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A EDUCAÇÃO ATRAVÉS DE DANÇAS: REFLEXÃO E PRÁTICA NA EDUCAÇÃO

FÍSICA ESCOLAR

TAZONIERO, Beatriz Terezinha1

QUEIRÓS, Ilse Lorena von Borstel de2

RESUMO

Este trabalho faz parte do Programa de Desenvolvimento Educacional do estado do Paraná, PDE – Formação Continuada, da Secretaria de Estado da Educação (SEED), com abrangência de agosto de 2010 a agosto de 2012. A dança faz parte dos conteúdos estruturantes da disciplina de Educação Física escolar, no entanto, é desenvolvida apenas eventualmente para festas e comemorações especiais. Há necessidade dos professores colaborarem para o surgimento de uma cultura corporal da dança de forma regular e sistematizada, que esteja relacionadas as necessidades e interesses dos alunos. O objetivo deste estudo foi compreender a importância da dança na perspectiva do desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo-social dos alunos, bem como, desenvolver aulas dinâmicas e atrativas para uma turma de sétima série do Ensino Fundamental, em uma escola pública. Caracterizou-se em uma pesquisa-ação, pois envolveram uma pesquisa bibliográfica, a produção de uma unidade didática, e a implementação de atividades na escola. Conclui-se que a dança deve ser aplicada efetivamente nas turmas durante o Ensino Fundamental, visto que, desenvolve a sociabilização e cooperação entre os educandos. Palavras-chave: Educação Física; Conteúdos Estruturantes; Danças. 1 INTRODUÇÃO

Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental e Médio - PCNs,

reportam que a Educação Física enquanto disciplina escolar, possui a “(...) tarefa de

1 Professora PDE 2010, graduada em Educação Física pela UEL - Universidade Estadual de Londrina,

pós-graduada em Treinamento Desportivo pela UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná. 2 Orientadora, professora Ms. Curso de Educação Física da UNIOESTE, campus de Marechal Cândido

Rondon, PR, membro do grupo de pesquisa GEPEFE e Confraria de Lazer do Paraná, e-mail: [email protected].

2

garantir o acesso dos alunos às práticas da cultura corporal, contribuir para a

construção de um estilo pessoal de exercê-las e oferecer instrumentos para que sejam

capazes de apreciá-las criticamente” (BRASIL, 1997, p.28). Através de vários

conteúdos, entre eles, as danças como forma de expressão de produções culturais,

como conhecimento historicamente acumulado e transmitido socialmente.

Desta forma, é necessário que a prática pedagógica dos profissionais da

Educação Física, integre também as danças, como forma de “(...) cultura corporal,

procurando promover o desenvolvimento integral dos discentes, enfatizando a

educação rítmica e o desenvolvimento das condutas motoras através de diversas

vivências e experiências deste conteúdo” (QUEIRÓS, 2004, p.01).

A mesma autora complementa afirmando que:

(...) a dança é uma linguagem corporal histórico-social a qual se expressa de forma diferenciada nos diversos grupos sociais, caracterizando, muitas vezes, a formação étnica, tradição de hábitos e costumes culturais, representando valores e princípios referentes ao contexto sócio-cultural no qual as pessoas estão inseridas. Assim, entender a dança como manifestação cultural das pessoas, implica em pensar a cultura como organizadora dos significados e construtora das representações sociais, portanto, uma visão conjunta (2004, p.02).

Justifica-se deste modo, a importância deste conteúdo na prática cotidiana do

professor, que atua na área de Educação Física escolar, considerando que sempre fez

e ainda faz parte da vida de diferentes povos, para que os alunos possam adquirir

maior conhecimento sobre os benefícios das danças, suas características, gêneros e

estilos, promovendo através dela o desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo-social

simultaneamente.

Torna-se importante desde os primeiros anos escolares, a aprendizagem da

dança com objetivos educacionais, como pode se verificar nas palavras de Steinhilber,

(2000, p.8): "Uma criança que participa de aulas de dança (...) se adapta melhor aos

colegas e encontra mais facilidade no processo de alfabetização".

O conteúdo danças faz parte dos conteúdos estruturantes da disciplina de

Educação Física, favorecendo a possibilidade do docente elaborar um plano de ensino

que não se restrinja apenas ao ensino de alguns esportes, abrindo espaço para

3

trabalhar os diferentes estilos e manifestações de danças através de abordagens

variadas, oferecendo um aporte teórico e prático na sua prática pedagógica.

