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A Doutrina da Mortificação A. W. Pink (1886-1952) Traduzido, Adaptado e Editado por Silvio Dutra Ago/2017

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A Doutrina da Mortificação

A. W. Pink (1886-1952)

Traduzido, Adaptado e

Editado por Silvio Dutra

Ago/2017

2

P655

Pink, A. W. – 1886 -1952

A doutrina da mortificação – A. W. Pink

Tradução , adaptação e edição por Silvio Dutra – Rio de

Janeiro, 2017.

42p.; 14,8 x 21cm

1. Teologia. 2. Vida Cristã 3. Graça 4. Fé. 5.Santificação

6. Alves,

Silvio Dutra I. Título

CDD 230

3

Introdução pelo Tradutor

O que possuíam em comum todos os puritanos

históricos que viveram entre os séculos XVI e

XVIII, e depois deles Jonathan Edwards, John

Wesley, George Whitefield, Charles Haddon

Spurgeon, e muitos outros? É fácil responder: a

verdadeira nobreza do real caráter cristão que

consiste em várias coisas, e dentre as quais

destacamos:

- Uma verdadeira busca do real poder da graça de

Deus para mortificarem todos os seus pecados, a

partir da fonte dos mesmos, a saber, da sua

natureza terrena decaída em razão do pecado

original.

- A citada mortificação tinha em vista possibilitar

o êxito em todo o empenho deles em se revestirem

de todas as virtudes de Cristo, especialmente

marcadas por:

a) uma devoção completa à vontade de Deus

sobretudo para ser obedecida e praticada nos

deveres da vida cotidiana.

b) uma honestidade e sinceridade absolutas.

c) uma virilidade no trato pessoal que excluía

todos os tipos de trejeitos, exasperações,

4

covardias, conversações vãs, maledicências, iras,

porfias, chocarrices, duplicidade, infâmia, e tudo

o que fosse contrário à paz e à seriedade no viver.

d) um amor absoluto e incondicional à verdade,

tal como se encontra revelada nas Escrituras, para

ser praticada na vida, a que custo fosse.

e) um profundo interesse no progresso do Reino

de Cristo, sobretudo no que se refere à conquista

e edificação de almas, em cumprimento à Sua

comissão de se fazer discípulos em todas as

nações.

f) uma dedicação real à prática da oração, da

vigilância e da meditação e prática da Palavra de

Deus.

g) o cultivo de uma linguagem sã e irrepreensível

que glorifique a Deus.

h) tudo fazer não em interesse próprio mas para o

de Deus e para a Sua exclusiva glória.

i) estarem dispostos a renunciar a tudo, inclusive

aos afetos mais queridos, quando estes se

interpõem entre eles e a vontade de Deus.

j) rejeitarem toda a forma de mal, inclusive a

própria aparência do mal, e sempre vencer o mal

com o bem.

5

l) tudo fazer movidos pelo amor a Deus e ao

próximo, estando dispostos a suportar ofensas e

perseguições, e a perdoar setenta vezes sete,

abençoando e nunca maldizendo, a ponto de amar

inclusive seus inimigos.

Muitas outras coisas podem ser acrescentadas à

lista, mas, por estas poucas é possível entender por

que muitos não têm o mínimo interesse em se

tornarem cristãos, mas todos quantos têm se

disposto a isto, têm recebido da parte de Deus o

Seu bem-vindo à verdadeira nobreza.

6

"Porque se viverdes segundo a carne, haveis de

morrer; mas, se pelo Espírito mortificardes as

obras do corpo, vivereis." (Romanos 8:13)

O termo "doutrina" tem um significado muito

mais amplo na Palavra de Deus do que geralmente

é concebido hoje. Inclui muito mais do que os

"cinco pontos" do calvinismo. Assim lemos sobre

"a doutrina que é de acordo com a piedade" (1

Timóteo 6: 3), que é muito mais do que uma

espécie de proposição intelectual destinada a

instruir nossos cérebros, a saber, a enunciação de

fatos espirituais e princípios sagrados, para o

aquecimento do coração e para a regulação de

nossas vidas.

"A doutrina que é de acordo com a piedade"

define de uma só vez a natureza da doutrina

divina, insinuando como faz que seu desígnio ou

fim seja inculcar uma disposição correta de mente

e despertamento para a vida de Deus: é pura e

purificadora. Os objetos que são revelados à fé

não são abstrações nuas que devem ser aceitas

como conceitos verdadeiros, nem mesmo

sublimes e elevados, a serem admirados - que

tenham um efeito poderoso em nossa caminhada

diária. Não há doutrina revelada nas Escrituras

para um conhecimento meramente especulativo,

mas tudo tem em vista exercer uma poderosa

7

influência sobre a conduta. O propósito de Deus

em tudo o que Ele nos revelou, é a purificação de

nossas afeições e a transformação de nossos

caracteres. A doutrina da graça nos ensina a negar

à impiedade e às concupiscências mundanas e a

viver com sobriedade, justiça e piedade neste

mundo presente (Tito 2:11, 12). De longe, a maior

parte da doutrina (João 7:16) ensinada por Cristo

não consistia na explicação de mistérios, mas sim

naquilo que corrigia os desejos dos homens e

reformava suas vidas. Tudo na Escritura tem em

vista a promoção da santidade.

Se é um absurdo afirmar que não importa o que

um homem acredita enquanto ele faz o que é certo,

igualmente errôneo é concluir que, se meu credo

for sólido, pouco importa como eu vivo. "Mas, se

alguém não cuida dos seus, e especialmente dos

da sua família, tem negado a fé, e é pior que um

incrédulo." (1 Timóteo 5: 8), pois ele se mostra

desprovido de afeto natural. Assim, é possível

negar a fé por meio da conduta, bem como por

palavras. A negligência de realizar o nosso dever

é tão real repúdio à Verdade, como é uma renúncia

aberta, pois o Evangelho, igualmente com a Lei,

exige que os filhos honrem seus pais. Observe

como dessa horrível lista de caracteres

reprováveis mencionados em 1 Timóteo 1: 9,10, é

dito ser "contrário à sã doutrina" - oposto à sua

8

natureza benéfica e tendência espiritual: essa é a

conduta que o padrão de Deus exige.

Observe também como esse espírito de avareza ou

amor de dinheiro é designado como errante "da

fé" (1 Timóteo 6:10): é uma espécie de heresia,

um afastamento da doutrina que é segundo a

piedade - um exemplo horrível do que temos no

caso de Judas.

