a doutrina da expiação, o centro da história humana

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A DOUTRINA DA EXPIAÇÃO:  O CENTRO DA HISTÓRIA HUMANA  por  Arnildo Klumb onogr fi Orientador Rev. Oadi Salum Seminário Presbiteria no do Sul Campinas - São Paulo 1999 SUMÁRIO DO PRIMEIRO TERÇO DA TESE DEDICATÓRIA.................................................

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A DOUTRINA DA EXPIAÇÃO: 

O CENTRO DA HISTÓRIA HUMANA 

 por

 Arnildo Klumb

onogr fi

Orientador

Rev. Oadi Salum

Seminário Presbiteriano do Sul

Campinas - São Paulo

1999

SUMÁRIO DO

PRIMEIRO TERÇO DA TESE

DEDICATÓRIA.................................................

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 AGRADECIMENTO...............................................

INTRODUÇÃO..................................................

BASE CONFESSIONAL........................................... 

1. INTERPRETAÇÃO TEOLÓGICA ...............................

2. NECESSIDADE DA EXPIAÇÃO................................

a. A Criação do Homem..................................

a.1. Historicamente...............................

a.2. Teologicamente...............................

 b. A ruptura...........................................

c. Conseqüências Gerais do Pecado......................

c.1. Mudança de Atitude do Homem para com Deus....

c.2. Mudança de Atitude de Deus para com o homem..

c.3. Conseqüências para a raça humana e a morte..

c.4. Conseqüências para a Criação.................

c.5. A Cura.......................................

d. Provas da Necessidade da Expiação...................

3. TEORIAS SOBRE A EXPIAÇÃO...............................

a. Teoria do Resgate pago a Satanás....................

 b. Teoria da Recapitulação.............................

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c. Teoria da Satisfação de Anselmo.....................

d. Teoria da Influência Moral..........................

e. Teoria do Exemplo...................................

f. Teoria Governamental................................

g. Teoria Mística......................................

h. Teoria do Arrependimento Vicário....................

i. A Teoria (Doutrina) da Expiação na ótica doPensamento Reformado............................

1) Úlrico

Zwínglio................................

2) JuanCalvino...................................

j. A Teoria da Expiação no Pensamento Contemporâneo....

1) F.Schleiermarcher............................

2) KarlBarth.....................................

4. EXPIAÇÃO NO VELHO TESTAMENTO............................

a. Levítico............................................

 b. O Dia da Expiação...................................

5.CUMPRIMENTO EM JESUS CRISTO– NATUREZA DA EXPIAÇÃO........

a. Caráter Sacrificial da Expiação.....................

a.1. Como Sacerdote...............................

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a.2. Como Oferta..................................

a.3. Como Propiciação.............................

a.4. Como Substituição............................

 b. O Caráter Moral da Expiação.........................

c. O Caráter Comercial da Expiação.....................

d. O Caráter Legal da Expiação.........................

d.1. Como um Ato de Obediência à Lei Violada......

d.2. Como um Castigo Sofrido......................

6. CUMPRIMENTO EM JESUS – SUA DUPLA NATUREZA................

a. Jesus Cristo: Total e Verdadeiro homem..............

a.1. Provas da Humanidade de Cristo...............

a.1.1. Nascimento Sobrenatural..............

a.1.2. Pela sua Descendência................

a.1.2.1. Semente de Abraão..........

a.1.2.2. Filho de Isaque............

a.1.2.3. Da Tribo de Judá...........

a.1.3. Livre da Depravação Hereditária......

a.1.4. Por Suas Limitações Físicas..........

a.1.5. Possuía Corpo e Alma.................

 b. Jesus Cristo: Total e Verdadeiro Deus...............

 b.1. Provas da Divindade de Cristo................

 b.1.1. Possui Atributos de Deus.............

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 b.1.1.1. Vida.......................

 b.1.1.2. Imutabilidade..............

 b.1.1.3. Santidade..................

 b.1.1.4. Onipresente................

 b.1.1.5. Onisciente.................

 b.1.1.6. Eternidade.................

 b.1.2. As Obras de Deus em Jesus............

 b.1.2.1. Jesus Criador..............

 b.1.2.2. Jesus Salvador.............

 b.1.3. Jesus é Adorado......................

c. Jesus, o Deus-homem.................................

7. CUMPRIMENTO EM JESUS – HEBREUS...........................

a. A Obra de Cristo....................................

a.1. O Caráter Final da Oferta de Cristo..........

a.2. O Caráter Pessoal e Esp. da Oferta de Cristo.

8. O SOFRIMENTO HUMANO DE JESUS NO SACRIFÍCIO EXPIATÓRIO....

CONCLUSÃO...................................................

BIBLIOGRAFIA................................................ 

Dedicatória

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Dedico o presente trabalho a todos aqueles que foram chamadosa crer no Senhor Jesus Cristo e na veracidade de sua palavrae salvação a todos os que foram transformados pelo evangelhocentrado na cruz

A todos os que são gratos pelo grandioso amor de Deusdemonstrado em Cristo Jesus, quando o mesmo se ofereceu pornós, como sacrifício impecável e perfeito, aceito em todos ostempos e eras, e que, somente pelo mesmo, temos firme eindestrutível esperança que se concretizará na eternafelicidade.

Agradecimento

Agradeço ao presbitério de Itaipú-Pr, que me mantevefinanceiramente nestes estudos teológicos.

Agradeço à IPB Matelândia-Pr, de onde sou oriundo; à IPB deAlto Alegre, Cascavel-Pr, que convidou-me para ali exercermeu ministério após a formatura (se assim Deus aprouver); àIPB de Indaiatuba-Sp, e sua congregação no Jardim Morada doSol, onde prestei assistência como seminarista durante meusdois primeiros anos de seminário (1996-97); à IPB do JardimGuanabara, Campinas-Sp, e sua congregação no Jardim Eulina;onde presto assistência como seminarista desde 1998.

Agradeço à grande família espiritual que conheci nesteslugares e aos amigos que adquiri, e que tenho certeza seresta uma amizade eterna.

Agradeço à minha amada esposa Elizângela que esteve comigodesde o meu segundo ano no seminário, colaborando com suaamabilidade e prestatividade, sempre entendendo e suportandocomigo toda adversidade; ao meu pai Rolf, que enfrentouenormes dificuldades por mim, afim de ver-me onde estouatualmente; à minha mãe Mella, que sempre mostrou seu amordedicado e muitas vezes preocupado, tão próprio de mãe.

Aos pastores que foram meus tutores: Juvenal Camelo, Edejalma

Nazeazeno, e atualmente, Ricardo Saltes; aos pastores comquem trabalhei em Indaiatuba e Campinas, Jupter de Oliveira eGeziel A. dos Santos. 

Agradeço a todos os meus colegas de sala de aula, semdistinção, mesmo que, como é normal, alguns foram amigos maischegados; a todos que foram meus professores, em especial aosmestres: Rev. Oadi Salum, meu orientador; Adão Evilázio

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Vieira, meu amigo e sofredor da mesma causa "colorada" (somostorcedores da mesma equipe futebolística – Inter R/S); AnaMaria Rocha Coelho, que muito me ajudou inclusivefinanceiramente quando enfrentei dias difíceis; ao Rev.William Lacy Lane, pelas suas atitudes amáveis e ponderadas eao Ver. Joás Dias de Araújo, incentivador de pastores. 

Por fim, agradeço a Deus, que me escolheu e confiou-me esteministério. Procurarei não desapontá-lo. 

Introdução

Estamos às portas de um novo milênio, que se abre como umaincógnita para o futuro. Diante de nossos olhos verificamos

um mundo totalmente paradoxal: riqueza e pobreza aosextremos; paz e guerra; diferenças religiosas absurdas; aciência tentando criar a vida e pessoas morrendo ainda dedoenças facilmente tratáveis em países subdesenvolvidos;pessoas querendo trabalhar mas não acham serviço. Enfim, estageração, como nunca talvez outra geração em sua história,experimenta mudanças e abraça desilusões e desesperança.

O mundo de hoje também, como poucas vezes na história, temvivido num sincretismo religioso absurdo. Vemos que Jesuspode ser comparado hoje em certas "seitas" a qualquer grandehomem da história. Principalmente as crenças orientaisdesvirtuam pessoas bem intencionadas do caminho correto,aliás, do único caminho. Diante disso, sinto-me desafiado aprovar, dentro da história humana bíblica (o desenvolvimentoda história narrada pela bíblia, pois nós cristãos, cremosnão na teoria da evolução, mas na realidade da Criação), deque Jesus é seu apogeu. Diante de um mundo onde cada vez maisse desrespeita a crença de Cristo como Deus, sinto-meprivilegiado ao escrever esta obra, onde o ponto central éJesus Cristo, Deus-homem, Criador de tudo, Redentor de todosos eleitos e Governador Eterno dos céus. Defenderei acentralidade da história humana na cruz de Cristo. Procurarei

demonstrar que a centralidade da história do homem é umamorte (que deveria ser a sua própria), a morte do Cordeiroque traz vida àqueles que não a merecem.

