a economia de chipre – antes e depois da crise de 2008

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7/23/2019 A Economia de Chipre – Antes e Depois da Crise de 2008 http://slidepdf.com/reader/full/a-economia-de-chipre-antes-e-depois-da-crise-de-2008 1/22  Universidade Nova de Lisboa Faculdade de Ciências Sociais e Humanas Mestrado em Ciência Política e Relações Internacionais Economia Europeia  A Economia de Chipre – Antes e Depois da Crise de 2008 1  Pedro Filipe Godinho (estudante n.º 31864) Lisboa, 2011 1 A silhueta de dois homens enquanto caminham numa nova estrada, antes da cerimónia da sua inauguração, num novo ponto de cruzamento na zona de tensão que divide os Cipriotas Gregos, do Sul, e os Cipriotas Turcos, do Norte. Esta construção é tida como podendo significar um novo rumo na relação entre ambas as partes. Fotografia de Petros Karadjias (Associated Press), 14 de Outubro de 2010.

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Universidade Nova de Lisboa

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas

Mestrado em Ciência Política e Relações Internacionais

Economia Europeia

 A Economia de Chipre – Antes e Depois da Crise de 2008

Pedro Filipe Godinho

(estudante n.º 31864)

Lisboa, 2011

1 A silhueta de dois homens enquanto caminham numa nova estrada, antes da cerimónia da sua

inauguração, num novo ponto de cruzamento na zona de tensão que divide os Cipriotas Gregos, do Sul, eos Cipriotas Turcos, do Norte. Esta construção é tida como podendo significar um novo rumo na relaçãoentre ambas as partes. Fotografia de Petros Karadjias (Associated Press), 14 de Outubro de 2010.

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1.  Introdução

Neste relatório da disciplina de Economia Europeia sobre a economia de Chipre,a análise irá tomar como ponto de partida o ano de 1983, momento que marca adeclaração de independência por parte da auto-proclamada República Turca do Norte deChipre (RTNC)2. A partir desse momento serão analisadas, de forma separada, aseconomias das duas zonas deste Estado, sendo que o ano de 2008 serve de pontointermédio neste relatório para identificar um momento de transição entre aquilo que eraa conjuntura económica pré e pós-crise de 2008 (ano comummente aceite como sendo oque marca o início da actual crise internacional). Dada a particularidade do Estado emquestão, e ao contrário do que aconteceu no último relatório em que a análise incidiusobre a ilha como um todo, no presente trabalho, a análise irá ser bipartida, em primeirolugar, em relação à República de Chipre (correspondente ao sul da ilha e à comunidadeGrega), e em seguida em relação à RTNC, sem preferência hierárquica nesta ordem.

O ano de 1983 marca o início de uma divisão efectiva da ilha de Chipre em duaspartes distintas: a zona Norte, de maioria Turca, e a zona Sul, de maioria Grega. Foi

nesse ano que a parte Turca reclamou a independência, criando a RTNC, emcontraponto com a República de Chipre. Entre as duas existe a chamada “Linha Verde”,uma zona controlada pelos “capacetes azuis” da Organização das Nações Unidas(ONU)3, tentando evitar um possível conflito. Se em 1974 se deu o início da quebra derelações entre cipriotas turcos e cipriotas gregos, sendo cessadas as trocas comerciaisentre as duas partes da ilha, é com a proclamação da independência da parte Norte quese pode efectivamente falar de “dois Chipres”4. 1983 é, portanto, o ano a partir do qualse pode analisar separadamente o crescimento e desenvolvimento económico dos doislados.

 Analisar a economia das duas zonas da ilha como dois elementos claramentedistintos não só se tornou claramente possível, mas também determinante. Isto porqueos últimos trinta anos marcaram uma óbvia demarcação económica entre cipriotas gregose cipriotas turcos. Em relação à República de Chipre, é possível observar um crescimentoeconómico interessante e constante nos últimos 30 anos, com uma taxa de crescimentoeconómico constante ao longo destas décadas; o mesmo já não acontece com a RTNC,que não tendo alcançado um nível de desenvolvimento sequer comparável com a partegrega de Chipre, acaba por conseguir sobreviver ao longo das últimas décadas, detendorelações económicas (e políticas) com um número bastante escasso de Estados, como se

 verá adiante, dificultando, de forma clara, as suas possibilidades de desenvolvimento.

2.  A República de Chipre – de 1983 aos anos de 2000

Beneficiando da definitiva e efectiva separação entre Norte e Sul de Chipre, aRepública de Chipre (correspondente à parte Norte, os cipriotas gregos) acabou pordemonstrar nas últimas décadas um crescimento económico bastante positivo e

2 Apesar de a expressão mais correcta da denominação do Norte de Chipre dever incluir a referência a“auto-proclamada”, neste trabalho usar-se-á a sigla correspondente à República, sem que se subentendaqualquer tipo de opção parcial por parte do autor.3 A Missão das Nações Unidas (UNFICYP, United Nations Peacekeeping Force in Cyprus) está presentena ilha desde 1964, por determinação do Conselho de Segurança das Nações Unidas, com o objectivo deevitar a propagação de um conflito entre cipriotas gregos e cipriotas turcos. Tendo em conta a ausência deum acordo entre as duas partes para a resolução do conflito, a UNFICYP tem visto o seu mandato de

presença na ilha ser renovado ao longo das últimas décadas, alargando o seu espectro de acção para alémda “mera” separação das partes em conflito.4 Encyclopedia Britannica – Cyprus .

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constante, sendo reflexo disso um longo – passaram-se doze anos desde o pedido deadesão até à declaração por parte da União Europeia (UE) de confirmação dessa mesmaadesão – mas proveitoso processo de integração europeia, tendo culminado,formalmente, no ano de 2004. Sobre o crescimento económico da parte grega de Chipre,

 Yves Lacoste tece algumas considerações interessantes e que podem servir de apanhado

geral daquilo que é a economia cipriota: “[…] na parte grega da ilha […] a evolução éflorescente graças a vários negócios, à economia «paralela», às sociedades off-shore , àsrelações com o mundo de negócios libanês e à implantação de um certo número deRussos novo-ricos”5. Com esta análise à economia cipriota pretende-se, acima de tudo,tentar estabelecer, passo a passo, período a período, um paralelismo entre osacontecimentos políticos mais marcantes das últimas décadas e os seus impactos naeconomia de Chipre.