A mortificação, portanto, é claramente uma das

doutrinas práticas da Sagrada Escritura, como

esperamos mostrar em abundância no que se

segue.

Romanos 8:13 fornece a descrição mais

abrangente de nosso assunto a ser encontrada em

qualquer versículo único da Bíblia, estabelecendo

como faz o maior número de suas características

principais: "Pois, se você viver de acordo com a

carne, você morrerá, mas se você, através do

Espírito, mortificar as ações do corpo, você

viverá." Este é um versículo mais solene e de

busca, e um que tem pouco lugar no ministério

moderno, seja ele oral ou escrito. Mas muitos se

recusaram a enfrentar suas afirmações e

implicações.

Cinco coisas nele afirmadas requerem a nossa

melhor atenção:

9

Primeiro, as pessoas abordadas.

Em segundo lugar, o horrível aviso aqui

estabelecido diante deles.

Em terceiro lugar, o dever encarregado a eles.

Em quarto lugar, a ajuda efetiva fornecida.

Em quinto lugar, a promessa feita a eles.

Quanto melhor para concentrar nossas mentes, e

para nos permitir lidar com as dificuldades que

não poucos encontraram no verso, antes de

procurar preencher nosso esboço, vamos fazer

uma série de questões pertinentes.

Qual é a relação entre o nosso texto e o contexto?

Por que os dois membros estão na forma

hipotética - "se"? O "você" em cada metade do

versículo faz referência às mesmas pessoas, ou

existem duas classes completamente diferentes?

Se o último for o caso, então, por qual princípio

válido de exegese podemos explicar isso? Por que

não mudar um deles para "nenhum" ou "eles"?

O que significa "viver segundo a carne"? É

possível que um verdadeiro cristão faça isso?

Caso contrário, e se não são pessoas regeneradas

que são mencionadas, então, por que é dito que

"morrerão", visto que eles já estão mortos

10

espiritualmente? Os termos "morrer" e "viver"

aqui são usados de forma figurativa e

relativamente, ou literal e absolutamente? O que é

entendido por "mortificar" e por que "as ações do

corpo" em vez de "as luxúrias da carne"?

Se o "você" executar essa tarefa, então, "através

do Espírito"? Se Ele é o principal trabalhador,

então, por que é o mortificante também

convocado a fazer tal trabalho? Se há ação

conjunta, então, como os dois fatores devem ser

ajustados? De que maneira a promessa "você

viverá" será feita boa, já que eles já estão vivos

espiritualmente? Não conhecemos nenhum

comentador que tenha feito uma tentativa real de

lidar com esses problemas.

Todo o contexto deixa bem claro que classes

específicas de pessoas são abordadas aqui:

Primeiro, são os que estão em Cristo Jesus, sobre

os quais agora não há condenação (versículo 1).

Em segundo lugar, são aqueles que foram

libertados da lei do pecado e da morte, e tiveram

a justiça de Cristo imputada a eles (versículos 2-

4).

Terceiro, são aqueles que dão a prova de que são

os beneficiários de Cristo, caminhando não

11

segundo a carne, mas segundo o espírito

(versículo 4).

No que se segue imediatamente, é dada uma

descrição de duas classes radicalmente diferentes:

1. Os que estão de acordo com a carne,

2. Aqueles cuja posição legal não está na carne,

mas no espírito, que são espiritualmente

conscientes, porque são habitados pelo Espírito de

Deus (versículos 5-11).

Em quarto lugar, a respeito do último - "nós" em

oposição ao "eles" do versículo 8 - o apóstolo

descreve uma conclusão simples e prática:

"Portanto, irmãos, somos devedores, não à carne,

para viver segundo a carne" (Verso 12) - a

denominação cativante que Paulo não nos deixa

em dúvida quanto ao tipo particular de caracteres

que ele abordava. Thomas Manton escreveu um

sermão muito capaz sobre este verso, e nós,

principalmente na nossa própria língua,

personificamos sua exposição.

O homem ficaria de bom grado entregue à sua

disposição. A linguagem de seu coração é "nossos

lábios são nossos: quem é o Senhor sobre nós?"

(Salmo 12: 4). Ele afeta a supremacia e reivindica

o direito de domínio sobre suas próprias ações.

12

Mas sua reivindicação é inválida, ele foi criado

por Outro e, portanto, ele é um "devedor".

Negativamente, não à carne, que é mencionada

porque esse princípio corrupto sempre exige

sujeição a ele. Positivamente, ele é devedor

daquele que lhe deu o ser.

Os cristãos são devedores tanto como criaturas

quanto como novas criaturas, sendo inteiramente

dependentes de Deus por seu ser e seu bem-estar,

por sua existência e preservação. Como nosso

Criador, Deus é nosso Proprietário, e sendo nosso

Proprietário Ele é, portanto, nosso Governador e,

por consequência, nosso Juiz. Ele tem uma

propriedade absoluta sobre nós, um poder

incontestável sobre nós, para comandar e dispor

de nós como Ele quiser. Não temos nada além do

que recebemos dele. Somos responsáveis perante

ele por nosso tempo e nossos talentos. Todo

benefício que recebemos aumenta nossa

obrigação para com ele. Não temos o direito de

nos agradar em nada. Esta dívida é indissolúvel:

enquanto dependermos de Deus, enquanto

estivermos ligados a Ele. O pecado não cancelou

nossa obrigação, pois, embora o homem caído

tenha perdido o poder de obedecer, o Senhor não

perdeu o Seu poder de mandar.

Em virtude de seu ser espiritual, o santo ainda é

mais devedor de Deus:

13

Primeiro, por causa de sua redenção por Cristo,

pois ele não é dele, mas comprado por um preço

(1 Coríntios 6: 9). O estado do qual ele foi

redimido era uma escravidão lamentável, pois era

escravo de Satanás. Agora, quando um cativo foi

resgatado, tornou-se a propriedade absoluta do

comprador (Levítico 25: 45,46). O fim que Cristo

tinha em vista prova o mesmo: Ele "nos redimiu

para Deus" (Apocalipse 5: 9).

Segundo, por causa de sua regeneração. A nova

natureza então recebida se inclina para Deus:

somos criados em Cristo Jesus para boas obras

(Efésios 2:10). Tendo nos trazido da morte para a

vida, nos renovou à Sua imagem, nos conferiu o

status e os privilégios da filiação, e devemos,

nossa força e nosso serviço a Deus como Seus

beneficiários. A nova criatura é desviada do seu

uso adequado se vivermos segundo a carne.

