a educação do futuro

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EVANDRO PRESTES GUERREIRO A EDUCAÇÃO DO FUTURO Os direitos autoriais foram cedidos pelo autor à eSocial Brasil – Escola Brasileira de Coaching. Qualquer reprodução deste material deve ser expressamente autorizada pela eSocial Brasill (www.esocialbrasil.com). 2014

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A sociedade complexa incorporou a mudança em grande proporção nos últimos 50 anos e a informação globalizada é cada vez mais integrada ao sistema de comunicação e telecomunicações. Esta característica está no grupo familiar, no circulo de amizade, no interior da sala de aula, nas empresas, nas ruas e em qualquer lugar físico, conectado pelas novas tecnologias de informação e comunicações. O aluno possui acesso às informações pelos diversos recursos tecnológicos e muitas vezes antes que o próprio professor.

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EVANDRO PRESTES GUERREIRO

A EDUCAÇÃO

DO FUTURO Os direitos autoriais foram cedidos pelo autor à eSocial Brasil – Escola Brasileira de Coaching. Qualquer reprodução deste

material deve ser expressamente autorizada pela eSocial Brasill (www.esocialbrasil.com).

2014

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GUERREIRO, Evandro Prestes. A Educação do Futuro. São Paulo: eSOCIALBRASIL, 2014. 32 f.

Artigo Científico (Escola Brasileira de Coaching) – eSocial Brasil. 1. Educação. 2. Aprendizagem. 3. Rede. 4. Conhecimento. 5. Informação.

ISBN 978-85-68594-00-1

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A EDUCAÇÃO DO FUTURO1

A EDUCAÇÃO DO FUTURO É EM REDE, EM TEMPO REAL, SISTÊMICA, INTERCULTURAL, TRANSDISCIPLINAR E PROBLEMATIZADORA.

Por: Evandro Prestes Guerreiro2 RESUMO A sociedade complexa incorporou a mudança em grande proporção nos últimos 50 anos e a informação globalizada é cada vez mais integrada ao sistema de comunicação e telecomunicações. Esta característica está no grupo familiar, no circulo de amizade, no interior da sala de aula, nas empresas, nas ruas e em qualquer lugar físico, conectado pelas novas tecnologias de informação e comunicações. O aluno possui acesso às informações pelos diversos recursos tecnológicos e muitas vezes antes que o próprio professor. O poder da informação centralizado no professor dentro do modelo clássico de construção do conhecimento, na escola moderna assumiu a característica do conhecimento compartilhado e socialmente construído, exigindo novas metodologias de aprendizagem e didática de ensino. Neste contexto, a inteligência se desenvolve rapidamente em articulações cognitivas de alta complexidade no olhar do adulto, mas, lúdico e excitante no viver do adolescente. Os brinquedos e jogos eletrônicos estimulam mais rapidamente a mente da criança pertencente à geração Y, a partir de múltiplas funções associativas, combinando sons, imagens, cores, formato, dimensões, movimentos e características próprias das mídias e redes sociais. A educação do futuro é em rede, em tempo real, sistêmica, intercultural, transdisciplinar e problematizadora. Palavras-Chaves: Educação, aprendizagem, rede, conhecimento, informação. 1 Artigo escrito para Jornadas Patagónicas de Educación - Los desafíos de la educación en Debate, Argentina, Patagônia, intitulado A” agenda educativa do futuro”, setembro, 2011. Revisado pelo autor, para publicação pela eSocial Brasil – Escola Brasileira de Coaching, 2014. 2 Doutor e Mestre em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Cientista Social, Assistente Social, Psicopedagogo, Especialista em EAD, Humanistic Master Coach (IHCOS/ MORE, 2014). Pós-doutorando em Smart City pela EPUSP – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – USP (Brasil). Pós-doutorando em Redes Sociais pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (Portugal). Coordenador do curso de Administração e líder do Grupo de Pesquisa Cidade Digital e Sociedade do Conhecimento da Universidade Paulista - UNIP (São Paulo-Brasil). Avaliador de Cursos Superiores e Instituições de Ensino Superior pelo Ministério da Educação - MEC (Brasil). Fundador da eSocial Brasil – Escola Brasileira de Coaching (www.esocialbrasil.com). Autor dos livros Cidade Digital – Infoinclusão Social e Tecnologia em Rede (São Paulo-Senac, 2006) e Gestão Pública e Cidade Digital no Brasil: Sociedade de Informações e Cultura Local (Portugal, INA, 2004). Empreendedorismo e Negócio Social – Intervisão de Aprendizagem Organizacional (Rio de Janeiro, Multifoco, Prelo, 2015).

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1. A Jornada Sócio-histórica da Educação O desafio de pensar sobre uma agenda educativa para o futuro e tornar público tais pensamentos não é somente uma tarefa complexa é, também, estimulante e cheia de vida para qualquer educador que acredita na possibilidade dos seres humanos superarem seus próprios limites, não somente como trajetória evolutiva, mas, como capacidade cultural e social para mudar seu destino sempre que for necessário para torná-lo cada vez melhor. No que se refere à existência de cada um, trata-se de uma busca pessoal, entretanto, quanto à vida em sociedade, torna-se um compromisso, uma política pública, um projeto permanente de desenvolvimento e inovação. Pensando assim, vamos tratar do tema organizando em quatro princípios fundamentais que são indispensáveis em qualquer agenda de educação do futuro: modelo de educação, metodologia de aprendizagem, capacitação de educadores e recursos tecnológicos da Sociedade do Conhecimento.