A obra será uma análise teológica, da queda até os escritosbíblicos após o evento da cruz. A questão principal está nasentrelinhas: os esforços do homem não são capazes de levá-lode volta a Deus. Deus vem buscá-lo, pois o mesmo se encontra

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"morto em seus delitos e pecados". Nesse caso, o sacrifícioexpiatório se encontra no centro da história dareconciliação. Pergunto eu: O que foi mais importante naminha vida pessoal do que a reconciliação com Deus que possuoatravés de Jesus? Sem reconciliação, a criação não temsentido após a queda. Sem reconciliação, a esperançaescatológica morre. O ato expiatório realizado no A.T., ondeo sacrifício de animais amenizava a ira de Deus, se cumpriucabalmente em Cristo Jesus na expiação. Então, para mim,homem, o fato mais importante, o ponto central dentro dahistória bíblica como plano de Deus para salvação do homem éo ato reconciliatório da expiação.

Base Confessional

O assunto em pauta se encaixa na Teologia Sistemática, no queconcerne à doutrina da Pessoa e Obra de Cristo. Os teólogosem geral colocam a expiação subordinada ao ofício Sacerdotalde Cristo.

A Confissão de Fé da Igreja Presbiteriana do Brasil relata:

VIII.III. O Senhor Jesus, em sua natureza humanaunida à divina, foi santificado e sem medida ungidocom o Espírito Santo (Lc 4.18,19,21; At 10.38),tendo em si todos os tesouros da sabedoria e daciência (Cl 3.17). Aprouve ao Pai que nele habitassetoda a plenitude, (Cl 1.19)a fim de que, sendosanto, inocente, incontaminado e cheio de graça everdade, estivesse perfeitamente preparado paraexercer o ofício de Mediador e Fiador (Hb 7.26; Jo1.14). Este ofício ele não tomou para si, mas paraele foi chamado pelo Pai(Hb 5.4,5), que lhe pôs nasmãos todo o poder e todo o juízo, e lhe ordenou queos exercesse (Jo 5.22,27; Mt 28.18). VIII.V. OSenhor Jesus, pela sua perfeita obediência e pelosacrifício de si mesmo, sacrifício que, pelo EternoEspírito, ele ofereceu a Deus uma só vez, satisfezplenamente à justiça de seu Pai (Rm 5.19; Hb 9.14;Rm 3.25,26; Hb 10.14; Ef 5.2), para todos aqueles

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que o Pai lhe deu, adquiriu não só a reconciliação,como também uma herança perdurável no Reino dos Céus(Ef 1.11,14; Jo 17.2; Rm 5.10-11; Hb 9.12,15). 

1. Interpretação Teológica

A expiação faz parte do plano eterno de Deus. Ela pode serconsiderada como o "coração do evangelho" e o centro dahistória humana. A partir da expiação podemos compreender umpouco do divino e eterno propósito, que consiste no amor deDeus. A expiação no plano histórico revelou-nos a verdadeiraface de Javé.

A expiação em Calvino é entendida a partir da predestinação,que, teologicamente, é assim explicada:

Chamamos de predestinação ao eterno decreto de Deus,pelo qual destinou em si mesmo o que Ele quis quetodo indivíduo do gênero humano viesse a ser. Porqueeles não são criados todos com o mesmo destino; maspara alguns é preordenada a vida eterna, e para

outros, a condenação eterna. Portanto, sendo criadacada pessoa para um ou outro destes fins, dizemosque é predestinada ou para a vida ou para a morte. 

Sem dúvida, isso gerou muitas contravenções por parte dealguns teólogos posteriores, principalmente do conhecidoJacobus Arminius (1519/1605),. Este rebateu posteriormente,de forma apologética, entre muitas doutrinas de Calvino,essa, em específico. Armínio afirmava que a expiação não

poderia ser limitada, como Calvino defendia, tampouco podiaser decretada por Deus, predestinando as pessoas para vida oumorte. Armínio afirma que:

A expiação se faz necessária para expor somente uma

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das maneiras como Deus pode manifestar seu amor, semprejuízo de sua santidade. A expiação é universal,mas a vontade pervertida do homem pode rejeitar essaprovisão. A graça é uma só, não há graça comum que adistinga da especial. A graça universal é suficiente

e segue a pregação do evangelho; todos podem reagirfavoravelmente ou não segundo a vontade de cada um.A graça não é irresistível em cada caso. Aregeneração origina-se no arrependimento e na fé. Avontade humana é uma das causas da regeneração. A féé uma boa obra humana, base de aceitação diante deDeus. A justiça de Cristo não é imputada ao crente.Nesta vida o crente pode chegar a perfeiçãoimpecável, conformando-se com a vontade divina, coma cooperação de sua vontade. O indivíduo pode cairda graça e perder a salvação que antes possuía. Oamor é o atributo supremo de Deus, a essência mesmade seu Ser. O alvo da criação é a felicidade. Ohomem foi criado naturalmente como um ser moral. Aexpiação é rectoral ou governamental, o quesignifica que ela não é estritamente vicária epenal, e sim, uma realização simbólica que visa asalvaguardar os interesses do governo moral de Deus,ao mesmo tempo que abre a possibilidade de salvação,alicerçada sobre a obediência evangélica. 

A expiação em Armínio é relacionada ao livre arbítrio. EmCalvino esta é relacionada com a predestinação. Para Armínio,o pecado original não deixou o homem inteiramente morto emseus delitos e pecados. O homem por si mesmo estava dotado dacapacidade de se arrepender e crer. Para Armínio, a doutrinacalvinista coloca Deus como um Ser arbitrário: Como uns vãopara o céu e outros para o inferno. Encarar deste modo éacreditar num Deus maligno.

O nosso pensamento se baseia em Paulo, tão bem compreendidapor Calvino: A expiação, partindo do eterno decreto de Deus,

é limitada, sendo a predestinação (eleição) centrada naexpiação. Acreditamos, que a expiação foi efetuada para todosos homens; Jesus morreu pelos seus, entretanto, empotencialidade, todos os homens poderiam ser salvos. Aeficácia da expiação, bem como sua aplicação é limitada,dependendo do Espírito Santo, conforme as passagens bíblicasa seguir:

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Assim como nos escolheu nele antes da fundação domundo, para sermos santos e irrepreensíveis peranteele; em amor

nos predestinou para ele, para adoção de filhos, pormeio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de suavontade,

para o louvor da glória de sua graça, que ele nosconcedeu gratuitamente no Amado,

no qual temos a redenção, pelo seu sangue, aremissão dos pecados, segundo a riqueza da suagraça.

Que nos salvou e nos chamou com santa vocação; nãosegundo as nossas obras, mas conforme a sua própriadeterminação e graça que nos foi dada em CristoJesus antes dos tempos eternos,

e manifestada agora pelo aparecimento de nossoSalvador Cristo Jesus, o qual não só destruiu amorte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade,mediante o evangelho,

se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele quenão poupou a seu próprio Filho, antes, por todos nóso entregou, não nos dará com Ele graciosamente todasas coisas? Quem intentará acusação contra os eleitosde Deus? É Deus quem os justifica.

Mas vós não credes, porque não sois das minhaovelhas.

As minhas ovelhas ouvem a minha voz; Eu as conheço,e elas me seguem.

Aquilo que o Pai me deu é maior do que tudo; e da

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mão do Pai ninguém pode arrebatar

Vós, porém, sois raça eleita… nação santa, povo de

propriedade exclusiva de Deus… 

Existem ainda muitas outras passagens bíblicas a respeito daexpiação limitada, o que prova que nossa posição,primeiramente, antes de ser calvinista, é bíblica. Existemtextos que afirmam que Jesus morreu por todos os homens, fatode que não discordamos; entretanto, estamos com Calvinoquanto a interpretação destes, pois, mesmo que Jesus tenhamorrido por todos, a expiação não é em todos aplicada, e simem alguns, a saber, os que foram de antemão eleitos,predestinados; a saber, os que confessam e crêem no Seu nome.

É o que chamamos de expiação limitada: A graça de Deus ésuficiente para todos, eficiente para os eleitos.

Sabemos hoje que a maioria das igrejas pós-reformadas, herdouo pensamento arminiano. Inclusive, muitos de nossos pastorese ovelhas presbiterianas também não se adequam ao pensamentocalvinista. Um dos fatores para que isso aconteça é a questãomais racional e cômoda de Armínio: Todos têm a oportunidadede escolha. Outra questão para que isso aconteça é que emnossos próprios hinários muitos hinos defendem a posiçãoarminiana. Entretanto, ainda que muitos cristãos defendem aposição arminiana, entendemos que, em se fazendo jus àsescrituras sagradas, a melhor interpretação, sem dúvida, é ade Calvino a esse respeito. Essa grande controvérsia trouxemuitas seqüelas à igreja, tendo ela se dividido inúmerasvezes por causa dessa questão. Deveríamos, como pastores elíderes resgatar a posição de Calvino em nosso hinários,sermões e estudos, não porque somos calvinistas, mas porque éassim que as Escrituras nos ensinam. Sejamos honestos diantedela.

