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A DINÂMICA DOS ESTADOS DA REGIÃO SUL DO BRASIL Jandir Ferrera de Lima 1 Carlos Alberto Piacenti 2 Cristiano Stamm 3 Moacir Piffer 4 Lucir Reinaldo Alves 5 1 INTRODUÇÃO Este artigo analisa o comportamento da base de exportação da economia dos estados da região Sul do Brasil e sua inserção na economia nacional no período da segunda metade dos anos 1990. Historicamente, a base de exportação brasileira está ligada ao processo de desenvolvimento e de industrialização do Brasil. Tanto que o processo de desenvolvimento brasileiro foi significativamente impulsionado pela industrialização, seja através da participação direta do estado e do capital nacional na economia, como na de entrada de capitais externos. Assim, a dinâmica industrial brasileira criou um núcleo dinâmico de produção, centrado inicialmente na região Sudeste (eixo-Rio-São Paulo), formado sobretudo por grandes indústrias estrangeiras, estatais e parcerias com as nacionais. Esse núcleo caracterizou-se pela produtividade com ganhos de escala e pela tecnologia relativamente avançada, que nas 1 PhD Candidate en Développement Régional - Université du Québec à Chicoutini (UQAC). Bolsista do governo brasileiro-CAPES. Professor Assistente do Curso de Economia na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)/ Campus de Toledo. E-mail: [email protected] e [email protected] 2 Doutorando em Ciências Empresariais na Universidad del Museo Social Argentino (UMSA) – Argentina. Professor Assistente do Curso de Economia na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)/ Campus de Toledo e do Departamento de Ciências Contábeis e Administrativas da Universidade Paranaense (UNIPAR)/ Campus de Toledo. E-mail: [email protected] 3 Acadêmico do Curso de Ciências Econômicas pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)/ Campus de Toledo. Bolsista do Programa PIBIC/PIC/UNIOESTE. Membro do Grupo de Pesquisa em Agronegócio e Desenvolvimento Regional (GEPEC). E-mail: [email protected] 4 Mestre em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professor Assistente do Curso de Economia na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)/ Campus de Toledo. E-mail: [email protected] 5 Acadêmico do Curso de Ciências Econômicas pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)/ Campus de Toledo. Bolsista de Projetos de Pesquisas. Membro do Grupo de Pesquisa GEPEC. E- mail: [email protected]

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A DINÂMICA DOS ESTADOS DA REGIÃO SUL DO BRASIL

Jandir Ferrera de Lima1

Carlos Alberto Piacenti2

Cristiano Stamm3

Moacir Piffer4

Lucir Reinaldo Alves5

1 INTRODUÇÃO

Este artigo analisa o comportamento da base de exportação da economia dos estados

da região Sul do Brasil e sua inserção na economia nacional no período da segunda metade

dos anos 1990.

Historicamente, a base de exportação brasileira está ligada ao processo de

desenvolvimento e de industrialização do Brasil. Tanto que o processo de desenvolvimento

brasileiro foi significativamente impulsionado pela industrialização, seja através da

participação direta do estado e do capital nacional na economia, como na de entrada de

capitais externos.

Assim, a dinâmica industrial brasileira criou um núcleo dinâmico de produção,

centrado inicialmente na região Sudeste (eixo-Rio-São Paulo), formado sobretudo por grandes

indústrias estrangeiras, estatais e parcerias com as nacionais. Esse núcleo caracterizou-se pela

produtividade com ganhos de escala e pela tecnologia relativamente avançada, que nas