1.1. Em busca de um Modelo de Educação

Na Antiguidade a humanidade vivia em comunidades, caçava, pescava, arava a terra e a forma de organização era igualitária, de cooperação e ajuda mútua pela sobrevivência. Obviamente não existia escola como conhecemos na atualidade, mas existia uma relação de transmissão de conhecimento pela vivencia de cada um e a educação se confundia com a própria vida, a agenda educativa estava pautada no princípio de que tudo era ensinado a todos. Com o surgimento da propriedade privada, a divisão social do trabalho e a criação do Estado, as relações sociais se modificam radicalmente. Desde os antigos gregos até a modernidade a jornada humana da educação tem sido marcada por desafios, dúvidas e muita reflexão. Sócrates, por exemplo, apesar de não deixar nenhum escrito, pois o que se sabe a seu respeito é decorrente de depoimentos de discípulos ou adversários, como Platão, Xenofonte ou Aristófanes3, entendia que a educação começava com a problematização.

3 Os Pensadores, 1987: XXIII

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A busca das respostas para perguntas sobre a vida estava no interior de cada individuo, na capacidade do discípulo se perceber como ser que consegue superar os próprios limites e o estado de ignorância. Conhece-te a ti mesmo, dizia o filósofo grego diante de questões pessoais de quem o procurava, pois, somente assim, conseguirá o individuo compreender a complexidade da vida e da dimensão humana. Sócrates partia da pergunta para que o interlocutor por meio do diálogo chegasse à essência de suas dúvidas e com isso, fosse capaz de estruturar seu pensamento, encontrar respostas e construir novos conceitos. A educação no contexto socrático ocorria pelo diálogo. Entretanto, vale lembrar que na democracia ateniense, a sociedade era divida entre nobres, homens livres e os escravos que realizavam trabalhos como mercadores, carpinteiros, professores e marceneiros. Nesta organização social a educação era destinada aos filhos da nobreza, uma vez que era privilegio da minoria da sociedade. A agenda da educação da época estava ancorada em três vertentes:

1. O conhecimento era de natureza universal e possuía valor prático; 2. O conhecimento era obtido pela conservação, reflexão e experiência; 3. Educar era desenvolver a capacidade de pensar.

Partindo destas vertentes, a educação para Sócrates (470 a.C – 399 a. C) não se resumia a transmitir conhecimento, mas, essencialmente, a possibilitar que o

aluno fosse preparado para resolver problemas, a partir de sua própria vivência. Não seria nada incomum entender que Sócrates sinalizava para a jornada livre da educação em que o indivíduo se tornava o único responsável pela sua trajetória na vida, mesmo considerando que a própria organização da sociedade escravagista já definia o destino de cada um, considerando que de um lado estavam os filhos da nobreza e de outro, os filhos da escravidão.

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O acesso ao conhecimento e ao deslumbre da vida era uma condição considerada hereditária na Grécia Antiga. A nobreza entregava seus filhos para serem discípulos dos mestres do saber, como eram conhecidos os filósofos, que ensinavam os jovens a se tornarem sábios guerreiros, filósofos, sacerdotes ou políticos que iriam ocupar as posições de comando na sociedade escravista. A agenda da educação no escravagismo era pautada pelos seguintes princípios:

a. Exclusividade da nobreza; b. Hereditariedade do conhecimento; c. Ensino sobre as questões da vida prática; d. Aprendizagem pela problematização; e. Reflexão pelo diálogo entre mestre e discípulo.

Estes princípios estavam ancorados pela educação da moral e da ética nos jovens, com o propósito de formar o homem de bem, a partir dos seus hábitos, costumes e valores. “Daí o papel primordial que é atribuído à educação: empreendimento ético-formativo, processo de auto-constituição do sujeito como pessoa ética”4. Para algumas sociedades a orientação educacional era divina, para outras, não passava de responsabilidade compartilhada entre a família e o Estado. No cristianismo o objetivo da educação era preparar os indivíduos para controlarem suas paixões e merecerem a salvação na vida espiritual, uma vez que as leis da sociedade eram submetidas às leis do espírito, conforme a teoria criacionista. Santo Agostinho (354 d.C – 430 d.C), inspirado em Platão, preocupou-se com os problemas práticos e morais relativos ao mal, a liberdade, a graça e a predestinação.

Fonte: Disponível em - www.willtirando.com.br/?post=1328 4 Severino, Antônio Joaquim. A busca do sentido da formação humana: tarefa da Filosofia da Educação. 2006. Disponível em www.scielo.br

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Esquema 1: A educação como orientação de Deus5

A vida das pessoas era traçada anteriormente por Deus, sendo assim, as escolas privilegiavam a formação dos membros do clero, estimulavam a obediência aos mestres, a resignação e a humildade diante do desconhecido. Educar a virtude humana era o ato sublime para se chegar à felicidade, entretanto, isto somente era possível pela dedicação, disciplina e respeito aos princípios do mestre.

Fonte: Disponível em - www.willtirando.com.br/?b=mestre

Este pensamento ficou impregnado no modelo de educação até os dias atuais e em muitas situações a escola moderna busca na disciplina dos alunos, a orientação necessária para educar6. Por outro lado, Santo Tomas de Aquino, partindo da filosofia Aristotélica, outro grande influenciador da educação moral e ética, entendia que o conhecimento se formava pela complementaridade entre o estado sensível e intelectual humano. A realidade que observamos e que está fora de cada um de nós somente é conceituada e definida pelo nosso intelecto, após a sentirmos como ela é de fato.

5 Fonte: Guerreiro, 2011. 6 Nota do autor: A escola brasileira, por exemplo, vive na atualidade o dilema entre a disciplina e controle do comportamento dos educandos e a liberdade do individuo ser ele próprio.

EDUCAÇÃO

HUMILDADE/ RESIGNAÇÃO

MORAL DISCIPLINAR

DISCIPULO/ ALUNO

ÉTICA ESPIRITUAL

MESTRE/ PROFESSOR

DEUS

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A questão da ética era o centro do debate e ocupava a agenda educacional desde a Grécia Antiga, até a Idade Média. Conforme se observa na análise de Severino (2006), “desde Sócrates, a ética é a força motriz de todo investimento pedagógico. Trata-se de levar o aprendiz a incorporar uma típica atitude espiritual, dar-lhe consistência e permanência de modo que possa tornar-se fonte reguladora de seu agir, que passará a qualificar-se como agir moralmente bem”7.