Concluindo teologicamente a questão, podemos resumir adoutrina da expiação da seguinte forma: O homem foi criado

santo, à imagem e semelhança de Deus. Caído do estado em quefora criado, por causa do pecado original, houve a ruptura ea morte, pois Deus exigiu punição ao pecado, por causa de suasantidade e justiça. Sendo o homem pecador e não podendoreerguer-se, (estando o mesmo morto em seus delitos epecados) deveria então um justo (o próprio Deus que se fezhomem), morrer pelo injusto. As escrituras nos ensinam queisto aconteceu em Cristo. O sacrifício de Cristo na cruz

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revela o amor e a justiça de Deus. O sacrifício de Cristo nacruz é cumprimento da vontade do Pai. Desde os tempos maisantigos da bíblia já nos é revelada a questão da salvação.Deus já elege um povo que precisa ter fé no Ungido que virá.Os próprios sacrifícios do A.T. são uma prévia da expiação.Estes sacrifícios já preparam o homem para a centralidade daexpiação e seu cumprimento histórico.

Quando defendo a centralidade da história no ato expiatórioda cruz, na morte do Cordeiro de Deus, que tira o pecado domundo, estou fazendo uma leitura do decreto eterno de Deus.Em sua Soberania, Deus assim já preparou tudo. Claro que emnossa limitada mente humana diremos: "Então Deus criou ohomem para que pecasse; Ele na verdade é o autor do pecado".De forma alguma. Posteriormente tratarei dessa questão. Aqui,através da posição reformada calvinista, o que defendemos éque a história humana tem sua centralidade na cruz de Cristo.

Não foi na criação que fomos salvos, pois assim a salvaçãoseria universal. Somos salvos e justificados na Cruz; porisso o decreto eterno de Deus tem sua centralidade na cruz epor isso podemos dizer que a expiação é limitada. A históriaanterior da cruz caminha para ela. A história posteriortambém se direciona para ela. O final dos tempos, comoacreditamos, a volta gloriosa de Jesus e nossa salvaçãoeterna que se concretizará, nada mais é do que a demonstraçãoda vitória adquirida na cruz; nada mais é do que reflexo daexpiação, que abriu o caminho aos escolhidos.

Sabemos, a partir disso, que a expiação foi inteiramentenecessária, pelo fato de ter Jesus cumprido os eternosdecretos do Pai, movido primeiro pelo amor e depois, tambémpela justiça.

2.  Necessidade da Expiação

Para adentrarmos e entendermos o ato expiatório de Cristo, sefaz necessário um pequeno comentário sobre a criação do

homem, bem como sua queda no pecado e em conseqüência, seuafastamento de Deus. A necessidade da expiação se tornaevidente pela universalidade do pecado, pela seriedade dopecado e pela incapacidade do homem em resolver o problema dopecado.

É preciso buscar recursos no livro do Gênesis, com apoio noNovo Testamento. Ambos mostram o primeiro homem e sua

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experiência do pecado, entristecendo a Deus; rompendo comEle. "Criado santo, à imagem e semelhança de Deus, o homemcaiu desse estado em que fora criado, pecando contra seuCriador".

a) A Criação do Homem

a.1) Historicamente

Existem dois caminhos que podem ser percorridos: Ainterpretação literal deste fato, que caminhará com apressuposição do teocentrismo. Neste pensamento o homem estátotalmente na dependência de Deus, tanto em termos desalvação escatológica, como em sua vida presente. Esta é aposição conservadora reformada. Kidner afirma sobre ahistoricidade, que:

"O Novo Testamento a pressupõe e argumenta partindodela, tomando o primeiro Adão tão literalmente comoo último, cuja genealogia é apresentada em termosque vão até aquele, em Lc 3.23ss. Conforme Rm5.18,19; 1 Co 15.20,21, Adão foi ‘um homem’ e seu

pecado foi ‘uma desobediência’, tão fatuais como acruz e a ressurreição" 

Do outro lado está a interpretação mítica do fato. Extraídado método histórico crítico, redunda num caminhoantropocêntrico, de conteúdo humanista. Segundo o humanismo,o homem é auto-suficiente, capaz de se governar. Esta é umaposição de cunho liberal.

Em se tratando do valor histórico da expiação de Cristo,necessariamente precisamos admitir a historicidade de Adão,concordando com a posição reformada. Os que preferemconsiderar a história da Criação e o Paraíso como simplesfábula ou mito, esbarram em afirmações do Novo Testamento,como veremos a seguir. Em nome da razão científica (que

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talvez seja a causa dessa fuga da fé), os humanistas nãoconseguem crer na interpretação literal. Entretanto:

"nenhuma objeção decisiva, porém, tem sido levantadacontra a historicidade de Adão e Eva, em baseshistóricas, científicas ou filosóficas. O protestotem sido baseado essencialmente em conceitossubjetivos de improbabilidade". 

Na carta de Paulo à Igreja de Roma, no capítulo 5, versículos12ss, deixa claro que o pecado entrou no mundo por um sóhomem. É difícil entender o texto de Paulo como alusão ao

princípio de maneira metafórica. Paulo fala de Adão como umsujeito que existiu historicamente, assim como Cristo. Anatureza da expiação e sua eficácia passam pelaobrigatoriedade da existência literal de Adão e Eva. SeCristo era um indivíduo histórico, Adão também tinha que ser."Se portanto, Cristo era um indivíduo histórico, Adão tambémo era. Senão o apóstolo inspirado estava errado". Não temosdúvida de que Paulo aceitava a historicidade literal daCriação. Como afirma Archer:

"A origem da raça humana é necessariamente assuntode revelação da parte de Deus, visto que nenhumregistro escrito poderia remontar a uma épocaanterior à invenção da escrita. É concebível que overdadeiro relatório da origem do homem pudesse tersido transmitido pela tradição oral (e talvezexistisse esta tradição até a época de Moisés). Mas,fora da Revelação, registrada por escrito comoEscritura inspirada, não poderia haver qualquercerteza quanto à variedade estonteante de lendas da

origem do homem conhecidas entre as muitasdiferentes culturas da terra, no sentido de saberqual era o relato verdadeiro e digno de confiança.Aqui, o registro inspirado fala dum Adão e duma Evaliterais, não dá a mínima impressão que a narrativaseja mitológica na sua intenção. Certamente Cristo eos Apóstolos receberam-na como sendo históriaverdadeira". 

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Acreditar no mito é enfraquecer o poder de Deus e contradizera doutrina de Seu Eterno Propósito. Kant via o pecado como"um mal radical no homem, uma inclinação fundamental e quenão pode ser erradicada no homem. É uma vontade autônoma queimplica em culpa". Refutava a historicidade de sua origem bemcomo sua transmissão hereditária e dizia ser algo queescapava de sua explicação. Barth também "não acreditava naqueda como um fato literal mas como um paradigma para todosos seres humanos em todos os tempos, e não um evento em umdeterminado momento no tempo."

Quem assim crê afirma, e com isso podemos concordar, que afunção das narrativas da criação não é científica.

Entretanto, fica difícil concordar com o fator ideológico pordetrás da pena do escritor ‘inspirado’, que admite uma

possível "queda para cima", "um mundo novo, onde o projetooriginal de Deus leva a humanidade a mais liberdade e vida".O autor em questão ainda mostra que o pecado, embora pareceque põe tudo a perder, não é verdade, pois a partir dele, a"humanidade terá de aprender a superar a auto-suficiênciapara sanar essa ruptura, a fim de chegar novamente à vida eplenitude". Sendo assim, o paraíso não é algo passado,perdido, é algo a ser alcançado pelo homem; algo idealizadoque precisa ser conquistado (Mesters). Analisando por este

ângulo, fica evidente que o papel de Jesus não é muitorelevante para tal doutrina, que coloca o homem como osanador da ruptura causada pelo pecado. Se a criação é ummito, a entrada do pecado no mundo também o é; a segundacriação, através de Cristo também passa a ser, bem como suaexpiação pelos pecados. Então o homem não precisa depender dahistoricidade da expiação, basta seu simbolismo. Entretanto,verificaremos, no decorrer de nosso estudo, que a expiaçãoprecisa ser histórica, cumprida tanto na pessoa divina, comohumana de Cristo. Por isso, chegamos a conclusão de que acriação consiste em um ato literal e histórico.

a.2) Teologicamente 

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Deus criou o homem sem pecado, portanto, dotado de vontade eliberdade natural, pendendo, mais para o bem, do que paramal, em pleno estado de inocência, podendo fazer aquilo deque Deus se agradasse ou não (Gn 2.16-17). O homem, que era aimagem e semelhança de Deus, não era um deus, pelo contrário,era um ser limitado. Adão e Eva, os primeiros pais dahumanidade, criados foram para viverem no Paraíso e em totalcomunhão com Deus, sendo os administradores deste mundo deDeus (Gn 1.26). Deus os criou de forma diferenciada de Suacriação paralela. O homem foi feito conforme a imagem esemelhança de Deus. No duplo relato de Gênesis podemos verque "há certas particularidades nas quais a criação do homemsobressai, em distinção da dos outros seres vivos".

