a diocese de abaetetuba revendo os fatos para reconstruir a história
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DIOCESE DE ABAETETUBA: REVENDO OS FATOS PARA
RECONSTRUIR A HISTÓRIA.
Renato Pinheiro da Costa.
Monografia apresentada ao curso
Filosófico-Teológico do IPAR, como requisito de
conclusão do Ciclo Básico, orientado pelo
Professor Raimundo Pocidônio C. da Mata.
Belém — Pará.
1998
2
DEDICATÓRIA:
Àqueles que por durante todo o período histórico contribuíram
com a construção da Igreja da Diocese de Abaetetuba, Bispos, padres,
consagrados e leigos, que não mediram esforços para que ela fosse o ressoar da
Palavra de Deus no mundo, através do resgate da dignidade, lutando por justiça
e paz.
AGRADECIMENTO:
À todos que contribuíram para a realização deste trabalho,
ajudando, fornecendo informações e incentivando à pesquisa, como recurso
necessário para o resgate de nossa história.
3
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
1 O QUE É DIOCESE
1. 1 FREGUESIA ……………………………………………………... 6
1. 2 PARÓQUIA………………………………………………………. 6
1.3 PRELAZIA……………………………………………………….. 7
1.4 DIOCESE…………………………………………………………. 7
2 HISTÓRIA DAS PARÓQUIAS QUE COMPÕEM A DIOCESE DE ABAETETUBA.
2.1 PARÓQUIA DE SÃO FRANCISCO XAVIER DE BARCARENA 9
2.1.1 ANTECEDENTES……………………………………………….. 9
2.1.2 VILA DO CONDE……………………………………………….. 11
2.1.3 PARA COMPREENDER ………………………………………... 11
2.1.4 O CÔNEGO DA CABANAGEM……………………………….... 12
2.1.5 NOSSA SENHORA DO TEMPO. ………………………………... 13
2.2. PARÓQUIA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO DO MOJU……… 14
2.2.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS……………………………….. 14
2.2.2 HISTÓRIA DA FUNDAÇÃO……………………………………. 16
2.2.3 TRABALHOS DESENVOLVIDOS…………………………….... 16
2.2.4 A COROA DO DIVINO………………………………………….. 17
2.2.5 FESTA DE N. Sª. DE NAZARÉ…………………………………. 17
2.2.6 CONSTRUÇÃO DA CASA PAROQUIAL……………………… 18
2.2.7 OUTRA PARÓQUIA NO MOJU. ………………………………. 18
2.3 PARÓQUIA DE SÃO JOSÉ DO ACARÁ……………………..... 19
2.3.1 AS FESTIVIDADES……………………………………………… 20
2.3.2 TRABALHO DOS PADRES.…………………………………….. 21
4
2.4 PARÓQUIA DE SÃO PEDRO DE CONCÓRDIA DO PARÁ….. 22
2.4.1 FUNDAÇÃO DA PARÓQUIA.………………………………….. 22
2.5 PARÓQUIA DE N.Sª DE NAZARÉ DE TOMÉ-AÇU.………….. 23
2.6 PARÓQUIA DE SÃO JOAQUIM DE BUJARU………………… 25
2.6.1 AS CAPELAS DA REGIÃO……………………………………... 25
2.6.2 ACUSAÇÃO DO PADRE………………………………………... 26
2.6.3 HISTÓRIA DO MUNICÍPIO……………………………………... 27
2.6.4 FESTA DE N.Sª DE NAZARÉ.…………………………………. 28
2.7 PARÓQUIA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS DE TAILÂNDIA. 29
2.8 PARÓQUIA N.Sª RAINHA DA PAZ DAS ILHAS DE ABAETETUBA. 30
2.9 PARÓQUIA DE N.Sª DA CONCEIÇÃO DE ABAETETUBA…… 32
2.9.1 O PADRE QUE APANHOU………………………………………. 36
2.9.2 IRMANDADE DE S. RAIMUNDO NONATO…………………… 37
2.9.3 SANTAS MISSÕES………………………………………………… 39
2.9.4 SAÍDA DOS CAPUCHINHOS DA PARÓQUIA DE N.Sª DA CONCEIÇÃO DA
ABAETETUBA………………………………. 41
2.9.5 MOVIMENTOS RELIGIOSOS…………………………………... 42
2.9.6 SÃO MIGUEL DE BEJA…………………………………………. 42
2.9.7 AS TERRAS DE BEJA. …………………………………………. 44
3 A FORMAÇÃO DA DIOCESE DE ABAETETUBA
3.1 PRELAZIA DE ABAETÉ……………………………………....... 45
3.2 DIOCESE DE ABAETETUBA.………………………………….. 47
4 QUAIS OS TRABALHOS REALIZADOS PARA SEU DESENVOLVIMENTO: REALIZAÇÕES E
IMPASSES.
4.1 CONGRESSO DA CEB’S………………………………………… 49
4.2 ASSEMBLÉIA DO POVO DE DEUS……………………………. 51
5
4.3 PASTORAL DA JUVENTUDE………………………………….. 59
4.4 CENTRO MÉDICO……………………………………………..... 61
4.5 CENTRO DE FORMAÇÃO CRISTÃ (LARANJAL)……………. 62
4.6 BAIRRO CRISTO REDENTOR…………………………………. 63
4.7 DOM ÂNGELO FROSI. …………………………………………. 64
CONCLUSÃO………………………………………………………................... 66
BIBLIOGRAFIA………………………………………………………………... 68
6
INTRODUÇÃO
Com o processo de colonização do Brasil, várias regiões foram exploradas para se obter
conhecimento da área e dos produtos existentes nelas, a saber, primeiro tinha que se ter certeza se as terras eram
boas, isto é, se elas tinham espécimes (drogas do sertão) para serem comercializadas Depois, essas terras foram
divididas em lotes chamados sesmarias, e entregues a pessoas que pudessem trabalhar nelas.
Foi assim que chegaram os portugueses, e foram povoando o Brasil. Também junto destes
chegaram os missionários, com o intuito de pregar a Palavra de Deus e catequizar os índios, assim criaram as
missões religiosas, como forma de reunir os nativos dispersos na mata.
A primeira missão criada na região que hoje corresponde a Diocese de Abaetetuba, foi a
missão de Mortigura, hoje Ilha do Carnapijó. A segunda missão foi a do Gibirié, hoje Vila São Francisco
Xavier. A partir destes dois pontos referenciais os missionários adentraram cada vez mais na região, chegando
a Samauma, hoje Vila de Beja, que não chegou a ser uma missão, mas serviu de referencia para os trabalhos
dos missionários Jesuítas, que foram chegando a outros lugares da região como Moju, Barcarena, Bujaru e
Abaetetuba.
Após os missionários da Companhia de Jesus saírem do Brasil, em específico do Pará, todos
os seus trabalhos passaram para as mão da Arquidiocese de Belém. Com o passar dos tempos, por causa da
evolução do processo religioso, sentiu-se a necessidade de criar Prelazias e Dioceses, para que melhor fossem
desempenhadas as funções religiosas.
A Prelazia de Abaeté foi criada no ano de 1968, sob a proteção de Nossa Senhora da
Conceição, tendo como seu primeiro Bispo D. João Gazza. Em 1981, foi criada a Diocese de Abaetetuba,
tendo a sua frente D. Ângelo Frosi, que por durante 25 anos dirigiu a Diocese, falecendo a 28 de junho de l995.
Para ocupar o cargo deixado por D. Ângelo foi nomeado D. Flávio Giovenale, que assumiu a Diocese de
Abaetetuba a 08 de dezembro de 1997.
Dentro deste processo histórico é que “naveguei”, para trazer a tona elementos que possam
nos ajudar a conhecer o passado e compreender o presente, por isso este trabalho está dividido em capítulos,
para melhor assimilação do conteúdo.
O primeiro capítulo explica o que é uma Diocese e outras regiões eclesiástica. O segundo
capítulo conta a história das paróquias que compõem a Diocese de Abaetetuba, também apresenta elementos e
fatos ocorridos nas mesmas. O terceiro capítulo trata do processo de formação da Diocese de Abaetetuba. E
finalmente, o quarto capítulo, apresenta os trabalhos realizados na Diocese de Abaetetuba.
7
1. O QUE É DIOCESE.
Este capítulo foi escrito mais por uma necessidade de esclarecimento a respeito de o que é
uma Diocese, e também para melhor informação a respeito de o que é uma área ou região eclesiástica, como
Prelazia, paróquia e freguesia.
1.1 — FREGUESIA
Com a permanência da Igreja no Brasil, que cada vez mais, através de seu trabalho e
testemunho, ia acelerando o processo de evangelização, sentiu-se a necessidade de se estabelecer em um lugar,
para tê-lo com referencial. Foi assim que surgiram as freguesias, que são do mesmo período das missões
religiosas, uma forma encontrada para agrupar os índios a fim de catequizá-los.
Com a saída dos Jesuítas do Brasil muitas missões foram transformadas em vilas e em
seguida erigidas freguesias, que é o mesmo que uma paróquia. Entretanto, o termo freguesia é muito usado para
caracterizar a criação de uma vila ou povoado. É por esse motivo que às vezes é confundida a data de fundação
de uma vila ou povoação com a data de ereção de uma paróquia.
1.2 — PARÓQUIA
A palavra paróquia vem do grego “”, que quer dizer estabelecimento em país
estrangeiro. Essa palavra passou a ser empregada no latim eclesiástico desde o tempo de São Jerônimo – séc.
IV. Por assim dizer, é que a palavra paróquia nos leva a entendê-la com o sentido do período de
estabelecimento que os cristãos ou a Igreja se encontra na terra.
O espaço que corresponde a uma paróquia é um território, geralmente correspondente a um
município ou cidade, também um setor ou zona de uma cidade ou município, que está sob a jurisdição de um
pároco / padre. As paróquias, em especial as brasileiras, são urbanas em sua grande maioria, sendo poucas as
rurais. Podemos atribuir isso ao fato de que é nas urbes que estão muito mais aglomeradas as pessoas, e na zona
rural são imensas as distâncias dum grupo familiar ou comunitário para outro.
É na paróquia que se dá todo e qualquer evento eclesial, porque é a própria Igreja
estabelecendo morada, para cogitar sua ação: “a paróquia comunidade de comunidades e movimentos acolhe as
angústias e esperanças dos homens, anima e orienta a comunhão participação e missão… A paróquia é
comunidade de fé, é uma comunidade orgânica…, na qual o pároco que representa o Bispo diocesano é o
veículo hierárquico com toda a Igreja particular”(1).
1.3 — PRELAZIA
1 Santo Domingo: Conclusões. Ed. Loyola, SP. 1993. Cap. I, p. 93. (3ª edição)
8
As paróquias são consideradas micro estruturas eclesiásticas; já as macro estruturas são as
organizações superiores às paróquias: uma delas é a Prelazia. Esta foi uma das primeiras macro-organizações
eclesiásticas existentes no Brasil (2), que até hoje ainda existe. A Prelazia, segundo D. Cândido Padim, é uma
Diocese de segunda ordem, que por razões eclesiásticas ou políticas não pode erigir uma hierarquia ordinária,
mas mesmo assim são consideradas territórios canônicos.
Toda Prelazia funciona com a mesma estrutura de uma Diocese, como nos é apresentado pelo
Código de Direito Canônico: “a prelazia, ou abadia territorial, são uma determinada porção do Povo de Deus,
territorialmente determinada, cujo cuidado, por circunstâncias especiais, é confiado ao prelado, que a governa
como seu próprio pastor, à semelhança do Bispo diocesano” (CDC 370). É dirigida por um Bispo Prelado, que
é o chefe da Igreja local, com as respectivas paróquias e o clero que lhe é de responsabilidade.
1.4 — DIOCESE
Um outro tipo de macro-estrutura é a Diocese, que, como já citado, é uma formação
eclesiástica composta de várias paróquias. A palavra Diocese vem do grego “”, que quer dizer
administração da casa / governo / direção(3). Para a Igreja, “Diocese é a porção do Povo de Deus confiada a um
Bispo para que a pastoreie em cooperação com o presbitério, de tal modo que, unida a seu pastor e por ele
congregada ao Espírito Santo mediante o Evangelho e a Eucaristia, constitua uma Igreja particular, na qual
verdadeiramente está e opera a Una Santa Católica e Apostólica Igreja de Cristo” (4).
Podemos perceber que a Igreja diocesana é um conjunto de organização eclesiástica, que está
numa região atendendo o povo, professando o ideal missionário de Cristo.
2 A primeira Prelazia foi criada em território nacional em 19 de janeiro de 1575, pela bula “In superminenti
militantis Ecclesiae”, do Papa Gregório XIII. — PADIM, D. Cândido et. al. Missões da Igreja no Brasil, Ed.
Loyola, SP. p 98. 3 A origem desta palavra servia para designar as divisões de qualquer espécie de governo ou circunscrições
confiadas a um governador do Império romano. A Igreja adaptou este termo para expressar suas divisões
territoriais.
4 VIER, frei Frederico e KLOPPENBURG, frei Boaventura. Compêndio do Vaticano II: Constituições,
decretos e Declarações. Petrópolis, Vozes, 1987. Cap. II, p. 409. (19ª edição)
9
2 . HISTÓRIA DAS PARÓQUIAS QUE
COMPÕEM A DIOCESE DE ABAETETUBA
2.1 —PARÓQUIA DE SÃO FRANCISCO XAVIER DE
BARCARENA
2.1.1 —ANTECEDENTES HISTÓRICOS
Segundo dizeres populares da tradição folclórica, Barcarena recebeu este nome devido ao
fato de existir naquela localidade (antiga missão Gibirié) uma canoa com o nome “Arena”, e em vez do nome
da canoa, chamaram-na de “barca”. Todos queriam ir ver a “Barca Arena”, que com o tempo passou a ser
chamada de “Barcarena” dando origem ao nome do lugar Barcarena(5).
Barcarena anterior a 1709, era chamada Fazenda Gibirié e mais tarde missão Gibirié, foi
primitivamente povoada pelos índios tapuios Aruãs e teve como berço originário a extinta povoação de
Mojuquara, distante 2 km da cede do município. A fazenda Gibirié foi fundada e administrada pelos padres
Jesuítas, em cujas terras, doadas por Francisco Rodrigues Pimenta, erigiram uma igreja.
Fazendo alusões à missão do Gibirié e de sua importância para Barcarena, há outras versões a
respeito da história de sua fundação.
“Segundo João Pessoa (1935), quando os portugueses chegaram ao local, estabeleceram
contato imediato com os índios “Mortiguras”, que habitavam a aldeia de Marcaracaparanga (Flor bonita), em
Conde, auxiliados pelos Jesuítas que acompanhavam a expedição. Na mesma época, por volta de 1575 (6),
aportou em Conde uma bandeira com a missão de penetrar nas selvas, ainda virgens, da região, em busca de
ouro e pedras preciosas. A missão foi de fato iniciada com a inserção de bandeirantes e mineradores, mas não
seria concluída, porque para os desbravadores estaria reservado um destino trágico e cruel.
Acompanhados por quatro índios Mortiguras pacificados, que serviam de guias para orientar
a expedição, eles se embrenharam nas matas acompanhando os vários cursos d’água da região.
No começo foi tudo bem, mas ao cabo de uma semana as coisas começaram a se complicar.
Vestígios no solo e na vegetação indicaram a presença de índios Aruãs, violentos e sanguinários. Sons
5 Tal concepção popular pode ser contestada por outra versão que explica ter a missão Gibirié tomado o nome
de Barcarena não por causa da suposta barca, mas por causa da freguesia de São Pedro de Barcarena, situada a
duas léguas a nordeste de Lisboa, e não pela versão histórica contada pelo IBGE na Enciclopédia dos
municípios brasileiros, p. 291, vol. XIV.
6 Esta data é de se questionar, pois não há nenhuma notícia de neste período ter havido colonizadores por estas
bandas.
10
inconfundíveis eliminaram as últimas dúvidas e começaram a provocar o pânico entre os expedicionários. O
cerco se completou certa tarde, quando os bandeirantes descansavam no sítio de Mortigura (Passagem da Água
Boa). Um numeroso grupo de índios Aruãs apareceu e atacou de repente os membros da expedição, que quase
nada puderam fazer para se defender.
Cientificado dessa chacina pelos fidalgos portugueses, que se encontravam em Conde,
através de relatos elaborados pelos religiosos que os acompanhavam, o Rei D. Manoel teria criado a missão
Gibirié, dentro da qual caberia aos Jesuítas uma incumbência muito difícil: pacificar e catequizar os índios
Aruãs, cuja extrema ferocidade deu-lhes na época, inclusive, a fama de antropófagos. Tarefa árdua e espinhosa,
mas finalmente vencida pelos catequizadores, que depois de muito esforço conseguiram estabelecer o convívio
pacífico entre os índios e os colonos.
Fundada a missão Gibirié e catequizados os índios Aruãs, os portugueses, inicialmente
radicados na Vila do Conde e outros que progressivamente partiram de Belém, foram se fixando na nova área,
dando origem ao núcleo que mais tarde se chamou povoação de Mortigura, depois freguesia São Francisco
Xavier e Finalmente Vila São Francisco Xavier.” (7)
2.1.2— VILA DO CONDE
Conde era a antiga aldeia de Mortigura, que ficava à margem da baia do Marajó, exposta a
grandes enchentes da maré. Esta aldeia, por ser uma das primeiras missões existentes em nosso Estado, teve a
graça de receber os trabalhos dos padres da Companhia de Jesus, que muito se esforçaram para catequizar,
educar e construir. “Nesta aldeia de Mortigura, tendo o padre superior Antônio Vieira mandado ficar a mim por
companheiro do pe. Francisco da Veiga para aprender a língua, ensinar o ABC aos meninos (…); dei-me
belamente com o pe. Francisco, tomando a minha conta a doutrina de cada dia, e a classe dos meninos para
ensiná-los a ler e a escrever” (8).