Fonte: Disponível em - www.willtirando.com.br/?b=moral

A influência do pensamento socrático e aristotélico na formação da agenda educativa na Idade Média atingiu seu apogeu no Mercantilismo, com a divisão de classes sociais que se consolidou no emergente Capitalismo; Mas, é com o iluminismo Francês, representado neste tema por Jean Jacques Rousseau (1712-1778), que as raízes da educação moderna foram plantadas sob a responsabilidade do Estado. Para Rousseau os homens são naturalmente bons, livres e iguais entre si; Porém, com a formação da sociedade e a influência negativa que uma pessoa podia exercer sobre a outra, surge à corrupção dos valores naturais do homem, sendo necessária, segundo este filósofo que influenciou fortemente os ideais da Revolução Francesa8,

7 Severino, 2006. 8 Nota do autor: A revolução francesa resultou de um período histórico-social em que o povo Francês em 1789, se sentindo injustiçado pelas constantes situações de exclusão social, cultural, econômica, política e, essencialmente, ético-moral da corte e autoridade do estado monárquico do rei Luis XVI, foi às ruas com o objetivo de tomar o poder, a partir do lema "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" e tendo como primeiro alvo a tomada da Bastilha, local transformado em prisão para quem discordava ou representava ameaça ao poder absolutista dos reis.

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a constituição de uma associação que protegesse e defendesse coletivamente as pessoas e seus bens, o que em seu entender poderia ocorrer pelo contrato social9:

“Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja a pessoa e os bens de cada associado com toda a força comum, e pela qual cada um, unindo-se a todos, só obedece, contudo a si mesmo, permanecendo assim tão livre quanto antes. Esse, o problema fundamental cuja solução o contrato social oferece (...). Essa pessoa pública, que se forma, desse modo, pela união de todas as outras, tomava antigamente o nome de cidade e, hoje, o de república ou de corpo político, o qual é chamado por seus membros de Estado quando passivo, soberano quando ativo, e potência quando comparado a seus semelhantes. Quanto aos associados, recebem eles, coletivamente, o nome de povo e se chamam, em particular, cidadãos, enquanto participes da autoridade soberana, e súditos enquanto submetidos às leis do Estado”. (ROUSSEAU, 1987: 32-34).

Observa-se que Rousseau é categórico quando analisa a relação indivíduo-sociedade mediada pelo Estado, enquanto aparato legitimado oficialmente pela participação direta do próprio individuo com o objetivo de ordenar, defender, controlar e promover os direitos da cidadania. Fato este que ocorreria pela agenda educativa pautada pelo contrato social, logo, as pessoas deveriam ser educadas para obedecerem ao que regia o contrato social e seu estatuto.

Fonte: Disponível em - www.willtirando.com.br/?b=moral

9 “O objeto primordial do contrato social está em assentar as bases sobre as quais legitimamente se possa efetuar a passagem da liberdade natural à liberdade convencional”. (Rousseau, 1987: 22).

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Esquema 2: A educação pelo Contrato Social

A educação que na Grécia Antiga era informal e na Era Medieval, privilégio da nobreza e restrita aos membros da Igreja, com Rousseau, torna-se pública e tutelada pelo Estado a quem cabe preparar os jovens desde criança para se tornarem cidadãos capazes de produzir e fortalecer o próprio estado capitalista que surge. Surge a instituição escola. Vale ressaltar que a palavra “escola” se origina no grego scholé, com o significado de: “lugar do ócio”.

Esquema 3: Linha do tempo – Surgimento da Escola.

4.000 a.C 378 a.C 343 a.C 4 a. C a 859 d.C Séc. 12 d.C

Os sumérios desenvolveram a

escrita cuneiforme, considerada uma das

primeiras formas de escrita. O saber

escrever era ensinado em casa, de pai para

filho.

O filósofo grego Platão criou uma

espécie de escola onde se estudavam

disciplinas como filosofia e matemática

por meio de questionamentos. O

protótipo escolar ficava nos jardins de

Academos, em Atenas – daí vem o termo “academia”.

Em famílias mais ricas, era comum pagar-se

um preceptor, um mestre com mais

conhecimentos que guiasse as crianças nos estudos. Em 343 a.C. Aristóteles, por exemplo, tornou-se

preceptor de Alexandre, o Grande,

rei da Macedônia.

Surgem as primeiras escolas. Eram locais onde

mestres ensinavam gramática, excelência física, música, poesia. Não existiam salas de

aula, mas esse modelo dura séculos, até as

escolas modernas. Surge a Universidade de

Karueein, no Marrocos. É considerada a primeira universidade do mundo no sentido moderno do

termo.

Na Europa surgem as primeiras

escolas como as atuais, com crianças nas carteiras e

professores em salas de aula. Eram obras de instituições de

caridade católicas que

ensinavam a ler, escrever, contar e aprender as lições

do catecismo.

Fonte: Adaptado de Fujita, Luiz. Qual foi a primeira escola? (2008).

PROPRIEDADE

LIBERDADE

CIDADANIA/ IGUALDADE

EDUCAÇÃO

PÚBLICA

ALUNO

PROFESSOR

CONTRATO

SOCIAL

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Com o aparecimento no Século 12, na Europa, das primeiras escolas formais conforme se conhece na atualidade, a educação conseguiu dar um salto de qualidade e se constituiu pela valorização da razão, com grande influencia da própria emergência do pensamento científico que se contrapõe ao pensamento religioso que tão fortemente imperou durante toda a Idade Média. A agenda educativa deste tempo foi pautada pela busca do raciocínio lógico-matemático e cientifico.