1 PhD Candidate en Développement Régional - Université du Québec à Chicoutini (UQAC). Bolsista do governo brasileiro-CAPES. Professor Assistente do Curso de Economia na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)/Campus de Toledo. E-mail: [email protected] e [email protected] 2 Doutorando em Ciências Empresariais na Universidad del Museo Social Argentino (UMSA) – Argentina. Professor Assistente do Curso de Economia na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)/Campus de Toledo e do Departamento de Ciências Contábeis e Administrativas da Universidade Paranaense (UNIPAR)/Campus de Toledo. E-mail: [email protected] 3 Acadêmico do Curso de Ciências Econômicas pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)/Campus de Toledo. Bolsista do Programa PIBIC/PIC/UNIOESTE. Membro do Grupo de Pesquisa em Agronegócio e Desenvolvimento Regional (GEPEC). E-mail: [email protected] 4 Mestre em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professor Assistente do Curso de Economia na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)/Campus de Toledo. E-mail: [email protected] 5 Acadêmico do Curso de Ciências Econômicas pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)/Campus de Toledo. Bolsista de Projetos de Pesquisas. Memb ro do Grupo de Pesquisa GEPEC. E-mail: [email protected]

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décadas de sessenta e setenta ampliou sua especialidade, integrando novas regiões,

vinculando-as na dinâmica do capital nacional.

No inicio dos anos 1990, com a política de abertura de mercado, associada à crise

econômica brasileira que se instaurou após o plano de estabilização macroeconômica de 1990

(Plano Collor), os segmentos industriais mais organizados buscaram uma maior

produtividade, o que implicou numa redução da mão-de-obra ocupada (LANZANA, 2001).

No entanto, em 1993, com o refreamento da crise no país e a melhoria nos indicadores de

crescimento econômico, o nível da mão-de-obra ocupada na indústria de transformação teve

uma recuperação, mas essa recuperação não teve reflexos em outros ramos de atividade. O

mesmo ocorreu com a estabilização dos preços em 1994. A queda da inflação e a abertura do

mercado, nesse período, não contribuíram para o aumento nos postos de trabalho, mesmo com

a melhoria dos indicadores de crescimento da economia.

Devido às políticas arrojadas de atrações de novos investimentos industriais feitas

pelos estados do Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), a partir de 1994,

instalaram-se seis montadoras de automóveis e os investimentos agroindustriais praticamente

triplicaram. Essas instalações foram estimuladas por uma gama bem ampla de subsídios

fiscais. Já o setor agroindustrial foi estimulado pela flexibilidade da taxa de câmbio e a

abertura de novos mercados na Ásia e no Oriente Médio. Em todo caso, o movimento de

atração de novos investimentos, na região Sul e por outras regiões do Brasil, marca uma

relocalização da indústria brasileira.

Assim, pode-se afirmar que a dinâmica da economia pós-1994 contribuiu para uma

nova espacialização da industrialização brasileira, mas não necessariamente para uma fase de

crescimento auto-sustentado e acelerado, como alguns economistas previram nesse período.

Tanto que, com a perda do ímpeto na produção de bens duráveis, em 1997, o desempenho

positivo da indústria de transformação passou a ser mais sustentado pelos segmentos de bens

intermediários e de capital.

Deve-se salientar que as crises internacionais, entre 1997 e 1998, provocaram redução

do ritmo da produção industrial, que se refletiram em forte diminuição de pessoal em 1998.

Os reflexos da crise econômica financeira deflagrada na Ásia em meados de 1997 e que

atingiram a Rússia em 1998, com sérios efeitos na economia mundial, conduziram o Brasil à

necessidade de promover alterações na política cambial em janeiro de 1999. Nos primeiros

meses, imediatamente após a mudança do câmbio, embora a desvalorização do real tenha sido

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benéfica às exportações, proporcionando maior competitividade ao produto brasileiro,

observou-se uma desaceleração das operações com o mercado externo.

Dentro desse cenário, as expectativas para as exportações brasileiras mostravam-se

pessimistas, como a redução da demanda mundial, a queda dos preços das principais

commodities e a reduzida disponibilidade de linhas de financiamento externo

(MEMORANDO, 2001). Ainda que, em 1999, o pessoal ocupado na indústria de

transformação tenha apresentado crescimento irrelevante (0,6%) em relação ao ano anterior,

esse resultado refletiu o princípio de recuperação das turbulências na economia (SERVO &

BOAVISTA, 2001).