Terceiro, por nossa própria dedicação (Romanos

12: 1). Uma conversão genuína envolve a

renúncia ao mundo, à carne e ao diabo, e a entrega

de nós mesmos ao Senhor (2 Coríntios 8: 5).

Como a nossa obediência a Deus é uma dívida,

não pode haver mérito nisto (Lucas 17:10); mas se

não pagarmos isso, incorremos em dívidas de

punição (Mateus 6: 12,15). Como a carne não tem

direito de comando, a gratificação é a rendição a

um usurpador tirano (Romanos 6: 12,14). Quando

14

solicitado pela carne, o crente deve responder:

"Eu sou do Senhor".

"Pois, se viverdes de acordo com a carne,

morrereis, mas se pelo Espírito mortificardes as

ações do corpo, vivereis". Aqui estão duas

proposições bem contrastadas, cada uma sendo

expressa condicionalmente. Duas hipóteses são

claramente apresentadas. Duas suposições são

mencionadas, e o resultado inevitável de cada uma

claramente indicado. Ambas as partes do

versículo afirmam que, se um certo

comportamento for seguido de forma constante

(pois está longe de ser ações isoladas a que se

refere), um certo resultado inevitavelmente se

seguirá. Esta forma hipotética de apresentar a

Verdade é bastante comum nas Escrituras. Os

servos de Cristo são informados de que "se os"

ministros "do versículo 5," os trabalhadores "do

versículo 9, forem "servos de Cristo", trabalhem

cumprindo o que ele construiu sobre ele, ele

receberá uma recompensa. Se o trabalho de

alguém [do "ministro"] for queimado, ele sofrerá

dano" (1 Coríntios 3:14, 15). Outros exemplos

bem conhecidos são: "porque, se eu ainda

agradasse os homens, não seria servo de Cristo" e

"Porque, se torno a edificar aquilo que destruí,

constituo-me a mim mesmo transgressor."

(Gálatas 1 : 10; 2:18). "Como escaparemos, se

negligenciarmos tão grande salvação?" (Hebreus

15

2: 3 e cf. 10:26). Nosso texto, então, é paralelo

com: "Porque quem semeia na sua carne, da carne

ceifará a corrupção; mas quem semeia no Espírito,

do Espírito ceifará a vida eterna." (Gálatas 6: 8).

Há duas coisas que o povo de Deus sempre

precisa: avisos fiéis e incentivos gentis. As

advertências fidedignas são para conter suas

propensões pecaminosas - os incentivos gentis são

pra animar suas graças espirituais ao cumprimento

do dever, especialmente quando são abatidos

pelas dificuldades do caminho ou estão de luto por

seus fracassos. Aqui também, um equilíbrio

precisa ser cuidadosamente preservado.

Os crentes inexperientes têm pouca compreensão

das dificuldades e perigos diante deles, e os

corações dos mais velhos são tão enganosos que

cada um precisa ser corrigido de forma clara e

frequente e exortado a prestar atenção aos sinais

de perigo que Deus criou ao longo do nosso

caminho. É impressionante e solene observar com

que frequência o Salvador soou a nota de aviso,

não só para os ímpios, mas especialmente para os

discípulos. Ele lhes mandou:

"Atender ao que ouvem" (Marcos 4:24);

"Ter cuidado com os falsos profetas" (Mateus

7:15);

16

"Veja, portanto, que a luz que está em você não

seja escuridão" (Lucas 11:35);

"Lembre-se da esposa de Ló." (Lucas 17:32).

"Olhai por vós mesmos; não aconteça que os

vossos corações se carreguem de glutonaria, de

embriaguez, e dos cuidados da vida, e aquele dia

vos sobrevenha de improviso como um laço.".

(Lucas 21:34).

Para um, que ele curou: "não peques mais, para

que não te suceda coisa pior." (João 5:14).

A palavra "carne" é usada na Escritura em vários

sentidos, mas, em todo o capítulo oitavo de

Romanos, significa a natureza corrupta e

depravada que está em nós desde que entramos

neste mundo. Essa natureza ou princípio do mal é

designado de diversas formas. É chamado de

"pecado" (Romanos 7: 8), "guerreando contra a lei

da minha mente" (versículo 23). Mas mais

comumente se chama "a carne" (João 3: 6;

Romanos 7:25; Gálatas 5:17).

É assim denominado porque é transmitido de pai

para filho, porque é propagado pela geração

natural, porque é fortalecido e atraído por objetos

carnais, por causa de seu caráter vil e degenerado.

Não foi no homem quando ele foi formado pela

17

mão de seu Criador e foi pronunciado por Ele

"muito bom". Em vez disso, foi algo que ele

adquiriu na Queda. O princípio do pecado como

elemento estranho, como um extra, como agente

invasor, entrou nele, viciando todo o seu ser

natural - à medida que a geada entra e arruína

vegetais, e quando a praga se apodera deles.

A "carne" é o inimigo aberto, implacável,

inveterado e irreconciliável da santidade, sim, é

"inimizade contra Deus" (Romanos 8: 7) - um

"inimigo" pode ser reconciliado e não ter tanta

"inimizade". Então, que coisa má e abominável é

a carne: em desacordo com o Santo, um rebelião

contra a Sua Lei! É, portanto, nosso inimigo, sim,

é de longe o pior inimigo que o crente tem. O

Diabo e o mundo exterior, fazem todo o seu mal

às almas dos homens pela carne que está no

interior deles.

"A carne é o útero onde todo o pecado é concebido

e formado, a bigorna sobre a qual tudo é forjado,

os falsos Judas que nos traem, o inimigo secreto

dentro da guarnição que está pronto em todas as

ocasiões para abrir as portas aos assediadores"

(Thomas Jacomb, 1622-87).

Devemos distinguir fortemente entre estar na

carne e viver de acordo com a carne. Assim, "pois

quando estávamos na carne" (Romanos 7: 5) faz

18

referência aos cristãos em sua condição não

regenerada, como "os que estão na carne não

podem agradar a Deus" fala dos não salvos;

considerando que "Mas você não está na carne,

mas no espírito" (8: 8,9) é relacionado aos crentes.

