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A doce casa dos suicidas.

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A doce casa dos suicidas.

.

Um conjunto de textos, pensamentos e versos poéticos imbuídos de sentidos

aleatório semeados em uma semântica perturbadora.

A doce casa dos suicidas convida o leitor entrincheirar-se por valas de amores

carnais inacabados e platônicos, doenças existenciais , sórdidos pensamentos e na

fé de nossas mais longínquas lembranças.

A nudez das minhas palavras

Não sou como escribas ou pequenos poetas.

Não regorjeio tons e cores.

Sou construtor de dessentidos e gêneses desconcertantes.

Sou perturbador de minhas próprias ideias.

Não quero pajear e nem te confortar em dias cinzentos.

Quero me esconder no caos e nas recombinações das minhas próprias palavras.

O meu verdadeiro pensamento é meu absoluto tom do vazio.

Sofro com minhas próprias sangrias, não porque aprendi a sofrer e sim porque sofro só

O DOCE LAR DOS SUICIDAS

Contrário que dizem os hipócritas

Suicidas não são amaldiçoados ao inferno

Suas mazelas e maldições pagaram em vida com suas sangrias

Fatigaram-se de nossas mediocridades

E hoje estão alojados dentro do coração de deus.

Meu legado Minha Ana

As batalhas foram decididas

Os destinos foram revelados

As cinzas levaram tantas criaturas tão inexplicavelmente amadas

Mas a promessa do teu legado tornou-me

Inexpugnável

Estranhos pulsares

Voam por mares abertos minhas coisas do coração

Deparam sob as lembranças de qualquer lugar distante

A ânsia insana de estar com você

Cruzam lagoas perigosas com punhados de areias nas mãos

Desafia o mito feroz

Pontuando em segundos

As linhas das letras que dizem

Vale à pena passar por isso tudo

O SOM QUE SE PROPAGA NO VACUO...

A todo instante a vida nos prega momentos

Há dias em que você olha para os cantos

E ao lado encontramos todos “amigos”

Mas, quando chega o desespero

Os lados se revertem, os cantos se desdobram

E o som ,inexoravelmente, se propaga no vácuo

CÍRCULOS MÁGICOS

Quem vai lembrar das letras tortas?

Dos discursos de sobremesa

Dessas vidas sonsas que os homens insistem em suporta-la

E se quando...abrem-se as cortinas

E saltam aos olhos as encenações

As doces flautas de magias e amores cíclicos

E se quando... são esses atores com suas luzes cintilantes

Nos perpassam com o canto dos olhos

E nos resgatam dessa tola miséria de nossos dias.

É quando... Mergulhamos em devaneios e sonhos

Do poder que transforma a metafísica em matéria

Singela homenagem aos artistas e todas as suas artes.

QUANDO DEUS FALOU COM MOISÉS

Quero ter meus olhos marejados

Galopar nos subterfúgios das crianças

Tocar heróis imaginários de tons e capas coloridas.

Ver as fotos desbotadas de cores amarelas

As pipas coloridas dentro da moldura azul

Rabiscar desenhos caóticos

No frio das noites escondidas

Salpicar nas curvas tortuosas do quebra cabeça

Estar junto no instante em que Moisés tocou a face de deus

Gritando com todas veias

Por que esses momentos não voltam mais ?

GROTESCO ENGANO

Antes uma farsa que nós sustente

a uma verdade que nos derrube

Esses são os varões das sociedades humanas

Com suas sinestesias , glotes, laringe e bocas santas que regorjeiam blasfêmias

Maldigo esses provedores de letras angulares homenageando um deus de papel

Grotesco engano

Abençoadas são as mãos que trabalham pelos inocentes

Os sons do vácuo

O silencio fala mais que palavras desembestadas

Prefiro a dor da descompressão em meus ouvidos

aos sons dos idiotas

A CADA MINUTO

E cada minuto que renuncio em amar, deixo de existir, para insignificantemente durar.