O professor desta área deve assumir uma atitude consciente na busca de uma

prática pedagógica mais coerente com a dança, além disso, este conteúdo deve estar

de acordo com a realidade dos alunos e da escola. Assim, levará o indivíduo a

desenvolver a sua capacidade criativa numa descoberta pessoal de suas diferentes

habilidades, contribuindo de maneira decisiva na formação de cidadãos criativos,

críticos, e conscientes de seus atos, visando a uma transformação social

(STEINHILBER, 2000).

A partir do momento que a pessoa tem a dança como uma atividade física

regular na sua vida, obtêm inúmeros benefícios físicos, psicológicos, cognitivos e

sociais. No entanto, observa-se certa acomodação no ensino de danças na Educação

Física nas escolas, deixando esta arte e atividade física de lado ou esquecida. E

quando é ensinada sua pratica pedagógica apresenta-se relacionada,

predominantemente, á atividades recreativas ou atividades artísticas para eventos

escolares.

Além disso, ao se trabalhar o conteúdo danças nas aulas de Educação Física,

encontra-se uma certa resistência por parte dos alunos adolescentes. Provavelmente,

está relacionada ao fato de ser uma fase de transição do mundo infantil para

adolescência, onde a transformação do corpo é acentuada, e são constantes os

conflitos de sentimentos, emoções e receios, como apresentam momentos de

vergonha. A fase da adolescência é um momento único, onde eles possuem dúvidas

com relação ao que são, em relação aos outros e com o mundo.

Nesta direção, é fundamental e necessária reflexões e ações por parte dos

professores sobre as diferentes possibilidades de ensinar as danças, utilizando diversas

formas de trabalho e abordagens, buscando oferecer vários estilos e gêneros de

danças. Pois, ele deve ser um educador e intermediador no processo de dançar dos

discentes como arte e movimento, onde o prazer e a interação do corpo com a dança

são importantes, numa tentativa de fazer o aluno dançar interpretando movimentos,

emoções e idéias.

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Desta forma, os professores de Educação Física deveriam também possibilitar

este conhecimento aos alunos, como momentos para refletirem sobre seu corpo, do

outro e a inter-relação desses corpos com o mundo e com as coisas deste mundo.

Favorecendo para o surgimento de uma cultura corporal da dança na educação física

escolar, de forma permanente e não apenas eventual, e que seu ensino esteja

relacionada as características, necessidades e desejos dos alunos, para assim,

estarmos confirmando um agir pedagógico em busca do uno e da diversidade,

rompendo de vez, com algumas práticas pedagógicas manipulativas e a monocultura

de alguns esportes, onde a execução de movimentos pré-estabelecidos e imitativos

são valorizados.

Diante deste panorama questiona-se: Será que a dança pode ser integrada nas

aulas de Educação Física escolar de forma permanente e sistematizada, sendo um

conteúdo interessante, prazeroso e educativo para os alunos?

Assim, este estudo buscou compreender a importância da dança na perspectiva

do desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo-social dos alunos, bem como,

desenvolver aulas dinâmicas e atrativas para uma turma de 7ª série, ensino

fundamental, em uma escola pública.

Para delineamento deste trabalho foi utilizada a pesquisa-ação, “[...] é uma

pesquisa com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com

uma ação ou com a resolução de um problema coletivo, na qual os pesquisadores e

participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo

cooperativo ou participativo” (THIOLLENT, 1986, p.14).

Para o autor, a palavra-chave na pesquisa-ação é intervenção/ação, ou seja,

envolve a ação dos pesquisadores e dos grupos interessados, o que ocorre nos mais

diversos momentos da pesquisa. “Apresenta um potencial transformador bastante

grande, pois é planejada e praticada a investigação-ação. [...]. E como concepção de

investigação, pode auxiliar os seres humanos a interpretar a realidade a partir de suas

próprias práticas, concepções e valores” (THIOLLENT, 1986, p.14).

Nesta direção, este estudo, integrou uma pesquisa bibliográfica, a elaboração de

uma unidade didática, e implementação de atividades com uma turma de 7ª série, de

uma escola pública, Ensino Fundamental, da cidade de Realeza - PR.