Em 1661, o pe. Antônio Vieira visitou a missão de Mortigura Esta aldeia foi transferida para
uma barranco alto chamado Mortigura Novo. A aldeia de Mortigura está situada na embocadura de uma
igarapé, de água doce, denominado hoje igarapé do Conde” (9). No antigo lugar, hoje ilha do Carnapijó, está
edificada a igreja de São João Batista, construída pelos Jesuítas.
7 SIQUEIRA, Francisco. A Província do Pará. Caderno 1, 16 de maio de 1979, p. 13.
8 BETTENDORFF, João Felipe. Crônica dos padres da Companhia de Jesus no Estado do Maranhão.
Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves Secretaria do Estado da Cultura. Belém, 1990(série lendo o
Pará n.º 5), 2ª edição. p. 156.
9 BORROMEU, pe. Carlos. Contribuição à História das Paróquias da Amazônia. 1946, p. 40
11
2.1.3— PARA COMPREENDER
Os Jesuítas fundaram a missão de Mortigura, depois adentraram no território e fundaram a
missão Gibirié, que recebeu este nome por causa do rio Gibirié que passava a sua frente ( antes rio Barcarena,
hoje rio Mucurusá). No ano de 1758, quando os padres da Companhia de Jesus foram expulsos do Brasil, o
Bispo frei Miguel de Bulhões extinguiu o nome da antiga missão do Gibirié e criou a paróquia de São Francisco
Xavier com o nome de Barcarena, imposto pelo Marquês de Pombal, que pela Lei de 06 de junho de 1755,
emanada da coroa portuguesa, determinava que todas as missões se convertessem em vilas. O governo da
época, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, encarregou o ouvidor Corregedor Geral, Pascoal de Abranches
Madeira Fernandes, de fazer cumprir o que estava decidido na lei. Foi então que a missão Gibirié passou a se
denominar Barcarena, ou melhor, Vila São Francisco Xavier do Rio Barcarena. A missão de Mortigura, foi
transferida para o lugar onde hoje está a Vila do Conde, sendo que o antigo lugar ficou conhecido como Vila do
Carnapijó.
Com a extinção da missão, a administração civil da Vila São Francisco Xavier de Barcarena
ficou sob controle do vigário da paróquia, que era um padre secular, isto até que fosse proclamada a República,
no ano de 1889.
O município de Barcarena foi criado pelo Decreto Lei Estadual n.º 4.565 de 30 de dezembro
de 1943 pelo DD. Interventor Federal do Estado Joaquim Magalhães Cardoso Barata.
A antiga localização de Barcarena ficava mais abaixo de onde atualmente se encontra o
município, lugar onde hoje fica a Vila São Francisco Xavier, antiga missão Gibirié. A cidade foi modificada de
seu lugar original devido ficar em lugar de difícil acesso. Com isso, também a sede da paróquia mudou de
lugar, ficando na cidade de Barcarena.
2.1.4 — CÔNEGO DA CABANAGEM
Vários foram os acontecimentos que sucederam em Barcarena, até por ser lugar perto da
capital do Estado do Pará, e por ter vários meios de comunicação por via fluvial com outros lugares. Desses
acontecimentos podemos destacar aquele que repercutiu no Estado todo, a “Cabanagem”, movimento pela
independência, que traz consigo a figura do Cônego Batista Campos. O Cônego rompeu com o colonialismo
bisecular de Portugal, alcançou a adesão do Pará à Independência do Brasil.
Após a prisão de Felipe Patroni, portador de idéias liberais e criador do jornal o “Paraense”,
que fazia fortes críticas ao governo, Batista Campos, se revolta e continua a editar o jornal, por esta e muitas
outras ações foi várias vezes perseguido, preso, processado, levado a julgamento, tendo a si próprio por
advogado. Muitos de seus amigos e seguidores foram presos, outros torturados até a morte, por perseguição do
Brigadeiro José Maria de Moura.
Tempos mais tarde Bernardo Lobo de Souza, toma posse como Governador do Estado e
12
ordena a prisão de Batista Campos, que escapa e se refugia junto com perseguidos e os chefes da Cabanagem,
Eduardo Angelim e Geraldo Gavião, na fazenda de Félix Antônio Clemente Malcher, localizada no Rio Acará.
Lobo de Souza manda uma expedição para capturar o cônego e demais rebeldes, que se
dispersam na mata. Nova expedição é enviada à captura de Campos, desta vez à fazenda Santa Cruz no distrito
de Igarapé-Miri. Batista Campos avisado foge e refugia-se na fazenda de Boa Vista, distrito de Barcarena,
ficando enfermo por causa de uma infeção causada por uma espinha carnal. Sentindo seu final, o cônego
mandou chamar os vigários de Barcarena e de Abaeté, pe. Jerônimo Roberto da Costa Pimentel. Aos 31 de
dezembro de 1834 faleceu. Batista Campos foi sepultado na igreja matriz de Barcarena (hoje Vila São
Francisco Xavier) (10).
No que diz respeito à origem de Batista Campos, há algumas divergências, por se dizer que
este nasceu no distrito de Aicaraú em Barcarena; porém, o Sr. Benedito Passos e a Professora Lina Abreu,
ambos acaraenses, dizem que o Cônego é filho de Acará, versão também reforçada por D. Alberto Gaudêncio
Ramos, que em seu livro “Cronologia Eclesiástica da Amazônia” diz que “a 16 de dezembro de 1782, nasceu
no Acará o Cônego João Batista Gonçalves Campos” (11).
Tanto Barcarena quanto Acará, foram lugares importantes para o movimento cabano, pois
ambos eram lugares onde se refugiavam os rebeldes. Os cabanos de Barcarena organizavam suas tropas com os
“Onços (negros escravos que fugiam de seus patrões e se escondiam nas ilhas desabitadas, naquele tempo, e é
daí que vem o nome Ilha das Onças)” (12)
2.1.5— NOSSA SENHORA DO TEMPO
À margem do furo do rio Carnapijó, em um barranco está uma imagem no topo de uma
coluna, protegida por uma redoma de vidro, a imagem de Nossa Senhora do Livramento, ou como todos a
chamam, “Nossa Senhora do Tempo”. Tantas são as narrativas populares acerca dessa imagem: “(...) Aquela
imagem é chamada Nossa Senhora do Tempo porque ela quis ficar assim exposta ao tempo. Não quis ficar
dentro da capela. por isso lhe construíram ali aquele monumento” (13).
A respeito da imagem, o pe. Borromeu diz o seguinte: “1861 — Dom Antônio Macedo Costa
chegou ao Pará a 24 de julho do mesmo ano. E foi um grande protetor da capela do Carnapijó; ofereceu uma
linda imagem de Nossa Senhora do Tempo, que foi colocada à margem esquerda do Carnapijó” (14). “(...) Em 17
10 Ricardo Borges escreve, “Belém, tempos depois deliberou recolher os restos mortais de Batista Campos e a
gente de Barcarena, de armas empunhadas, se opôs. Então denominou Batista Campos a mais linda de suas
praças”.— BORGES, Ricardo. Vultos notáveis d Pará. Cejup, Belém, l986. P. 45
11 RAMOS, D. Alberto Gaudêncio. Cronologia Eclesiástica da Amazônia. Manaus, 1952. p. 27
12 BORROMEU,. op. Cit., p. 51.
13 LUSTOSA, D. Antônio. No Estuário Amazônico: À margem da visita pastoral. 1976. Conselho Estadual de
Cultura, p. 215.
14 BORROMEU,op. Cit., p. 23
13
de junho de l864, em celebração realizada à hora do Angelus (18 horas), a imagem foi conduzida por dois
sacerdotes, pe. Francisco Manoel Pimenta (Vigário de Beja) e o Beneficiado da Sé, pe. Pazaro P. M. Lesse, ao
local que hoje se encontra” (15)
2.2— PARÓQUIA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO DO MOJU
2. 2.1 — ANTECEDENTES HISTÓRICOS
Segundo o que conta a história, as terras da paróquia de Moju, onde foi edificada a igreja,
foram doadas pelo Capitão Antônio Dorneles (Dornelas, como diz o pe. Carlos Borromeu), sendo que este
senhor ofereceu a D. frei Miguel de Bulhões uma sesmaria para que ali se criasse uma freguesia em honra ao
Espírito Santo. Depois da criação da freguesia, o povoado caiu em decadência e como conseqüência o
esquecimento. Somente em 9 de setembro de 1839 voltou, pela segunda vez, a receber o título de freguesia.
O que se relata no livro tombo da paróquia do Divino Espírito Santo do Moju é o seguinte:
“Fundação da paróquia: 1 de janeiro de 1754, por D. frei Miguel de Bulhões Bispo, do Pará, inaugurando a
igreja do Divino Espírito Santo na Vila do Moju.
Fundação da Vila do Moju pelo Capitão Antônio Dornelas de Souza.
A matriz atual foi construída pelo padre Sebastião Borges de Castilho, que era vigário da
paróquia de 1836-1850” (16).
Para evitarmos conclusões precipitadas, precisamos analisar alguns fatos — primeiro em
relação ao livro tombo: não que não seja autêntico em relação aos trabalhos desenvolvidos, mas este só teve
suas anotações iniciadas nos anos 1950 pelo pe. Carlos Borromeu, portanto nem tudo pode ser considerado
como verdadeiro, a saber, em pesquisa realizada nos arquivos da Diocese, o livro escrito por Manoel Ferreira
Leonardo, secretário da visita geral de D. Miguel de Bulhões, e transcrito e assinado pelo tabelião David Rosa
Ribeiro Chaves, diz o seguinte: “Sabendo saber que visitando pessoalmente todo o nosso bispado (D. frei
Miguel de Bulhões) e achando com grande mágoa do nosso coração, que a maior parte das ovelhas de nosso
rebanho viviam lastimosamente privadas do pasto espiritual dos Sacramentos, e na impossibilidade de ouvir o
Santo Sacrifício da missa, por falta de Ministros Eclesiásticos, e considerando que o único meio para
arremediar essa sensível ordem e acudir pontualmente algum dano tão prejudicial ao bem das almas, em
estabelecer, e dividir freguesias destino-lhes Parochos (párocos) suficientes, assim o executamos com efeito,
fundando quatorze Parochias (paróquias), a saber, duas no rio Guamá, duas no Capim, uma no Acará, uma no
Moju, uma no Igarapé-Miri, uma no Abaeté, outra na ilhas grandes do Marajó outra na Vila nova de
15 SAABÁ, Lauro de. Os municípios paraenses, Belém, 1977, p. 137
16 Livro Tombo da Paróquia do Divino Espírito Santo —Moju, p. 1
14
Bragança.(…)” (17)
Pois bem: se estas paróquias foram edificadas ao mesmo tempo por D. frei Miguel de
Bulhões, podemos concluir que, pelo registro de fundação de uma das quatorze paróquias citadas, poderemos
chegar à data da fundação das treze demais, e o mesmo tabelião escreve na página seguinte: “(…) Dada nesta
igreja paróquia de Santa Ana da paróquia de Igarapé-Miri sob nosso sinal, e seladas, aos vinte e nove do mês de
dezembro de 1752. Eu, Manoel Ferreira, Secretário de sua Exm.ª R.ª que/ a escrevi // frei Miguel Bispo do
Pará//(…)”(18).
Ainda a respeito da edificação da paróquia do Divino Espírito Santo do Moju existe uma
outra controvérsia levantada por D. Alberto Gaudêncio Ramos: “9 de setembro de 1837, criação da paróquia do
Moju, por dom Romualdo de Souza Coelho” (19).
Uma segunda questão é a respeito do fundador da vila, ao qual muitos chamam de Antônio
Dorneles. Como já citado, no livro tombo o nome do fundador aparece como Capitão Antônio Dornelas de
Souza, livro que, como já se disse, foi iniciado pelo pe. Carlos Borromeu, que em sua obra “Contribuição à
história das paróquias da Amazônia”, diz “Deve-se origem da fundação desta vila ao Capitão Antônio Dornelas
de Souza, que fundou a capela do Divino Espírito Santo na margem direita do rio Moju, que foi inaugurada por
Dom frei Miguel de Bulhões, em 1 de janeiro de 1754” (20).
2.2.2— HISTÓRIA DA FUNDAÇÃO
Em tupi, Moju significa “rio das cobras”. Esse rio, muito antes de Moju ser vila, já era
conhecido pelos navegadores como mostra a obra “Moju: rio das cobras”. “Desde os tempos coloniais, ele foi
percorrido por exploradores que vinham à procura de riquezas e drogas do sertão.” (21)
Para melhor fundamentar essa tese, o pe. João Felipe Bettendorff, descreve em sua “Crônica
dos padres da Companhia de Jesus no Estado do Maranhão” em 1660: “(…) Tem a cidade pelas bandas do rio
Marutucu, Guarapiranga, Moju e Acará, todos não tão fecundos de peixes, como em cana-de-açúcar, tabacos,
cacaueiros, urucuzeiros, que em suas terras se plantarem, como se vê nos engenhos e outras fábricas que por
eles se acham. Não faltam caça de porcos no mato, veados, cotias, para o sustento dos que o povoam (…)” (22)
2.2.3— TRABALHOS DESENVOLVIDOS
17 CHAVES, David Rosa Ribeiro (Tabelião). Livro de Nunciatura de Patrimônio. Arquivo do Secretariado
Diocesano, p. 9
18 Ibid., p.9 v
19 RAMOS, op. Cit., p. 35.
20 BORROMEU, op. Cit., p. 72.
21SALLES, Walber. Moju: rio das cobras, p.14
22 BETTENDORFF, op. Cit., p. 23
15
Desde a visita de D. frei Miguel de Bulhões em 1754, Moju ficou sendo assistida por padres
que vinham fazer as desobrigas, “isto até o ano de 1818, quando nomeado o pe. Antônio Luiz Coelho pároco”
(23).
Em suas cartas, D. José Afonso no ano de 1846, faz referência à igreja matriz e ao pároco: “A
igreja era um pequeno corredor contigo, a residência paroquial de duas braças de largura por 50 a 60 passos de
fundo; o sacerdote, pe. Sebastião B. Castilho, é um sacerdote que honra o clero paraense (…) e se faz digno do
respeito de seus paroquianos; aos seus esforços devem eles uma nova igreja matriz, bem construída, espaços,
elegante e suficientemente bem mobiliada” (24)
2.2.4— A COROA DO DIVINO
Conta a tradição que há muito tempo um fazendeiro foi até a beira do rio para observar a
paisagem, olhou para baixo, viu nas águas algo que brilhava com o reflexo do sol, chamou um dos seus
escravos para apanhar tal objeto, e, pegando-o, viu que era a imagem de uma pomba, toda em ouro, doando-a
então à Igreja. “Mais tarde foi feita uma coroa de prata, doada pelo Sr. Antônio Dorneles (filho) em 1878” (25) .
2.2.5— FESTA DE NOSSA SENHORA DE NAZARÉ.
“Data do ano 1900 a primeira festa de Nossa Senhora de Nazaré em Moju, com a realização
do círio em nossa terra, 73 anos de veneração à Excelsa Virgem Padroeira de todos os paraenses.
Segundo declaram as pessoas mais idosas de nossa cidade, os idealizadores da festa Nazarena
em Moju teriam sido Arthur de Sena Monteiro, Jorge Anderson, Manoel Carlos de Lima, Dionisio de Lima e
Silva, Manoel Francisco dos Santos, entre outros. Desde 1900 até esta data, a festa vem sendo realizada
periodicamente, sempre alegre e concorrida, principalmente porque coincide com as férias estudantis de fim de
ano (de 22 a23 de dezembro)”(26).
2.2.6— CONSTRUÇÃO DA CASA PAROQUIAL
Para a realização desta obra houve grande movimentação da comunidade local, tendo sido
criada uma comissão composta por Sr. Ubânio (presidente da comissão), diretor da construção da casa
paroquial; Sr. Carlos Jorge B. Sarmento (secretário de comunicação); Antônio de Oliveira Gordo (Prefeito
Municipal); Oscar Corrêa de Miranda (presidente da diretoria da Festa de Nazaré); Pedro Gomes Neri
(Tesoureiro da festividade do Divino Espírito Santo); Manoel Benedito de Lima (membro da diretoria da Festa
23 BORROMEU, op. Cit., p. 79
24 Arquivo do Secretariado Diocesano — Jornal Voz de Nazaré, 05/ 02/ 1978
25 Programa da festa do Divino Espírito Santo, n.º 3822, Moju, 1997.
26 Arquivo do Secretariado Diocesano — Programação da Festa de Nossa Senhora de Nazaré, Moju, ano 1973.
16
do Divino Espírito Santo / Nazaré); Manoel da Cunha Gordo. Em 1964, na casa do senhor Oscar de Corrêa
Miranda, realizou-se a sessão de fundação desta comissão, quando todos os presentes comprometeram-se em
organizar meios para a construção da casa Paroquial do Divino Espírito Santo do Moju.
2.2.7— OUTRA PARÓQUIA NO MOJU
Cairari é uma localidade que fica no alto Moju. Hoje nada é lembrado, mas este lugar já foi
uma paróquia erigida sobre a proteção de Nossa Senhora da Soledade.
“Parece que a paróquia de Nossa Senhora da Soledade do Cairari foi fundada em 1839, data
em que se iniciaram os livros paroquiais desta paróquia. Como primeiro vigário consta o pe. Manoel Rodrigues
Patente(…), sob sua direção levantou-se a vila e a capela de Nossa Senhora da Soledade, levantou-se também a
capela de São Sebastião” (27).