Durante o período correspondente à década de 1980, a economia de Chiprepassou por um processo de diversificação das suas áreas produtivas. Esta alteraçãoestrutural deve-se, em grande medida, à perda de uma quantidade considerável deterrenos férteis aquando da invasão da Turquia, já referida no primeiro relatório, quemarca, assim, um ponto de viragem, fazendo com que o sector agrícola perca cada vezmais importância a partir desta década, em favor de outros sectores cada vez maiscrescentes. Para se ter uma ideia mais clara desta mesma perda de importância, realce-seque o sector agrícola, em Chipre, assumia responsabilidade sobre cerca de 10% do PIBem 1980, tendo decrescido nas décadas seguintes para cerca de 7% em 1990 e 4% em20006. Com esta perda de importância do sector agrícola passaram a destacar-se ossectores secundário e terciário, com maior ênfase para áreas como o turismo e osserviços financeiros7. Na seguinte figura (Fig. 1) pode ser observado o crescimentoprogressivo da economia da República de Chipre no período de 1983 a 1990, mostrandoligeiras variações ao longo destes anos, onde se destaca o princípio desta linha temporal,com uma subida de crescimento, reflexo da separação efectiva entre as economias doNorte e do Sul da ilha.

Fig. 1 – Produto Interno Bruto (PIB), a preços constantes 8, de Chipre, de 1983 a 1990. Fonte:International Monetary Fund, World Economic Outlook Database, October 2007. Gráfico do autor.

5 LACOSTE, Yves – «Chipre». In A Geopolítica do Mediterrâneo. Lisboa: Edições 70, 2006. P. 349.6 CyprusNet - Sctructure of Production .7 DEAN, Lucy (ed.) – «Cyprus». In The Middle East and North Africa 2004 – 50th Edition . Londres: EuropaPublications, 2004. P. 264.8 Por Produto Interno Bruto a preços constantes (ou PIB nominal) entende-se “a quantificação do valor de

mercado de todos os bens e serviços finais […] produzidos num país durante um ano.” – Fonte:SAMUELSON, Paul A. E NORDHAUS, William D. - «Objectivos e Instrumentos da Macroeconomia». In  Economia – 18.ª Edição. Portugal: McGraw-Hill, 2005. P. 408.

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No seguimento deste período bastante positivo para a economia da República deChipre, é dado um dos passos mais marcantes para o seu desenvolvimento económicodas últimas duas décadas. Em Julho de 1990, Chipre candidata-se oficialmente a membroda Comunidade Europeia. Contudo, numa análise tão extensiva temporalmente àeconomia de Chipre, este momento da candidatura assume-se mais como a formalização

de um processo com bastante tempo, do que propriamente algo novo. Isto porque já em1973 (antes da invasão Turca) havia sido estabelecido um Acordo de Associação entreChipre e as Comunidades Europeias, assim como desde 1979 e até 1998, a UE haviadado seguimento a três grandes empréstimos financeiros através do Banco Europeu deInvestimento para o melhoramento de infraestruturas em Chipre9.

 Apesar de a transição de décadas de 1980 para 1990 parecer prometedora paraChipre, o início da década de 1990 viria a ser um período conturbado para a economiacipriota. No espaço temporal de 1990-91, dois acontecimentos (um político e outroeconómico) marcam a impotência económica de Chipre naquele ano (Fig. 2): emprimeiro lugar, a segunda Guerra do Golfo, que acaba por prejudicar a economiacipriota, de entre outros factores, dada a sua localização relativamente próxima doconflito, lesando o sector do turismo (em crescendo de importância para a República deChipre), bem como por reflexo da subida dos preços do petróleo (ainda que não tãoacentuada como nos dias de hoje, acabou por desestabilizar o sistema económico doinício da década de 1990)10; e, em segundo lugar, o anúncio, em Agosto de 1991, doBanco Mundial, de que iria incluir Chipre na lista dos países desenvolvidos, acabando,assim, com a possibilidade de Chipre poder beneficiar de empréstimos para ajuda aodesenvolvimento com taxas mais vantajosas11.

Fig. 2 – Produto Interno Bruto (PIB), a preços constantes, de Chipre, de 1989 a 1993. Fonte: InternationalMonetary Fund, World Economic Outlook Database, October 2007. Gráfico do autor.

Nos dois anos seguintes (1992 e 1993), observam-se resultados completamentedíspares (Fig. 2). Se no primeiro ano existiu uma formidável recuperação económica faceàs dificuldades de 1991, já em 1993 o mesmo não aconteceu, tendo ocorrido mais umaquebra no crescimento económico cipriota. O óptimo resultado de 1992 deve-seessencialmente à incorporação no sistema económico de Chipre do Imposto sobre Valor

9 ROWAN, Paul e ARMSTRONG, Stephen - «Cyprus and the European Union».

10 AAVV – «Cyprus». In The Middle East and North África 2003 – 49th Edition . Londres: Europa Publications,2002. P. 263.11 Ibidem .

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 Acrescentado (IVA)12. Esta decisão veio em consequência de uma previsão de perda dereceitas por parte da economia cipriota em virtude do acordo de união aduaneiracelebrado com a Comunidade Europeia, acabando, por isso, por conseguir, o Estado,obter mais receita para contrabalançar a previsão negativa para a economia de Chipre 13.

 A brusca desaceleração no crescimento económico de Chipre, em 1993, deveu-se,

essencialmente, à recessão europeia da altura, que resultou, de entre outros motivos, dasubida dos preços do petróleo como consequência da segunda Guerra do Golfo (1990-91)14.

Neste período, torna-se importante assinalar que, em virtude do processo decandidatura a adesão à Comunidade Europeia, o Governo cipriota começou a adoptarpolíticas económicas ligadas ao “método europeu” com vista a uma gradual adaptação àspráticas e procedimentos europeus. Exemplo disto mesmo é o início da ligação da moedacipriota 15 ao Mecanismo europeu de Taxas de Câmbio no ano de 1992 16 . Noplaneamento governativo do quadriénio de 1994-98, foram incluídas directrizes nosentido de tornar a economia nacional mais à imagem dos padrões europeus,

principalmente de acordo com os critérios estabelecidos pelo, na altura recente, Tratadode Maastricht, constando dos objectivos do Governo o desenvolvimento tecnológico, areestruturação e modernização da economia, com o objectivo, subentendido, de, comisso, alcançar a estabilidade interna, melhorando também as condições de vida naRepública de Chipre. Durante este período, destaca-se, num contexto de crescendo deimportância de Chipre na economia do seu enquadramento regional, a abertura, em 1996,da bolsa de valores de Nicósia17.

Estatisticamente, há três dados essenciais que servem para mostrar a evoluçãomais ou menos constante de Chipre nas últimas décadas, especialmente neste momento,do final do século XX, escassos anos antes de se vir a tornar membro de pleno direito da

UE. Em primeiro lugar, em termos do crescimento do PIB (Fig. 3), denota-se ocrescimento “costumeiro” de Chipre, que se vinha verificando nos últimos anos,destacando-se, ainda assim, o ano de 1995 como muito positivo, com uma aceleração docrescimento. Esta situação dever-se-á a dois aspectos essenciais: primeiramente, poderáser uma consequência do embargo declarado pela UE à RTNC no ano de 1994,podendo, com isso, ter saído beneficiada a parte sul da ilha de Chipre, através de novasoportunidades de negócio; e, por outro lado, foi em 1995 que as negociações entreChipre e a UE tiveram o seu início oficial, ao mesmo tempo que, desde 1994, a ONUtentava alcançar um acordo entre cipriotas gregos e cipriotas turcos, contando agora, nocontexto das negociações para a adesão cipriota, com o apoio da UE.