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Na pesquisa bibliográfica foi feito o levantamento de informações e formação de

um banco de dados para o processo de formação e análise por meio de fontes

bibliográficas e dados disponíveis na Internet. Após, foi realizada a revisão dos

possíveis metodologias e instrumentos existentes para a escolha mais adequada para

atender aos objetivos do estudo, que resultou no projeto de intervenção pedagógica na

escola e na unidade didática.

Na unidade didática foi feito a implantação do projeto, com atividades relativas as

danças trabalhadas, a pesquisa dos estados brasileiros e suas dança típicas, bem

como, a montagem de um painel demonstrando todo o trabalho realizado.

2 COMPREENDENDO SOBRE AS DANÇAS

2.1 ABORDAGEM HISTÓRICA DA DANÇA

A dança é uma das formas mais antigas de expressão do ser humano e consiste

basicamente em movimentar o corpo.

Oliveira (2001, p.14) menciona que:

Uma das atividades físicas mais significativas para o homem antigo foi à dança. Utilizada como forma de exibir suas qualidades físicas e de expressar os seus sentimentos, era praticada por todos os povos, desde o paleolítico superior (60.000 a.C.).

Caminada (apud FUGIKAWA e GUASTI, 2006, p.186), ao abordar a história da

dança relata:

Isto pode ser confirmado ao longo da história, através de registros das mais variadas formas de manifestações da dança, seja nas pinturas rupestres feitas pelo homem primitivo, nos momentos de festejos – como nas festas da colheita, nas cerimônias religiosas, nas celebrações de bodas – e até mesmo em funerais.

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De acordo com os autores citados, a dança possuía características lúdicas e

ritualísticas, pois possibilitava manifestações de alegria pela caça e pesca, ou

dramatizações em nascimentos e funerais.

Nanni (2003, p.7) afirma que:

As danças, em todas as épocas da história e/ou espaço geográfico, para todos os povos é representação de suas manifestações, de seus 'estados de espírito', permeios de emoções, de expressão e comunicação do ser e de suas características culturais.

Para os autores citados acima, a dança já era importante nas mais antigas

civilizações, entre os egípcios, os hebreus, os indianos e os gregos, ligando-se

principalmente às cerimônias religiosas e festivas.

Com o passar do tempo, contudo, a dança foi perdendo suas características de

rito mágico e espontâneo, submetendo-se a regras precisas e ligando-se à harmonia da

música e da poesia. Isso ocorreu a partir do Renascimento, na Itália e principalmente

na França. As danças nacionais de outros países foram estudadas, elaboradas e

estilizadas, surgindo a grande maioria das danças conhecidas até o século XIX e que

eram praticadas entre os nobres (FUGIKAWA e GUASTI, 2006).

Observa-se, assim que, a dança é a mais antiga das artes, acompanhando o

homem ininterruptamente através de sua história em todos os momentos de sua

existência, servindo como elemento de comunicação e afirmação, dando-lhe

possibilidade de viver plenamente.

Fugikawa e Guasti (2006, p.186), ainda enfatizam que:

Estas manifestações foram modificadas, influenciadas pela cultura e pela tradição de cada povo, submetidas às regras rígidas. Devido a isso, as danças assumiram características mais formais, utilizando-se da técnica desde a sua formação em pares, círculos, colunas, entre outras formas, e aumentaram a preocupação com a estética dos gestos.

Nos momentos importantes de vida do homem, tais como: nascimento,

procriação, evocação ou para propiciar fatores importantes à sua sobrevivência (sol,

chuva, plantio, colheita, caça, pesca) e para manifestar sua luta pela vida, seu amor,

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sua alegria e seu desamparo, suas vitórias na guerra e na paz, suas súplicas e seus

agradecimentos, o homem dançava sozinho ou com os seus semelhantes, em grandes

círculos mágicos que se encontram nos rituais das civilizações mais primitivas e nas

manifestações recreativas das culturas mais avançadas (OLIVEIRA, 2001).

Fugikawa e Guasti (2006, p.186), reforçam que:

(...), as danças assumiram características próprias, representando a diversidade cultural de diferentes povos, transformando-se em formas específicas de explicação da realidade. Mesmo que em graus diferentes, as danças orientam as práticas do ser humano, as relações estabelecidas com o trabalho, com a cultura e com a própria organização social, materializando-se num espetáculo de cores, gingas, ritmos e sons.