Ao que tudo indica, se em 1839 foi edificada nesta localidade uma paróquia, foi-o pelas mãos
do mesmo Bispo que elevou Moju, pela segunda vez, à categoria de paróquia, Dom Romualdo de Souza
Coelho. A esse respeito tenho uma consideração. O Moju e o Cairari foram erigidos paróquias no mesmo ano,
entretanto o último não é levado em consideração, por isso acredito eu que em vez de o Moju ter sido elevado à
categoria de paróquia por uma segunda vez, tenha ocorrido isso sim, mas, com o Cairari, e, por se encontrar na
região do Moju, todos equivocadamente achem que tenha sido o Moju elevado a paróquia novamente.
Também faz alusão à localidade do Cairari D. Antônio Lustosa em sua visita pastoral: “(…)
O alto Moju é ainda quase inexplorado. Alguns de seus moradores já percorreram o largo trecho do mesmo,
acima da vila do Cairari (…). O que reúne ainda, de quando em quando, a população dispersa na vasta zona, é
a velha matriz da antiga paróquia de Nossa Senhora da Soledade do Cairari (…). Rigorosamente a igreja local
já não é mais a vestuosa matriz de longos anos de serviço; mas é a capela de São Sebastião que sobreviveu à
matriz da Soledade e hoje a substitui. Aí encontramos uma antiga sepultura com estas inscrições: “Aqui jazem
os restos mortais do pe. Rodrigues Valente Doce, falecido a seis de setembro de 1882”. A Vila do Cairari, não
se encontra no rio Cairari, que desemboca na rio Moju vários quilômetros acima da vila”.(28)
2. 3— PARÓQUIA DE SÃO JOSÉ DO ACARÁ
Esse também foi uma das primeiros lugares a ser visitado pelos aventureiros e missionários.
Isto se deve ao fato de a região ser banhada pelo famoso rio Acará, de grande extensão e fácil navegação, como
nos fala o pe. Bettendorff, quando em 1660 diz de sua passagem pelo rio Acará: “(…) Tem a cidade pelas
bandas do rio Marutucu, Guarapiranga, Moju e Acará, todos não tão fecundos de peixes, como em
cana-de-açúcar, tabacos, cacaueiros, urucuzeiros, que em suas terras se plantarem, como se vê nos engenhos e
outras fábricas que por eles se acham. Não faltam caça de porcos do mato, veados, cotias, para o sustento dos
27 BORROMEU, op. Cit., p. 85
28 LUSTOSA, op. Cit., p. 244
17
que o povoam (…)”.(29)
“Acará é o topônimo que pode ter vários significados: roer, morder… Logo, aquele que
morde ou rói, outros o traduzem por aquele que tem esporão no rabo, ou que fere com o esporão. Também
acará é uma espécie de peixe de água doce, da família dos cilídios”.(30)
Também D. Lustosa diz: “Acará — nome de um peixe que é que passou a denominar um rio,
depois uma região”.(31)
Acredita-se que esta localidade, em 1758, tenha sido erigida paróquia, porém o Tabelião
David Rosa Ribeiro nos diz que o frei D. Miguel de Bulhões, fundou quatorze paróquias de uma só vez a fim de
atender as necessidades espirituais do povo. Assim sendo, temos a data de 29 de dezembro de 1752 como a
mais provável da fundação da paróquia de São José do Acará.
Segundo o Sr. Benedito Passos (acaraense), as terras onde foi fundada a freguesia de São José
do Acará foram doadas por Francisco X. Mendonça, no ano de 1758. Também afirma que no lugar onde está a
praça central foram feitas escavações e ali foi encontrado um cemitério, e pelos padrões da época as igrejas
ficavam na frente dos cemitérios, por isso o Sr. Benedito acredita ter havido uma igreja muito antes da qual
hoje é a matriz, que também diz ter suas obras concluídas no ano de 1852, e que também tem um cemitério, já
desativado, nos fundos.
Para a construção da igreja muitas foram as doações feitas à paróquia, seja como serviços
prestados pela comunidade ou benefícios que se estenderam a todos, ou até mesmo a doação de obras. Entre
essas doações podemos citar a bela Pia Batismal, que, feita toda em mármore bem trabalhado, foi ofertada pelo
Sr. Antônio de Souza Brito, no ano de 1878.
2.3.1— A FESTIVIDADE
Quando erigida, a paróquia do Acará foi confiada à proteção de São José, por ter sido uma
santo que em vida foi um exemplo de trabalhador, também modelo de esposo e pai. Por isso não faltaram
motivos para tê-lo como padroeiro e defensor.
A festa de São José(32) é bem participada por todos os acaraenses e até por pessoas de fora do
29 BETTENDORFF,op. Cit., p. 23
30 ABREU, Lina
31 LUSTOSA, op. Cit., p. 234
32 A imagem do Padroeiro da Paróquia é a de São José de Botas, que é de veneração da idade média que era
representado vestindo traje de artesão e túnica a cima dos joelhos. Até o final do estilo gótico esta imagem era
apresentada possuindo um bastão curvado, que foi substituído pelo ramo de lírio, também em outras
representações a imagem vem com usando capa, turbante ou chapéu de abas largas, que representa a fuga do
santo para o Egito.
18
perímetro do município. Porém, existe uma outra veneração religiosa que faz os festejos de São José serem
ínfimos em participação popular: é a festa de Nossa Senhora de Nazaré, que desperta um espírito de
envolvimento e animação em toda a comunidade e população em geral.
O primeiro círio consagrado a Nossa Senhora de Nazaré no Acará, segundo o Sr. Benedito
Passos, foi realizado em 1946, e desde então foi tomado como característica de manifestação popular. Este fato
deve-se, segundo análise feita por naturais do lugar, ao fato de N. Sr.ª de Nazaré ser a padroeira dos paraenses
e por adquirir grande simpatia do povo católico. Entretanto a imagem que está no Acará e é venerada como N.
Sr.ª de Nazaré é a de N. Sr.ª da Conceição, se bem que este detalhe, do ponto de vista lógico, não quer dizer
nada, mesmo porque é a mesma Maria com nome diferente segundo a devoção da Igreja. Mas aqui o que conta
é a boa e santa intenção da veneração que o povo traz consigo na sua humildade e simplicidade, mesmo porque
não adiantaria trocar a imagem, ainda fazendo uma campanha de conscientização, pois pouco efeito resultaria,
já que a simpatia, a tradição e o costume são os fatores que falam mais alto.
2.3.2— TRABALHOS DOS PADRES
Os trabalhos realizados pelos sacerdotes na paróquia de São José de Acará com certeza foram
e são uma grande contribuição não só para a vida religiosa, mas também para o bem estar social da população
do município. A esse respeito poderíamos falar muito mais, só que como em outras paróquias aquele que
deveria ser o livro tombo, que narra as atividades da vida da paróquia desde sua origem, não existe, a não ser
um outro iniciado nos anos 1962, data de quando instalou-se fixamente nesta paróquia o padre Aurélio Basso,
da congregação dos missionários Xaverianos, assumindo o cargo de Administrador Paroquial. O seu primeiro
livro tombo teve suas quatorze primeiras páginas dilaceradas, com certeza pela ação do desrespeito, do descaso
e da falta de compreensão de sua importância. A única coisa que restou de registro foi a página de abertura do
livro, na qual o vigário assinara. Entretanto um segundo livro tombo foi iniciado em 1966, pelo sucessor do pe.
Aurélio Basso.
2.4— PARÓQUIA DE SÃO PEDRO DE CONCÓRDIA.
No ano de 1969 teve início o processo de ocupação da área onde está situado o município de
Concórdia, com a construção das Rodovias PA 01, atual PA 252, e da Rodovia PA 140. Por ser uma área da
região amazônica com forte potencial em matéria-prima, principalmente árvores, começaram a se instalar na
região, no início da década de 70, as primeiras serrarias, que atraíram pessoas que ali estabeleceram suas
moradias. Também a intenção de trabalhar na terra fez com que grande parte da população imigrasse de outras
regiões, tais como Maranhão, Ceará, Piauí, Goiás etc. Todos estes dos vários cantos do Brasil aos poucos foram
19
formando a população da localidade conhecida como Quatro Bocas do Acará e que, mais tarde, por sugestão de
populares passou a se chamar Vila Concórdia.
O pe. Ângelo Pansa nos descreve tais fatos da seguinte forma: “A atração exercida pela
madeira de boa qualidade, existente em abundância próximo à localidade onde hoje está situada a sede do
município de Concórdia do Pará, não tardou a provocar, no início dos anos 70, a instalação das primeiras
serrarias. Começava a se delinear a perspectiva de uma área de crescimento econômico, atraente para um
grande fluxo migratório de pessoas que a demandavam em busca de novas oportunidades” (33) .
A exploração florestal madeireira, a boa qualidade da terra para o cultivo de diversas culturas
e fácil acesso às rodovias que interligaram Concórdia com outros municípios — Acará, Bujaru, Tomé-Açu —
foram os motivos para o rápido crescimento e desenvolvimento da Vila Concórdia, que em 1988 foi elevada à
categoria de cidade.
2.4.1— FUNDAÇÃO DA PARÓQUIA
Com a abertura do ramal que dava acesso à cidade de Acará, no ano de 1971, deu-se início a
história de Concórdia e também de uma nova Igreja, que ia tomando forma através da participação de seus
primeiros membros, dando-se início à comunidade de base em junho de 1971. Na época o vigário da paróquia
de Bujaru, pe. Zezinho Leoni, passou a assistir a localidade e celebrou a primeira missa na casa do Sr. Elias
Pereira Alves. O padre sugeriu durante a celebração a construção de uma capela para a reunião de comunidade,
e pela participação e união de todos foi construída a primeira igreja de Concórdia, no local onde hoje se
encontra a Prefeitura Municipal. Na missa inaugural da capela, em 29 de junho de 1972, por aclamação da
comunidade, foi escolhido como Padroeiro São Pedro, pois a celebração realizara-se no dia dedicado ao santo.
Mais tarde (1973), através de promoções, a comunidade conseguiu recursos para comprar a imagem de seu
santo protetor, que em procissão foi conduzida até a capela.
A 29 de junho de 1979 foi inaugurada a igreja matriz, que teve os trabalhos em prol de sua
realização iniciados em 1977, através do pe. Ladislau Jubel, da Arquidiocese de Curitiba, que em 1987 veio a
ser o primeiro vigário da paróquia.
Essa paróquia contou com a colaboração e ajuda dos padres que por aí passaram, e aqui
fazemos memória ao Irmão Luiz Cazzulani, que veio a falecer no dia 05 de outubro de 1997. Lembramos aqui
seu trabalho tanto para a comunidade como para os jovens e adolescentes. Grande animador de vocações. Já
com sérios problemas de saúde, não se cansou de exercer seu ministério, que viveu até os últimos momentos de
sua vida. Seu amor e zelo pela Igreja é expresso através do amor e saudade que os moradores de Concórdia
sentem de sua pessoa.
2.5— PARÓQUIA DE SANTA MARIA DO TOMÉ-AÇU
33 PANSA, pe. Ângelo. Nosso Espaço; Informativo Xaveriano Brasil Norte (Amazônia), 1996, n.º 52, p. 2
20
O município de Tomé-Açu foi criado pelo então governador Magalhães Barata, a 19 de
março de 1959. Antes, porém, suas terras pertenciam ao município de Acará. Essa mudança deve-se
especialmente aos membros da colônia japonesa, que fizeram essas terras prosperarem através de seus
trabalhos. Dom Lustosa nos relata seu encontro já em 1937 com esta comunidade: “Tomé-Açu é o lugar onde
se estabeleceu a colônia japonesa do rio Acará. Havia um outro Igarapé do Tomé, em razão disto este se
denominou Igarapé do Tomé-Açu (…). A comunidade nipônica aí explora sua vasta concessão pela lavoura e
extração de madeira” (34) .
Ao que tudo indica, muito antes de ser fundada a paróquia de Santa Maria de Tomé-Açu,
quem dava assistência à localidade eram os padres que trabalhavam em Acará, até porque, como já vimos,
Tomé-Açu era distrito de Acará. E pelo que percebemos nos relatórios das visitas pastorais de Dom Lustosa, os
membros da comunidade católica eram bem atendidos.
No ano em que D. Alberto tomou posse como Administrador Apostólico da Prelazia de
Abaeté, para ser exato, 13 de janeiro de 1962, pelo poder que o cargo lhe competia, proclamou criação da
paróquia de Santa Maria de Tomé-Açu. Porém, somente a 29 de agosto do mesmo ano é que D. Alberto
instalou a paróquia de Santa Maria de Tomé-Açu. Essa data foi muito marcante para a vida da Igreja de
Tomé-Açu e de todos os fiéis que participaram da grande celebração de fundação da paróquia.
O primeiro vigário de Tomé-Açu foi o pe. Aurélio Basso, da Congregação dos padres
Xaverianos, que também exercia os cargos de Administrador da paróquia de São José de Acará e de vigário
Coordenador da Prelazia de Abaetetuba.
Novamente Dom Alberto Gaudêncio Ramos voltou a Tomé-Açu, para a inauguração do
Centro Cultural padre José de Anchieta. Podemos tomar isso como mais uma prova do quanto todas as pessoas
daquele município estavam dispostos a ver a Igreja como com participação na vida social.
Próximo à cidade de Tomé-Açu está Quatro Bocas, que podemos considerar como distrito de
Tomé-Açu. Lá está construída a igreja dedicada a São Francisco Xavier. Por ser próximo, e por falta de
recursos humanos (sacerdotes), os mesmos padres e irmãs que trabalham em Tomé-Açu também assistem
Quatro Bocas. Contando com os acontecimentos que vêm ocorrendo no que diz respeito ao projeto de
emancipação do lugar, futuramente Quatro Bocas poderá vir a ser uma paróquia, até por se tratar de um lugar
com características autônomas de cidade e com estrutura própria de paróquia.
No ano de 1997, essa paróquia teve a graça de realizar as Santas Missões Populares, que para
toda a Igreja serviu como um revigoramento religioso, o que tornou possível resgatarem-se alguns elementos
próprios da vida cristã que há muito estavam se perdendo, como por exemplo as visitas evangelizadoras, a
participação do leigo na evangelização, enfim, coisas peculiares do cristianismo.
2.6— PARÓQUIA DE SÃO JOAQUIM DE BUJARU
34 LUSTOSA, op. Cit., p. 235
21
Como em outras cidades desta região, logo após a fundação de Belém, os portugueses em
busca de riquezas subiram o rio Guajará(35), povoando suas margens, daí então chegaram ao rio Bujaru, que é
um braço do rio Guajará, em meados de 1730, época em que a localidade começou a ser povoada.
A respeito de o rio ter recebido o nome de Bujaru, o fr. José Azevedo do Perpétuo Socorro,
que transcreveu o Livro do Tombo da paróquia, fala-nos que o lugar era a sesmaria de um senhor dono de um
engenho, que respondia pelo nome de Bujaru e que morava a margem do rio, então pelo costume, chamaram o
rio de “Bujaru”, que quer dizer: cobra de boca grande= Boia - Aru, que substituindo o ‘ oi ’ pelo ‘ j ’ e
suprimindo um ‘A’, fica Bujaru. Não sei se podemos, pela veracidade da história do Sr. Bujaru, dizer que o
nome corresponda exatamente a este significado, a não ser pela aproximação do nome, Bujaru, que é um nome
português, porque o referido senhor era português, com as palavras Boia e Aru, tenha-se chegado a este
significado para dar um sentido mais indígena ao nome do lugar. Em 1788, o 6º Bispo do Pará, D. Caetano de
Brandão, em visita pastoral a Bujaru, após crismar e fazer pequenas advertências, viu-se cercado de boas
pessoas e de muita paz e concórdia, então entitulou o lugar de “Rio Bela Concórdia”, a este tratamento um dos
moradores disse: “Pois o Bispo muda os nomes na crisma das criaturas racionais, então poderá mudar o nome
de um rio? Há de ser daqui por diante Rio Bela Concórdia” (36). Entretanto, o nome Bujaru já havia sido muito
divulgado e já se encontrava em diversos mapas e documentos, e sobretudo, já estava no costume dos
moradores chamar o rio e o lugar de Bujaru, por isso o nome de Bela Concórdia não teve tanta repercussão,
tanto é que pouquíssimas pessoas sabem desta história.
2.6.1— AS CAPELAS DA REGIÃO
A capela de Sant’ana foi construída no período do Brasil Colônia em parte de uma fazenda de
escravos do Senhor Narciso Gomes de Araújo, que construiu uma igreja de taipa, e que mais tarde doou as 700
braças do terreno para o patrimônio de Sant’ana, sendo que seu neto aumentou as proporções do terreno. Em 12
de novembro de 1831, pela requisição da Senhora Francisca de Amaral, viúva do Senhor José Gomes de
Amaral filho do senhor que doou as terras, solicitou que fosse feita divisa oficial do terreno à já ereta paróquia
de Sant’ana do rio Bujaru, o que ocorreu perante a presença de um juiz de paz e um escrivão, nesta época o
vigário era o pe. José Gonçalves Chaves.
No século passado, foi construída no lugar da antiga capela uma igreja de pedra e cal, que na
época era a maior do Estado e foi inaugurada em 27 de julho de 1847, pelo pe. João Simpático das Neves Pinto
e Souza, que chegou a ser vereador da Câmara Municipal de Belém e Deputado da Assembléia Provincial.
Também os moradores da paróquia tinham grande devoção por São José, para tanto existia
uma irmandade de São José, que em 1935, por volta da visita pastoral de Dom Lustosa, foi-lhe pedido pelo Sr.