12 AAVV – «Cyprus». In The Middle East and North Africa 2004 – 50th Edition . Londres: Europa Publications,2004. P. 264.13 SOLSTEN, Eric – The Government Sector .14 AAVV – «Cyprus». In The Middle East and North Africa 2004 – 50th Edition . Londres: Europa Publications,2004. P. 264.15 Na altura, a Libra cipriota era a moeda em circulação na República de Chipre, que veio, em 2008, a sersubstituída pelo Euro.

16 AAVV – «Cyprus». In The Middle East and North Africa 2004 – 50th Edition . Londres: Europa Publications,2004. P. 264.17 Ibidem .

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Fig. 3 – Produto Interno Bruto (PIB), a preços constantes, de Chipre, de 1994 a 1998. Fonte: InternationalMonetary Fund, World Economic Outlook Database, October 2007. Gráfico do autor.

Em segundo lugar, importa olhar para mais dois dados importantes no contextodo desenvolvimento sócio-económico da República de Chipre: as taxas de desemprego ede inflação. Relativamente à taxa de desemprego de Chipre (Fig. 4), é de assinalar quedurante 15 anos se manteve abaixo dos 4%, num universo de cerca de 500/600 milpessoas, representando um valor bastante baixo em termos populacionais. Destaca-se osentido descendente do final da década de 1980, demonstrando o desenvolvimento daeconomia cipriota, mas também o pico em 1991 devido às dificuldades já relatadas desseperíodo.

Fig. 4 – Taxas de desemprego e de inflação, de Chipre, de 1983 a 1998. Fonte: International Monetary Fund, World Economic Outlook Database, October 2007. Gráfico do autor.

Quanto à taxa de inflação (Fig. 4), nota-se uma variação maior ao longo destesmesmos 15 anos, com destaque para a brusca queda em 1986, que se deveu a umprograma governamental no sentido de ver serem reduzidas as importações, para que odéfice orçamental e a inflação diminuíssem18. Após esse momento denota-se um clarocrescimento progressivo da inflação, atingindo o seu pico no ano de 1992. Estecrescimento deve-se, sobretudo, ao aumento da actividade económica de Chipre nesseperíodo, depois do momento de contenção nas importações. O ano de 1992 representa o

18 AAVV – «Cyprus». In The Middle East and North África 2003 – 49th Edition . Londres: Europa Publications,2002. P. 255.

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pico na inflação cipriota devido, como já foi referido, à introdução do IVA no sistemaeconómico, agravando a subida de preços naquele ano. É também a partir desse ano, eresultante da ligação da Libra cipriota ao sistema monetário europeu que a inflação sofreuma redução progressiva.

Para o período de transição de séculos, o Governo cipriota continuava aestabelecer como prioridade para o desenvolvimento económico a implementação dosprocessos e padrões europeus, com vista à (iminente) adesão à UE. Como tal, para oquadriénio de 1999-2003 almejava-se: atingir o maior crescimento económico possível,mantendo uma estabilidade macroeconómica; a modernização económica do Estado;melhorar a qualidade de vida, alcançando, para Chipre, um estatuto de Estadoimportante nos negócios internacionais 19. Este período mostrava-se, inclusivamente,prometedor para aquilo que haviam sido as aspirações traçadas pelos políticos cipriotas.Com um crescimento do PIB a rondar os 4-5% de 1999 a 2001 (Fig. 5) augurava-se ummomento positivo para os anos seguintes. Contudo, dois acontecimentos no início desteséculo “mancharam”, de alguma forma, este período.

Fig. 5 – Produto Interno Bruto (PIB), a preços constantes, de Chipre, de 1999 a 2003. Fonte: InternationalMonetary Fund, World Economic Outlook Database, October 2007. Gráfico do autor.

Em primeiro lugar, os ataques ao World Trade Center, em Nova Iorque, a 11 deSetembro de 2001, acontecimento que provocou uma quebra nas receitas do turismo e,por isso, acabou por abrandar o ritmo de crescimento de Chipre; e, em segundo lugar, oinício da guerra no Iraque, em 2003, que, por caminhos semelhantes a 2001 (o turismo) e

também pelas repercussões nos preços do petróleo, acabou por prejudicar a economiacipriota (Fig. 5). No entanto, entre estes dois anos, nomeadamente em 2002, Chipre viuser confirmada a sua adesão à UE após aprovação por parte dos Estados-membros noConselho Europeu de Copenhaga (Dezembro de 2002). A adesão viria a ser efectivadaem 2004 juntamente com mais nove Estados, tornando-se no maior processo dealargamento da história da UE.

 A partir de 2004, com a adesão à UE consumada, e até 2008 (altura em que acrise internacional se instalou) é possível observar um progresso económico bastantesatisfatório por parte da economia cipriota (Fig. 6). Destacam-se, naturalmente, doisaspectos fulcrais: em primeiro lugar, que o registo económico de Chipre (em termos de

19 AAVV – «Cyprus». In The Middle East and North Africa 2004 – 50th Edition . Londres: Europa Publications,2004. P. 265.

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PIB) esteve sempre acima da média da UE a 2520, demonstrando, de alguma forma, a boa“saúde” da economia cipriota; e, por outro lado, o destaque recai sobretudo no ano de2008. Foram incluídos nesta parte estatística os dados referentes a 2008 para mostrar queChipre, nesse ano, apesar da queda, conseguiu manter um registo assinalável; para alémdisso, neste espaço temporal de 2004 a 2008, obteve neste último ano o seu melhor

registo, em grande contraste com a média europeia, que, em virtude da crise instaladanesse ano, sofreu uma forte quebra no seu crescimento.

Fig. 6 – Taxa de crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) de Chipre e da União Europeia a 25

Estados-membros, de 2004 a 2008. Fonte: Eurostat. Gráfico do autor.

Num resumo geral daquilo que foi a economia cipriota nas últimas décadas, peloque foi sendo mostrado até aqui, observa-se um crescimento progressivo, conseguindorecuperar satisfatoriamente de certos acontecimentos negativos para o contextoeconómico cipriota. Neste sentido, há mais um dado que se torna fulcral para perceber oquão desenvolvida está a economia de Chipre: a divisão sectorial da economia (sectoresprimário, secundário e terciário). Como já foi referido, tanto neste como no anteriorrelatório, a perda de uma parte considerável de terrenos agrícolas férteis para a parteNorte da ilha de Chipre, proporcionou uma mudança na estrutura económica em Chipre.Os dados disponíveis referentes a este aspecto económico em relação ao período emanálise (1983-2008) não são suficientemente fidedignos, principalmente tendo em contaque apenas a partir de 1995/96 passaram a constar dados de Chipre no Eurostat. Comotal, neste contexto da análise aos sectores económicos, levar-se-ão em conta dadosfornecidos pelo próprio Governo cipriota, num relatório lançado em 2009, deixando,assim, a ressalva para algum espaço de manobra entre os números exactos e os que sãoapresentados.