Nesse contexto, no primeiro semestre de 1999, o desempenho da pauta de exportações

brasileira deixou a desejar, mas ao longo do ano, com a recuperação econômica de países da

Ásia, a reação dos preços das commodities e a sinalização de retomada da demanda mundial

constituíram fatores que possibilitaram melhorias no desempenho das exportações brasileiras

no segundo semestre. No entanto, na virada do século, a crise energética e a falta de uma

política industrial consistente foram fatores que gerou uma tendência à queda no ritmo da

produção, comprometendo a geração de novos postos de trabalho. Assim, uma das

alternativas para fazer frente ao desemprego e aos problemas ocasionados na balança de

pagamentos, foi o estímulo as exportações (MEMORANDO, 2001).

Diante desse contexto, essa análise servirá como um referencial para a compreensão da

dinâmica espacial da região Sul do Brasil, da sua base de exportação e da sua dinâmica de

emprego. Além disso, possibilitará um sistema de informações que será útil na implementação

de políticas públicas de geração de emprego e renda, indicando os melhores setores para a

localização dos diversos segmentos industriais, que têm possibilidades de alavancar o

crescimento econômico regional.

2 ELEMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS

Para compreender uma região é preciso entender as suas relações com os demais

espaços que compõem o território nacional e com outros países. Nesse sentido, o foco de

interesse está voltado para os fluxos inter-regionais de produtos e serviços, capital, mão-de-

obra e população. Assim, o ponto de partida para a existência dos fluxos comerciais está na

especialização regional.

4

Nesse sentido, a teoria da base de exportação, sistematizada por NORTH (1977),

PIFFER (1997) e PIACENTI et al. (2002), parte do pressuposto de que é possível separar as

atividades econômicas de uma região em básicas e não básicas. As básicas teriam como

destino mercados externos à região e as não básicas destinar-se-iam aos mercados locais.

Além disso, a expansão das atividades básicas induziria ao crescimento das não básicas.

Então, o sucesso da base de exportação tem sido o fator determinante da taxa de crescimento

das regiões. Assim, para a compreensão da dinâmica regional, deve-se examinar os fatores

que propiciaram o desenvolvimento dos produtos básicos regionais.

Para a mensuração dos componentes da base de exportação e do multiplicador de

emprego regional, utilizou-se um conjunto de medidas de localização e de especialização.

Conforme HADDAD (1989), o ponto de partida para o cálculo da medida de localização e de

especialização é a organização das informações em uma matriz que relaciona a distribuição

setorial-espacial de uma variável base.

A variável base utilizada foi a mão-de-obra ocupada por ramos de atividade nos

Estados do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Esses ramos de atividades estão

relacionados conforme a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE). Atualmente são classificados 11 ramos de atividades, quais sejam:

agricultura/pecuária/silvicultura, indústria de transformação, construção civil, outras

atividades industriais, comércio, transporte e comunicação, serviços auxiliares de atividades

econômicas, prestação de serviços, atividades sociais, administração pública e outras

atividades.

As medidas de localização e especialização, mensuradas a partir dos ramos de

atividades, permitem descrever padrões de comportamento dos setores produtivos no espaço

econômico, bem como as diferentes estruturas produtivas entre as várias regiões que

compõem esse espaço. Os períodos de análises foram os anos de 1995 (pós-implantação do

plano Real) e 1999, que marca o final do século XX.

As medidas utilizadas são: quociente locacional, coeficiente de especialização, base de

exportação e multiplicador de emprego. Essas medidas proporcionaram um quadro de análise

dos estados em relação ao Brasil. As medidas utilizadas são descritas a seguir:

a) O quociente locacional: é utilizado para comparar a participação percentual de uma

região, em um setor particular, com a participação percentual da mesma região no total do

emprego da economia nacional.

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Em modelos de projeção do crescimento regional, é usual conjugar os quocientes

locacionais como a teoria da base econômica, considerando-se como atividades ou setores

básicos (de exportação) aqueles para os quais o valor do quociente locacional for superior a 1.