Leopodino Alves que restaurasse a imagem do Santo, pedido que foi recusado visto o Bispo ter ciência das
intenções de muitas irmandades existentes, pois essas geralmente operavam suas atividades sem prestar contas
35 Guajará é o nome da parte superior do rio que começa em Belém e vai até a região do Capim, onde começava
o rio Guamá, com o tempo este nome Guajará foi sendo trocado por Guamá. 36 Livro do Tombo, Paróquia de São Joaquim de Bujaru, p. 9 v
22
as paróquias e não atuavam com a presença ou consentimento do padre vigário.
Então o que resolveu no ano seguinte o padre vigário propor a D. Lustosa a criação da Corte
de São José, que foi autorizada no dia 14 de fevereiro de 1937, donde o presidente era o Sr. Alexandrino da
Costa.
2.6.2— ACUSAÇÃO DO PADRE
Um filho de Bujaru, chamado João Colares, vindo de Belém para passar a festa de Sant’ana,
tinha consigo a intenção de roubar a imagem da padroeira e consequentemente colocar a culpa no padre.
Ao chegar em Bujaru logo começou a espalhar mentiras dizendo que o padre poderia ter
vindo para roubar a imagem da santa.
Durante o leilão, Colares entrou na sacristia e furtou a imagem. Quando o padre foi buscar a
custódia padroeira para dar a benção ao povo não a encontrou, daí surgiu a confusão, sendo que alguém da
multidão inspirado pelas mentiras do verdadeiro ladrão gritou que fora o padre quem havia cometido o roubo,
logo todos se amotinaram contra o sacerdote. Porem a polícia interveio e revistando todas as casas, perceberam
a total calma do João Colares que já havia escondido a imagem em sua canoa em um falso travesseiro. Muito
suspeito tal comportamento, os policiais revistaram a canoa e encontraram a imagem. A população muito
revoltada, quase dá fim ao ladrão de imagem sacra, que foi preso.
Por causa do comportamento de desconfiança do povo para com o padre Brito, D. Antônio
Lustosa castigou o lugar a durante um ano não lhe haver missa ou festa religiosa.
2.6.3— HISTÓRIA DO MUNICÍPIO
Bujaru, juridicamente nasceu primeiro como Distrito do município do Capim. Em 1943, foi
elevado a categoria de município não mais localizado às margens do rio Bujaru, e sim a um lugar chamado
Guaramucu, a beira do rio Guamá, onde já havia alguns moradores e uma capela a beira mar (37).
A nova cidade começou a povoar-se com três ruas de casas, depois foi construída uma
Rodovia que dava acesso a Vila de Sant’ana, onde era o antigo distrito e paróquia., que com a mudança de lugar
também a paróquia foi transferida, porém a Vila do Guaramucu já tinha seu padroeiro São Joaquim, que daí por
diante ficou como protetor da paróquia de Bujaru.
A Igreja Matriz foi construída com o esforço do fr. João Francisco, que junto com o povo
carregou pedras para alicerçar a igreja e realizou outras trabalhos. Mais tarde, frei João, foi substituído pelo
Cônego Manoel Neto, que ti a fama de violento, sedo que brigou em Santa Maria do Guajará-Açu e formou
confusão nos lugares onde ia. Fechou a igreja de São Joaquim levando as chaves consigo, deixando a Matriz
37 No lugar onde ficava capela foi construída a Prefeitura.
23
em estado de abandono, só anos depois esta situação foi resolvida com a chegada de outro sacerdote, fr. João
Joaquim, que em 1961 comprou uma casa de taipa ao lado da igreja, onde queria organizar uma escola
Paroquial, mas no lugar foi edificada a casa Paroquial em 1963, inaugurada em 1 de dezembro do mesmo ano.
Com a criação da Prelazia de Abaetetuba, o Bispo prelado cuidou logo de fazer visitas
pastorais, sendo que Bujaru foi visitada várias vezes, isto não por mera expectativa pastoral, mas por ver Bujaru
com bons olhos, tanto é que disse em carta ao pe. Aurélio Bassos: “Bujaru é a melhor paróquia que nos temos,
você volta para Tomé-Açu e no dia 23 de junho deixará a paróquia para o padre Lanciotti, e virá para Bujaru,
onde tem a casa Paroquial em construção, terminada a casa o padre morará definitivamente em Bujaru” (38)
2.6.4— FESTA DE NAZARÉ
Como em outros lugares de nossa Diocese, uma segunda festa é tão bem participada nas
paróquias, quanto a do padroeiro, isto pela análise deve-se a veneração e devoção que o povo tem por Nossa
Senhora de Nazaré.
Na paróquia de São Joaquim de Bujaru esta devoção iniciou no dia 12 de fevereiro de 1957,
quando Dona Raimunda Paraense quis pagar a uma promessa por ter ficado curada de uma grande
enfermidade. Ela mesma organizou o primeiro círio com carro de anjos e dos milagres que eram puxados por
búfalos, o andor com a imagem de Nossa Senhora de Nazaré era carregado pelos fiéis.
Depois que Dona Raimunda viajou para o Rio de Janeiro, doou a imagem para que os padres
assumissem a festividade, esta a cada ano tomava proporções grandiosas. No ano de 1982 o círio foi fluvial, em
1983 por ser grande o número de fiéis, foi cedida a balsa que faz a travessia dos carros no rio Guamá, para
acomodar os fiéis, porém a partir do anos seguinte a procissão voltou a tomar as ruas da cidade, que se tornaram
insuficientes para a grande multidão.
2.7— PARÓQUIA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS DE
TAILÂNDIA
O surgimento da paróquia se deu com a abertura de Pa—150, nos anos 1978, os padres do
Acará foram procurados pelos primeiros moradores a 18 quilômetros além do lugar onde hoje se encontra a
24
cidade de Tailândia, pelo Sr. Nazareno e seu afilhado Livindo, os padres marcaram visita com missa no dia 18
de novembro do mesmo ano. Sendo o território da região do município de Acará também espiritualmente
poderia ser feita assistências, visto o território da paróquia ser compatível com o do Municio. Assim foi
programada visita ao lugar e as comunidades que vinham surgindo, em um período de a cada dois meses pela
equipe paroquial formada de três irmãs e dois padres Xaverianos.
No começo a equipe ficava na sede do INCRA e lá celebrava missa e realizava batizados.
Mas depois de uns meses vendo que a presença da equipe vinha sendo politizada, já não mais foi premedito
ficarem no mesmo lugar que antes, então resolveram ficar nas casas dos leigos como de Dona Maria e Sr.
Joaquim.
Depois de seis meses o povo levantou uma pequena capela de barro, sendo que participavam
pessoas de outras Igrejas não tendo a de sua religião.
Com a mudança de componentes da equipe que atendia a Tailândia, viu-se a necessidade da
realização de um trabalho mais consistente, e no ano de 1981, Tailândia foi elevada a paróquia sob a invocação
de São Francisco de Assis. Seu primeiro pároco com moradia fixa, foi o padre Lino Zucchi — SX, em seguida
o pe. Máximo e depois pe. Ferdinado.
Antes de se tornar município, Tailândia funcionava como distrito de Acará, após um
plebiscito realizado em 24 de abril de 1988, Tailândia passou a ser município. A cidade aumentou rapidamente
e pe. Ferdinado organizado junto com lideranças e fiéis, decidiu iniciar a construção de uma nova igreja maior
e mais confortável. Assim depois de várias reuniões e idéias uma equipe foi à Belém para ver a estrutura da
igreja de Santa Maria Goret no bairro do Guamá.
Depois de algum tempo que a obra ficou parada, comerciantes, madereiras, serrarias e o povo
em geral ajudaram a recomeçar o trabalho da construção, sendo que muitas foram as doações tais como o piso
que foi doado pelos comerciantes, os vidros e portas foram doados pelas serrarias, a estrutura de madeira foi
doação dos madereiros, e com a chegada do pe. Célio, em pouco mais de um ano os trabalhos foram concluídos
e no dia 19 de abril de 1998 foi inaugurada pelo Bispo da Diocese Dom Flávio Giovenale.
Hoje todos se orgulham de ter esta igreja, que embora seja de 36m por 19 não consegue
comportar todos os fiéis nas missas do domingo a noite.
Hoje a cidade tem várias escolas de 1º e 2º graus, a saúde é muito precária, a estrada não é
pavimentada causando assim enorme poluição pela poeira dos caminhões das madeireras que passam pela
cidade. A cidade é caracterizada pela violência, de fato o seu nome “Tailândia” deriva de um fato ocorrido com
um delegado de polícia que foi para lá deslocado e que por obra de uma confusão ficou três dias e três noites
escondido no mato, para fugir dos pistoleiros de fazendeiros grileiros. Com isso o delegado comparou o lugar
com o País Tailândia que fica no estremo oriente, o qual era famoso pela violência e guerra civil, que vendo as
mortes que aconteciam na vila o chefe de polícia esclamou: “Assim parece uma Tailândia”, daí por diante
38 Ibid. p. 33 v
25
passou a se chamar de Tailândia, onde a violência ainda é sua característica principal.
2.8— PARÓQUIA NOSSA SENHORA RAINHA DA PAZ DAS
ILHAS DE ABAETETUBA
A região das Ilhas de Abaetetuba, como toda área rural, era atendida através das chamadas
“desobrigas”, cujas localidades mais importantes eram visitadas uma vez por ano pelo padre da paróquia de
Abaetetuba, que ia para celebrar a missa e eventualmente fazer confissões, batizados e casamentos. Essas
visitas esporádicas eram realizadas nos engenhos ou em casas de pessoas com influência na localidade, visto
serem os locais de referencia para muitas pessoas.
No ano de l966, após a visita pastoral, o Bispo Prelado de Abaetetuba, D. João Gazza, vendo
a quantidade de pessoas que moravam naquela região de ilhas, propôs que um dos vigários da paróquia desse
um melhor atendimento ao povo numeroso. Foi escolhido para este serviço o missionário xaverianos padre
Valeriano Ruaro. Nesse sentido começou um trabalho mais contínuo de evangelização e dedicado à formação
de catequistas e líderes. Depois continuaram os trabalhos começados por padre Valeriano, os padre Sebastiano
Tirabaschi, Antônio Antunez e José Borghesi, todos eles também missionários xaverianos, que contavam com
a ajuda das irmãs xaverianas Antonia Rota e Antonieta Negreto. Foram anos dedicados à criação e formação
das Comunidades Eclesiais de Base com tudo o que isto supunha: cursos de formação de líderes e catequistas,
construção de capelas e centros comunitários, organização do povo etc., segundo as diretrizes emanadas dos
Congressos Diocesanos e das Assembléias Diocesanas e com o apoio e colaboração do Centro Catequético e
Secretariado Diocesano.
Com o passar dos anos, as comunidades foram se desenvolvendo em número e o serviço
pastoral e social exigiu mais agentes dedicados a tempo pleno. Assim, no ano de l985, o padre José Borghesi e
o Bispo D. Ângelo Frosi decidiram enriquecer a equipe pastoral com leigos voltados mais diretamente a esses
serviços, escolheram Domingos da Trindade Ferreira Pereira (Assopra), da comunidade São João Batista, do
Rio Campompema. Como fruto do trabalho de conscientização, em l986 criaram o Cantinão, uma espécie de
mercearia que venderia produtos a um preço mais acessível do que no comércio, que foi incentivado e apoiado
pelas comunidades, para este trabalho foi escolhido Deonato Lima dos Santos, da Comunidade Sagrado
coração de Jesus, do Rio Genipaúba.
A paróquia Nossa Senhora Rainha da Paz foi criada por D. Ângelo Frosi, no dia 8 de
setembro de l987. A nova paróquia que surgira abrangeria toda a região da Ilhas de Abaetetuba e as
comunidades ao largo da Costa Maratauíra e da Bahia do Capim, mas facilmente alcançável pelos rios segundo
o que era determinado pelo decreto de criação da paróquia.
A paróquia Rainha da Paz ficou a cargo da mesma equipe que já estava atendendo
pastoralmente aquelas comunidades ribeirinhas, sendo nomeado pároco o missionário xaveriano padre José
Borghesi.
26
Atualmente a paróquia das Ilhas desenvolve um amplo trabalho especialmente no plano
pastoral, contando com o trabalho do pároco padre Adolfo Zon, da congregação dos missionários xaverianos e
mais a contribuição de agentes pastorais que com o mesmo empenho movimentam a paróquia. Outros trabalhos
são desenvolvidos, sobretudo no campo sócio-político em parceria com a paróquia, dentro desse contexto
destaca-se as organizações a partir de associações dos pescadores — Z-14, de moradores — AMIA, de artesãos
e outros segmentos existentes na paróquia.
2.9— PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO
DE ABAETETUBA
A história de Abaetetuba inicia-se envolta por um alguns aspectos que muitos acreditam ser
lendários, mas que outros dizem marcados por graças milagrosas alcançadas por meio da fé, visto o curso
religioso que toma a narrativa.
Segundo a tradicional história que nos é contada, tudo inicia com o senhor Francisco de
Azevedo Monteiro, natural de Portugal, que havia adquirido, através do rei de Portugal, uma sesmaria (área que
corresponde a 6.600 m2), no rio Jarumã. Viajando com a família de Belém, para tomar posse de sua
propriedade, foram obrigados a se desviar da rota por causa de uma violenta tempestade que os abordou
durante o percurso da viagem marítima.
Por ser 8 de dezembro, dia consagrado a Nossa Senhora da Conceição, Francisco Azevedo
Monteiro fez a promessa de que, se conseguisse ancorar com segurança, no mesmo local ergueria uma capela
em honra de Nossa Senhora da Conceição. E por obra da Graça Divina, ou do destino, conseguiu aportar em
segurança com sua família, ancorando onde hoje está o Cruzeiro Municipal. Daí então denominou o lugar
“Povoado de Nossa Senhora da Conceição do Abaeté”.
Esta história vem sendo contada ao longo dos anos como marco de fundação de Abaetetuba.
Entretanto, como havia de ser, existem aversões a esta narrativa, como nos apresenta o Professor Jorge
Machado em sua obra “Terras de Abaetetuba”. Ele nos alerta da seguinte forma: “ Há em nossa História
inúmeros casos com o enredo: navegante é desviado da rota por tempestade e descobre terras (e nos atenta para
a para a História do Brasil — Pedro Álvares Cabral).
(…) Francisco de Azevedo Monteiro era possuidor de terras na região desde 1712. É possível
que não tenha encontrado o que buscava (algo que lhe conduzisse à riqueza, como ouro, drogas do sertão etc.)
na antiga propriedade (Rio Jarumã) tenha decidido mudar ” ( 39 ) (para o lugar onde hoje encontra-se
Abaetetuba).
Como reforço a esta tese do professor Jorge Machado, também apresento uma outra
39MACHADO, Jorge. Terras de Abaetetuba. p. 26
27
suposição através de análise feita em cima da obra do pe. João Felipe Bettendorff, a saber, estas terras já eram
conhecidas dos aventureiros viajantes. Faço tais afirmações porque, em sua “Crônica dos padres da Companhia
de Jesus no Estado do Maranhão”, o referido padre por várias vezes nos fala da missão dos Camutás (em
Cametá), e de suas passagens pela baia do Marapatá, isto muito antes de 1712. Todos estes fatos nos levam a
supor que nestas viagens, tanto os padres da Companhia de Jesus, quanto os aventureiros tenham penetrado
pelo rio Maratauíra, que passa em frente a Abaetetuba, recebendo suas águas do rio Tocantins. Também na
relação dos padres que já passaram por Abaetetuba, nos arquivos da Diocese, encontramos o nome do “pe. João
Felipe Bettendorff” (40).
O descontentamento com as terras que lhe eram de direito fez com que Francisco de Azevedo
Monteiro voltasse para a capital da Província, no caso, Belém, e deixasse a localidade, só que neste período já
se havia constituído um povoado no lugar que continuou habitado. A partir de 1713, vindo da região do Marajó,
Manoel da Silva Raposo instalar-se com sua família em Abaetetuba, e através de seu empenho e trabalho a
localidade começara a desenvolver-se: “Seu trabalho em prol do lugar fez com que o governo lhe concedesse a
sesmaria, da qual Azevedo Monteiro, muitos anos antes, desistira.” (41). Podemos claramente perceber que, pela
sua ação, Manoel da Silva Raposo mostrou-se homem digno de habitar este lugar, tanto que pelo
reconhecimento de seu trabalho lhe foi repassada toda a propriedade de Francisco Azevedo Monteiro.
Manoel da Silva Raposo, por ser homem de muita fé e cristão autêntico e zeloso pela Igreja,
antes de falecer, doou à Igreja o lote de terra que lhe era de propriedade. Por este fato criou-se um grande
problema, por acharem que o lote doado não fora o total que corresponderia a sesmaria de Manoel da Silva
Raposo, criando-se grande briga entre a Igreja local e o poder temporal.
Muitas são as incertezas que existem com relação à data de criação da paróquia de Nossa
Senhora da Conceição de Abaetetuba: uns dizem ser o ano de 1879; outros, 1859. Porém, o arquivo do
secretariado diocesano diz o seguinte: “(…) O executamos com efeito, fundando quatorze paróchias, a saber,
duas no rio Guamá, duas no Capim, uma no Acará, uma no Moju, uma no Igarapé-Miri, uma no Abaeté
(…)”( 42 ). Partindo deste princípio, podemos dizer que a paróquia de Nossa Senhora da Conceição de
Abaetetuba foi criada por decreto do Exm.º D. frei Miguel de Bulhões, 6.º Bispo do Grão Pará, a 29 de
dezembro de 1752, mesma data da constituição da paróquia de Igarapé-Miri, como mostra a relação das
paróquias erguidas de uma só vez, entretanto outros arquivos do Secretariado Diocesano nos apontam a data de
21 de dezembro de 1752 como da criação da referida paróquia, sendo que esta última só muda o dia da
fundação.