"O homem foi criado, portanto, um ser pessoaldistinto dos brutos, tendo o duplo poder dereconhecer se a si mesmo como relacionado com omundo e com Deus, e de determinar-se a si mesmo, emface dos fins morais". 

 b) A Ruptura

Entretanto, o homem usou seu livre arbítrio para desobedecera Deus, caindo então em pecado (maldição de morte). A partirdisso, não podemos considerar Deus o autor do pecado:

"O eterno decreto de Deus evidentemente deu acerteza da entrada do pecado no mundo, mas não sepode interpretar isso de modo que faça Deus a causado pecado no sentido de Ser Ele o seu autor

responsável". "A gravidade do primeiro pecado aparece no fato queo mandamento violado era a síntese exibida daautoridade, da bondade, da sabedoria, da justiça, dafidelidade e da graça de Deus. A transgressãosignificou o repúdio à Sua autoridade, a disputaacerca de Sua sabedoria, a respeito de Sua justiça,a contradição contra a Sua veracidade, e o desprezo

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à Sua graça. Em todos os aspectos da perfeição deDeus, o pecado era a exata contradição. E esse serásempre o caráter do pecado". 

Adão, como figura literal, não apenas simbolizava todo ogênero humano, como a partir dele, todo o gênero foi provado."Para Anselmo, como Agostinho, cada um é uma parte danatureza humana que Adão possuía, de modo que em Adão hápecado, e portanto cada um é culpado, e está contaminado." SeAdão foi criado e caiu, não foi somente ele, mas, a naturezahumana caiu. Em sua criação todo o gênero humano foi criado;em sua queda, todo o gênero caiu. Calvino também concorda que"o pecado original não era uma mera privação do homem e simuma corrupção total de sua natureza, das faculdades

superiores e inferiores da alma". Todos somos culpados emAdão e portanto todos nascemos em uma condição de pecado ecorrupção.

Podemos ainda concordar com Agostinho quando afirma que ohomem possuía liberdade, não no sentido de incapacidade depecar (o non posse peccare, que Agostinho considera averdadeira liberdade desfrutada no céu pelos bem-aventurados), mas de capacidade de não pecar ( posse non

 peccare). E sua vontade era boa, ou seja dedicava-se acumprir os mandamentos de Deus, que dotara a vontade com umafirme inclinação para a virtude. De sorte que seu corpoestava sujeito a sua alma; seus desejos carnais, à suavontade; e sua vontade, a Deus. Ele já tinha a graça divinaem torno de si (indumentum gratiae) e foi-lhe ainda concedidoo dom especial de perseverança, isto é, a possibilidade depersistir no correto exercício de sua vontade. No entanto,conforme a Bíblia registra, ele caiu. A partir do relato deAgostinho, fica claro que o erro foi inteiramente humano.Deus não podia ser culpado, pois Ele lhe dera todas asvantagens; a única proibição que impusera, a de não comer ofruto proibido, era o reverso da opressão, e seus desejos nãoconflitavam com isso. Sua única fraqueza era sua condição de

criatura, o que significava que ele era mutável por natureza,e, portanto, passível de se afastar do bem transcendente.Qualquer culpa devia recair exclusivamente em sua própriavontade, que, embora inclinada para o bem, tinha, por serlivre, a possibilidade de escolher errado. Quando ela o fez,o fundamento latente desse primeiro ato foi o orgulho, odesejo de romper com seu mestre natural, Deus, e de ser seupróprio mestre. Não fosse essa arrogante satisfação com o ego

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em sua alma, esse anseio de substituir Deus pelo ego como oalvo de seu ser, Adão jamais teria dado ouvidos ao tentador.

Chegamos à conclusão que o homem não conseguiu atingir o fimpara qual foi criado. A "palavra hebraica hatah e a palavragrega amartia, que em português se traduzem pecado; tanto umacom outra significa ‘errar o alvo’". Submetido à prova, o

homem desobedeceu a Deus, caindo de seu feliz estado desantidade num estado de pecado e terrível miséria, rompendoseus laços com o Criador.

c) Conseqüências Gerais do Pecado

"O pecado de Adão e Eva não foi um acontecimento isolado. Asconseqüências no tocante a eles, à posteridade e ao mundo,tornam-se imediatamente evidentes". A Confissão de fé, nocapítulo VI.II afirma:

"Por este pecado eles decaíram de sua retidãooriginal e da comunhão com Deus (Gn 3.68), e assimse tornaram mortos em pecado (Gn 2.17; Rm 5.12; Ef.2.3) e inteiramente corrompidos em todas asfaculdade e partes do corpo e da alma (Gn 6.5; Jr17.9; Rm 3.10,19; Rm 8.6,8; Sl 58.15)". 

As conseqüências são flagrantes:

c.1)  Mudança de atitude do homem para com Deus:

"... esconderam-se da presença do Senhor Deus, o homem e suamulher, por entre as árvores do Jardim". O homem passa a ter

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vergonha e medo de seu Criador (cf. Gn 2.25; 3.7,10). Issoindica a degradação causada pelo pecado.

c.2)  Mudança de atitude de Deus para com o homem :

"Reprovação, condenação, maldição, expulsão do jardim sãoindicações sobre essa revolução da atitude de Deus para comeles". Deus, que em essência, nada tem a ver com pecado oumalignidade, agora está separado do homem (citar separaçãoDeus e homem) Não porque Deus queira, mas porque jamais seráconivente com a situação atual do homem.

c.3) Conseqüências para a raça humana e a morte

A história que se segue mostra o gradativo afastamento daraça humana de seu Criador (Gn 4.8,19,23,24; 6.2,3,5).

"A queda tivera efeitos permanentes não somente sobre Adão eEva, mas igualmente para todos os seus descendentes; há umasolidariedade racial no pecado e na iniquidade". O homem podeprocriar-se nesse mundo caído, mas "é coarctado dentro doarco nascimento-morte. A força procriativa da Bênção supõe o

fato da morte. Homens devem morrer, para que outros homenspossam viver". A morte ficou um símbolo também de perdão aos

pecados; veremos isso com o desenrolar da monografia    Amorte de animais em sacrifícios a Deus como forma de perdão

ou agradecimento    . A morte é a maldição absoluta de Deussobre o homem. Teologicamente, com o decorrer da monografia,analisaremos a morte sob a simbologia da separação de Deus, ea vida (que Jesus nos dá) sob a simbologia de ruptura dessaseparação.

c.4) Conseqüências para a Criação

Não foi somente a raça humana que sofreu com a desobediênciados primeiros pais, também todo os animais, plantas, enfim, o

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cosmos físico; todos sentiram os efeitos da queda (Gn 3.17;Rm 8.20).

"A catástrofe da queda do homem trouxe acatastrófica maldição contra tudo aquilo de que eleera a coroa, e sobre o que lhe fora dado domínio. Opecado foi um acontecimento na dimensão do espíritohumano, mas teve tremendas repercussões sobre acriação inteira". 

c.5)  A Cura

Como pudemos analisar, o homem caído, separado agora de seuCriador, precisava ter mais uma oportunidade de salvação, nãoelaborada por si mesmo, mas originária no Eterno Decreto deDeus, bem como em Seu amor, de retorno daquele a Deus. Nessecontexto, para aplacar a ira divina é que poderemos verificaro ato expiatório de Cristo como sendo a única solução para aruptura que o pecado realizara. Esta questão se inicia com ossacrifícios que encontramos no Velho Testamento, que eramfeitos com o intuito de perdoar pecados e ação de graças.

"A história da humanidade tem provado que todos o shomens são pecadores. Em todos o tempos os homenstêm procurado reconciliar-se com Deus por meios deCulto e sacrifícios. Todos os povos, em maior oumenor grau, tem a consciência do pecado. Reza umprovérbio chinês: ‘Não há senão dois homens bons, um

já morreu e o outro ainda não nasceu’". 

O simbolismo dos animais sacrificados e a expiação no VelhoTestamento eram apenas uma sombra imperfeita do sacrifícioperfeito que estava por ser realizado, a saber, o sacrifíciodo verdadeiro Cordeiro, o próprio Filho de Deus, o próprioDeus.

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Portanto, a cura dessa situação está no meio determinado porDeus, que, em seu infindo amor e misericórdia, proveu aredenção da humanidade, através de uma ação inteiramente Sua,chamada de "Redenção".

d) Provas da Necessidade da Expiação

Berkhof afirma:

"é claro o ensino da Escritura que Deus, em virtudeda Sua retidão e santidade divina, não podesimplesmente passar por alto o desafio feito à Suamajestade infinita, mas necessariamente deve visitarcom punição o pecado". 