"Na carne" se refere à posição e ao estado de uma

pessoa diante de Deus; viver segundo a carne

descreve seu curso e conversação. Aquele

inevitavelmente segue e corresponde ao outro: o

caráter e a conduta de uma pessoa concordam com

sua condição e caso.

A carne é radical e totalmente má: como Romanos

7:18, declara, não há "nada bom" nela, está além

da recuperação, sendo incapaz de qualquer

melhoria. Pode, de fato, vestir um traje religioso,

assim como os fariseus, mas abaixo não há senão

a podridão. O fogo pode ser destruído logo que

disposições sagradas e movimentos sejam

produzidos pelo pecado residente. Como a

"carne" opõe-se continuamente àquilo que é bom,

por isso, ela inclina a alma para o que é mau.

Porque "caminhar, ou viver segundo a carne"

(ambos os verbos têm a mesma força) é uma

pessoa se comportar como todos os não

regenerados, dominados, motivados e movidos

por nada além de sua natureza caída. "Viver

segundo a carne" não se refere a um único ato,

nem mesmo a um hábito ou a uma série de atos

em uma direção; mas sim para todo o homem ser

19

governado e guiado por este princípio vil. Esse é

o caso de todos os que estão fora de Cristo: seus

desejos, pensamentos, fala e ações procedem

dessa fonte corrupta. É pela carne que as suas

almas estão em movimento e todo o seu curso é

conduzido. Tudo é dirigido por alguma

consideração carnal. Eles agem de si mesmos, ou

para si mesmos. A glória de Deus não é nada para

eles, a carne é tudo em tudo.

(Nota do tradutor: Esta última consideração pode

parecer a muitos que seja algo exagerado, todavia,

é a mais pura verdade, pois todo aquele que não

nasceu de novo do Espírito Santo, não possuindo

portanto uma nova natureza espiritual, tudo pensa

ou faz segundo o homem natural, de modo que até

mesmo tudo o que faça de bom, não está

relacionado aos motivos e à ação do Espírito

Santo neles, uma vez que todos aqueles que não

têm a Cristo como Senhor e Salvador,

consequentemente não tem também o Espírito

Santo habitando neles. E conforme afirmou Jesus:

tudo o que é nascido da carne é carne, e somente

o que é nascido do Espírito é espírito. Conclui-se

portanto que tudo o que a natureza terrena pode

produzir é somente aquilo que é relativo à carne,

da mesma forma que a natureza espiritual não

pode produzir o que é carnal, senão somente o que

é espiritual. Não há portanto, necessariamente e

apenas, um conotação moral no que está sendo

20

enfocado, senão realidades distintas relativas à

condição intrínseca de cada pessoa perante Deus:

se dotada de uma única natureza (a carnal – não

convertidos) ou de duas (a carnal e a espiritual -

convertidos). E nisto, pouco importa o que o

homem julgue possuir, mesmo no caso daqueles

que pensam estar agindo em nome de Deus, pois

é possível viver em autoilusão, em autoengano por

anos sucessivos, até o dia da morte, pensando-se

que se servia a Deus, quando na verdade, não

havia qualquer relacionamento real e pessoal com

Ele, por meio da fé em Jesus Cristo, e mediante a

habitação do Espírito Santo. Por isso somos

convocados a buscar evidências de conversão

naquilo que afirmam as Escrituras e na

testificação do Espírito Santo com o nosso

espírito, e não em convicções religiosas que sejam

o fruto da nossa imaginação ou da influência

recebida de terceiros que não correspondam à

verdade revelada.)

A carne é um princípio dinâmico, ativo e

ambicioso e, portanto, é falada como sendo uma

luxúria. Assim, lemos sobre "os desejos da carne",

sim, da "vontade da carne" (Efésios 2: 3 -

margem) pois seus desejos são veementes e

imperiosos. "Mas [o pecado], tomando ocasião

[sendo agravado] pelo mandamento [" você não

deve cobiçar"], forçou em mim todo tipo de

concupiscência" (Romanos 7: 8).

21

Educação e cultura podem resultar em um exterior

refinado; treinamento familiar e outras influências

podem levar a uma amizade à religião, como é o

caso da grande maioria dos pagãos; considerações

egoístas podem até mesmo provocar,

voluntariamente, grandes austeridades e

privações, como o budista para alcançar o

Nirvana, o maometano para ganhar o paraíso, o

romanista para merecer o Céu - mas o amor de

Deus não conduz a nenhum deles, nem a sua

glória é o seu objetivo. Embora o cristão seja "não

na carne" quanto ao seu estado, a carne como

princípio do mal (sem mudança) ainda está nele, e

"luta contra o Espírito" (Gálatas 5:17) ou nova

natureza, E, portanto, somos exortados: "Não

reine o pecado, isto é, a carne", no seu corpo

mortal, para que você obedeça as suas

concupiscências." (Romanos 6:12).

É preciso apontar que há um duplo andar ou viver

de acordo com a carne: o mais grosseiro e

manifesto, e o outro mais indiscernível.

O primeiro ocorre em concupiscências e atos

abertos e corporais, como gula, embriaguez ou

imoralidade: isto é "a imundície da carne".

O segundo é quando a carne se exerce nas

concupiscências do coração interno, que são mais

ou menos escondidas de nossos companheiros,

22

que estão ardendo e penetrando dentro de nossa

alma, como o orgulho, a incredulidade, o amor

próprio, a inveja e a avareza; esta é a imundície

"do espírito" (2 Coríntios 7: 1).

Em Gálatas 5: 18,19, o apóstolo dá um catálogo

das cobiças da carne em ambos os aspectos. Ele

faz isso para expor uma falácia comum. É

geralmente assumido que andar ou viver "de

acordo com a carne" é limitado à primeira forma

mencionada, e a segunda é pouco considerada.

Enquanto os homens se abstêm de uma

intemperança grosseira, palavrões aberrantes,

sensualidade brutal, eles pensam que tudo está

bem com eles, enquanto eles podem estar bastante

livres de todas as práticas grosseiras e ainda serem

culpados de viver segundo a carne. Sim, tal é o

caso de todos em cujo coração há afeições

excessivas ao mundo, um espírito de

autoexaltação, avareza, malícia, ódio, carnalidade

e muitas outras concupiscências censuráveis.