40 A respeito da data de falecimento do padre João Felipe Bettendorff — 1698 — há algumas controvérsias, que
nos são apresentadas ainda nas primeiras páginas de apresentação de sua obra “Crônica dos padres da
Companhia de Jesus no Estado do Maranhão”, reeditada pela Secretaria de Cultura do Estado do Pará. É-nos
alertado, nas páginas introdutórias, que o pe. Bettendorff tenha vivido até o ano 1724, visto em seu livro narrar
a respeito da epidemia de varíola, no Pará, no ano de 1724.
41 SOUZA. Nildo T. História dos municípios do Estado do Pará — Abaetetuba, Belém. A Província do Pará,
1976, cadernos 3 e 4.
42 CHAVES, Op. Cit. p. 9 v
28
As primeiras igrejas construídas em Abaetetuba sempre contaram com a ajuda dos
moradores, que com muito ardor devocional trabalhavam na construção da Casa de Deus. A primeira igreja foi
construída em Abaetetuba por Francisco Azevedo Monteiro, com ajuda de moradores do povoado, dedicada a
Nossa Senhora da Conceição, que ficava localizada à margem esquerda das artérias, Av. Pedro Rodrigues, com
Rua Getúlio Vargas. Em seu redor ficava o cemitério. Essa igreja, com a ação do tempo, desmoronou. A
segunda igreja foi construída por Diogo Carvalho, em pagamento a uma graça alcançada, por uma promessa
feita ao Divino Espírito Santo. Era localizada na atual travessa Pedro Rodrigues, onde está localizado o prédio
do Café Abaetetuba. A terceira igreja foi construída em honra a Santa Luzia, por Raimundo Elesbão, para pagar
promessa alcançada com a cura de seus olhos. Ficava localizada na Rua Siqueira Mendes, esquina da atual
travessa 15 de Agosto, no local onde está localizado o prédio das Irmãs Xaverianas. A quarta igreja, construída
em 1933, foi a nossa Igreja Matriz, com o esforço do farmacêutico Joaquim Mendes Contente, e com o auxílio
de populares, sendo que a primeira missa em seu interior foi presidida pelo padre João Van Bru” (43). Suas obras
foram concluídas em 1939.
Várias são as colocações e discórdias com relação à construção desses templos. Primeiro a
respeito da visita do Exm.º Senhor Inácio Baptista de Moura, que no ano de 1897 ancorou no trapiche da cidade
de Abaeté, visitou a cidade cheia de edificações antigas, com apenas três ruas e cinco travessas, duas praças e
duas igrejas. Chegou a conversar com o pe. Pimentel, do clero paraense, que era vigário da paróquia, e que deu
algumas informações a respeito do município.
Com relação à data de inauguração da Igreja Matriz, há dúvidas, pois no relato supracitado
aparece o ano de 1939 tendo como inaugurador o pe. Van Bru. Uma revista publicada no ano de 1989,
apresenta a data de 28 de novembro de 1941, como data de inauguração e, como sagrador oficial, o fr. Paulino
de Sellere, da ordem dos padres capuchinhos. Em pesquisa realizada no livro de tombo da paróquia de
Abaetetuba, não foi encontrado, nos anos referenciados, nada que reportasse a esta inauguração, e consta que o
vigário de 1937 até 1943 era o fr. Anastácio, capuchinho.
Como já citado, para que a obra da igreja Matriz de Abaetetuba fosse concluída, precisou-se
da ajuda de várias pessoas. Também várias foram as doações feitas para a catedral abaetetubense, entre as quais
citamos o ato nobre de pessoas que doaram jóias de suas famílias, que eram verdadeiras relíquias, para a
construção do altar-mor da igreja, a pia batismal etc. Essas obras e outras que faziam parte do ornamento da
catedral foram dizimadas, juntamente com as imagens de santos. Tudo isto deve-se à reforma feita no ano de
1972, que não foi obra do acaso, mas um cumprimento das reformas trazidas pelo Vaticano II. Muitas dessas
obras foram espalhadas, como a imagem de São Raimundo Nonato, que está na igreja de São Benedito sob a
responsabilidade da Ordem Terceira; a pia batismal acredita-se ser a que está na igreja de São Miguel da Vila
de Beja. Outras obras ninguém sabe que fim levaram, como o altar-mor — dizem serem pedaços seus o que se
encontra no jardim do Seminário menor Nossa Senhora de Guadalupe em Abaetetuba; outra parte pode ser o
altar da capela do Sagrado Coração de Jesus. Enfim, aquilo que deveria ser preservado como patrimônio da
população, até porque foi através de seus esforços que tudo foi conquistado e realizado, caiu no descaso,
fazendo com que a História vá sendo apagada aos poucos. Outra deformação que a igreja sofreu foi na sua
43 Arquivo do Secretariado Diocesano.
29
estrutura e em seu formato, que teve por modelo a igreja da Santíssima Trindade em Belém do Pará.
Também outras contribuições foram os trabalhos árduos, como o dos Senhores: Bernardino
Mendes, Raimundo Nonato Viegas, José Pinheiro Bahia, José Ferreira, Emiliano Pontes, Humberto Parentes,
Raimundo Pauxis, Oscar Solano, Raimundo N. Ferreira e Joaquim Mendes Contente(44).
2.9.1— O PADRE QUE APANHOU
Em 1932, aconteceu um fato que abalou toda a população abaetetubense. Acusaram o
vigário, fr. Magalhães, da ordem dos padres capuchinhos, de ter engravidado uma moça de uma das
tradicionais famílias da sociedade local. Como vingança, seus familiares humilharam e surraram o padre, que
se viu obrigado a deixar a paróquia. Contudo, todos os que viram o fato contam que saindo da cidade, em meio
ao rio, o padre prometeu que se fosse certa sua inocência a respeito de tais acusações, Abaetetuba seria
castigada por uma terrível praga de formigas. Em seguida jogou suas sandálias nas águas.
Realmente, como era verdadeira a inocência do sacerdote, Abaetetuba foi punida como o era
o prometido, tendo sido aterrorizada por formigas, que pareciam não ter limite em sua quantidade. Dom
Lustosa chegou a ver o terrível castigo e relata: “Outro inseto vai logrando celebrizar-se em Abaetetuba — a
formiga de fogo.
Há mais de um ano vem ela flagelando os habitantes da cidade. Aparece em toda a parte. Nas
casas, surgem nas cozinhas, nos quartos, nos quintais. Não respeitam móveis, nem pessoas, nem durante o
sono. Muitas pessoas colocam nos punhos das redes ou das camas panos embebidos em azeite ou creolina. Não
basta, suponhamos, um vaso de água pura sob cada pé da cama para impedir que a formiga de fogo vá
importunar a quem dorme; ela nada e sobe na cama. As flores em vasos são por vezes inutilizadas por elas, não
porque as devoram como outras formigas mas porque estabelecem ali o seu reino. E como doem as ferroadas
das formigas-de-fogo! Parecem realmente agulha. Às vezes os pés ficam em chagas em conseqüência das
queimaduras desse fogo vivo. Não havia nada para ser notado se se tratasse de um ou outro reino das agressivas
formigas, mas é realmente de se estranhar como se apoderavam das casas em geral. Há moradores que se vêem
forçados a mudar de residência, cansados de combater, improficuamente, a formiga-defogo” (45). Consta-se
também que terrível foi o que aconteceu com os que surraram o padre — todos adoeceram de lepra.
Por causa da violência e maltrato que fizeram com o padre Magalhães, Abaetetuba ficou por
um longo período desassistida de sacerdote, e, todas as vezes que o Bispo Metropolitano passava pela frente da
cidade, colocava-se de costas como forma de repúdio e protesto ao maltrato que sofreu o vigário.
44 Ao Senhor Joaquim Mendes Contente, segundo o Professor Jorge Machado em sua obra “Terras de
Abaetetuba”, foi dado o título de fabriqueiro pelo então Bispo do Pará, D. Antônio de Almeida Lustosa. Este
título era dirigido a pessoas que ajudavam tomando frente nas obras de construção de igrejas. Acredito que esta
nomeação se deu quando o Bispo visitou Abaetetuba e relata: “Abaeté está edificando sua Matriz nova, que já
está coberta e promete ficar cômoda e bela. (LUSTOSA, D. Antônio. p. 226) 45 LUSTOSA, op. Cit. p. 226
30
2.9.2— A IRMANDADE DE SÃO RAIMUNDO NONATO
Ao que está registrado nos arquivo memorial da paróquia de Nossa Senhora da Conceição de
Abaetetuba, diz do dia 27 de julho de 1938, a respeito da festividade de São Raimundo: “a diretoria desta festa
(que se diz tradicional) é um pouco absoluta e é esta a única festa cuja receita e despesa não chega ao
conhecimento do padre; vamos porém, ver se para o ano se conserta alguma coisa” (46). Ao que nos apresenta
este relato, podemos perceber que esta festividade não era de muito agrado eclesial, não pela devoção, mas
pelos que a conduziam e compunham a Irmandade de São Raimundo Nonato, principalmente os seus diretores.
Neste sentido, frei Anastácio, vigário da paróquia na época, encampou enorme luta contra os dirigentes da
irmandade, tendo retirado o apoio à Igreja da movimentação festiva.
Entretanto, depois que frei Anastácio foi substituído em 1942, este festejo voltou a tomar
participação religiosa, tudo com ciência do Arcebispo D. Jaime Câmara, que deu algumas diretrizes para o
pároco realizar o festejo. Mas novamente os dirigentes da Irmandade não foram muito sinceros com a Igreja,
tanto que em 1945 houve nova discórdia com o vigário, fr. Camilo, que declarou os seguintes abusos: 1.º Falta
de personalidade jurídica ou eclética para funcionar como irmandade religiosa; 2.º A diretoria é composta por
pessoas que nem sequer a Santa Páscoa fazem; 3.º Total independência do vigário; 4.º Aceitação de em geral
escala de mulheres declaradamente de vida pecaminosa(…)” (47), entre outros abusos, que em linhas gerais
referem-se a cerca de 500 irmãos de São Raimundo, na grande maioria gente simples, que tinham que pagar
uma taxa que ficava com um grupinho, do qual fazia parte o Sr. Pedro Araújo, que sempre foi o tesoureiro da
“associação religiosa”, e que fazia as cobranças dos cartões dos sócios.
O diretor da irmandade era o Sr. Raimundo Pauxis, que na época era prefeito do município de
Abaetetuba. Ele recebeu uma carta de Dom Mário de Miranda Vilas Boas, pedindo que a Irmandade e a festa de
seu padroeiro se adequassem aos seguimentos católicos. Porém tal ação não produziu efeito eficaz, causando
maiores complicações ao vigário, que foi acudido pelo povo em momento de perseguições.
Com a substituição do capuchinho frei Camilo, seu sucessor também sofreu certo desagrado
no que diz respeito à briga do movimento religioso, só que desta vez não era com relação à imagem de São
Raimundo Nonato, mas a uma visita, organizada pelo Sr. Raimundo Pauxis, do então Senador Magalhães
Barata, que trazia consigo a imagem de Nossa Senhora de Fátima, uma visita política dissimuladamente
religiosa. Por obra do destino, o Prefeito Pauxis, por ocasião de uma das viagens para Belém, para tratar
assunto referente à visita do Senador e da Imagem da Santa, adoeceu e veio a falecer, ocasião em que, por
coincidência, seu corpo chegara na mesma ocasião em que a imagem de Nossa Senhora de Fátima, em
Abaetetuba. Para muitos esse fato foi tomado de muita tristeza e espanto, que chegaram a criar comentários
como descreve o vigário Sigismundo: “Não faltaram comentários sobre o triste acontecimento, como de um
terrível castigo de Nossa Senhora de Fátima, querendo fazer dela um trampolim para fins políticos” (48).
Ainda sobre a questão da Irmandade de São Raimundo, frei Camilo, quando ainda vigário,
46 Livro do Tombo Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Abaetetuba, p. 6v. 47 Ibid., p. 33.
31
conseguiu para a paróquia uma imagem de São Raimundo (49), que no período da festa era colocada no altar
destinado à imagem, e que, em outros tempos, guardava a imagem do Santo da Irmandade. A ação do vigário
foi novamente tomada como afronta, e ele teve que buscar auxílio na Arquidiocese, que estabeleceu as
diretrizes segundo as quais passou a ser ilícito colocar imagens do mesmo santo no mesmo altar, ou até fazer
dois altares para um mesmo tipo de imagem, com exceção às invocações ou mistérios da vida diferente de
Nossa Senhora e Nosso Senhor Jesus Cristo. Isso tudo desembocou em nova polêmica na administração do frei
Hermes, em 1947, quando, de comum acordo, o frei e a direção da Irmandade decidiram por mais aquele ano
que as coisas ficassem como antes: a imagem a ser utilizada para o festejo seria a da Irmandade e a diretoria
seria a mesma, entretanto no ano seguinte as coisas mudariam. Esse fato foi firmado em ata assinada pelos
presentes. Descontente, em 1949, o Sr. Pedro Araújo, que era presidente da Irmandade, queria que a festa fosse
novamente dirigida pela Irmandade, desrespeitando o documento que havia assinado há dois anos. No final a
Igreja vencera a questão que já havia sido levada ao Prefeito Municipal, ao Delegado de Polícia e ao Juiz de
Direito, mas tal questão só teve fim quando neste mesmo ano foi criada uma nova Irmandade segundo os
ditames católicos e usando a Imagem da Igreja (São Raimundo sem barba).
Antes de deixar a paróquia em 1950, frei Hermes junto com o povo, em abril de 1948,
conseguiu do superior do Frades Capuchinhos e do Arcebispo a permanente estada de dois padres na paróquia,
sendo eles fr. José Maria de Manaus e frei Hermes de Maria, ambos da ordem dos padres capuchinhos. Desde
então Abaetetuba ficou sendo servida de sacerdotes, pois antes estes iam para lá e voltavam para Belém.
Também neste mesmo ano, a 8 de dezembro, foi entronizado o Crucifixo na Câmara Municipal de Abaetetuba.
2.9.3— SANTAS MISSÕES.
Como forma de anunciar a Boa Nova do Reino, e de proclamar o Evangelho a todos, a
paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Abaetetuba, realizou em vários momentos as Santas Missões, que
seguidas de participação e entusiasmo, ficaram na lembrança e marcos que são sinal daqueles acontecimentos.
20 de agosto de 1939: neste dia o povo estava ansioso esperando o Rev. fr. José Maria de
Manaus, capuchinho, e o pe. Raimundo Paulino Bressan, que a convite do vigário da paróquia, fizeram a
Primeira Santa Missão, diferente do conceito de Santa Missões que temos hoje, que envolve caminhadas,
visitas e outras atividades com missionários leigos. Estes realizaram somente pregações a um total de quatro
vezes por dia, que ao que parece foram muito sublimes, pois ao partirem deixaram muitas saudades.
A segunda Santas Missões, iniciou no dia 03 de julho de 1952, com a chegada dos
missionários em Beja, houveram pregações, casamentos, comunhões, também foi visitada a capela de Santa
Teresinha no furo grande Tucumanduba, e no dia 04 de agosto, frei Cosme erigiu canonicamente a “Via
Crucis” na referida capela.
48 Ibid., p. 38 v. 49 Daí é que surgiu uma grande briga entre a irmandade e a Igreja, visto acontecerem duas festas de um mesmo
santo no mesmo período, entretanto os dois lados da confusão eram distinguidos por São Raimundo com
Barba, que era a imagem da irmandade, e São Raimundo sem barba, que era a imagem da Igreja.
32
Após um ano de intensa preparação, em Abaetetuba as Santas Missões só iniciaram no dia 11
de agosto; durante a programação houveram procissões, meditações, pregações, reza do terço etc. No
encerramento, a meia noite do dia 17 do mesmo mês, houve Santas Missões só para homens, que só de
comunhão foram distribuídas 400. Após a Santa missa houve procissão para os mesmos, que seguiram pelas
ruas rezando e cantando. No dia seguinte houve missa solene, que deixou como marco daquele acontecimento
a benção e levantamento do altar monumento na praça da igreja Matriz com a imagem de tamanho natural do
Cristo Crucificado (50), com esta cerimônia encerrou-se as Santas Missões.
A Terceira Santas Missões, iniciou na noite de 3 de julho de 1958, pregada por quatro
missionários Redentoristas, houveram neste período confissões, casamentos e batizados de crianças e adultos,
sendo que seu encerramento foi a noite do dia 13 do mesmo mês, era um domingo e sob a queima de fogos
houve o levantamento memorial do Cruzeiro, na rua 15 de agosto, à beira do rio que banha a cidade.
A Quarta Santas Missões, foi realizada no ano de 1987, vinte e nove anos após a última
missão realizada na paróquia, houveram muitas atividades e novamente contou com o auxílio dos padres
Redentoristas, como símbolo desta Santas Missões foi retirada uma pedra do altar do cruzeiro da praça da
igreja Matriz a qual foi benzida para ser a pedra fundamental da igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro,
no Bairro do Algodoal (51).
2.9.4— SAÍDA DOS CAPUCHINHOS DA PARÓQUIA DA
CONCEIÇÃO DE ABAETETUBA
20 de junho de 1957, todos esperavam ansiosos a notícia oficial da saída dos padres
Capuchinhos da paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Abaetetuba, para serem destinados a Prelazia de
Carolina no Maranhão, a data máxima para a sua permanência em Abaetetuba era 15 de agosto do mesmo ano,
sendo que teriam que deixar todo o patrimônio: registro, caderno da paróquia, irmandades, ginásio, capelas e
outros bens mais, ao padre da Cúria que estaria autorizado a reclamar tais bens.
Como combinado, os missionários saíram da paróquia, deixando as lembranças de bons
tempos de trabalhos e realizações. Após a partida dos Capuchinhos, a Arquidiocese assumiu as funções
religiosas da paróquia de Abaetetuba e de outras em nossa região que os missionários atendiam, porém já
existiam projetos para as mesmas.