Esses setores teriam uma produção que excederia as necessidades locais, de forma que seriam

orientados para exportação interregional ou internacional, marcando a especialização relativa

da região, conforme segue:

• estima-se o crescimento autônomo do emprego nos setores básicos, já

identificados;

• o emprego total da região será estimado ao aplicarmos no acréscimo do emprego

dos setores básicos, o multiplicador de emprego. A principal vantagem desse

método de projeção é a sua simplicidade didática e as suas escassas necessidades

de informações estatísticas.

Sendo expresso pela seguinte equação, conforme PIFFER (1997):

QL= Si/S ÷ Ni/N (1)

Sendo que: QL= Quociente Locacional; Si = Emprego na atividade i do estado; S =

Emprego total em todos os setores do estado; Ni = Emprego na atividade i do Brasil; N =

Emprego total do Brasil.

b) O coeficiente de especialização: consiste em uma medida de natureza regional para

a análise produtiva de uma determinada região, cujo objetivo é investigar o grau de

especialização das economias regionais num dado período, ou seja, compara a estrutura

produtiva de uma região com a estrutura produtiva nacional, conforme HADDAD (1989).

Sendo expresso pela equação:

2

TETE

TNTN

CE

ii

j

−= (2)

Em que: CEj = Coeficiente de Especialização; TNi = Total de emprego no setor i do

estado; TN = Total de emprego em todos os setores do estado; TEi = Total de emprego no

setor i do Brasil; TE = Total de emprego em todos os setores do Brasil.

Quanto maior o valor do CE (mais próximo de 1), mais a unidade do estado j tem uma

estrutura produtiva especializada relativamente à do espaço nacional.

c) Base de exportação: é utilizada para identificar os elementos fundamentais que

formam a base de exportação, a partir disso far-se-á o cálculo do multiplicador de emprego

básico.

6

Quando o emprego está ligado às atividades básicas de exportação, ou seja, pela

relação: SiS

NiN

>, o valor obtido será maior que um, supõe-se que a região exporta o excedente

para o resto do Brasil ou do mundo. Nesse sentido, CRUZ (1997) apresenta a seguinte

equação para calcular o emprego básico de uma região, particularmente através dela é

possível determinar as atividades e o emprego básico e não-básico dos estados:

−=

t

itii N

NSSB (3)

Em que: Bi = Emprego básico da atividade no estado; Si = Emprego na atividade i do

estado; St = Emprego total do estado; Ni = Total de emprego na atividade do Brasil; Nt = Total

de emprego no Brasil;

d) Multiplicador de emprego: de acordo com PIACENTI et al. (2002), admitindo a

proporcionalidade entre o emprego não-básico e o emprego total obtêm-se a seguinte fórmula

para o cálculo do multiplicador de emprego:

EN = αE para (0 < α < 1) (4)

E = αE + EB (5)

EB = E - αE (6)

EB = E (1 -α) (7)

E = 1/1-α. EB ou E = K EB (8)

Sendo que: K = Multiplicador de emprego do estado; E = Emprego total; EN =

Emprego não básico; EB = Emprego básico; α = Coeficiente de variação.

O multiplicador de emprego indica o número de empregos criados nas atividades não-

básicas, a partir da criação de 1 emprego nas atividades básicas.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A região Sul faz fronteira com os principais países parceiros do Brasil no Mercado

Comum do Sul (MERCOSUL), sendo: Argentina, Paraguai e Uruguai. A região está

transformando sua economia com o crescimento do setor industrial, isso devido a uma política

agressiva de incentivos fiscais e de diversificação da base produtiva.

7

Além disso, a região Sul possui ainda uma grande capacidade hidrelétrica instalada,

caracterizada pela Usina Itaipu-Binacional (maior usina hidrelétrica do mundo) localizada no

rio Paraná, fazendo fronteira com o Paraguai. Com a importação de energia da Argentina, a

construção de novas plantas hidroelétricas nos rios Iguaçu (Paraná) e Uruguai (Santa Catarina

e Rio Grande do Sul), fatores estes que também influenciam nas instalações de novas

indústrias.