CATEDRAL DO SILÊNCIO

Hoje não exerci meu enfadonho oficio

Aparei meus polegares e médios

Joguei os trapos nas costas e sai

Contando os blocos de pedra pelos caminhos,

Tentando sentir o cheiro do vento

Subi os monte das lembranças

Para ver se passado estava lá

Não encontrei ninguém

Apenas a esquecida estrada de ferro

Com seus dormentes e pedras

Levou – me aos escombros da catedral do silêncio

Lá não se orava para deuses

Nem haviam altares e adornos de santos

Somente vagas e contorcidas imagens na parede

e o aroma sufocante dos pneus queimados.

Depositei flores nas lápides dos velhos amigos

E chorei copiosamente por aqueles que sobraram

HOJE ESBARREI EM MIM MESMO

Que infelicidade

Os planos se dissolveram

As letras emburricaram

Meus olhos trepidaram

As mãos saciaram em imaginar cortar algumas gargantas

Dessas gargantas de donos obtusos

Desorientados e medíocres insistem em afrontar

Não sei se perdi minha vida em estar ali

Ou se passei tempo demais suplantado no mesmo lugar

Para ter a presença desses ilustres medíocres

Hoje, definitivamente, esbarrei em mim mesmo

Velhos amigos

Não sei o que é mais degradante , observar as lápides dos velhos amigos ou presenciar

os farrapos humanos daqueles que sobraram

TUAS NOTAS

Teu nome são as notas palatais que molduram o tempo,

Ressecada secura dos meus poros,

Ainda trago um fio teu entre meus lábios,

MEU REINO HABITA UM CASTELO

Meu reino habita um castelo

Sem torres, vitrais nele candelabros não há

No meu reino não vivem reis e rainhas

Sortilégios das princesas?

Nem isso posso esperar

Esse reino não foi inspirado pela rima sertaneja

Muito menos nos barracos das favelas que o povo do samba vive a cantar

Esse castelo meio engraçado e vazio

Pinta-se com cal as paredes tortas,

E fracas luzes amarelas que vivem piscar

Nos dias caminhos chuvosos trocamos os sapatos para barro não sujar

E nos dias de sol os irmãos deitam no chão

Para as velhas memórias refrescar

Rodeado de muralhas de velhos bambus para não machucar

Com um doce sereno e poeira de terra

À noite, ouvimos as orações das novenas

E o silêncio cansado do pai que nunca está

Conforto-me no sorriso de Ana

Sinto um mundo sem fama

Paro no hoje esperando ela voltar

Feito as preces dos meninos

Para lobisomem da rua passar

A “Rosa Louca” murmurar

Para “o homem do saco preto” não sugar

E para melodias do “ sonheiro” que não para de cantar

Marca-se o tempo da alma

O tempo que não passa

Imaginação de pirraça , da vela seca na taça

, dos voos mágicos dos vagalumes

que rasgam a noite que nas camisetas vão parar

Este reino habita em minha vida

Na aurora da vila, da cidade perdida

Das memórias que nunca irão se apagar.

AS IMAGENS NÃO DIZEM NADA

Nesses dias estranhos em que o efêmero e descartável são vias de regra.

Despretensiosamente , surgem pessoas do outro lado da rua e nós atravessam sem

bater

As linhas elétricas do quadro colorido não traduzem que realmente elas são.

A graça, a textura das mãos , o brilho do olhar até parece que as estrelas não estão

brilhando.

Pena que você não vê o que eu vejo.

Até quando passaremos pela multidão?

Se olhamos para todos e não vemos ninguém

Riscos, imagens, nostalgias de vultos de pessoas que se foram

E que não voltam mais

E cada folha, a cada vento , a cada suspiro

Esperemos em vão a graça de deus por alguém que nos alivie a dor

E nos lembre que um dia fomos felizes.