Deus odeia o pecado. Todo o Seu ser reage contra o mesmo."Paulo argumenta em Rm 3.25,26 que era necessário que Cristofosse oferecido como sacrifício expiatório pelo pecado, a fim

de que Deus pudesse ser justo ao justificar o pecador". Vemospor ai que a necessidade da expiação decorre da naturezadivina.

O segundo aspecto é referente à lei. Ninguém conseguiu seguirou guardar a lei. Dt 27.26 afirma que "Maldito aquele que nãoconfirmar as palavras desta lei". Se o pecador não podiasatisfazer as exigências da lei, se tornava então maldito.

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Toda a humanidade estava amaldiçoada pela lei. O escape dasituação era "fazer provisão para uma satisfação vicária comobase para a justificação do pecador".

Existe também o fato que Deus prometeu ao homem a morte, casoeste lhe desobedecesse. Como houve a desobediência por partedo homem e insistência de Deus na salvação deste (graças aDeus), Ele enviou um substituto, Cristo, o cordeiroimaculado, que pelo homem provou a morte pelo pecado.

"A maravilhosa grandeza do sacrifício que Deusprovidenciou implica a necessidade da expiação. Deusdeu o Seu unigênito Filho para que Este sesujeitasse a terríveis sofrimentos e a uma mortevergonhosa. Ora, não se concebe que Deus o fizessedesnecessariamente. Diz acertadamente o dr. A. A.Hodge: ‘Este sacrifício seria sumamente irrelevante

se fosse algo menos que absolutamente necessário, emrelação ao fim destinado a ser atingido, isto é, amenos que fosse realmente o único meio possível desalvação do pecador. Certamente Deus não teria feitodo Seu filho um sacrifício de brinquedo, parasatisfazer um capricho da vontade’. Também é dignode nota que Paulo argumenta em Gl 3.21 que Cristonão teria sido sacrificado, se a lei pudesse darvida. A Escritura fala explicitamente que os

sofrimentos de Cristo são necessários, em Lc 24.26;Hb 2.10; 8.3; 9.22,23". 

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3. Teorias Sobre a Expiação

A partir da ruptura com Deus através do pecado e da queda dohomem, uma pergunta se torna relevante para nosso estudo:Como o homem pecador pode ser aceito por um Deus Santo? Abíblia afirma que o pecado faz separação entre o homem eDeus. Esta barreira, que foi levantada pelo próprio homem otorna totalmente incapaz de demoli-la. Entretanto, Deus jálidou com o problema. Ele, através da Sua soberania já abriupara o homem o caminho de volta para casa. Se no AT osacrifício de animais não é inteiramente eficaz por causa de

qualquer mérito que tenha em si mesmo, no N.T. o sacrifíciode Cristo está no centro de todo o evangelho, como sendo oúnico meio eficaz para que o homem possa ser salvo.Entretanto, nenhum escritor do mesmo expõe uma doutrinaespecífica sobre a expiação. Existem muitas referências sobrea obra expiatória de Cristo. Não podemos ficar em dúvidaquanto a eficácia e complexidade dela; a cruz se encarrega dedissipar todas as dúvidas nessa área. No entanto, como nãoexiste preocupação com um dogma revelado, levantaram-se nahistória do cristianismo, muitas interpretações sobre aexpiação. Abordaremos aqui as interpretações históricas maisimportantes:

a) Teoria do Resgate pago a Satanás

Ou teoria da Expiação como Vitória. Esta era uma das teoriasda Igreja Primitiva. Orígenes foi um dos principaissustentadores dessa tese. Ela se baseava no fato de que a

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morte de Cristo era para pagar uma dívida a Satanás, a fim decancelar o domínio e auto-afirmação de que o homem, por causada queda, lhe pertencia. O próprio Orígenes afirmava que"Satanás foi enganado na barganha, visto que o resultadoevidenciou que ele não pode resistir à presença do SantoCristo e não foi capaz de retê-lo em seu poder". Isto serviapara mostrar que "Deus é mais sábio que Satanás, além de maisforte".

Entretanto, essa doutrina ou teoria não foi muito relevantepara influenciar o futuro da Igreja. Diante dessa primitivaafirmação, o tempo encarregou-se de fazê-la desaparecer, porfalta de profundidade e raciocínio hábil. Foi considerada poralguns, como uma teoria esotérica da Igreja Primitiva.

 b) Teoria da Recapitulação

Essa também foi uma teoria sustentada pela Igreja Primitiva.Essa teoria sustentada por Irineu, expressa a idéia de que amorte de Cristo satisfez a justiça divina. Também Orr diziaque Cristo "recapitula em Si próprio todos os estágios davida humana, inclusos os que pertencem ao nosso estado comopecadores". Cristo, pela sua vida e conduta, inverte o iníciodo ciclo pecaminoso de Adão. Através da fé, os homens se unema Ele. Existe uma transformação moral e ética no homem que

compensa a desobediência de Adão.

Atualmente existe uma teoria parecida, sustentada porteólogos liberais, que se firmam sobre uma esperança da terraser transformada em um paraíso, a partir dos esforços e datransformação ética e social da humanidade. Quem tambémsustenta isso, ainda que por vias diferentes, são os chamados"testemunhas de Jeová".

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c) Teoria da Satisfação, de Anselmo (Teoria Comercial)

"No século XI, Anselmo, Arcebispo de Cantuária, produziu umlivreto chamado Cur Deus Homo? (Porque Deus se tornouhomem?)" Nele, apresenta críticas à teoria do resgate pago aSatanás, pois entendia que o pecado era uma desonra àmajestade de Deus. Embora parecida, esta teoria não éidêntica a dos Reformadores. A posição de Anselmo se baseiano fato de haver entrado o pecado no mundo, na estrutura danatureza humana, o homem não poderia honrar a Deus; Deusficara privado da honra do Homem. O homem só poderia pagaresta ofensa de duas maneiras: pela punição ou satisfação.Movido pela misericórdia, Deus escolheu o recurso dasatisfação. Enviara então Seu Filho, que, transformado emhomem, deveria pagar esta ofensa colocando-se ao dispor da

lei. Anselmo não atribui mérito nenhum a Cristo por estefato; era apenas Seu dever cumprir tudo isso, para morrercolocando toda a glória no Pai. Cristo não precisava morrer;fazendo isso, Ele passou a ser merecedor de uma recompensa,que foi transferida como forma de perdão e bem-aventurançafutura ao gênero humano em pecado que de agora em diantevivesse de acordo com a lei.

"Desta forma então, por meio da satisfação e não dapunição, Deus promoveu um meio de reparar estasituação de forma direta através de Jesus Cristo,sendo que por este processo agora Deus pode ter asua honra integralmente restaurada". 

d) Teoria da influência Moral

Ou conceito Subjetivo. É a oposição da teoria de Anselmo.Muitos dos teólogos liberais se agradam dessa posição. "Emtodas as suas variações, esta teoria enfatiza a importânciado efeito da cruz de Cristo sobre o pecador". Analisando essateoria, Berkhof afirma que:

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"A idéia fundamental é que não há nenhum princípioda natureza divina que necessariamente requeirasatisfação da parte do pecador; e que a morte de

Cristo não deve ser considerada como uma expiaçãopelo pecado". 

Este conceito é geralmente atribuído a Abelardo, queenfatizava o amor de Deus. Este conceito faz-nos olhar para acruz, ver ali o amor de Deus e pelas nossas próprias forças,sair do pecado, arrependendo-nos e tornando-nos pessoasmelhores. O impacto de tudo isso recai sobre a experiênciapessoal. Cristo na verdade somente mostrou o amor divino,

morrendo na cruz. Esta teoria não satisfaz a justiça de Deus.Cristo, para essa teoria, veio apenas para impressionar ohomem e, além de mostrar-lhe o grande amor de Deus, sertambém referência de vida.

Essa teoria deve ser refutada, pois, se Cristo não estavalevando a efeito nem uma coisa na sua morte, tudo isso entãovai ser interpretado como uma peça, onde Cristo apenas foi oator principal, simulando todos seus sofrimentos.

e) Teoria do Exemplo

Este conceito não estabelece ligação nenhuma entre a morte deCristo e a salvação dos homens. Para essa teoria, Deus nãoexige retribuição por parte do homem na questão do pecadooriginal. Na sua soberania, Deus pode salvar quem Ele quer,independentemente do sacrifício de Cristo. "Esta teoria foidefendida pelos socinianos no século dezesseis, em oposição àdoutrina dos reformadores". Esta teoria é recusável porvárias razões: é uma mistura de vária heresias antigas; éantibíblica em sua idéia de Cristo como um mero homem, dequalidades excepcionais; também seu conceito de pecado éinterpretado erroneamente, pois a bíblia sempre coloca opecado junto com a culpa do homem, fato recusado pelosdefensores desta; esta teoria também não explica a salvaçãodos que viveram antes da encarnação do verbo, tampouco a

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salvação das crianças, além de outras implicações que nãoencontram respaldo na Escritura Sagrada.

