a divina liturgia ii

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  • 7/30/2019 A Divina Liturgia II

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    A Divina LiturgiaExplicada e Meditada

    Introduo Liturgia Bizantina

    Monsenhor Pedro Arbex

    1. Introduo Sacrifcio e Sacramento Sacrifcio em geral

    Sacrifcios sangrentos e no sangrentos Sacrifcios do Antigo Testamento ou da Lei Mosaica

    Sacrifcio da Nova Aliana

    Jesus, Sacrificador e Vtima

    2. Sacrifcio Eucarstico

    A Missa Atravs dos Tempos Nos tempos apostlicos Nos quatro primeiros sculos A partir do sculo V

    3. O Rito Bizantino - A Missa de So Joo Crisstomo

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    I Parte da Missa: Preparao das Oferendas ou Matria doSacrifcio

    II Parte da Missa: Liturgia dos Catecmenos ou Liturgia daPalavra

    III Parte da Missa: Liturgia dos Fiis ou Liturgia Eucarstica

    4. Glossrio

    5. Bibliografia

    1. Introduo

    Sacrifcio e Sacramento

    missa o ato litrgico durante o qual renova-se de modomstico e incruento o sacrifcio cruento de Cristo na Cruz;e administra-se aos fiis, pela Eucaristia, o alimento

    espiritual para as suas almas. Na missa, portanto, celebra-se nosomente um sacramento, o maior dos sacramentos, mas renova-se tambm um sacrifcio, o verdadeiro e perptuo Sacrifcio daNova Aliana.

    A Eucaristia sacrifcio, enquanto se oferece; sacramento,

    enquanto se recebe.

    Sacrifcio em geral

    O sacrifcio a oferta voluntria de uma coisa sensvel que destruda, se for um ser inanimado, ou imolada, se for um seranimado; feita por um ministro legtimo, a Deus s, parareconhecer seu domnio absoluto e, no caso de pecado, paraaplacar sua justia e obter a reconciliao e a unio com ele.

    O sacrifcio, que o ato de culto mais caracterstico e maissublime, deriva da dupla obrigao do homem para com Deus: anossa dependncia absoluta d'Ele, como criaturas; a nossainimizade com Ele, como pecadores.

    A necessidade do sacrifcio como reconhecimento da nossadependncia de Deus sempre existiu, mesmo no estado deinocncia de nossos primeiros pais, no paraso terrestre, antes daqueda: Ado e Eva, mesmo se no tivessem pecado, teriam deoferecer sacrifcios a Deus, em sinal de submisso e de gratido.

    Quando, porm, o pecado abriu um abismo entre Deus e ohomem, o sacrifcio assumiu uma segunda finalidade, tornando-se

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    o meio de reconciliao. O sacrifcio, enquanto expiao dopecado, tem o carter de representao ou substituio.

    1. A essncia do sacrifcio a destruio de uma coisasensvel ou a imolao de um ser vivo. A melhor maneira para o

    homem exprimir sua dependncia e a dependncia das outrascriaturas , evidentemente, a morte voluntria, isto , o fato deentregar livremente sua vida quele de quem a recebeu. Foi istoque Deus quis fazer entender aos homens quando ordenou a

    Abrao que Lhe imolasse seu Filho nico, Isaac. Mas, quandologo depois, satisfeito pela obedincia cega de seu servo,substituiu Isaac por um carneiro, desaprovou ao mesmo tempo ossacrifcios humanos, aos quais tinha direito, e indicou o modo desubstitu-los.

    2. O ministro do sacrifcio deve ser legtimo. O sacrifcio umato de culto pblico. Ningum pode cumpri-lo se no tiver ttulospara falar ou agir em nome da sociedade. Na Lei evanglica comona Lei mosaica (e at entre os pagos) somente os sacerdotesso delegados para esta misso.

    3. O fim, o escopo do sacrifcio, reconhecer o absolutodomnio de Deus e aplacar sua justia, se o ofendemos.

    Pela criao existe entre o Criador e sua criatura um lao queos liga um ao outro: lao de soberania da parte do primeiro, e laode dependncia da parte do segundo. O sacrifcio o ato peloqual exprimimos esta relao e proclamamos, de um lado, ainfinita grandeza de Deus, e, de outro, o nosso nada, a nossapequenez; e no caso de natureza decada, nossa ingratido enosso arrependimento.

    A coisa essencial num sacrifcio dar ou renunciar a umobjeto de valor (valor em si ou para quem d), por amor de Deus.Para dar a esta oferta todo o seu significado, os homenscostumavam destruir o objeto sensvel: esta destruio impediaque se pudesse voltar a possuir aquele objeto e com isto seexprimia a verdade seguinte: que no somos nada diante deDeus.

    A ddiva oferecida ocupava o lugar do homem. Por issoaquele que fazia a oferta colocava, muitas vezes, a mo sobre oanimal sacrificado, e fazia-se aspergir com o sangue ainda quentee fumegante da vtima. Assim fizeram Abel, Caim, No. Abelimolou e queimou as primcias dos seus rebanhos; Caim, seuirmo, queimou os frutos da terra; No matou e queimou animais sada da arca.

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    Sacrifcios sangrentos e no sangrentos

    Todos os povos e todas as religies tiveram seus sacrifcios.Aparecem j praticados pelos filhos dos nossos primeiros pais,Caim e Abel (Gn 4), e achamo-los em todas as pocas entre ospagos e os judeus. Egpcios, Caldeus, Assrios, Persas, Gregos,Romanos etc. ofereciam sacrifcios a seus deuses para aplac-losou para implorar seu auxlio. Chegaram at a imolar sereshumanos. Sabemos, pela Sagrada Escritura, que o rei dosMoabitas, para escapar ao cerco do rei de Israel, imolou seu filhoprimognito. Os Fencios e outros povos da sia sacrificavam,todos os anos, crianas a Moloc, o deus do fogo com cabea de

    touro. "O que os pagos imolam, escrevia So Paulo aosCorintios, imolam-no aos demnios e no a Deus" (1Cor 10,20).

    A humanidade, mesmo envolta nas trevas da ignorncia e daperverso, sempre sentiu a necessidade de oferecer sacrifcios divindade, ainda que confundindo o verdadeiro Deus com osfalsos dolos. Em Atenas, no tempo de So Paulo, no havia entreos inmeros altares um altar ao "Deus desconhecido"?

    Havia sacrifcios cruentos e sacrifcios incruentos (sangrentos

    e no sangrentos). Os primeiros consistiam na imolao, noderramamento do sangue de uma vtima escolhida no reinoanimal (bezerros, carneiros, ovelhas, cabras, rolas e at sereshumanos). Nos segundos, em que no se derramava sangue, asofertas eram escolhidas no reino vegetal e podiam ser objetosslidos (trigo, farinha, po, frutos da terra etc.), ou lquidos (vinho,azeite). Os slidos eram queimados e os lquidos derramados aop do altar. Oferecia-se tambm incenso.

    Sacrifcios do Antigo Testamento ou da Lei Mosaica

    Os sacrifcios dos pagos no eram seno tentativas parachegar ao verdadeiro sacrifcio de expiao ou de ao de graas divindade: ofereciam animais sem defeitos fsicos, crianasinocentes ou produtos escolhidos da terra, para serem vtimasperfeitamente imaculadas e, portanto, agradveis aos deuses.Quando Deus escolheu para si, nos descendentes de Abrao, um

    povo eleito, do meio do qual ia nascer o Salvador do gnerohumano, ele prprio fez a Moiss, aps a sada do Egito,

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    numerosas prescries sobre os sacrifcios que lhe deviam seroferecidos, enquanto durava a Antiga Aliana.

    "No Antigo Testamento tudo era coberto de sangue comofigura do sangue de Jesus Cristo que nos devia purificar"

    (Bossuet). Pela Bblia sabemos que os judeus tinham trs tipos desacrifcios: os holocaustos, os sacrifcios de expiao e ossacrifcios pacficos.

    1. No holocausto (gr.: los, inteiro; e castos, queimado),chamado tambm "sacrifcio perfeito", a vtima era imolada einteiramente consumida pelo fogo sobre o altar. Demonstrava-seassim o domnio absoluto de Deus sobre suas criaturas,representadas pela vtima. No Templo de Jerusalm, nico lugaronde se podiam oferecer sacrifcios, todo dia ao nascer do sol e

    tarde imolava-se um cordeiro que devia ser queimado porcompleto; e aos sbados, em vez de um, sacrificavam-se doiscordeiros pela manh e dois tarde. Ao mesmo tempo, no altardos perfumes, um outro sacerdote queimava incenso sobre obraseiro que ali se encontrava. esta ltima funo quedesempenhava Zacarias, quando lhe apareceu o anjo para lheanunciar que teria um filho, "a quem por o nome de Joo" (Lc 1).

    2. Os sacrifcios expiatrios destinavam-se a aplacar a clerado cu, a expiar os pecados do povo, e a purific-lo das suas

    iniqidades. Destas vtimas, uma parte era queimada sobre o altare outra ficava reservada para o sustento dos sacerdotes. Cadaano os judeus celebravam a festa da expiao (Yom Kippur).Neste dia o sumo sacerdote oferecia em holocausto um touropara a expiao de seus prprios pecados e dos pecados da suafamlia; e um bode oferecido pelo povo, para a expiao dospecados da comunidade. Em seguida, pondo suas mos sobre acabea de um segundo bode vivo oferecido tambm pelo povo,carregava-o de todos os pecados da nao e o expulsava para o

    deserto, levando assim simbolicamente para longe de Deus asiniqidades de seu povo (bode expiatrio). No dia da suapurificao, isto , 40 dias aps o nascimento de Jesus, Maria eJos, em obedincia lei, "levaram o menino a Jerusalm para oapresentarem ao Senhor, e para oferecerem em sacrifcio (deexpiao) um par de rolas ou dois pombinhos" (Lc 2,22-24).

    3. Os sacrifcios pacficos tinham por finalidade dar graas aDeus pelos bens e dons recebidos, pedir-lhe uma graa oucumprir uma promessa: aps a imolao da vtima, uma parte

    dela era queimada no altar; uma outra reservada aos sacerdotese uma terceira consumida, num convvio sagrado, pela pessoa

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    que mandou oferecer o sacrifcio e pelos membros de sua famlia.Esta refeio figurava a Eucaristia.

    Alm dessas trs espcies de sacrifcios sangrentos, havia ossacrifcios no sangrentos, ou oblaes, que acompanhavam

    obrigatoriamente os holocaustos e os sacrifcios pacficos, oupodiam ser feitos isoladamente. A matria oferecida era umasubstncia, slida ou lquida, mais freqentemente incenso,farinha (misturada com sal e azeite), ou vinho. Todos estessacrifcios no eram seno figura do verdadeiro Sacrifcio da Nova

    Aliana selada pelo sangue de Cristo. Por isso cessaram,conforme os profetas o tinham anunciado, depois do Sacrifcio doCalvrio: o smbolo deve ceder o lugar realidade, como a noite luz.

    So Paulo, na sua Epstola aos Hebreus, (9,11), diz a esserespeito: "Cristo veio como Pontfice dos bens futuros; e passandopor um tabernculo mais excelente e perfeito, no feito por modo homem, quer dizer: 'no deste mundo', entrou no santurio nopelo sangue de bodes ou de bezerros, mas pelo seu prpriosangue, e de uma vez para sempre, porque alcanou a redenoeterna. Ora, se o sangue dos cabritos e dos touros e a aspersoda cinza duma novilha santifica os impuros pela purificao dacarne, quanto mais o sangue de Cristo, que, pelo Esprito Santo,

    se ofereceu sem mcula a Deus, purificar a nossa conscinciadas obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!"