(Nota do tradutor: A isto acrescento a principal

característica dos que têm a forma da piedade mas

não o seu poder – a saber, eles não têm qualquer

consideração para com Deus ou com a Sua

vontade revelada nos Seus mandamentos, e no

tipo de vida santificada que exige de todos aqueles

que pretendem dEle se aproximar. Assim,

segundo Deus, é de pouco valor mesmo uma vida

moralmente impoluta, quando Ele é deixado de

23

lado, e a pessoa caminha baseando-se em sua

justiça própria e autoglorificação.)

Nosso texto nos deixa clara a importância

fundamental e vital do dever aqui enunciado, pois

nosso desempenho ou não desempenho é

literalmente uma questão de vida e morte. A

mortificação não é opcional, mas imperativa. As

alternativas solenes são claramente declaradas: a

negligência garante a miséria eterna, o

cumprimento disso assegura a felicidade eterna. O

versículo inteiro é manifestamente dirigido aos

santos, e eles são fielmente avisados: "Se você

viver segundo a carne, você morrerá" - isto é,

morrerá eternamente, como em 5:12, 21; 7:23; 8:

6, "morte" inclui todas as consequências penais do

pecado aqui e a seguir; então, em nosso texto,

"morrer" significa manifestamente "sofrer a

segunda morte", que é "o lago que queima com

fogo e enxofre" (Apo 21: 8). A razão expressa está

aqui citada por que os cristãos não devem viver

segundo a carne: eles não são devedores a ela para

fazê-lo (versículo 12): se eles se renderem ao seu

domínio, o salário do pecado certamente será pago

a eles. "A carne pertence ao mundo, e o homem

que cede às suas inspirações está no mundo,

vivendo como o mundo e perecendo com o

mundo" (J. Stifler).

24

Foi ao ceder aos desejos da carne que Adão trouxe

a morte sobre si mesmo e toda a sua posteridade.

E se eu vivo segundo a carne, isto é, se sou

governado e guiado pela minha natureza antiga,

agindo habitualmente de acordo com suas

inclinações - pois é um curso de conduta

persistente e contínuo que é mencionado aqui -

então, não importa o que seja minha profissão

religiosa, eu perecerei no meu pecado. É

gratificando e servindo a carne, em vez da vontade

de Deus, que arruína as almas eternamente.

"Pode-se perguntar se alguém que recebeu a graça

de Deus na verdade pode viver segundo a carne.

Viver em um curso contínuo de pecado é contrário

à graça de Deus, mas a carne pode prevalecer e

influenciar grandemente a vida e a conversação

por um tempo. Por quanto tempo este pode ser o

caso de um verdadeiro crente sob o retrocesso,

através do poder das corrupções e das tentações,

não pode ser conhecido, mas é certo que não deve

ser sempre assim com ele." (John Gill).

Todo o nosso versículo pertence a professantes

cristãos, e no momento presente. O Apóstolo não

disse simplesmente: "Se você está na carne", pois

esse é o caso de toda alma não regenerada. Mas se

você agora viver segundo a carne, "você morrerá"

- no pleno significado dessa palavra. É uma

afirmação geral de uma verdade universal.

25

Concordamos plenamente com a explicação

fornecida por B.W. Newton, que era um calvinista

decidido. "Uma expressão desse tipo é dirigida a

nós por dois motivos. Primeiro, porque na igreja

professante o apóstolo sabia que havia e haveria

crentes nominais e falsos. Portanto, sempre que há

o endereçamento a corpos coletivos, ele sempre

usa palavras que implicam incerteza e dúvida,

porque há jugo entre o trigo. E segundo, os

próprios crentes verdadeiros (embora a graça

possa preservá-los) tenham, no entanto, sempre

uma tendência neles nos mesmos caminhos.

Portanto, descrições como esta, que são

verdadeiras para os que meramente professam,

podem ainda que ser corretamente aplicadas a

todos os que estão vagando por esses caminhos."

Exemplos disso são encontrados em passagens

como Gálatas 4:20 e 6: 8; Efésios 5: 5-7;

Colossenses 3: 5, 6.

“Eu bem quisera estar presente convosco agora, e

mudar o tom da minha voz; porque estou perplexo

a vosso respeito.” (Gál 4.20).

“Porque quem semeia na sua carne, da carne

ceifará a corrupção; mas quem semeia no Espírito,

do Espírito ceifará a vida eterna.” (Gál 6.8).

26

“Porque bem sabeis isto: que nenhum devasso, ou

impuro, ou avarento, o qual é idólatra, tem

herança no reino de Cristo e de Deus. Ninguém

vos engane com palavras vãs; porque por estas

coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da

desobediência. Portanto não sejais participantes

com eles.” (Efésios 5.5-7).

“Exterminai, pois, as vossas inclinações carnais; a

prostituição, a impureza, a paixão, a vil

concupiscência, e a avareza, que é idolatria; pelas

quais coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da

desobediência; nas quais também em outro tempo

andastes, quando vivíeis nelas; mas agora

despojai-vos também de tudo isto: da ira, da

cólera, da malícia, da maledicência, das palavras

torpes da vossa boca; não mintais uns aos outros,

pois que já vos despistes do homem velho com os

seus feitos, e vos vestistes do novo, que se renova

para o pleno conhecimento, segundo a imagem

daquele que o criou;” (Colossenses 3.5-10).

Deve-se ter em mente que um cristão retrocedente

se desviou do caminho estreito de negar a si

mesmo, e que, se ele segue o caminho de

autoagrado até o amargo final, a destruição o

aguarda .

Veja aqui a fidelidade de Deus em tão claramente

advertir do terrível destino que aguarda todos os

27

que vivem segundo a carne. Em vez de pensar

com dureza de Deus por Suas ameaças, devemos

agradecê-las. (Nota do tradutor: pois nos dá a

oportunidade de examinarmos pela falta ou

presença de evidências de um andar no Espírito

em nós, se estamos ou não de fato na fé, de modo

a buscarmos lugar de um verdadeiro

arrependimento que nos conduza à salvação, no

caso da falta das citadas evidências que são

citadas abundantemente nas Escrituras.) Veja a

justiça de Deus. Ter prazer e continuar na

apostasia da humanidade e, portanto, a sentença

original (Gênesis 2:17) está em vigor contra os

que andam somente segundo a carne. É desprezo

de Deus, e é medido pela grandeza daquele que é

ofendido (1 Samuel 2:25). Além disso, eles

recusam o remédio e, portanto, são duplamente

culpados.