1.2. Por uma metodologia de aprendizagem na Educação A questão do método na produção do conhecimento e na formulação da lógica racional possui como principal referencia René Descartes (1596-1650) responsável por sistematizar as quatro regras do método cientifico começando com a dúvida, seguida da observação mais atenta sobre a realidade complexa que deveria ser simplificada para ser melhor entendida. Entretanto, a simplificação deveria ser organizada, planificada em partes menores de modo a deixar mais fácil a compreensão da realidade complexa. Finalmente, a quarta regra do método indica que todo processo deve ser testado para ser confirmada a sua veracidade. As regras do método cartesiano sugerem que o processo de produção do conhecimento seja avaliado em seu todo, para que assim, possa ser replicado em qualquer contexto educativo.

Fonte: Disponível em - www.willtirando.com.br/?b=rene%20descartes

Com Descartes, o método se tornou uma condição para se produzir o conhecimento, que se torna cientifico para se diferenciar do conhecimento do senso comum. Assim como na Idade Antiga a educação era privilegio da nobreza, no capitalismo, a ciência se tornou o refugio da educação burguesa. O senso

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comum enquanto conhecimento vulgar e pertencente à classe trabalhadora foi separado da ciência, enquanto conhecimento erudito era acessível somente para a elite capitalista. A agenda da educação é vinculada ao processo de aprendizagem e, com isso, ninguém aprenderia sem método, o que para o conhecimento científico, por exemplo, segundo Charles Sanders Peirce (1839-1914), citado pro Santaella (2001), se estabelece em três dimensões como classes universais de inferências ou raciocínios: Abdução, indução e dedução. A aprendizagem como abordamos em outro estudo é espontânea e “parte do principio de que o ser humano deve ter liberdade para construir seu próprio destino, rejeitando, dessa forma, a hipótese determinista de um destino já traçado pelos meandros dogmáticos de uma determinada doutrina”10.

Fonte: Disponível em - www.posgrado.net.br/quem-somos/andragogia.html

Entrando na Revolução Industrial, a educação foi reduzida ao pragmatismo da época e necessidade de aprender novos ofícios. O trabalhador do campo veio para a cidade em busca de novas oportunidades de vida. As fábricas precisavam de mão-de-obra qualificada para operar as máquinas e o papel da educação era desenvolver a capacidade de raciocínio e habilidades lógicas do trabalhador. A educação ficou reduzida ao tecnicismo da preparação de competências para exercerem funções práticas no processo de automação da produção em escala. A educação precisava ser estendida para a massa trabalhadora e se tornou uma questão de sobrevivência do próprio trabalho transformado em emprego. 10 GUERREIRO, 2006: 187.

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O pragmatismo da Revolução Industrial colocou na agenda da educação o debate sobre o método de aprender. Em outro estudo que realizamos, apontamos que “Aprender significa evoluir na escala de conhecimento racional do mundo e nas atitudes e posturas individuais diante de fatos novos que possam desestabilizar a estrutura de personalidade de qualquer indivíduo”11.

Fonte: Trabalho infantil na Georgia, em 1909. (Foto: Lewis Hine /domínio público)

Continuando na mesma abordagem, identificamos no referido estudo que o psicólogo russo Lev Semenovich Vigotsky (1998) analisou a aprendizagem como resultante do desenvolvimento da fala e da ação humana e, se estas forem organizadas corretamente desde criança, conduzirão ao melhor desenvolvimento mental, ativando múltiplos estágios no processo de desenvolvimento da inteligência, o que é possível com a internalização e, a partir das interações sociais e da linguagem. O método de aprender está relacionado com próprio desenvolvimento das capacidades humanas no âmbito intelectual e vivencial, a partir das relações grupais estabelecidas pelo individuo na descoberta de sua própria potencialidade.

11 GUERREIRO, 2010: 4.

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Para aprender, é preciso que o indivíduo se sinta desafiado em sua capacidade lógica e esteja motivado para buscar soluções inovadoras, para antigos e novos problemas, o que significa atingir um estado de prazer em sua busca continua e permanente pelo saber. David Kolb (1993), entende que todo conhecimento é resultado da relação entre teoria e experiência. Partindo desta compreensão Kolb constrói o modelo denominado de aprendizagem experiencial12, envolvendo a experiência concreta, observação reflexiva, conceituação abstrata e experimentação ativa.

Fonte: Modelo de aprendizagem experencial (David Kolb. Experiential Learning: Experience as the Source of Learning and Development, 1984)

O processo de aprendizagem é mais complexo do que parece, e muitas teorias foram criadas com o objetivo de compreender e explicar como as pessoas aprendem. Para a psicologia, por exemplo, existem dois grandes grupos de teorias de aprendizagem: o primeiro grupo concentra as teorias do condicionamento, em que a aprendizagem é definida pelas consequências comportamentais motivadas pelas condições ambientais facilitadoras ou dificultadoras do ato de aprender, a partir da estrutura estímulo-resposta. 12 Guerreiro (2010: 49).

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No segundo grupo, as teorias cognitivas estabelecem a aprendizagem como decorrente da relação entre o indivíduo e o mundo a sua volta, com consequências no contexto da estrutura interna de conhecimento, implicando dizer que o comportamento é mantido pelo processo cerebral central.