    Sacrifcio da Nova Aliana

    Na Nova Aliana, h um s sacrifcio: o sacrifcio que Jesus Cristoinstituiu na ltima Ceia, consumou no dia seguinte sobre a Cruz eque a Missa renova todos os dias.

    JESUS, SACRIFICADOR E VTIMA

    Nos sacrifcios antigos o sacerdote era distinto da vtima.Escolhiam como vtima, nos sacrifcios cruentos, considerados osmais perfeitos, um ser vivo, de preferncia um animal domstico,que, por pertencer ao homem, podia legitimamente substitu-la.Ofertavam-no a Deus, separando-o de todo uso profano, paraconsagr-la ao servio e honra da divindade. Imolavam-no emseguida, a fim de mostrar que o pecador, tendo ofendido a Deus,

    no tinha mais o direito de viver, que merecia a morte. Em certossacrifcios, aps ter queimado uma parte da vtima, comiam a

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    outra parte, para comungar assim vtima e, por meio dela, divindade. Porque, aps a glorificao de Deus, a unio com ele,quebrada pelo pecado, era o fim para o qual tendia o sacrifcio.

    Portanto, trs atos principais constituam o sacrifcio: o

    oferecimento, a imolao e a comunho que se chamava tambmconsumao. Tudo isto no eram seno figuras ou smbolos quepreparavam o sacrifcio verdadeiro, o sacrifcio que devia oferecero Homem-Deus, o Sumo Sacerdote da nova Lei, para glorificar aDeus e salvar seus irmos. Ora, Deus tem direito a homenagensinfinitas; para render-lhe tais homenagens e reparar a ofensa aele feita pelo pecado, era necessrio um sacrifcio de valor moralinfinito. E, para que assim seja, Jesus, nosso Sumo Sacerdote,quis ser no somente o sacrificador, mas tambm a vtima. S

    deste modo, sob este duplo aspecto, o sacrifcio oferecido por eleteria verdadeiramente um valor infinito, pois a dignidade de umsacrifcio depende da dignidade da pessoa que o oferece e davtima oferecida. Ora, Jesus, sacerdote e vtima, no outroseno o Homem-Deus, isto , uma pessoa infinita.

    Desde o primeiro instante de sua encarnao no seio virginalde Maria, Cristo se ofereceu a seu Pai como vtima para substituirtodos os holocaustos. Lemos na Epstola aos Hebreus 10,5-6:"Entrando no mundo, Cristo diz: 'Tu no quiseste sacrifcio nem

    oblao, mas me deste um corpo. Os holocaustos pelo pecadono te agradam. Ento eu disse: eis que venho para fazer, Deus, a tua vontade"'. E toda a sua vida foi uma cruz e ummartrio, orientada para a imolao final que constitura o atoessencial de seu sacrifcio. Sua imolao como vtima comeacom sua Paixo, no Jardim da Agonia, para terminar no Calvrio.Mas, antes de se deixar imolar pelos algozes, Jesus quis de novooferecer-se como vtima e, desta vez, num verdadeiro sacrifcio,acompanhado de ritos misteriosos, o sacrifcio da ltima Ceia.

    "Tomai e comei, este o meu Corpo, dado por vs." "Bebei todos,porque este o meu sangue, o sangue da Nova Aliana, que derramado por vs para a remisso dos pecados."

    No Jardim das Oliveiras, vendo-se carregado dos pecados doshomens, submerso pelas guas turvas de todas as iniqidadeshumanas e isto diante do Deus de toda santidade, uma tristezamortal apodera-se de sua alma e um suor de sangue corre-lhe aolongo do corpo. Gostaria de ver longe dele este clice deamarguras, mas submete-se vontade de Deus: "Meu Pai, se

    possvel, permiti que passe de mim este Clice; faa-se, contudo,no como eu quero, mas como vs quereis" (Mt 26,39).

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    Trado por Judas, renegado pelo chefe dos doze, abandonadopor quase todos os seus discpulos, esbofeteado, injuriado pelosservos do sumo sacerdote, condenado pelo Sindrio por ter-seproclamado o Filho de Deus, condenado por Pilatos que, no

    entanto, momentos antes tinha proclamado sua inocncia,flagelado, coroado de espinhos e carregando uma pesada Cruz,sobe penosamente o monte Calvrio, estende seus membrosdoloridos, v seus ps e suas mos traspassados pelos cravos,ouve os insultos e as zombarias dos chefes de seu povo, Escribase Fariseus; e em vez de se vingar, como bem poderia fazer, pedea seu Pai que lhes perdoe, porque no sabem o que fazem. Ele o Bom Pastor que d sua vida por suas ovelhas, conforme tinhadito: "Eu sou o Bom Pastor; o Bom Pastor d sua vida por suasovelhas... Ningum me tira a minha vida, mas eu a entrego pormim mesmo; tenho o poder de entreg-la e tenho o poder deretom-la novamente. Este o mandamento que recebi de meuPai" (10 10). Cumprido o mandamento, pde exclamar: "Est tudoconsumado". S lhe falta permitir morte levar sua vtimavoluntria, e o fez oferecendo-se pela ltima vez a seu Pai comovtima de propiciao. "Pai, em vossas mos entrego meuesprito" (Lc 23,46). Dizendo isto, expirou; e Deus foi glorificadocomo jamais o tinha sido; e os homens foram salvos.

    Os antigos, aps a imolao da vtima, desejavam um sinalque comprovasse ter sido a oferta aceita por Deus. s vezes oSenhor enviava o fogo do cu para consumir a vtima que, ento,se elevava ao cu como um sacrifcio de agradvel odor (verElias). Houve algo de anlogo aps a imolao do Calvrio. Emvez de enviar o fogo do cu, para consumir a vtima, Deusressuscitou seu Filho, conferindo a seu corpo glorioso um podersantificador que se exercer pela Eucaristia, banquete sagradopelo qual entramos em comunho com a vtima e por meio destacom Deus a quem foi oferecida.

    Quarenta dias aps sua ressurreio, Cristo subiu glorioso aocu, de corpo e alma, para assentar-se direita do Pai, onde,continuamente, advoga a nossa causa e intercede por ns. SoPaulo, aps ter observado que os sacerdotes da Lei antiga tinhamnecessidade de sucessores porque eram mortais, acrescenta:"Mas Este (Cristo) como permanece para sempre, possui umsacerdcio eterno. E por isso pode salvar perpetuamente os quepor ele chegam a Deus; est sempre vivo para interceder por ns.Tal , com efeito, o Pontfice que nos convinha: santo, inocente,imaculado, segregado dos pecadores e mais elevado do que os

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    cus; que no precisa, como os outros sacerdotes, oferecerdiariamente sacrifcios, em primeiro lugar pelos seus pecados,depois pelos do povo; porque isto o fez uma vez por todas,oferecendo-se a si mesmo" (Hb 7,24-27).

    Sacrifcio Eucarstico

    Na noite em que foi entregue, no decorrer da Ceia pascal, oSenhor Jesus tomou o po e, depois de ter dado graas, oabenoou, partiu e deu a seus discpulos, dizendo: "Tomai ecomei, isto meu corpo que entregue por vs". Do mesmomodo, tomou o clice, deu graas e entregou-lhes, dizendo:

    "Bebei dele todos, porque isto o meu sangue, sangue da NovaAliana, que vai ser derramado por vs e por muitos para aremisso dos pecados". E acrescentou: "Fazei isto em memriade mim".

    O Cordeiro que os judeus imolavam no era seno o smbolodo verdadeiro Cordeiro de Deus que veio imolar-se para tirar ospecados do mundo. Sem dvida, somente no dia seguinte, esteCordeiro ser imolado de modo sangrento na Cruz; mas na Ceiaele est j oferecido como vtima destinada com antecedncia

    morte; Jesus se oferece como vtima aceitando livremente a morteque lhe ser imposta, no dia seguinte; oferece de maneira ritual emstica a imolao que, no dia seguinte, ser realizada demaneira visvel e sangrenta; doravante sua vida no lhe pertencemais, Ele a entregou j para a salvao do mundo.

    Assim, o Salvador sacerdote segundo a ordem e o ritual deMelquisedec; este ltimo ofereceu a Deus em sacrifcio po evinho; Jesus, na ltima Ceia, ofereceu-se a Si prprio, sob asespcies do po e do vinho, tornando assim realidade o que o

    salmista tinha predito, h muitos sculos: "O Senhor fezjuramento e no se arrepender: Tu s sacerdote para sempre,segundo a ordem de Melquisedec" (SI 109,4). Aps ter convertidoo po e o vinho em seu corpo e em seu sangue, Jesus disse aseus discpulos: "Fazei isto em memria de mim". Com estaspalavras, deu-lhes o poder de consagrar seu corpo e seu sangue,e imps-lhes o dever de se lembrarem d'Ele. So Paulo nosexplica de que maneira se faz essa lembrana: "Todas as vezesque comerdes este po e beberdes este clice, anunciareis a

    morte do Senhor" (1 Cor 11 ,26). , pois, Jesus Crucificado que a

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    Eucaristia nos lembra; seu corpo partido, seu sanguederramado!

    A Missa durante a qual a Eucaristia consagrada , portanto,um memorial da Paixo de Cristo, de Cristo agonizando, de Cristo

    morrendo por ns; tambm uma representao viva do sacrifcioda cruz: o sacerdote o mesmo, a vtima tambm. O SumoSacerdote da Nova Lei, ou melhor, o nico Sacerdote, JesusCristo. E se na Missa Ele se oferece pelo ministrio dossacerdotes, unicamente porque ele assim quis fazer dependersua presena no altar da vontade e da ao de um homem. Osacerdote no sacerdote seno em dependncia de Cristo, e sage como seu representante. Na consagrao ele diz: "Isto meucorpo, isto meu sangue" e no isto o Corpo de Cristo, isto o

    sangue de Cristo. Assim como a ltima Ceia foi um verdadeirosacrifcio porque oferecia a vtima que ia ser imolada no diaseguinte, assim tambm a Missa um verdadeiro sacrifcio,porque renova a oferta da vtima j imolada no Calvrio.

    Cumprindo a ordem do Senhor: "Fazei isto em memria demim", os Apstolos e depois deles os seus sucessores, os bispose os sacerdotes, tm sempre oferecido este sacrifcio. No tempodos Apstolos, os cristos j se reuniam para o que chamavam "afrao do po" especialmente ao domingo. Nos Atos dos

    Apstolos, lemos no captulo 20: "No primeiro dia da semana,quando nos reunimos para partir o po..."So Paulo diz muitasvezes que benziam e bebiam o clice e que partiam e comiam opo: "O clice de bno, escreve ele aos Corintios, queconsagramos no , porventura, a comunho do sangue deCristo? E o po que partimos no a comunho do Corpo doSenhor?" (lCor 10,16).

    A Missa Atravs dos Tempos

    Nos tempos apostlicos:

    Sobre a celebrao da Missa nos tempos apostlicos,encontramos algumas informaes nos Atos dos Apstolos, e nasEpstolas de So Paulo. No nos fornecem, porm, umadescrio completa da liturgia primitiva, mas somente aluses oureferncias esparsas que, juntadas, nos permitem, a certo ponto,

    ter uma idia da maneira como os Apstolos e seus primeirossucessores celebraram a liturgia. Dizemos "a certo ponto", porque

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    naquela poca no havia ainda ritos rigorosamente unificados,determinados com antecedncia e dados por oficiais eobrigatrios.