20 Para efeitos de uma melhor compreensão do contexto económico, partiu-se da relação entre Chipre, osEstados que já faziam parte da UE e os que acompanharam Chipre no alargamento de 2004.

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Fig. 7 – Distribuição do PIB (a preços correntes) por sector de actividade económica – 200921

. Fonte:Statistical Service of Cyprus.

 Através de uma rápida análise à importância dos sectores na economia de Chipre(Fig. 7), facilmente se perceberá a clara predominância, actual, do sector terciário (aquirepresentado por áreas como o comércio, a hotelaria, os transportes, o sector imobiliário,etc.), confirmando a dinâmica de transição de economia em desenvolvimento verificadaaté à década de 1980. Em suma, a economia de Chipre, desde a declaração deindependência da República Turca do Norte de Chipre, em 1983, atravessou umcaminho de crescimento, com alguns sobressaltos, mas sempre conseguindo ultrapassaros momentos de maior dificuldade, obtendo registos económicos assinaláveis nocontexto europeu. Numa perspectiva mais localizada, poder-se-á afirmar que, dos 10Estados que aderiram em 2004 à UE, Chipre pode mesmo, neste momento, serconsiderado se não mesmo o mais bem sucedido, certamente um dos mais bemsucedidos.

3.  A República Turca do Norte de Chipre – de 1983 aos anos 2000

Em absoluto contraste com os registos económicos da República de Chipre, aRTNC não conseguiu sobrepor-se às dificuldades que lhe foram sendo apresentadas aolongo das últimas décadas. Analisar a economia da RTNC não é tarefa fácil, mas nestecontexto, de um relatório referente à economia de Chipre, importa referir ambas as

zonas da ilha de forma a perceber as desigualdades existentes, já que, não sendo umproblema resolvido, e estando constantemente em cima da mesa nas discussões dentroda UE (até mesmo por influência do processo de integração da Turquia), é prementeanalisar deste modo por existir permanentemente a possibilidade de as duas zonasalcançarem um acordo de unificação22. Torna-se, contudo, difícil fazer uma análise maisdetalhada em termos estatísticos devido à ausência de dados relativos à RTNC em bases

21 Relatório disponível em:http://www.mof.gov.cy/mof/cystat/statistics.nsf/All/8BF6A12A299484E4C2257712003C1BDF/$file/NATIONAL_ECONOMIC_ACCOUNTS-prov2009.pdf?OpenElement . Consultado em 6 de Janeiro de2011.22 No momento da adesão de Chipre à UE, foi tentado o estabelecimento de uma federação entre a RTNC

e o Estado da comunidade grega de Chipre. Esta tentativa foi sujeita a referendo, sendo aprovada peloscipriotas turcos e rejeitada pelos cipriotas gregos. Fonte: VALÉRIO, Nuno - «Alargamentos da UniãoEuropeia». In História da União Europeia . Lisboa: Editorial Presença, 2010. Pp. 133-136.

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de dados como o Eurostat, por exemplo. Em relação a este momento do relatório, será,portanto, feita uma análise mais generalizada, tentando utilizar alguns dados oficiais dasautoridades da RTNC, sempre com a ressalva de não serem os mais fidedignos.

Desde 1974 (momento da invasão Turca) que a economia da parte Norte deChipre não conseguiu alcançar um progresso tão grande como aquele que foi sendoconseguido pela parte Sul, isto apesar de ao longo das últimas décadas terem existidoprogramas extensivos de desenvolvimento. O maior problema para o Norte de Chipreera, porém, o facto de a Turquia ser o único Estado com quem se relacionavam. Estarelação reflectiu-se, ao princípio, através da invasão, e mais tarde, a partir de 1983, com a

 Turquia a ser o único Estado a reconhecer a independência da RTNC. Ora, isto significaque os tais programas de desenvolvimento assentavam, sobretudo, na ideia de atingirempatamares aceitáveis de desenvolvimento através da ajuda externa da Turquia23.

 A partir de 1978, o grande objectivo das autoridades responsáveis pela parteNorte da ilha de Chipre (neste ano ainda não tinha sido declarada a independência)focava-se em alcançar a mais alta taxa de crescimento económico possível, mantendo

uma economia estável, apostando essencialmente nas áreas do turismo e da indústria. Oano de 1987 marca, ainda assim, um momento de viragem nas pretensõesgovernamentais para a economia da parte Norte da ilha, com a prioridade a assentar nodesenvolvimento do sector terciário24. No espaço temporal de 1978 a 1987 foramimplementados dois planos quinquenais com o objectivo de desenvolver um crescimentoplaneado, tentando alcançar avanços satisfatórios na situação económica da RTNC. Asautoridades cipriotas turcas chegam mesmo a avançar com dados relativos a umcrescimento, entre 1977 e 1992, na casa dos 87%, em termos de Produto Nacional Bruto.Esta informação não é, no entanto, fiável, já que nem cipriotas gregos nem outroselementos externos reconhecem os números apresentados pelas autoridades da RTNCcomo sendo factuais25.

Na transição da década de 1980 para a de 1990, entre 1988 e 1992, éimplementado um terceiro plano de crescimento, traçado com o objectivo de alcançarum crescimento anual na casa dos 7% 26. Contudo, dois acontecimentos marcaramsignificativamente um resultado abaixo dessas expectativas. Tal como no caso daRepública de Chipre, a RTNC foi afectada pela Guerra do Golfo (1990-91), não só pelasconsequências da subida dos preços do petróleo (que mesmo não tendo afectadodirectamente a economia cipriota turca, afectaram a economia da Turquia, da qual aRTNC está directamente dependente), mas também pelo prejuízo provocado no sectordo turismo por haver uma guerra na região. Em Agosto de 1990, a economia da RTNCsofre um choque ainda maior pelas suas repercussões internas: a Polly Peck International,um conglomerado de empresas ligado a vários sectores (considerados vitais para a

economia cipriota turca), como o turismo, por exemplo, abre falência. Ora, estacompanhia, apesar de sediada no Reino Unido, afecta directa e gravemente a economiada RTNC porque era responsável por cerca de um terço do seu PIB, bem como porcerca de 60% das suas exportações27.