2.2 CONTEXTUALIZANDO A DANÇA

O homem passou do estágio de nômade para o sedentarismo numa evolução

surpreendente, no entanto, as danças sempre fizeram parte do seu cotidiano,

possibilitando vislumbrar-se com ela de forma democrática, rompendo com a idéia de

que a dança apenas é privilégio de alguns (GARIBA, 2002).

Garaudy (1989, p.7), coloca que é necessária uma técnica para poder usufruir o

poder e a beleza da dança. Mas, o mais importante para o homem é ser capaz de

compreender a dança como "um modo de vida, de existir".

A dança pode e deve ser associada ao universo pedagógico da educação, pois

ela além de ser uma atividade física, de acordo com Ferrari (2011), é educação, sendo

indispensável que o indivíduo entenda o que significa e o porquê fazer, pois o dançar

antes de tudo deve ser consciente e criativo.

Ao fazer alusão ao movimento consciente, Oliveira (2001, p.96) aponta que:

É importante que as pessoas se movimentem tendo consciência de todos os gestos. Precisam estar pensando e sentindo o que realizam. É necessário que tenham a 'sensação de si mesmos', proporcionada pelo nosso sentido sinestésico (...), normalmente desprezado. Caso contrário, estaremos diante da 'deseducação física'.

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Desta forma, a consciência situa o homem como um ser no mundo, de acordo

com Nanni (1998, p.8), é "imprescindível para que o ser humano se torne sujeito de sua

práxis no desvelar a sua realidade histórica, através de sua corporeidade".

Ainda para a autora, tem-se uma visão de que é a partir do processo criativo,

desenvolvido pela dança na escola, que o indivíduo se emancipa, pois a criatividade

possibilita a independência à liberdade do ser pela autonomia e emancipação (NANNI,

1998).

A dança pode ser uma ferramenta preciosa para o indivíduo lidar com suas

necessidades, desejos, expectativas, e também servir como instrumento para o seu

desenvolvimento individual e social.

Saraiva (apud PARANÁ, 2008, p. 45), reforça que:

A dança pode se constituir numa rica experiência corporal, a qual possibilita compreender o contexto em que estamos inseridos. É a partir das experiências vividas na escola que temos a oportunidade de questionar e intervir, podendo superar os modelos pré-estabelecidos, ampliando a sensibilidade no modo de perceber o mundo.

Fugikawa e Guasti (2006, p. 187), ao estudarem sobre a dança questionam:

Qual é o sentido de transportar para a escola essas manifestações corporais representadas pela dança? A resposta para este questionamento se justifica pela importância de vivenciarmos, (re)conhecermos e desmistificarmos papéis que foram atribuídos de maneira estereotipada à dança, valorizando a sua riqueza cultural.

O espaço escolar e seus freqüentadores são parte de um contexto social mais

amplo, onde os sujeitos trazem e expressam em suas ações diárias, características que

foram assimiladas e reconstruídas ao longo da vida.

Para os autores, a escola, portanto, é um espaço social importante em nossas

vidas, e, como outros ambientes, ela também recebe influências dos diversos fatores

históricos, culturais, econômicas e sociais, que são determinados pelos interesses e

objetivos dos grupos que detém o poder. É também no espaço escolar que nós

construímos e escrevemos a nossa história de vida, a nossa individualidade e nossas

relações sociais.

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Nesta direção, pode-se relatar que em relação ao domínio motor, a dança

desenvolve a coordenação motora, agilidade, ritmo, percepção espacial e temporal, a

musculatura corporal, de forma simultânea e integrada. Permite também, uma melhora

na auto-estima quebrando diversos bloqueios psicológicos e afetivo-sociais,

possibilitando o convívio e ampliando as relações sociais, além disso, pode tornar-se

uma opção de lazer para os indivíduos no seu tempo livre.

Na vida educacional da criança e do jovem, a dança deve deixar de ser somente

uma atividade artística eventual, e, passar a fazer parte como conteúdo regular,

auxiliando no desenvolvimento para que eles se expressem e relacionem consigo

mesmo, com o outro, e com seu meio.

Segundo Pereira et al (2001), quanto aos estilos de danças coloca que, existem

quatro grandes grupos que são:

a) Dança Clássica - conjunto de movimentos e passos elaborados em

sistema e ensinados através de coreografias.

b) Dança de Salão - praticada EM reuniões, bailes, festas, e academias.

c) Dança Moderna - se libertou dos princípios rígidos da dança e serviu de

base ao bailado contemporâneo.

d) Dança Rítmica - atividade desportiva de infinitas possibilidades de

movimentos corporais, realizados fluentemente em harmonia com a

música e coordenados com o manejo dos aparelhos próprios desta

modalidade olímpica.