    Os cristos de origem judaica continuam durante um perodo

    no muito breve, a tomar parte no servio religioso que serealizava no Templo de Jerusalm ou nas sinagogas,promovendo, porm, reunies prprias, em casas particulares,para render a Deus o culto de acordo com sua nova f. E, quandose afastaram definitivamente da sinagoga, no deixaram de seguira mesma ordem que os judeus no servio religioso, ou seja:leituras da Bblia com uma homilia sobre o texto lido, canto dossalmos e oraes. Esta parte herdada dos judeus - constitui oncleo da primeira parte da nossa missa, conhecida como

    "Liturgia dos Catecmenos" ou "Liturgia da Palavra". A esteservio religioso da Sinagoga, foram-se acrescentando elementosnovos prprios s reunies crists, que so:

    1. O gape ou Ceia Fraternal que os cristos tomavam noincio das suas reunies e do qual fala So Paulo em sua primeiraepstola aos Corintios 11,20-21.

    2. Certas manifestaes de carismas ou dons espirituais queacompanhavam nos primeiros anos do cristianismo a efuso doEsprito Santo, como o dom da profecia e das lnguas (1 Cor

    12,13,14). O dom das lnguas era a capacidade de falar emlnguas desconhecidas at daquele mesmo que falava. Emexcesso de entusiasmo e de gestos, o glosslago* cantava oslouvores a Deus. Claro que no aproveitava ao prximo. Mas,como dava muito na vista, era muito desejado dos Corintios.Profecia, aqui, sobretudo a pregao inspirada para "edificar,exortar e consolar". Por suas funes de utilidade comum, o

    Apstolo lhe confere primazia sobre o dom das lnguas. "Desejoque todos vs faleis lnguas; mais ainda que profetizeis. Pois

    quem profetiza superior a quem fala lnguas - a no ser que eletraduza, para que a Igreja receba edificao" (14,5).

    "Se dizes um louvor s em esprito, como poder o noiniciado dizer o Amm tua ao de graas. Porque ele no sabeo que dizes. Tu dars muito bem graas, porm o outro no seedifica. Dou graas a Deus que falo em lnguas mais do que todosvs; porm, na Igreja, prefiro falar dez palavras inteligveis parainstruir aos outros do que dez mil palavras em lnguas(estranhas)" (14,16-19). [...]

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    3. A Ceia do Senhor que se celebrava especialmente aosdomingos e na qual se fazia a consagrao do po e do vinhoseguida da comunho.

    O gape e a manifestao dos carismas desapareceram

    rapidamente da Igreja por causa do desvirtuamento da suafinalidade: com efeito, no incio os fiis mais ricos traziam onecessrio para a mesa, a que todos se assentavam comoirmos, numa demonstrao de unidade e caridade crist. Logo,porm, surgiram os abusos que o Apstolo censura: no punhammais em comum, mas cada um comia o que levava; e os pobres,que nada podiam levar, ficavam com fome e humilhados; houvetambm excessos na bebida e desordens na manifestao doscarismas.

    So Paulo censura nos Corintios os abusos aos quais seentregaram, lembrando-lhes que no lhes ensinou a promoverbanquetes dominados pelo egosmo e pela desordem, mas sim afazer o que o Senhor Jesus fez na noite em que foi entregue, isto, que competia quele que preside a reunio tomar po, benz-lo, parti-lo, consagr-lo com as mesmas palavras que Cristopronunciou, comungar dele e distribu-lo aos fiis; e fazer omesmo com o clice.

    Para dar uma significao mais clara a estes ritos e sobretudo

    para fazer compreender mais facilmente o verdadeiro sentido daspalavras "isto meu corpo..., isto meu sangue...", o celebrantefazia a narrao dos atos pelos quais Cristo instituiu a Eucaristia,na ltima Ceia, de modo que as palavras "isto meu corpo, ... isto meu sangue..." vinham em seu lugar como pronunciadas porCristo pela boca do sacerdote (presbtero).

    O preceito do Senhor: "Fazei isto em memria de mim",acrescentado aps a consagrao do clice, dava ensejo recordao da Paixo, da Morte, da Ressurreio e da Ascenso

    do Cristo ao cu.Com efeito, por estes mistrios o Salvador seofereceu em sacrifcio a Deus Pai. Assim tambm o celebrante,reproduzindo estes ritos e recordando estes mistrios, oferecia amesma vtima ao Pai. Eis a origem natural da orao que segueas palavras da consagrao em todas as liturgias: e anamnese(ou lembrana): Lembrando-nos deste [...].

    Para a poca que seguiu a morte dos Apstolos, um dosdocumentos mais antigos e mais interessantes uma apologiados cristos escrita por So Justino, que morreu em 165. Entre

    150 e 155 dirigiu ele ao imperador Romano Antonino sua primeiraapologia na qual descreve o que se pratica nas assemblias

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    crists, a fim de mostrar que as atrocidades que lhes soatribudas pelos pagos so puras calnias. Nele refere-se duasvezes s celebraes eucarsticas. No nos transmite um textocompleto da liturgia nem frmulas de oraes ou de exortaes

    eucarsticas, mas a seqncia detalhada dos atos praticadosnestas assemblias e a maneira como era celebrada a Eucaristiaem Roma e nos pases onde ele viveu, a Palestina (onde nasceu)e o Egito.

    Eis sua descrio de uma reunio dominical:

    No dia dito do sol (domingo) renem-se em um mesmo lugartodos os cristos, os que residem nas cidades e os que residemno campo.

    O leitor l trechos tirados das memrias dos Apstolos (NovoTestamento) e dos livros dos Profetas (Antigo Testamento).

    Terminada a leitura, aquele que preside toma a palavra paraexplicar aos presentes o que foi lido e exort-los a pr em prticato belos ensinamentos (homilia).

    Em seguida, levantamo-nos todos e dirigimos a Deus oraese splicas (splica insistente ou ecteni, aps o Evangelho).

    Suspendendo as oraes, abraamo-nos uns aos outros(sculo da paz).

    Depois levam quele que preside a reunio dos irmos emCristo, po e um clice contendo vinho, misturado com gua(Procisso do ofertrio).

    O Presidente toma o po e o clice, louva e glorifica o Pai douniverso em nome de seu Filho e Esprito Santo; dirige-lheabundantes aes de graas por ter-se dignado dar-nos estesdons (Anfora).

    Terminada esta ao de graas (Eucaristia) todos os

    presentes exclamam: Amm.Depois os ministros que chamamos diconos distribuem atodos os presentes o po da Eucaristia e o vinho misturado comgua (Comunho). Estes mesmos diconos levam aos ausentessua parte do po e do vinho eucarsticos.

    Por fim, os ricos socorrem os indigentes (Coletas).

    A partir do sculo IV as aluses Eucaristia so maisnumerosas mas menos precisas por causa da disciplina do"Arcano" ou segredo, que foi adotada pela Igreja e que proibia

    falar da Eucaristia aos no-cristos.

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    Nos quatro primeiros sculos:

    Dos numerosos documentos que temos sobre as celebraeslitrgicas nos quatro primeiros sculos - como, por exemplo, aDidaqu (ano 90), a Apologia de So Justino (cerca de 150), ashomilias de Orgenes (+254-255), as Constituies Apostlicas(entre 370 e 410) - pode-se concluir que em todas as Igrejas(Roma, Alexandria, Antioquia e norte da frica) havia grandeuniformidade nas linhas gerais, isto :

    Liturgia dos catecmenos com leituras, homilia, e orao.

    Liturgia dos fiis com sculo da paz, splicas, anfora ou

    ofertrio, narrao da ltima ceia, consagrao, anamnese ecomunho.

    Esta uniformidade restringia-se, todavia, s linhas gerais, poiso celebrante tinha grande liberdade na composio das oraes ena ordenao dos pormenores rituais: desenvolvendo o mesmotema (Ao de Graas pelos dons recebidos), cada celebrante ofazia a seu modo, por isso temos frmulas parecidas no fundo ediferentes na forma.

    Esta liberdade, porm, no ser um obstculo unificao

    progressiva das celebraes: Com efeito, as cerimnias repetidasfreqentemente tornam-se costumes fixos, ritos mais imponentese mais complicados que dificilmente o celebrante poderiamodificar. Quanto s oraes, o bispo ou sacerdote devia seguiruma norma geral no desenvolvimento das idias; e quem rezapelas mesmas intenes acaba, forosamente, repetindo asmesmas palavras; e frmulas repetidas por muitos tornam-setradicionais, especialmente se provenientes de grandes bispos:seus discpulos ou sucessores as guardaro com respeito e

    fidelidade.Outra causa para esta unificao foi a influncia das grandes

    metrpoles. As Igrejas de Antioquia, de Alexandria e de Romaempenhavam-se em propagar a f crist nas regies vizinhas. Asnovas Igrejas adotavam os usos litrgicos da Igreja-Me que asfundou. E assim os vrios ritos foram conhecidos pelo nome dagrande Igreja que os usava: Rito Antioqueno, Rito Alexandrino,Rito Romano, Rito Bizantino (relativo a Bizncio-Constantinopla).

    A partir do sculo V:

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    No fim do sculo IV e comeo do sculo V encontram-sequase definitivamente constitudas 3 famlias litrgicas, ou ritos,conhecidas pelos nomes das 3 grandes Igrejas patriarcais, asaber: o Rito Romano; o Rito Alexandrino e o Rito Antioqueno. O

    primeiro e suas ramificaes formam o que se convencionouchamar ritos ocidentais e os dois ltimos, ritos orientais.

    1. O Rito Ocidental ou Latino teve duas ramificaesprincipais: o rito romano (em uso em Roma) e o rito galicano (naGlia). Este ltimo dividiu-se, dando origem ao rito celta (IlhasBritnicas), africano do norte, morabe e ambrosiano.

    Atualmente o Rito Latino apresenta trs liturgias: a romana, amais importante e que inclui vrios costumes particulares dedioceses e ordens religiosas (como, por exemplo, os das dioceses

    de Braga, em Portugal, e de Lyon, na Frana; e os dosDominicanos, dos Beneditinos etc.). A morabe, em uso nasCatedrais de Toledo e Salamanca, na Espanha; e o ambrosiano,em uso em Milo e proximidades, na Itlia.

    2. Ao Rito Alexandrino, pertencem atualmente o Rito Copta,no Egito; e o Rito Etope, ou Abissnio, na Etipia; usados porcatlicos e no-catlicos.

    3. Do Rito Antioqueno, derivam a maioria dos ritos orientaisem uso atualmente: o Siraco, o Caldano, o Armnio, o Maronita

    e o Bizantino.

    3. O Rito Bizantino :

    O Rito Bizantino tira o seu nome de Bizncio, cidadezinhasituada sobre o Bsforo, aos confins da Europa e da sia (na

    Antiga sia Menor, a atual Turquia). Constantino Magnotransformou-a em cidade grande e lhe deu seu nome:Constantinopla, cidade de Constantino. Inaugurada em 330,passou a ser a Capital do Imprio Romano Oriental. Um de seusgrandes e santos bispos foi So Joo Crisstomo (398-404),morto no exlio em 407.

    A Liturgia de Antioquia chegou at ela com as particularidadesintroduzidas por Cesaria de Capadcia, sede episcopal de SoBaslio Magno, (+379). Em razo da centralizao civil e religiosalevada a efeito por Constantinopla, e das prerrogativas que lheoutorgavam os Conclios Ecumnicos de Constantinopla (381) ede Calcednia (451, cnon 28) dando-lhe o nome de Nova Roma

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    e o primeiro lugar aps esta ltima, a cidade imperial tomou apreeminncia no Oriente e as inovaes, para serem legtimas,deviam ser aprovadas por ela; o Rito da capital difundiu-serapidamente pelas provncias mais longnquas do Oriente Cristo,

    pela Europa e pela sia. No sculo XIII os patriarcados melquitasde Alexandria, de Jerusalm, de Antioquia, abandonaram seuantigo rito para adotar o de Bizncio.