Veja aqui a sabedoria de Deus ao nomear o maior

castigo para conter a grandeza da tentação. Os

prazeres do pecado são apenas por uma

temporada, mas os caminhos do pecado são para

sempre: se estes últimos fossem profundamente

crentes e seriamente considerados, o primeiro não

prevaleceria tão facilmente conosco. Veja a

santidade de Deus: uma alma não mortificada é

imprópria para Sua presença. Os vasos de glória

devem primeiro ser temperados com graça. A

28

conformidade com Cristo se adapta ao Céu, e

onde isso faltar não pode haver entrada.

"Pois, se viverdes de acordo com a carne,

morrereis, mas se pelo Espírito mortificardes as

ações do corpo, vivereis". (Romanos 8:13). O

conjunto deste versículo pertence aos crentes, que

são "devedores, não à carne, para viver segundo a

carne" (versículo 12); mas, em vez disso,

devedores a Cristo que os redimiu e, portanto,

para viver para a Sua glória; devedores do Espírito

Santo que os regenerou e os habitou e, portanto,

vivem em obediência ao Seu controle absoluto.

Nesta ocasião, indicaremos muito brevemente o

que significa "mortificar", dando uma explicação

mais completa da natureza precisa deste dever.

Primeiro, por estar aqui colocado em oposição

com "viver segundo a carne", seu sentido negativo

é mais ou menos óbvio. Porque "viver segundo a

carne" deve ser completamente controlado pelo

pecado interior, estar completamente sob o

domínio de nossas corrupções inatas. Assim, a

mortificação consiste em um curso de conduta que

é apenas o contrário. Importa no seguinte: não

respeite as exigências da sua natureza antiga, mas

sim subjugue-as. Não sirva, não aprecie seus

desejos, mas mate-os: "não façam provisão para a

carne, para cumprir suas concupiscências"

29

(Romanos 13:14). Os desejos naturais e os

apetites do corpo físico requerem disciplina, de

modo que sejam nossos servos e não nossos

mestres; é nossa responsabilidade moderá-los,

regulá-los e subordiná-los às partes mais elevadas

do nosso ser. Mas os desejos do corpo do pecado

devem ser prontamente recusados e negados

severamente. A vida espiritual é retardada apenas

na medida em que produzimos subserviência às

nossas paixões do mal.

A necessidade imperiosa dessa obra de

mortificação surge da presença contínua da

natureza do mal no cristão. Ao crer em Cristo para

a salvação, ele foi imediatamente libertado da

condenação da lei divina e libertado do poder

reinante do pecado; mas "a carne" não foi

erradicada de seu ser, nem suas vis propensões

foram purgadas ou mesmo modificadas. Essa

fonte de imundície ainda permanece inalterada até

o fim de sua carreira terrena.

Não somente isto, mas é sempre ativa em sua

hostilidade a Deus e à santidade: "A carne luta

contra o Espírito [ou nova natureza], e o Espírito

contra a carne" (Gálatas 5:17). Assim, há um

conflito incessante no santo entre o pecado

interior e a graça inerente. Consequentemente, há

uma necessidade perpétua de mortificar não

apenas as atuações da corrupção residente, mas

30

também o próprio princípio. Ele é chamado a se

envolver em guerras incessantes e não permitir a

tentação de levá-lo ao cativeiro para suas

concupiscências.

A proibição divina é "não ter comunhão com as

obras infrutíferas das trevas [não entrar em trégua,

sem aliança], mas sim repreendê-las" (Efésios

5:11). Diga com Efraim do passado: "O que tenho

a ver com os ídolos?" (Oseias 14: 8).

Não é possível uma verdadeira comunhão com

Deus, enquanto as concupiscências pecaminosas

permanecem intactas. Permitir o mal. . .

Entristece o coração de Deus,

Enreda as afeições,

Desconjunta a alma e

Provoca o Santo para fechar Seus ouvidos às

nossas orações: "Filho do homem, estes homens

deram lugar nos seus corações aos seus ídolos, e

puseram o tropeço da sua maldade diante da sua

face; devo eu de alguma maneira ser interrogado

por eles?" (Ezequiel 14: 3).

Deus não pode de modo algum se deleitar em uma

alma não mortificada; porque Ele fazer isso, seria

negar a Si mesmo ou agir de forma contrária à Sua

31

própria natureza. Ele não tem prazer na

perversidade, e não pode olhar com a menor

aprovação para o mal. O pecado é uma lama, e

quanto mais nós pecamos - menos adequados

somos para os Seus olhos (Salmos 40: 2). O

pecado é uma lepra (Isaías 1: 6), e quanto mais se

espalha - menos o Senhor estará conosco.

Deliberadamente, manter o pecado vivo é

defendê-lo contra a vontade de Deus e desafiar e

combater com o Altíssimo.

O pecado não mortificado é contra todo o desígnio

do Evangelho - como se o sacrifício de Cristo se

destinasse a nos livrar do pecado, em vez de nos

redimir. O propósito da morte de Cristo foi a

morte do pecado.

Embora ressuscitados com Cristo, suas vidas se

esconderam com Ele em Deus, e eles certamente

aparecerão com Cristo em glória, mas os santos

são exortados a mortificar seus membros que

estão sobre a terra (Colossenses 3: 1-5). Pode

parecer estranho quando notamos quais os

membros específicos que o apóstolo especificou.

Não eram pensamentos vãos, frieza de coração,

caminhadas imprudentes - mas os membros

visíveis e mais repulsivos do velho homem:

"imoralidade sexual, impureza, luxúria, desejos

malignos e ganância, que é idolatria"; e nos

versículos 8 e 9 ele lhes pede novamente: "

32

despojai-vos também de tudo isto: da ira, da

cólera, da malícia, da maledicência, das palavras

torpes da vossa boca; não mintais uns aos outros,

pois que já vos despistes do homem velho com os

seus feitos.” Assustador e solene é achar que é

exigido dos crentes que mortifiquem pecados tão

grosseiros e sujos como aqueles - ainda que não

seja mais do que é necessário. Os melhores

cristãos na terra têm tanta corrupção dentro deles,

que habitualmente os dispõe para essas

iniquidades (tão grandes e hediondas quanto elas),

e o Diabo se adequará às suas tentações, como

certamente atrairá suas corrupções para atos

abertos, a menos que eles mantenham uma mão

apertada e uma vigilância íntima sobre eles

mesmos no exercício constante da mortificação.

Ninguém, senão o Santo de Deus, poderia

verdadeiramente dizer: "o príncipe deste mundo

vem e não tem nada em Mim" (João 14:30), que

pudesse ser acendido por seus dardos ardentes.