No dia 22 de dezembro de 1960, chega a Belém a convite do Arcebispo Dom Alberto
Gaudêncio Ramos, dois missionários da Congregação da Pia Sociedade Para as Missões Estrangeiras São
Francisco Xavier, padre Barsotti e padre Rossi, que seguiram para Abaetetuba a fim de estudar a possibilidade
50 Com relação a esta imagem, existem discórdias quanto o seu doador, sendo que o livro de Tombo da
Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Abaetetuba aponta o fr. Hermes, entretanto a Professora Maria de
Nazaré, apresenta a Srª Deolinda Maués Carvalho, como doadora da estátua, em pagamento de uma promessa.
A este respeito o livro do Tombo não cita a referida senhora e nem fala de nenhuma promessa feita. 51 Novamente a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Abaetetuba se prepara para a quinta Santas
Missões marcada para o ano de 199.
33
de aceitar a direção da futura Prelazia.
Muita foi a satisfação dos missionários, que aceitaram o que lhes havia sido proposto pelo
Bispo Metropolitano. E no dia 5 do mês de março de 1961, as 08: 30 h., na igreja Matriz de Abaetetuba, onde
estavam presentes as principais autoridades e incomportável massa de fiéis, Dom Alberto Ramos, entregou a
paróquia de Abaetetuba e outras mais aos cuidados dos padres Xaverianos, empossando como vigário da
paróquia de Nossa Senhora da Conceição o Reverendo padre Mário Lanciotti (52), como vigários cooperadores
os Reverendos padres: Tarciso Facchillo, Augusto Remo Cardim e Leão Occhio, todos da mesma sociedade
missionária.
2.9.5— MOVIMENTOS RELIGIOSOS
A movimentação popular religiosa em Abaetetuba sempre teve sua marca de participação e
envolvimento na construção de uma Igreja que forja a história através de sua ação, como exemplo podemos
citar a Ordem Terceira, que por carta do Reverendo padre Custódio foi dada a faculdade ao pároco vigário de
criar na paróquia a Ordem Terceira de São Francisco de Assis, e na data de 01 de setembro de 1948, foi
apresentado ao Bispo Metropolitano D. Mário de Miranda Vilas Boas a petição que pedia licença de ereção da
ordem em Abaetetuba. E no dia 04 de outubro de 1948, realizou-se a primeira festa de São Francisco de Assis
dando início a vida da Ordem Terceira pela recepção do hábito franciscano de cinco homens e oito senhoras
como noviças.
Também foi marcada a História da Igreja local pela movimentação da Ação Católica fundada
a 04 de setembro de 1955; a da Congregação Mariana, fundada em 12 de dezembro de 1955, a fundação da
Confraria da Doutrina Cristã, 01 de janeiro de 1960. Esses e outros movimentos foram o que sustentaram o
caminhar da Igreja de Abaetetuba, que fizeram em momentos difíceis suporte para que as tramas contra a igreja
fossem derrubadas. Principal atuação neste sentido têm as CEB’s (Comunidade Eclesial de Base), que com sua
participação constrói a ação da Igreja.
2.9.6— SÃO MIGUEL DE BEJA
A localidade de Beja é uma das primeiras a ser assistida pelos padres Jesuítas, com a criação
das Missões de Mortigura e Giberié os missionários desceram o rio penetrando pelo braço chamado Maratuira,
chegando a Beja.
“Anexa a Mortigura andou algum tempo a aldeia de Sumaima, fundação posterior. Ainda no
catálogo de 1723 aparece englobada naquela, e com uma terceira: Aldeia de Mortigura, Suamúma e Tocantins,
com um só missionário para as três… Sumaúma ou Beja pertence hoje ao município de Abaeté, mas diz
52 padre Mário, que por muitos anos trabalhou em prol da Paróquia de do município, veio a falecer no dia 22 de
janeiro de 1983, aos 82 anos, em Belém,, mas por ser muito querido pelo povo de abaetetubense seu corpo foi
enterrado no cemitério Nossa Senhora da Conceição de Abaetetuba.
34
Octaviano Pinto, em Beja se devem procurar as legítimas origens de Abaeté” (53).
O Jornal “A Província do Pará”, do ano 1979, nos diz em edição especial sobre os municípios
paraenses, que o padre português Antônio Ekel, substituto do Frade Capuchinho Aluizio Conrado Perfil que
catequizava a tribo dos Abaetés, deu início a construção de um grande templo, concluído um século após, no
ano 1883, pelo padre Francisco Manoel Pimentel.
Vale ressaltar, quanto a origem da fundação da vila, nos arquivos históricos de Barcarena é
citado os anos 1663, como data de fundação de Sumaúma.
Com relação a mudança de nome de Sumaúma para Beja é certo que com a expulsão dos
missionários Jesuítas, “quase todas as aldeias receberam toponímia portuguesa metropolitana, como Abrantes,
Almada, Arês, BEJA, Bragança…” (54). Com isso podemos ver que não foi por acaso que o Marquês de Pombal
trocou o nome de Sumaúma para Vila de Beja, pela Lei de 06 de junho de 1755.
Beja nunca foi paróquia, porém sua atividade eclesial religioso é de muita importância e
reconhecimento de todos. Sua igreja está sobre a proteção do Arcanjo São Miguel, que tem uma festividade
muito participada e respeitada. Um fato que ocorreu pelo período desta festa, foi no dia 29 de setembro de
1940, ao qual frei Anastácio relata no livro do tombo da paróquia de Nossa Senhora da Conceição de
Abaetetuba, quando muitas pessoas ( por ignorância ressalta o Frade ) ofereciam orações, velas etc. à imagem
de São Miguel e dinheiro à imagem do demônio que está debaixo dos pés do Arcanjo dizendo : “Ele não é Tão
ruim como se diz”. O sacerdote que não compreendeu muito bem o ocorrido achou a cena um cúmulo.
2.9.7— AS TERRAS DE BEJA
Em 1963, as terras de São Miguel de Beja foram incluídas ao patrimônio da Prelazia de
Abaetetuba, este patrimônio era regularmente registrado em nome da Prelazia de Abaeté do Tocantins sob o
número 2304001-50693 do cadastro do IBRA, medindo de frente (lado da Baia do Marajó) c.2 Km, e de fundo
c. de 6 Km (c. 1, 2 hectares). Porém na localidade já haviam se estabelecidos moradores, sendo estes cidadão
abaetetubenses. A Prefeitura Municipal de Abaetetuba via-se obrigada a dispensar-lhes alguns serviços básicos
como saúde, vias de trafego, energia elétrica etc., só que por se tratar de terreno particular o então Prefeito
Aristirdes Reis Sobrinho, para não ser vítima de futuras tramas políticas, propôs ao Bispo prelado Dom Ângelo
Frosi, que passasse o terreno da Vila de Beja para o patrimônio do município.
Preocupado com o bem estar dos moradores da vila e de todo município, D. Ângelo no ano
1972, doou e cedeu à Prefeitura todos os direitos de propriedade que a Prelazia de Abaeté possuía sobre o
53 LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. imprensa Nacional, Tomo III, Norte 1)
Fundações e entrada ; sec. XVII - XVIII. RIO DE Janeiro, Instituto Nacional do Livro, Cap. VI, p. 308. 54 LEITE, Serafim. Breve História da Companhia de Jesus no Brasil — 1749 a 1760. Braga - Portugal, 1993, p.
35
Patrimônio de São Miguel de Beja, reservando alguns lotes para a continuidade das obras religiosas, sociais e
educacionais. Toda negociação feita foi lavrada em ata e registrada no Cartório Loureto Coutinho da cidade de
Abaetetuba.
253.
36
3. A FORMAÇÃO DA DIOCESE DE
ABAETETUBA
Para melhor compreensão e esclarecimento de todos é preciso, antes de falarmos do processo
de formação da Diocese de Abaetetuba, contarmos como é que a região chegou a receber esse título, até porque
antes de existir a Diocese de Abaetetuba já existia uma história da Igreja em nossa região, que com seus
trabalhos foi conquistando espaço e cada vez mais enraizando-se na cultura e tradição do povo.
Primeiro, como já vimos no capítulo anterior, as paróquias para chegar a serem erigidas
tiveram todo um processo de desenvolvimento em suas atividades, e principalmente foi aceita por todos, e
mesmo nos momentos de dificuldades a Igreja sempre sobe se manter firme, porque encontrou em seu âmago,
que é o povo, forças para juntos solucionarem e conquistarem novos momentos de realização.
3.1 — PRELAZIA DE ABAETÉ
Antes de ser Prelazia, o território que corresponde aos municípios de Tomé-Açu, Bujaru,
Barcarena, Moju, Tailândia, Concórdia, Acará e Abaetetuba, pertenciam ao território eclesiástico da
Arquidiocese de Belém do Pará, com isto os pastores que vinham a esses lugares para atender as necessidades
espirituais da população eram do clero secular ou religioso que prestavam serviços missionários à
Arquidiocese.
E como não havia de ser, depois de longos trabalhos e de disposição de querer melhor
realizar-se como Igreja foi concedida a Igreja desta região o foro de Prelazia. Assim sendo vamos lembrar os
tempos passado, quando em 4 de março de 1961 chegavam os primeiros quatro Xaverianos em Abaetetuba
acompanhados de Dom Alberto Gaudêncio Ramos e umas Irmãs Capuchinhas. Primeiros foram recebidos em
Carnapijó pelo povo que foram em três caminhões, que eram os únicos na cidade, para saudar os novos
missionários. E ao chegarem na cidade foram entregues à Prelazia.
A primeira missa fora da cidade foi na Colônia Velha, estrada de Abaetetuba, depois os
quatro padres foram divididos, dois trabalhavam na cidade e dois atendiam às paróquias da Prelazia. E para o
tempo em que não existiam estradas e nem ônibus na região todos se mostraram fiéis em querer ver a Igreja
progredir, ao que aos poucos vinham conversar com os padres os responsáveis das capelas e das paróquias.
Todos queriam que os padres fossem visitar sua localidade, sua paróquia para realizar a festa do padroeiro. E ao
que diz o padre Augusto SX — 1961. “No começo a vida não estava organizada”, isto expressa claramente em
que situação de falta de pastores a Prelazia fora criada, como em Arapiranga em Bujaru que faziam 30 anos que
não era visitada por um padre, e que após a visita do padre Augusto todos se viram tão animados que nomearam
Nossa Senhora do Perpetuo Socorro como padroeira do rio e lhe construíram uma capela de barro.
Em 6 de maio de 1962, fora criada a Prelazia de Abaeté, pelo cumprimento da Bula
“Quandoquidem nova” do Papa João XXIII, com personalidade jurídica n.º 17 do Registro A—1 com sede na
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cidade de Abaetetuba, tendo seu território desmembrado da Arquidiocese de Belém. Para a solene instalação da
Prelazia D. Alberto chegara a Abaetetuba de barco, neste dia o comércio parou e fecharam-se as portas dos
estabelecimentos. Dom Alberto e demais autoridades subiram no coreto onde estava preparado um altar e
iniciou a cerimônia de instalação da Prelazia, fazendo a leitura da Bula Pontifícia, escrita em latim traduzida
para o português, em seguida o mesmo tomou posse como Administrador Apostólico da Prelazia, logo após a
cerimônia de posse foi celebrada a Santa missa na igreja Matriz.
Em 18 de dezembro de 1962 foi sagrado Bispo da Prelazia de Abaeté, Dom João Gazza da
Congregação dos padres Xaverianos, sua sagração foi feita no Santuário de Nossa Senhora de Aparecida em
São Paulo, sendo que chegou em Abaetetuba em 03 de fevereiro de 1963, para tomada de posse da Prelazia, em
cerimônia feita na catedral. Logo após foi conhecer a casa do Bispo construída no lugar onde hoje se encontra
o Centro de Formação Cristã Laranjal. Dom João Gazza ficou como Bispo Prelado somente por três anos,
quando foi eleito superior geral dos missionários Xaverianos, tendo sido substituído pelo padre Pio Monchelato
que assumiu o cargo de Administrador Apostólico da Prelazia de 27 de setembro de 1966 a 21 de novembro de
1967, quando fora novamente substituído pelo padre Ângelo Frosi, que ficou como Administrador Apostólico
até o dia 02 de fevereiro de 1970, quando foi nomeado Bispo Prelado.
Sempre a Prelazia caminhou em comunhão com o resto da Igreja, e dentro do projeto Igrejas
Irmãs foi declarada em 1974 a Igreja de Abaetuba, irmã da Igreja de Curitiba, donde padre Pedro e padre Jubel,
vieram visitar a Prelazia, no que resultou no ano de 1975 na prestação de serviços do padre Jubel a esta Igreja,
assumindo como primeiro pároco a paróquia de Concórdia do Pará.
3.2 — DIOCESE DE ABAETETUBA
O decreto papal que criava a Diocese de Abaetetuba é datado de 04 de Agosto de 1981,
entretanto sua instalação oficial data de 15 de julho de 1982, às 18: 00, com missa, onde fora feita a tomada de
posse do Bispo, e como marco daquele momento foi feita a abertura da 1ª ASSEMBLÉIA DO POVO DE
DEUS, que trazia como tema: “ NÓS IGREJA, APOSTAMOS NOS PEQUENOS ”, esse momento ficou
marcado para a história da Diocese, porque ao mesmo tempo que se iniciava o caminhar da Igreja de
Abaetetuba como Diocese também buscava junto com os leigos encontrar rumos para a ação da Igreja, e esta
foi um início de uma longa jornada de trabalho e compromisso com a Igreja Povo de Deus.
Com este decreto de fundação a Diocese que antes era conhecida como Prelazia de Abaeté,
mudou de nome para Diocese de Abaetetuba sob a proteção de Nossa Senhora da Conceição, sendo que sua
sede permanecera em Abaetetuba e que também tem como padroeira Nossa Senhora da Conceição, onde está
instalado o Secretariado diocesano e a residência do Bispo.
Como primeiro Bispo Diocesano, continuou no cargo Dom Ângelo Frosi, que já era Bispo
Prelado, e tinha como lema episcopal: “Fides atque Caritasque— Fé e Caridade”. A esse lema muito Dom
Ângelo correspondeu, pois sempre estava preocupado com o pobre e necessitado, também tinha grande zelo
pela Igreja, periodicamente visitava seus padres e se preocupava com suas situações e problemas.
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Hoje a Diocese está com 17 anos, mas não foi fácil construir esta história, Dom Ângelo, que
por durante 25 anos tomou frente como patrono desta Igreja local, não pôde estar todo tempo conosco e foi
chamado para junto de Deus. Por mais de dois anos ficamos sem Bispo, por sorte contávamos com o
imensurável trabalho dos padres, Irmãs Religiosas e Leigos que muito se empenharam para manter viva e
animada a caminhada da Igreja, aliás esta sempre foi uma das marcas principais da Diocese, o trabalho em
conjunto onde o leigo sempre teve vez e voz, e muito foi ouvido, pois ele também constrói Igreja através de sua
participação. Os padres em comunhão conseguiram junto com a Administração Apostólica de pe. Dante
Mainini fazer o possível para manter viva a chama da Evangelização através das ações pastorais, só que a
figura do Bispo Bom Pastor e chefe da Igreja ainda estava muito presente em todos, tanto que parecia estar
faltando alguém em todos os momentos de encontro e celebração, esta era um questão que todos eram
unânimes em afirmar, até pelos que eram afastados da Igreja. Mas através de muitas orações pedindo a Deus
que mandasse pastor para Seu rebanho, esse “jejum” foi quebrado com a nomeação do novo Bispo da Diocese
de Abaetetuba, padre Flávio Giovenale da Congregação do padres Salesianos, o qual foi sagrado Bispo a 8 de
dezembro na Igreja S. José Operário - Manaus, pelas mãos do Bispo sagrante, Dom Luiz Soares Vieira (Arc.
De Manaus), e estavam os cocelebrantes, Dom José Vieira (Pres. CNBB N 2) e Dom Irineu Danelon (CEP: PJ).
O novo Bispo recebeu a Diocese em cerimônia realizada no dia 21 de dezembro realizada na praça da igreja
matriz de Abaetetuba, presidida por D. Vicente Zico, Bispo da Arquidiocese de Belém.
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4. TRABALHOS FEITOS PARA SEU
DESENVOLVIMENTO: REALIZAÇÕES E
IMPASSES.
4.1— CONGRESSO DAS COMUNIDADES ECLESIAIS DE
BASE(55).
O 1º Congresso das CEBs, foi realizado no período de 26 a 28 de janeiro de 1974, e teve
como tema “REPARTIR O PÃO”. Dom Ângelo abriu esse congresso com as seguintes palavras: “Saúdo a
todos vocês, representantes de todas as comunidades da Prelazia de Abaeté, e lhes dou boas vindas para este 1º
Congresso das Comunidades, com sentimentos de fraternidade, de estima e agradecimento, por sermos todos
irmãos de Cristo, Filho de Deus. Estima, pela sua vontade e dedicação no serviço do Reino. Agradecimento,
pela sua valiosa e tão amiga cooperação no apostolado”. Este congresso contou com a participação de 280
membros das comunidades das Paroquiais de Moju, Abaetetuba Centro, Ilhas e Cidade, Acará, Barcarena,
Bujaru e Tomé-Açu.
OBJETIVO: Maior entrosamento e comunicação das várias experiências vividas nas CEBs.
Nesse encontro foi discutido sobre a caminhada da Igreja em Abaetetuba e a vivência das
comunidades, para maior incentivo na participação das pessoas na vida da Igreja através dos grupos
comunitários.
COMPROMISSO: Formar grupos de casais e ajudar os grupos já existentes.