Por outro lado, essa região tem taxas estáveis de crescimento demográfico, que se

refletem na evolução da População Economicamente Ativa (PEA). Na Tabela 16, observa-se o

total da PEA na segunda metade e final dos anos 1990.

TABELA 1 – Total da população economicamente ativa dos estados da região Sul e do Brasil distribuídas por ramos de atividade econômica de 1995 e 1999.

Paraná Santa Catarina Rio Grande do Sul Brasil Ramos de atividades 1995 1999 1995 1999 1995 1999 1995 1999

Agric. Pec. Silv. 1.382.948 1.174.670 816.441 736.930 1.462.491 1.305.412 18.466.065 17.632.519Ind. Transformação 538.488 560.857 516.272 545.571 882.575 835.012 9.161.559 8.759.396Construção Civil 294.343 336.404 145.222 183.805 238.190 296.302 4.404.487 5.127.745Outras Ativ. Industr. 44.569 34.211 28.590 29.080 47.911 41.430 879.150 814.139Comércio 583.503 638.545 287.004 275.677 587.447 621.895 9.490.539 10.131.373Prestação de Serviço 795.211 863.482 376.771 425.161 848.751 902.588 13.794.547 14.770.721Serv. Aux. Ativ. Econ. 136.193 197.143 76.609 97.133 178.346 217.041 2.338.223 2.894.273Transp. Comum. 162.839 193.595 80.623 90.147 166.480 174.831 2.606.518 2.936.681Atividades Sociais 341.665 420.439 154.370 170.419 421.613 486.505 6.144.413 6.927.657Adm. Pública 166.990 181.386 77.757 97.721 212.234 218.896 3.253.508 3.352.641Outras Atividades 92.220 71.987 44.025 43.040 134.445 131.849 1.452.074 1.453.479Total da PEA 4.538.969 4.672.719 2.603.684 2.694.684 5.180.483 5.231.761 71.991.083 74.800.624Fonte: IBGE (1995 e 1999)

Pela Tabela 1, nota-se que a agropecuária ainda desempenha um importante papel na

economia da região Sul, o que se espelha na PEA por ramos de atividade. A queda na mão-de-

obra ocupada nesse setor, durante o período analisado, deve-se em grande parte a

modernização na agricultura. Essa modernização, apesar de reduzir o contingente de mão-de-

obra ocupada, possibilitou uma boa produtividade às culturas de milho, trigo, feijão, tabaco, e

a região ainda conta com a maior produção do Brasil nas culturas de soja, mel, alho, maçã e

cebola (Tabela 2).

6 Essa tabela servirá de base para o desenvolvimento das demais tabelas que seguem no artigo.

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TABELA 2 – Produtividade das principais culturas da região Sul dividida por estado Paraná Santa Catarina Rio Grande do Sul Região Sul Culturas

1995 1999 1995 1999 1995 1999 1995 1999 Alho (Tonelada) 3.879 2.830 14.411 16.421 13.589 22.599 31.879 41.850Cebola (Tonelada) 52.421 47.882 258.238 348.630 138.302 177.349 448.961 573.861Feijão (em grão) (Tonelada) 454.134 570.289 316.265 210.958 192.823 158.363 963.222 939.610Milho (em grão) (Tonelada) 8.988.166 8.777.466 3.651.206 2.690.312 5.935.667 3.212.735 18.575.039 14.680.513Soja (em grão) (Tonelada) 5.694.427 7.755.284 444.107 471.619 5.847.985 4.467.110 11.986.519 12.694.013Trigo (em grão) (Tonelada) 1.068.689 1.548.133 53.875 45.440 334.525 725.940 1.457.089 2.319.513Maça (mil frutos) 167.354 180.458 1.649.472 2.230.068 1.541.317 2.243.197 3.358.143 4.653.723Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal (2002)

Os resultados do cálculo do quociente locacional (Tabela 3), mostram que o Estado do

Paraná diversificou seus ramos de atividades de 1995, que era de apenas 2 atividades

consideradas de exportação (coeficientes locacionais maiores que um), para 6 atividades no

ano de 1999. Nota-se que o crescimento do Paraná foi basicamente influenciado pelas

atividades que envolveram a agricultura/pecuária/silvicultura e as atividades industriais. Esses

ramos de atividades vieram destacando-se desde o ano de 1991 com os produtos: soja, café,

madeira, açúcar, fumo, carnes, fio de seda e suco de laranja (SEAB, 2001).