Claro que esta teoria é antibíblica e se opõe diretamente àposição por mim defendida. O fator histórico da expiaçãocumprida em Cristo é de suma importância para a salvação.Ainda que eleitos por Deus, os agraciados só são salvos pelacentralidade histórica da expiação. A própria históriabíblica mostra que Deus, sendo justo, exige punição que ohomem não é capaz de suportar. Deus exige sim retribuição porparte do homem, cumprida pelo próprio Deus, quando seencarnou, tornando-se homem para pagar a nossa dívida.

f) Teoria Governamental

Essa teoria é um meio termo entre o pensamento reformado e oconceito sociniano. Elwell assim relata:

Hugo Grotius argumentou que Cristo não suportou onosso castigo, mas sofreu como exemplo penalmediante o qual a lei foi honrada e, ao mesmo tempo,os pecadores foram perdoados. Seu conceito é chamado‘governamental’ porque Grotius vê a Deus como um

soberano ou chefe de governo que decretou uma lei    neste caso: ‘A alma que pecar, morrerá’. Porque Deus

não queria que os pecadores morressem abrandouaquela regra e aceitou a morte de Cristo comosubstituto. Ele poderia ter simplesmente perdoado araça humana, se assim tivesse desejado, mas tal atonão teria tido valor algum para a sociedade. A mortede Cristo era um exemplo público da profundidade dopecado e do ponto até onde Deus estava disposto air, a fim de sustentar a ordem moral do universo". 

Também esta posição é inteiramente antibíblica. Através deuma interpretação desse modo, entra em jogo a própriaessência de Jesus. Hugo Grotius, desta maneira, vê Jesus, nãocomo Deus, mas como um deus. Não consegue enxergar a história

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humana como um decreto soberano e eterno de Deus. Para ele,se realmente pagasse o castigo da humanidade, deveria parasempre ficar separado de Deus, o que mostra uma incompreensãoda Trindade e ainda da própria vitória de Jesus sobre amorte; Jesus desceu ao Hades e venceu a morte, é assim quecremos.

g) Teoria Mística

Em pouco difere da teoria da influência moral.

"O princípio básico dessa teoria é que, naencarnação, a vida divina penetrou na vida dahumanidade, a fim de elevá-la ao nível da divina.Cristo possuía a natureza humana com a sua corrupçãoe predisposição inata para o mal moral; mas, pelainfluência do Espírito Santo, pode evitar amanifestação dessa corrupção em pecado fatual,purificou gradativamente a natureza humana e, com aSua morte, extirpou completamente essa depravaçãooriginal e reuniu aquela natureza a Deus. Elepenetrou na vida da humanidade como um fermentotransformador, e a transformação resultanteconstitui a Sua redenção" 

Outra vez precisamos analisar mais um pensamento equivocado.A teoria mística descompreende a encarnação de Cristo e apartir disso, elabora uma doutrina antibíblica. Sabemos queum justo precisava morrer pelos injustos, logo, Cristo nãopoderia herdar, em sua encarnação, a natureza humana com suacorrupção. Mesmo que gradativamente Cristo tenha se tornadojusto (como defende a teoria mística), entendemos que existeaí uma total depravação no que se refere ao eterno decreto deDeus na história. Alguém que não tem condições de fazer omilagre de nascer sem pecados, puro, não pode ser o Deusverdadeiro em quem cremos.

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h) Teoria do Arrependimento Vicário

Também chamada por teoria da simpatia e identificação. Criadapor McLeod Campbell,

"parte da suposição gratuita de que um

arrependimento perfeito teria valido como suficienteexpiação pelo pecado, se tão somente o homem fossecapaz de experimentar um verdadeiro arrependimento,o que ele não era". 

A partir disso, Cristo se ofereceu para preencher ascondições do perdão. Cristo, por Seu sofrimento e morte, foicondenado por Deus (quanto ao pecado do gênero humano), e foitida perante Deus esse Seu ato como perfeita confissão de

nossos pecados.

Mesmo que pareça uma teoria até simpática, sabemos que aexpiação não significa só isso. A luz da história centrada nacruz, não podemos admitir tal heresia. Ela não requer umaexpiação objetiva, antes, Cristo veio tão somente porque ohomem é incapaz de arrepender-se. Ora, não podemos ver aínenhum nexo com um decreto eterno de Deus. Se não foi o amordivino, mas a incapacidade do homem que moveu Jesus, oconceito bíblico de Deus muda totalmente. Sabemos entretantoque a própria bíblia, desde seu princípio, coloca a mão deDeus movida em prol da humanidade, não porque não conseguimosamar a Deus e arrepender-nos de maneira correta, por que issonos coloca na condição de tentar amar primeiro a Deus, e simporque Deus nos amou primeiro, e isso que é o cerne de nossainterpretação.

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i. A Teoria (Doutrina) da Expiação na Ótica do PensamentoReformado

Como podemos analisar no capítulo passado, existem muitasteorias a respeito da obra expiatória. Alguns desses

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pensamentos foram herdados pelos reformadores, que de umamaneira sistemática bíblica, formularam a doutrina reformada.Essa doutrina está intrinsecamente ligada à doutrina dapredestinação dos eleitos e da soberania de Deus. Diantedesse modelo de pensamento, os reformadores construíram suateologia.

i.1. Úlrico Zwínglio (1484-1531)

Grande líder da reforma suíça; pregava a justificação pelafé. Foi também, em certos aspectos, influenciado pelopensamento de Lutero. Para Zwínglio, Deus é um Ser absolutoem sua soberania, sendo "livre para fazer o que quiser e,

tendo poder para fazer o que quiser,". Deus decidiu salvaralguns, sua eleição é livre e o homem não a merece. Apesardesse pensamento, Zwínglio defendia a teoria penal daexpiação: o homem pecou, deve portanto sofrer a penalidadepelo pecado. Para tanto, Zwínglio defende que Jesus foi avítima do sacrifício expiatório que pagou

de uma vez por todas - de maneira eterna, a penalidademerecida e implantada pela desobediência e pecado,oferecendo-se a si mesmo ao Pai pela humanidade, afim deaplacar a justiça eterna. No que tange "a obra de Cristo,

Zwínglio reproduz fielmente as concepções dos reformadoressobre a cruz e a justificação pela fé".

i.2. João Calvino (1509-1564)

O reformador mais famoso, depois de Lutero, foiCalvino. Pregou a Reforma na Suíça francesa,fazendo de Genebra o centro de suas atividades. Eraradical. Mais severo que Lutero. Ensinava apredestinação absoluta, isto é, a pessoa já nasciapredestinada a ser salva ou condenada. Rejeitou ogoverno da igreja (católica romana), o culto

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externo e a invocação dos santos (coisas estasadmitidas por Lutero. 

Nenhum outro teólogo, depois de Lutero, foi tão debatido einvestigado como Calvino. Sua grande obra: A Instituição daReligião Cristã ou "As Institutas", fornece ao mundo cristãoe principalmente reformado, uma sistematização da fé Cristãsem igual até o momento.

Quanto à expiação, Calvino trabalhou melhor que Zwínglio aquestão, tanto é que suas afirmações muito tem influenciado ateologia da Igreja.

Antes de tratar sobre a expiação, Calvino apresenta Cristo

como aquele que cumpriu cabalmente os três ofícios: profeta,sacerdote e rei, para nos redimir junto a Deus Pai. Calvinoencaixa a obra expiatória dentro do ofício sacerdotal deCristo.

Obtemos a salvação mediante o sacrifício de Cristo. "Ahumanidade necessita de um mediador em dois aspectos. Por umlado, após a queda de Adão, ‘nenhum conhecimento de Deus eraeficaz sem ele’. E, por outro lado, Deus era inimigo dos

seres humanos até serem reconciliados pela morte de Cristo".Nesta situação paradoxal, não é a ira ou vingança de Deus que

vemos, mas o seu amor. Claro que a humanidade deveria serpunida e, Cristo, seu representante, recebeu sobre si ajustiça divina. A obediência de Cristo aboliu o pecado eremoveu a inimizade entre Deus e seu povo. Tudo o que estavareservado ao homem foi transferida para Cristo, e isto, jáprevisto e pré-ordenado por Deus. A ressurreição do Cordeiropara Calvino também faz parte da obra expiatória: se pelamorte o pecado foi tirado, pela ressurreição, a justiçadivina foi restaurada e renovada.

Calvino portanto, enfatizava (como Lutero), a justiça e o

amor de Deus pelos pecadores. Isto é demonstrado em suateologia expiatória: pela justiça deveria haver punição;entretanto o homem não era capaz de suportá-la. Deus soberanoentão, dentro de seus propósitos já definidos, providencia agraça pelo seu amor, substituindo o peso da condenação àqueleque poderia pagá-lo: Jesus, seu Filho. Calvino deu à doutrinada substituição penal na expiação uma definição convincente.