O 2º Congresso das CEB’s, realizou-se em Abaetetuba de 03 a 05 de janeiro de 1976, e teve
como tema: “CAMINHAR JUNTOS”
Nesse período foi realizada uma pesquisa na famílias para se ter uma visão da situação em
que se encontrava a família na Prelazia, sendo que foram pesquisadas 6.000 das c.28.000 famílias existentes na
Prelazia. Foi debatido neste congresso a respeito da tradição e transição da família no Pará: A FAMÍLIA NA
CEBs.
O 3º Congresso das CEB’s, teve como tema: “COMECE EM SUA CASA”. Foi realizado no
período de 21a 23 de janeiro de 1977. Para esse Congresso foi realizada uma nova pesquisa para que fosse
55 As CEB’s, têm uma caminhada muito marcante na Diocese de Abaetetuba. Exemplo claro são as lutas pelo
hospital de Santa Rosa, a invasão do Bairro Campo da Aviação em Abaetetuba e as brigas por direito e justiça
social nas paróquias de Tailândia, Moju, Barcarena, e outras, se organizando com o Sindicato da Construção
Civil e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, participando das greves, e manifestações populares.
Na Diocese as CEB’s sempre esteve presente discutindo, estudando, rezando, criando consciência e
lutando contra as injustiças. Por causa desta disposição é que muitos foram perseguidos e mortos, como
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colocado a conhecimento de todos a situação de documentação das pessoas na Prelazia, o resultado foi o
seguinte:
* Por falta de Registro Civil, 4 em cada 10 pessoas ainda não existe.
* Por falta de carteira de identidade, 8 em cada 10 pessoas não sabem quem são.
* Por falta de carteira de trabalho, 8 em cada 10 pessoas não tem condições para sobreviver
* Por falta de CPF, 17 em cada 20 pessoas não tem poder econômico ou jurídico
* Por falta de título eleitoral, a maioria de 11 pessoas deixam para 9 qualquer decisão sobre a
vida da comunidade.
CONCLUSÃO: Por falta parcial ou total de documentação civil, 15 em cada 20 pessoas não
tinham condições para influenciar a vida social e nem melhorá-la em qualquer sentido.
Na época a Prelazia contava com cerca de c.28. 720 famílias, que correspondia c.170.000
pessoas, sendo que foram atingidas com esta pesquisa 22% deste total.
COMPROMISSO: conscientizar e ajudar as pessoas a adquirir seus documentos.
O 4º Congresso das CEB’s realizado em Abaetetuba no período de 27 a 29 de janeiro de
1978, teve como tema: “ JUSTIÇA E TRABALHO PARA TODOS ”, que foi o mesmo tema da Campanha da
Fraternidade promovida pela CNBB naquele ano. A partir daquele congresso foi muito maior a tomada de
consciência da situação social do trabalho na Prelazia, onde trabalho havia muito, porém justiça é que faltava.
Assim o congresso foi uma “erupção” na vida das comunidades, que unidas no Cristo e como Igreja
começaram a caminhar melhor.
COMPROMISSO: Buscar união entre os pequeninos.
O 5º Congresso das CEB’s, foi realizado de 02 a 04 de fevereiro de 1980 em Abaetetuba, teve
como tema: “TODOS JUNTOS SOMOS FORTES”
COMPROMISSO: Passar do mundo quadrado para o mundo renovado.
O 6º Congresso das CEB’s, teve como tema: “UNIDOS PARA UM MUNDO NOVO”, e foi
realizado de 30 de janeiro a 01 de fevereiro de 1981. Após a saudação feita por D. Ângelo, foram apresentadas
as duas características do Congresso: “É um congresso das CEBs… por isso deve ser acontecimento de fé, um
momento forte que nos leva a empenharmo-nos sempre mais no serviço ao irmão; É um congresso de Igreja,
povo de Deus, desta Igreja particular que é a Prelazia de Abaeté, com seu Bispo, seus padres, irmãs, agentes de
pastoral e leigos, cada um com seu dom, seu carisma, a sua tarefa na comunidade, portanto este congresso deve
ser um momento de profunda comunhão”.
aconteceu com Benedito Alves Bandeira assassinado em 1984, e Virgilio Serrão assassinado em 1987.
41
Esse foi o último Congresso das comunidades realizado na Prelazia de Abaeté, a partir daí
foram realizadas as Assembléias do Povo de Deus, como fórum de maior representatividade das pastorais e
movimentos existentes na Prelazia.
4.2— ASSEMBLÉIA DO POVO DE DEUS
A Assembléia do Povo de Deus é o organismo mais importante da Diocese, pois é o povo de
Deus reunido em nome de Cristo que forma a Igreja. A assembléia decide as prioridades da ação pastoral na
Diocese em conformidade à Palavra de Deus e à situação concreta à vida do povo. Nela participam os
representantes eleitos nas paróquias e nas pastorais específicas, que são chamados de delegados. É na
assembléia que se realiza um novo Pentecostes para a Igreja.
1ª ASSEMBLÉIA DO POVO DE DEUS
A preparação para a “1ª Assembléia do Povo de Deus”, teve início com a escolha da equipe
de coordenação, sendo seus membros: D. Ângelo, Antônio (Tomé-Açu), Luiz (Acará), Mário (Vila
Concórdia), Manduquinha (Bujaru), Graça (Moju), Zeca (Estrada de Abaetetuba), Neuzarina (Barcarena),
Leônidas (Tailândia).
A 1ª Assembléia do Povo de Deus teve como tema: NÓS IGREJA APOSTAMOS NOS
PEQUENOS”, e foi realizada em Abaetetuba, de 15 a 18 de junho de 1982, iniciando as 18:00, com a
apresentação das delegações Paroquiais, na igreja matriz durante a missa de instalação da Diocese de
Abaetetuba. A abertura oficial foi feita por D. Ângelo com as seguintes palavras: “Sejam Bem vindos… a
minha saudação a todos vocês com sentimento de gratidão e alegria. Estamos reunidos para celebrar e viver um
grande acontecimento: a 1ª Assembléia de nossa Diocese”.
Primeiro foram realizadas assembléias paróquias para serem feitos levantamentos das
realidades das locais, sendo: saúde, educação, religião, terra e trabalho, política, família, juventude, transporte
justiça. Que foram apresentado na Assembléia Diocesana. No terceiro dia forma escolhidas as prioridades: 1ª
Formação religiosa, fé e vida; 2ª fortalecimento das CEBs; 3ª Empenho de evangelização.
A partir desta primeira assembléia, surgiram outras duas instâncias, com participação ativa
do leigo: Conselho Diocesano Pastoral e a Coordenação Diocesana de Pastoral.
2ª ASSEMBLÉIA DO POVO DE DEUS
Realizada de 19 a 22 de setembro de 1984, teve como tema: “CONSTRUÇÃO DE UMA
SOCIEDADE JUSTA E FRATERNA”. Após a 1ª assembléia as metas que foram traçadas para o trabalho da
Igreja foram retomados como questionário para a 2ª assembléia. Ao que relata o documento final desta
42
assembléia a situação de vida do povo estava pior do que quando havia acontecido a 1ª assembléia, pois as
firmas e as grandes propriedades estavam cada vez mais explorando e fazendo vítimas, como foi o caso de
Benedito Alves Bandeira (Benézinho) de Tomé-Açu que foi assassinado por questões sindicais, causando
desemprego e o inchaço populacional das cidades através do êxodo rural.
PRIORIDADES:
Formar pessoas para a tomada de conhecimento firme e esclarecido da realidade e da fé
(consciência crítica);
Formação de líderes e animadores para as CEBs, dos movimentos populares, para a atividade
políticas e professores de ensino religioso;
3ª ASSEMBLÉIA DO POVO DE DEUS
“Precisamos, portanto caminhar juntos entre nós, em comunhão com toda a Igreja com o
Santo padre sinal visível de unidade de Igreja universal, e conscientes de que a Igreja somos todos nós, cada um
com sua realidade específica com sua realização de missão da Igreja. Precisamos nos encontrar a nível de
Diocese, para vermos como estamos caminhando no mundo a nossa missão cristã e o que poderíamos fazer
para sermos fiéis a nossa vocação cristã. Por isso, em nome de Deus, Pai de todos nós convoco a nossa Diocese
para a 3ª Assembléia do Povo de Deus”.(D. Ângelo Frosi)
A terceira assembléia teve como tema: POVO DE DEUS EM BUSCA DA TERRA
PROMETIDA, foi realizada de 18 a 21 de setembro de 1986. Sendo que nessa assembléia foi elaborado o
objetivo, buscando a natureza e função das CEBs da Diocese:
OBJETIVO: “realizar o Reino de Deus através das transformações das estruturas injustas da
sociedade, formando homens novos para um mundo novo”.
Natureza das CEBs: é a união de pessoas, que convocadas pelo Espírito Santo assumem seu
batismo e o vivem em comunhão com a Igreja e seus pastores: os comunitários têm a mesma fé no Cristo
Ressuscitado; tem como centro a Palavra de Deus escutada e rezada; celebra a vida nos cultos e nos
sacramentos; compartilham a vida na solidariedade entre elas e com os outros; apostam nos pequenos.
FUNÇÃO: as CEBs servem para formar os comunitários em vista do anúncio da Boa-Nova..
O conselho Diocesano de Pastoral, refletindo sobre as linhas prioritárias apontadas pela 2ª
Assembléia diocesana, acusou que essas linhas permanecessem válidas ( por muitos anos) e que por isso, a
próxima assembléia deveria se preocupar em concretizar estas linhas prioritárias, refletindo e decidindo sobre
os pontos concretos. Entretanto, novamente a formação do leigo foi vista com muito apreço, sendo que foi
decidido a instalação do curso longo trienal, para a formação de líderes, projeto que já havia sido planejado pela
equipe de Evangelização e Catequese, também aprovado pelo Conselho Diocesano de Pastoral, contando com
a acessoria do Instituto de Pastoral Regional (IPAR).
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4ª ASSEMBLÉIA DO POVO DE DEUS
De 03 a 07 de fevereiro de 1989, teve como tema: O POVO DE DEUS A CAMINHO DO
REINO DO PAI. Essa assembléia foi convocada pelo Bispo Ângelo Frosi, para ser celebrada e vivida, pois
como ele mesmo disse :“a assembléia diocesana é um acontecimento da graça e da vida em Deus, presente no
meio dos seus filhos para ajudá-los com sabedoria nos caminhos da santidade e da fraternidade” .
PRIORIDADES: evangelização dos afastados, evangelização da juventude, evangelização
da família.
Segundo padre Luiz Azaloni, nos anos seguintes estas prioridades deram início a tentativa de
formar grupos de evangelização.
5ª ASSEMBLÉIA DO POVO DE DEUS
De 17 a 20 de fevereiro de 1994, teve como tema: COMUNIDADE EVANGELIZADA E
EVANGELIZADORA. O que se deu desde a incessante preparação das paróquias através das pastorais
específicas e das CEBs, a 5ª assembléia teve como inspiração o texto de Lc. 24, 13-35 — Os discípulos de
Emaús. As paróquias elaboraram conclusões que serviram de reflexão na assembléia: dedicação e maior
preocupação das comunidades para com o povo sofrido; solidariedade, dando total confiança a ação
preferencial pelos pobres e pequenos; formação do povo e das lideranças; partilha dos dons e celebração da fé;
priorização dos espaços pastorais de fronteiras como Pastoral Familiar e Pastoral Social.
Destas reflexões e amplos debates em reuniões e plenárias, foi votado pela assembléia as
Diretrizes da Ação Pastoral, para o triênio de 1994 a 1997, que orientariam a caminhada da Diocese para
aqueles anos: Ser comunidades cristãs abertas, acolhedoras, e solidárias; caminhar no meio do povo e a serviço
do povo; aprimorar o processo de formação permanente, privilegiando leigos e leigas engajados; despertar uma
consciência crítica, evangélica e atuante; fazer com que as celebrações, especialmente a Eucaristia, estejam
ligadas a vida e alimentando a luta pela vida e libertação; fazer da Igreja diocesana uma comunhão de CEBs
vivas conscientes e suscitadas, testemunhando a ressurreição de Jesus e sua luta pela ressurreição do povo; ser
comunidades missionárias testemunhas de Jesus ressuscitado e seu projeto; vivenciar os valores das culturas
oprimidas e da religiosidade popular; fazer da Igreja diocesana uma Igreja ministerial, profética, onde os vários
carismas ordenados e não ordenados, sejam colocados a serviço das necessidades.
PRIORIDADES: Pastoral social, formação dos leigos, Pastoral da Juventude e Pastoral
familiar.
6ª ASSEMBLÉIA DO POVO DE DEUS
Realizada de 25 a 27 de julho de l997, a 6ª Assembléia do Povo de Deus teve como tema:
“JESUS CRISTO ONTEM HOJE E SEMPRE”, e lema: “AS EXIGÊNCIAS DA EVANGELIZAÇÃO: VOS
SOIS UMA CARTA DE DEUS ENVIADA AO MUNDO”. Onde a Diocese, a luz das diretrizes da Ação
Evangelizadora da Igreja do Brasil (Doc. 54), assume os mesmos objetivos da Igreja do Brasil.
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OBJETIVO: evangelizar com renovado ardor missionário, o povo da Diocese de Abaetetuba,
em sua realidade; testemunhando Jesus Cristo ; em comunhão fraterna; a luz da evangélica opção preferencial
pelos pobres; para formar o povo de Deus; e participar da construção de uma sociedade justa e solidária; a
serviço da vida e da esperança; nas diferentes culturas; a caminho do reino definitivo.
Como Igreja de Jesus Cristo, cada vez mais foi sentindo-se a necessidade de fazer opções de
um trabalho mais centrado a uma ação em duas preocupações essenciais: Passar da pastoral à evangelização, ou
seja, sair de si mesmo e preocupar-se sempre mais dos distantes e dos excluídos (exclusão em todos os níveis,
pobre, analfabeto, negro, mulher, estrangeiro, carente); rever toda a ação evangelizadora a luz das quatro
dimensões: serviço, testemunho, diálogo e anúncio.
Para que esta ação evangelizadora fosse uma realidade capaz de atingir todos os níveis da
Igreja local de Abaetetuba foram estipuladas exigências, onde se juntam serviço e anúncio, diálogo e
testemunho como uma verdadeira paixão pelo Reino.
EXIGÊNCIAS:
Serviço: esta deve ser feita com amor, com humildade, sem interesse pessoal sendo que a
promoção humana deve ser dimensão privilegiada.
Diálogo: esta deve se dar não como tática de conquista, mas como conhecimento do real
valor do outro, promovendo um ecumenismo de ações, em que católicos e outros, procurem colaborar nos
grandes temas da defesa da vida, dos direitos humanos, da ética na economia e na política, da cidadania e da
ecologia.
Anúncio: esta é aspecto complementar da exigência do diálogo, sendo que o cristão sente a
necessidade de partilhar a alegria e fazer explícito anúncio de Jesus Cristo e seu Reino.
Testemunho: esta deve acontecer de maneira pessoal e comunitária, na prática, na partilha, na
oração.
Nessa assembléia também foi feito um melhor reconhecimento da ação evangelizadora das
pastorais existentes na Diocese percebendo seu principal carisma e determinando seu objetivo.
PASTORAL SOCIAL: “é a dor e a participação da Igreja para com o sofrimento dos irmão
excluídos da vida e da dignidade humana e é o contemporaneamente carinho e luta para realizar o Reino de
justiça e solidariedade” (56).
OBJETIVO: tornar real o amor de Cristo aos últimos, para sentirem-se amparados por Deus,
quando desprezados pela sociedade, reedescobrindo a dignidade e a força na união da defesa dos direitos,
tornando a sociedade mais democrática e participativa, para animados engajarem-se nos sindicatos, partidos, e
conselho participativos em todos os níveis.
56 cf. linhas mestras da ação evangelizadora — 6ª Assemb. Povo de Deus, p. 16
45
PASTORAL DO MENOR: é a repetição dentro da sociedade do gesto de Jesus Cristo que
abraça as crianças e ameaça aqueles que destroem suas vidas e suas inocência.
OBJETIVO: concretizar com a mística a ação na formação e na defesa da criança e do menor,
envolvendo a comunidade na valorização da vida, apoiando, orientando e acompanhando a mãe, a criança e o
menor.
PASTORAL DA TERRA: é o carinho da Igreja pelo homem do campo com o qual se sente
solidária e empenhada a defender o direito da terra para quem nela trabalha e dela vive em total liberdade e uso
pleno da cidadania.
OBJETIVO: ajudar o homem do campo a saber e defender seus direitos, para não abandonar
sua terra, para nela construir a riqueza da família e da nação sentindo-se amado por Deus fazendo de sua terra
amada um ensaio da Terra Prometida.
PASTORAL DA EDUCAÇÃO: é a presença viva da igreja evangelizando o mundo da
educação.
OBJETIVO: ajudar os educadores em acompanhamento pastoral a tornarem-se agentes de
crescimento, testemunho e transmissão da fé, ajudando o aluno no crescimento humano, cristão e da cidadania.
PASTORAL DA JUVENTUDE: é a partícula da Igreja que tenta articular as forças que
trabalham na evangelização da juventude.
OBJETIVO: despertar o jovem para a pessoa e a proposta de Jesus Cristo, para que através da
formação integral ocupe seu lugar na sociedade, tonando-se através da evangelização agente da construção do
Reino de Deus.
PASTORAL DA COMUNICAÇÃO: é o empenho da Igreja em fazer-se presente junto aos
meios de comunicação social para fazer com que o evangelho chegue a todas as pessoas.
OBJETIVO: evangelizar através dos meios de comunicação para dialogar, anunciar,
confortar e animar a todos, fazendo com que o Evangelho chegue de forma clara e eficiente a todas as pessoas,
em especialmente aos afastados.