TABELA 3 – Quociente locacional dos estados da região Sul – 1995/1999

Paraná Santa Catarina. Rio Grande do Sul

Região Sul Ramos de atividades

1995 1999 1995 1999 1995 1999 1995 1999 Agric., Pec., Silv. 1,188 1,066 1,222 1,160 1,101 1,058 1,158 1,083 Ind. Transformação 0,932 1,025 1,558 1,729 1,339 1,363 1,235 1,316 Construção Civil 1,060 1,050 0,912 0,995 0,752 0,826 0,899 0,945 Outras Ativ. Indust. 0,804 0,673 0,899 0,992 0,757 0,728 0,805 0,764 Comércio 0,975 1,009 0,836 0,755 0,860 0,878 0,897 0,900 Prestação de Serviços 0,914 0,936 0,755 0,799 0,855 0,874 0,856 0,881 Serv. Aux. Ativ. Econ. 0,924 1,090 0,906 0,932 1,060 1,072 0,977 1,049 Transp., Comun. 0,991 1,055 0,855 0,852 0,888 0,851 0,919 0,927 Atividades Sociais 0,882 0,972 0,695 0,683 0,954 1,004 0,872 0,923 Administ. Pública 0,814 0,866 0,661 0,809 0,907 0,933 0,821 0,882 Outras atividades 1,007 0,793 0,838 0,822 1,287 1,297 1,089 1,008 Fonte: Resultados da Pesquisa

Já o Estado de Santa Catarina não apresentou modificações em termos de atividades

consideradas como de exportação, pois se observa que alguns índices entre 1995 e 1999

aumentaram significativamente, tendo um grande potencial de diversificação para os

próximos anos. Saliente-se que em Santa Catarina está localizada três atividades que se

dinamizaram no final da década de 1990 no Brasil, quais sejam: o setor metal-mecânico, a

indústria de carnes e derivados e a indústria têxtil. O setor metal-mecânico obteve um

9

estimulo importante com a ampliação do pólo automotivo em direção ao Rio Grande do Sul e

Paraná. Já a indústria têxtil e a agroindústria de carnes e derivados, melhoraram seu

desempenho e ganharam competitividade com as mudanças cambias ocorrida em 1999. Antes

disso, esses dois setores vinham se adaptando para conseguir ganhos de escala e conquistar o

setor exportador. Ressalta-se ainda, que a indústria de carnes e derivados estimulou a

produção agropecuária, garantindo emprego e renda nas atividades rurais.

O Estado do Rio Grande do Sul, mantém-se praticamente constante, diversificando

apenas suas atividades no ramo da atividade social (Tabela 4).

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TABELA 4 – Base de exportação dos estados da região Sul – 1995/1999 Paraná Santa Catarina Rio Grande do Sul Região Sul