Além de existirem outras classificações, existem outros estilos de danças,

como: Ballet, Ballroom, Bolero, Break-dance, Capoeira, Ceroc, Can Can, Cha-Cha-Cha,

Contemporânea, Contra-dança, Country Western, Disco, Exotic Dancing, Flamenco e

Spanish Gypsy, Folk and Traditional, Foxtrot, Funk, Jazz, Line Dance, Mambo.

Merengue, Middle Eastern, Modern, Polka, Religiosas e dança Sacra, Rumba, Salsa,

Samba, Swing, Scottish, Country Dancing, Square Dance, Tango, Twist, Valsa,

Western.

Também se evidencia outro gênero de danças folclóricas, como: na Espanha

(Fandango, Bolero, Jota, Seguidilha, Flamenco,...), na Itália (a Tarantela, Furlana…),

na Inglaterra (Jiga…), na Polônia (Mazurca e Polca…), Hungria (Xarda…), no Brasil

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(Baião, Samba…), e, em Portugal (Vira, Verde-Gaio, Malhão, Fandango Ribatejano,

Pauliteiros de Miranda do Douro, Gota, Chula, Corridinho...), entre outras.

Existem inúmeras danças típicas em nosso país, poucas são trabalhadas no

âmbito escola, sugere-se aos docentes pesquisas e inserção deste conteúdo aos

educandos do Ensino Fundamental para que possam desenvolver a sociabilização,

cooperação e gosto pela dança.

2.3 A DANÇA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

No processo dinâmico de influenciar e ser influenciado ao ensinar e aprender,

estão os conhecimentos científicos que cada disciplina possui, os quais contribuem com

a formação e desenvolvimento dos indivíduos. Dessa forma, uma das disciplinas

integrantes do currículo escolar é a Educação Física, a qual se propõe em pensar a

dança como um de seus conteúdos estruturantes, sob múltiplos olhares. Desse modo, é

importante abordar no âmbito desta disciplina as mais diversas possibilidades de

expressão corporal pela pratica dos diferentes estilos de danças, desde as formas mais

simples e espontâneas até as mais elaboradas e sistematizadas (PARANÁ, 2008).

Sendo assim, os professores de Educação Física devem trabalhar a dança na

sua diversidade, de forma regular e não apenas eventual, como meio educativo para

reconhecer e compreender o universo simbólico que ela representa, utilizando o corpo

como suporte de comunicação e expressão.

Elaborar uma proposta de dança na Educação Física na escola mostra que esta

não deve se restringir apenas ao aprendizado de técnicas e estilos, como: ballet

clássico, jazz, moderno, etc., vai muito mais além destes estilos e formas de ensino,

pois conforme Ferrari (2011, p.1): "A dança na escola não é a arte do espetáculo, é

educação através da arte".

De acordo com as DCEs (PARANÁ, 2008, p.70):

A dança é a manifestação da cultura corporal responsável por tratar o corpo e suas expressões artísticas, estéticas, sensuais, criativas e

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técnicas que se concretizam em diferentes práticas, como nas danças típicas (nacionais e regionais), danças folclóricas, danças de rua, danças clássicas, entre outras.

Além do desenvolvimento de atividades práticas sobre a dança, o professor em

situações que houver oportunidade de teorizar deverá aprofundar conhecimentos com

os alunos, para que adquiram uma consciência crítica e reflexiva sobre seus

significados e importância, criando situações em que as representações simbólicas

peculiares a cada modalidade de dança sejam contempladas e compreendidas.

Vale aqui apresentar o quadro sobre o conteúdo estruturante dança, presente

nas DCEs, (PARANÁ, 2008, p.90). Que deve servir como um direcionamento para o

professor de Educação Física.

CONTEÚDO ESTRUTURANTE CONTEÚDO BÁSICO CONTEÚDO ESPECÍFICO Danças folclóricas Fandango, quadrilha, dança

de fitas, dança de São Gonçalo, frevo, samba de roda, batuque, baião, cateretê, dança do café, cuá fubá, ciranda, carimbo.

Danças de salão Valsa, merengue, forró, vanerão, samba, soltinho, xote, bolero, salsa, swing, tango.