    Em nossos dias seguem este rito mais de 200 milhes de fiisentre catlicos e ortodoxos, espalhados pelo mundo inteiro, atnas Amricas. "Pode-se afirmar que, hoje, do ponto de vista daextenso geogrfica e do nmero de fiis, Rito Bizantino equivalea Rito Oriental, quase como Rito Romano a Rito Ocidental"(Salaville).

    "Conhecer, venerar e conservar e fomentar o riqussimopatrimnio litrgico e espiritual dos orientais de mximaimportncia para guardar fielmente a plenitude da tradiocrista e realizar a reconciliao dos cristos orientais eocidentais (Decreto sobre Ecumenismo, 1_1)

    "Longe de obstar a unidade da Igreja, certa diversidade decostumes e usos ... Antes aumenta-lhe o decoro e contribuino pouco para cumprir sua misso" (Decreto sobreEcumenismo, 16).

    H no Rito Bizantino trs liturgias:1. A Liturgia dos Pr-santificados: antes um ofcio de

    Comunho solene. celebrada s 4as e 6as feiras da quaresma,nas Catedrais.

    2. A Liturgia de So Baslio.

    3. A Liturgia de So Joo Crisstomo.

    Esta ltima seria uma abreviao da de So Baslio. ela quese celebra quase todos os dias e que vamos tentar explicar.

    A Missa de So Joo Crisstomo

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    A Missa de So Joo Crisstomo divide-se em 3 partes:

    A preparao das oferendas ou da matria do sacrifcio;

    A Liturgia dos Catecmenos ou Liturgia da Palavra;

    A Liturgia dos Fiis ou Liturgia Eucarstica.

    SIMBOLISMO

    As cerimnias da Missa so cheias de simbolismo. E no deestranhar, pois o prprio Cristo, como vimos, quis que a Eucaristiaseja um memorial da sua paixo, morte e ressurreio. E a Igrejaordenou a Divina Liturgia de modo a nos lembrar a pessoa doSalvador e os mistrios da sua vida sobre a terra.

    Quanto ao simbolismo, divide-se a Missa em quatro partes:A primeira vai da preparao at a procisso do Santo

    Evangelho, e simboliza a vida oculta de Cristo.

    A segunda parte vai da procisso do Evangelho at aprocisso do ofertrio, e simboliza a vida pblica de Cristo.

    A terceira parte vai da procisso do Ofertrio at depois daComunho, e simboliza a vida padecente de Cristo (Paixo emorte).

    A quarta parte vai de depois da Comunho at o fim, esimboliza a vida gloriosa de Cristo.Celebrao de frente para o povo.

    Na Liturgia Romana renovada o Celebrante consideradocomo o Presidente da Assemblia, o anfitrio dos comensais namesa do Senhor. Por isso lhe recomendado (no prescrito)celebrar de frente para o povo.

    Na Liturgia Bizantina o Celebrante considerado mais como oguia, o introdutor dos fiis ao banquete eucarstico, e seu porta-

    voz na sua audincia com Deus; como o pastor que "caminhadiante do rebanho" para conduzi-lo s fontes da graa e dasalvao. Ele Cristo caminhando adiante de seus discpulos,quando subia a Jerusalm ao encontro de sua paixo e morte (Mc10,32) que vai renovar misticamente sobre o Altar. Por isso nose adotou o uso de celebrar de frente para o povo. A Liturgia no unicamente Ceia, tambm sacrifcio.

    Freqentemente, porm, o celebrante volta-se para aAssemblia para transmitir-lhe os ensinamentos e os preceitos do

    Mestre e desejar-lhe a paz. Duas vezes anda no meio dela comofazia Cristo (procisso do Evangelho e procisso do Ofertrio).

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    PRIMEIRA PARTE DA MISSA

    PREPARAO DAS OFERENDAS OU MATRIA DOSACRIFCIO (PRTESE)

    Esta primeira parte se faz secretamente, dentro do santurio,sem a participao dos fiis, simbolizando assim os 30 anos devida oculta que o Salvador passou preparando-se para o seuministrio pblico.

    Aps ter rezado as oraes chamadas "Orao da porta",porque se fazem diante da "porta santa", que d acesso aosanturio, e dos cones do Salvador e da Me de Deus, o

    sacerdote entra no santurio, paramenta-se, lava as mos e sedirige para o altar pequeno, chamado "Altar da Preparao", ouPrtese, e situado esquerda do altar-mor. Sobre ele acham-se

    j colocados os objetos que vo servir para o sacrifcio, a saber: oclice, a patena, o asterisco, os vus (grande e pequenos), o po,a gua e o vinho e uma pequena esptula (em forma de lana).

    O po do sacrifcio s pode ser de farinha de trigo pura e comfermento. Chama-se "prsfora", isto , oferenda, oblata , porqueeram os fiis que o ofereciam para o sacrifcio. Antigamente

    usavam-se 5 pes, mas hoje um s suficiente. (E at est-seintroduzindo o costume do uso de hstias pr-cortadas.) De formaredonda, leva no meio a marca de um selo quadrado com asabreviaes das palavras gregas que significam: "Jesus Cristotriunfa". Esta parte carimbada formar a hstia chamada"Cordeiro", para lembrar o cordeiro pascal, figura de Cristo, oCordeiro de Deus que veio terra para tirar o pecado do mundo.

    Com a lana o sacerdote tira da prsfora o "Cordeiro" que peno meio da patena; e derrama vinho e gua no clice. Depois

    corta uma partcula (geralmente triangular, chamada "panaghia"),em honra Virgem Maria, Me de Deus; e partculas em honrados Santos e em inteno dos vivos e dos mortos; cobre o clicee a patena com os vus; incensa as oblatas e recita a orao daoferenda que cada um dos concelebrantes deve rezar, mesmo seno participou da preparao da matria do sacrifcio.

    SIMBOLISMO DA PRTESE

    A Prtese simboliza a manjedoura onde nasceu o Salvador.Mas, como ele nasceu para ser vtima, o sacerdote,

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    representando o Esprito Santo realizando o mistrio daEncarnao, extrai o Cordeiro do po como do seio virginal daSantssima Me de Deus, proferindo as palavras do profetaIsaas, que o mostrava vtima de propiciao para nossos

    pecados:"Como uma ovelha foi levado ao matadouro. E como umcordeiro sem mancha diante do que o tosquia no abriusequer a sua boca. Na sua humildade, o seu julgamento foiexaltado. Quem contar sua gerao? Porque a sua vida tirada da terra" (Is 3,7s.)

    E, entalhando a hstia em forma de cruz, diz:

    " imolado o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo,para a vida e a salvao do mundo".

    Jesus ofereceu-se em oblao desde o primeiro instante dasua vida terrestre: "Eis que venho para fazer a tua vontade"; estaoblao teve sua coroao no Calvrio.

    Nascimento e morte do Salvador so duas fases de ummesmo ato. Por isso a Liturgia Bizantina considera tambm aPrtese como o lugar onde se imola em figura o Cordeiro. O vinho misturado com gua, porque do lado do Salvador saiu sangue egua. O sacerdote faz esta mistura depois de abrir com a lana o

    lado direito do Cordeiro, em cima da palavra IS., dizendo oversculo de So Joo:

    "E um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lana eimediatamente saiu sangue e gua. Aquele que viu deutestemunho, e seu testemunho verdadeiro ".

    A Me de Deus figurada pela partcula especial colocada direita do Cordeiro como se estivesse no Calvrio. Colocandoesta partcula, o sacerdote repete o versculo do salmo 44 que dizque o lugar da rainha direita do rei:

    "A Rainha ps-se vossa direita, envolta num manto bordadoa ouro.

    esquerda do Cordeiro so colocadas em 3 filas, 9 partculasem honra s legies de santos: os Anjos; So Joo Batista, oPrecursor; os Profetas; os Apstolos; os Santos Bispos e Padresda Igreja; os mrtires; os santos ascetas; os anrgiros, SoJoaquim e Ana, avs de Deus; o Padroeiro da Igreja, So JooCrisstomo ou So Baslio, autores da Liturgia que vai sercelebrada. Por baixo do Cordeiro colocam-se partculas em

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    memria dos vivos e dos mortos: especialmente daqueles pelosquais a missa ser celebrada.

    E assim, acham-se reunidos em redor do Cordeiro os seusmembros msticos que formam a Igreja triunfante no cu, a Igreja

    militante na terra e a Igreja padecente no purgatrio. Voltando aver no altar da pregao a gruta de Belm e, na patena, amanjedoura, o sacerdote coloca em cima desta um asteriscosimbolizando a estrela que guiou os magos e "parou sobre o lugaronde estava o menino". Depois cobre as oblatas com os vuspara lembrar as faixas com as quais Maria envolveu o corpo doMenino Jesus recm-nascido na manjedoura; e os lenis queserviram para envolver o corpo do Salvador morto aps a descidada cruz. Enfim, incensa as oferendas para lembrar os presentes

    dos Reis magos e tambm os aromas com os quais as santasmulheres (mirforas) embalsamaram o corpo do Redentor.

    O Deus, nosso Deus, que enviastes Nosso Senhor JesusCristo, o po celeste, o alimento do mundo inteiro, comosalvador, Redentor e Benfeitor, para nos abenoar e nossantificar; abenoai esta oferenda... e lembrai-vos dos que aofereceram e daqueles pelos quais foi oferecida e guardai-nosirrepreensveis no cumprimento dos vossos divinos mistrios".

    SEGUNDA PARTE DA MISSA

    LITURGIA DOS CATECMENOS OU LITURGIA DA PALAVRA

    Esta parte compreende:

    Uma longa orao dialogada chamada Grande splica (grandesinapti) ou irinica.

    Cantos de salmos, antfonas ou tpica, com duas pequenas

    sinaptes.A pequena entrada ou procisso com o livro dos Santos

    Evangelhos.

    Hinos prprios do dia (troprio).

    O Hino do trisgion: Santo Deus...

    A Epstola com seu prokmenon e Aleluia.

    O Evangelho.

    O ecten ou splica insistente.

    Orao pelos catecmenos (e despedida dos mesmos).

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    At a procisso com o Evangelho esta parte continuasimbolizando a vida oculta de Jesus. Da procisso do SantoEvangelho at a procisso do ofertrio, recorda-se a vida pblicade Jesus at sua paixo.

    O INCENSO

    O Sacerdote termina a preparao das oferendas e comea aMissa dos Catecmenos, incensando os dois altares, os cones, aIgreja e os fiis. Este o primeiro grande incensao. O incensoqueimado pelo fogo transforma-se em fumaa que sobe ao cuem forma de nuvens, enchendo o ambiente da fragrncia de seuaroma. Sua destruio pelo fogo faz dele um holocausto e seu

    aroma o fruto desta destruio. Assim os discpulos de Cristodevem oferecer-se em holocausto a Deus e irradiar em volta obom odor espiritual de sua vida crist. A fumaa do incenso quese eleva para o alto figura a orao pela qual a alma se eleva aDeus. Por isso ouvimos o Salmista (140,2) clamar: "Que minhaorao, Senhor, suba at vs como o incenso" e vimos no livro do

    Apocalipse (5,8) as oraes dos Santos no cu representadas portaas de ouro cheias de perfumes que os 24 ancios revestidosde branco, oferecem ao Cordeiro de Deus que est de p no meiodo trono, como se tivesse sido imolado. Assim, o incenso criadesde o incio da Missa uma atmosfera celeste lembrando aosacerdote e aos fiis a necessidade de se prepararem para osacrifcio, para serem, como diz o Apstolo, "o bom odor deCristo", pelo qual difunde em toda a parte o perfume de suadoutrina" (2Cor 2,14-15).

