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A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA COMO POLÍTICA PÚBLICA: A FORMAÇÃO
DOS ALUNOS EM PERSPECTIVA
Priscila Aleixo da Silva – Lapeade – PPGE - UFRJ Diovana Paula de Jesus –UFJF
Eliane Medeiros Borges – PPGE - UFJF José Jairo Vieira – Lapeade – PPGE - UFRJ
Eixo Temático: Práticas de inclusão/exclusão em educação Categoria: Pôster
Introdução
As práticas educacionais brasileiras tem se modificado substancialmente nas últimas
décadas, oriunda, segundo Marcondes (1994, et al) da própria crise dos paradigmas da
modernidade. Nessa perspectiva, o presente artigo possui a principal intenção de estimular
e indicar as reflexões sobre o contexto contemporâneo de políticas públicas educacionais
em uma perspectiva de inclusão, em específico no que se refere a politica incipiente de
EaD para formação superior.
O espaço escolar que usualmente é concebido como centro transmissor de cultura e
conhecimento, foi por muito tempo algo destinado a uma pequena parcela da população, que
representava a elite e a alta cultura, utilizando esse mesmo espaço para perpetuar suas tradições
e práticas. Mudar esse quadro acima descrito torna-se um desafio complexo e contínuo no qual
o ensino a distância aparece como política pública que visa o estimulo e a diminuição dessa
discrepância a partir do acesso ao ensino. Analisar a forma e as reais potencialidades de tal
politica no contexto da educação brasileira se mostra essencial a medida que percebe-se um
aumento significante no numero de ofertas e de formação a partir de cursos a distancia.
5. Ensino superior como objeto de politicas públicas: para a democratização e
ampliação do acesso
Nos fins do século passado a instituição escolar expandiu suas redes, permitindo que
parcelas da população anteriormente tolhida de seu acesso agora o obtivessem como
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possível. Essas transformações somente foram possíveis a partir do momento que
instituições governamentais e o Estado passaram a pensar o acesso ao ensino e a educação
como prioritário e de caráter universal. Pode-se notar tal seguridade nos artigos do capitulo
III, seção I da Constituição Federal de 1988;
Art. 205 - A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 206 - O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: (Alterado pela EC-000.019-1998) I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais.
Transformações decorrentes no setor econômico fomentou o surgimento de políticas
públicas internacionais e nacionais, as quais paulatinamente abrem espaço para que um
maior número de pessoas oriundas de diversas classes alcance o ensino superior, devido a
necessidade de formação profissional rápida e em massa. Refletir até que ponto tal
amplitude educacional é benéfica, se torna indispensável, como percebe Boaventura;
Para os adeptos da expansão democrática, a universidade deixou-se funcionalizar pela exigência do governo capitalista (mão de obra qualificada) e defraudou as expectativas de promoção social de classes trabalhadoras através de expedientes de falsa democratização. (...) É de crer que esta continue em vigor no filtro próximo, e, de resto, sem grandes sobressaltos, quer porque a pressão demográfica terminou, quer porque está a aumentar o número de estudantes com expectativa mais limitadas (adultos, estudantes, trabalhadores, estudantes financiados pelas empresas, etc.). (SANTOS, B. S. 1997, p. 194).
A fim de amenizar a desigualdade educacional o governo fez significativo investimento na
educação a distância, modalidade que se fortalece desde 2005, com a criação da
Universidade Aberta do Brasil (UAB). A Educação a Distância (EaD) vem sendo
caracterizada como um tipo de política de democratização ao acesso ao ensino que possui
um papel importante na formação do cenário brasileiro de políticas educacionais. Segundo
Pedro Demo (1994), esse tipo de política publica, voltada para a educação, também poderia
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ser caracterizada como uma política social a medida que visaria contribuir para a
equalização de recursos e oportunidades dentro de uma realidade social.
6. O ensino a distância como alternativa de acesso a formação superior
A modalidade de Educação a Distância, pautada na democratização da educação,
possibilitou efetivamente a inserção de muitos indivíduos ao sistema de ensino. A internet
foi decisiva para o desenvolvimento da EaD, haja visto que a rede comunicacional permitiu
uma interação constante e contínua entre discentes, docentes, sociedade e o respectivo
conteúdo de ensino.