23 A ajuda externa fornecida pela República da Turquia, chegou, alegadamente, a representar cerca de 20%do orçamento da RTNC. O custo para a Turquia de manter as suas forças armadas no território do Nortede Chipre, juntamente com o apoio dado à sua economia, tinha atingido, em 2001 (após 27 anos deocupação) um valor a rondar os 50 mil milhões de dólares.24 AAVV – «Cyprus». In The Middle East and North África 2003 – 49th Edition . Londres: Europa Publications,2002. P. 257.

25 Ibidem .26 Ibidem .27 Ibidem .

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 Ainda no início da década de 1990, a Turquia e a RTNC assinaram acordos que visavam uma eventual substituição da Lira Turca (moeda em circulação no Norte deChipre) por uma moeda local, sob influência do banco central turco. Estava também emdiscussão o estabelecimento de uma união aduaneira entre as duas partes, mas os avançosnesta área eram escassos e o processo decorria lentamente. A respeito do período entre

1992 e 200028

, há um momento importantíssimo a destacar. De certa forma, os dadosencontrados (Fig. 8) ilustram que esse momento terá provocado consequências sérias naeconomia da RTNC, mas, como já foi dito, sendo os dados obtidos junto das autoridadescipriotas turcas, os números não serão os mais fiáveis. O acontecimento de que se fala éo embargo declarado pelo Tribunal de Justiça da UE, a propósito do processo da Polly Peck International. Isto porque o líder dessa companhia (sediada no Reino Unido) eraoriginário do Norte de Chipre e, em consequência, do procedimento jurídico-legal,muitas foram as disputas, num processo complexo, para recuperar algumas propriedadesque pertenciam à companhia, mas que ao mesmo tempo estariam a ser disputadas pelasautoridades cipriotas gregas, afirmando que as mesmas haviam sido expropriadas decidadãos cipriotas gregos aquando da invasão em 1974. É então, que em Julho de 1994 o

 Tribunal de Justiça da UE determina que os seus Estados-membros estariam banidos deimportar bens originários da RTNC29.

Fig. 8 – Crescimento anual do Produto Nacional Bruto da República Turca do Norte de Chipre de 1992 a1999. Fonte: The Middle East and North África 2003 – 49th Edition  (v. Bibliografia). Gráfico do autor.

Olhando para dados referentes às taxas de inflação e desemprego (Fig. 9), épossível observar uma gigantesca inflação desde 1980 (93%)30 até 2002, sendo este umano em que, comparativamente com o passado, a inflação atingiu valores mínimos. Maisuma vez, surge com maior destaque o ano de 1994, que por consequência do embargo,provocou um momento de inflação acima dos 200%, coincidindo com um dos últimosanos em que a taxa de desemprego se manteve abaixo do 1%. Neste contexto, destacam-se os baixos números de desemprego. A título de exemplo, no ano de 1995, com a taxade desemprego a situar-se nos 0,7%, em termos absolutos, coincidia com um número arondar as 700 pessoas desempregadas, num universo de pouco mais de 70 mil.

28 Os dados estatísticos referentes ao Produto Nacional Bruto da RTNC, aos quais o autor deste trabalhoteve acesso, não estão suficientemente completos, principalmente em relação a alguns anos em específico,sendo no caso da Fig. 8 os anos de 1995 e 1996.29 AAVV – «Cyprus». In The Middle East and North África 2003 – 49th Edition . Londres: Europa Publications,

2002. P. 257.30 North Cyprus –  Economic Developments in North Cyprus . [Consultado em: 10 de Janeiro de 2011].Disponível em: http://www.cypnet.co.uk/ncyprus/n-economy.htm .

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Fig. 9 – Taxas de inflação e desemprego da República Turca do Norte de Chipre de 1990 a 2002. Fontes:The Middle East and North África 2003 – 49th Edition  (v. Bibliografia) e Economic Developments in North Cyprus  

(v. Bibliografia). Grafismo do autor.

Em 2000, é anunciado pelo Ministro das Finanças Turco o estabelecimento deuma taxa de câmbio fixa entre a Lira Turca e a Libra Cipriota (algo que não aconteciadesde 1974), com o objectivo de desencorajar os cipriotas turcos a trocar moeda nomercado negro. A crise financeira na Turquia, em 2001, que provocou umadesvalorização em 30% da Lira Turca afectou directamente a RTNC, resultando numasubida da inflação (Fig. 9) e no incumprimento de salários e pensões, acontecimentos queprovocaram tumultos e levaram a oposição a afirmar perante o Governo que o melhorcaminho para a economia cipriota turca era o fim da dependência em relação à Turquia.Esta crise favoreceu, por consequência, a aproximação por parte da população à “causaeuropeia”. Um novo governo, empossado em 2001, traçou como objectivo aimplementação de políticas de mercado livre, perseguindo também o objectivo de criaruma zona económica conjunta com a Turquia. Estando o sector do turismo emcrescimento no Norte de Chipre, o levantamento de restrições em relação à circulação depessoas por toda a ilha de Chipre a partir de Abril de 2003, trouxe benefíciossignificativos para a zona Norte, fazendo com que muitos turistas, ainda que hospedadosna zona Sul, passassem a ter a oportunidade de visitar a zona dos cipriotas turcos31.

Em relação aos últimos anos em véspera de crise (2008), nota-se na economia daRTNC uma estabilização principalmente ao nível dos preços (Fig. 11), em virtude dofortalecimento da sua moeda aquando do estabelecimento de uma taxa de câmbio fixaentre as moedas das duas partes de Chipre. A partir de 2004 é possível observar uma

tendência de quebra no crescimento económico do Norte de Chipre, exemplificado,principalmente pelos números correspondentes ao ano de 2008. Este início de quebra,mesmo antes da crise internacional se instalar, poderá dever-se à entrada da República deChipre na UE em 2004 e hipotéticas consequências nefastas para a economia do Norte(Fig. 10). Em relação à abrupta queda no ano de 2007, a explicação reside no facto de em2007 ter havido uma valorização da moeda turca, provocando uma subida nas taxas dejuro, prejudicando o consumo dentro da RTNC32.

Fig. 10 – Crescimento anual do Produto Nacional Bruto da República Turca do Norte de Chipre de 2001 a2008. Fonte: State Planning Organization Follow Up and Coordination Department –  Economic and Social 

Indicators, 2008 . Gráfico do autor.

31 AAVV – «Cyprus». In The Middle East and North Africa 2004 – 50th Edition . Londres: Europa Publications,

2004. P. 267.32 State Planning Organization Follow Up and Coordination Department –  Macroeconomic developments – 2008 .

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Por outro lado, em relação aos dados referentes às taxas de inflação edesemprego (Fig. 11), há a destacar os sentidos inversos em que ambas se têm dirigido,quando comparadas com aquilo que havia sido costume das últimas décadas. Não sendouma informação verdadeiramente fiável já que foram vários os valores encontrados arespeito da taxa de desemprego neste último período, destaca-se, naturalmente, a súbita

subida da mesma. Não tendo encontrado suficientes razões que expliquem estesnúmeros, realce-se a contemporaneidade com o momento em que foi declarada apossibilidade de deslocação livre entre as zonas Norte e Sul de Chipre (2003), podendoter influenciado amplamente nestes números. A respeito da taxa de inflação e da fortequebra, crê-se que este facto será uma consequência progressiva da ligação à moeda da

 Turquia (que, como já foi referido, sofreu uma forte valorização neste período), bemcomo da taxa de câmbio fixa entre as moedas cipriota turca e cipriota grega.