    Depois de cobrir as oferendas com os vus, o sacerdoteinclina-se 3 vezes diante delas e as incensa, em sinal deadorao para lembrar a adorao dos reis Magos ao MeninoJesus e os presentes (ouro, incenso e mirra), que lhe ofereceram.Dirigindo-se em seguida ao altar-mor, incensa-o nos quatro lados,rezando secretamente: " Cristo, estveis de corpo no sepulcro ecom a alma nos infernos, e, como Deus, no paraso com o ladro;e no trono com o Pai e o Esprito Santo, ocupando todo lugar, vso ilimitado".

    Com isto recorda:

    O lugar simbolizado pelo altar, isto , o Glgota e o sepulcro,onde o Filho de Deus encarnado morreu para a redeno do

    gnero humano;

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    Os infernos (ou Manso dos mortos) (aqui no sentido delimbo), onde desceu depois de morto, para salvar os justos quemorreram, antes dele, e estavam sua espera. Por isso haviahabitualmente tmulos debaixo dos altares:

    O Paraso ou Cu, onde fez entrar o bom ladro;O trono celeste, no qual sentou-se glorioso, direita do Pai.

    Prosseguindo, incensa os cones, a Igreja e os fiis.

    O sacerdote incensa o altar porque o trono de Deus; oscones, porque o representam e representam seus santos; osfiis, porque so suas criaturas feitas sua imagem esemelhana; os objetos de culto porque consagrados a ele; e aIgreja porque sua casa. Incensando os fiis no incio da missa, o

    Sacerdote lembra um antigo costume na vida domstica de todosos povos do Oriente, que ofereciam ao hspede, desde a suaentrada em casa, com que se lavar e se perfumar (ver Lc 7,44-47). Assim o sacerdote, em sua qualidade de ministro de Deus,incensa o rico e o pobre sem distino, dando-lhes as boas-vindas a este banquete espiritual, a esta ceia mstica, comohspedes e visitantes convidados a serem comensais do Reiceleste.

    bom tambm observar que, cada vez que Cristo vai

    aparecer (ou se manifestar) durante o sacrifcio, sua apario precedida pelo incensao: no comeo da missa, no evangelho eno ofertrio. Nestes trs momentos que lembram a apario deCristo (no primeiro, como recm-nascido; no segundo, comopregando a Boa-Nova; e, no terceiro, como sofrendo por nossacausa), a Igreja convida-nos a receb-lo com perfumes, e aencher nossos coraes do aroma dos bons sentimentos decaridade, f, humildade e pureza.

    "BENDITO SEJA O REINO DO PAI... "Aps ter beijado o Evangelho e o Altar, o sacerdote segura o

    livro dos Evangelhos com as duas mos, faz com ele uma cruzem cima do Antimnsion, e diz em voz alta:

    "Bendito seja o reino do Pai, do Filho e do Esprito Santo,agora..."

    O Evangelho o Verbo, isto , a Palavra de Deus e sua Boa-Nova. Nele os Evangelistas nos transmitem as verdades da nossa

    f reveladas pelo Verbo encarnado. Por isso, liturgicamente, ficasempre colocado em lugar de honra, em cima do Altar, como num

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    trono. S cede este lugar ao Verbo de Deus feito homem, quandoeste, a partir do ofertrio at aps a comunho, for ali levado paraser imolado. A Igreja, templo e fiis, o reino de Deus, isto , suamorada e seu povo. Abenoando simbolicamente, em forma de

    cruz, o universo pelos quatro pontos cardeais, o sacerdote pedeque este reino de Deus, por meio de sua palavra, seja bendito epropagado pelo mundo inteiro, para a glria da Trindade Santa. A

    Assemblia, apoiando o pedido do sacerdote, clama: Amm,assim seja (Amm, palavra aramaica, que significa: assim seja).

    "IRINICA"

    Em seguida, o sacerdote convida os fiis a repetir as

    invocaes que a Igreja dirige incansavelmente a Deus, desde osprimeiros tempos da sua existncia. Convida-os inicialmente arezar em paz: "Em paz oremos ao Senhor"; e a pedir a paz, noqualquer paz, mas a paz que vem do alto, a paz com Deus, com oprximo e com sua prpria conscincia, condio indispensvelpara que a orao seja atendida. Por causa desta insistncia "napaz", esta primeira orao dialogada foi chamada irinica (dogrego: irini = paz).

    Os cristos devem pedir esta paz no s para si, mas tambm

    para o mundo inteiro. Por paz no se entende somente a ordem, osossego, a tranqilidade e o bem-estar temporais, mas sobretudoa felicidade sobrenatural proveniente da estabilidade das SantasIgrejas de Deus e da unio de todos na f e na caridade. A oraose faz especialmente pelos fiis presentes no templo, que nele secomportam com f, devoo e temor (isto , respeito) de Deus;pelo pastor e pelo clero da diocese; pelos governantes e seusauxiliares; pelo exrcito; por todos os povoados do pas (grandese pequenos, cidades e aldeias), especialmente pela cidade onde

    se celebra o sacrifcio; pela salubridade do ar, pela abundnciados frutos da terra necessrios vida, e por tempos pacficos;pelos viajantes por mar, terra e ar; pelos que sofrem e para quetodos sejam livres de aflio, perigo e necessidade.

    "KYRIE ELEISON"

    A cada um destes pedidos, a Assemblia dos fiis, dominada,dizem "As Constituies Apostlicas" do sculo IV, pela voz das

    crianas, clama Kyrie eleison, Senhor, tende piedade. Convmaqui ressaltar esta referncia s vozes infantis participando, pela

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    fcil repetio, do Kyrie eleison, ao conjunto da orao comum.Assim, desde o sc. IV manifesta-se a preocupao pelaparticipao ativa das crianas no Santo Sacrifcio. O prprio SoJoo Crisstomo insiste, em suas homilias, sobre esta

    interveno das crianas inocentes, colocadas frente daassemblia (diz ele), na orao dialogada, para solicitar amisericrdia de Deus por seu povo (d. Le rle du diacre, p. 14 e40). Em vez de ficar conversando ou brincando durante a Missa,as crianas devem, portanto, prestar ateno e responder,

    juntamente com os adultos, aos pedidos feitos pelo sacerdote.Deus gosta de ouvir sua voz, mesmo desafinada, e se interessapor elas. No disse ele aos apstolos: "Deixai vir a mim ascrianas?"

    O Kyrie eleison a orao que mereceu elogio do prprioCristo, na parbola do Fariseu e do Publicano. No devemos,pois, cansar-nos de repeti-Ia. o grito do homem humilde,pecador e necessitado que implora a misericrdia de seu Senhor.E Deus, diz-nos o Salmista, "atende orao dos humildes e nodespreza a sua prece" (101,18).

    COMEMORANDO...

    Para marcar a impotncia de nossas oraes, s quais faltama pureza da conscincia, a reta inteno e o ardor da f e daesperana, o sacerdote, dirigindo seus olhares para a Me deDeus e os santos, convida os fiis a comemorar, isto , a recorrerqueles que sabiam rezar melhor do que ns e que, agora, rezampor ns no cu; e a nos recomendar, ns mesmos, uns e outros etoda a nossa vida a Cristo, nosso Deus. Ao ouvir aqui o nome deMaria, os fiis costumam fazer uma inclinao da cabea emdireo ao cone da Me de Deus, dirigindo-lhe uma das

    saudaes seguintes: "A Ela, a mais nobre das saudaes" ou"Em ti deposito toda a minha esperana", ou " Santssima Me deDeus, salva-nos!". Esta saudao no consta nas rubricas, nemest exigida pelo sentido da orao, antes uma jaculatriasaindo espontaneamente do corao de filhos profundamentedevotos sua me. Fazem tambm uma inclinao em direo aocone do Salvador, quando ouvem o nome de Cristo.

    Atendendo ao convite do sacerdote e, em unio com ele, aassemblia clama: a Ti, Senhor, isto , Sim, ns nos

    recomendamos a Ti, Senhor.

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    O sacerdote termina esta srie de splicas pela glorificao daSantssima Trindade, glorificao esta que, tal um fio de ouroligando tudo, corre atravs da Liturgia, comeando e concluindocada ato e cada orao. Nesta glorificao o sacerdote exprime

    tambm os motivos que nos levam a ter confiana que nossospedidos sero atendidos por Deus: Ele poderoso, glorioso,misericordioso e amigo dos homens. A Assemblia em oraoexpressa sua adeso pelo "Amm", "assim seja".

    ANTFONAS, TPICA E SINAPTES

    Entre a grande splica da paz (grande sinapti ou irinica) e asduas splicas pequenas (pequenas sinaptes) o coro ou o povo

    canta as Antfonas, as tpicas e o macarismi (Bem-aventuranas).Sinapti: A palavra sinapti equivale ao termo latino "collecta":

    nela o sacerdote recolhe, colige em uma frmula comum asintenes principais de cada um e de todos os membros da

    Assemblia. Antigamente a grande sinapti ou irinica era repetidadepois da 1 a e da 2a Antfona (e entre as oraes pelos fiis);depois a Igreja contentou-se com o primeiro e o ltimo pedido, acomemorao da Me de Deus e dos Santos e a glorificao daSantssima Trindade, para evitar a repetio cansativa.

    Antfonas: So aclamaes ou jaculatrias, cantadas pelocoro, em forma de estribilho e intercaladas entre os versculos decertos salmos, escolhidos de acordo com a festa que se celebra,e lidos pelo leitor no meio do coro. Aqui tambm antigamente lia-se o salmo inteiro; depois, para abreviar, contentou-se com 3 ou 4versculos; e, em nossos dias, geralmente cantam-se somente asantfonas sem os versculos dos salmos.

    Nos dias comuns da semana as antfonas so as mesmas;para as festas do Senhor e da Me de Deus, h antfonas e

    salmos prprios escolhidos de acordo com cada festa. Aaclamao, porm, da primeira antfona invarivel para os diascomuns como para as festas: um apelo intercesso da Me deDeus: pela intercesso da Me de Deus, Salvador, salvai-nos.

    Tpica: Aos domingos, em geral, as duas primeiras antfonasso substitudas pelos salmos 102 e 145, respectivamente,chamados "tpica", isto , marcados; e a 3a pelas "bem-aventuranas" do Sermo da Montanha, conhecidas pela palavragrega que comea cada uma "Macarismi" "Bem-aventurados". pena que as tpicas e sobretudo os macarismi estejam sendo

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    postos de lado: serviam to bem para lembrar o que algumchamou de "Carta Magna do Cristianismo", e para anunciar aapario do Salvador como pregador da sua nova doutrina, a sersimbolizada pela pequena entrada: Bem aventurados os pobres,

    os que choram, os mansos, os misericordiosos, os puros, ospacficos, os perseguidos...

    O Monogenis ( Filho Unignito). No fim da 2a Antfona ou do2 Salmo das tpicas, canta-se o hino: " Filho Unignito" (emgrego o Monogenis). Este hino, composto provavelmente em

    Antioquia (pelo patriarca Sevrio) e introduzido na Liturgia peloimperador lustiniano 11 em 535 de grande teor teolgico: empoucas palavras, enuncia os mistrios fundamentais da nossa f:a Santssima Trindade, a Encarnao do Filho de Deus, a

    Redeno do gnero humano pela morte de Cristo na cruz; amaternidade divina de Maria e sua virgindade perptua. Unsliturgistas consideram-no como uma profisso de f para oscatecmenos como o Credo para os fiis.