Ramos de Atividades 1995 1999 1995 1999 1995 1999 1995 1999

Agric., Pec., Silv. 218.680,24 73.184,45 148.583,32 101.720,50 133.671,77 72.145,21 756.985,39 247.050,16 Ind. Transformação -39.139,54 13.666,43 184.928,12 230.014,75 223.308,62 222.355,80 494.255,75 466.036,98 Construção Civil 16.644,30 16.078,98 -14.074,01 -921,43 -78.757,17 -62.346,56 -167.022,70 -47.189,02 Outras Ativ. Indust. -10.860,57 -16.647,44 -3.206,00 -249,27 -15.352,69 -15.513,12 -13.056,50 -32.409,82 Comércio -14.866,42 5.648,42 -56.238,02 -89.304,56 -95.492,80 -86.721,04 -211.153,56 -170.377,19 Prestação de Serviços -74.522,01 -59.229,94 -122.133,03 -106.952,55 -143.905,50 -130.516,78 -412.690,60 -296.699,26 Serv. Aux. Ativ. Econ. -11.229,73 16.340,71 -7.956,94 -7.132,86 10.087,32 14.607,60 -85.673,15 23.815,45 Transp., Comun. -1.499,47 10.143,52 -13.646,30 -15.646,60 -21.085,20 -30.568,53 -73.865,72 -36.071,61 Atividades Sociais -45.734,37 -12.324,70 -67.853,49 -79.149,06 -20.539,36 1.965,65 -223.658,78 -89.508,10 Administração Pública -38.140,57 -28.050,08 -39.911,83 -23.057,51 -21.888,65 -15.596,92 -95.354,65 -66.704,51 Outras atividades 668,12 -18.810,36 -8.491,81 -9.321,42 29.953,66 30.188,69 31.234,52 2.056,92 Emprego Básico 774.481 135.063 333.511 327.825 397.021 341.263 1.282.476 738.960 Emprego Não Básico 3.764.488 4.537.656 2.270.173 2.366.859 4.783.462 4.890.498 11.040.660 11.860.204 Alfa 0,829370704 0,971095522 0,871907867 0,87834388 0,923362094 0,934770922 0,89592944 0,941348529 1-Alfa 0,170629252 0,028904478 0,128092133 0,12165612 0,076637906 0,065229078 0,10407056 0,058651471 Multiplicador Empr. 5,860661407 34,59671542 7,806880669 8,219890625 13,04837326 15,33058609 9,608865408 17,04987066 Fonte: Resultados da Pesquisa

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Pelos resultados da Tabela 4, nota-se que o Estado do Paraná teve uma queda

significativa no contingente de pessoas empregadas no setor básico da economia. No entanto,

o contingente de mão-de-obra ocupada no setor não básico aumentou. Além disso, aumentou

o multiplicador de emprego. Com isso, nota-se que os setores básicos, ou de exportação,

mesmo com um contingente menor de mão-de-obra, continuaram a estimular de forma

dinâmica a economia do estado. Tanto que o seu multiplicador de emprego aumentou de 5,86

para 34,59 em quatro anos. Assim, provavelmente o setor de exportação deve ter obtido

ganhos de produtividade que se transformou em ganhos no multiplicador de emprego

regional.

Já Santa Catarina e Rio Grande do Sul tiveram alguns ganhos modestos no seu

multiplicador de emprego. Mesmo com seu aumento, eles não apresentaram o dinamismo do

Paraná. Saliente-se que o Paraná praticamente fez uma renovação da sua estrutura de

produção metal-mecânica em relação à Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Isso se refletiu na

quantidade de mão-de-obra ocupada na indústria de transformação.

4 O COEFICIENTE DE ESPECIALIZAÇÃO DA REGIÃO SUL

A estrutura de emprego da região Sul apresentou uma característica próxima à

estrutura de emprego nacional, cabe ressaltar que dentre os estados da região Sul, o Paraná foi

o único que apresentou uma característica superior, seguido do Estado do Rio Grande do Sul e

de Santa Catarina (Tabela 5).

TABELA 5 – Coeficiente de especialização dos estados da região Sul – 1995 e 1999 Coeficiente de Especialização

Mesoregião 1995 1999

Paraná 0,0520 0,0289 Santa Catarina 0,1281 0,1231 Rio Grande do Sul 0,0766 0,0652 Região Sul 0,0724 0,0587 Fonte: Resultados da Pesquisa

A região Sul, como um todo, não apresentou muita diferenciação na estrutura

produtiva dos estados. Sendo que os novos investimentos na indústria metal-mecânica

produziram um certo dinamismo em termos de geração de empregos, diferenciando assim o

Estado do Paraná e Santa Catarina. Nesse sentido, nota-se que o Paraná foi o grande

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diferencial na dinâmica da região nos últimos cinco anos. Praticamente o estado foi o único a

alterar seu perfil produtivo de maneira radical no período estudado.