CANÇÃO DO ESPAÇO

À beira do precipício

No olho do ódio refletiu a escuridão de todas as angústias

Vestido de mascaras invertidas

Estático na fronteira entre o ser e o divino

Senti todos os pavores em minha alma

Quando surgiu dentro de mim

O nefasto espírito humano

PLANTA EM MIM SEUS PEQUENOS CORAÇÕES AMARELOS

Traço levemente a circunferência dos olhos

Esta perturbadora magia de rosto quadrado

Encoste tuas chagas

Aqueça-se em minhas peles e ossos

Mas antes que tiveres me esquecido, como uma breve cortina de vento

Prostre teu olhar pela ultima vez , e planta em meus esquecidos grotões

Seus pequenos corações amarelos

Míseros corações humanos

(Pensamentos divinos)

Jaz em montes de terras e céus longínquos

Um deus santo que todos os homens acreditam existir

O senhor de todas perversidades

Servo dos caprichos e insanidades

Forjado apenas para idolatrar

a mediocridade bípede sapiens

Mal sabe tu misero coração humano

és o insignificante pó de todos os paradoxos divinos

E entre todas blasfêmias retóricas

Por que apenas você é o herdeiro digno da salvação

E dos céus de todos ouros ?

TUDO COMEÇA AQUI

Fez-se a luz

Fizeram – se os gestos

Desabrocharam-se os toques

Perpetuou - se a candura do teu sorriso

E mesmo sem querer resplandeceu todo o amor

Em meu cinzento coração

A PIMENTINHA E O PRONOME PROIBIDO

Renda-me com tua presença cintilante

Dance-me com tuas saias o sonho do teatro profano

Olhe-me com o doce sutil dos olhos

Beije-me com o calor das ciganas catalãs

Mostre-me teus mundos de pequenas iaras e “elfos” nômades

Sussurra-me letras proibidas e vãs metamorfoses

Deixe-me te lapidar entre teus fiéis súditos

Guarda-me em mim o seu coração

A MENINA E O DRAGÃO

Nas agonias e nos mares de fogo

Contorço –me entre suas grossas e sinuosas escamas vermelhas

Para encontrar na fenda dos calabouços mais profundos

A pequena inocente de atrás todas as feras

Não te ofereça em sacrifício para atender falsas promessas

E nem padeça na solidão

Resguardo em minha fé que você habite mim ,

e que me deixe habitar em seus corações

A EPIFÂNIA DA MASTURBAÇÃO MENTAL

Da sala de oficio reúnem-se cobras e lagartos

Das bocas desmerecidas proliferam anagramas , divagações

e as incompreensíveis línguas do “P” , que da pragmática ninguém ousa soletrar

Dos cordeiros de pele de lobo e lobo de pele cordeiros

Acendem-se velas vermelhas à Deus e as azuis ao Diabo

Implorando migalhas para justificar nossas inúteis existências

Segue-se a tortura com as lancinantes proclamações de retórica

E finalmente, encerramos a anual epifania da masturbação mental

Com abraços espinhosos, tapinhas de velhos amigos que não se conhecem e os

execráveis sorrisos amarelos.

SORRISO DE SOL

Vagava em desertos de areias negras

Junto às matilhas de rostos contorcidos

Prostrado atrás das colunas do tempo

Entranhado em meus próprios funerais

Quando da rajada de todas luzes

Você me abraçou com a ternura dos olhos,

Abrilhantou com a sabedoria das pitonisas ,

afogou - me na ânsia da carne de mulher

Renasci com o toque dos seus dedos

e na beleza imensurável do teu sorriso de sol

O ABISMO DE TODOS OS PECADOS

Até quando vou esperar nos pulsares do tempo?

Até quando vou atravessar os labirintos de vales escuros?

Até quando vai me abrigar em catacumbas e feridas ressecadas?

Você, minha missionária, guardiã da fé e de meus devaneios

Deixa tocar todas as curvas e seus volumes desconcertantes

Invoca o menino, sangra-me o pescoço

E em minha memória, profira palavras de salvação divina

Que te darei um fruto e o abismo de todos os pecados

NA AURÉOLA DOS SEUS OLHOS

Salguei minhas feridas, cicatrizei minhas chagas atrás de algum subterfúgio.