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j. A Teoria da Expiação no Pensamento Contemporâneo

O pensamento contemporâneo deu uma visão um tanto libertina(liberal) à questão que envolve a pessoa de Cristo. Isto, semdúvida, afeta também a telogia da Expiação no pensamento dealgumas alas da Igreja. Não é nossa meta fazer uma profundareflexão sobre o pensamento contemporâneo e seus teólogos,entretanto, não podemos fugir de pelo menos, mostrar aposição básica das teorias que mais influenciaram a era

moderna. Friedrich Schleiermacher e Karl Barth serão alvo denossa ligeira atenção.

j.1. F. Schleiermacher (1768-)

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Considerado o pai da teologia liberal e o pioneiro dateologia

moderna, Schleiermacher é conhecido pela sua visão de que, areligião não é conhecimento, sim, sentimento. A religião estábaseada, "não na razão, seja esta pura ou prática, mas noafeto". "Em síntese, a religião é um assunto do coração, enão da cabeça; dos sentimentos, e não da mente". Viveu naépoca do fim do intelectualismo ou racionalismo, que Kantcombateu. Claramente influenciado por tal pensamento,compilou uma grande obra teológica sistemática (A Fé Cristã,1821), de cunho liberal.

Sua interpretação de Deus altera toda a visão reformada sobrea redenção humana.

Quem é Deus para Schleiermacher? Na resposta queele dá reside o problema. Sua visão éantropocêntrica, jamais teocêntrica. A respostaestá no homem. O conhecimento de Deus depende doconhecimento do homem. É de baixo para cima.Conhecer a Deus da perspectiva do homem é aresposta de Schleiermacher. Por esse caminho chega-se ao conhecimento de um deus que é produto daintuição, da consciência, da projeção mental em queo subjetivo prepondera sobre o objetivo. 

Diante dessa interpretação, logo "Cristo não é o únicoredentor da humanidade, mas é o primus inter pares, o‘sublime’ e o ‘mais glorioso de todos os que já apareceram’". 

Elaborando a doutrina da expiação ou redenção da humanidade(para Schleiermacher), o pecado está no plano individual e éalgo que presente na vida humana que ainda não é controlada

pelo espírito. O pecado perturba a humanidade, impedindo-a derealizar o bem; daí a necessidade da redenção. A redenção é aconsciência que o homem adquire de Deus. Cristo foi oinstrumento usado por Deus para que o mesmo se apresentasse ahumanidade mais plenamente. Através dele conhecemos mais acerca da redenção. Entretanto, o papel expiatória de Cristona cruz não tem muito significado para Schleiermacher. Elecaracteriza "como mágicas as idéias que fazem o perdão de

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pecados depender da punição que Cristo sofreu e a bem-aventurança dos seres humanos ser vista como uma recompensaque Deus oferece a Cristo por causa do sofrimento daquelapunição". A morte de Cristo na cruz não tem poder para perdãode pecados, senão para demonstrar à raça humana e a incitar àsolidariedade. Seu sofrimento na cruz foi uma demonstração desolidariedade máxima. "Portanto, Cristo não é para nósrealmente uma satisfação vicária, mas um representantevicário".

Vemos em Schleiermacher uma interpretação subjetiva sobre aobra expiatória de Cristo, pois o mesmo não atribui a mortedEle à salvação da humanidade. Cristo apenas é um modelo aser seguido como homem. Ele é o nosso exemplo de amor esolidariedade.

Diante desse pensamento, logo vemos que Schleiermacher está

equivocado em sua interpretação. Seus conceitos começam a seperder quando o mesmo cria seu próprio Deus através dosentimentalismo. Fazer uma teologia onde a cruz ocupa umpequeníssimo lugar, apenas como modelo de solidariedade, édizer que a humanidade não depende dela para a salvação.Negando também a divindade de Cristo, considerando-o comoapenas um instrumento histórico de Deus é adulterar a exegesebíblica e principalmente o plano eterno e histórico de Deuspara a salvação do homem. O pressuposto de um verdadeirocristianismo e de uma verdadeira interpretação das sagradasescrituras é reconhecer o Filho de Deus como Deus verdadeiro

e único, mediante qual não há salvação: "Eu sou o caminho, ea verdade, e a vida, ninguém  vêm ao Pai senão por mim".

Concluiremos afirmando que Schleiermacher criou seu própriodeus, bem diferente do Deus bíblico, por isso mesmo, adoutrina do sentimento de Schleiermacher deve ser ignorada.Seu pensamento teológico "está mais próximo das categorias deKant, do panteísmo de Spinza do que "da pureza das doutrinasbíblicas sobre as quais os Reformadores e a Igreja reformadatêm posto sua confiança, sua fé... Existe entre a teologiareformada e a de Schleiermacher um abismo intransponível".

j.2. Karl Barth (1886-1968)

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Sem dúvida, Karl Barth foi o mais influente teólogo do séculoXX. Foi totalmente contrário à teologia sentimentalista deSchleiermacher, entretanto, em sua vasta obra, não elaboraalgo definido acerca da expiação, que, para ele, esta deveser considerada como um mistério e um milagre divino.Contudo, "no desenvolvimento temporal da expiação estápresente o pacto eterno de Deus com o homem, sua eleiçãoeterna da criatura humana, sua fidelidade eterna a si mesmo ea ela".

Para Barth, a cruz é o ponto central na mensagem cristã. Tudogira em torno dela. Entretanto, sua teoria gira em torno deoutro pressuposto, que contradiz o pensamento reformado.Parece haver um paradoxo em sua posição. Ao mesmo tempo emque a cruz suporta o ápice da importância na história, Barthafirma que não é necessariamente por causa do perdão dospecados que Cristo morre. O mesmo não crê no pecado original.

Sua teoria se baseia no conceito Kierkegaardiano sobrepecado: o homem foi criado pecador por Deus. Para Barth,Cristo morre por causa do abismo original (Deus é infinito eo homem finito) que existe entre Deus e o homem, e não pelopecado original que (para nós) criou este abismo.

Embora Barth tenha influenciado muito o pensamento teológicomoderno, não podemos aceitar seus pressupostos nem sua teoriasobre o poder da expiação, pois a mesma não é totalmentebaseada nas Escrituras Sagradas.

4. Expiação no Velho Testamento

a) Levítico

Na igreja hoje se fala muito do perdão dos pecados obtidoatravés da morte de Jesus. "Jesus é o Salvador", isso todossabemos. Entretanto, poucos entendem o verdadeiro significadohistórico da expiação. Talvez seja porque hoje o livro deLevítico seja um dos menos lidos entre os cristãos. Entende-se que aqueles rituais não mais fazem parte dos ritos da novaaliança, o que está correto. Entretanto, muitos crentes não

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sabem o verdadeiro significado das antigas atitudes do povode Deus, o que é um verdadeiro desperdício para o crescimentoespiritual destes. Em não entendendo o significado da velhaaliança, principalmente no que tange a questão sacrificial,muitos não têm visto com olhares sábios o culminantesacrifício de Jesus. Veja bem a progressão: Em não entendendoo antigo, tem-se pouco entendimento do novo; com isso, não sedá o valor "histórico" necessário ao perdão dos pecadosconquistado na cruz.

Voltando ao Levítico, basicamente é o livro que traz todos osrituais de sacrifícios apresentados pelo homem a Deus. Alémde ser o livro que mais reivindica sua inspiração divina, temsua ênfase no ato de apresentar vários regulamentos e leisprovindas de Deus com vistas a santidade israelita comonação. O capítulo 16, que será o centro de nossa análise, seconstitui, de certo modo, o coração deste livro. Neste dia é

que se faziam as oferendas pelo perdão dos pecados.

Em se tratando de sacrifícios, se faz necessário uma brevedistinção entre os mesmos: "sacrifício enquanto ‘dom’oferecido à divindade; sacrifício operando uma ‘comunhão’ com

a divindade; sacrifício visando uma ‘expiação’ dos pecados e

ao perdão por parte da divindade". Em Israel aconteciamsacrifícios equivalentes a estes. No livro de Levítico vemosessas três categorias. Distinguiremos agora, como faz Archer,os sacrifícios de sangue:

O princípio básico que subjaz todos o sacrifíciosde sangue (zebhãhím) era a expiação (Kipp~ur) substituindo-se uma vida inocente pela do culpado.Como símbolo desta substituição, o ofertantecolocava sua mão na cabeça da vítima,identificando-se assim com ela, como sendo suarepresentante. Significando que aceitava a justapenalidade da morte contra ele, o ofertante matavasua vítima, para então entregá-la aos sacerdotes

para completar a cerimônia. Usualmente, o sacerdoteaspergia ou untava o altar com uma porção dosangue. 

Levítico 1-7 apresenta-nos esta série de sacrifícios, dentre os

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quais, o único que não era com sangue refere-se a oferta demanjares (Lv 2) que era um acompanhante do holocausto ou ofertaqueimada. Veremos aqui a diferenciação entre os 3 tipos desacrifício de sangue, em favor do pecado, que faz Archer: 

 Nome  Propósito  Vítima  Porçãode Deus 

Porção doSacerdote 

Porção doOfertante 

Holocausto

(õlah) Propiciar

 pelo pecado

em geral,

 pecado

original;

maneira pela

qual o povo

ímpio se

aproxima do

Deus Santo. 