    A PEQUENA ENTRADA

    Enquanto o coro canta a 3 Antfona ou as Bem-aventuranas,o sacerdote precedido pelo dicono segurando o Evangelho, e

    pelos aclitos segurando a cruz, as tochas e o turbulo, desce doaltar e sai, no pela porta Santa, mas pela porta lateral norte,atravessa em procisso a Igreja, passando no meio do povo, eentra no santurio pela porta Santa ou Real. Qual o sentidodesta procisso chamada a procisso do Evangelho ou "pequenaentrada" para distingui-la da entrada do ofertrio? "A entrada doEvangelho, diz So Germano, patriarca de Constantinopla,simboliza a vinda do Filho de Deus e sua entrada no mundo." Odicono, segurando o Evangelho, figura o Precursor que devia

    mostrar o Filho de Deus ao mundo. "Eis o Cordeiro de Deus quetira o pecado do mundo", disse Joo Batista ao ver Jesusaproximar-se dele. O sacerdote representa Nosso Senhor JesusCristo vestindo a nossa natureza humana e descendo do cu (osanturio) sobre a terra (a nave), no meio dos homens. Osceroferrios precedem com tochas acesas, porque o Cristo a luzdo mundo "Eu sou a luz do mundo", e So Joo Batista foiqualificado pelo prprio Cristo como "lmpada ardente ebrilhante", da luz da qual os judeus quiseram gozar apenas porpouco tempo (10 5,35). A cruz que segue lembra o modo e oinstrumento que Cristo escolheu para salvar os homens.

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    Os fiis, considerando o Evangelho, levado pelas mos dehumildes ministros da Igreja, como o prprio Salvador aparecendopela primeira vez em pblico para a sua pregao divina, ficam dep e inclinam-se diante dele, porque, como diz So Paulo,

    "Quando Deus Pai introduz o seu Primognito na terra diz: etodos os Anjos de Deus o adorem" (Hb 1,6).

    A procisso pra no meio da Igreja, a uma pequena distnciada porta Santa. O Sacerdote, inclinando a cabea, pedesecretamente a Deus, que estabeleceu nos cus, legies eexrcitos de anjos e arcanjos para o servio da sua glria, quefaa com que esses mesmos exrcitos, unidos aos fiis naglorificao da sua bondade, o acompanhem at o altar.

    Antigamente, nas cerimnias oficiais profanas, um arauto

    anunciava a chegada do Imperador, clamando: "O Imperador!"para que todos os presentes se levantem e o recebam comrespeito. Assim tambm, o dicono (ou o sacerdote) anuncia apresena do Verbo de Deus, sabedoria infinita e eterna,representado pelo Evangelho, clamando: "A Sabedoria!", econvida os fiis a ficarem de p por respeito.

    A entrada dos justos no cu foi obtida pela Santa Cruz: osacerdote benze as portas santas, em forma de cruz, e, elevandoo Santo Evangelho, faz com ele no ar uma grande Cruz e canta:

    "Vinde, adoremos e prostremo-nos ante o Cristo!..." O povo repetea 2a parte do canto da entrada para manifestar que est deacordo com tudo o que foi dito e feito: - "Salva-nos, Filho deDeus..." Entrando no santurio pelas portas santas, o sacerdoterecoloca sobre o altar o evangelho, que a palavra da verdade eda vida.

    Nota: Na liturgia pontifical, celebrada pelo bispo diocesano, obispo se paramenta e permanece at a pequena entrada, sentadonum trono colocado no centro da Igreja no meio do povo,

    representando Cristo que, pela encarnao, se fez homem emorreu no meio dos homens que vinha salvar, ouvindo-os eensinando-os. Com a procisso do Evangelho, sobe ao altar.

    TROPRIO

    Terminada a procisso do Evangelho, sacerdote e diconoentram no santurio cantando o isodicon (ou canto de entrada),que o coro repete. Em seguida, cantam-se os troprios ou hinosdo dia.

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    Os troprios so hinos ou composies poticas sobre a festado Senhor, da Me de Deus ou dos santos que a Igrejacomemora naquele dia. Podem ser qualificados como a "pregaopelo exemplo precedendo a pregao pela Palavra". No domingo,

    dia do Senhor, comemora-se o ano todo a Ressurreio de Cristo.Por isso o primeiro hino a ser cantado o "apolitikion daRessurreio", segundo um dos oito tons litrgicos, e que recordaeste grande acontecimento, base e razo da nossa f, visto que,como diz So Paulo aos Corintios: "Se Cristo no ressuscitou, v a nossa pregao, e v tambm a vossa f" (lCor 15,14).

    Nas festas do Senhor, da Me de Deus e dos Santos, ostroprios enaltecem os mistrios da vida de Jesus e de sua Me,e as virtudes e feitos dos cristos que seguiram os passos do

    Salvador renunciando a tudo neste mundo e sacrificando-se porele at a morte. E cantam-se logo depois da entrada doEvangelho, justamente para nos apresentar o exemplo daquelesque puseram em prtica os ensinamentos contidos neste mesmoEvangelho e assim mereceram entrar no reino dos cus,conforme disse Jesus a seus discpulos: "Ide por todo o mundo epregai o Evangelho a todas as criaturas. Aquele que crer e forbatizado ser salvo. Aquele que no crer ser condenado" (Mt16,15-16).

    Esses hinos tm nomes diferentes de acordo com o lugar queocupam e o assunto que desenvolvem na composio potica,chamada "Cnon", da qual fazem parte: Troprio, Apolitikion,kondakion, Hirmos...

    As grandes festas do ano so anunciadas, aos domingos, comvrias semanas de antecedncia, pelo kondakion final; e seustroprios continuam a ser cantados durante a oitava que segue afesta. O kondakion do Padroeiro da Igreja sempre o penltimo.

    TRISGION

    "Santo Deus, Santo Forte, Santo Imortal, tem piedade dens."

    Existe uma lenda relativa origem deste hino do trisgion(trs vezes santo) e a sua introduo na liturgia. a seguinte: Nosculo V, no tempo do Patriarca So Prodo, sucessor de SoJoo Crisstomo, a cidade de Constantinopla foi abalada porterremotos durante quatro meses. Um dia, enquanto o povo,dominado pelo medo, implorava fora das muralhas a misericrdia

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    divina, gritando Kyrie eleison (Senhor, tem piedade), um meninofoi arrebatado aos cus e l ouviu os anjos cantarem o trisgion,diante do trono de Deus, e uma voz ordenando ao bispo queorganizasse procisses nas quais se cantaria esse hino. Voltando

    terra, o menino contou o que viu e ouviu. O patriarca mandoufazer de acordo com a ordem recebida, e o terremoto parou. Estehino se reza tambm no incio e no fim de todos os ofciospblicos.

    A Igreja bizantina sempre considerou este hino dirigido Santssima Trindade, cada uma das partes referindo-se a umadas 3 pessoas divinas:

    Santo Deus, Pai eterno

    Santo Forte, seu Filho, que sua fora e seu verbo criador.

    Santo Imortal, seu Esprito Santo, isto , o amor que nomorre, e sua vontade sempre viva e vivificante.

    Para comprovar esta atribuio temos o fato seguinte: Em470, um patriarca de Antioquia (Pedro, o Pisoeiro) acrescentouaps "Santo Imortal", que foi crucificado por ns. Este acrscimoprovocou grandes discusses teolgicas e acabou sendo proibido,com o seguinte argumento: Santo Imortal refere-se ao EspritoSanto; ora, quem foi crucificado por ns foi o Filho: portanto, este

    acrscimo no se pode fazer depois da terceira parte.Esta atribuio claramente expressa no hino seguinte:

    "Vinde, povo,adoremos a Divindade em trs pessoas:o Pai no Filho com o Esprito Santo.Porque o Pai, de toda eternidadegera um Verbo co-eterno e co-reinantee o Esprito Santo est no Pai,glorificado com o Filho, poder nico,

    nica essncia, nica divindade; ela que adoramos quando dizemos:Santo Deus,que criou tudo pelo Filhocom a colaborao do Esprito Santo;Santo Poderoso,

    por quem conhecemos o Paie por quem o Esprito Santo veio ao mundo;Santo Imortal, Esprito

    Consolador que procede do Pai e repousa no Filho:Trindade Santa, glria a Ti".

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    PENTECOSTES, GRANDES VSPERAS

    Pelo mesmo motivo ele se canta trs vezes seguidas; e nas

    Missas Pontificais solenes, cinco vezes: as trs primeiras vezesem louvor ao mistrio da Santssima Trindade; e as duas outrasem honra do mistrio da Encarnao, isto , a existncia de duasnaturezas em Cristo.

    Vamos dar mais detalhes sobre o canto do trisgion nasMissas Pontificais do trisgion: nas Missas Pontificais usam-se odikrion e o trikrion, que so dois castiais pequenos, suportandoum (o dikrion) duas velas cruzadas; outro (o trikrion) trs velascruzadas. O primeiro simboliza a encarnao, isto , (duas

    naturezas e uma pessoa em Cristo); o segundo, a SantssimaTrindade = uma s natureza divina em trs pessoas distintas.

    Na hora do trisgion o bispo d uma bno solene com odikrion e o trikrion, da seguinte maneira:

    Pela terceira e quinta vez o trisgion cantado pelossacerdotes, no santurio, enquanto o Bispo faz uma cruz em cimado altar com o trikrion (quando do 3 trisgion) e com o dikrion(quando do 5). Em seguida, de frente para o povo, segurandocom a mo direita o trikrion e com a esquerda o dikrion, o Bispo

    ouve o coro cantar a primeira parte do trisgion, isto , "SantoDeus", e d a bno aos fiis que esto no centro da igreja,dizendo: "Senhor, Senhor, olhai do alto do cu e cuidai destavinha e fazei-a crescer porque foi vossa mo direita que aplantou". Depois do canto da segunda parte, "Santo Poderoso",d a bno aos fiis do lado direito com a mesma frmula; e fazo mesmo para o lado esquerdo, aps o canto da terceira parte:"Santo Imortal". Cada vez o bispo pode usar uma lngua diferente:por exemplo, grego, latim e vernculo.

    SUBSTITUIO DO "TRISGION"

    1. Nos dias em que na Antigidade se administrava o Batismocom solenidade, o trisgion substitudo pelo versculo seguintetirado de So Paulo e dirigido queles que foram batizados: "Vstodos que fostes batizados no Cristo, vos revestistes do Cristo.

    Aleluia". Estes dias so o dia do Natal, da Epifania, Sbado deLzaro (antes do Domingo de Ramos), Viglia Pascal (noite de

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    sbado santo para domingo de Pscoa), a Semana da Pscoa, eo dia de Pentecostes.

    2. Nos dias em que se venera a Santa Cruz, substitui otrisgion a aclamao seguinte: "Adoramos vossa Cruz, Senhor, e

    glorificamos vossa santa Ressurreio. Aleluia". Estes dias so:30 domingo da quaresma, 10 dia de agosto, 14 de setembro(Exaltao da Santa Cruz).

    EPSTOLA E EVANGELHO

    Terminado o canto do trisgion, faz-se a leitura da Epstola edo Evangelho. A Epstola lida pelo leitor e o Evangelho pelodicono ou pelo sacerdote. Na Missa h somente leituras tiradas

    do Novo Testamento. As do Antigo Testamento se fazem nosoutros ofcios litrgicos, sobretudo no Ofcio de Vsperas.