Então, calai-me para amargura passar.

Naquele dia entre a multidão de pecadores, você se fez presente.

Sorrateiramente, percebi minha imagem refletida na auréola dos teus olhos.

Sorri, ao sentir sensação incomensurável do velho vento que há tempos não soprava.

Por essa razão, mantenho – me em pé.

Não quero mais definhar nos círculos dos derrotados.

Já cortei meus calcanhares, na esperança de reluzir outra vez tua presença

Tentando recolher os cacos de sanidade, que por você não me fiz enlouquecer

SÓ VOCÊ TEM ALEGRIA DE ME TORNAR APENAS EU

Venha e se aquieta em meus corações

Repouse suas meigas tristezas e o suas pequenas coxas de bailarina

Traga-me dos cantos seus olhares de menina

Que nunca mais vestirei as carapuças dos tolos cafajestes

Porque só você tem a singela alegria de me tornar apenas eu

Nos esconderemos atrás de todas inocências,

Para te domar com a mais fina delicadeza

ENTERRE MINHA ALMA

Da mãe que pajeia seus bravos filhos estradeiros.

Onde o vento que sopra do sul seca e congela os pulmões.

Venho da cidade dos bastardos revestidos de barões e sórdidos que imploram restos

azedos

Dos mágicos labirintos que ocultam mundos longínquos e sonhos esquecidos das

meninas.

Onde nascem os desajustados que caminham à noite sob as luzes amarelas.

Que percorre sinuoso o doce perfume do café , da terra que silencia os pássaros em

quaresmas e dias santos.

Enterre minha alma no lajeado seco nos caminhos das pedras

E deixarei nos ouriços de arame todos os meus pecados e tristezas.

Assim, juntarei - me a moda singela do sertanejo e aos maiores corações do mundo.

Itapetininga

ENSAIO DO SILENCIO – A MINHA DOCE MORTE

Quanto é difícil olhar os reflexos dos olhos.

Sentir todos os corpos esmigalharem e misturarem ao peito.

Sei de sua dedicação em meus prediletos começos e recomeços.

Guardo em mim teu cheiro acre de gesso raspado e tutanos expostos.

Sei da hora marcada quando ceifará a mim a tua presença, mesmo que o sangue do

cordeiro estiver em minha porta, aqui você passará.

E quando fizer , pegue – me a mão, deixa fluir a dispersão desse amontoado saco de

carne e ossos, as ultimas frações das lembranças.

E quando estiver perdido em algum lugar de algum tempo entre sombras e espaços

obtusos.

Saberei que as imagens estarão pulverizadas e inexoravelmente todos os caminhos

que retornarão para casa estarão esquecidos.

DIAS INSOSSOS

Daqueles que tardam mais sempre voltam

Dias em que ofício parece uma tênue perda de tempo

Em que é quase eterna o gosto fétido da consciência

Entre a alcova e o meio fio

Desconhecidos exalam minhas desgraças

Dessas crises pouco sobra de mim

Perdoa –me, só quero padecer nessa horda de derrotados

FILHOS DO TEMPO SONÂNBULO

Pariu num tempo em que até o tempo se desconhece

Em que as pessoas são prontuários em protocolos de rede.

Em que amigos eternos se desconhecem em segundos.

Em que figuras marsupiais e anatomias grotescas são espíritos zombeteiros.

Em que a inocência imaculada são digeridas como carnes e ossos.

Condenados a uma terra em que todos somos sonâmbulos.