Danças de rua Break, funk, house, locking, popping, ragga.

Danças criativas Elementos de movimento (tempo, espaço, peso e fluência), qualidades de movimento, improvisação, atividades de expressão corporal.

DANÇA

Danças circulares Contemporâneas, folclóricas, sagradas.

Cunha (1992) reforça que, a dança merece destaque junto à Educação Física

paralelamente aos conteúdos de ginásticas, esportes, lutas, jogos e brincadeiras.

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E Claro (1988, p.67) coloca que, “a dança e a Educação Física se completam, a

Educação Física necessita de estratégias de conhecimento do corpo e a dança das

bases teóricas da Educação Física".

Estas abordagens apontam para um maior compromisso que devemos ter

enquanto profissionais da educação física, no sentido de assumir uma atitude mais

consciente com a prática pedagógica da dança, que esteja coerente com a realidade

dos alunos, para que possamos levar o indivíduo a desenvolver sua capacidade

expressiva, criativa, e reflexiva numa descoberta pessoal de suas diferentes

habilidades, contribuindo de maneira decisiva para a formação de cidadãos autônomos

e conscientes de seus atos, visando uma transformação social.

2.4 ASPECTOS DIDÁTICO-PEDAGÓGICOS NO ENSINO DA DANÇA

Segundo Carnegie (2004), o papel de todo professor é transmitir seu

conhecimento sobre a área ou assunto específico de forma que o aluno consiga

entender e praticar, dentro de suas limitações e possibilidades, ou seja, “[...] o resultado

do seu trabalho é o resultado que o aluno obtém, uma vez que demonstra a eficiência

de sua didática” (p.45).

Pois, os alunos devem se familiarizar primeiramente com movimentos básicos e

elementares a serem trabalhados na coreografia escolhida. Além disso, A variedade de

atividades rítmicas na aula favorece maior participação dos alunos. Enfim, o tema

escolhido para a aula de dança deve ser desenvolvido por atividades variadas e

progressivas (CARNEGIE, 2004).

É necessário propor reflexões e ações sobre as diferentes possibilidades de

ensino da dança, novas formas de trabalho e abordagem, na busca de diversas

alternativas de atuação dos professores com este conteúdo.

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3. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

O Programa de Desenvolvimento Educacional do estado do Paraná, PDE –

Formação Continuada, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná - SEED, teve

abrangência de agosto de 2010 a agosto de 2012, envolveu uma série de ações,

apresentamos a seguir os resultados das etapas diretamente envolvidas com este

estudo.

A seguir apresentamos as atividades e os resultados da implementação de

atividades na escola. Primeiramente, foi realizado um diagnóstico onde observamos

quatro turmas de 7ª séries, da escola Estadual Dom Carlos - Ensino Fundamental - da

cidade de Realeza (PR), durante 20 horas/aula durante as aulas de Educação Física,

para ver qual seria a turma mais adequada para o desenvolvimento da proposta. De

uma forma geral, os alunos destas séries apresentavam um perfil similar, um total

descaso e desinteresse com as disciplinas em geral, pois, levavam tudo na brincadeira,

partilhando este problema com as professoras destas matérias, elas auxiliaram na

escolha da turma.

A turma escolhida para a realização da implementação de atividades na escola,

foi a 7ª série A, do período matutino, com trinta e dois (32) alunos, envolveu o

desenvolvimento de aulas de danças, durante o terceiro trimestre de 2011, e teve como

objetivo planejar e desenvolver aulas dinâmicas e atrativas de danças para promover o

desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo-social destes alunos.

A primeira proposta teve como tema a importância da dança para o

desenvolvimento humano, foi apresentado o filme “Ela dança, eu danço”, na sala de

vídeo da escola utilizando o data show, teve como objetivoS estimular e despertar o

interesse dos alunos em conhecer o conteúdo danças para conscientizar a sua

importância, envolveu três horas aulas. Para contextualizar o filme foram feitos alguns

questionamentos após a assistência. Suas respostas, de uma forma geral,

demonstraram que não importa a cor, a classe social, o que importa é correr atrás de

seus sonhos e desejos. Pode-se observar que todos os alunos se interessaram e

gostaram muito do filme.