Fig. 11 – Taxas de inflação e de desemprego da República Turca do Norte de Chipre de 2001 a 2008.Fonte: State Planning Organization Follow Up and Coordination Department –  Economic and Social 

Indicators, 2008 . Gráfico do autor.

Em suma, o fosso entre Norte e Sul de Chipre continua a ser bastante grande emarcado, devendo-se isto a vários factores, tais como o não reconhecimento do Norte deChipre enquanto Estado, de forma generalizada, o consequente isolamento económico, eas limitações à capacidade de se projectar a nível comercial internacionalmente, saindoainda prejudicado na sua relação com o meio geográfico mais próximo, a Europa, dadasas dificuldades em negociar comercialmente com a UE desde 1994. Outro aspecto asalientar, é o facto de, ainda que se trate de uma economia de mercado, é o Estado queassume quase total preponderância na economia cipriota turca. Também a grandedependência (em termos comerciais e monetários) vai servindo de entrave ao

desenvolvimento do Norte de Chipre

33

.

4.  O momento pós-crise internacional de 2008

Na chegada à recta final da primeira década do século XXI, a República deChipre e a RTNC situavam-se, economicamente falando, em pontos praticamenteantagónicos. Chipre como membro de pleno direito da UE desde 200434 e tendo aderido

33 NOË, Willem e WATSON, Max – «Convergence and Reunification in Cyprus: Scope for a VirtuousCircle». In ECFIN Country Focus . Bruxelas. Vol. 2, N.º 3, Fevereiro de 2005.34 Importa referir que no contexto da adesão de Chipre à UE, esta República não conseguiu reunir força

política suficiente para ultrapassar o obstáculo que é a divisão da ilha em duas partes por forma a poderfazer parte do espaço Schengen, pelo que, apesar da pertença à UE, este é um aspecto ainda não alcançadoe que está algo pendente de uma possível resolução do problema da divisão da ilha.

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ao Euro em 2008, com uma economia estável, em crescimento constante há décadas, edesenvolvida, com o seu sector terciário a dominar por completo, com óbvio destaquepara o sector do turismo, encontrava-se, portanto, numa situação económica invejávelnas vésperas do eclodir da crise económico-financeira de 2008. Por outro lado, a RTNCdeparava-se com sérias dificuldades para se desenvolver economicamente, podendo ser

explicadas estas mesmas dificuldades pelo facto de ser um Estado com umreconhecimento internacional quase nulo, implicando um número de relaçõeseconómicas directas restrito à união com a Turquia e limitado àquilo que consegueescoar da sua produção através desse mesmo Estado.

O ano de 2008 fica marcado como o ano em que «a maior crise de Wall Streetdesde a Grande Depressão»35 irrompeu. No Outono desse ano, a bolha de especulaçãode crédito no sector imobiliário rebentou e provocou a derrocada de alguns dos maioresbancos norte-americanos, afectando as economias do resto do mundo. Assim quemilhares de milhões de dólares depositados em investimentos relacionados comhipotecas começaram a dar mal resultado, grandes bancos de investimento norte-americanos começaram a “abalar” as suas fundações, acabando por se extinguir ou por sereinventarem noutro tipo de instituições bancárias 36 . Apesar da intervenção da

 Administração norte-americana (liderada por Barack Obama) ter travado a derrocadageral do sistema financeiro, ao ter criado um plano de resgate financeiro estimado emcerca de 700 mil milhões de dólares, os danos estavam causados e o problema financeiroalastrou-se para outras partes do mundo, “afundando” bancos na Europa e levandoEstados como a Islândia ou o Paquistão a verem-se obrigados a recorrer a ajudafinanceira internacional37. Em poucas palavras, «um círculo vicioso de aperto de crédito,procura reduzida e um rápido corte no emprego tomou conta e o mundo caiu numarecessão»38.

 Ainda que em 2009 se tenha tido uma vaga ideia de que a crise poderia estar

prestes a terminar com, por exemplo, alguns bancos a apresentarem lucros e aesmagadora maioria a ter pagado a sua parte no processo de resgate, o ano de 2010 trazuma nova força à crise, afectando sobretudo alguns Estados europeus. Os números dadívida pública da Grécia abalaram o mundo económico-financeiro, tendo este momentoaberto as portas ao conhecimento de outros Estados em situações semelhantes, comoPortugal, Espanha, Irlanda e Itália, por exemplo, acentuando as diferenças entre osEstados pertencentes à UE39.

O alastramento da crise a outros cenários que não o norte-americano deve-se àforma como o Euro se apresentava (moeda bastante forte, concorrente do dólar) antesda crise de 2008, com taxas de juro baixas na última década, fomentando os processos deempréstimo por parte de economias como a grega. Contudo, com o “preço do dinheiro”

tão apetecível, alguns Estados foram acumulando altos valores de dívida, fazendo comque, aquando do momento do pagamento, consequente da crise, se tenham visto emgraves dificuldades para resolver a dívida40. Este problema ainda se mantém e está emaberto a possibilidade de Estados como Portugal e Espanha, após a Irlanda e a Grécia já

35 Tradução livre: «Wall Street’s biggest crisis since the Great Depression» in «Credit Crisis – TheEssentials». In New York Times . [Consultado em: 17 de Janeiro de 2011]. Disponível em:http://topics.nytimes.com/top/reference/timestopics/subjects/c/credit_crisis/index.html .36 «Credit Crisis – The Essentials». In New York Times . [Consultado em: 17 de Janeiro de 2011]. Disponívelem: http://topics.nytimes.com/top/reference/timestopics/subjects/c/credit_crisis/index.html .37 Ibidem .

38 Ibidem .39 Ibidem .40 Ibidem .

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o terem feito, requererem apoios financeiros internacionais. É, portanto, numaconjuntura altamente desfavorável para uma parte das economias da zona Euro, que seirão analisar alguns dados sobre as economias da República de Chipre e da RTNC.

4.1. Os efeitos da crise na República de Chipre À República de Chipre, a crise de 2008 acabou por “chegar” apenas no ano de

2009. É, portanto, com algum atraso relativamente aos impactos nas economias da zonaEuro que Chipre está a ser afectado pela crise. Tal como havia e vem sendo identificadoneste relatório, a economia de Chipre passava por uma fase bastante positiva no seucrescimento, mantendo-se num nível acima da média europeia, o mesmo acontecendoaté ao ano de 2009 (Fig. 12). É nesse ano que a crise acaba por atingir a República deChipre, mantendo-se, ainda que em zona negativa, acima da média europeia. O mesmo jánão acontece relativamente a 2010, ficando aquém dos restantes parceiros europeus.