Aqui, até as fadas e princesas se tornaram “hordas de cafajestes”

COM DUAS LETRAS CRIAMOS O MUNDO

Se pudesse, aliviaria todos os fardos dos seus desgostos

Receberia em mim os açoites que cortam seus orgulhos

Se pudesse, me esconderia atrás dos subterfúgios

Juntaria as fragmentações de nossas nostalgias

Se pudesse, diria sublimes encantos com as cores dos

seus olhos, correria atrás das borboletas e num lapso,

escreveríamos os fundamentos da terra

Se pudesse, esvaziaria todos os sentidos e as sucumbências

dos meus tédios

Ainda que padecemos com nossas resignações,

somos libertadores e semeadores de nossas próprias vidas.

ENTRE AS SOMBRAS DO VENTO PROCURO VOCÊ

Quem é você que bate entre as portas?

Quem é você que olhos de vidro não cansam de procurar?

Quem é você que dobra o papel para buscar a tenacidade das palavras?

Desconhecida mulher de todos os rostos

Oculta tuas burcas e veste você todos os cheiros

Deixa escorrer os dedos nos sobressaltos da sua pele

E quando nos vestígios do dia restarem as lembranças cadavéricas

É na incandescência colorida dos nossos corpos, vou procurar você nas perdidas

sombras do vento.

CINCO MINUTOS PARA MEIA NOITE

Desce desses montes de terras incultas e planícies vazias, minha pequena loba.

Arrasta-me entre seus dentes,

Afaga-me com tua pele e seus pequenos pelos amarelos

Guarda-me junto a tua matilha de pernas e coxas.

Não roubarei tua inocência e nem tuas palavras e cantos de murmúrio.

Não tenha medo de minhas armaduras de ferro.

Aproxime teu corpo no meu e dance esta ultima valsa dos pecadores.

Deixa o vento tocar seus cabelos a minha sepultura.

Entre os alinhamentos da lua branca e antes que os demônios esfolem minha

dignidade.

Talvez assim descansarei em paz.

ATÉ QUE AS RAÍZES DO CORAÇÃO SEQUEM

Durmo por sobressaltos ódios

Com os poros mergulhados em venenosos jocosos

O velho músculo visceral não me atormenta mais,

escuto apenas o ranger das mãos e o recrudescimento das pálpebras.

Não vejo as luzes brilhantes e as danças sinuosas das bailarinas.

Nunca mais ouvi o canto atrevido das virgens que habitam as tribos das estrelas.

Pasmo até que as raízes do meu coração sequem.

E cada minuto que renuncio em amar, deixo de existir, para insignificantemente durar.

CORAÇÃO RASO D´AGUA

Acho que no fundo todos somos complexos e complexados.

Nesses fenômenos de amargura, não há orações, placebos nem mesmo as rimas de

suicido para que esse espírito zombeteiro me deixe em paz.

Por vezes, ajuda tragar algumas fagulhas de cigarro, mas, ainda não sei o que é mais

devastador.

Tento disfarça a dor nesse serpentário de sofistas , esconder os olhos marejados,

mas, meu coração já esta raso d água.

Seja bem vinda, minha deslumbrante amargura.

Desculpe - me querida pelas letras pequenas, pelas estrofes inversas.

Deveria te dar o esplendor de palavras perfumadas, mas hoje, parece ter um abismo

entre essas linhas.

O FILHO PRÓDIGO DO INFORTÚNIO

Todos os dias acordava logo cedo.

Isso ele fazia muito bem!

Mesmo adoentado jamais faltou da escola.

Isso ele fazia muito bem!

Religiosamente frequentava as liturgias todos domingos.

Isso ele fazia muito bem!

Sempre se destacava no trabalho era subestimado com patéticas considerações.

Isso ele fazia muito bem!

Economizava tostões para finalizar os acabamentos da casa.

Isso ele fazia muito bem!

Por vezes, arriscava-se perigosamente apostando na loteria.

Isso ele fazia muito bem!

Perfilava orgulhosamente na fila dos caretas, e não se constrangia ao apontar os

derrotados. Isso ele fazia muito bem !

O bom filho, ótimo neto, amigo preferido, marido exemplar,

Com poucos anos acabou se tornando filho de um infortúnio fulminante.