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A segunda proposta teve como tema pesquisas sobre as danças, a turma foi

dividida em cinco (5) grupos, cada grupo deveria pesquisar sobre as danças de um

estado brasileiro. Teve como objetivos despertar o interesse e conhecer as diversas

danças brasileiras, observando sua história, ritmos e estilos. A pesquisa foi realizada no

laboratório digital da escola, envolveu duas horas aulas, e os estados escolhidos foram:

Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Pernambuco, Goiás e Bahia. Nesta atividade tinham

que selecionar textos mais relevantes para posteriormente serem utilizados na

elaboração de um jornal mural, bem como, os grupos deveriam escolher uma

coreografia de dança para praticarem e apresentarem na sequência.

A terceira proposta teve como tema atividades rítmicas expressivas, objetivando

a socialização, interação, e expressão de movimentos, idéias, e emoções dos

educandos. Envolveu duas horas aulas onde desenvolvemos diversos tipos de

atividades sobre este tema. Verificou-se que a maioria demonstrou no inicio certa

timidez e vergonha, mesmo assim todos participaram.

A quarta e quinta proposta teve como tema danças brasileiras, pretendia

conhecer e praticar diversificados tipos de danças de vários estados brasileiros. teve a

duração seis horas aulas, onde cada grupo escolhia a coreografia de uma dança de

um estado brasileiro para treinar e posteriormente, apresentar para a turma

primeiramente. Foram escolhidos os estados do Rio de Janeiro com o estilo de dança

rock, Rio Grande do Sul a chimarrita, Pernambuco, o frevo. os grupos que escolheram

Goiás e Bahia não conseguiram escolher e treinar as coreografias de danças. Assim,

estabeleceu-se juntamente com a turma que seria apresentada uma dança circular para

representar estes dois estados.

Na sexta proposta, teve como tema jornal mural de danças, cada grupo

selecionou e imprimiu textos, bem como, fotos e imagens ilustrativas referentes as

danças dos estados brasileiros que cada grupo pesquisou. Utilizou-se atividade duas

horas aulas.

Na sétima e última proposta, teve como tema festival de danças, foram

apresentadas todas as danças pesquisadas e trabalhadas nas aulas para a

comunidade escola, tendo a duração três horas. O orador da turma apresentava

primeiramente um histórico sobre a dança, em seguida, os alunos caracterizados

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apresentavam sua coreografia. Esta atividade foi o ápice do trabalho com danças nas

aulas de educação física, observou-se que houve participação plena dos alunos desta

turma, pois não houve desistência de nenhum participante. As danças de uma forma

geral, foram realizadas com graça e confiança por eles.

4 CONCLUSÃO

Este estudo demonstrou que a dança é uma atividade educativa e de integração,

que se pode se adaptar muito bem a qualquer currículo, plano de ensino ou turma de

aplicação. As fontes de inspiração para o planejamento e desenvolvimento das aulas na

Educação Física podem variar, mas devem estar de acordo com o projeto da escola e

os interesses e características da turma de alunos. Pode-se trabalhar a dança sobre

temáticas, como: fenômenos da natureza, vida animal, etc., ou sobre estilos de danças,

são exemplos, e rendem boas aulas.

Além disso, para ensinar a dança a sala não precisa ter espelhos, como as

grandes academias de dança, basta ser limpa, iluminada e ventilada. Para a aula ser

mais produtiva e agradável, diga à garotada para usar roupas leves e confortáveis e

tomar muita água, como em qualquer esporte, para não desidratar.

A implementação dessa atividade na escola foi dinâmica e teve o sucesso

almejado, por quê com a experiência adquirida, os alunos puderam adquirir

conhecimentos em torno de danças e levaram idéias para seus lares que podem

possibilitar uma melhor qualidade de vida para a família através da pratica regular da

dança.

No que tange aos objetivos propostos nesta atividade de implementação, foram

alcançados de forma satisfatória, levando-se em consideração o pouco tempo para

aplicação.

Finalizando, este estudo foi de grande proveito para a realização da etapa

implementação do projeto pedagógico na escola para mim enquanto professora de

educação física, bem como, para todos os professores de Educação Física da rede

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pública do Estado do Paraná, pois ocorreu troca de idéias e o aprofundamento sobre

conhecimentos teóricos e práticos da dança na realização do GTR. Além disso, com

base nele trabalho, poderemos futuramente analisar e implantar aulas de danças com

maior qualidade e de forma permanente para os alunos.

REFERÊNCIAS BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília: MEC/SEF, 1997. CARNEGIE, Dale & Associates, Inc. O líder em você. 12ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2004.

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