Deve-se salientar que, na segunda metade da década de 1990, os estados do Sul

obtiveram um êxito surpreendente na atração de novos investimentos, ganhos de

produtividade e melhorias sociais. Tanto que o Estado do Paraná conseguiu uma posição

considerável na pauta de exportações do Brasil e na participação da sua indústria entre os

estados mais industrializados do país. Essa dinâmica se refletiu no desempenho do seu

Produto Interno Bruto (PIB), em relação ao Brasil, conforme Tabela 6.

TABELA 6 – Desempenho do PIB nos estados do Sul e no Brasil – 1995/1999 (em Milhões) Região 1995 1999

Paraná 35.863 61.084 Santa Catarina 18.551 35.317 Rio Grande do Sul 41.761 74.666 Região Sul 95.176 171.067 Brasil 571.818 963.868 Fonte: IPEA (2002) e IBGE (2002)

Apesar do bom desempenho dos indicadores gerais da região Sul, o desemprego é um

problema considerável na região. Na Tabela 7 são apresentados indicadores de desemprego no

final dos anos de 1990.

TABELA 7 – Indicadores de desemprego do PR, SC, RG, região Sul e Brasil – 1997 a 1999 Regiões 1997 1998 1999

Paraná 6,9 7,6 9,2 Santa Catarina 4,7 6,7 7,2 Rio Grande do Sul 7,0 7,6 7,3 Região Sul 6,5 7,4 8,0 Brasil 7,8 9,0 9,6 Fonte: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/idb2001/b06.htm

Com exceção do RS, onde a taxa de desemprego manteve-se praticamente estável, de

um modo geral houve aumento do desemprego nos outros estados, o que se refletiu no

indicador agregado da região. Historicamente, os estados mantiveram-se abaixo da média

nacional, demonstrando um dinamismo maior que o Brasil em matéria de ocupação de mão-

de-obra. No entanto, o principal objetivo da política econômica, após a estabilização dos

preços deverá ser a busca na melhoria dos indicadores de ocupação. Quanto a isso, nota-se

que os ganhos de produtividade, a mudança na base de produção e os investimentos feitos em

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infra-estrutura, produziram poucos postos de trabalhos, em relação ao número de pessoas que

perderam seus empregos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo desse artigo foi analisar o comportamento da base de exportação da

economia dos estados da região Sul do Brasil e sua inserção na economia nacional no período

da segunda metade dos anos 90.

Apesar da dinâmica industrial brasileira ter criado um núcleo dinâmico de produção no

eixo Rio-São Paulo, a região Sul do país vem tendo ganhos expressivos na atratividade de

novos investimentos industriais nos últimos anos. Tanto que houve ganhos de emprego na

indústria de transformação dessa região, em particular do Paraná.

Esse núcleo metal-mecânico e agroindustrial, que se consolida na região Sul, tem se

caracterizado pelos ganhos na produtividade e pela incorporação de novas tecnologias no

processo produtivo da região.

Mesmo assim, a região Sul está intimamente vinculada a dinâmica do capital nacional,

principalmente ao resultado da política macroeconômica gerenciada pelo Governo Federal.

Nessa dinâmica, o Estado do Paraná vem obtendo um destaque expressivo, caracterizado pela

especialização da sua estrutura produtiva e pelo alto multiplicador de emprego, em relação

aos outros estados do Sul do Brasil.

Portanto, observa-se que a região Sul vem obtendo ganhos de produtividade e de

especialização em relação ao Brasil. No entanto, ela ainda tem alguns entraves na geração de

emprego. Em parte, isso é resultado das crises que assolaram a economia brasileira nos

últimos anos e na absorção de tecnologia de ponta. Isso tem causado uma fraca absorção da

mão-de-obra não qualificada. Tanto que o número de pessoas ocupadas em setores básicos

caiu de maneira geral. Mesmo assim, dado os investimentos em infra-estrutura, educação e a

oferta abundante de energia, os estados do Sul estão aptos a terem ganhos de crescimento

consideráveis, tão logo a economia brasileira e mundial demonstre sinais de recuperação e

estimule os setores exportadores localizados nessa região.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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