Fonte: Disponível em - http://publicdomainreview.org/collections/france-in-the-year-2000-1899-1910/

Nesta abordagem, como analisa Bock (1993, p. 102-3), o que está em questão é a diferença entre aprendizagem mecânica e aprendizagem significativa. A aprendizagem mecânica é entendida como “(...) novas informações com pouca ou nenhuma associação com conceitos já existentes na estrutura cognitiva”, enquanto a aprendizagem significativa, (...) é processada quando um novo conteúdo (ideias ou informações) relaciona-se a conceitos relevantes, claros e disponíveis na estrutura cognitiva da pessoa sendo assimilada pela mesma. Considerando esse fundamento da psicologia, pode-se dizer que a pessoa aprende a partir do conhecimento já existente, o que é acumulado desde criança e se prolonga ao longo da vida do indivíduo, como se observa na abordagem teórica do biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980) que revolucionou o modo de educar as crianças ao mostrar que elas pensam diferente dos

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adultos e constroem o próprio aprendizado. Para este estudioso o desenvolvimento humano é demarcado por períodos significativos que formam a estrutura de personalidade e definem as matrizes de compreensão e apreensão do mundo.

Fonte: Disponível em - http://psicologiad-06.webnode.pt/news/desenvolvimento-cognitivo-/

Para entender a teoria piagetiana basta atentar para o primeiro período, entre zero e dois anos de idade, quando a criança vive o estágio sensório-motor, período pelo qual acontecem as conquistas do universo exterior da criança, descobrindo o mundo a partir da percepção e dos movimentos. Esse período exige atenção redobrada dos pais, uma vez que a criança depende plenamente de orientação pedagógica que minimize o risco de exposição de sua curiosidade.

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No segundo período, entre dois e sete anos de idade, denominado pré-operatório, a criança desenvolve a linguagem que afetará decisivamente nas dimensões psicológicas no âmbito intelectual, afetivo e social. A qualidade da interação e da comunicação formará a estrutura de personalidade do adulto, a partir da linguagem. Nesse período, a criança vive intensamente o egocentrismo intelectual e social. Entre os sete até os doze anos de idade, a criança encontra-se no período das operações concretas, em que a construção lógica fica mais evidente e a coordenação do posicionamento individual com opinião própria é desenvolvida com maior impacto, traduzindo a coerência de seus argumentos diante das outras pessoas, o que facilita ou dificulta a cooperação e o trabalho em grupo. Integrado ao período anterior e ocorrendo simultaneamente, entre os onze e os doze anos em diante, a criança estabelece as operações formais, uma vez que o pensamento concreto se transforma em pensamento formal. No período das operações formais, o pré-adolescente desenvolve perceptivamente as ideias e começa a fazer operações abstratas sem necessariamente precisar do mundo concreto.

Fonte: Disponível em - http://ultimaquimera.com.br/wp-content/uploads/2014/09/sicdupla062.jpg

A imaginação e a criatividade ocupam de forma qualitativa o indivíduo e conceitos como liberdade, prisão, paz, guerra, responsabilidades, justiça, valor, aprendizagem são assimilados e compreendidos com maior propriedade. “O adulto é formado nesses períodos do desenvolvimento humano, segundo a teoria piagetiana.

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A qualidade da aprendizagem na pessoa depende, portanto, da qualidade do seu processo de desenvolvimento humano. Quer dizer, o aprender é permanente e precisa de condições objetivas (físico-ambiental e relacionais) que favoreçam a assimilação do novo conhecimento”13. Aprender requer método e este depende do desenvolvimento humano adequado da linguagem e da ação da pessoa em sociedade. Caso contrário, a racionalidade e a capacidade lógica e matemática fica comprometida enquanto metodologia educacional.

Fonte: Disponível em - http://a-educologia.blogspot.com.br/2011_07_01_archive.html

Percebendo que a questão da aprendizagem é complexa o suficiente para interferir na trajetória do desenvolvimento humano nas nações, o Parlamento Europeu e o Conselho da União Europeia, por exemplo, elaboraram um marco regulatório, a partir de diversas decisões sobre experiências com aprendizagem nos países-membros e decidiram, em novembro de 2006, estabelecer o Programa de Aprendizagem ao Longo da Vida (ALV). O programa ALV entende que a aprendizagem deve ocorrer ao longo de toda a vida do indivíduo – no caso, o cidadão europeu –, tendo este o direito de aprender o idioma do Estado-membro no seu ensino formal, considerando a diversidade cultural, a desfronteirização, o livre trânsito entre ocupações e empregabilidade, a barreira de comunicação entre os cidadãos, a integração socioeconômica, política e educacional, uma vez que, na sociedade

13 GUERREIRO, 2010: 19.

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avançada tecnologicamente, o conhecimento e a informação se transformam em matéria-prima para promover o desenvolvimento sustentável, com oportunidades de acesso e inclusão social universal, bem como, a segurança ambiental adequada para as gerações futuras. A aprendizagem ao longo da vida não é algo simples, uma vez que o ser humano além do instinto natural de sobrevivência que lhe faz buscar o grupo como forma de proteção, precisa desenvolver a cultura, valores, atitudes e tomar consciência da mudança de percepção e do olhar sobre a realidade em sua volta. O educador brasileiro, Paulo Freire (1990: 60) sinaliza que mudar a percepção sobre a realidade “implica uma apropriação do contexto; uma inserção nele; um não ficar aderido a ele; um não estar quase sob o tempo, mas no tempo. Implica reconhecer-se homem. Homem que deve atuar, pensar, crescer, transformar e não se adaptar fatalisticamente a um realidade desumanizante”.

Fonte: Disponível em - http://ultimaquimera.com.br Neste caso, a educação será política, pois ensinará o individuo a decidir sobre seu destino, mas também, será social, pois ensinará a pessoa a tornar-se cidadão de direitos. Educar tais valores requer preparo técnico e profissional capaz de mostrar na relação educador-educando o papel instrumental e técnico do processo de construção do conhecimento, não somente o conhecer

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formal, mas, a experiência vivencial de descobrir um novo mundo, ampliar a percepção a ponto de identificar os obstáculos do não saber, as limitações do preconceito, o valor da diversidade e a impulsividade da mudança. Sair da zona de conforto. O educador precisa aprender como tornar a sua atividade de ensinar uma ação continua subversiva. A agenda da educação na Era moderna é movida pela contradição metodológica entre saber-se indignar diante de qualquer forma de intolerância ética e moral, mas, também, lembrar que a matéria prima da aprendizagem humana é a própria indignação. Na década de 80 no Brasil, o Ministério da Educação decidiu que a aprendizagem deveria ser avaliada em sua metodologia “in loco”, como forma de perceber as contradições e divergências entre o projeto pedagógico implantado em uma escola e a prática em sala de aula, exercida pelo educador. Criaram-se indicadores de excelência educacional em três dimensões: pedagógica, administrativa e infraestrutura física. Complementado esta política pública, foi aplicada nos alunos uma avaliação para medir o nível de aprendizagem dos estudantes brasileiros.