Isso ele fez muito bem!

u, Moribundo

Penumbras e luas,

Paredes exalam cheiro acre

Sub partículas de bolores penetram pulmões

Cadeiras e mesas estão dispostas

De taças de lodo escorrem álcool

Estados etílicos ditam sanidades e loucuras

Olhos vertem sinuosas veias amarelas

Confraternizam – se bestas e anjos caídos

Sob cifras que retratam histórias esquecidas

Sigo em toques, declarando palavras lapidares às donzelas

desfiguradas.

Sou um moribundo de mim mesmo.

Convido você entre jocosos irmãos para essa assembleia de monstros.

ENTRANHAS DIVINAS

Pobre de ti meu filho, sessões de tortura e lamentações em meu nome

Não estarei entre vós em mãos, joelhos prostrados, rangeres de banco ou nas eternas

marchas fúnebres.

Por que me pediste tanto?

Ingratos e por vezes bastardos.

Devorastes tudo que havia edificado com mais fina arquitetura divina.

Alastra-se como penumbra negra por mares e terras.

Destruíste culturas e pilares da minha verdadeira essência.

Em meu nome pediste misericórdia para ti e ao mesmo tempo estripa vorazmente

toda vida de minhas crianças imaculadas e seres viventes.

Pescaste o que foi semeado, não venhas com tuas torpes palavras.

Fez de si mesmo um calabouço ambulante de rancores e cadáveres.

Por que afagai – me com tuas falhas e quedas ?

Se quiseres compreender da magnitude do teu pai,

seja capaz de olhar nos cristais no grão de área, nas cores das sinapses, na manta sutil

do tempo e talvez na atmosfera de seus próprio átomos.

Olhai em reflexos e reflexões e usa teu verdadeiro dom divino.

Agradeceste por ti e pelos teus por mais um dia de milagres.

Tua presença já é uma transgressão das minhas leis divinas.

Mas apesar de tudo filho, não quero ser mais um em percutir culpa, mas sim, tua

redenção.

Sorrateiramente

Estava contando meus passos entre as gomas das lajotas e suas ondulações

E me lembrei daquela noite, o desespero ainda tocava lentamente meu rosto, senti a

densidade da escuridão entrando como uma rajada fria em meu lobo frontal.

Entre as pequenas peças do tabuleiro pude recordar das tantas marchas, das tantas

batalhas entrincheirado heroicamente quando fugia desesperado da luta dos bravos.

Procurei salgar minhas feridas, tentei cicatrizas minhas chagas atrás de algum

subterfúgio.

QUANDO ÉRAMOS JOVENS

Sempre pergunto como nós velhos éramos quando jovens.

Triste quando se perde tudo, é cruel viver das reles lembranças

Acho que concentrarmos de verdade, poderemos observar o passado ?

E dá para imaginar como eram jovens os velhos que conhecemos? é difícil.

Mas, só consigo ver que estamos todos velhos e doentes.

Felizes são aqueles que sabem o seu lugar no mundo.

Enxergar o esplendor em coisas pequenas,

Viver o momento como crianças.

Mas, então, por que todas as crianças desapareceram cedo demais ?

Você não deu tempo...

Você apareceu despercebidamente

Sem alarde, devassou as linhas ilógicas e irracionais do meu pequeno mundo

Em sua sutilidade, pulverizou toda a escuridão que esfolava meus ossos

Afastou de mim todas as iniquidades que rasgavam meus olhos

De luz e matéria eterna anjos são edificados

De um milagre materializou –se você nos percalços desse humilde servo

Você não deu tempo

Singela homenagem a todos que não se esqueceram por palavras, gestos, palmas e

abraços

UM HERÓI AO MEU LADO

Juntos fomos sonhadores de pés descalços

Aviadores das pipas ao vento

Contempladores da paisagens atrás das cercas de bambu

Intrépidos guerreiros das matas de mamona

Despeço com um doce abraço

Ao meu irmão e as nossas espetaculares lembranças

Ao meu irmão de coração e espírito

Nei