Este “atraso” deveu-se, essencialmente, ao facto de o sector bancário cipriota

grego não ter entrado no “jogo” dos complexos produtos financeiros que provocaram aderrocada de um número considerável de bancos pelo mundo inteiro. Contudo, osefeitos generalizados da crise, ao terem provocado uma desaceleração da economiamundial afectaram a economia de Chipre, especialmente nos sectores do turismo e daconstrução (este último directamente relacionado com o sector imobiliário, que haviaestado no epicentro dos primeiros momentos da crise). É então num momento em queos seus parceiros europeus começam a recuperação financeira que Chipre atingenúmeros que demonstram os efeitos da crise mundial, adiando uma possível recuperaçãoa par dos restantes Estados da UE41.

Fig. 12 – Taxa de crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) de Chipre, da União Europeia a 25 e a27 Estados-membros e da Zona Euro, de 2006 a 2010. Fonte: Eurostat. Gráfico do autor.

Um dos aspectos que mais são realçados pelo FMI42 no contexto dos impactos dacrise em Chipre é a ligação próxima da economia cipriota grega à debilitada economiagrega, já que os bancos comerciais cipriotas detêm uma quantidade considerável dadívida pública grega e também dos bancos gregos (5,5 mil milhões de euros e 0,5 mil

41 Fundo Monetário Internacional – Cyprus: 2010 Article IV Consultation—Staff Report; Staff Statement; Public Information Notice on the Executive Board Discussion; and Statement by the Executive . [Consultado em: 18 de Janeiro

de 2011]. Disponível em: http://www.imf.org/external/pubs/ft/scr/2010/cr10291.pdf . P. 3.42 Fundo Monetário Internacional – Cyprus: Selected Issues . [Consultado em: 18 de Janeiro de 2011].Disponível em: http://www.imf.org/external/pubs/ft/scr/2010/cr10289.pdf . P. 5.

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milhões de euros, respectivamente), e também por estes bancos estarem envolvidos emempréstimos a empresas gregas. Segundo o FMI, a perda potencial nesta relação estáestimada na ordem dos 2 mil milhões de euros em 2013-14, o equivalente a cerca de 12%do PIB43.

Há um outro aspecto importante a realçar, que é o facto de a economia cipriotasofrer de um problema “crónico”: uma balança comercial negativa desde 1995 (Fig. 13),o que sugere uma fraca competitividade. Ainda que o seu impacto na estabilidademacroeconómica seja reduzido desde o momento em que Chipre adoptou o Euro, osdéfices sucessivos na balança comercial indicam um problema estrutural44. Este pontopode eventualmente ser explicado pela elevada aposta e importância do sector doturismo na economia de Chipre, bem como pelo sector da agricultura ser diminuto, emparte resultante da divisão da ilha em duas zonas, acabando por não fomentar umabalança comercial positiva.

Fig. 13 – Balança comercial de bens e serviços da República de Chipre entre 1995 e 2009. Fonte: Eurostat.Gráfico do autor.

Na linha da fraca competitividade, o mesmo relatório do FMI que aponta osproblemas acima citados, indica que a produtividade da mão-de-obra cresceuligeiramente mais rápido que a da zona Euro na última década45, enfrentando, contudo,uma mais acelerada subida dos preços e dos salários. Importa, neste momento, abordaras questões relacionadas com o desemprego e a inflação e a forma como foram afectadospela crise. É possível observar (Fig. 14) que ambos os dados registam valoresrelativamente baixos nos últimos anos, destacando-se, como consequência da crise, ainstabilidade nos preços, com uma súbita subida em 2008 e uma abrupta queda em 2009,

 voltando a sofrer um aumento no ano de 2010, regressando aos valores que se vinhamregistando nos últimos anos. Quanto ao desemprego, que vinha em sentido decrescenteaté 2008, acabou por sofrer um pico em 2009, também como consequência da crise, dasubida dos preços e de uma subida generalizada dos salários. Aliando a subida dossalários, com a subida dos preços e uma fraca competitividade, acaba por se verificar umabaixa produtividade46.

43 Fundo Monetário Internacional – Cyprus: Selected Issues . Op. cit .. P. 5.44 Ibidem . P. 13.

45 Estatísticas referentes à produtividade, apontadas pelo FMI, podem ser consultadas no relatório citado,referido na Bibliografia deste relatório.46 Fundo Monetário Internacional – Cyprus: Selected Issues . Op. cit .. P. 23.

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Fig. 14 – Taxas de inflação e desemprego na República de Chipre, entre 2005 e 2010 (a informaçãocorrespondente ao desemprego apenas consta até 2009). Fonte: Eurostat. Gráfico do autor.

Em termos de real impacto na economia cipriota, é perfeitamente observável queos efeitos da crise fizeram e fazem-se sentir, mas por ser um Estado pequeno, um poucoà margem de toda a especulação que provocou o rebentamento da “bolha” em 2008,acaba por sentir esses mesmos efeitos como danos colaterais dos efeitos de umaeconomia globalizada, havendo um maior perigo perante uma possível derrocadaeconómico-financeira do Estado Grego, que apesar dos apoios dados pela UE e peloFMI ainda não tem a estabilidade assegurada. Como apontado anteriormente, há umaspecto que pode eventualmente ser mais problemático ao nível interno, o défice dabalança comercial, um problema estrutural solucionável através do aumento dacompetitividade e das exportações. Como tal, e num nível político, as negociações entrenorte e sul de Chipre não conhecem um momento de pausa completa, havendo sempre

em cima da mesa a possibilidade de encontrar uma solução viável para ambas as partes,podendo a reunião dos territórios ser uma hipótese para este problema económico doSul de Chipre, deixando em aberto a solução para as dificuldades apresentadas pelaRTNC.

4.2. Os efeitos da crise na RTNC

Na linha das dificuldades sentidas pelo autor ao longo deste relatório paracaracterizar, fundamentadamente com números credíveis e fiáveis, a economia da zonaNorte de Chipre, é praticamente um estoicismo abordar os efeitos da crise de 2008 naRTNC. Isto porque, se até aqui as informações não sendo abundantes, e estando

directamente ligadas às fontes oficiais da autoridade que lidera a RTNC, neste momentoa origem das informações e dados mantém-se, sendo bastante limitada. Mantendo-seainda à margem de qualquer processo de integração europeia, sabe-se que a RTNCrecebeu apoio por parte da UE para estimular e desenvolver a sua economia nos últimosanos. Contudo, a ligação umbilical que preserva e que a sustenta com a Turquia acabapor ser um elo de ligação pernicioso, já que, por um lado, é um grande apoio para a suaeconomia, já que não é um Estado globalmente reconhecido e por isso enfrentagravíssimas dificuldades e obstáculos para conseguir negociar economicamente comoutros elementos do sistema, porém, por outro, é praticamente o único elemento deligação, estando sujeito a possíveis variações nas performances económicas turcas.