    OS EVANGELISTAS NA ARTE CRIST

    Desde a origem e talvez enquanto ainda viviam os Apstolos,considerava-se o nmero de quatro Evangelhos como um fatoprovidencial, para o qual procuravam uma razo mstica. Aexplicao mais comum que se dava no tempo de Santo Irineu ( +202 ou 203) era o paralelo com os querubins alados do ProfetaEzequiel: No primeiro captulo de sua profecia, Ezequiel descrevea viso que teve e na qual viu quatro seres que aparentavampossuir, cada um, num s corpo, a figura de um homem, de umleo, de um touro (boi) e de uma guia. De cada uma destasfiguras, os Santos Padres fizeram o emblema de um evangelista,atribuindo o homem a So Mateus, o leo a So Marcos, o touro aSo Lucas, e a guia a So Joo.

    So Jernimo explica esta atribuio do seguinte modo: SoMateus representado por uma figura de homem, porquecomeou seu Evangelho dando a genealogia humana de Jesus,demonstrando assim que Cristo homem.

    So Marcos representado pela figura do leo porquecomeou seu Evangelho pela enrgica pregao de Joo Batista,"voz que clama no deserto", semelhante ao rugido de leo.

    So Lucas figurado pelo touro porque comeou seuEvangelho contando a participao do sacerdote Zacarias nas

    cerimnias do culto no templo onde o boi era a vtima usada nossacrifcios da Antiga Lei.

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    So Joo simbolizado pela guia porque iniciou seuEvangelho pela eterna origem de Cristo "no comeo era o Verbo"e por causa das alturas espirituais e divinas a que se elevou.

    A mesa do altar nas igrejas bizantinas tem como suporte

    quatro colunas nos quatro cantos, e uma coluna maior no centro.As quatro colunas laterais simbolizam os quatro Evangelistas; e ado centro (chamada Clamos = canio), a pena com queescreveram (ou melhor, Jesus Cristo, pedra angular da Igreja).

    HOMILIA

    Os fiis ouvem a leitura do Evangelho de p, com ateno erespeito, como fariam discpulos dedicados ouvindo os

    ensinamentos de seu mestre e servos fiis recebendo as ordensde seu Senhor e chefe e dispostos a execut-las. Terminada aleitura, o povo, movido pelo sentimento de gratido por ter sido

    julgado digno de ouvir a palavra de vida, clama: "Glria a Ti,Senhor, glria a vs". O sacerdote recoloca o Evangelho sobre o

    Altar e faz a homilia ou prtica. [...] A homilia uma parteintegrante da Missa. O sacerdote tem por misso e obrigaopregar a Palavra de Deus. "Ide por todo o mundo e pregai oEvangelho a todas as criaturas", disse Jesus a seus Apstolos

    (Mc 16,15). E So Paulo recomenda a Timteo, seu discpulopredileto (2Tm 4,1-3): "Diante de Deus e de Jesus Cristo... eu tepeo: prega a palavra, insta oportuna e inoportunamente,repreende, roga, exorta com toda a pacincia e doutrina". Se umadas misses do sacerdote pregar a Palavra de Deus, aobrigao dos fiis ouvi-la para fazer dela a regra de sua vida:"Quem vos ouve a mim ouve, e quem vos despreza a mimdespreza. E, quem me despreza, despreza aquele que meenviou" (Lc 10,16).

    Nem todos os pregadores tm o dom da eloqncia. No tambm a beleza do discurso o que mais importa, mas a verdade;no a eloqncia e a retrica que se devem procurar antes detudo, mas a doutrina. "Quando fui ter convosco", escreveu SoPaulo aos Corintios (1 Cor 2,1), "para vos dar testemunho deCristo, no fui com a sublimidade da eloqncia ou dasabedoria... Meu ensino e minha pregao no se baseavam naspalavras persuasivas da sabedoria humana, mas na manifestaodo Esprito e do poder (de Deus), para que vossa f no se funda

    na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus". "Os

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    pregadores plantam e regam, mas s Deus faz crescer" (1Cor3,6).

    ECTENIA OU SPLICA INSISTENTEDepois da homilia o sacerdote proclama, de novo, as

    intenes pelas quais a assemblia convidada a rezar:"Digamos todos de toda nossa alma e de; todo nosso esprito,digamos:Senhor tem piedade (Kyrie eleison)". O Kyrie eleison daassemblia completa a frase iniciada pelo sacerdote, e repete-setrs vezes aps cada um dos pedidos feitos pelo celebrante. Estarepetio do trplice Kyrie eleison, assim como a intensidadeprogressiva das splicas, e tambm certa liberdade deixada ao

    presidente da assemblia para acrescentar pedidos vontade, deacordo com as necessidades do momento e dos fiis, levou a dara esta srie de pedidos o nome de "ectenia" que quer dizer"splica insistente". Alguns lhe deram a qualificao de "Catlica",no sentido de orao coletiva universal. A ela corresponde aorao comum ou dos fiis ou "prece da comunidade" [ ... ]: ospedidos que a compem abrangem todas as classes dasociedade, pois nela se pede:

    Pelos chefes hierrquicos responsveis diante de Deus pelo

    bem espiritual da comunidade: bispo, sacerdotes, diconos ereligiosos.

    Pelos membros da comunidade presentes na Igreja ouresidentes na cidade, implorando para eles as graas espirituais etemporais teis sua salvao.

    Pelos fiis (pais e irmos) mortos, no somente da parquiaou da cidade, mas tambm de todo o universo.

    Pelos fundadores da igreja onde se celebra o Santo Sacrifcio.

    Assim, todos aqueles que contriburam, de um modo ou de outro,para a construo da casa de Deus, sero para semprelembrados em cada Missa que nela se celebrar.

    Pelos benfeitores do templo santo, que lhe ofertam o que necessrio sua manuteno e conservao e ao servio divino:po, vinho, leo, velas, incenso, toalhas para o altar, vasossagrados como clice e patena, castiais etc.

    Em certas igrejas acrescenta-se a esta ectenia comum aectenia dos defuntos, quando a Missa se celebra por um morto

    (cf. Le rle du diGere, p. 62). Aps a ectenia universal, fazem-seoraes dialogadas e secretas pelos catecmenos. Para bem

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    entender a razo destas oraes que parecem anacrnicas,convm recordar uns fatos histricos. Na Igreja primitiva haviaduas leis ou disciplinas que desapareceram no decorrer dossculos: a Lei do Arcano ou segredo e a disciplina do

    catecumenato.

    A LEI DO "ARCANO"

    A Lei do Arcano, que a Igreja estabeleceu por medida deprudncia no tempo das perseguies, proibia revelar os mistriosda religio crist queles que no tinham ainda sido admitidos emseu seio pelo batismo. Alm do smbolo da f, a Lei do Arcanoabrangia tambm os sacramentos e particularmente o sacramento

    da Eucaristia. Numerosos smbolos cristos, como o peixe, ancora, a barca, o Cordeiro etc... so vestgios e testemunhosdessa lei. Podemos considerar tambm como reminiscncia do

    Arcano a orao preparatria comunho, na qual dizemos:"Recebei-me, hoje, participante da vossa ceia mstica, Filho deDeus, porque no revelarei vosso mistrio aos vossos inimigos..."

    DISCIPLINA DO CATECUMENATO

    Na origem bastava fazer profisso de f em Cristo para serlogo batizado; a instruo se dava depois. Mais tarde, no tempodas perseguies, a Igreja teve de proceder com mais cautelapara admitir novos membros em seu seio, exigindo deles umperodo mais longo de preparao e de prova; este perodochamava-se catecumenato. Durante o catecumenato, os que sepreparavam para entrar na Igreja pelo batismo podiam assistirsomente primeira parte da missa, chamada por isso "missa doscatecmenos", isto , dos que estavam ainda sendo

    catequizados.Havia tambm vrias classes de catecmenos. A primeira

    delas eram os audientes, que deviam sair logo aps a pregao; ea ltima, os competentes ou eleitos (em grego: fotizomeni), que jestavam para receber, em breve, o Batismo. Trinta ou quarentadias antes da recepo do batismo, os competentes preparavam-se mais intensamente pela penitncia, pela confisso de seuspecados e por uma instruo especial sobre os mistrios da f. Ocatecumenato durava dois ou trs anos, s vezes mais. O batismo

    era administrado nas viglias da Pscoa e de Pentecostes; e, noOriente, tambm na Epifania. A confirmao e a comunho eram

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    conferidas logo aps o batismo. At hoje, no rito bizantino, osacerdote administra a confirmao juntamente com o batismo, epode dar a comunho at s crianas sob a espcie do vinho.

    Na missa, pois, depois da homilia, faziam-se oraes pelos

    catecmenos e pelas vrias categorias de pessoas que deviamabandonar o recinto da celebrao eucarstica, como ospenitentes e os energmenos (possessos). E em seguida eramdespedidos por intermdio dos diconos que clamavam: "Saiamtodos os catecmenos; catecmenos, sa; saiam todos oscatecmenos; nenhum dos catecmenos fique!"

    Esta disciplina do catecumenato desapareceu. No sculo VII,So Mximo, o Confessor, revela-nos que, j em seu tempo, adespedida dos catecmenos e dos fiis indignos fazia-se como

    mera formalidade. E em nosso tempo no se exclui mais ningumda assistncia missa toda. As oraes pelos catecmenos,porm, foram conservadas, ainda que, em nossa Igreja, no hmais catecmenos no sentido prprio. Qual o motivo?

    A Igreja reza pelas necessidades de todos os homens, etambm pelas suas prprias necessidades em todos os pases econtinentes, e no somente em alguma regio determinada. Ora,os catecmenos (adultos preparando-se para o batismo) sonumerosos nos pases de misso (frica e sia) e sua f est em

    perigo, ameaada pelas novas ideologias anticrists e atias queprocuram conquist-los. H tambm os catecmenos no sentidomais amplo: os no-cristos, os incrdulos, os materialistas e ospagos espalhados pelo mundo inteiro e, talvez, vizinhos nossos,que esperam ainda de ns a palavra de verdade e o banho daregenerao. Oremos, pois, por eles, "para que o Senhor lhesrevele o Evangelho da justia e os una a sua Igreja Santa Catlicae Apostlica".

    Quanto aos prprios fiis, eis o que Gogollhes sugere para

    poderem tirar proveito destas oraes:"Cada um dos fiis, entrando em si e vendo quo longe estainda em relao f e s boas obras daqueles cristos que,nos primeiros sculos do Cristianismo eram admitidos a

    participar da ceia de amor; e como, para assim dizer,contenta-se em se declarar seguidor de Cristo, sem associ-lo ainda a sua prpria vida; como s ouve e at compreende osentido dos ensinamentos do Mestre mas no os vive; quofria e superficial est ainda a sua f; como no nutre para com

    seu irmo o fogo do divino amor que perdoa tudo e fazderreter a dureza de seu corao; cada fiel, vendo em si tudo

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    isto, considera-se humildemente ainda catecmeno. E quandoouve o sacerdote dizer aos fiis: "Fiis, oremos peloscatecmenos, convencidos de ser to pouco dignos do nomede fiel", ao rezar pelos catecmenos, reza por si mesmo. E

    quando ouve o sacerdote dizer: "Catecmenos, sa!" tremeem seu ntimo e pede ao Salvador que um dia expulsou dotemplo os vendedores inescrupulosos, que de casa deoraes o haviam transformado em covil de ladres, que lheilumine a inteligncia e lhe d coragem para expulsar, eletambm, do templo de sua alma, o homem carnal que o fazindigno de participar de seu sacrifcio imaculado, e deconceder-lhe pureza de corao, humildade, mansido efidelidade para que merea ser includo no rebanho doseleitos e dos verdadeiros fiis" (N. Gogol).