Importante ainda é salientar que o ensino a distância mediado por tecnologias
comunicacionais apresenta algumas limitações visíveis. Não basta apenas ter acesso a rede:
é interessante que os indivíduos possuam um domínio mínimo sobre o uso das tecnologias,
seguido ainda de algum conhecimento prévio que o permitam se relacionar com o
conteúdo e com os recursos disponibilizados. Para tanto, faz-se necessário analisar se a
oportunidade de acesso a formação superior pela EaD possui os aparatos necessários para a
real inclusão educacional do aluno.
Assim, este estudo se faz relevante na medida em que pretende desvelar como se dá o
processo de incorporação, e inclusão dos alunos de EaD na educação superior, e
posteriormente no mercado de trabalho, procurando trazer resultados que contribuam para
a melhoria do processo de ensino-aprendizagem.
7. Potencialidades e possibilidades de pesquisa acerca do ensino a distância como
prática de acesso ao ensino superior
A partir dos questionamentos levantados o objetivo proposto para os próximos estudos é de
procurar analisar quais são os desafios encontrados pelos alunos no curso de ensino a distância
durante o processo de construção de conhecimento, e no que isso vai se refletir nos aspectos de
formação cidadã e de consciência crítica do indivíduo, assim como sua inserção adequada no
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mercado de trabalho. Para isso, de forma especifica, intenciona-se verificar quais os recursos
disponibilizados para que os alunos tenham formação acadêmica nessa modalidade, e o modo
com que o processo de ensino acontece e é oferecido aos alunos por meio das plataformas de
ensino: se o processo garante qualidade na aprendizagem ou se estariam subjugadas a simples
apreensão e reprodução de informação, sem formação crítica.
De forma complementar, também se faz necessário para entender o contexto da formação a
partir de sua efetividade para inserção no mercado de trabalho, buscando para isso traçar
um panorama de como os egressos de cursos a distância estão se formando e se inserindo
no mercado de trabalho. Para operacionalidade deste trabalho intenciona-se e usar como
campo de pesquisa o curso de Pedagogia a distância da UFJF, e como sujeitos os alunos do
curso. Há a possibilidade de assimilar a essa proposta dados relativos a cursos de outra
instituição a medida em que haja acesso a dados específicos do mesmo.
Pretende-se realizar uma revisão bibliográfica para ancorar as analises das coletas de dados
relacionados ao perfil e rendimento dos alunos durante a pesquisa. Para a coleta desses
dados será adotado a feitura de entrevistas semiestruturadas aos os alunos do curso. A
entrevista é o instrumento escolhido porque considera a fala reveladora das condições
estruturais, do universo de valores, normas e símbolos, que serão transmitidos pelos
discursos dos sujeitos da pesquisa (MINAYO, 1993).
Os dados coletados serão organizados em categorias semelhantes para que haja uma
analise objetiva, superando as correntes filosóficas subjetivistas e contemplativas da
realidade. Desse modo, será feito um esforço de abstração que ultrapasse os dados e que
tente estabelecer conexões e relações que vão possibilitar proposições de novas
explicações acerca do assunto pesquisado.
8. Conclusão
Nos limites deste trabalho, procurou-se demonstrar a importância da atual política de
expansão da educação superior à distância, hoje implementada pela UAB/CAPES, assim
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como a necessidade de desenvolver pesquisas mais específicas no que diz respeito a um
tema tão caro as políticas publicas de educação em andamento no Brasil.
A partir do estudo de dados coletados principalmente junto aos sujeitos-alunos,
pretendemos verificar em que circunstância a EaD potencializa transformações expressivas
tanto a estes sujeitos quanto, numa perspectiva mais macro, às comunidades nas quais eles
se inserem. Pretendemos verificar se é possível que os sujeitos assistidos por essa
modalidade de ensino adquiram meios de emancipação, própria da universidade e
necessidade intrínseca da formação, como diz Boaventura (SANTOS, 2008, p.48).
Referência Bibliográfica
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