PASTORAL FAMILIAR: é a pastoral que busca formas de apoio as famílias, para que elas
superem e enfrente toda forma de desafio que se põem à realização plena de sua missão (cf. doc. 34 —CNBB,
p.154)
objetivo: ajudar a família a se realizar em sua identidade e missão, educando-se para o amor.
PASTORAL VOCACIONAL: procura incentivar e aprofundar a compreensão da vocação
como dimensão a ser vivenciada nas várias vocações específicas. (cf. doc. 34 —CNBB, p.50)
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OBJETIVO: despertar através do processo de opção vocacional a vocação humana, cristã e
eclesial, discernindo os sinais indicadores do chamado de Deus, cultivando os germes da vocação.
MINISTÉRIO DA VISITAÇÃO: é o método pastoral que visa realizar a Nova
Evangelização aplicando-a de preferência aos afastados.
OBJETIVO: levar a Boa Nova ao domicílio através do contato pessoal, direto e imediato em
clima de amizade e calor humano evangelizando sem aparato, baseado na bondade e cordialidade do
relacionamento.
CATEQUESE: é um processo pelo qual a comunidade educa a fé de adultos, jovens e
crianças de forma permanente progressiva, ordenada organizada e sistematiza. Ocupando lugar de destaque
dentro da comunidade sendo verdadeiro ministério e um dos serviços mais importantes dentro da Igreja.
OBJETIVO: levar a comunidade cristã a aprofundar a experiência de Deus, enquanto
desenvolve-se por etapas específicas, permanente e acompanhada a formação dos cristãos, sendo a família o
primeiro espaço catequizador.
4. 3— PASTORAL DA JUVENTUDE
O primeiro congresso juvenil que aconteceu foi no período que a Igreja de Abaetetuba vivia
em regime de Prelazia, de 21 a 23 de julho de 1975. Neste período ainda não existia Pastoral da Juventude na
região, mas jovens que se reuniam em grupos da Igreja, mas sem um rosto pastoral. Este congresso era
caracterizado “Congresso dos jovens da Prelazia de Abaeté”. A principal finalidade deste congresso foi a de
reunir em um primeiro encontro dos grupos juvenis. Na época somente os grupos de Abaetetuba cidade, tinham
alguns anos de experiência de caminhada, os demais grupos de outras paróquias eram novatos e nasceram
dentro de um movimento comunitário de adultos. Também visava ser uma troca de experiências de caminhadas
dos grupos servindo como orientações básicas para os grupos que ainda estavam em processo de formação.
A participação prevista era de 500 jovens, que atingiram a meta somente com a presença de
membros dos grupos convidados. Neste congresso foi refletido a cerca da fé inabalável das pessoas e que serve
de exemplo para os jovens, a respeito da vida de Jesus, a respeito da participação na Igreja e a questão da
vocação. Como assessor foi convidado o compositor, cantor e autor padre Zezinho, que muito contribuiu nas
reflexões.
Aconteceu no ano de 1984 o segundo congresso dos jovens em Barcarena, só que nos
registros aparecem como se este tivesse sido o primeiro congresso, pode ser que este tenha sido considerado o
primeiro por ser o primeiro congresso realizado pela Pastoral da Juventude que já havia sido criada, ou o
primeiro realizado na Diocese.
Como já citado o segundo congresso foi realizado em Barcarena, no período de 12 a 15 de
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janeiro de 1984, tendo como tema: “NOSSO COMPROMISSO DE LIBERTAÇÃO”. Também foi discutido a
respeito do Projeto de Deus, o jovem na realidade e sobre a Igreja perseguida. Estes assuntos tratados são a
expressão de o que estava sendo questionado pelos jovens daquele tempo.
Das luzes deste congresso, que despertou a consciência crítica dos jovens em prol de
conquistas e realizações, cada paróquia criou sua coordenação juvenil e assessoria paroquial, para acelerar o
processo de formação e fortalecimento dos grupos da Pastoral da Juventude.
O segundo congresso diocesano, realizou-se em Abaetetuba de 16 a 18 de 1992, esse como já
vimos deveria ter sido o terceiro congresso, teve como tema: JOVENS CONSTRUINDO UMA NOVA
AMÉRICA LATINA. Que na verdade foi uma celebração dos 500 anos de evangelização na América Latina,
que foi marcada pela cruz e espada .
Participaram desse congresso c. de 1000 jovens representantes dos 250 grupos jovens
existentes na época na Diocese.
Daquele momento ficaram muitas lembranças que marcaram todos os que participaram do
Congresso, como por exemplo, a fixação de duas samaumeiras nas laterais da praça da igreja matriz, como
lembrança daquele acontecimento. Também foi elaborada uma carta aberta a todos os jovens que não puderam
participar do congresso, expressando todos acontecimentos daqueles dias de encontro, onde foi refletido e
questionado “as sombras e as luzes dos 500 anos de evangelização”. Com isso foi possível perceber a pessoa do
jovem como protagonista de uma nova história e elaborar as prioridades daquele congresso:
* Transmitir a outros jovens o que foi aprendido sobre a América Latina, valorizando a
dimensão mística, política e cultural;
* Resgatar as raizes históricas e culturais latino americana através do estudo, pesquisa,
debates e a convivência;
* Ficar abertos a cada cultura, para que todos se sintam aceitos;
* Engajamento não só na comunidade, mas também na política, nas associações, nos
sindicatos e todos os movimentos que estão voltados para a causa popular;
* Assumir a consciência de povo e de classe oprimida, reagindo diante de qualquer situação
que prejudique os interesses dos pobres, evitando assim o risco de ser massa de manobra;
* Levar a paróquia e a família a uma nova consciência sobre os problemas dos jovens (
afetividade, sexualidade, emprego, participação na vida política e social…) e da sociedade;
* “Forçar a barra” para conseguir que os agentes de pastoral das paróquias se coloquem mais
claramente do lado dos pobres e de suas lutas e também do lado dos jovens;
* Pedir que as equipes de pastoral preparem catequistas, animadores e outras lideranças em
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vista de uma nova postura de crítica a sociedade cruel e escravizadora em que vivemos;
* Assegurar a escolha da juventude como prioridade pastoral da 5ª Assembléia diocesana do
Povo de Deus. (57)
4.4— CENTRO MÉDICO
O prédio que era da Prefeitura municipal de Abaetetuba, que seria destinado para a
construção de um abrigo para idosos, foi doado pelo Prefeito Joaquim Mendes Contente à Prelazia de Abaeté,
para fazer algum trabalho em prol do município. Vendo as necessidades a princípio pensou-se em fazer uma
espécie de creche ou centro de recuperação de crianças desnutridas, mas viu-se que a situação mais urgente era
a da saúde.
Assim a Ir. Peira Parizze, formada em medicina começou o trabalho que durou dois anos,
com a mudança da equipe a direção passou para Ir. Enrrica Queirolo e Ir. Amélia, que faziam as consultas. Por
mais que já se tivesse se desenvolvido todo estes trabalhos o centro médico só foi inaugurado em 1 de maio de
1970, dia da sagração de D. Ângelo (58). Outro projeto desenvolvido foi de uma maternidade, que passou a ser
um dos atendimentos do Centro Médico à população de Abaetetuba, visto o município não ter nenhuma
maternidade. A maternidade só foi desativada em 1984, quando foi criada a do no hospital público de Santa
Rosa, daí por diante é que o centro dedicou-se mais a seu atual trabalho de consultas médicas, prevenção,
vacinação, conscientização, exames etc.
Na Diocese o Centro Médico foi muito combatida, pois muitos achavam que era função
do governo se preocupar e cuidar da saúde, mas Dom Ângelo acreditava no sinal concreto de caridade na
Diocese.
O Centro Médico surgiu da necessidade e da carência em que se encontrava a saúde no
município, que só contava como atendimento do INPS, que dispunha de um médico que não morava no
município para o atendimento. Com a criação de hospitais públicos e de outros hospitais particulares diminuiu
o número de atendimento no centro médico, mas não foi o suficiente pois seu corredor todos os dias é lotado
por pessoas carentes de muitos lugares não só de Abaetetuba, que são atendido pelas irmãs, auxiliares de
enfermagem, médicos e outros, pois a existência do Centro Médico ainda é muito necessária para a
comunidade.
5. 5— CENTRO DE FORMAÇÃO CRISTÃ.
Sendo a formação do leigo principal prioridade da Igreja, podemos dizer que muitos dos
esforços da Diocese foram dedicados a este fim. E foi neste sentido que decidiu-se criar um espaço onde a
57 Está marcado para o ano de 1999 o 3º Congresso da Pastoral da Juventude da Diocese de Abaetetuba. 58 Por este motivo é que no dia dos 25 anos de sagração episcopal de D. Ângelo, foi feita uma procissão que
saiu da frente do hospital até a igreja matriz, para lembrar os 25 anos do centro médico.
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Igreja pudesse reunir e se preparar. Foi assim que no dia 01 de janeiro de 1976 foi dada a benção inaugural do
Centro de Formação Cristã — LARANJAL, obra que era o desejo e sonho de toda a Igreja diocesana. “A nossa
Igreja de Abaetetuba tem tantas pessoas que querem assumir de verdade os próprios compromissos cristãos
dentro das comunidades em que vivem…
Para uma tarefa tão grande é preciso se preparar através de estudo, da reflexão, da oração em
comum e da convivência fraternal num ambiente que favoreça uma autêntica vida cristã. Por isso foi construído
o Centro de Formação Cristã.
Este centro serve para encontros de catequistas, e animadores de comunidades, para retiros
espirituais, para encontro de jovens, casais, professores, cursilho de cristandade, encontros pastorais…”(59)
Com a criação do Bairro de São Sebastião ao lado do centro, houveram tentativas de invasões
no terreno da Igreja, motivo que levou a Diocese tomar a radical decisão de cercar o terreno para que se
preservasse o patrimônio que muitos já o denominam de :“Pulmão de Abaetetuba”, que por falta de um projeto
urbanístico da cidade que cresceu desordenadamente, não restou nenhuma área urbana que fosse dedicada a
preservação de árvores e espécies animais, sendo assim o Laranjal serve toda a população, e ao mesmo tempo
forma líderes para a Igreja, abre espaço para grupos e movimentos sociais se reunirem, também preserva a
natureza com seus projetos iniciados pelo padre Carlos Mantoni, como piscicultura, plantio de árvores de
muitas espécimes raras, preservação de animais, inclusive muitos ameaçados de extinção, em fim, projetos que
também tornam o lugar agradável e belo para que todos possam sentirem-se confortáveis.
6.6— BAIRRO CRISTO REDENTOR
A história deste bairro é cheia de muitos acontecimentos, pois tudo que gira em torno da
comunidade, do bem estar comum, da organização geralmente cria desconforto daqueles que só visam se
beneficiar, arrancando proveito das lutas e esperanças do povo. Ao que diz a geógrafa Márcia Roberta em seu
TCC: “O projeto só ganhou realmente forma e força em 1988, quando foram construídas as sete (primeiras)
casas em mutirão” (60) .
No período da administração do Prefeito João Alberto Bittencurt, o terreno do município, que
hoje é o Bairro campo da Aviação, estava sendo invadido com o apoio de sindicatos e da Igreja, criando grande
fúria no administrador municipal, que segundo Márcia Roberta, “incentivou a invasão da área que era um
campo de experimentação da SAGRE, hoje bairro Cristo Redentor, como represália ao apoio dado por parte da
Igreja ao movimento do Campo da Aviação” (61).
Após a ocupação do terreno, a Diocese tentou diversos acordos com os ocupantes, até que
resolveu buscar ajuda da justiça, causando maior revolta nos que estavam na área, que tentaram espancar
59 Arquivo do Secretariado diocesano 60 SILVA, Márcia Roberta Carmo da. A questão da moradia: O caso do bairro Cristo redentor. Monografia de
conclusão de curso de Geografia, Campus da UFPª. Abaetetuba— Pa, 1996, p. 24. 61 Ibid., p. 22
50
funcionários da Diocese e até ameaçaram padres de morte. Entretanto a proposta da Diocese era de
desocupação da área para se fazer um projeto urbanístico do bairro, com casa construídas para os pobres, sendo
que em 1987 formou-se uma comissão que loteou e entregou os terrenos as pessoas carentes .“ Foram
construídas 50 casa e atualmente são 300 ” (62).
Hoje o bairro Cristo Redentor é o único em Abaetetuba que construído com recursos da
Igreja através de doações vindas da Itália, oferece condições dignas de moradia, com casa muito boas e
cômodas, pagando-se um quantia significativa pela habitação, porém muitas famílias que não tem condições
nem pagam a taxa. O bairro também tem uma escola de 1º grau que foi construída pela Diocese, que atende
também outros moradores de vários bairros de Abaetetuba.
7.7— DOM ÂNGELO FROSI
Inesquecível é aquela tarde do dia 28 de julho de 1995, quando o sino da igreja matriz e todos
os sistemas de sons das igrejas de Abaetetuba anunciavam o triste fato, que as 12:00 em São Paulo falecera D.
Ângelo Frosi. A notícia espalhou-se rápido e toda a Diocese encheu-se de luto e dor.
Natural de San Bassano na Itália, D. Ângelo nasceu no dia 31 de janeiro de 1924. Seguindo
impulso de seu coração ingressou no Instituto de São Francisco Xavier em Parma, vindo a concluir seus
estudos nos Estados Unidos, na Arquidiocese de Boston onde foi ordenado sacerdote a 06 de maio de 1948.
Generosidade, bondade e caráter suave transmitiam toda a paz que trazia o coração daquele
que seria indicado para assumir o lugar de Dom João Gaza, que havia sido escolhido para o cargo de superior
da congregação Xaveriana em Roma. Em 1968 D. Ângelo tomou posse da Prelazia como Administrador
Apostólico, todavia somente a 01 de maio de 1970 é que foi sagrado Bispo em Abaetetuba, , tendo como tema
de sua sagração: “Fé e Caridade”. Com a criação da Diocese, a 04 de agosto de 1981,D. Ângelo tomou posse
como Bispo diocesano.
Foram 25 anos de muitos trabalhos que D. Ângelo desenvolveu, não só como anunciador da
Palavra de Deus, mas também como agente da mesma, pois foram inúmeras suas ações para que as pessoas,
principalmente os pobres e pequenos tivessem melhores condições de vida, e isto se deu através de sua
participação e incentivo as pastorais, aos movimentos religiosos e populares e de decisões que tomou e ajudou
a serem tomadas em prol da vida e da dignidade da pessoa.
O coração de D. Ângelo não resistiu, e depois de cerca de um mês ausente de sua Diocese, de
seu rebanho retornava para uma última despedida. Numerosa população aguardava ansiosa, por baixo de
chuva, a chegada do corpo de seu pastor, que em procissão percorreu as ruas do bairro Cristo Redentor, até a
catedral de Abaetetuba.
No dia seguinte grande número de Bispos e padres de todo o Regional Norte 2 da CNBB, e
62 Ibid., p. 24
51
numerosa multidão participavam com cantos preces e homenagens da missa de corpo presente que encerrou
com o funeral de D. Ângelo.
Hoje a imagem do bom pastor é uma marca que caracteriza o Bispo na Diocese, não por mera
consideração mas por que via em Dom Ângelo esta imagem, que está gravada na memória de todos os que o
conheceram.
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CONCLUSÃO
Por quase três séculos muitas das paroquias que compõem a Diocese de Abaetetuba foram
palco de acontecimentos que ficaram marcados na história dessa região, que fizeram com que a Igreja se
firmasse nesses lugares. Fatos que dizem respeito não somente à vida religiosa, mas também à própria história
do lugar onde está sediada cada Paróquia. Como a história de Batista Campos com sua luta pela Independência
da Nação, envolvendo as paróquias de Acará, Barcarena e Abaetetuba.
A Diocese de Abaetetuba nesse processo histórico, foi construindo, através de sua paróquias,
assembléias e movimentos, um corpo institucional. Para que isso acontecesse foram vários as motivações, que
são caracterizadas pelos trabalhos desenvolvido dentro de sua estrutura, que não se limitam ao campo religioso,
mas alcança as estruturas sociais através de suas pastorais, movimentos, grupos e entidades. Como por
exemplo, a luta e o empenho das Comunidades Eclesiais de Base, que por muitos anos vem se sobressaindo na
Diocese, com suas lutas conquistando direitos, conscientizando, celebrando e se opondo as estruturas de morte,
mesmo que seus membros tenham sofrido com a perseguição e o martírio, como aconteceu com Virgilio
Serrão e Benezinho. Outro exemplo são os trabalhos do Centro Médico em Abaetetuba que é sinal do
compromisso da Igreja para com o povo, sobretudo o necessitado. Também, nesta perspectiva apresentamos as
Assembléias do Povo de Deus, onde são tomadas as decisões que iluminam a caminhada da Diocese.
Ao longo da desta pesquisa, pude constatar como foi e é importante o trabalho que a Igreja
desenvolve, não só através de seu clero, mas também através dos consagrados, consagradas e leigos engajados,
que são o sustento e o corpo da Igreja diocesana.
Entretanto, tenho muito a lamentar, pois, vi também o abandono e o descaso com relação a
preservação da nossa história. Exemplo claro é o sumiço dos Livros Tombos de muitas paróquias e a não
preservação dos quais ainda existem, igrejas e obras de arte que foram depredadas, em fim, total descaso com a
história que não é somente um simples relato de fatos, mas passa também pela conservação do patrimônio
publico.
Diante destes fatores lanço um apelo, que possamos daqui por diante preservar o que ainda
resta da nossa história e ao mesmo tempo criar meios para ela seja melhor contada, para que no futuro outros
não venham a se lamentar de não ter material suficiente para falar de nosso presente.
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