    Durante as oraes pelos catecmenos, o sacerdote faz como Evangelho uma cruz em cima do Antimnsion e, ao pedir aDeus que "lhes revele o Evangelho da justia", eleva-o e coloca-ode lado. Assim, o lugar do Verbo de Deus escrito fica livre parareceber o Verbo de Deus vivo, prestes a ser levado para ali sersacrificado. Em seguida, abre o Antimnsion no qual geralmenteso desenhados os instrumentos da paixo e a descida da cruzcom a Virgem Maria segurando o corpo de Jesus.

    TERCEIRA PARTE DA MISSA

    LITURGIA DOS FIIS OU LITURGIA EUCARSTICA

    E logo comea a Liturgia dos Fiis, com o sacerdote dizendo:"Ns todos, fiis, ainda e novamente em paz, oremos ao Senhor".

    Aps a despedida dos catecmenos e dos penitentes, os fiisdevem dar graas a Deus por terem sido considerados dignos depermanecer na Casa de Deus para participar de seus santosmistrios e, como o publicano, repetir humildemente: "Senhor,tende piedade de mim que sou pecador".

    A Liturgia dos Fiis compreende o Ofertrio, a Anfora ouCnon e a Comunho.

    Ofertrio

    Oraes pelos fiis

    Canto dos querubins

    Procisso da Grande Entrada

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    Segunda oferenda do Po e do Vinho no altar

    Ectnia pequena

    Eticis

    sculo da pazCredo

    O ponto culminante do ofertrio o que se chama de "GrandeEntrada", que tambm um dos momentos mais solenes damissa. O Sacerdote, numa bela orao secreta, pedehumildemente a Deus a graa de desempenhar, sem incorrer emcondenao, o ministrio a ele confiado, visto que: "Nenhum dosque so escravos dos desejos e dos prazeres da carne digno decomparecer diante de vs, de aproximar-se de vs e de vos

    servir, Rei da Glria, porque o vosso servio grande e temvel,mesmo s potncias celestes".

    Depois, a fim de preparar um ambiente digno e agradvel parao Rei de todas as coisas, incensa com profuso o altar, osanturio, e toda a Igreja, enchendo-a de aroma em forma dedensas nuvens, no meio das quais sero transladados, da prteseat o altar, o po e o vinho destinados a se tomarem Corpo eSangue de Cristo. Lembra tambm aos fiis que suas oraesdevem subir at Deus como o incenso e que para serem, segundo

    a recomendao do Apstolo, o bom odor de Cristo, tero de setornar to puros quanto os Querubins.

    Durante a incensao o sacerdote reza, de corao contrito, oSalmo 50 e hinos penitenciais, e o coro canta grave esolenemente o magnfico Hino dito dos Querubins: "Ns que,misticamente, representamos os Querubins, e cantamos o hinotrs vezes santo Trindade vivificadora, ponhamos de lado todapreocupao temporal para que possamos acolher o Rei douniverso, que as legies dos anjos acompanham invisivelmente.

    Aleluia, Aleluia, Aleluia".Este hino resume todo o significado da Grande Entrada:

    Cortejo de Cristo, Rei, Sacerdote, e Vtima. Enquanto isso, osacerdote dirige-se ao Altar da preparao, toma o clice e apatena e, precedido pelos aclitos segurando as tochas, a cruz eo turbulo, passa em procisso no meio do povo atravs da navecentral, repetindo vrias vezes: "Que o Senhor Deus se lembre dens todos em seu reino..."

    SIMBOLISMO DA GRANDE ENTRADA

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    Os liturgistas deram vrias explicaes para o valor simblicodesta procisso. So Germano de Constantinopla diz que lembrao cortejo triunfal que conduziu Jesus de Betnia a Jerusalm, nodomingo de Ramos, enquanto os filhos de Israel clamavam

    "Hosana!" e os Querubins no cu cantavam o hino trs vezessanto. Outros vem nele o Salvador carregando a sua cruz edirigindo-se ao Calvrio para ali morrer por ns. Para outros, elasimboliza o sepultamento de Cristo, isto , Jos de Arimatia eNicodemos transportando o Corpo do Calvrio para o sepulcro. este simbolismo que sugerem as oraes secretas rezadas noaltar, quando nele esto depositados o po e o vinho. "O nobreJos desceu do madeiro o vosso corpo imaculado, envolveu-onum lenol puro, cobriu-o de aromas e o depositou com cuidadonum tmulo novo." A prtese seria o Calvrio e o altar, o sepulcrono qual "o nobre Jos depositou o corpo imaculado".

    Os fiis, em sinal de venerao e respeito, fazem umainclinao da cabea e se benzem, quando o cortejo passa pertodeles. No raro ouvi-los pedir humildemente em voz baixa:"Lembrai-vos de mim, Senhor, em vosso reino". O sacerdote,transmitindo seu pedido a Deus, diz: "Que o Senhor Deus selembre de ns todos em seu reino"... Essas manifestaes devenerao dirigem-se a Cristo; no ainda a Cristo presente sob asespcies do po e do vinho, pois estes no foram aindaconsagrados, mas a Cristo representado j por estas oferendas,destinadas a se transformar em breve em seu corpo e em seusangue.

    Simeo de Tessalnica diz: Essas honras tributadas soblatas que vo se tornar Corpo e Sangue de Cristo so iguais shonras que se tributam ao prncipe que vai ser coroado rei: eraconduzido com pompa para o lugar da coroao, cercado pelosgrandes do reino e ovacionado pelo povo.

    O hino de Cheruvikon foi composto por um imperador deBizncio (Justino II, sobrinho de Justiniano) que, apesar do poderterreno que detinha, prostrou-se diante do Rei dos cus. Eantigamente em Constantinopla, o prprio imperador, para maiorsolenidade, tomava parte na procisso. No comeo doCheruvikon, o primeiro dicono ia buscar o imperador, que oacompanhava at a prtese: l o soberano vestia, em cima dostrajes imperiais, um rico manto de ouro incrustado de pedraspreciosas. Segurando na mo direita uma cruz e, na esquerda, o

    cetro, andava na frente da procisso, rodeado pelos membros dogoverno imperial. Diante das portas santas, o patriarca e o

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    imperador saudavam-se mutuamente, com uma inclinao decabea. O dicono incensava o Imperador, inclinando-se diantedele e dizendo: "Que o Senhor Deus se lembre da tua dignidadeimperial em seu reino..." Fazia o mesmo para o Patriarca. O

    Patriarca, em seguida, tirava o manto que o imperador haviavestido para a procisso, entregando-o a um dos diconos. Oimperador voltava a seu lugar e a missa prosseguia.

    Em certas circunstncias o sacerdote nas portas santas, defrente para o povo, faz meno especial das intenes pelasquais vai oferecer o santo sacrifcio. O coro diz "amm", e terminao canto do Cherubin, interrompido pela procisso: "Que as legiesdos anjos acompanhem invisivelmente. Aleluia, Aleluia, Aleluia".Para ter idia da solenidade realmente impressionante que a

    Grande Entrada, preciso ter visto esta cerimnia...No rito bizantino, mais do que em qualquer outra tradio, a

    impresso, o impacto esttico deste cerimonial imponente, deuma importncia fundamental. Segundo a narrao da antiga"Crnica de Nestor", este elemento foi o fator primordial naconverso da Rssia. Os emissrios de Vladimiro, quandovoltaram de Constantinopla, contaram: "Os gregos conduziram-nos para onde tributam o culto a seu Deus. E no sabamos maisse estvamos no cu ou na terra. Porque no h sobre a terra

    semelhante espetculo, nem semelhante beleza; e somosincapazes de explic-la. Sabemos somente que ali que Deushabita com os homens, e no podemos esquecer esta beleza.Qualquer homem que provou algo doce no suporta mais aamargura. Assim no podemos ficar aqui" (cf. POC T 22, j. 3-4,1972, p. 247, nota 15).

    TICIS

    Terminada a Grande Entrada, o sacerdote prossegue odilogo de oraes com os fiis, interrompido pela procisso dasoblatas, dizendo: "Completemos nossa orao ao Senhor". E fazuma srie de pedidos, o primeiro dos quais "pelos preciosos donsque foram oferecidos".

    Enquanto no incio da missa pelas "Irinica", e aps oevangelho pela "ectenia" rezou-se por vrias classes de pessoasenumeradas separadamente: bispo, clero, governantes,habitantes da cidade, viajantes, doentes, fundadores da igreja e

    seus benfeitores, cantores, vivos e mortos etc..., nesta srie depedidos chamada "ticis", rogam-se a Deus graas teis a todos e

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    a cada um dos presentes no templo: um dia pacfico e santo; umanjo de paz que nos acompanhe durante o dia e nos guie nocaminho da salvao; o perdo de nossos pecados; a paz paratodos os homens; a paz e o esprito de penitncia nos dias que

    nos restam para viver; uma morte crist, sem dor nem remorso deconscincia; e, depois da morte, uma sentena favorvel notribunal de Cristo, supremo Juiz. E, como sempre, conclui-se pelabela frmula de recomendao Virgem Maria, Me de Deus, aosSantos e s oraes mtuas dos fiis, isto , pela oportunarecordao das garantias sobrenaturais, provenientes do dogmada Comunho dos Santos.

    Na orao secreta correspondente segunda da oferenda, ocelebrante pede a Deus para "torn-lo apto a oferecer-lhe dons e

    sacrifcios espirituais pelos seus prprios pecados e pelos errosdo povo".

    SCULO DA PAZ

    O ponto central da sinaxe eucarstica est se aproximando. Osacerdote procura levar os fiis a uma preparao mais imediatae mais profunda para este ato sublime, principal motivo da suapresena no templo. A isto visam suas proclamaes e

    exortaes sucessivas, anunciando o sculo da paz com osentido de concrdia e de caridade; o credo, manifestaespblicas da f; e o incio da Anfora, exigindo respeito erecolhimento.

    O Divino Mestre, no decorrer da ltima ceia, disse a seusdiscpulos: "Eu vos deixo a paz, eu vos dou a minha paz". Osacerdote, em nome deste mesmo Mestre, sada os fiis,desejando-lhes esta paz do Senhor: "Paz a todos". Os fiisretribuem a saudao: "E a teu esprito".

    Na ltima ceia Jesus deu tambm a seus discpulos ummandamento novo: "Eu vos dou um novo mandamento: que vosameis uns aos outros; assim como eu vos amei, vs vos deveisamar uns aos outros. Por este sinal todos conhecero que soismeus discpulos: se vos amardes uns aos outros" (Jo 13,34). Porisso, como se faz desde o tempo dos primeiros cristos, osacerdote exorta os fiis a se amarem mutuamente: "amemo-nosuns aos outros para que confessemos em unidade de esprito"...

    A Assemblia completa a frase comeada pelo celebrante,

    dizendo: "O Pai, o Filho e o Esprito Santo, Trindadeconsubstancial e indivisvel". Esta concluso da frase iniciada pelo

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    sacerdote mostra claramente o acordo e a intimidade do dilogode oraes que devem existir entre a Assemblia e seuPresidente.

    O sacerdote faz trs inclinaes diante do altar, dizendo cada

    vez em voz baixa: "Amar-te-ei, Senhor, Tu que s a minhafora...", beija a patena e o clice por cima do vu que os cobre, etambm o altar. Os concelebrantes fazem o mesmo, beijando oaltar, e todos se do mutuamente