Assim, os servos de Deus não considerem em seu

julgamento qualquer pecado como sendo

pequeno, e considerando ser questão trivial,

dizendo: "(porventura não é pequeno?), e viverá a

minha alma.” (Gênesis 19:20); então o ministro

fiel irá pressionar sobre todo o povo de Deus que

eles não devem desconsiderar nenhum pecado

porque é grande e doloroso e dizer dentro de si

mesmos: "Isto não é um grande pecado? E minha

33

alma jamais o cometerá.". Assim, devemos

depender da graça perdoadora de Deus para nos

preservar da comissão de pecados grandes e

dolorosos. É por causa de sua autoconfiança e

descuido que às vezes os mais graciosas e

experientes de repente se veem surpreendidos

com as faltas mais terríveis.

Quando o pregador se dirige aos seus ouvintes,

exortando-lhe a terem cuidado de não

assassinarem, não blasfemarem, não se tornarem

apóstatas em sua profissão de fé, ninguém senão

somente os autojustos dirão com Hazael: "Que é

o teu servo, que não é mais do que um cão, para

fazer tão grande coisa?" (2 Reis 8:13). Não há

crime, por mais enorme, nenhuma abominação,

por mais vil que seja, senão o que qualquer um de

nós é capaz de cometer - se não trouxermos a cruz

de Cristo nos nossos corações por uma

mortificação diária!

Mas por que "mortificar as ações do corpo"? Em

vista do balanceamento estudado das várias

cláusulas nesta frase antitética, esperávamos que

fosse lido "mortifique a carne". No capítulo

sétimo e nos versículos iniciais do oitavo, o

apóstolo havia tratado do pecado interior como a

fonte de todas as ações malignas; e aqui ele insiste

na mortificação da raiz e dos ramos da corrupção,

34

referindo-se ao dever sob o nome dos frutos que

ele tem.

As "ações do corpo" não devem ser restritas a

meros trabalhos externos, mas devem ser

entendidas como incluindo também as fontes das

quais elas procedem. Como John Owen disse com

razão: "O machado deve ser colocado na raiz da

árvore". Em nosso julgamento, "o corpo" aqui tem

uma dupla referência. Primeiro, à natureza do mal

ou ao pecado interior, que em Romanos 6: 6 e 7:24

é comparado a um corpo, a saber, "o corpo dos

pecados da carne" (Colossenses 2:11). É um corpo

de corrupção que engloba a alma: daí lemos sobre

"seus membros que estão sobre a terra"

(Colossenses 3: 5). As "ações do corpo" são as

obras que a natureza corrupta produz, ou seja,

nossos pecados. Assim, o "corpo" é aqui usado

objetivamente referindo-se à "carne".

Em segundo lugar, o "corpo" aqui inclui a casa em

que a alma agora habita. É especificado para

denotar a maldade degradante que existe no

pecado, reduzindo seus escravos a viver como se

não tivessem almas. É mencionado para importar

a tendência do pecado residente, ou seja, agradar

e cuidar da parte mais baixa do nosso ser - e a alma

sendo transformada pelo homem exterior. O corpo

é aqui referido com o objetivo de nos informar

que, embora a alma seja a residência original da

35

"carne", o quadro físico é o principal instrumento

de suas ações.

Nossas corrupções são principalmente

manifestadas em nossos membros externos: é lá

que o pecado interior é principalmente encontrado

e sentido. Os pecados são denominados "as ações

do corpo" não só porque são o que os desejos da

carne tendem a produzir, mas também porque são

executados pelo corpo (Romanos 6:12). Nossa

tarefa, então, não é transformar "a carne", mas

matá-la: recusar seus impulsos, negar suas

aspirações, matar seus apetites pecaminosos.

Mas quem é suficiente para tal tarefa - uma tarefa

que não é uma obra da natureza, mas totalmente

espiritual? É muito além dos poderes sem ajuda

do crente. Meios e ordenanças não podem, por si

só, afetá-lo. Está além da província e capacidade

do pregador - a onipotência deve ter a principal

participação no trabalho.

"Se você, através do Espírito, mortificar", isto é "o

Espírito de Deus, o Espírito de Cristo" de

Romanos 8:12 - o Espírito Santo; pois Ele não é

apenas o Espírito de santidade em Sua natureza,

mas também em Suas operações. Ele é a principal

causa eficiente de mortificação. Deixe-nos

admirar e adorar a graça divina que nos forneceu

um ajudante! Reconheçamos e percebamos que

36

estamos tão endividados e dependentes das

operações do Espírito como estamos com a

eleição do Pai e com a redenção do Filho. Embora

a graça seja forjada nos corações do regenerado,

ainda não está em seu poder para agir. Aquele que

transmitiu a graça - deve renová-la, excitá-la e

direcioná-la.

Os crentes podem empregar os auxílios da

disciplina interior e do rigor, e praticar a

moderação e a abstinência externas, e enquanto

eles podem, por um tempo, verificar e reprimir

seus maus hábitos - a não ser que o Espírito opere

Seu poder neles, não haverá verdadeira

mortificação. E como ele opera neste trabalho

específico? De muitas maneiras diferentes.

Primeiro, no novo nascimento, ele nos dá uma

nova natureza. Então, nutrindo e preservando essa

natureza. Ao fortalecer-nos com o Seu poder no

homem interior. Ao conceder novos suprimentos

de graça dia a dia. Trabalhando em nós, uma

repugnância pelo pecado, uma tristeza por causa

dele, um abandono dele. Ao pressionar sobre nós

as reivindicações de Cristo, fazendo-nos dispostos

a assumir nossa cruz e segui-Lo. Ao trazer algum

preceito ou aviso à nossa mente. Selando uma

promessa sobre o coração. Ao nos mover para

orar.

37

No entanto, seja cuidadosamente observado que

nosso texto não diz: "Se o Espírito mortificar", ou

mesmo "Se o Espírito através de você mortificar",

mas, em vez disso, "Se você através do Espírito":

o crente não é passivo nesse trabalho, mas ativo.