Macho, sem defeito:

 boi/carneiro/cabrito/pomba

(segundo as posses) 

Animal

inteiro:

(daí Kãlil -

"oferta

inteiramentequeimada") 

 Nada   Nada 

Oferta pelo

 pecado

(hatta’t) 

Propiciar por

transgressões

específicas

quando não

era possível

uma

restituição. 

Boi (no caso de sacerdote

ou congregação). Cabrito

(no caso dum príncipe).

Cabra (membro do povo) 

Porções

gordurosas

(gordura

das

entranhas) 

O restante

(tinha que

ser comido

no pátio do

Tabernáculo) 

 Nada 

Sacrifício pelo

Sacrilégio

(‘ãshãm) 

Propiciar portransgressões

específicas

quando era

 possível a

restituição,

os danos

sendo

calculados

em seis

quintos,

 pagáveis de

antemão.

Satisfação

legal. 

Carneiro (somente)  Conformeacima  Conformeacima   Nada 

Existem outros sacrifícios que se referem à ações de graças;entretanto, o que nos interessa se relaciona no tocante aossacrifícios pelo pecado, que acontecem no dia da Expiação, de

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Levítico 16. Abramos um parênteses aqui só para pincelar queem Cristo, todos estes sacrifícios (imperfeitos ainda quepela lei) se cumprem histórico e espiritualmente. Mesmo quehaja certa diferenciação entre os mesmos, uma coisa ficapatente aos nossos olhos: que sem derramamento de sangue, nãopoderia haver perdão dos pecados. O sangue significava a vidapara o povo judeu. Sangue é sinônimo de vida. Deus exigia umapenalidade: sangue - vida. O sangue não tem virtude em sipróprio, mas na vida que por ele é representada. Quandoderramado, a vida sai com ele - é o preço que Deus exige.

Analisaremos, à luz de Levítico 16, um pouco sobre o dia daexpiação. Ainda aqui não abordaremos a questão quanto aocumprimento em Jesus Cristo, o que será feito nos capítulossubsequentes.

 b) O Dia da Expiação

Na introdução do capítulo 16 de Levítico, o que vemos comnitidez, é uma brutal separação de Deus e o homem. Como vimosanteriormente, a causa de tudo é o pecado. Diante disso ohomem não pode conviver de perto com Deus. Nadabe e Abiúmorreram diante do Senhor por causa dessa incompatibilidadedo humano com o Sagrado. Para amenizar a incompatibilidade sefaz necessário um sacrifício. Um inocente pagaria pelopecador. No dia da expiação não é qualquer um, mas apenas o

sumo sacerdote quem oficia. Também este não podia usar asvestes normais que se usavam em outros sacrifícios. O povotambém se apresentava de um modo diferente: tinham de jejuare afligir as almas. Este ritual devia ser realizado no décimodia do sétimo mês (Tishri), uma vez por ano.

O Dia da Expiação também antecedia a Festa dos Tabernáculos.Em se fazendo uma analogia entre esses dois episódios,parece-nos que o simbolismo da reconciliação com Deus(Expiação) era estritamente necessária para o regozijo (Festados Tabernáculos). Somente um povo em paz com Deus poderia

alegrar-se diante das bênçãos daquele ano.

No dia da Expiação faziam-se muitos sacrifícios. Como se lêno livro de Edersheim:

De Números 29.7-11, parece que as ofertas do Dia de

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Expiação eram realmente de um triplo caráter: "oholocausto perpétuo", isto é, os sacrifícios diáriosda manhã e da tarde, com as suas ofertas de cereaise de libações; os sacrifícios festivos do dia,consistindo para o sumo sacerdote e os sacerdotes de

"um carneiro para holocausto" e, para o povo, de umbezerro, um carneiro e sete cordeiros de um ano,(com ofertas e cereais) para um sacrifício queimado,e um cabrito para a oferta pelo pecado: e, emterceiro lugar, (e principalmente) os sacrifíciosexpiatórios peculiares ao dia, os quais eram umbezerro com oferta pelo pecado para o sumosacerdote, sua casa e os filhos de Arão, e outraoferta pelo pecado para o povo, consistindo esta dedois bodes, um dos quais devia ser morto e o seusangue aspergido, de acordo com o ritual, enquanto ooutro devia ser enviado ao deserto, conduzindo"todas as iniquidades dos filhos de Israel e todasas suas transgressões ou pecados", os quais tinhamsido confessados "sobre ele" e sobre ele lançadospelo sumo sacerdote. 

Diante de todos estes sacrifícios, é claro que analisaremosde perto os que tratam da questão do perdão dos pecados.

A tradição afirma que os sacrifícios pelo pecado eram depoisdas ofertas queimadas, fato refutado pelo próprio livro deLevítico, que mostra-nos primeiramente a realização dossacrifícios expiatórios.

A primeira parte dos serviços expiatórios era destinado aossacerdotes, e era realizado entre o pórtico e o altar. Nestafase sacrificial era preparado um novilho para ser morto emfavor dos sacerdotes logo após o sorteio dos bodes. A segundafase dos sacrifícios era realizado em favor do povo. Estessacrifícios eram realizados na parte oriental da Corte dossacerdotes, junto ao povo. Traziam-se então dois bodes, um

para o sacrifício (o que seria morto) e outro para expiação(o que seria enviado ao deserto). Não se sabe muito bem sobrea origem do bode expiatório. O fato é que este tinha umaimportância vital no tocante a expiação. Colocavam-se estesbodes lado a lado. Com as faces voltadas para o santuário e opovo atrás, era feito o sorteio, para ver qual bode seria oemissário e qual seria o sacrificado. O bode escolhido comoemissário era colocado diante da multidão, e aguardava a

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imposição de mãos do sumo sacerdote afim de que todos ospecados fossem lançados sobre ele, afim de os levar aodeserto. Depois desse sorteio o sumo sacerdote voltava-seentão e sacrificava o novilho (em favor de si e dossacerdotes), e com o sangue deste adentrava ao lugar chamado"Santo dos santos". Ali realizava uma série de rituais.Entretanto, somente fora do véu novamente é que o sumosacerdote recitava a oração propícia para o momento. Depois,sacrificava o bode e novamente adentrava ao Santo dos santoscom o sangue deste. Depois de aspergido o sangue do animal, osumo sacerdote confessava os pecados (Lv. 16.21), impondo asmãos (as duas) na cabeça do bode expiatório (emissário), queera levado até o deserto (terra solitária) com os pecados detodo o povo. Berkhof afirma que:

O Velho Testamento nos ensina a considerar comovicários os sacrifícios que eram apresentados sobreo altar. Quando o israelita apresentava umsacrifício ao Senhor, tinha que por a mão sobre acabeça do sacrifício e confessar o seu pecado. Esteato simbolizava a transferência do pecado para aoferta e a tornava apta para expiar o pecado doofertante, Lv 1.4. 

A lei não tornava o sacrifício perfeito, o que não quer dizerque os pecados não eram perdoados. A fé em Deus e osimbolismo que apontava para Cristo é que faziam dosacrifício algo válido. Todos confiavam em Deus e no seumétodo; a fé do povo estava em Deus e não propriamente nosacrifício. A vida era um ato de fé.

Façamos diante de tudo isso, uma simples pergunta: Se ospecados eram perdoados com os sacrifícios de sangue, porque obode expiatório ainda levava pecados para o deserto? Seriauma parte de pecados não perdoados? A lei, como diz-nosHebreus, não podia ser perfeita para o perdão dos pecados. Sefosse, poderíamos colocar num mesmo patamar de igualdade operdão vétero-testamentário dos sacrifícios de sangue deanimais e o perdão néo-testamentário do sacrifício de sanguede Jesus Cristo. Entretanto, a história já decretada por Deusem prol de Seu amado povo revela-nos a verdade do perfeito eúnico sacrifício aceitável para todas as eras. Fechamos esteponto com as palavras de Calvino: "O Antigo Testamento foi

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uma doutrina (ensinamento) que o Senhor deu ao povo judeu,repleto de observâncias e cerimônias, sem eficácia e firmezaalguma, e foi outorgada por um certo tempo", substituída pelocálice da nova aliança no sangue de Jesus Cristo, "parasignificar que ao ser selado o Testamento de Deus com Seusangue, se cumpre integralmente a verdade".

5. Cumprimento Em Jesus - Natureza Da Expiação

Na Palavra de Deus encontramos alguns métodos que fazem parteda natureza da Expiação. Estes se completam entre si. Mesmo aexpiação sendo uma doutrina já desenvolvida dentro da

teologia presbiteriana e que faz parte do Ofício Sacerdotalde Cristo, em muitos casos, ela se torna difícil de serentendida. Esta parte do trabalho visa a esclarecer aspectosteológicos para uma melhor compreensão do assunto. Nãofecharemos aqui o assunto, apenas procuraremos partir de umaexegese cristã reformada no tocante a interpretação dostextos referentes à expiação. A