Em termos objectivos, é possível identificar, tendo em conta a limitação nosdados disponíveis, que a crise também chegou ao Norte de Chipre. Através de umarápida análise aos dados fornecidos pela State Planning Organization (Anexo A)

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referentes à taxa de crescimento real do Produto Nacional Bruto é verificável umdecrescimento económico no ano de 2008, sendo agravado no ano de 2009. A queda em2008 deveu-se, sobretudo, às brutais quedas nos sectores da agricultura e da indústria,com registos a rondar os 18% e os 10% negativos, respectivamente. Embora estes doissectores tenham recuperado ligeiramente em 2009 (a agricultura voltou aos registos

positivos com 8,8%, mas a indústria manteve-se nos registos negativos, com -6,5%), ossectores da construção e do turismo acabaram por afundar mais a taxa de crescimentoreal da RTNC.

 Assim como aconteceu com Chipre, o reflexo da subida generalizada dos preçosafectou indirectamente a RTNC através da quebra económica em sectores fundamentaisda economia cipriota turca. Em termos de perspectivas futuras para esta economia, adúvida reside em dois aspectos essenciais: a continuação da relação umbilical com a

 Turquia, assentando uma grande parte do seu funcionamento económico no apoio turco;ou, num plano mais utópico, a resolução, a médio-prazo, da divisão da ilha, promovendouma forma equitativa e pensada de reunir as duas economias, supondo eventualmente oapoio dado pela UE para o desenvolvimento do Norte de Chipre, no âmbito dos planosde convergência económica para as zonas mais desenvolvidas.

 Ao mesmo tempo que esta questão de uma hipotética reunificação possa ser vistacomo podendo esbarrar no processo de adesão da Turquia, essa situação pode funcionarno sentido diametralmente oposto, isto porque, em primeiro lugar, o processo de adesãoda Turquia implica, naturalmente, o apoio económico e político por parte da UE para odesenvolvimento da própria Turquia, o que poderá funcionar como catalisador para ummaior apoio ao desenvolvimento da RTNC; e, em segundo lugar, a aproximação entre

 Turquia e UE deverá ajudar a reduzir a animosidade entre as partes em litígio na ilha deChipre.

5.  Conclusões

Partindo da análise a um período um pouco mais alargado do que será o maiscomum quando analisada a maioria dos Estados-membros da UE, importa estabelecerestes momentos temporais pela pertinência em relação ao Estado em específico. Aparticularidade da ilha de Chipre dá-nos dois Estados, um deles membro de pleno direitoda UE, o outro sem ser reconhecido pela esmagadora maioria dos Estados do mundointeiro; dá-nos dois Estados que passaram nas últimas três décadas por vários processosde tentativa de resolução da divisão; e, por fim, dá-nos dois Estados com característicaspraticamente opostas, com níveis de desenvolvimento económico, social e políticocompletamente antagónicos.

É neste contexto que, como se viu neste relatório, a economia de Chipre seapresentou como uma das mais promissoras dentro do espaço da UE e, talvez, a maisdesenvolvida e capacitada daquelas que constituíram os últimos dois momentos deadesão à UE (2004 e 2007). A título de exemplo, a economia de Chipre chega mesmo asuperar as médias europeias a vários níveis, demonstrando uma força económicaassinalável. Por outro lado, a economia da RTNC apresenta-se como muito poucodesenvolvida, não sendo generalizadamente analisada por actores externos, no âmbitoeconómico, pela falta de reconhecimento deste território como Estado independente. Éeste um dos aspectos essenciais para que a economia da RTNC se situe num estado dedesenvolvimento tão baixo, o não reconhecimento generalizado torna praticamente

impossível para os cipriotas turcos negociar com outros actores da cena internacional,que não a Turquia, Estado com o qual mantêm uma ligação quase paternalista.

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 A crise de 2008 veio pôr a descoberto os maiores defeitos da desregulação dosistema financeiro mundial, e, com isso, afectou, de forma globalizada, as economias detodo o mundo, colocando em evidência algumas das maiores dificuldades por que algunsEstados passam e/ou passarão nos próximos anos. Quanto a Chipre, a crise veio trazerefeitos negativos para o seu crescimento económico, mas sem que com isso tenha

provocado um momento tão mau como aconteceu com outros Estados europeus,mantendo-se mesmo a um nível bastante aceitável tendo em conta a média europeia. Apresentam-se, ainda assim, duas ressalvas: a ligação económica à Grécia pode vir atrazer problemas para Chipre caso a recuperação económica grega não se concretize, e oproblema crónico do défice na balança comercial pode ser nefasto a médio-prazo, peloque deve fazer parte das pretensões cipriotas o incremento de uma transformaçãoestrutural na sua economia com vista a um aumento das suas exportações.

Em relação à RTNC, como foi visto, torna-se difícil analisar os efeitos da crise.Contudo, de acordo com os dados disponíveis é possível observar que esta crise mundialde 2008 terá causado efeitos absolutamente devastadores para a economia cipriota turca

 – será necessário não olvidar que os dados analisados são oficiais das autoridadescipriotas turcas, pelo que a fiabilidade não é a maior – com os valores referentes aoProduto Nacional Bruto a mostrarem-se desoladores, com taxas de crescimentonegativas, e quedas brutais em sectores estruturais como a agricultura ou o turismo. Emrelação ao futuro para a economia da RTNC, as melhores indicações que poderão,eventualmente, ser consagradas estão, inevitavelmente, ligadas ao processo de reunião deambas as partes da ilha, deixando antever um futuro mais risonho para a economiacipriota turca no caso de uma união económica com a zona Sul de Chipre, beneficiandotambém dos planos de convergência económica estabelecidos pela UE.

De forma conclusiva, passa-se a citar Noë e Watson, que apontam como areunificação das duas zonas da ilha de Chipre poderá levar ao desenvolvimento de Norte

e Sul:Economic convergence and reunification in Cyprus hold great promise

from an economic as well as a political standpoint. This is a process that shouldunlock sustained ancommunities. Putting convergence centre-stage, with itspromise of mutual gains in both communities, could help move the dynamics of discussion away from downside risks and a zero-sum psychology. This is ademanding agenda, requiring careful preparation to craft workable solutions andset the stage for strong and sustained growth. If achieved, however, it promisesto bridge gaps in understanding and foster a shared economic vision, bringing afinal settlement of the Cyprus problem closer.47 

47 NOË, Willem e WATSON, Max. Op. cit ..

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6.  Bibliografia

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7.  Anexos

 Anexo A