Não deve ser suposto que o Espírito nos ajude sem

a nossa concordância, também enquanto estamos

dormindo como acordado, quer mantendo ou não

uma vigilância próxima sobre nossos

pensamentos e obras, e não exercendo mais do

que um ligeiro desejo ou uma oração lenta para a

mortificação de nossos pecados. Os crentes são

obrigados a se comprometerem com seriedade na

tarefa. Se, por um lado, não podemos cumprir este

dever sem a habilidade do Espírito - por outro

lado, ele não ajudará se somos muito indolentes

para fazer esforços sérios. Então, deixe o cristão

preguiçoso imaginar que ele nunca conseguirá a

vitória sobre suas luxúrias.

A graça e o poder do Espírito não oferecem

licença para a ociosidade, mas sim nos chamam

para o uso diligente dos meios e olhando para Ele

para Sua benção sobre o mesmo. Somos

expressamente exortados, "nos purifiquemos de

toda a imundície da carne e do espírito,

aperfeiçoando a santidade no temor de Deus" (2

Coríntios 7: 1), e isso deixa claro que o crente não

é uma parte passiva neste trabalho. As graciosas

operações do Espírito, nunca foram concebidas

38

para substituir o dever de serviço do cristão.

Embora Sua ajuda seja indispensável, ainda assim

não nos liberta de nossas obrigações.

"Filhinhos, guardai-vos dos ídolos" (I João 5:21)

enfatiza a nossa responsabilidade e demonstra que

Deus exige muito mais do que a nossa espera para

que nos mova à ação. Nossos corações são

terrivelmente enganadores, e precisamos estar

muito prevenidos contra o fato de esconder um

espírito de apatia sob uma aparente zelosa

consideração pela glória do Espírito. Não é

necessário um esforço próprio para escapar das

armadilhas de Satanás, recusando-se a andar nos

caminhos que Deus proibiu? Não é necessário um

esforço próprio para separar-nos da companhia

dos ímpios?

A mortificação é uma tarefa para a qual todo

cristão deve aplicar-se com diligência de oração e

firmeza resoluta. O regenerado tem uma natureza

espiritual dentro daquilo que se adapta a eles para

a ação sagrada, caso contrário, não haveria

diferença entre eles e os não regenerados. Eles são

obrigados a fazer valer a morte de Cristo, para

amargar-lhes pelos pecados neles. Eles devem

usar a graça recebida para produzir os frutos da

justiça.

39

No entanto, é uma tarefa que transcende os nossos

fracos poderes. É somente "através do Espírito"

que qualquer um de nós pode aceitável ou

efetivamente (em qualquer grau) "mortificar as

ações do corpo". Ele é quem nos pressiona sobre

as reivindicações de Cristo: lembrando-nos que,

na medida em que morreu pelo pecado, não

devemos poupar esforços para morrer para o

pecado, lutando contra ele (Hebreus 11: 4),

confessando-o (1 João 1: 9) ), abandonando-o

(Provérbios 28:13). Ele é quem nos preserva de

dar lugar ao desespero e encoraja-nos a renovar o

combate. Ele é o que aprofunda nossos anseios

pela santidade e nos move a clamar: "Crie em mim

um coração limpo, ó Deus!" (Salmos 51:10).

"Se você, através do Espírito, mortificar as ações

do corpo". Marque, meu leitor, o equilíbrio da

verdade que está aqui tão cuidadosamente

preservado: enquanto a responsabilidade do

cristão é rigorosamente cumprida, a honra do

Espírito é definitivamente mantida e a graça

divina é ampliada. Os crentes são os agentes neste

trabalho, mas eles o realizam pela força de Outro.

O dever é deles - mas o sucesso e a glória são dEle.

As operações do Espírito são realizadas de acordo

com a constituição que Deus nos deu, trabalhando

dentro e sobre nós como agentes morais. O

mesmo trabalho é, em um ponto de vista, de Deus;

e em outro nosso. Ele ilumina o entendimento e

40

nos torna mais sensíveis ao pecado residente. Ele

torna a consciência mais sensível. Ele aprofunda

nossos anseios pela pureza. Ele trabalha em nós

para querer e fazer a vontade de Deus.

Nosso negócio é atender suas convicções,

responder aos Seus impulsos sagrados, implorar

Seu auxílio, contar com Sua graça.

"Se você, através do Espírito, mortificar as ações

do corpo, você viverá". Aqui está a promessa

encorajadora estabelecida diante do crente

extremamente provado. Deus não será devedor de

nenhum homem: sim, é um recompensador

daqueles que o buscam diligentemente (Hebreus

11: 6). Se então, pela graça, concordamos com o

Espírito, negando a carne, buscando a santidade,

devemos ser recompensados.

A promessa deste dever se opõe à morte ameaçada

na frase precedente: como "morrer" inclui todas as

consequências penais do pecado - então "viver"

compreende todas as bênçãos espirituais da graça.

Se, por meio da habilidade do Espírito e nosso uso

diligente dos meios divinamente designados,

sinceramente e constantemente nos opusermos e

recusarmos as solicitações do pecado residente,

então - mas somente então - viveremos uma vida

de graça e conforto aqui e uma vida de glória

eterna E a felicidade a seguir.

41

Nós mostramos em outro lugar que a "vida eterna"

(1 João 2:25) é a possessão presente do crente

(João 3:36; 10:28) e também o objetivo dele

(Marcos 10:30; Gálatas 6: 8; Tito 1: 2 ). Ele agora

tem um título e direito; ele a tem pela fé e na

esperança; ele tem a semente dela em sua nova

natureza. Mas ele ainda não tem plena posse e

fruição.

"As promessas do Evangelho não são feitas para

o trabalho, mas para o trabalhador, e para o

trabalhador não por sua obra, mas de acordo com

sua obra, por causa da obra de Cristo. A promessa

da vida, portanto, não é feita para a obra de

mortificação, mas para aquele que mortifica a sua

carne, e não para a sua mortificação, mas porque

está em Cristo, do qual esta mortificação é a

evidência. Que aqueles que mortificam a carne

devem viver, é bastante consistente com a verdade

que a vida eterna é o dom gratuito de Deus, e na

entrega dele, não há respeito ao mérito do

receptor. Isto descreve o caráter de todos os que

recebem a vida eterna e é de grande importância.

Isto afasta todo o fundamento de esperança

daqueles que professam conhecer a Deus, mas que

por suas obras o negam." (Robert Haldane).

A condicionalidade da promessa, portanto, não é

a causa de incerteza - mas de coerência e conexão.

Uma vida de glória não passa da mortificação

42

como efeito da causa - mas segue apenas sobre

isto como o fim depende do uso dos meios. A

estrada da santidade é o único caminho que leva

ao Céu.