Fonte: Disponível em - http://portal.mec.gov.br

Os gestores da educação brasileira entenderam que a criação de um índice de qualidade ajudaria no melhor controle de resultados da educação no país, a partir da checagem sobre o funcionamento da escola, o papel do educador, a competência do gestor e qualidade do beneficiário, no caso o educando. Atualmente, esta prática ocorre no ensino básico e fundamental, no ensino médio e ensino superior.

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1.3. O desafio da capacitação do educador A interação social para o ser humano é muito mais que intuição grupal ou instinto de sobrevivência em sociedade. Trata-se de preparar a pessoa para saber como preparar outras pessoas. O educador necessita tomar consciência de seu papel e autorizar-se no processo de educação. Em nossa pesquisa de doutorado editada em livro propomos que a educação incorpore uma postura de mudança na percepção da realidade, tanto pela parte do educador como do educando, além de inovar institucionalmente, a partir de indicadores-chave como:

1) Pluralismo: educar para a visão plural e antixenofóbica; 2) Democracia crítica: hábito da convivência pacifica, critica e

diferenciada; 3) Dialética histórica: aplicar as contradições, diferenças e dificuldades do

passado para promover o desenvolvimento social, cultural, econômico e tecnológico;

4) Inovação: valor imprescindível ao progresso tecnológico, diversidade cultural e formação política;

5) Regulação: legislação como ação orientadora e educativa das relações sociais e ambientais;

6) Conflito integrado: conflito como instrumento integrador das diferenças; 7) Problematização: principio da construção do conhecimento autônomo

da realidade. 8) Disciplina: fundamento da educação cívica da autoridade e exercício do

papel ser social.

A capacitação do educador precisa mudar. Talvez uma pista sobre qual direção tomar esteja na abordagem de Neil Postman e Charles Weingartner (1969), na obra “Ensino como atividade subversiva14”, na qual apresenta que o ensino e o conhecimento são subversivos quando conseguem substituir adivinhação pela sensibilização e mudar a percepção de conhecimento para transformá-lo em base da experiência.

14 Postman & Weingartner (1969). Teaching as a Subversive Activity.

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Ensinar é saber como sensibilizar o educando para aprender sobre suas próprias limitações, problematizar seu mundo, encontrar soluções criativas diante de desafios da aprendizagem, mas, também, reconhecer a autoridade de comando. O educador encontra-se diante de um novo mundo, uma sociedade cada vez mais complexa e insana para ser entendida por um único recorte de observações e analises de um único ator ou sujeito social. Félix Guattari (1985: 164) aponta que esta complexidade da Era moderna não simplesmente uma questão de querer compreender, mas, saber como “pensar la complejidad, renuciar particularmente al enfoque reductor del cientismo cuando se trata de cuestionar sus prejuicios y sus interesses de corto plazo: tal es la perspectiva de un ingreso en una era que he calificado como posmediática”.

Fonte: Disponível em - http://veja.abril.com.br/infograficos/escola-futuro/index.html

Capacitar o educador para entender e saber como ensinar a complexidade do mundo moderno aos jovens nascidos na Era da Internet, constitui o grande desafio da agenda educativa do futuro. Será que seremos capazes de mudar o modelo mental da geração de educadores que estão na sala de aula?

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Para aprender, a pessoa depende do tempo de maturidade perceptiva e uso de sua própria inteligência e de seu raciocínio lógico-formal. Quer dizer, nem sempre as pessoas aprendem eficazmente como desejavam e isso produz frustrações e obstáculos de aprendizagem. Analisando o processo de aprendizagem, Mumford (2001) apresenta cinco razões para existir esse conflito cognitivo e emocional nas pessoas diante da aprendizagem:

1. O primeiro motivo é o fato das pessoas não reconhecerem a atividade que desenvolvem como oportunidade de aprender algo novo.

2. Mesmo reconhecendo como aprendizagem, as pessoas acabam não

aproveitando plenamente a oportunidade. 3. Qualquer experiência de aprendizagem não relacionada ao trabalho é

mal-projetada ou mal-implementada pelas pessoas. 4. A oportunidade de aprender é oferecida inadequadamente, entrando

em conflito com o modo pelo qual a pessoa gosta de aprender. 5. A oportunidade de aprender é vista como irrelevante para as

necessidades e os benefícios que as pessoas procuram obter, precisando, para tanto, de maior formação.

Fonte: Disponível em - https://www.globalinnovationindex.org/content.aspx?page=GII-Home

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No Índice de Inovação Global – IIG, que aplica 81 indicadores estatísticos e análiticos em múltiplas áreas temáticas relacionadas com a inovação, o Brasil estava em 58o lugar no ranking geral de inovação e em 39o na eficiência, 2014, o país perdeu quatro posições, ficando em 61o lugar em inovação e na eficiência perdeu trinta e duas posições, ficando em 71o, entre 142 países. Avaliar este processo implica agir multidisciplinarmente em todas as etapas de desenvolvimento e mensuração dos resultados da aprendizagem, como mostra a matriz conceitual da avaliação15:

Matriz conceitual da Avaliação

Conhecimento  Multidisciplinar

Avaliação  de  Desempenho  Multidisciplinar

• Tempo  de  aprendizagem

• Competência  requerida

• Informação  acumulada• Experiência  profissional

• Pensamento  Sistêmico• Raciocínio  lógico• Problematização

Na atualidade, entretanto, foca Mumford (2001), já existe certo consenso nas organizações, que empregam jovens e adultos no mercado de trabalho de que as escolas devem sensibilizar o individuo para tomar consciência de suas potencialidades, compreender e analisar a realidade contextualizada, saber fazer e experimentar o que faz de forma inovadora. Por outro lado, as organizações em geral reconhecem em suas ações a necessidade de treinar os seus colaboradores no sentido de potencializar muito mais o como se aprende do que ficarem detidas no fato da pessoa desejar ou não desejar aprender.

