexão destes com a realidade

vivenciada em seus campos de trabalho, mas se pleiteia maior carga-horária para aulas

práticas. Ainda de forma positiva, foi destacada pelos alunos a boa qualidade da equipe

docente. E as perspectivas que mais se destacaram foram quanto ao ingresso no mercado

de trabalho e a garantia de emprego.

Diante do exposto, concluímos que os alunos do curso técnico estão atentos

ao mercado de trabalho competitivo e forte que os esperam, assim demonstram

preocupação quanto ao ingresso neste ramo de emprego, mas em especial demonstram

confiança na aprendizagem adquirida nos cursos profissionalizantes.

Referências Bibliográficas

Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade

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EdUECE - Livro 300283

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Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade

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