Seguindo essa lógica de raciocínio apresentada na matriz de avaliação, a capacitação dos educadores para preparar a nova geração, a partir da sala de aula deve ser instrumentalizada pela tecnologia e pela matriz conceitual que parte dos passos de Peter Senge (1990) ao entender que o processo de aprendizagem ocorre a partir de cinco disciplinas.

15 Esquema elaborado pelo autor, como coordenador da Avaliação do Desempenho Multidisciplinar, na graduação de Administração da UNIP – Santos. 2014.

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A primeira disciplina, segundo o autor, é o domínio pessoal, em que as pessoas aprendem a clarear e aprofundar seus objetivos. É capaz de esclarecer o que realmente é importante para o indivíduo, procurando concentrar suas energias, ficar atento para desenvolver a paciência e exercitar a observação com o propósito de ver a realidade de maneira objetiva. Na segunda disciplina, os modelos mentais são abordados como paradigmas ou ideias profundamente arraigadas, generalizações e imagens que influenciam o modo de as pessoas encararem o mundo e suas atitudes. Os modelos mentais tornam-se espelhos, aprendendo a desenterrar imagens interiores do mundo, trazendo-as à superfície para que o indivíduo possa enfrentá-las e resolver a situação de desconforto na aprendizagem. A terceira disciplina é o objetivo comum, aponta Senge, consistindo em objetivos, valores e compromissos que sejam compartilhados em conjunto por membros da organização. Se a organização tem um objetivo comum, concreto e legítimo, seus membros dão tudo de si e aprendem, não por obrigação, mas espontaneamente. A quarta disciplina, no dizer do autor, é a aprendizagem em grupo, em que as habilidades coletivas são maiores que as habilidades individuais. Nesse caso, passa a ser por meio do diálogo que o grupo poderá desenvolver várias ideias relevantes para a organização. Quando o grupo aprende, além de produzir resultados extraordinários, seus integrantes se desenvolvem com maior rapidez no sentido individual.

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A quinta disciplina para Peter Senge integra, por sua vez, todas as demais disciplinas, a partir do raciocínio sistêmico que estabelece o diálogo entre as partes que compõe a estrutura conceitual do processo de aprendizagem e da própria produção do conhecimento.

1.4. A educação e a Sociedade do Conhecimento: Geração X e Y Na sociedade do conhecimento a informação é matéria prima para qualquer ação humana, seja na vida pessoal, seja no ambiente de trabalho ou no contexto escolar. O emprego da memória racional é uma condição no ponto de vista das elaborações afetivas. Em nossa pesquisa sobre a Cidade Digital16 (2006: 200) analisamos que “a Sociedade de Informações sinaliza o ato de educar como forma de evitar o agravamento da exclusão social, considerando que o sistema capitalista se revigora e se moderniza a partir da manifestação livre das necessidades e dos desejos humanos, satisfeitos pelo acesso aos bens e serviços produzidos”. Isto é, educar para a inclusão social na economia digital requer, principalmente:

1. Preparar os indivíduos para melhor se adaptar as condições globalizadas do mercado e a multidisciplinaridade;

2. Reforçar a individualidade e autonomia voltada para o desenvolvimento em comunidade;

3. Atenção para a unificação da cultura de consumo na população em situação de risco social;

4. Ensinar a operar com meios tecnológicos; 5. Observar os princípios da transnacionalização e desfronteirização; 6. Descaracterizar as telecomunicações e a informática como os grandes e

únicos responsáveis pela inclusão econômica; 7. Apresentar as Redes Sociais como mecanismos organizadores dos

interesses coletivos; 8. Apontar a racionalidade como a lógica que justifica os avanços

tecnológicos;

16 GUERREIRO, 2006.

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9. Colocar a tecnologia como mediador e decodificador do problema de inclusão digital;

10. Evitar a desideologização dos indivíduos quanto aos impactos das ações institucionais estatais e privadas sobra a realidade social, econômica, política, cultural e ambiental.

Os avanços tecnológicos são imparáveis e cada vez mais coloca os indivíduos diante da superação de limites. Os brinquedos e jogos eletrônicos em rede, por exemplo, moldam um perfil empreendedor, quando estimulam o comportamento infantil e do jovem a buscar novos desafios, novas possibilidades para os limites em que se encontram na família ou na vida social. Indiferentes ou impotentes diante deste fenômeno, os pais transferem sua angústia para os educadores, que, também, despreparados tecnicamente, acabam repetindo o modelo formal de ensino que vai se descompassando progressivamente diante dos novos conhecimentos e habilidades trazidas pelo educando, para dentro da sala de aula.

Fonte: http://revolucaoinstitucional.blogspot.com.br/2012/06/revolucao-institucional-scientia.html

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A facilidade de acesso e o deslumbre que a tecnologia desperta na imaginação e universo infanto-juvenil revela uma forte tendência na busca de outros interesses vocacionais, novos desejos de vida e ambições criativas que o educador precisará compreender e acompanhar com novas metodologias de aprendizagem e didática educacional. A familiaridade com que a Geração Y incorpora os avanços tecnológicos muda radicalmente os signos tradicionais de construção do conhecimento e de aprendizagem experimentado pela Geração X. A aprendizagem clássica perfeitamente classificada e programada em conteúdos disciplinares perde sua força diante de uma realidade que produz conhecimento em escala global e com uma rapidez esquizofrênica. O adolescente da Geração Y é inquieto diante da modernidade e fica deslumbrado com os desafios propostos pela nova engenharia tecnológica. A separação tradicional entre ciências exatas e humanas ou sociais, não cabe dentro do formato complexo e integrado que o conhecimento se transformou.

Fonte: http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2011/06/noticias/a_gazeta/economia/882952-jovens-

tem-otimo-curriculo-mas-o-comportamento.html

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O computador e a internet simbolizam um dos maiores avanços da Era da Informação, a conexão de uma comunidade global, responsável pelo estabelecimento da interculturalidade de hábitos, costumes, valores, tradições folclóricas, comportamentos dos mais diferentes, realidades que se contrastam em sua existência, mas, que se complementam em seus propósitos civilizatórios. A convergência tecnológica de imagens, sons, voz, dados, conectividade, informação tipicamente capitaneada pelas novas tecnologias de telecomunicações, que no caso brasileiro é representada pelo consumo progressivo de telefones móveis, celulares que acoplam fotos, comunicação escrita, verbal, simbólica, codificada e que resultam na formação de novos comportamentos, novas tribos urbanas, novos hábitos de consumo, novas descobertas no campo do relacionamento e vínculo humano.

Fonte: http://s3.amazonaws.com/data.tumblr.com/tumblr_l4s9hoy4fQ1qzcdp3o1_1280.png?

A comunicação é transformada no principal motivador da descoberta de novos conhecimentos e o empreendedorismo, neste contexto, incorpora a modernidade em sua plenitude como sociedade e civilização. O modelo de educação da Geração Y segue o padrão das Redes Sociais, age de forma híbrida, sem fronteiras, integra estratégias de negócios inconcebíveis no modelo clássico e integra métodos que antes pareciam inconciliáveis estrategicamente falando e formam, com isso, a base de negócios inovadores e sustentáveis.

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O empreendedorismo na Sociedade de Informações tornou-se um modelo criativo para identificar e experimentar novas oportunidades sem o temor de ter uma experiência frustrante, considerando que o principio é a tentativa e erro, dentro de parâmetros criativos aceitáveis e que não comprometam a sustentabilidade do investimento, mas que, assegure a inovação do produto e o bem-estar coletivo, a partir da satisfação das necessidades sociais de consumo. CONCLUSÃO Pensar em uma agenda educativa para o futuro foi um exercício intelectual que nos moveu em direções antagônicas em determinados momentos ao longo dos dois últimos meses. Fazer um estudo reflexivo sobre o tema não foi difícil para alguém que possui na leitura e escrita a matéria prima de trabalho, entretanto, se pensar e racionalizar não é difícil para qualquer intelectual orgânico ou educador por excelência, adotar uma postura e atitude coerente com os princípios e orientações pedagógicas torna-se o maior desafio no processo de aprendizagem em qualquer tempo. O tipo de abordagem educativa é fundamental na orientação da prática pedagógica. Saber como se posicionar diante de um problema de aprendizagem, desvio de conduta ou situação de risco social é uma virtude que qualquer educador precisa incluir na sua agenda de debates. Desenvolver as habilidades humanas da linguagem, bem como, a interação social foi o que identificou Vigotsky como elemento chave no desenvolvimento humano, a partir da educação. Piaget também defendeu a sociabilidade como essência na educação, tendo nas fases do desenvolvimento da criança a orientação para o processo de preparação do futuro adulto. Compreender que a educação na Era moderna é a evolução dos princípios e fundamentos da educação na Grécia Antiga ou mesmo perceber que a visão socrática, aristotélica ou ainda de um pensador como Santo Agostinho ou São Thomas de Aquino se entrecruzam em temas tão atuais como a ética e a moral, não é somente uma constatação, mas, um convite à mudança de atitude e postura diante da missão de ensinar e do aprender permanentemente como sujeito social e operário do conhecimento.

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Na Era moderna a escola ocupou o lugar da família e a agenda de aprendizagem tornou-se cada vez mais multidisciplinar, considerando que a educação do futuro será em rede, em tempo real, sistêmica, intercultural, transdisciplinar e problematizadora. Com base nesta perspectiva, a educação do futuro será movida pelo entusiasmo do educador, a pedagogia entusiástica, no sentido grego do termo, “ter os deuses dentro” e ser capaz de promover o comprometimento do educando com o próprio resultado de sua busca pelo conhecimento. Aprender a problematizar será cada vez mais uma necessidade que o educando da Geração Y precisará desenvolver em suas potencialidades na Sociedade de Informações, não como condição, mas, como método de aprendizagem. O educador na Sociedade do Conhecimento perde o status de detentor único do conhecimento. A educação ocorre em rede e é sistemicamente articulada, convergindo em múltiplas dimensões, porém, orientada para um único resultado: libertar o educando da situação de ignorância e refinar a aprendizagem de uma visão de mundo que saiba tolerar a diversidade, o pluralismo de ideias e interculturalidade. A agenda educativa do futuro terá em seu debate modelos mentais mais flexíveis que orientarão práticas pedagógicas inovadoras e dispostas a mudança. Os educadores serão mentores que orientarão o educando na pesquisa de conteúdo e na chave de compreensão dos problemas. A aprendizagem será a distancia, mas, monitorada em tempo real pelo tutor educacional. A avaliação será sempre multidisciplinar e integrará o conteúdo em múltiplas linguagens de comunicação multimídia. A técnica de simulação será generalizada como metodologia e aplicação de conceitos será um teste continuo de sincronização dos diversos interesses individuais e grupais. BIBLIOGRAFIA

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